direito & justiça 30/07/2015

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4 Página 5 FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 30 de julho de 2015 [email protected] Pág. 4 JUROS ABUSIVOS DE CARTÃO CABE AÇÃO REVISIONAL

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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: Direito & Justiça 30/07/2015

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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 30 de julho de 2015 [email protected], CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 30 de julho de 2015

[email protected]

Pág. 4

JUROS ABUSIVOS DE CARTÃO CABE AÇÃO REVISIONAL

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de julho de 2015 O ESTADO 2

A era digital transformou a sociedade tanto no seu desenvolvimento como em mudança de comportamento. Tornou a vida do cidadão bem mais fácil e está presente nas diversas áreas, na comunicação, na educação, na medicina, em todo o mercado de trabalho , ten-

do como objetivo principal a qualidade de vida das pessoas. Paralelamen-te aos benefícios vem os malefícios que estas podem causar. Nesta edição abordamos um tema que vem preocupando aos pais e já houveram vários casos em nossa cidade, um jogo de brincadeira que pode levar a morte. Serve também como alerta para os pais que desconhece estes vídeos que estão sendo divulgado na internet, ensinando o jogo da asfixia. Segundo o especialista em direito penal Daniel Maia por ser uma prática nova não é ainda tipificada como crime, matéria na página 05.

De acordo com a decisão da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais, uma empresa não pode transferir custos para a realização

de trabalhos relacionados a atividade empresarial para o trabalhador. O ad-vogado Renato Vilardo esclarece na página 08 que se comprovado que o empregado utiliza seu próprio carro para praticar atividades externas a empresa é obrigada a ressarci-lo. A independência dos procuradores públi-cos é uma pauta que vive em debate. O procurador federal Agapito Machado Pinho denuncia que apesar da advocacia pública ser essencial à justiça ainda não é uma classe independente funcionalmente, administrativamente e nem financeiramente ( página 07).

Com a facilidade de fazer comprar através de cartão de crédito o seu uso é comum nas transações comerciais. Com a crise em que estamos passan-do os brasileiros cada vez mais estão deixando de pagar suas contas e as operadoras de cartão cobram taxas na maioria das vezes abusivas. Informa o advogado Alex Machado que esta prática de juros abusivos e dificuldade para cancelamento do cartão cabe ação revisional , página 4.

Jogos na internet podem levar à morte

EDITORIAL

Prevenção Jurídica: cuide da saúde de sua empresa hoje para não remediar depois

Fatores como pressa em fechar ra-pidamente um ne-gócio, planejamen-to financeiro mal elaborado, decisões nada estratégicas na estruturação do capital humano ou simplesmente negli-gência levam nove, em cada dez peque-nas e médias empre-

sas (PMEs), aos típicos problemas trabalhis-tas, já nos primeiros anos de atividade. E em muitos casos, o passivo relacionado aos impasses judiciais de empregados transfor-ma-se numa enorme barreira na caminhada do empreendedor. Mas ao contrário do que muitos pensam, é possível romper essa lógi-ca com a adoção de caminhos mais susten-táveis e seguros.

Entre os erros clássicos, a contratação de empregados através de pessoas jurídicas, o chamado “regime PJ”, é o primeiro ponto a ser repensado. Isso porque a Justiça do Trabalho certamente reconhecerá a existência de víncu-lo trabalhista do trabalhador que, diariamente frequenta a mesma empresa, possuí horários definidos e emite notas fiscais com numera-ção sequencial e valores semelhantes, para um mesmo contratante. Embora situações como essa façam parte do “jogo”, trata-se de fraude na relação de trabalho, e o empresário deve es-tar plenamente consciente e preparado para as dores de cabeça. Um bom planejamento exige, não somente o cálculo prévio, como também o provisionamento de recursos para uma even-tual ação trabalhista. E a conta é simples. Bas-ta considerar quanto um trabalhador ganha-ria caso fosse registrado sobre os vencimentos que ele recebe atuando como pessoa jurídica. Exemplo: um funcionário que ganha R$ 1 mil reais mensais como PJ, custaria aproximada-

mente R$ 1,8 mil ao empregador caso fosse en-quadrado no regime CLT. Há vários tipos de contratações que não caracterizam vínculo e que, portanto, reduzem os riscos trabalhistas. Um empreendedor atento e zeloso em seu negócio pode oferecer a seus trabalhadores, especialmente nas posições mais estratégi-cas, a possibilidade de uma participação so-cietária no negócio. Para ciclos pontuais de utilização de mão de obra, uma importante alternativa é a contratação por tempo deter-minado ou por tarefa.

E, também, a adoção de mão de obra ter-ceirizada, nas atividades que não sejam o objetivo final da empresa, é uma alternativa que deve ser amplamente considerada para se evitar problemas da natureza em discussão.

Outro fato recorrente no aumento do passivo trabalhista está atrelado ao desco-nhecimento dos direitos do próprio empre-gador na hora de desfazer o vínculo com um empregado.

Você decide fa-zer acontecer uma ideia diferente e promissora. Abre uma empresa, for-mata o plano de negócios, define uma estratégia para vender seu produto a partir da análise detalhada da concorrência, coloca investimen-tos e despesas na planilha, abre o site, entra para um coworking descolado e co-meça a frequentar eventos sobre em-preendedorismo para acelerar o networking. Legal, mas e a parte chata do negócio? Você lembrou dela? Tão importante quanto as defini-ções comerciais, nove em cada dez empreendedores acabam descui-dando de algum importante deta-lhe na formatação

jurídica e em inúmeras burocracias na hora de levantar um projeto. Questões como contrato social, enquadramento tributário e contratos padrão são empurradas para um momento futuro e só ganham importância quando os problemas aparecem. E, cedo ou tarde, eles vão aparecer.

A prevenção jurídica funciona de manei-ra semelhante ao cuidado que se deve ter com a saúde. Pode não fazer muito senti-do na infância, mas, à medida que o tempo passa e a idade vem, a cartilha composta por exames periódicos, exercícios constantes, sono regrado e uma dieta balanceada ganha cada vez mais sentido. No fim do dia, seguir a recomendação pode evitar surpresas desa-gradáveis como a necessidade de “entrar na faca” para desobstruir uma artéria no cora-ção. Ao moldar uma empresa considerando inúmeros entraves burocráticos, como ter um bom contrato social, formalizar seus empregados (ou aprender a terceirizar as áreas não essenciais), adotar um planeja-mento tributário, utilizar contratos feitos especificamente para o seu negócio e cal-cular riscos provisionando recursos, evita--se maus bocados no curto, médio e longo prazo.

Um bom contrato social, por exemplo, deve prever como será feita a governança da empresa, ou seja, quais os direitos e obri-gações dos sócios, como fica com a saída e a entrada de novos sócios, como será feita a distribuição de lucros e outras especifici-dades que devem considerar o interesse dos proprietários e até o nicho de mercado onde a empresa atua.

Saber exatamente quanto custa o seu em-pregado – e não só ter uma ideia de quanto você quer pagar de salário para ele – tam-bém é essencial no momento da contratação. Um dos maiores equívocos das empresas é optar inadvertidamente por funcionários que atuam como prestadores de serviços, os chamados PJs, quando, na verdade, há ou-tros caminhos possíveis de serem seguidos. No entanto, como a prática é comum, cabe à empresa estar preparada financeiramente para uma conta mais amarga no futuro. Da mesma forma, é importante que sempre se tenha uma dimensão do passivo trabalhis-ta, pois a demissão de um funcionário pode sair muito caro para uma empresa que não tenha um caixa robusto.

Já os contratos devem prever as obriga-ções das partes ao colocar sua empresa em rota com fornecedores e clientes. Questões como a forma de pagamento, os prazos de entrega, multas e cláusulas penais de cada parte em caso de quebra das obrigações e como as partes podem sair da relação de-vem estar claramente observadas. Em re-sumo, um bom contrato deve servir como manual de instrução da relação, prever as dificuldades e ter “dentes” para evitar que as partes deixem de cumpri-lo.

Uma das cerejas do bolo da prevenção ju-rídica está no planejamento tributário.

EDITORA Solange Palhano REPÓRTER Anatália Batista EXECUTIVA DE NEGÓCIOS Marta Barbosa DIRETOR DE ARTE Rafael F. Gomes FOTOS Iratuã Freitas e Beth Dreher www.oestadoce.com.br

Problemas trabalhistas: como os empreendedores podem diminuir os riscos

A importância do advogado público na prevenção de ilegalidadesA Advocacia-Ge-

ral da União com-pletou, no ano de 2015, seus 21 anos de existência, a partir da Lei Com-plementar nº 73, de 11 de fevereiro de 1993. A previsão original da AGU como instituição de Estado tem assento no art. 131 da Cons-tituição Federal de 1988, voltada à re-presentação judicial

e extrajudicial da União (ou seja, os três Po-deres: Executivo, Legislativo e Judiciário) e ao assessoramento e consultoria jurídica do Poder Executivo (traduz-se, portanto, no mais elevado órgão de assessoramento da autoridade republicana do Presidente da República). A Advocacia Pública é, hoje, vista como instituição permanente e essen-cial ao Estado, imprescindível ao Estado Democrático de Direito.

A AGU, além das funções de controle, consultoria e assessoramento, como todas as Funções Essenciais à Justiça, tem um com-promisso constitucional com as liberdades individuais, bem como com a defesa in-transigente dos interesses públicos (daí, por exemplo, a possibilidade do ajuizamento de ações civis públicas e ações de improbidade

contra maus gestores). O advogado público tem, por dever constitucional, de observar os interesses da coletividade e não somente do governante ou do Estado.

É por essa razão que a AGU não se vin-cula funcionalmente, mas apenas organi-camente ao Poder Executivo, devendo estar dotada de prerrogativas que lhe garantam certa independência funcional e permitam sua atuação na defesa dos interesses públi-cos primários, salvaguardando a cidadania. Em relação à função de controle da legali-dade, torna-se imperioso o controle do ato administrativo à luz dos princípios da mo-ralidade, proporcionalidade, razoabilidade e eficiência. Assim, a valorização do advoga-do público implica diretamente no fortale-cimento do combate à corrupção e aos des-vios de poder que afligem quotidianamente a sociedade brasileira.

Estabelecidas estas premissas teóricas acerca da criação e da missão institucional da AGU, impositiva se afigura a análise da periclitante situação por que passa a advoca-cia pública em âmbito federal, notadamente pelos episódios de fragilidade funcional de seus membros na realização de acordos em demandas previdenciárias (tendo em vista o habitual controle da parte de órgãos ex-ternos, como o TCU), a prejudicar indire-tamente os clientes do INSS em juízo; as precárias instalações das sedes de algumas unidades espalhadas pelo país; bem como o sôfrego valor da indenização de transporte,

das diárias e a indisfarçável discrepância sa-larial de seus membros em comparação aos membros de igual estatura constitucional, como Juízes Federais e Procuradores da Re-pública (mesmo sendo a AGU uma institui-ção superavitária).

Em face desse cenário político de relati-vo abandono institucional (a reclamar uma intervenção mais proativa de seu dirigente máximo, o Ministro Luís Inácio Lucena Adams, em prol da aprovação das Propos-tas de Emendas Constitucionais nº 82 e 443 – as PECs do Equilíbrio) é que nas últimas semanas foi deflagrado um histórico mo-vimento pela entrega de cargos de direção, chefia e assessoramento, organizado pelas associações de Procuradores Federais, Ad-vogados da União, Procuradores do Banco Central e Procuradores da Fazenda Nacio-nal (todos advogados públicos), em sinal de repúdio ao desprestígio pelo qual vêm se submetendo essa relevante Função Essen-cial (e não, marginal) à Justiça.

Finalizando este breve arrazoado, se é certo que a essência é aquilo sem a qual a coisa deixa de ser, fazer ouvidos de mouco às legítimas reivindicações dos advogados públicos federais em uma época de grave crise moral por que passam os agentes es-tatais, traduz-se em conduta atentatória ao sistema de freios e contrapesos adotado pela Constituição Federal, desequilibrando o protagonismo dos sujeitos processuais em flagrante atentado à democracia.

Mediação e Arbitragem: o que mudou desde o Novo Código de Processo CivilA Conciliação, a

Mediação e a Arbi-tragem – métodos alternativos, não--adversariais, de re-solução de conflitos – estarão em alta em pouco tempo. É que o novo Código de Pro-cesso Civil (NCPC) e a lei 13.129/2015, am-bos já sancionados pela presidente Dil-ma Rousseff, tratam dos temas e os colo-

cam como prioridade naqueles casos em que é possível recorrer a sessões destes três instru-mentos antes de se chegar à Justiça Comum. O NCPC entrará em vigor em março de 2016. Em seu texto legal, há a determinação de rea-lização de sessões de Mediação antes mesmo da apresentação de defesa do réu. Para isso, o NCPC inovou ao trazer uma seção própria destinada à regulamentação da função dos

mediadores e dos Centros de Mediação, inci-tando os Tribunais de todo o país a criar cen-tros judiciários específicos para a solução con-sensual de conflitos, com intuito de reduzir a morosidade judicial enfrentada atualmente pelas partes litigiosas.

A Mediação é indicada para solucionar conflitos de esfera cível. Assim, questões de na-tureza comercial ligadas ao Franchising, como rescisão antecipada ao Contrato de Franquia, pagamento de multas contratuais, indeniza-ções, retirada de marca, entre outros confli-tos, deverão, obrigatoriamente, ser analisadas previamente pela Mediação. De acordo com o texto legal, poderão ser realizadas uma ou mais sessões de Mediação para que as partes se entendam. Em se tratando de franquias, a adoção da Mediação como meio de resolução de conflitos representa um grande avanço ju-rídico porque leva as partes a se entenderem. Com a Mediação, franqueadoras e franquea-dos que entrarem com ações judiciais uns con-tra os outros serão obrigados, por lei, a buscar uma composição pacífica de solução de con-

flitos intermediada por um terceiro imparcial. Por isso, é fundamental para a Franqueadora incluir no seu contrato de franquia a Mediação extrajudicial, prevendo a aplicação do método alternativo como solução do conflito de uma forma mais afável, integrada e saudável para a marca. Também está em alta a Arbitragem. A recém-promulgada lei 13.129/2015 trouxe uma nova luz sobre a questão, regulamentando a escolha dos árbitros, a interrupção da prescri-ção na Justiça Comum durante o procedimen-to arbitral, a concessão de tutelas cautelares e de urgência e a possibilidade de as Sociedades Anônimas incluírem a Cláusula Arbitral em seus estatutos, entre outras disposições.

A nova lei altera o alcance da Arbitragem como meio alternativo de resolução de con-flitos também para questões de interesse da Administração Público, não ficando o méto-do restrito apenas a litígios envolvendo parti-culares. A Arbitragem não é obrigatória, po-rém, para litígios trabalhistas e de consumo, mas se as partes optarem pelo procedimento, podem beneficiar-se dele.

PEDRO CHAFFA

ADVOGADO

MELITHA NOVOA PRADO

ADVOGADA

FÁBIO CAMPELO

PROCURADOR FEDERAL DA AGU

ANA CLAUDIA DE GRANDIADVOGADA

No fim do dia, seguir a recomendação pode evitar surpresas desagradáveis como a necessidade de “entrar na faca” para desobstruir uma artéria no coração.

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O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de julho de 2015 3

De 3 a 7 de agosto, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) irá realizar a II Semana

Nacional da Justiça pela Paz em Casa. O objetivo é priori-zar julgamentos e audiências de processos que envolvem violência contra mulher, es-pecialmente as vítimas de fe-minicídio. Para falar sobre o assunto, o caderno Direito & Justiça entrevistou a desem-bargadora Sérgia Miranda, presidente da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situ-ação de Violência Doméstica e Familiar do TJCE, que além disso, fala das dificuldades em combater esse tipo de crime. Segundo informou a desembargadora, já estão agendadas 506 audiências em todo o Ceará, somente em Fortaleza, são 280.

Na entrevista, Sérgia Mi-randa também comenta sobre a proposta de redução da maioridade penal e os recen-tes casos de intolerância reli-giosa. “Quanto a criminalizar essas condutas não sei se isso resolve o problema porque temos uma tendência muito grande a transformar em crime aquilo que está aconte-cendo no momento”, afirma.

O TJCE está se preparando para a segunda edição da Semana da Justiça pela paz em casa. Qual o objetivo dessa mobilização?

O objetivo é que, em todo o Brasil, os processos de violên-cia doméstica sejam julgados o mais rapidamente possível, tendo em vista uma pesquisa feita pela ministra e vice-pre-sidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia onde constatou um elevado número de processos de vio-lência doméstica que envol-vem a Lei Maria da Penha. É uma preocupação, hoje, muito grande, no sentido de que es-ses processos sejam julgados o mais rápido possível, afim de que essas famílias possam ter resposta daquela situação ou problema vivido que gerou aquele processo.

A violência doméstica está no topo dos inquéritos policiais, qual a maior dificuldade em se combater?

A maior dificuldade é por-que ocorre no âmbito da resi-dência, e via de regra, a reinci-dência acontece mais com os companheiros, os pais, avós, e é muito difícil denunciar quem você ama. Existe toda uma questão de sentimento e de afetividade, logo, de difícil solução. Quando essa solução, melhor dizer socorro, chega ao juízo é porque a mulher já fez tudo e está no limite dela. Muitas vezes já tem apanhado muito, tem sido humilhada, é uma situação muito delicada que exige do Poder Judiciário um olhar diferente, não so-mente o olhar punitivo, mas ver de forma integral a mulher como mulher, como pessoa, sua dignidade. É uma violên-cia muito silenciosa e exige um tratamento mais delicado.

Além da punição aos causadores, há algum tratamento para que não voltem a reincidir?

Existe em Fortaleza, o jui-zado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, coordenado pela juíza Rosa Mendonça, que faz um tra-balho muito bom em relação aos homens causadores da violência doméstica. Lá, existe uma equipe multidisciplinar

com vários profissionais que se reúnem com os homens e mulheres fazendo todo acom-panhamento.

É importante o cuidado em tratar dessa parte?

É importante tratar a ques-tão da reincidência, porque um homem que pratica con-tra uma mulher pratica com

outras. Ele entra no que cha-mado ciclo da violência. Se hoje está com você que já não aguenta mais apanhar, amanhã ele vai estar com outra que vai sofrer a mesma violência. Ainda existe um conceito de machismo muito grande instalado nos homens brasileiros. Aquela coisa do dominador, tanto é que tem

homens que vão ser interro-gados e dizem “ela é minha e posso bater”. É uma questão cultural também, por isso achamos importante se falar sobre isso para ir entrando na nossa cultura, porque temos a cultura de que a mulher nasceu para ser dominada pelo homem, e ela aceita isso. Quando ela se revela contra

é que compreendemos que o ciclo da violência está sendo quebrado.

Quantas audiências serão realizadas nesta segunda etapa?

Temos 280 audiências agendadas em Fortaleza; em Maracanaú, 73; Senador Pom-peu, 36; Sobral, 23; Horizonte, 17; Juazeiro do Norte, 50; Jaguaribe, 15; Piquet Car-neiro, 11; e Palmirim, 1. No total, teremos 506 audiências marcadas.

Com a aprovação da Lei do feminicídio, a expectativa era de diminuir a tolerância a crimes de gênero. Já dá pra avaliar como está sendo a aplicação dessa lei? Tem mostrado resultado?

Não dá porque é uma Lei nova, não tem nem seis meses de existência. Na verdade, chegou a alcançar alguns processos em andamentos e os que estão ocorrendo agora. O feminicídio é a violência praticada contra a vida da mulher ou de pessoas LGBT que tenham sofrido em de-corrência de gênero. Se a mulher está na rua e sofre um assalto, é vítima de violência mesmo, mas não por conta do gênero. Espera-se que esse novo artigo do Código Penal venha diminuir a incidência de pessoas mortas em decor-rência de gênero.

Falando em tolerância, um assunto que temos acompanhado no noticiário e redes sociais, é a intolerância religiosa, onde muitos pedem que seja crime também. Qual sua opinião?

Lamento muito o que está acontecendo no País. Vi o caso da menina que foi ape-drejada no Rio de Janeiro porque vestia roupas do Can-domblé, e isso foi muito la-mentável. O Brasil é um País laico, onde todos nós temos liberdade de culto e devemos respeitar o culto dos outros, não interessa qual é a sua religião. Agora, quanto a cri-minalizar essas condutas não sei se isso resolve o problema porque temos uma tendência muito grande a transformar em crime aquilo que está acontecendo no momento. Acho que devemos amadure-cer mais, e ver essa questão de forma mais consciente sem os arroubos dos fatos.

Isso é um fato que tem acontecidofrequentemente?

A primeira noticia que tive foi há muitos anos atrás, quando a imagem de Nos-sa Senhora Aparecida foi chutada. A partir daquele momento, o culto das ima-gens da igreja católica, que é secular, tem sido levado a uma situação de desrespeito, do mesmo jeito que foi des-respeito ao Candomblé, que é uma religião brasileira, de origem dos ritos africanos. Temos que respeitar.

Outro assunto que vem dividindo opi-niões e causando bastante polêmica é a proposta de redução da maioridade penal. A senhora, como operadora do direito, o que acha? É momento de pensar nisso?

Tenho pensado muito nis-so, mas ainda não cheguei a uma conclusão minha. Vejo os reclames da sociedade e os meus também, todos somos vítimas, mas vejo o abando-no em que vive o menor que comete esse tipo de crime. Grande parte deles é aquele que vive na rua, nunca teve o carinho e afago dos pais, que não teve alguém para lhe pas-

sar os limites. Acho que isso está no âmago da violência na família. Exatamente voltando ao que falamos sobre violência doméstica, o exemplo vem de casa. Quando a gente fala em violência doméstica e contra a mulher, é contra todos. Quando uma mulher sofre violência, os filhos também sofrem. Muitos jovens que saem de casa é porque apa-nhavam muito dos pais.

No meio dessa discussão da redução da maioridade, há pessoas que cobram por mais educação e menos presídios. Sai caro investir em educação?

Sai caro e muitas vezes é incômodo para determinadas pessoas que o país seja um país de cultura. Quanto mais você se informar, mais tem condições de fazer escolhas. É cômodo para algumas pes-soas que a gente tenha jovens e crianças na ignorância.

Mas tem a questão da sensação de impunidade que a sociedade reclama?

Isso, mas também entra outra questão, se a cadeia corrige ou piora. Muitos pe-nalistas advogam até sentir que a cadeia é para crimes graves e gravíssimos, que é o trafico, homicídio, o estupro. Mas o que está na base disso, são os menos graves. É uma onda que cresce. Hoje passa em loja e retira um objeto, amanhã assalta um funcio-nário, depois um banco e isso vai crescendo. Tenho ouvido alguns pronunciamentos do senador Cristóvão Buarque, que é uma pessoa que luta muito pela melhora da edu-cação, e concordo com ele que a melhora está na educa-ção. Nos países europeus, as crianças passam o dia quase todo nas escolas, quase não precisam de babá e ensina-se de tudo. Há ainda, no Brasil, o jogo de responsabilidades entre escola e pais. A família diz que quem deve dar edu-cação é a escola, e a escola diz que a obrigação é da família. E ninguém assume. É preciso que se tenha paz nas casas, ninguém consegue crescer psicologicamente em um ambiente de brigas e disputas.

SERGIA MIRANDA

Um homem que pratica crimes contra uma mulher fará com outras, entra no ciclo de violência

FOTO TJCE/DIVULGACÃO

Sergia Miranda “É preciso que se tenha paz nas casas. Ninguém consegue crescer psicologicamente em um ambiente de brigas e disputas”. [D&J]: Recentemente

a justiça cearense foi alvo de investi-gação após denúncia de venda de habeas corpus nos plantões do TJ. Esse episódio pode ter abalado a Justiça do Ceará? [SM]: Nosso Tribunal é um Tribunal sólido. Pro-blemas de qualquer natu-reza acontecem em todas as profissões, e aqui todas as providências foram tomadas. Tivemos um presidente [Gerardo Brí-gido] que teve a coragem de levantar essa questão, a presidência atual tem dado toda atenção e as-sistência a essa ação, de forma que para você se fortalecer, às vezes pre-cisa se fragilizar. O que esperamos é que isso nos fortaleça, dê mais ânimo ao nosso trabalho para que a gente possa cada vez servir melhor à sociedade.

Venda de Habeas corpus

O objetivo é que, em todo o Brasil, os processos de violência doméstica sejam julgados o mais rapidamente possível, tendo em vista um elevado número de processos.

Quando uma mulher sofre violência, os filhos também sofrem. Muitos jovens que hoje saem de casa é porque apanhavam muito dos pais, ao invés de receber carinho.

Sai caro e muitas vezes é incômodo para determinadas pessoas que o País seja um país de cultura. Quanto mais você se informar, mais tem condições de fazer escolhas.

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Basta digitar “brinca-deira do desmaio” no espaço de buscas do YouTube que apare-

cerá aproximadamente 10.000 compartilhamentos de vídeos ensinando técnicas para se praticar o desmaio. A maioria é produzida por crianças e adolescentes que mostram suas experiências ao realizarem a atividade e até dão algumas dicas de como fazer. Porém, a suposta brincadeira repre-senta risco fatal à vida desses jovens, e pais precisam estar em alerta. Segundo advogado Daniel Maia, especialista em direito penal, no Brasil, não existe legislação para proibir a

disseminação dos vídeos.Também conhecidos como

jogo da asfixia e do estrangu-lamento, a brincadeira é difun-dida pelos participantes como sendo algo inofensivo. Apesar do aviso de alguns para não tentar fazer o mesmo em casa, grande parte dos vídeos tem como cenário as escolas. Ano passado, a prática conquistou muitos adeptos e levantou alerta entre os profissionais da saúde, educadores e psicólogos devido a casos que resultou em mortes. De acordo com a psicóloga Fa-biana Vasconcelos, do Instituto DimiCuida, é preciso, primeiro, anular a ideia de que isso trata--se de uma brincadeira, pois

não é. “São atividades de alto risco”, afirma. Segundo a psi-cóloga, as sequelas podem ser de longo prazo e sem retorno.

“Existem casos identifica-dos fora do país de crianças e adolescentes em estado vege-tativo e que passaram muito tempo em coma”, disse.

Conforme Fabiana, as se-quelas podem surgir tanto da anoxia (ausência de oxigênio no cérebro), o que pode pro-vocar ataque cardíaco devido à falta de oxigenação, como da queda física, a criança pode ba-ter a cabeça ao cair. Em ambos os casos o risco pode ser fatal.

Segundo o especialista em direito penal, devido à prática não se tratar de um ato ilícito, que tem por objetivo o intuito de causar o dano, não é tipifi-cada como crime. “Isso é uma prática nova, não deu tempo legislar sobre o assunto ainda. A legislação penal não prevê nenhum tipo de crime para isso, entretanto, como está gerando resultados negativos, poderiam se pensar em filtros já que não há tipificação penal”, esclareceu Daniel Maia.

Ainda de acordo com o ad-vogado, a prática até poderia ser regulada pelo direito civil com proibições e vedações dos conteúdos. “É muito grave proibir uma pessoa que expresse uma brincadeira, um pensamento, isso é gra-ve. É inconstitucional. Só se naquele pensamento estiver explícito o intuito de causar o dano”, disse.

Escolas não previnemPara advertir a sociedade

sobre o tema será realizado em Fortaleza, nos dias 25 e 26 de agosto, no Seara Praia Hotel, o 1º Colóquio Internacional sobre Brincadeiras Perigosas: práticas, riscos e prevenções no mundo. O evento está sen-do organizado pelo Instituto DimiCuida, com apoio do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) e Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe).

De acordo com a psicóloga Fabiana Vasconcelos, mesmo a capital cearense tento noti-ficado casos da brincadeira, que não foram divulgados em respeito à família, não existe dentro de nenhuma escola particular ou pública qualquer tipo de trabalho de prevenção.

E esse é um dos propósitos do encontro, que ao final, pos-sa ser pensado em um modelo para prevenir e orientar sobre os perigos da prática. “Junto com representantes de outros países, vamos pensar em como as crianças e adolescentes funcionam no Brasil, porque não adianta importar um modelo da França ou dos EUA e aplicar aqui. Temos que a analisar, também, de que for-ma a internet influencia nesse comportamento”, ressaltou.

A psicóloga frisou que o Colóquio não será focado em como o jogo é pratica-do, mas em demonstrar o funcionamento do corpo humano para que os pais e as crianças compreendam a importância da respiração e saibam o que ocasiona quan-do essa atividade é praticada em longo prazo.

Ter de fazer reclamação, pelo telefone, de algum produto ou serviço já é uma dor de cabeça ao

consumidor. A ligação pode ser breve ou demorar alguns minutos, mas em todas, é obrigatório que o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) forneça uma sequên-cia de números, o protocolo. Parece chato ter que anotar, mas tê-los em mãos é funda-mental se a reclamação não for resolvida e tiver de passar às agências regulamentadoras. É o que orienta o advogado, especialista em direito do consumidor, Expedito Dantas.

“A empresa é obrigada a dar o protocolo. A ligação tem que ser breve, e o atendimento não pode ser interrompido. Se a empresa não fornecer logo de imediato, está incorrendo uma irregularidade. O consu-midor deve, então, pedir e por conta disso deve ser acionado órgão de defesa do consumi-dor”, afirma Expedito.

Além da obrigação de pas-sar o protocolo, as empresas têm que resolver a demanda em até cinco dias úteis. Quan-do reguladas pelo poder públi-co federal, no caso da Anatel, ANS ou Banco do Brasil, por exemplo, devem obedecer às regras do Decreto 6523/2008 que regulamenta o SAC.

Importância do ProtocoloA sequência numérica é

o que permite o reclamante a ter acesso a todas as suas demandas perante a empresa,

como também é o meio que possibilita solicitar a gravação da conversa. Conforme capí-tulo IV do decreto, “o registro eletrônico do atendimento será mantido à disposição do consumidor e do órgão ou entidade fiscalizadora por um período mínimo de dois anos após a solução da deman-da”. Quando solicitado o his-tórico, o prazo máximo é de 72 horas para envio, conforme escolha do consumidor, por e-mail ou correspondência.

Apesar de óbvio, há consu-midores desatentos que esque-cem ou não preocupam-se em anotar o protocolo, mas estão perdendo uma forma de com-provar que buscou solução. Portanto, é sempre importante

ter em mente da necessidade em anotar os números, junto à data e horário de atendimento, e guardar. “Anotar o número de protocolo, vai servir para uma eventual prova futura para ele, se for caso de ter de buscar seus direitos nas agências regulamentadoras ou no judiciário”, recomenda o advogado.

Lei do SACDe acordo com o decreto

que regulamenta o SAC, as ligações e atendimentos para solucionar demandas não po-dem ocasionar nenhum ônus ao consumidor, e devem estar disponível durante 24 horas. O atendimento prévio não pode ser condicionado a pedi-

dos de dados do consumidor. No capítulo III do decreto

há um ponto importante, que poucos têm conhecimento: “nos casos de reclamação e cancelamento de serviço, não será admitida a transferência da ligação, devendo todos os atendentes possuir atribuições para executar essas funções”.

Os dados do consumidor devem ser preservados, exclu-sivamente, para fins de atendi-mento e é vedado que ele tenha de repetir sua demanda ainda no primeiro atendimento, com o objetivo de cumprir a agilidade. Segundo explícito no Art. 17, “as informações solicitadas pelo consumidor serão prestadas imediatamen-te e suas reclamações, resolvi-das no prazo máximo de cinco dias úteis a contar do registro”. 

Onde reclamarSempre que o cliente preci-

sar reclamar do atendimento ou não ter seu problema re-solvido, o conselho do espe-cialista é acionar as agências regulamentadoras ou os ór-gãos de defesa do consumidor (Decon ou Procon), também pode solicitar ajuda orienta-ções com advogados, e se não resolvido levar o imbróglio ao Poder Judiciário, através dos juizados especiais. “O consu-midor nunca pode deixar de buscar seus direitos e a gente tem visto um comportamento da sociedade mais consciente e informada sobre seus direitos” aponta Expedito Dantas.

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de julho de 2015 5

CAACE - Rua D. Sebastião Leme, 1033 Bairro de Fátima (85) 3272.3412 www.caace.org.br. Notícias para coluna [email protected]

I Almoço da Saúde aos advogados

CAACE disponibiliza serviço de RPG

Encontro com a advocacia de Quixadá

A CAACE e a Qualicorp realizaram o I Almoço da Saúde, no dia 11 de julho, para os advogados e advoga-das interessados em entender sobre a parceria e os benefí-cios oferecidos no segmento de planos de saúde.

Para a gerente de rela-cionamento da Qualicorp, Elaine Beserra, esse en-contro proporciona uma maior proximidade com os advogados. “Consegui-mos, assim, tirar todas as dúvidas sobre os planos de saúde e entender um pouco mais sobre as dificuldades encontradas pelos advoga-dos no Ceará”, salientou.

Nesse mesmo pensamen-to, Júlio Ponte, presidente

da CAACE, destacou que muitos advogados associa-dos não sabem da parceria com a Qualicorp. “Vamos continuar fazendo mais pela advocacia, indo ao encontro de quem ainda não conhece os benefícios disponibilizados”, disse.

Miguel Ribeiro (OAB 21289) já é associado da CAACE, mas também não conhecia alguns benefícios proporcionados. “Neste evento, tive a oportuni-dade de esclarecer alguns questionamentos sobre os valores dos planos de saúde. Além disso, conversei com demais colegas sobre os serviços de qualidade da Caixa”, destacou.

O serviço de Reeduca-ção Postural Global (RPG) voltou a ser disponibilizado pela CAACE, proporcionan-do, com isso, um trabalho de equilíbrio e alongamento das cadeias musculares dos advogados associados e seus dependentes.

Para a advogada Tusse-ana Martins (OAB 18713), desde a primeira sessão sua postura melhorou consi-deravelmente. “Meu corpo

já sente a diferença com a frequência das sessões. Realmente, este foi o me-lhor serviço que a CAACE poderia ter disponibilizado aos associados”.

Os atendimentos são realizados na Casa do Advogado, individualmen-te, e duram cerca de uma hora. Podem ser feitos para prevenção e não apenas quando os problemas já estão instalados.

No dia 16 de julho, os advogados e advogadas da subseção de Quixadá participaram de um en-contro com o presidente da CAACE para mais esclare-cimentos sobre o programa da Anuidade Zero – inédito

no país – que permite o pagamento total ou parcial da anuidade da OAB; a parceria com a Qualicorp; e sobre os serviços e convê-nios disponibilizados aos associados e dependentes da Caixa.

Vídeos na internet induzem prática de brincadeiras que levam à morte

Reclamacão de serviços devemser resolvida em até cinco dias

ALERTA AOS PAIS

EMPRESAS REGULADAS POR AGÊNCIAS

Daniel Maia afirma que, apesar de nocivo, o compartilhamento da brincadeira no Brasil não é tipificado como crime nem configura ato ilícito

Expedito Dantas explica que ter o número em mãos é fundamental se for preciso levar a reclamação aos órgãos regulamentadores

FOTO BETH DREHER

FOTO BETH DREHER

Page 5: Direito & Justiça 30/07/2015

Basta digitar “brinca-deira do desmaio” no espaço de buscas do YouTube que apare-

cerá aproximadamente 10.000 compartilhamentos de vídeos ensinando técnicas para se praticar o desmaio. A maioria é produzida por crianças e adolescentes que mostram suas experiências ao realizarem a atividade e até dão algumas dicas de como fazer. Porém, a suposta brincadeira repre-senta risco fatal à vida desses jovens, e pais precisam estar em alerta. Segundo advogado Daniel Maia, especialista em direito penal, no Brasil, não existe legislação para proibir a

disseminação dos vídeos.Também conhecidos como

jogo da asfixia e do estrangu-lamento, a brincadeira é difun-dida pelos participantes como sendo algo inofensivo. Apesar do aviso de alguns para não tentar fazer o mesmo em casa, grande parte dos vídeos tem como cenário as escolas. Ano passado, a prática conquistou muitos adeptos e levantou alerta entre os profissionais da saúde, educadores e psicólogos devido a casos que resultou em mortes. De acordo com a psicóloga Fa-biana Vasconcelos, do Instituto DimiCuida, é preciso, primeiro, anular a ideia de que isso trata--se de uma brincadeira, pois

não é. “São atividades de alto risco”, afirma. Segundo a psi-cóloga, as sequelas podem ser de longo prazo e sem retorno.

“Existem casos identifica-dos fora do país de crianças e adolescentes em estado vege-tativo e que passaram muito tempo em coma”, disse.

Conforme Fabiana, as se-quelas podem surgir tanto da anoxia (ausência de oxigênio no cérebro), o que pode pro-vocar ataque cardíaco devido à falta de oxigenação, como da queda física, a criança pode ba-ter a cabeça ao cair. Em ambos os casos o risco pode ser fatal.

Segundo o especialista em direito penal, devido à prática não se tratar de um ato ilícito, que tem por objetivo o intuito de causar o dano, não é tipifi-cada como crime. “Isso é uma prática nova, não deu tempo legislar sobre o assunto ainda. A legislação penal não prevê nenhum tipo de crime para isso, entretanto, como está gerando resultados negativos, poderiam se pensar em filtros já que não há tipificação penal”, esclareceu Daniel Maia.

Ainda de acordo com o ad-vogado, a prática até poderia ser regulada pelo direito civil com proibições e vedações dos conteúdos. “É muito grave proibir uma pessoa que expresse uma brincadeira, um pensamento, isso é gra-ve. É inconstitucional. Só se naquele pensamento estiver explícito o intuito de causar o dano”, disse.

Escolas não previnemPara advertir a sociedade

sobre o tema será realizado em Fortaleza, nos dias 25 e 26 de agosto, no Seara Praia Hotel, o 1º Colóquio Internacional sobre Brincadeiras Perigosas: práticas, riscos e prevenções no mundo. O evento está sen-do organizado pelo Instituto DimiCuida, com apoio do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec) e Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe).

De acordo com a psicóloga Fabiana Vasconcelos, mesmo a capital cearense tento noti-ficado casos da brincadeira, que não foram divulgados em respeito à família, não existe dentro de nenhuma escola particular ou pública qualquer tipo de trabalho de prevenção.

E esse é um dos propósitos do encontro, que ao final, pos-sa ser pensado em um modelo para prevenir e orientar sobre os perigos da prática. “Junto com representantes de outros países, vamos pensar em como as crianças e adolescentes funcionam no Brasil, porque não adianta importar um modelo da França ou dos EUA e aplicar aqui. Temos que a analisar, também, de que for-ma a internet influencia nesse comportamento”, ressaltou.

A psicóloga frisou que o Colóquio não será focado em como o jogo é pratica-do, mas em demonstrar o funcionamento do corpo humano para que os pais e as crianças compreendam a importância da respiração e saibam o que ocasiona quan-do essa atividade é praticada em longo prazo.

Ter de fazer reclamação, pelo telefone, de algum produto ou serviço já é uma dor de cabeça ao

consumidor. A ligação pode ser breve ou demorar alguns minutos, mas em todas, é obrigatório que o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) forneça uma sequên-cia de números, o protocolo. Parece chato ter que anotar, mas tê-los em mãos é funda-mental se a reclamação não for resolvida e tiver de passar às agências regulamentadoras. É o que orienta o advogado, especialista em direito do consumidor, Expedito Dantas.

“A empresa é obrigada a dar o protocolo. A ligação tem que ser breve, e o atendimento não pode ser interrompido. Se a empresa não fornecer logo de imediato, está incorrendo uma irregularidade. O consu-midor deve, então, pedir e por conta disso deve ser acionado órgão de defesa do consumi-dor”, afirma Expedito.

Além da obrigação de pas-sar o protocolo, as empresas têm que resolver a demanda em até cinco dias úteis. Quan-do reguladas pelo poder públi-co federal, no caso da Anatel, ANS ou Banco do Brasil, por exemplo, devem obedecer às regras do Decreto 6523/2008 que regulamenta o SAC.

Importância do ProtocoloA sequência numérica é

o que permite o reclamante a ter acesso a todas as suas demandas perante a empresa,

como também é o meio que possibilita solicitar a gravação da conversa. Conforme capí-tulo IV do decreto, “o registro eletrônico do atendimento será mantido à disposição do consumidor e do órgão ou entidade fiscalizadora por um período mínimo de dois anos após a solução da deman-da”. Quando solicitado o his-tórico, o prazo máximo é de 72 horas para envio, conforme escolha do consumidor, por e-mail ou correspondência.

Apesar de óbvio, há consu-midores desatentos que esque-cem ou não preocupam-se em anotar o protocolo, mas estão perdendo uma forma de com-provar que buscou solução. Portanto, é sempre importante

ter em mente da necessidade em anotar os números, junto à data e horário de atendimento, e guardar. “Anotar o número de protocolo, vai servir para uma eventual prova futura para ele, se for caso de ter de buscar seus direitos nas agências regulamentadoras ou no judiciário”, recomenda o advogado.

Lei do SACDe acordo com o decreto

que regulamenta o SAC, as ligações e atendimentos para solucionar demandas não po-dem ocasionar nenhum ônus ao consumidor, e devem estar disponível durante 24 horas. O atendimento prévio não pode ser condicionado a pedi-

dos de dados do consumidor. No capítulo III do decreto

há um ponto importante, que poucos têm conhecimento: “nos casos de reclamação e cancelamento de serviço, não será admitida a transferência da ligação, devendo todos os atendentes possuir atribuições para executar essas funções”.

Os dados do consumidor devem ser preservados, exclu-sivamente, para fins de atendi-mento e é vedado que ele tenha de repetir sua demanda ainda no primeiro atendimento, com o objetivo de cumprir a agilidade. Segundo explícito no Art. 17, “as informações solicitadas pelo consumidor serão prestadas imediatamen-te e suas reclamações, resolvi-das no prazo máximo de cinco dias úteis a contar do registro”. 

Onde reclamarSempre que o cliente preci-

sar reclamar do atendimento ou não ter seu problema re-solvido, o conselho do espe-cialista é acionar as agências regulamentadoras ou os ór-gãos de defesa do consumidor (Decon ou Procon), também pode solicitar ajuda orienta-ções com advogados, e se não resolvido levar o imbróglio ao Poder Judiciário, através dos juizados especiais. “O consu-midor nunca pode deixar de buscar seus direitos e a gente tem visto um comportamento da sociedade mais consciente e informada sobre seus direitos” aponta Expedito Dantas.

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de julho de 2015 5

CAACE - Rua D. Sebastião Leme, 1033 Bairro de Fátima (85) 3272.3412 www.caace.org.br. Notícias para coluna [email protected]

I Almoço da Saúde aos advogados

CAACE disponibiliza serviço de RPG

Encontro com a advocacia de Quixadá

A CAACE e a Qualicorp realizaram o I Almoço da Saúde, no dia 11 de julho, para os advogados e advoga-das interessados em entender sobre a parceria e os benefí-cios oferecidos no segmento de planos de saúde.

Para a gerente de rela-cionamento da Qualicorp, Elaine Beserra, esse en-contro proporciona uma maior proximidade com os advogados. “Consegui-mos, assim, tirar todas as dúvidas sobre os planos de saúde e entender um pouco mais sobre as dificuldades encontradas pelos advoga-dos no Ceará”, salientou.

Nesse mesmo pensamen-to, Júlio Ponte, presidente

da CAACE, destacou que muitos advogados associa-dos não sabem da parceria com a Qualicorp. “Vamos continuar fazendo mais pela advocacia, indo ao encontro de quem ainda não conhece os benefícios disponibilizados”, disse.

Miguel Ribeiro (OAB 21289) já é associado da CAACE, mas também não conhecia alguns benefícios proporcionados. “Neste evento, tive a oportuni-dade de esclarecer alguns questionamentos sobre os valores dos planos de saúde. Além disso, conversei com demais colegas sobre os serviços de qualidade da Caixa”, destacou.

O serviço de Reeduca-ção Postural Global (RPG) voltou a ser disponibilizado pela CAACE, proporcionan-do, com isso, um trabalho de equilíbrio e alongamento das cadeias musculares dos advogados associados e seus dependentes.

Para a advogada Tusse-ana Martins (OAB 18713), desde a primeira sessão sua postura melhorou consi-deravelmente. “Meu corpo

já sente a diferença com a frequência das sessões. Realmente, este foi o me-lhor serviço que a CAACE poderia ter disponibilizado aos associados”.

Os atendimentos são realizados na Casa do Advogado, individualmen-te, e duram cerca de uma hora. Podem ser feitos para prevenção e não apenas quando os problemas já estão instalados.

No dia 16 de julho, os advogados e advogadas da subseção de Quixadá participaram de um en-contro com o presidente da CAACE para mais esclare-cimentos sobre o programa da Anuidade Zero – inédito

no país – que permite o pagamento total ou parcial da anuidade da OAB; a parceria com a Qualicorp; e sobre os serviços e convê-nios disponibilizados aos associados e dependentes da Caixa.

Vídeos na internet induzem prática de brincadeiras que levam à morte

Reclamacão de serviços devemser resolvida em até cinco dias

ALERTA AOS PAIS

EMPRESAS REGULADAS POR AGÊNCIAS

Daniel Maia afirma que, apesar de nocivo, o compartilhamento da brincadeira no Brasil não é tipificado como crime nem configura ato ilícito

Expedito Dantas explica que ter o número em mãos é fundamental se for preciso levar a reclamação aos órgãos regulamentadores

FOTO BETH DREHER

FOTO BETH DREHER

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de julho de 2015 O ESTADO 6

DIREITO E LITERATURA

Direito do Consumidor à Segurança Alimentar e Responsabilidade Civil

Marcelo Mota, Jardson Cruz, Pedro Jorge Medeiros e Valdetá rio Monteiro

Ana Karine e Valdetá rio Monteiro

Andrei Aguiar e Roberto Smith

Odorico Monteiro e Ricardo Bacelar

Socorro Franç a fala homenageando o aniversariante

Rossana Kopf e amigas

Thea Moreira e Marcelo Mota Manoela e Ricardo Bacelar

Irmã Conceiç ã oArmando Junior

Valdetá rio com sua mã e Maria Inê s

Cesar Bertozzi Marcus Lage Max Camara Moaceny Fé lix

Valdetá rio e familia

A questão dos transgênicos, dos agrotóxicos, bem como das diversas substâncias utilizadas nos alimentos industrializados expõem a sociedade

a uma série de problemas de saúde, sem que esta perceba. Portanto, o livro ocupa-se com a necessidade de se efetivar o direito à informação dos consumidores para que, tendo acesso de forma mais adequada e clara, como direito básico, possam se emancipar e � scalizar a qualidade dos alimentos que consomem.

AUTOR: Caroline VazEDITORA: Livraria do AdvogadoPÁGINAS: 256PREÇO: R$ 70,00

Governança Ambiental Global e Direito

O livro dedica-se a investigar de que modo a governança ambiental global tem se desenvolvido no mundo globalizado e como se

articula o in� uxo recíproco entre esta e o direito internacional ambiental. A obra dá especial relevo à crescente participação de atores não estatais, buscando compreender seu papel e a quebra de paradigma consistente na adoção de formas contratuais, voluntárias, para a consecução dos objetivos da proteção internacional ao meio ambiente.

AUTOR: Alessandra LehmenEDITORA: JuruáPÁGINAS: 270PREÇO: R$ 79,90

DIVULGAÇÃO

DIV

ULG

ÃO

FOTOS IRATUÃ FREITAS

Aniversário ValdetárioO presidente da OAB-CE Valdetário Monteiro, trocou de idade e ganhou sessão de parabéns durante almoço que aconteceu no Parque Recreio.

Page 7: Direito & Justiça 30/07/2015

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de julho de 2015 7

CARREIRA DESCONHECIDA

Advocacia pública não é uma classe independente

FOTO DIVULGAÇÃO

O poder judiciário ce-arense liderou, no Nordeste, os julga-mentos em ações de

improbidade administrativa e de combate à corrupção, referentes à Meta 4, do ano de 2014. Segundo relatório divul-gado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 77,69% das ações foram de improbidade e 59,70%, de corrupção.

Instituída pelo CNJ, a Meta 4 teve por finalidade iden-tificar e julgar as ações de improbidade administrativa e penais relacionadas a cri-mes contra a Administração Pública que ocorreram até 31 de dezembro de 2012. Um Grupo de Auxílio foi desig-nado para dar celeridade ao cumprimento da meta.

Para o advogado especia-lista em Direito Criminal, Leandro Vasques, o resultado mostra que houve uma proa-tividade bastante produtiva e sintonizada entre o Ministé-rio Público do Ceará (MPCE) e o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE). “Os processos foram concluídos, não ficaram se arrastando e, portanto, a resposta que o judiciário deu revela um compromisso, que certamen-te existiu, nessa demanda, das ações de improbidade”,

destaca. O advogado pontua, contudo, que apesar de um resultado positivo, é também preocupante. Vasques aponta que, à medida que se assiste o judiciário dando respostas às ações do Ministério Público nesse segmento, constata-se, ao mesmo tempo, um cenário em que o Estado se destaca em desmandos na gestão públi-ca. Ele ressalta, ainda, que o desejo dos cidadãos é de uma organização mais ampla, com um número de servidores e auxiliares adequados, para atender com o mesmo esforço outras demandas, como ações penais em geral e de inde-

nização contra Munícipio e Estado, por exemplo.

ImprobidadeA i mprobidade ad mi-

nistrativa é utilizado para conceituar corrupção ad-ministrativa. Refere-se às práticas contrárias à boa-fé e honestidade dentro da admi-nistração pública. Conforme lembra Leandro Vasques, tal conduta é de natureza cível, ou seja, não implica que al-guém será sentenciado com a pena de reclusão.

As repercussões podem ser a suspenção do cargo; a perda de poderes políticos;

impedimento de contratação com serviço público, no caso de empresários; e, principal-mente, a obrigação de ressar-cimento aos cofres públicos de verbas desviadas.

“Paralelo a ação de improbi-dade administrativa, existe a ação penal que pode repercutir na limitação da liberdade e dar prisão. Existe uma série de crimes que podem ser in-vestigados a partir da ação de improbidade, por exemplo: lavagem de dinheiro, for-mação de quadrilha, crimes licitatórios, corrupção ativa e passiva”, explica o especialista.

Entenda a Meta 4Anualmente, o CNJ esta-

belece diretrizes estratégicas direcionadas a garantir um serviço judiciário efetivo, célere e seguro. Trata-se de metas nacionais e específi-cas que são aprovadas em encontro nacional do judi-ciário. A Meta 4 é referente a priorização de julgamento dos processos que envolvem corrupção e improbidade administrativa na justiça es-tadual. Para este ano, a meta estabelecida é o julgamento de pelo menos 70% de ações de crimes contra a adminis-tração pública distribuídos até 31 de dezembro de 2012.

Ceará se destaca em desmandos em Gestão Pública

LIDERANÇA NO NE

FOTO BETH DREHER

Leandro Vasques “A resposta que o judiciário deu revela um compromisso, que certamente existiu, nessa demanda”

Agapito Machado Pinto: “O povo, de uma forma geral, tem uma visão distorcida do papel do advogado público, confundindo-o com o advogado do governante

Não tem remuneração

equiparada a outras funções da Justiça e possui uma estrutura física, sucateada, não dispõe de material maquinário, diárias, e os servidores são insuficientes.

O advogado público não tem

independência na sua atuação profissional, sujeitando-se à orientação superior que pode ser atrelada ao governo através da via hieráquica do advogado geral da União.

O advogado públ ico é uma peça funda-mental, porém pou-co conhecida e sem

independência. É assim que descreve o procurador federal Agapito Machado Pinho so-bre quem segue essa carreira jurídica. “O povo, de uma for-ma geral, tem uma visão dis-torcida do papel do advogado público, confundindo-o com o advogado do governante de plantão, visão esta comparti-lhada por alguns membros do próprio Governo”, completa.

De acordo com o procu-rador, apesar de essencial à justiça, a advocacia pública ainda não é uma classe in-dependente, nem funcional ,nem mesmo orçamentária e administrativa. “O advo-gado público não tem inde-pendência na sua atuação profissional, sujeitando-se à orientação superior que pode ser atrelada ao governo através da via hierárquica do advogado geral da União, que é, por sua vez, subordinado ao chefe do executivo. Daí a confusão entre advocacia de Governo (interesse provisório do governante) e advocacia de Estado (interesse permanente

da coletividade)”, explica. Por não ser independente

financeiramente, a AGU não pode apresentar proposta orçamentária diretamente ao Congresso Nacional, sendo iniciativa do chefe do Executi-vo indicar o valor que a classe deve receber no próximo exercício financeiro.

DependênciaSegundo ele, além da de-

pendência orçamentária e administrativa, a advocacia pública é também totalmente dependente do Executivo

para realização de concursos públicos; está sujeita à orien-tação superior, o que afirma ser subordinada ao governo.

Além disso, não tem remu-neração equiparada a outras funções da Justiça e possui uma estrutura física sucate-

ada, sem dispor de material mínimo, como sede, maqui-nário, diárias e servidores suficiente à demanda.

“Como decorrência da falta de independência financeira e administrativa, há uma discre-pância remuneratória entre os

membros da advocacia pública federal e as demais funções essenciais à Justiça, o que além de ferir a isonomia, fere a paridade de armas, quan-do da atuação judicial. Sem prerrogativas e remuneração dignas o advogado público não mantém igualdade com

as demais funções essenciais à justiça na defesa do interesse público quando da sua atuação judicial”, critica Agapito.

SubsídiosDe acordo com Agapito,

apenas a advocacia públi-ca federal fixou regra para os subsídios. Nos estados e municípios, o que ainda pre-valece é a contraprestação de remuneração. “Recentemente, deu-se prevista a possibilida-de de recebimento de hono-rários de sucumbência pelo advogado público no novo

CPC, situação a depender de lei federal, para advogados público federais. No caso do estados e dos municípios tal vantagem já vinha sendo re-gulada e recebida há tempos, no âmbito federal, ainda pen-de de vontade política para sua efetivação”, disse.

FunçãoPela Constituição Federal,

a advocacia pública é reco-nhecida como importante ferramenta dentro do Estado Democrático de Direito. De acordo com o defensor, o ente público é representado por uma procuradoria, órgão jurídico ou advogado público, ressaltando que para exercer esta última função, é neces-sário passar por rigoroso concurso público. “Sem a ad-vocacia pública a ação admi-nistrativa poderia não atender o interesse público contido nas leis, frustrando a ação parlamentar, isso sem falar no risco de constante agressão aos direitos fundamentais do administrado”, adverte.

O advogado público é quem inscreve o devedor em dívi-da ativa, ajuíza ações judi-ciais de cobrança. Cabe a ele também, representar o ente público defendendo o ato administrativo. “Note-se que aqui não se defende a pessoa do agente público, mas o ato por ele praticado sob a premissa de que o mesmo é legítimo. Não se defende o gestor, mas a sua gestão, o que é diferente”, conclui.

QUANTIDADE

NÚMEROSexaminados pelo Grupo de Auxílio entre março e dezembro de 2014.

2.376 processos 146 comarcas 539 sentenças proferidas 64 decisões 130 despachos 594 exclusões 1.049 processos vistoriados

FONTE: CNJ

ASSUNTO

ENTRE AS COMPETÊNCIASDE UM ADVOGADO PÚBLICO, AGAPITO DESTACA AS SEGUINTES:

PRESTAR: constante atividade de assessoramento e consultoria aos entes públicos, quando atuam a função administrativa;

FISCALIZAÇÃO: e controle; ARRECADAÇÃO: e protecão do patrimônio; DEFENDER: as funções do ente;

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de julho de 2015 O ESTADO 8

OAB-CE cria Coordenadoria Estadual deEstudos sobre a Liberdade Religiosa

OAB-CE e CNJ promovem audiênciasobre qualidade dos serviços judiciais

I Conferência Estadual da Mulher Advogada acontecerá em agosto

OAB Advogados: cadastro no aplicativo já pode ser realizado

A OAB Ceará empossou o coordenador e inte-grantes da Coordenadoria Estadual de Estudos sobre a Liberdade Religiosa. Esta é a primeira vez que a instituição estabelece uma coordenadoria para tratar assuntos relativos ao direito à crença e religião. De acordo com o presi-dente Valdetário Andrade Monteiro, a instituição tem a responsabilidade de atuar em diversas ações e a liberdade de religião é uma importante área em

que necessita também da aplicabilidade do Direito para que seja exercida em plenitude. De acordo com Robson Sabino, o objetivo principal da coordenadoria é promover ações práticas as quais estejam elencadas nos princípios religiosos, como o amor ao próximo, por exemplo. “Cada inte-grante da nova coordena-doria assume, hoje, uma responsabilidade ímpar, que é o fomento à igualda-de no respeito à liberdade de religião”, disse.

A Ouvidoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) participará, no próximo dia 3 de agosto, a partir das 14h, no auditório anexo da Assembleia Legislativa, de audiência pública em Fortaleza para conhecer a qualidade dos serviços ju-diciais prestados nas cortes estadual, eleitoral, traba-lhista e federal. O objetivo do encontro é conhecer os

principais problemas en-frentados por advogados e jurisdicionados em fóruns, varas e demais unidades judiciais. A audiência pú-blica “Advocacia e Acesso à Justiça”, que acontecerá em parceria com a OAB Ceará, será aberta não só aos profissionais que atuam diariamente no Judiciário mas também à população em geral.

Estão abertas as inscri-ções para a I Conferên-cia Estadual da Mulher Advogada, que acontecerá nos dias 27 e 28 de agosto, na Federação da Indústria e do Comércio (Fiec). O encontro tem o objetivo de debater o papel da mu-lher no âmbito jurídico, bem como destacar as conquistas e os desafios do gênero nesta área. O

evento contará com a participação de grandes profissionais do âmbito jurídico, bem como com o lançamento do movimento “Mais Mulheres na OAB do Ceará”. Estava presente no encontro, a presidente da Comissão organizado-ra, Manuela Praxedes, a secretaria-geral adjunta, Roberta Vasques e mem-bros da Comissão.

Advogados e advogadas do Ceará já podem fazer o cadastro no aplicativo OAB Advogados. A ferramenta tem o objetivo de localizar os advogados num raio de até 100 km e está dispo-nível para smartphones e tablets. Este é o primeiro aplicativo que promete revolucionar a relação advogados-clientes no Ceará. O cadastro poderá ser realizado gratuitamen-te pelo site do aplicativo, com número de inscrição na OAB, sigla do Estado e

CPF. Idealizado pelo presi-dente da OAB-CE, Valde-tário Andrade Monteiro, o aplicativo foi desenvolvido há um ano pelos estudan-tes de Sistema de Infor-mação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Daniel Zanata, Witalo Benício e Luís Siqueira, o software é composto por três linhas de busca: a área jurídica em que o advo-gado atua; a localização do advogado num raio de busca de 100 km; e pelo nome do profissional.

Nos próximos dias 27 e 28 de agosto, o Ceará recebe a I Conferên-cia Estadual da Mu-

lher Advogada, organizado pela Comissão da Mulher Advogada, da OAB-CE. O evento que irá acontecer na Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), além de contar com a presença de vários profissionais do Direito, será espaço para o lançamento do movimento “Mais Mulheres na OAB do Ceará”.

O objetivo do encontro, segundo Manuela Praxedes, presidente da comissão da Mulher Advogada, é debater em prol das mulheres no âm-bito jurídico, destacando as principais conquistas e desa-fios do gênero na carreira. “A OAB-CE ainda é uma entida-de eminentemente masculina, contudo o número de mulhe-res aumentou muito. Hoje, te-mos muitas sendo presidentes de comissão, na diretoria ou

como conselheiras. Estamos vendo uma participação mui-to acolhedora [da mulher] e queremos mais”, avalia.

Ainda segundo Manuela, a ideia de trazer a Conferência para o Estado do Ceará surgiu

após sucesso da conferência nacional que ocorreu em maio, em Maceió. O evento será aberto para participan-tes de todo Brasil e não ape-nas para mulheres. No centro dos debates, o destaque vai

para temas sobre a questão de gêneros, o Movimento Mais Mulheres e Lei Maria da Penha.

30% de mulheresA presidente da comissão

disse que o encontro irá enfa-tizar a nova regra estabelecida pelo Conselho Federal da OAB que determina 30% de mulheres na composição das chapas para as eleições inter-nas. Em chapas majoritaria-mente femininas, aplica-se o inverso com 30% de homens. Segundo ela, o objetivo é igualar a representação dos gêneros. “Aqui [OAB-CE] a maioria da composição das chapas é de homens, então as chapas deverão ter 30% de mulheres para concorrer. Em termos de mulheres advoga-das, temos mais de 50%, é um maior número, mas ainda com pouca representatividade na composição das chapas”, disse Manuela.

Conferência estadual irá debater papel da advogada no âmbito jurídico

MAIS MULHERES

PROGRAMACÃO

Dia 27 de agosto19h – Palestra de Abertura “Movimento Mais Mulheres na OAB”, com Florany Mota, membro da Comissão Nacional da Mulher Advogada do CFOABDia 28 de agosto8h às 8h30 – Credenciamento9h às 10h30 – Palestra de Abertura “Feminismo: Quebrando paradigmas”, com Alice Bianchini, presidente do Instituto Pan-americano de Política Criminal – Ipan. Membro da CNMA10h30 às 12h – Painel I “As conquistas da advocacia no novo CPC”, com Valdetário Monteiro, presidente da OAB-CE14h às 15h – Painel II – “O Protagonismo da mulher no século XXI”, com Cristina Buarque, ex-secretária especial da Mulher do Estado de Pernambuco e Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj)15h às 16h – Painel III – “Lei Maria da Penha: buscando a efetividade material”, com Rena Gomes, delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM)16h às 17h – Painel III – “Mulheres que ousam”, com Cezar Britto, ex-presidente da OAB Nacional17h30h – Lançamento do Livro “Mulheres que ousam”, de autoria de Cezar Britto

Manuela Praxedes avalia que a participação da mulher está aumentando dentro das comissões e diretoria da entidade cearense

FOTO ASSESSORIA/DIVULGACÃO

Uma empresa não pode transferir custos para realização de atividade econômica ao traba-

lhador. Foi o que decidiu a 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais depois de empregado reclamar por ter de usar o próprio carro para vistoriar obras.

A decisão esclarece o que é chamado relação de emprego. Os empregadores devem ser os responsáveis em providenciar os meios para execução de serviços, assim como arcar com os riscos do empreen-dimento, conforme citou o magistrado no julgamento, referindo-se aos artigos 2º e 458º da Consolidação das Leis Trabalhistas, que detalham, respectivamente, a classi-ficação de um empregador e suas responsabilidades, e define outras obrigações que a empresa deve ter com os funcionários, dependendo do ramo em que atua.

O advogado Renato Vilar-do, especialista em direito do trabalho, reiterou a in-formação. Segundo ele, “o empregado não é obrigado a ter nenhum custo com a atividade empresarial. Isso é uma característica da re-lação de emprego, chamada de alteridade. Quem corre com as contas, com os riscos da empresa em si, é o empre-gador. Se ele quer manter o escritório funcionando, uma atividade que envolva visitas a cliente, ele deve fornecer todas as condições para o empregado fazer isso”.

De acordo com análise

de Renato sobre a decisão, quando comprovado que re-almente o empregado utiliza seu próprio veículo para pra-ticar atividade externa, como vendedor, por exemplo, a em-presa é obrigada a ressarci-lo. No entanto, explica que há algumas situações que devem ser diferenciadas. Utilizar o próprio carro ou moto para deslocar-se até o local de tra-balho, não cabe solicitar res-

sarcimento. “É mais provável que haja transporte público e concessão do vale transporte. Via de regra, é uma liberali-dade do próprio empregado”, diz. A exceção só existe quan-do não há transporte público regular nas proximidades em que a empresa está localizada.

AcordosCasos em que as empresas

fornecem um veículo coletivo

e o funcionário usa o seu por mera comodidade não tem di-reito em solicitar ressarcimen-to. “Porque ele está procurando conforto e a empresa tem como provar que está sim fornecen-do veículo, mas o empregado tomou outra opção, portanto não é indenizado”, explica.

Quando o trabalhador é contratado e no ato exige-se carro ou moto própria para realização de atividade, o espe-cialista aponta que não é abuso na relação de emprego, desde que seja acordado um valor ex-tra para custo com combustível e desgaste natural do veículo.

Como comprovarConforme Renato, o em-

pregador leva vantagem em provar que fornece veículo à disposição dos trabalhadores. Mas quando é o empregado quem precisa comprovar, o conselho é controlar a quilo-metragem, sempre anotando o percurso rodado e guardar notas fiscais de abastecimento, para assim comparar que os gastos são maiores durante o serviço que em dias de folga.

EquipamentosOutro ponto que o advo-

gado destaca, é que a me-dida estende-se a outros equipamentos, como com-putadores ou câmeras foto-gráficas. Se a empresa não fornece, pode terceirizar os equipamentos pessoais de seus funcionários. Assim, anula-se responsabilidade do empregador em manutenção e fiscalização, passando ao próprio empregado.

Empresa tem que ressarcir gasto de trabalhador para exercer função

RELAÇÃO DE EMPREGO

Renato Vilardo ressalta que empresa deve fornecer todas as condições para a realização das atividades

FOTO BETH DREHER