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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: Direito & Justiça 31/03/2016

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 31 de março de 2016 O ESTADO 2

A inadimplência no pagamento de con-domínios vem crescendo a cada dia com o aumento da crise econômica que estamos enfrentando. Muitas vezes,

causando revolta para aqueles que ainda con-seguem pagar em dia esta taxa. Saber que um vizinho deve há meses e, mesmo assim continua a usar áreas de lazer pode deixar alguns mora-dores inconformados. Mas, o que seria ou não permitido aos inadimplentes? Quais providên-cias o síndico pode tomar? Segundo o advoga-do Murilo Matos, em matéria na página 08, é lícito suspender o acesso aos inadimplentes aos serviços não essenciais, como a piscina, qua-dras esportivas, academia, playground. Porém, nenhuma punição pode incidir sobre os servi-ços essenciais, que são: fornecimento de água e energia, vaga de garagem, interfone e entrega de correspondências, por exemplo. Não há previsão

legal sobre o tema, mas já há decisões reinte-radas na Justiça, desde que esta norma tenha sido aprovada em assembleia geral ou constante na Convenção Condominial. Ressaltando que nenhum devedor pode passar por nenhum cons-trangimento público, podendo acarretar uma ação de danos morais.

A vice-presidente do Tribunal Regional Elei-toral, desembargadora Nailde Pinheiro destaca, em entrevista na página 03, as importantes mu-danças nas eleições de 2016. A pena será mais grave para o contratante quando atos pratica-dos na internet prejudiquem a honra ou a ima-gem de um candidato. Informa ainda que sem o financiamento de candidaturas provenientes das empresas, possivelmente teremos uma eleição com custos menores e com maior equilíbrio en-tre as candidaturas. O corpo fala. As expressões corporais são uma das formas mais naturais de

comunicação entre os seres humanos. Elas po-dem entregar sentimentos e emoções através de gestos ou da postura. Saber interpretá-las é um desafio e requer habilidade, mas ter a sensibili-dade para compreender a mensagem não verbal é de grande valia em qualquer tipo de relação. Recentemente, um juiz da 6ª Vara do Trabalho de Porto Alegre decidiu descartar depoimento de uma testemunha ao analisar sua linguagem corporal. De acordo com o magistrado, Max Carrion, a testemunha havia feito gestos incom-patíveis com o que dizia, e explicou que a lin-guagem não verbal diz respeito ao valor dado à prova oral. A juíza da 7ª Vara de Família de For-taleza, Shirley Crispino afirma que o magistrado deve apreciar toda e qualquer perfomance das partes. Para ela, a análise das expressões corpo-rais podem ser consideradas tanto em processo civil, criminal e fazendário, página 04.

Inadimplência de condomínios

EDITORIAL

Juízes são servidores públicos e não seres divinos...

O Supremo Tribu-nal Federal é o Guar-dião da Constituição, nos termos do art. 102, da própria Carta Mag-na, que é, por sua vez, um documento po-lítico e jurídico. Não é possível, portanto, uma análise do STF puramente jurídica.

No passado recente existiam (ainda exis-tem!) contundentes

críticas ao julgados da Corte Suprema, que seriam tendenciosos e benevolentes para com o Poder Executivo, uma vez que seu integrantes eram/e são nomeados pelo Presidente da República.

São fortes e bem elaboradas críticas a essa pos-tura do STF as obras “O Supremo Tribunal Fe-deral na Crise Institucional Brasileira”, de Fran-cisco Gérson Marques de Lima, e “O Supremo Tribunal Federal Revisitado: O Ano Judiciário de

2002”, de Álvaro Ricardo de Souza Cruz.Com efeito, a legitimidade do Supremo Tribu-

nal sempre foi questionada, principalmente porque seus Ministros não são submetidos ao escrutínio popular. De qualquer forma, enquanto não há von-tade política para se resolver essa questão de eleição para Ministros do STF, uma boa parte da doutri-na entende que a referida legitimidade derivaria do próprio Texto Constitucional (documento estabele-cido pelos representantes eleitos pelo povo) e de sua atuação voltada para os valores da democracia.

Historicamente, é verdade, como demonstram os dois autores acima elencados, o STF continua nomeando seus componentes de forma antide-mocrática, entretanto, a meu sentir, a sua atua-ção, a partir do julgamento da Ação Penal (AP) nº 470, que julgou o chamado mensalão, tem se aproximado mais dos valores democráticos, ao julgar e condenar figuras ilustres do governo e do partido que lhe dá sustentação.

Agora, premido pelos grampos da lava jato, o decano do STF, Ministro Celso de Mello, na sessão plenária da Corte de 17/03/2016, afirmou

que: “A República, (...), além de não admitir pri-vilégios, repudia a outorga de favores especiais e rejeita a concessão de tratamentos diferenciados aos detentores do poder ou a quem quer que seja”.

E continuou: “cumpre não desconhecer que o dog-ma da isonomia, que constitui uma das mais expressi-vas virtudes republicanas, a todos iguala, governantes e governados, sem qualquer distinção, indicando que ninguém, absolutamente ninguém, está acima da autoridade das leis e da Constituição de nosso País, a significar que condutas criminosas perpetradas à sombra do Poder jamais serão toleradas, e os agentes que as houverem praticado, posicionados, ou não, nas culminâncias da hierarquia governamental, serão pu-nidos por seu Juiz natural na exata medida e na justa extensão de sua responsabilidade criminal!”.

A saída legitimamente democrática para a cri-se institucional brasileira deverá passar natural e necessariamente pelo crivo do Plenário da Corte Suprema, que possui a imensa responsabilidade de manter a integridade da República e do Estado Democrático de Direito. Espero que continue a atuar esse outro Supremo!

Em 2003, um depu-tado inglês chamado Chris Huhne foi pego por um radar dirigindo em alta velocidade.Para não perder a carteira, pois na Inglaterra é abo-minável uma autoridade infringir a lei, a mulher dele, Vicky Price, assu-miu a culpa. O tempo passou, o deputado tornou-se ministro da Energia, o casamento

acabou e, um dia, a Vicky decidiu se vingar e con-tou a história para a imprensa. Como o fato ocorreu na Inglaterra, Chris Huhne foi obrigado a se demitir inicialmente do ministério e depois do Parlamento. ACABOU AQUI A HISTÓRIA? NÃO. Na Inglaterra, é crime mentir para a Justiça e, recentemente, a Justiça sentenciou o casal envolvido na fraude do radar em 8 meses de cadeia para cada um. E ambos terão de pagar multa de 120 mil libras (uns 350 mil reais).

Segredo de Justiça? Nem pensar. Julgamento aberto ao público e à imprensa. Segurança nacional? Não, infrator é infrator. Privilégio porque é político? Absolutamente não! O primeiro-ministro David Cameron, quando soube da condenação do seu ex--ministro disse: “É uma conspiração da mídia con-servadora para denegrir a imagem do meu governo”. Certo? Nada disso. O que disse Cameron acerca do seu ex-ministro foi o seguinte: “É pra todo mundo ficar sabendo que ninguém, por mais alto e podero-so que seja, está fora do braço da lei”. Esses ingleses são um bando de botocudos. Só mesmo nesses “pai-sinhos” capitalistas da Europa um ministro perde o cargo por mentir para um guarda de trânsito. Por-que na Europa sim, a primeira Lei que um guarda de trânsito aprende é saber com quem está falando.

Ora, na Inglaterra um ministro foi preso por transgredir a lei de trânsito e mentir para a Justiça, conforme narra Wallin, e aqui no Brasil, como não é abominável uma autoridade infringir a Lei, um grupo de juízes condenou uma incorruptível agen-te de trânsito porque um (intimidador “juiz-deus”), infrator das leis do trânsito, tentou intimidá-la por-que percebeu que a agente de trânsito tinha total controle da situação e sabia sim com quem esta-va falando, ou seja, com um cidadão infrator sem credenciais para ficar acima da lei. Felizmente, esse episódio repercutiu nos meios jurídicos. É fato! Muitos servidores (juiz é servidor público também) são agressivos resultado da arrogância profissional. No setor da justiça (tribunais), da saúde (hospitais), da segurança pública (delega-cias de polícia), do magistério (escolas) e outras instituições públicas, encontramos profissionais inabilitados para exercer suas funções. São “servi-dores públicos” que desonram o Estado e seus pa-res através de manifestas atitudes de brutalidade, de incapacidade técnica, de preguiça, de maldade.

Por essas razões, não raramente, deparamos com juízes impulsivos, negando a mínima con-sideração aos cidadãos; porém saibamos que o autor de qualquer falcatrua e injustiça invoca o mal, que conspira contra ele mesmo. Assim sen-do, a consequência inevitável só advirá realmente para quem pratica o mal. Revidar por revidar, na base de revolta e inconsequência em que se ex-pressam, desgasta as nossas energias psíquicas. Por isso, devemos vigiar para não sermos vítimas das emoções incontroláveis.

EDITORA Solange Palhano REPÓRTER Anatália Batista GESTÃO COMERCIAL Glauber Luna DESIGNER GRÁFICO J. Júnior DESIGNER CAPA Vladimir Pezzole FOTOS Beth Dreher, Iratuã Freitas e Nayana Melo www.oestadoce.com.br

O outro Supremo

Linha sucessória presidencialO legislador consti-

tuinte originário, pre-ocupado com a regu-laridade na condução da administração pú-blica e a continuidade da prestação do servi-ço coletivo, estipulou no art. 80 da Carta Magna a linha suces-sória para o exercício da chefia do executi-vo federal. Em caso de impedimento do

p[residente e do vice-presidente da República, ou vacância dos respectivos cargos, serão su-cessivamente chamados para desempenhar este ministério o presidente da Câmara dos Depu-tados, o presidente do Senado Federal e o pre-sidente do Supremo Tribunal Federal. A ordem de substituição do ofício mais importante da

federação, que deve ser obrigatoriamente aco-lhida sem margem para exceções, envolve uma alternância entre a direção dos três poderes do estado, ápice das respectivas ocupações estatais.

Não obstante as semelhanças entre os figu-rantes dos encargos de natureza política, tais como o alistamento eleitoral, a filiação partidá-ria e o pleno exercício dos direitos políticos, o requisito da idade mínima tem gerado alguns embates calorosos. Segundo o art. 14, § 3º da Carta Magna, é condição de elegibilidade para o exercício da Presidência da República a idade de 35 anos; já para a Presidência da Câmara do Povo, o primeiro na linha sucessória, é neces-sária a idade de 21 anos. Indaga-se: seria possí-vel o presidente da Câmara dos Deputados com idade inferior a 35 anos assumir o posto máxi-mo de Presidente da República?

A doutrina se divide em duas correntes. A primeira entende que não. Os seus defensores afirmam que a imposição da idade mínima para

assumir a Presidência da República não é simples-mente um algarismo, mas um princípio constitu-cional, que deve ser observado, representando o momento em que o cidadão atinge sua maturida-de política. A segunda entende que sim. Os seus defensores afirmam que a redação constitucional é bastante clara, exigindo as idades mínimas de forma isolada para cada ocupação, restando silen-te a cerca da indagação ventilada, não cabendo aos operadores legislarem nesse sentido.

O primeiro entendimento é o mais razoável. A formalidade prescrita da idade mínima é ineren-te ao cargo de presidente da República, devendo qualquer pessoa que assumir essa posição de co-mando se adequar a determinação constitucional, seja por eleição direta, indireta, impedimento ou vacância. Esse modelo de embasamento pura-mente objetivo na busca pela excelência governa-mental retrata como o processo eletivo pátrio é limitado e precário, carente de legítimas virtudes que façam valer a chefia de um país continental.

Súmulas Eleitorais XIINa oportunidade

passada, disse-se que Súmula nº 10 trata da forma de contagem de prazo para recurso em registro de candi-datura. Relembrando, o enunciado possui o seguinte texto: “No processo de registro de candidatos, quando a sentença for entregue em Cartório antes de três dias contados da conclusão ao Juiz, o prazo para o recurso

ordinário, salvo intimação pessoal anterior, só se conta do termo final daquele tríduo.” No momen-to, tendo em vista as Eleições de 2016, mostra-se oportuno falar da Resolução nº 23.455/2015, que disciplina o registro de candidatura para o citado pleito, no que se aplicar à temática sumular. Pro-cessando o pedido de registro, deverá o magistra-do sentenciar, deferindo ou negando a súplica de participação nas eleições.

O enunciado possui relação direta com os §§ 1º e 2º do art. 52, da mencionada resolução, os quais

preceituam, respectivamente, que a “decisão será publicada em cartório, passando a correr desse momento o prazo de três dias para a interposição de recurso para o Tribunal Regional Eleitoral” e “quando a sentença for entregue em cartório antes de três dias contados da conclusão ao Juiz Eleitoral, o prazo para o recurso eleitoral, salvo intimação pessoal anterior, só se conta do termo final daquele tríduo.” Ou seja, sem maiores dificuldades, vê-se exatamente repetição literal de algo já existente, e razoável, considerando-se, inclusive, a celeridade com que é tratado o registro. Destaque para a re-dução do período para o processamento do regis-tro, novidade trazida pela reforma advinda da Lei nº 13.165/2015, antes se tendo como marco inicial o dia 1º de julho, agora tudo se iniciando apenas em 15 de agosto do ano eleitoral.

Seguindo, a Súmula nº 11 dispõe que no “pro-cesso de registro de candidatos, o partido que não o impugnou não tem legitimidade para recorrer da sentença que o deferiu, salvo se se cuidar de matéria constitucional.” Para o ponto, duas aná-lises importantes: (I) o eleitor, embora possua legitimidade para ofertar à Justiça Eleitoral no-tícia de inelegibilidade no momento do registro, “não tem legitimidade para recorrer da decisão do Tribunal Regional Eleitoral que defere o re-

gistro do candidato” [Ac. nº 101, de 31.8.98, rel. Min. Néri da Silveira. No mesmo sentido: Ac. nº 13413, de 1o.10.96, rel. Min. Francisco Rezek]; (II) segundo entendimento do STF, o Ministé-rio Público Eleitoral (MPE) possui legitimidade para recorrer de decisão que deferiu registro de candidatura, mesmo que não tenha apresen-tado impugnação ao pedido inicial do registro [RE 728188]. O fundamento para decidir, nes-se segundo destaque, encontra-se no art. 127 da CF/88, que garante ao MP a possibilidade de pro-mover, perante o Judiciário, em qualquer grau, to-das as medidas necessárias à efetivação de valores e direitos insertos na Carta Máxima. O detalhe é que o TSE, antes, já se havia manifestado pela ilegitimidade, conforme acórdãos: AgR-AgR--REspe nº 53965, Rel. Min. Dias Toffoli; AgR-RO nº 10073, Rel. Min. Nancy Andrighi. Isso em que pese já tivesse o mesmo TSE, outrora, na relatoria do Min. Humberto Gomes de Matos, declarado a legitimidade [AC 23.432, de 28-9-2014].

A Súmula nº 12, com grandes similitudes com a de nº 6, trata da inelegibilidade entre cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, relativamen-te ao prefeito do município-mãe, nas hipóteses de município desmembrado, sobre o que se falará na próxima oportunidade.

ROSSANA BRASIL KOPF ADVOGADA

RODRIGO CAVALCANTESECRETÁRIO

DE CONTROLE INTERNO

NO TRE/CE

MARCO PRAXEDESANALISTA

JUDICIÁRIO

GUSTAVO PINHEIRO

MESTRE EM DIREITO

Page 3: Direito & Justiça 31/03/2016

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 31 de março de 2016 3

NAILDE PINHEIRO“Possivelmente, teremos uma eleição com

custos menores e com maior equilíbrio”

N o dia 2 de outubro des-te ano, acontecerá, em todo o país, as eleições municipais de 2016,

em que a população elegerá os novos prefeitos e vereado-res. Para tirar as dúvidas dos eleitores, principalmente em relação ao sistema biométrico, o caderno Direito & Justiça entrevistou a vice-presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), a desem-bargadora Nailde Pinheiro. Na entrevista, ela também destaca as principais mudanças que ocorreram para as eleições 2016. Entre elas, o fim das doações por empresas.

Nailde Pinheiro, integrante da 2ª Câmara Cível do Tri-bunal de Justiça, nasceu no município de Aurora, em 5 de junho de 1957. É formada em Direito pela UFC e especialis-ta em Direito Processual Civil pela mesma universidade. É desembargadora do tribunal desde 30 de abril de 2009.

Direito & Justiça: A meta do Ceará para as eleições de 2016 era de realizar o cadastro biométrico em 86 muni-cípios. Em que fase está o recadastramento?

Nailde Pinheiro: O ca-dastramento biométrico no Ceará está sendo realizado em 96 municípios, sendo 62 em processo de revisão, e, portanto, com votação 100% biometrizada já em 2016. A projeção é de se chegar a um quantitativo de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) eleitores com cadastro bio-métrico até o fim do mês de março, o que representa 28% do eleitorado do Ceará.

Direito & Justiça: Em For-taleza e Caucaia funciona-rão os dois sistemas, isso é uma novidade que está gerando muita dúvida nos cearenses quanto à obriga-toriedade. Como será?

Nailde Pinheiro: O sis-tema de votação mista fun-cionará, na verdade, em 34 municípios do Estado, in-cluindo Caucaia e Fortale-za. O cadastramento, nestes municípios, não é obrigató-rio. O eleitorado vai sendo cadastrado biometricamente à medida que comparece aos cartórios eleitorais e centrais de atendimento. Para o pleito de 2016, não há obrigatorie-dade de comparecimento nessas localidades. Nesse caso, os eleitores que tiverem comparecido para a coleta biométrica votarão por meio de suas impressões digitais no leitor acoplado à urna eletrônica, e aqueles que não tiverem comparecido a esses cartórios eleitorais votarão normalmente na urna ele-trônica como ocorrido nas eleições anteriores.

Direito & Justiça: Como está sendo a logística para realização do cadas-tro? Deve aumentar mais próximo às eleições? Na semana da eleição será possível realizar?

Nailde Pinheiro: Todos os setores do Tribunal Regio-nal Eleitoral estão envolvidos na logística de atendimento, desde os cartórios eleitorais até o setor de tecnologia da in-formação, devendo o percen-tual de eleitores com cadastro biométrico crescer a cada eleição, até atingirmos 100% do eleitorado biometrizado. As revisões de eleitorado com coleta de dados biométricas encerraram-se em 18/03/2016,

mas os eleitores ainda terão a possibilidade de regularizar sua situação até 04/05/2016 (150 dias antes das eleições), prazo final para o fechamen-to do cadastro eleitoral. Na semana da eleição, o cadas-tro eleitoral já se encontrará fechado, não existindo para esse período o cadastramento biométrico de eleitores.

Direito & Justiça: Quan-do a população cearense deve estar 100% na bio-metria?

Nailde Pinheiro: A pre-visão é de que a biometria alcance todo o eleitorado do Ceará até 2020.

Direito & Justiça: Qual a vantagem da biometria

(agilidade, custo)?Nailde Pinheiro: A iden-

tificação biométrica é usada em inúmeros lugares para melhorar a segurança ou conveniência dos cidadãos. No Brasil, a emissão de passa-porte, de carteiras de identi-dade e o cadastro das Polícias Civil e Federal já contam com sistemas biométricos. Desta forma, visando garantir um sistema de votação ainda mais seguro, várias tecnologias têm sido desenvolvidas pela Justi-ça Eleitoral brasileira. A mais recente envolve a biometria, por meio do recadastramento biométrico, ou seja, do cadas-tro das impressões digitais dos eleitores. O cadastramen-to biométrico impede que uma pessoa tente se passar

por outra no momento da identificação em uma votação – já que não existem impres-sões digitais iguais – e faz parte do Programa de Identi-ficação Biométrica do Eleitor Brasileiro, sob a liderança do Tribunal Superior Eleitoral.

Direito & Justiça: Se fizer o recadastramento biométrico e não conse-guir ter a digital identifi-cada por algum problema no momento da votação, como proceder?

Nailde Pinheiro: O pre-sidente da mesa receptora, caso seja constatado pelos mesários erro na leitura das digitais do eleitor, poderá autorizar o voto através do sistema comum, sendo o elei-

tor orientado a comparecer ao Cartório Eleitoral a fim de regularizar sua situação posteriormente.

Direito & Justiça: Quan-to ao rezoneamento de algumas zonas eleitorais, já foi concluído?

Nailde Pinheiro: O rezo-neamento das zonas do inte-rior no TRE-CE foi concluído em outubro de 2015, abran-gendo dez zonas eleitorais do Estado.

Direito & Justiça: As eleições 2016 terão mu-danças. Quais a senhora pode destacar de mais importante?

Nailde Pinheiro: Dentre as mais importantes, posso

destacar: a data-limite para o pedido de registro de candi-datura passou de 5 de julho para o dia 15 de agosto até as 19 horas. Desta forma, houve mudança na data de início da propaganda elei-toral geral, que passou de 6 de julho para 16 de agosto, reduzindo em 40 dias o tem-po de propaganda eleitoral. A proibição, na propagan-da eleitoral em geral, do uso de bonecos, cartazes e cavaletes nos bens de uso comum e públ icos (v ias públicas, calçadas). Outra importante mudança é o prazo para substituição de candidatos, que antes era de 60 dias para o cargo de vereador e a qualquer tempo para prefeito e vice; agora esses prazos de substituição foram unificados em 20 dias antes do pleito. Para finali-zar, em relação aos crimes eleitorais, importante des-tacar a criminalização dos atos praticados na internet que prejudiquem a honra ou a imagem de candidato, bem como de contratar pessoas para esse fim (a pena é mais grave para o contratante).

Direito & Justiça: No Ce-ará, o TRE já se adequou as novas normas? Como estão os preparativos?

Nailde Pinheiro: Sim, o TRE-CE já possui grupos de discussão que visam pro-mover ciclos de debates, bem como confeccionar manuais atualizados para aplicar da melhor forma as reformas eleitorais promovidas em 2013 e 2015. Para tanto, a Corregedoria possui, inclusi-ve, manual tratando exclusi-vamente da Reforma Política trazida pelas Leis Federais n° 12.891/2013 e 13.165/2015, já disponibilizado em sua pá-gina na intranet do TRE-CE.

Direito & Justiça: Com o fim das doações de empresas, há expectati-va de uma eleição mais equilibrada?

Nailde Pinheiro: Sim, a doação de campanha por pessoas jurídicas já tinha sido declarada inconstitucional pelo STF na ADI n° 4650, sendo tal entendimento ratificado pela Presidência da República quan-do do veto aos dispositivos que buscavam recolocar este tipo de doação no ordenamento jurídi-co. Deste modo, sem o montan-te proveniente das empresas, possivelmente teremos uma eleição com custos menores e com maior equilíbrio entre as candidaturas.

Direito & Justiça: Este ano, será uma eleição mais barata em virtude da crise? Os candidatos devem gastar menos?

Nailde Pinheiro: Tanto a crise financeira atual quanto as novas vedações prove-nientes da Reforma Eleitoral de 2015 tendem a trazer os custos das campanhas elei-torais a patamares menores em relação a anos eleitorais anteriores.

Direito & Justiça: A fi-cha limpa continua sendo desafio para Justiça Elei-toral durante as eleições?

Nailde Pinheiro: Sim, mas a eficácia comprovada da Lei Complementar n.º 135/2011, bem como a forma-ção de uma sólida jurispru-dência nas Cortes Eleitorais contribuem para um alcance cada vez maior de seus dis-positivos.

FOTO ASSESSORIA_TRE-CE

O TRE-CE irá promover ciclos de debates e confeccionar manuais para aplicar as Reformas Eleitorais promovidas em 2013 e 2015

Em relação aos crimes eleitorais, importante destacar a criminalização dos atos praticados na internet que prejudiquem a honra ou a imagem de candidato, bem como de contratar pessoas para esse fim (a pena é mais grave para o contratante)

Tanto a crise financeira atual quanto às novas vedações provenientes da Reforma Eleitoral de 2015 tendem a trazer os custos das campanhas eleitorais a patamares menores em relação a anos eleitorais anteriores

Os eleitores que tiverem comparecido para a coleta biométrica votarão por meio de suas impressões digitais no leitor acoplado à urna eletrônica e aqueles que não tiverem comparecido a esses cartórios eleitorais votarão normalmente na urna eletrônica

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 31 de março de 2016 O ESTADO 4

Sempre fiel aos princípios cristãos, Sobral Pinto mante-ve também grande indepen-dência de pensamento e ação. Durante o governo Vargas, embora adversário do Parti-do Comunista, atuou como advogado de dois de seus líderes, Luís Carlos Prestes e Harry Berger, que considerou privados do direito de defesa.

Heráclito Fontoura Sobral Pinto nasceu em Barbacena--MG, em 5 de novembro de 1893. Formou-se em direito em 1918, no Rio de Janeiro-RJ e foi procurador criminal da república nos governos Ar-tur Bernardes e Washington Luís. Em 1928, ingressou no Centro Dom Vital, associação

civil para o estudo e apostolado da doutrina ca-tólica, e pas-sou a cola-borar em A ordem, órgão ofi-cial da or-ganização e foi preso por artigos de crítica ao governo Vargas. Entre 1935 e 1941, por três vezes defendeu Pres-tes. Em 1945, assinou o ma-nifesto de lançamento da Resistência Democrática, que propunha a total extinção da ditadura Vargas. Em 1947,

Heráclito Fontoura Sobral Pinto (1893 – 1991) ADVOGADO

recusou um convite de Prestes para parti-

cipar de um filme sobre a histó-ria do PC, já na legalidade, por considerar que o povo, in-culto, acabaria por identificar

comunismo e catolicismo.Após a renún-

cia de Jânio Qua-dros, Sobral Pinto de-

fendeu a posse do vice, João Goulart. Julgou, no entanto, que este estava sendo usado pelos comunistas e apoiou o movimento militar de 1964. Por não concordar com as

decisões dos militares após o golpe, foi dos primeiros a qualif icar o novo regi-me de ditadura e passar à oposição. A partir de 1968, após a decretação do ato institucional nº 5 e um breve período de prisão, defendeu inúmeros acusados de cri-mes políticos. Em 1978, vol-tou a defender Prestes num processo contra intelectuais comunistas e no ano seguin-te, foi eleito conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil. Sobral Pinto morreu no Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1991.

Fonte: Enciclopédia Bri-tânica do Brasil

Publicações Ltda.

GRANDES NOMES DO DIREITO

Jogo do bicho, bingos e cassi-nos podem voltar à legalidade. A Comissão Especial do Desen-volvimento Nacional aprovou, no dia 09, o substitutivo do senador Blairo Maggi (PR-MT) para o Projeto de Lei do Senado (PLS) 186/2014, do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que legaliza os chamados jogos de azar. O relatório foi lido na reunião do último dia 2, mas não chegou a ser votado devido a um pedido de vista coletivo. Na ocasião, Blairo Maggi informou terem sido apre-

sentadas 16 emendas, das quais acatou cinco. Uma delas propõe estender os requisitos de idonei-dade a todos os sócios da pessoa jurídica que detenha direitos para exploração de jogos de azar. No substitutivo, o requisito se aplica apenas aos sócios controladores. Outra emenda amplia a proibição de que detentores de mandatos eletivos explorem jogos de azar, de forma a abranger também cônjuge, companheiro ou parente em linha reta até o 1° grau.

Fonte: Agência Senado

A Resolução 138/2010 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estabelece que o bilhete de passagem aérea é pessoal e intransferível. A de-terminação pode mudar com a aprovação pela Comissão de Constituição, Justiça e Cida-dania (CCJ) do PLS 394/2014, do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). O parecer favorá-vel, do relator Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), foi apro-vado com 16 votos favoráveis e nenhum contrário. A proposta foi aprovada em decisão ter-

minativa na CCJ e pode seguir para a Câmara dos Deputa-dos se não houver recurso para votação pelo Plenário do Senado. O projeto altera o Código Brasileiro de Aero-náutica (CBA) para permitir a transferência de bilhete aéreo entre passageiros. No entanto, condiciona a operação a regras e restrições impostas pela companhia aérea, bem como a exigências fixadas pela autori-dade aeronáutica em relação à identificação dos passageiros.

Fonte: Agência Senado

A pensão por morte pode ser divida se o morto tiver mantido dois relacionamentos paralelos, desde que as duas mulheres comprovem a união estável com o mesmo homem. Assim enten-deu a 10ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (MS e SP), ao decidir que o Ins-tituto Nacional do Seguro Social (INSS) dividida o benefício entre as duas companheiras de um homem que morreu e manteve relacionamentos concomitantes com elas. A ação foi ajuizada

contra o INSS por uma das companheiras do morto depois que a autarquia havia negado o pedido de pensão alegando que outra mulher já recebia o bene-fício. Essa outra beneficiária foi chamada para também figurar no polo passivo do processo. Ao analisar o caso, o relator, desembargador federal Sérgio do Nascimento, entendeu que foi comprovada a união estável entre a autora e o falecido.

Fonte: Consultor Jurídico

O empréstimo de um imóvel de propriedade do empregador para ser usado por funcionário transferido de cidade constitui salário in natura quando a residência não é indispensável para a execução do trabalho. Foi o que entendeu a 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS) ao condenar uma empresa a pagar a chamada utilidade de habita-ção a um vendedor de carro. O empregado havia sido trans-ferido de Santo Ângelo para Passo Fundo, cidade a cerca de 200 km. A empresa alegou que concedeu o imóvel ao vende-dor para que fosse possível o

desempenho do seu trabalho, já que não tinha residência no local, nem em cidades próxi-mas. Mas o colegiado consi-derou que a moradia não era indispensável à execução do contrato de trabalho, por isso confirmou a sentença do juiz Denilson da Silva Mroginski, titular da Vara do Trabalho de Santo Ângelo. Dessa forma, o colegiado condenou a empresa a pagar R$ 300 mensais a título de utilidade de habitação, além dos reflexos em férias com um terço, gratificações natalinas, horas extras e FGTS. A decisão já transitou em julgado.

Fonte: TRT-4

Justiça brasileira já tem 7,4 milhões de ações judiciais tra-mitando por meio do Processo Judicial Eletrônico (PJe), se-gundo os dados mais recentes do Comitê Gestor Nacional do PJe. Em março do ano passado, o sistema registrava 4 mi-lhões de processos. A solução tecnológica desenvolvida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é distribuída gratuita-mente aos tribunais desde 2011 e, atualmente, é utilizada por 44 cortes brasileiras, pelo Con-selho da Justiça Federal (CJF), além do próprio CNJ. Ao todo, 2.561 órgãos julgadores – entre varas, turmas, câmaras e ou-tras unidades judiciárias – são usuários do sistema. Embora

não haja uma base estatísti-ca que permita comparar a quantidade de processos do PJe com o total de demandas judiciais no País (cerca de 100 milhões), 45% das ações judiciais foram apresentadas à Justiça em meio eletrônico em 2014. O percentual equivale a 11,8 milhões de processos que começaram a tramitar ele-tronicamente, dispensando o uso de papel e toda a logística de transporte e armazena-mento que os processos físicos implicam. Algumas das ações passaram a tramitar via PJe e também nos outros sistemas processuais utilizados pelos tribunais brasileiros.

Fonte: CNJ

Comissão aprova legalização de cassinos, bingos e jogo do bicho

Projeto que permite transferência depassagem aérea é aprovado na CCJ

Pensão por morte é dividida quando há mais de um relacionamento

Casa emprestada a empregado semnecessidade tem natureza salarial

PJe atinge a marca de 7,4 mi de processos judiciais

Ocorpo fa la. As ex-pressões corporais são uma das formas mais naturais de comuni-

cação entre os seres humanos. Elas podem entregar senti-mentos e emoções através de gestos ou da postura. Saber interpretá-las é um desafio e requer habilidade, mas ter a sensibilidade para compreen-der a mensagem não verbal é de grande valia em qualquer tipo de relação.

Da mesma forma que a postura de um candidato a uma vaga de emprego é con-siderada para contratação ou não, a de uma testemunha ou de qualquer uma das partes que compõem um processo jurídico também são obser-vadas e acatadas perante uma decisão. No judiciário, a aná-lise dos gestos conta como coleta de provas e pode anular depoimentos.

Recentemente, um juiz da 6ª vara do Trabalho de Porto Alegre decidiu descartar de-poimento de uma testemunha ao analisar sua linguagem corporal. De acordo com o magistrado, Max Carrion, a testemunha havia feito gestos incompatíveis com o que di-

zia, e explicou que a lingua-gem não verbal diz respeito ao valor dado à prova oral.

Neste caso, a pessoa foi convidada por uma empre-gada de empresa de refeições que pleiteava indenização por danos morais, no entanto, no momento em que colhia o depoimento da testemunha, o juiz percebeu exageros com objetivo de beneficiar a recla-mante. Por isso, considerou ação improcedente.

Análise é fundamental

A juíza da 7ª vara de Famí-lia de Fortaleza, Shirley Cris-pino, concorda que qualquer profissional que trabalhe com relações humanas, sobretudo, o magistrado, deve apreciar toda e qualquer performance das partes. Ela ressalta que a análise das expressões corpo-rais podem ser consideradas tanto em processos cíveis e criminais como em processos da Fazenda.

“O ser humano é de fato uma caixinha de surpresa, adágio popular verdadeiro. A linguagem corporal é vista pe-los profissionais perspicazes, qualidade e talento de quem

os têm. A perspicácia conse-gue enxergar o que não está escrito e que colabora com a interpretação. Eu diria que a linguagem corporal pode, inclusive, colaborar com a hermenêutica”, afirma a juíza.

Segundo Shirley, a sagaci-dade dos magistrados pode perceber detalhes que entre-gam como, no caso de vítimas, o grau de medo ou fobia, de coação sofrida pelo agente criminoso, de sofreguidão, grau de persuasão do agente criminoso sobre a vítima, grau de inocência da vítima, grau de periculosidade do acusado e até a influência da convicção formando um juízo de valor.

Exemplos de expressões

Algumas das manifestações básicas que o ser humano pode transmitir e mais comuns em qualquer cultura são: o medo, a raiva, a tristeza, o desprezo e a alegria, fáceis de serem notadas em expressões faciais.

Na linguagem corporal, a insegurança ou timidez pode ser identificada pelos ombros descontraídos, esconder as mãos e pelo fato de que ten-dem a ocupar menos espaços.

O interesse por um determi-nado assunto também é fácil ser percebido, normalmente a pessoa se inclina na direção contrária mostrando proveito com o que está sendo falado. Já o modo desleixado de como se senta ou se porta diante a outra pessoa, principalmente, quando se trata de uma autori-dade, mostra desrespeito.

Os indicadores de mentiras são os que mais são conside-rados durante um julgamento. Ao mentir, as pessoas costu-mam se entregar realizando muitos movimentos, que po-dem ser interpretados como intenção de fuga.

Capacitação Considerando a importân-

cia de identificar a mensagem não verbal como forma de contribuir na decisão de um processo, a magistrada defen-de a capacitação.

“É pena que os cursos de Direito, em sua grande parte, não ministrem aulas acerca da matéria. Acredito que esta faça parte da psicologia judiciária, mas, infelizmente, não há nos cursos de direito, comumente, disciplina com a matéria”, observa.

Expressões corporais podem anular depoimentos

MEIO DE PROVAS

Shirley Crispino – “A perspicácia consegue enxergar o que não está escrito e que colabora com a interpretação”

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Page 5: Direito & Justiça 31/03/2016

Em 2015, a Comissão Intera mer ica na de Direitos do Homem da Organização dos

Estados Americanos (OEA) recebeu 2.164 novas petições, 23% a mais em relação ao ano anterior. Desse total, 99 foram de brasileiros, segundo dados da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Ainda conforme a CIDH, o Brasil é o quinto país com mais demanda e o segundo a ter mais pedidos acatados, que já foram 40. A lentidão do judiciário brasileiro e o esgotamento de recursos in-ternos é o que tem levado mais brasileiros a buscarem justiça no exterior, na Corte Interamericana de Direitos Humanos, segundo aponta a professora Livre-Docente de Direito Internacional da USP, Maristela Besso.

Um dos brasileiros com ação tramitando no exterior é Renato Artero. A ação foi movida pela Associação dos Distribuidores e Ex-Distribui-dores dos Produtos Ambev do Estado de São Paulo e Região Sudeste (Adisc), a qual Ar-tero faz parte. A Associação resolveu entrar com denúncia contra a Ambev e autoridades judiciais e administrativas brasileira após fusão das cer-vejarias Antarctica, Brahma e Skol que resultou em graves violações de direitos huma-nos, ao não cumprir acordos de indenização com os distri-buidores, e levou ao encerra-mento de 95% das atividades e eliminação de cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos.

“Quando teve a fusão da Brahma com Antarctica, eu

era distribuidor da Antarctica, foi celebrado com a compa-nhia [Ambev] um instru-mento de transação, e esse instrumento não foi cumpri-do. Então, a gente entrou na justiça [brasileira] pedindo esse cumprimento, que não foi cumprido em sua integri-dade, somente em parte. Mas a justiça demorou nove anos só para julgar se o CADE do polo passivo estaria nesta ação ou seria excluído. Por conta disso, fomos para o exterior”, disse Artero. Segundo ele, em 2014, a denúncia contra a compa-nhia e autoridades brasileiras foi aceita na OEA e, desde então, está em tramitação.

De acordo com a professora

Maristela Besso, ao optar em recorrer à Corte Interame-ricana, não significa que o processo irá ser julgado mais rapidamente, mas a preferên-cia é pelo fato de lá ser especia-lizada em questões de viola-ções de direitos humanos. Ela reforça, contudo, o artigo 25 da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, que ressalta: “Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais compe-tentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente convenção,

mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais”.

Aumento na demandaMaristela reforça que a

demanda no exterior vem au-mentando porque as pessoas passaram a ter conhecimento da Corte. Para ingressar com ação fora, não necessariamen-te precisa esperar esgotar os recursos internos, é possível recorrer a uma medida de liminar quando há demora da decisão final.

Casos conhecidosEntre os casos mais co-

nhecidos, o ex-ministro José Dirceu já recorreu à Comissão alegando falta de duplo grau de jurisdição durante julgamento do Mensalão. Além dele, o mais famoso foi o de Maria da Penha. Ao sofrer tentativa de homicídio pelo marido, em 1983, que a deixou paraplégica e, depois, tentou eletrocutá--la, o réu foi condenado pelos tribunais brasileiros, mas ficou em liberdade por 15 anos de-vido às medidas protelatórias. Maria da Penha foi à Justiça Internacional, que responsa-bilizou o Brasil, em 2001, por omissão e negligência à vio-lência contra a mulher, reco-mendando adoção de políticas públicas. Foi então que o Brasil sancionou a Lei 11.340/2006 que recebeu seu nome.

Segundo a professora, o Brasil leva para OEA todo tipo de demanda, como as péssimas qualidades dos pre-sídios, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e audiências de custódia.

L iminar que suspende aplicação das novas regras do recolhimento do ICMS para compras

em comércio eletrônico a empresas optantes do Simples Nacional sinaliza necessidade de proteção aos destinatários da norma. É o que observa a advogada especialista em direito tributário e aduaneiro, Silvana Guerra.

Em janeiro deste ano, en-trou em vigor a nova regra que permite a distribuição do ICMS entre os estados produtores e consumidores, sobre produtos vendidos pela internet ou por telefone. No entanto, o Conselho Federal da OAB decidiu ingressar, no Supremo Tribunal Federal (STF), com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) alegando que a mudança não se encaixaria nos procedi-mentos das micro e pequenas empresas optantes do Simples Nacional, conforme dispõe a cláusula 9ª do Convênio 93/2015, do Conselho Nacio-nal de Política Fazendária (Confaz).

A medida cautelar foi ou-torgada pelo ministro Dias Toffoli, que afirmou invasão de campo de lei complementar e riscos de prejuízos, em espe-cial aos contribuintes do Sim-ples Nacional, que poderiam cessar atividades ou perder competitividade por conta da nona cláusula do convênio. Na decisão, o ministro tam-bém esclareceu que a altera-ção não poderia ter ocorrido através de um convênio, mas

somente através de lei. De acordo com a decisão do

STF, um documento do Ser-viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que continha informações sobre os impactos da mudança para os pequenos negócios. Tributaristas alegam dif iculdades para empresas, cujo fatu-ramento anual é de até R$ 3,6 milhões, adaptarem-se e que acabam pagando mais imposto, con-siderando que an-tes o ICMS era e m but ido no Simples e, de-pois da altera-ção, passou a ter que calcu-lar a diferença de alíquota e ainda continu-ar pagando a contribuição.

“Na louvá-vel decisão, a lém de re-conhecida a invasão do c o n v ê n i o para tratar d e t e m a próprio de le i com-plementar, restou registrada a imperiosa necessidade de tratamento diferenciado e favorecido às empresas optantes pelo Simples Nacional, amparada em precedente daquela Cor-

te Suprema que já firmou anteriormente orientação nesse sentido, o que deixa os jurisdicionados acreditarem no provável êxito da ação ajui-zada pelo Conselho Federal da OAB”, avalia a advogada.

Conforme explica Silvana, a cláusula 9ª vai na contra-mão das normas e princípios expressamente postos na Constituição Federal, que evidenciam a necessidade de tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado aos optantes pelo Simples. “É certo que trata-se de medida do ministro Dias Toffoli, contudo, sinaliza o reco-nhecimento da relevância do caso e da necessidade de proteção aos destinatários da norma, cujo relevante papel no cenário econômico

merece ser respeitado”, salientou.

Novas regrasDe acordo com as

novas regras do ICMS, os estados consumidores dos produtos passam a ter 40% das alíquotas, até atingir 100%, gra-dativamente, em 2019. A alteração é para cor-rigir a distribuição tributária que só per-mitia o recolhimento integral do ICMS ao estado de origem da loja virtual. Pela mu-dança, a divisão fica: 40% do estado con-sumidor e 60% para o estado produtor, em 2016; 60% para o estado consumidor e

40% para o estado produtor, em 2017; 80% para o estado consumidor e 20% para o estado produtor, em 2018; e em 2019, 100% para o estado consumidor.

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 31 de março de 2016 5

Demora no judiciário leva brasileiros a buscar justiça no exterior

Liminar sinaliza necessidade de proteção a empresas optantes pelo Simples

CORTE INTERAMERICANA

NOVAS REGRAS DO ICMS

Maristela Basso afirma que a Constituição Federal reconhece a jurisdição e se compromete a cumprir as decisões proferidas pela Corte Interamericana

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CAACE - Rua D. Sebastião Leme, 1033 Bairro de Fátima (85) 3272.3412 www.caace.org.br. Notícias para coluna [email protected]

Bem-estar da Advogada

Advocacia unida contra o mosquito

Imunidade Tributária para Caixas de Assistência dos Advogados

No dia 10 de março, no auditório do CRECI - Con-selho Regional de Correto-res de Imóveis, aconteceu o I Ciclo de Palestras Estadu-al de Assistência ao Bem--estar da Mulher Advogada, realizado pela Caixa de As-sistência dos Advogados do Ceará. Apoiando o evento, a presidente da Comissão

de Mediação, Conciliação e Arbitragem da OAB-CE, Darlene Braga, acredita que é necessário cada vez mais valorizar a advogada. “Esse evento é uma excelente oportunidade para apren-dermos ainda mais a conci-liar nossa vida profissional e pessoal sem deixar a saúde e a autoestima de lado”.

Nova CAACE, Comis-são de Saúde da OAB--CE e a NUVET (Núcleo de Controle de Vetores) promoveram diversas ações de prevenção contra o mosquito aedes aegypti, no Fórum Autran Nunes

e Clóvis Beviláqua. Os Advogados, servidores e público em geral puderam receber orientações sobre o combate, bem como serviços de massoterapia, aferição de pressão arterial e teste de glicemia.

Em 2014, foi aprovada, em caráter conclusivo, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, a proposta (PL-3747/2012) que assegura imunidade tributária total às Caixas de Assistência dos Advogados em relação a seus bens, rendas e serviços. Em seguida, seguiu para tramitação no Senado.

Para solicitar apoio na aprovação do projeto, o ex-presidente da Caixa de Assistência do Ceará e idealista da medida durante mandato (2010-2012), Lean-dro Vasques; o atual presi-dente e o vice-presidente da CAACE, Erinaldo Dantas e Waldir Xavier; o presiden-

te da OAB-CE na Região Metropolitana de Fortaleza, Raphael Mota; e o advogado Fernando Ferrer estiveram no dia 23, em Brasília, com o senador Eunício Oliveira.

Segundo Erinaldo, a imu-nidade já existe porque o patrimônio das caixas per-tence à Ordem dos Advoga-dos do Brasil, mas algumas repartições fiscais não têm tido o mesmo entendimen-to. “Por isso a importância da aprovação deste projeto de lei, que vem declarar a correta interpretação da legislação tributária”. Por-tando, ao final da reunião, o líder do PMDB no Senado prontamente concordou com o pleito e em apoiar sua aprovação.

Silvana Guerra explica que cláusula 9ª vai na contra-mão das normas e princípios expressamente postos na Constituição Federal

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 31 de março de 2016 O ESTADO 6

Escritor e advogado Eduardo Pragmacio Filho

Adriana Camilo e Hamilton Sobreira

Marcos Lage e Jardson Cruz

Ingrid Pragmacio Filho autografa para amada Ingrid

Tomas Figueiredo Filho e Rafael Holanda

Erinaldo Dantas, Helena Sampaio, Leo Mello e Renata Neris

Tainah Parente, Renata Brito, Fabiana Gondim Camilla Figueiredo

Sirlei Felipe e Cristina Costa

Geraldo Jesuino, Eduardo Pragmacio e Dimas Macedo

Marcelo Pinheiro, Eduardo Pragmacio Filho e Darlene Braga

Marcos Cesar, Lariza Goncalves e Randy Ferreira

Leitao, Marimilia Leitao e Cristina Costa

Heloisa Pimentel e Eduardo Pragmacio

Eduardo Pragmacio e Ricardo Amorim

Marcelo Pinheiro e Andre Aguiar

Lucas Ribeiro e Keliane Costa

Regis e Aurila Frota

FOTOS IRATUÃ FREITAS

Noite de autógrafosEduardo Pragmácio Filho, lançou, em noite que aconteceu no Salão Humberto Cavalcante do Ideal Clube, seu novo livro intitulado “Estranheza”,

segundo romance escrito pelo renomado advogado cearense e professor de Direito da Faculdade Farias Brito.

Planejamento Tributário Fácil

Este livro está estruturado em oito capítulos que abordam assuntos interligados e que propiciam visão e entendimento possível a respeito dos assuntos que podem ser julgados como importantes na definição

dos fatos geradores de tributos, servindo como instrumento de apoio gerencial, enfatizando bem a elaboração de um planejamento tributário de uma empresa e, portanto, auxiliando os acadêmicos ou interessados pelo assunto.

AUTOR: ANÉLIO BERTI E ADRIANA COSTA PEREIRA BERTIEDITORA: JURUÁPÁGINAS: 180PREÇO: R$ 59,90

Recuperação de Empresa em Crise - A Efetividade daAutofalência no Caso de Inviabilidade da Recuperação

N o intuito de possibilitar a reestruturação da sociedade empresária ou empresário individual, em eventual crise econômico-financeira, a Lei 11.101/05 traz

mecanismos com os quais os empresários possam submeter-se a um processo de recuperação de sua empresa, de modo a propiciar não apenas a manutenção da atividade econômica desenvolvida, mas também os postos de empregos, bem como o adimplemento das obrigações sociais decorrentes do exercício da atividade econômica.

AUTOR: ADRIANO DE OLIVEIRA MARTINSEDITORA: JURUÁPÁGINA: 278PREÇO: R$ 97,70

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ULG

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DIREITO E LITERATURA

Page 7: Direito & Justiça 31/03/2016

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 31 de março de 2016 7

Inovações que prometem simplificar e dar celeridade à Justiça

Os desafios da mediação como etapa processual obrigatória no trâmite

NOVO CPC

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

Após anos de estudos e discussões, o Novo Código de Processo Civil (NCPC), final-

mente, entrou em vigor no último 18 de março. Com ele, diversas inovações que pretendem agilizar o sistema processual brasileiro. As mu-danças contemplam ações que envolvem o direito de família, o direito do consumidor, ho-norários advocatícios, defesa do réu, penhora, entre outros.

Na avaliação do professor de processo civil, Jair Coiti-nho, há pontos que alteram a vida dos advogados e outros que impactam a sociedade. As mudanças não atingem apenas ações perante a Justiça Comum, mas na do Trabalho e na Eleitoral. “As pessoas demoram de cinco a dez anos para ver seus litígios resolvi-dos. A ideia do Novo CPC é empoderar as partes e trazer estes elementos, não só de boa-fé, mas de cooperação, mediação de conflitos, e de diminuir o tempo dos pro-cessos”, observa Jair.

Segundo o professor, ape-sar dos avanços, a eficácia e efetividade das diretrizes do Novo CPC só serão notadas com a conscientização de três pontos básicos, conforme cita: “Primeiro, o incentivo aos mecanismos de solução consensual de conf litos ao lado de um mecanismo que é a jurisdição; em segundo, a necessidade de nós termos, dentro do processo, uma aplicação de um modelo co-operativo. A cooperação de juízes, partes e advogados, de forma que, se não for

obtido o acordo, se chegue a um resultado útil e efetivo, de maneira correta. Exige-se que os juízes discutam com os advogados os rumos de demandas que as partes não escondam as provas, que as pessoas tenham consciência de que cooperar para a Jus-tiça é o melhor para obter a

solução correta; e terceiro, é preciso que sejam respeitadas as decisões e a uniformidade e previsibilidade das deci-sões judiciais anteriores, que sejam respeitadas, o que cha-mamos de jurisprudência”.

Considerações“Temos experiências de

outros países, como na ques-tão de mediação obrigatória, que fazem com que índices fantásticos sejam alcançados, sem que as pessoas precisem passar por todo o processo. São índices bastante inte-ressantes. Há quem diga que passar por todas as etapas dos recursos acaba sendo

uma ação extraordinária, excepcional. É um avanço que nós temos, mas depende de conscientização”, verifica o professor, afirmando que o NCPC foi democraticamente discutido e está de acordo com as diretrizes das mais avançadas teorias processuais do mundo.

Jair Coitinho analisa que o aparato judiciário, hoje, depende de um material hu-mano que esteja também com essa nova cultura. É preciso investir, afirma. “Sabemos que o Poder Judiciário está assoberbado de processos e tem a falta de recursos pes-soais, materiais e financeiros. É preciso um engajamento da advocacia, do Ministério Público, da Defensoria Pú-blica e de outros órgãos, com a ampliação de mecanismos que permitam desafogar o Judiciário”, considera.

Algumas mudançasDentre as principais mu-

danças no sistema processu-al, pode-se destacar a ques-tão da mediação obrigatória, cujas partes devem passar primeiro por uma audiência de conciliação para resolu-ção do conf lito. Na pensão alimentícia, que ficou mais rigorosa. Agora, se o paga-mento não for efetuado, sem justificativa, o juiz decretará prisão em prazo de um a três meses, em regime fechado ao devedor.

Os honorários advocatí-cios passaram a ser devidos durante fase de recursos. Eles serão majorados a medida que forem sendo julgados os recursos. A contagem dos prazos será feita em dias úteis, e ficará suspensa por um mês, nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janei-ro, inclusive. Os prazos para recursos foram unificados em 15 dias, salvo os embargos de declaração, cujo prazo será de cinco dias.

A mediação passou a compor, automatica-mente, a etapa proces-sual. Antes de chegar

ao judiciário, os mediadores devem conduzir um diálogo entre as partes, em conjunto ou separadamente, a fim de se alcançar uma solução. O método é um dos pontos que mais se destaca no Novo Códi-go de Processo Civil (NCPC), e a proposta é que seja uma via alternativa à morosidade do Judiciário para resolução de conflitos.

Agora em vigor, os desafios são de disseminar a cultura da mediação na sociedade e conquistar estrutura, sobre-tudo, física para efetividade e sucesso. A previsão é de que o método seja estimulado por advogados, juízes, defensores públicos e membros do Mi-nistério Público. De acordo com o especialista em direito de processo civil, Marco Lo-rencini, a audiência inicial se realizará mesmo que uma das partes não tenha interesse. “Em outras palavras: se pelo menos uma das partes apre-sentar interesse na sua realiza-ção, ela deverá ser designada. Isso significa que, depois de ajuizada uma ação, o juiz, ao verificar que ela preenche os requisitos mínimos formais, convidará o réu para essa au-diência. Para tanto, é preciso que o direito discutido na ação seja disponível, isto é, que as

partes possam abrir mão ou transigir”, explica.

A exceção só ocorrerá quan-do o réu e o autor da ação ma-nifestarem o desinteresse. “Há certa incompreensão por parte de algumas pessoas quando ouvem a expressão “media-ção como etapa processual obrigatória”. A conciliação e a mediação jamais poderão ser obrigatórias. Não é possível obrigar ninguém a se conciliar ou fechar um acordo”, ressalta o advogado. Segundo Marco, o que o Novo CPC impõe é a realização da audiência, que é quando as partes poderão conhecer melhor sobre a me-diação e decidir se submetem a ela. “A audiência acontecerá, mas a mediação propriamente dita, não”, destaca.

DesafiosAlém da mudança cultural,

para incorporar esse processo, o especialista prevê outros desafios. Para Marco, consi-derando que a organização da mediação ficou a cargo dos tribunais, há uns mais prepa-rados que outros, portanto, a estrutura física é um desafio, mas maior ainda ele destaca a existência de recursos e capa-citação de mediadores.

“Um ponto não definido em todos os estados é a re-muneração dos mediadores. O Novo CPC 2015 deixa isso a cargo dos tribunais. Há muitos tribunais, para não

dizer a maioria, que não en-frentaram a questão. Apos-tam apenas em mediadores que exercem a função como trabalho voluntário. Ou seja, como função honorífica e sem remuneração”, afirma. No entanto, o advogado defende que a questão da remunera-ção deve ser enfrentada sem rodeios, pois mesmo que seja previsto o trabalho voluntário, a remuneração também é, as-sim como a possibilidade de concurso público.

Conforme Marco Loren-cini cita, o Relatório Justiça em Números, divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça, de 2015, aponta que quase 29 milhões de processos foram ajuizados em todo o Brasil em 2014, sendo que cerca de 70% deles, 20 milhões, tramitam nas Justiças Estaduais. “A Justiça Estadual trata tanto de processos criminais, execu-ções fiscais (municipais e es-taduais), assim como questões cíveis. Dessas causas cíveis, al-gumas envolvem direitos que podem ser objeto de media-ção, outras dizem respeito a direitos indisponíveis em que a mediação não seria aplicável. Daí, pode-se concluir que estamos falando de alguns mi-lhões de processos e, portanto, alguns milhões de mediações que deverão ocorrer em todo o Brasil, caso pelo menos uma das partes mostrar interesse na sua realização” ressalta.

TempoO especialista também ex-

plica sobre o tempo em que ocorre a mediação. Segundo ele, se mede por número de encontros ou sessões. Mas acredita que, em poucas ses-sões, um mediador pode ob-servar se deve continuar ou encerrar a mediação. “Não há decisão imposta por um ter-ceiro como o juiz ou o árbitro. São as próprias partes que, com o restabelecimento do di-álogo, decidem se querem por fim ao conflito ou não. Esses métodos já mostraram sua efi-ciência nas causas envolvendo o direito de família. É hora que ele seja largamente utilizado nos conf litos comerciais e cíveis em geral”, conclui.

Na avaliação do coordena-dor da Comissão de Mediação do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Co-mércio Brasil-Canadá (CAM/CCBC), Adolfo Braga, é muito difícil falar em tomada de de-cisão errada quando se escolhe a mediação como forma de re-solução. “Como trabalhamos com isso há muito tempo, o que a gente vê é que, ao lon-go do processo, acontecem mudanças nas pessoas, em função de pensarem melhor e tomam soluções conforme o que acham mais adequados a eles. Normalmente, são deci-sões mais equilibradas e com satisfação”, observa.

Jair Coitinho destaca três pontos importantes para efetividade do Novo Código de Processo Civil

Marcos Lorencini afirma que é preciso estimular a cultura de media-ção na sociedade e conquistar estrutura física e de pessoal

FOTO BETH DREHER

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Page 8: Direito & Justiça 31/03/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 31 de março de 2016 O ESTADO 8

Em processos de arbi-tragem que envolve a administração pública, caberá as partes decidir

sobre a publicidade do proce-dimento. É o que estabelece a Resolução Administrativa 2/2016 editada pelo Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil--Canadá (CAM/CCBC), prin-cipal e mais antiga instituição brasileira do meio alternativo para resolução de conflitos.

A medida foi criada após reforma da Lei de Arbitra-gem (13.129/15), que passou a admitir a possibilidade de utilização da arbitragem por entidades da administração pública direta ou indireta, desde que fosse respeitado o parágrafo 3º do artigo 2º, o qual determina o princí-pio da publicidade, como é previsto na Constituição Federal, cuja f inalidade é permitir saber o que está acontecendo com o orga-nismo público envolvido em determinado litígio. Contu-do, processos de arbitragem são naturalmente sigilosos, por conter segredos comer-ciais, por isso, a resolução.

“Quando a gente fala que todas as coisas da administra-ção tem que ser públicas, isso não é verdade. Tem alguns se-gredos que são coisas bastante delicadas que não podem ser divulgadas. Mesmo um pro-cedimento pelo Tribunal de Contas, que é da União, do Estado ou Município, algumas informações econômicas não

são reveladas para proteger os interesses do próprio ente público”, explicou o presi-dente do CAM/CCBC, Carlos Forbes.

Critérios Para atender ao princí-

pio da publicidade de atos públicos como estabelece a legislação, a resolução define que, em arbitragens envol-vendo a administração pú-blica direta (União, estados e municípios), o CAM/CCBC poderá informar a existência do procedimento arbitral, nome das partes e data do requerimento, sendo ambos disponíveis no site da ins-tituição. Porém, as demais informações e documentos só serão divulgadas mediante acordo entre as partes.

A advogada Adriana Bra-

ghetta, que já foi considerada a mais inf luente da Améri-ca Latina na área de litígio, considera que a questão foi bem tratada. “O artigo 4º deixa claro que cabe ao ente da administração fornecer qualquer informação ou docu-mento, respeitada a legislação aplicável, sem prejuízo de as partes poderem dispor a res-peito (artigo 1º). A publicidade deve ser decidida pelas partes, mantendo as câmaras e os árbitros a mesma forma de proceder”, afirmou.

A especialista defende que a resolução está de acordo com a prática internacional de arbitragens comerciais. “Acho o impacto positivo. Será muito bem vista por todos, inclusive os estrangeiros”, disse.

Conforme Carlos Forbes, a medida foi tomada logo quan-

do a Lei passou a vigorar e a empresa começou a receber ligações solicitando cópia de qualquer procedimento envolvendo a administração pública. “Eu disse que não sou autorizado a ficar dando informação. Aqui não é um cartório onde qualquer pessoa vem aqui e pode pedir infor-mação. Faço a administração de procedimentos arbitrários, mas não sou o responsável pela arbitragem. O CAM/CCB só faz a administração”, ressaltou.

AvaliaçãoPara o presidente do CAM/

CCBC, a lguns problemas levados à arbitragem são melhores e mais rapidamen-te resolvidos. “A arbitragem não vai servir para eliminar os processos judiciais, mas a arbitragem para casos espe-cíficos envolvendo direitos específicos e a necessidade de um procedimento mais rápi-do traz a paz social”, destacou Forbes.

Ele avalia que a arbitra-gem brasileira é, hoje, mun-dialmente reconhecida e que optar por este meio, apesar de o investimento ser maior, o risco é menor, portanto, é vantagem para a administra-ção pública. No ano de 2015, o CAM/CCBC recebeu 112 novas ações. O presidente da instituição salientou que o número pode não ser elevado em comparação aos processos no judiciário, no entanto, é bastante significativo.

Cabe às partes decidir se dará publicidade em procedimento arbitral

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Carlos Forbes – “Quando a gente fala que todas as coisas da adminis-tração tem que ser públicas, isso não é verdade. Tem alguns segredos que são coisas bastante delicadas que não podem ser divulgadas”

FOTO: DIVULGAÇÃO

OAB Ceará celebra vigência do novo CPC

Mais de 40 advogados prestam serviço voluntário na Praça do Ferreira

Marcha contra a Corrupção apresenta relatório a autoridades

Presidente protocoliza pedido de providências para apurar eventuais excessos do juiz Sérgio Moro

Considerado um avanço para a advocacia, o Novo Código de Processo Civil entrou em vigor no último dia 18 de março. Para o presidente da OAB Ceará, Marcelo Mota, a legislação valoriza o exercício da advo-cacia. “Diferente do ante-rior, que foi criado em um regime totalitário, o novo CPC nasce sem amarras, sob o Estado Democrático de Direito. O Código traz uma série de mudanças que pro-porcionam melhor quadro e

que deve impactar de forma positiva no exercício da ad-vocacia. Os avanços são fruto de trabalho intenso e cons-tante debate”. As principais mudanças são a garantia de férias para os advogados, con-tagem de prazos em dias úteis e o respeito à questão dos honorários sucumbenciais dos advogados. Nos últimos meses, a Escola Superior de Advocacia (ESA) promoveu diversos cursos de atuali-zação jurídica sobre a nova legislação processual civil.

O Dia Mundial do Con-sumidor (15 de março) foi celebrado com a prestação de serviço voluntário pela OAB Ceará, por meio da Comissão de Direito do Consumidor. Mais de 40 advogados prestaram aten-dimento jurídico gratuito na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza. “É muito interessante a participação

da Ordem, mais uma vez irmanada com a sociedade. Nada melhor que comemo-rar o Dia Internacional do Consumidor promoven-do uma grande festa com prestação de serviço social para oferecer informação e atendimento”, destacou o presidente da Comissão da OAB-CE, advogado Sávio Aguiar.

Em audiência pública na OAB Ceará, a XV Marcha Contra a Corrupção e a Favor da Vida apresentou relatório do movimento, que percorreu a pé, de 10 a 25 de janeiro, seis municípios do interior do Estado (Antonina do Norte, Assaré, Altaneira, Nova Olin-da, Crato e Juazeiro do Norte). Na audiência foi apresentado e discutido o repasse e aplica-ção de mais de 47 milhões aos municípios. As informa-

ções foram divulgadas pela Ação Cearense de Combate à Corrupção e à Impunidade (ACECCI). Agora, os órgãos fiscalizadores irão avaliar os documentos e tomar as me-didas para que as denúncias sejam apuradas. O secretário geral adjunto da OAB-CE, Fá-bio Timbó, destacou que a Or-dem tem o papel constitucio-nal de apoiar toda a sociedade cearense nessa força-tarefa em busca do combate à corrupção.

O presidente da OAB Ce-ará, Marcelo Mota protoco-lizou, no Conselho Federal da OAB Nacional, pedi-do de providências para apurar eventuais excessos do juiz Sérgio Moro na condução do processo que investiga o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente no grampo de escritórios de advocacia e autoridades. O pedido apresentado é resultado

de decisão soberana do Conselho cearense, tomada durante sessão extraordi-nária. “A OAB-CE posicio-na-se f irmemente contra qualquer solução fora da institucionalidade, sem as garantias constitucionais, buscando a apuração de todos os atos ilegais com a sua devida responsabi-lização, com o respeito às prerrogativas de quem as possui”, disse o presidente.

A inadimplência no pa-gamento do condomí-nio é um dos grandes problemas que inco-

moda a quem mora em pré-dio. Saber que um vizinho deve, há meses, mesmo assim continua a usar áreas de lazer pode deixar alguns moradores revoltados. Mas, o que seria ou não permitido aos inadim-plentes? Quais providências o síndico pode tomar?

Em uma situação extrema, uma das vontades de quem paga as taxas em dia é de que os inadimplentes sejam im-pedidos de utilizar qualquer serviço, inclusive de que te-nham o fornecimento de água interrompido. Porém, apesar do incômodo, é importante saber sobre o que pode ou não ser cortado e evitar uma intriga maior.

O advogado Murilo Mattos, especialista na área de direito imobiliário, explica que é lícito suspender o acesso de inadimplentes aos serviços não essenciais, como a piscina, quadras esportivas, academia, playground. Porém, nenhuma punição pode incidir sobre os serviços essenciais, que são: fornecimento de água e energia, vaga de garagem, interfone e entrega de cor-respondências, por exemplo. “Não há previsão legal sobre o tema, apenas discussões doutrinárias e jurispruden-ciais, por isso, há quem sus-tente que a sanção imposta ao condômino inadimplente não pode ser outra que não a pe-cuniária. Contudo, a doutrina dominante e a jurisprudência recente entendem ser lícito es-tipular a suspensão do acesso

aos serviços não essenciais da unidade condominial pelos condôminos inadimplentes, desde que esta norma seja aprovada em assembleia geral ou constante na Convenção Condominial”, ressalta.

De acordo com Mattos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já se manifestou sobre o tema julgando que qualquer incidência sobre serviços es-senciais fica sob pena de afron-ta ao direito de propriedade, função social e à dignidade da pessoa humana, “em detri-mento da utilização de meios expressamente previstos em lei para a cobrança da dívida condominial”.

Penalidades legaisEntre as penalidades legais

que o condômino em atraso pode sofrer, o Código Civil determina a sujeição aos juros moratórios convencionados em assembleias de 1% ao mês e multa de até 2% sobre o débito. “Além da pena pecuniária, o

art. 1335, III, destaca que o condômino inadimplente não pode votar nem ser votado nas deliberações da assem-bleia, podendo participar das reuniões apenas como mero espectador”, destaca o advo-gado. A partir do primeiro dia útil seguinte ao vencimento do boleto, o título já se encontra em atraso.

“Em relação à multa, além da multa pecuniária de 2% constante no boleto da Taxa Condominial, o Código Civil estabelece, no seu art. 1.337, que o condômino reiterada-mente descumpridor de seus deveres perante o condomínio, inclusive o de pagar a Taxa Condominial, poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser compelido ao pagamento de multa correspondente até cinco vezes o valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, independente-mente das perdas e danos que se apurem”, salienta.

Cadastro de restrição

Em alguns estados já é pos-sível realizar o protesto dos boletos vencidos, inclusive no Ceará. Para isso, o advogado sugere consultar o Tabelionado de Protesto de Títulos da cida-de como forma de precaver-se de uma ação por danos morais. Mattos também afirma que a inscrição nos Cadastros de Restrição ao Crédito, como o Serasa, tem sido aceito nos casos de boletos protestados.

PrudênciaTendo conhecimento do que

pode ou não ser suspenso e das penalidades legais, a advogada Carolina Dias aponta alguns cuidados para que o condo-mínio proteja-se de eventuais ações judiciais. Segundo ela, é sempre prudente registrar qualquer tipo de decisão em assembleias. Além disso, ter cuidado ao chamar atenção do inadimplente e seus de-pendentes em público quando estiverem utilizando serviços não essenciais, pois segundo afirma: “a forma de abordagem pode gerar condenação ao pa-gamento de indenização por danos morais eventualmente sofridos pelos mesmos”.

Ela sugere que a solução consensual prevaleça entre as partes, estimulando a concilia-ção e mediação. Somente se es-gotados os meios extrajudiciais de solução de conflitos, deve buscar os juizados especiais, “nos casos em que o débito não supera o valor de quarenta sa-lários mínimos, tendo em vista a celeridade das demandas e a ausência de custas na primeira instância”, salienta.

Moradores não podem ter serviços essenciais suspensos

INADIMPLÊNCIA EM CONDOMÍNIOS

Murilo Mattos afirma que a inscrição nos Cadastros de Restrição ao Crédito, como Serasa, tem sido aceita nos casos, cujo título tenha sido protestado

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