direito civil para concursos parte geral 08

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139 Defeitos nos negócios jurídicos Ahyrton Lourenço Neto* Todos os doutrinadores civilistas corroboram o entendimento de que a vontade é elemento essencial dos negócios jurídicos. É sobre o escudo da real vontade das partes que se estabelecem os negó- cios jurídicos, mas se a vontade não é manifestada de forma livre e conscien- te, tem-se uma vontade viciada. O Código Civil (CC) combate com a anulabilidade os vícios dos negócios jurídicos. CC, Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: [...] II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. A parte interessada possui prazo decadencial de quatro anos para pleitear a anulação dos negócios jurídicos que contenham vícios, sendo contado este prazo: coação – do dia em que ela cessar; erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo e lesão – do dia em que se realizou o negócio jurídico. Com exceção da fraude contra credores, os demais são chamados de vícios do consentimento, pois expressam uma vontade que não reflete a real intenção do sujeito. A fraude contra credores não é um vício de consentimento, porque ela reflete a real vontade do sujeito de prejudicar direitos de terceiros ou violar a lei, sendo considerada um vício social. * Professor de Direito Civil, Direito do Consumidor e Direito Internacional Pú- blico, ministrando aulas presenciais e telepre- senciais. Especialista em Administração Tributária, pela Universidade Castelo Branco (UCB). Graduado em Direito, pela Pontifí- cia Universidade Cató- lica do Paraná (PUCPR). Advogado. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br

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Page 1: Direito Civil Para Concursos Parte Geral 08

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Defeitos nos negócios jurídicos

Ahyrton Lourenço Neto*

Todos os doutrinadores civilistas corroboram o entendimento de que a vontade é elemento essencial dos negócios jurídicos.

É sobre o escudo da real vontade das partes que se estabelecem os negó-cios jurídicos, mas se a vontade não é manifestada de forma livre e conscien-te, tem-se uma vontade viciada.

O Código Civil (CC) combate com a anulabilidade os vícios dos negócios jurídicos.

CC,

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:

[...]

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

A parte interessada possui prazo decadencial de quatro anos para pleitear a anulação dos negócios jurídicos que contenham vícios, sendo contado este prazo:

coação � – do dia em que ela cessar;

erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo e lesão � – do dia em que se realizou o negócio jurídico.

Com exceção da fraude contra credores, os demais são chamados de vícios do consentimento, pois expressam uma vontade que não reflete a real intenção do sujeito.

A fraude contra credores não é um vício de consentimento, porque ela reflete a real vontade do sujeito de prejudicar direitos de terceiros ou violar a lei, sendo considerada um vício social.

* Professor de Direito Civil, Direito do Consumidor e Direito Internacional Pú-blico, ministrando aulas presenciais e telepre-senciais. Especialista em Administração Tributária, pela Universidade Castelo Branco (UCB). Graduado em Direito, pela Pontifí-cia Universidade Cató-lica do Paraná (PUCPR). Advogado.

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Defeitos nos negócios jurídicos

Vícios do consentimento

Erro O erro é a falsa ideia que se tem da realidade.

O CC equiparou o erro à ignorância, compreendendo esta, o completo desconhecimento da realidade.

Os negócios jurídicos que são realizados com erro são anuláveis, mas so-mente o erro substancial, escusável e real.

CC,

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

O erro escusável é o erro desculpável, ou seja, a parte deveria ter percebido o erro com uma conduta diligente, caso não tenha, o erro será inescusável.

O erro substancial compreende o erro sobre aspectos relevantes do ne-gócio, a ponto de que em se conhecendo a realidade o negócio não seria realizado, compreendendo:

error in ipso negotio � – referente à natureza do negócio celebrado – contrato de compra e venda que se imagina ser uma doação.

error in ipso corpore � – quando o erro recai sobre o objeto principal da declaração de vontade do negócio – pessoa pensa estar adquirindo um quadro de Picasso e na realidade é de outro artista.

error in corpore � – quando o erro incide sobre a qualidade do objeto – adquire um colar pensando ser de água-marinha e na realidade é de topázio azul.

error in persona � – quando o erro recai sobre as qualidades essenciais da pessoa (físicas ou morais) – pessoa deixa bens em testamento para filho e depois vislumbra que o beneficiário não é seu filho.

error juris � – o erro de direito, não importando em recusa da lei, pode se dar quando a pessoa desconhece a norma local ou que a norma não é mais válida – pessoa adquire um imóvel residencial urbano, mas ignora que o tamanho do referido imóvel é inferior a um módulo urbano, não podendo, dessa forma, ser fracionado para venda.

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Defeitos nos negócios jurídicos

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CC,

Art. 139. O erro é substancial quando:

I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

Falso motivo � – em regra, não anula um negócio jurídico – faz-se um investimento acreditando na valorização da área urbana adquirida, não valorizando não se invalida o negócio; anulará apenas quando expresso no negócio como condição determinante – venda de um comércio que apresenta um faturamento e depois se descobre que esse faturamento mensal não era real.

CC,

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.

Transmissão de vontade � – caso a pessoa utilize meios para transmitir a sua vontade e esses meios falharem ou não transmitirem de forma adequada a vontade, pode ser anulada, desde que o erro seja substan-cial ao negócio – transmissão via fac-símile, e-mail, rádio e congêneres, que no momento falham apresentando uma vontade diversa.

CC,

Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.

Não se anulará as vontades:

erro acidental � – indicação da pessoa ou coisa errada, mas que facil-mente se consegue identificar a coisa ou pessoa correta – detalhe na grafia do nome da pessoa indicada;

CC,

Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

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Defeitos nos negócios jurídicos

erro de cálculo � (error in quantitate e erro de cálculo) – não anula a vontade, apenas determina a retificação – erros aritméticos ou de peso ou medida;

CC,

Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.

cumprimento da vontade � – também não prejudica a vontade quando em erro se estabelece determinada coisa, mas na entrega da coisa a outra parte cumpre a obrigação nos termos da vontade – no contrato de compra e venda de um imóvel condominial se estabelece que a fração ideal do apartamento 01, do sétimo andar, será do adquirente, mas no contrato consta o 01 do sexto andar, hipótese em que o erro invalida o ne-gócio, mas o proponente entrega o 01 do sétimo, confirmando a vontade.

CC,

Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.

Dolo É a vontade livre e consciente de induzir alguém à prática de ato que lhe

é prejudicial, mas que aproveita ao autor do dolo ou a terceiro.

Quando o negócio jurídico for concluído com dolo, este será anulável.

CC,

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

O dolo pode ser dividido em:

dolus bonus � – dolo tolerável pelo Direito, não induzindo a anulabi-lidade – exagero nas qualidades; dissimulação de defeitos; não pode o comerciante enganar o consumidor, violando o princípio da boa-fé;

dolus malus � – o real dolo, combatido pelo Direito;

dolo acidental � – é a espécie de dolo que leva a vítima a realizar um ne-gócio jurídico em condições mais onerosas ou menos vantajosas, não acarretando a anulação do negócio, apenas indenização – vendedor aplica índice diverso do legal ou contratualmente estabelecido;

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Defeitos nos negócios jurídicos

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CC,

Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.

dolo omissivo ou negativo � – quando uma parte oculta algo essencial do negócio jurídico que a outra parte deveria saber para a consubs-tanciação – contratação de seguro de vida omitindo moléstia grave que acarreta o falecimento do segurado;

CC,

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.

dolo de terceiro � – somente será anulável se uma das partes sabia do dolo feito por terceiro e deixou de comunicar a outra parte, caso con-trário, apenas acarretará direito indenizatório – terceiro afirma que de-terminada obra de arte é de Portinari e o vendedor, ouvindo o absurdo, não orienta o comprador sobre a obra ser uma réplica, nesse caso, será anulável o negócio jurídico;

CC,

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

dolo do representante legal (pai, mãe, tutor, curador) � – somente obriga o representado até o limite em que aproveitou o dolo, pois foi a lei que elegeu o representante, não se podendo punir o representado;

dolo do representante convencional � – obriga o representante e o re-presentado perante a parte que de boa-fé fez o negócio, havendo ação de regresso contra o representante, se o representado não foi cúmpli-ce – aplicação da culpa in eligendo e in vigilando;

CC,

Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.

dolo de ambas as partes � – não há anulação do negócio jurídico, nem indenização, se ambas as partes agem com dolo.

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Defeitos nos negócios jurídicos

CC,

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.

Coação A coação é caracterizada pela violência psicológica para viciar a vontade.

“Coação é toda ameaça ou pressão exercida sobre um indivíduo para forçá- -lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio” (GONÇAL-VES, 2003, p.137).

Requisitos para a coação:

causa do ato � – deve haver elemento de causalidade entre o ato coator e a obtenção do negócio jurídico;

deve ser grave � – o ato deve ser feito de tal intensidade que a parte coagida não tenha alternativa senão firmar o negócio jurídico, atingin-do a pessoa, a família ou os seus bens. Caso a coação seja exercida sobre pessoa não membro da família do coagido, o juiz decidirá sobre a coação.

CC,

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.

O caso concreto determinará a existência ou não da coação, não se levan-do em consideração o homem médio, pois em determinadas circunstâncias o homem médio não se sentirá coagido.

CC,

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

A coação somente existirá se houver ameaça de realização de coisa ilícita; não sendo também coação o simples temor reverencial – exemplos: temor de desgostar os pais, chefes religiosos.

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Defeitos nos negócios jurídicos

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CC,

Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.

Coação exercida por terceiro vicia o negócio jurídico, se a parte sabe ou deveria saber da coação, ensejando responsabilidade solidária do terceiro coator e da parte que aproveita. Caso a parte que aproveita da coação do terceiro desconheça ou não deveria saber da coação, o negócio jurídico per-manece válido.

CC,

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.

Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

Estado de perigo O estado de perigo, equiparando-se ao estado de necessidade, ocorre

quando, em virtude de uma situação grave de perigo iminente e conhecido pela outra parte, que incidirá sobre a pessoa ou a alguém de sua família, esta assume obrigação excessivamente onerosa com intuito de evitá-la.

CC,

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

O CC determina a anulabilidade do negócio jurídico quando incidente o estado de perigo, por entender o legislador que, nessa hipótese, a vítima não se encontra em condição psicológica de declarar livremente a sua vontade.

Caso o estado de perigo recaia sobre pessoa não pertencente à famí-lia, ainda pode ser o negócio jurídico anulado, sendo necessário o crivo do magistrado.

CC,

Art. 156. [...]

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Defeitos nos negócios jurídicos

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

Lesão Constitui a lesão quando uma parte obtém lucro exagerado e despropor-

cional, aproveitando-se da inexperiência ou da necessidade da outra parte.

CC,

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

§1.o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

Dois são os elementos essenciais da lesão:

objetivo � – manifesta desproporção ao valor da prestação oposta;

subjetivo � – inexperiência ou estado de necessidade da pessoa.

Presentes os dois requisitos, o contrato é passível de anulação. Dessa forma, mesmo que o beneficiado não tenha conhecimento da inexperiência ou do estado de necessidade da pessoa, ainda sim o negócio pode ser anula-do, pois o legislador pátrio optou por uma postura protetiva e não punitiva.

Caso o lesado receba um complemento da obrigação ou uma redução na contraprestação desproporcional, o negócio jurídico não será anulado.

CC,

Art. 157. [...]

§2.o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

Vício social

Fraude contra credores A fraude contra credores não é considerada um vício do consentimento,

pois nestes as partes realizam um negócio jurídico que na realidade não re-percute a sua real vontade.

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Na fraude contra credores, as partes realizam um negócio jurídico expres-sando a sua real vontade, mas esta é com o objetivo de prejudicar terceiros, ou seja, os credores, por isso é que a fraude contra credores é considerada um vício social.

Configura-se a fraude contra credores quando o devedor for insolvente, ou que em virtude dos negócios jurídicos de transmissão de bens ficar insol-vente, pois esses negócios jurídicos ferem o princípio da responsabilidade patrimonial.

Caso o patrimônio seja suficiente com folga para saldar dívidas, ou seja, o devedor seja solvente, ele pode dispor livremente do seu patrimônio.

Hipóteses legais Tanto nas transmissões onerosas como nas gratuitas pode ocorrer a

fraude contra credores.

CC,

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

§1.o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.

§2.o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

Há fraude, também, quando um credor quirografário1 de dívida não ven-cida recebe do devedor insolvente; ficará o credor obrigado a repor ao acervo o que recebeu, pois a intenção da lei é colocar todos os credores em pé de igualdade. Caso a dívida já esteja vencida, o pagamento é considerado normal.

CC,

Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

A fraude também existe quando o devedor insolvente dá garantia de dívida (hipoteca, penhor, anticrese) privilegiando algum credor. Não se inva-lida o negócio nessa hipótese, apenas a garantia.

1 Credor quirografário – é o credor que não possui direito real de garantia, seus créditos estão re-presentados por títulos advindos das relações obrigacionais. Exemplos: os cheques, as duplicatas, as promissórias.

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Defeitos nos negócios jurídicos

CC,

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

[...]

Art. 165. [...]

Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.

Contudo, serão considerados de boa-fé os negócios ordinários pratica-dos pelo devedor insolvente – por exemplo, um comerciante insolvente pode vender mercadorias de sua loja, estando vedado a vender o estabelecimento comercial.

Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.

Caso o adquirente não tenha pagado pelos bens que o devedor insolven-te o vendeu, o negócio jurídico poderá ser válido se depositar o real valor da coisa em juízo e solicitar a citação de todos os interessados.

CC,

Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.

Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.

Ação anulatória ou pauliana

O CC determina que, em caso de fraude contra credores, pode-se pleitear a anulação dos negócios jurídicos mediante a ação pauliana, devendo obe-decer aos seguintes requisitos:

ser o crédito do autor anterior ao ato fraudulento; �

que o ato que se pretenda revogar tenha causado prejuízos; �

que haja a intenção de fraudar, presumida pela consciência do estado �de insolvência;

prova da insolvência. �

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O principal objetivo da ação pauliana é revogar os negócios jurídicos le-sivos aos interesses dos credores, por isso pode ser proposta pelos interes-sados contra o devedor insolvente, contra a pessoa com que ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta ou adquirentes de má-fé, retornando os bens ao patrimônio do devedor, para que possam satisfazer os débitos contraídos.

CC,

Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.

[...]

Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.

Resolução de questão1. (Esaf ) Assinale a opção verdadeira.

a) A forma única é aquela que, por lei, não pode ser preterida por outra.

b) O estado de perigo e a lesão são atos prejudiciais praticados em es-tado de necessidade, visto que na base do estado de perigo há risco patrimonial e na da lesão tem-se risco pessoal.

c) O erro acidental induz anulação do negócio por incidir sobre a de-claração de vontade, mesmo se for possível identificar a pessoa ou a coisa a que se refere.

d) Exige-se, por lei, que o instrumento particular seja subscrito por duas testemunhas.

e) O novel Código Civil não admite a conversão do ato nulo em outro de natureza diferente.

Assertivas:

a) Certa. É a forma determinada pela lei como exclusiva para a validade de certos negócios jurídicos.

b) Errada. A relação é inversa, a proteção ao estado de perigo é sobre a pessoa e na lesão sobre o patrimônio.

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Defeitos nos negócios jurídicos

c) Errada. (CC, art. 142).

d) Errada. Apenas para as partes que quiserem atribuir ao contrato força executiva. (CPC, art. 142).

e) Errada. (CC, art. 170).

Solução: A

Atividades de aplicação1. (Esaf ) A lesão especial acarreta anulabilidade do negócio, permitindo-se,

porém, para evitá-la:

a) a dispensa da verificação do dolo da parte que se aproveitou.

b) a comprovação da culpabilidade do beneficiado e apreciação da des-proporção das prestações, segundo valores vigentes ao tempo da ce-lebração do negócio pela técnica pericial.

c) a prova da premência de necessidade da inexperiência e da despro-porção das prestações.

d) a oferta de suplemento suficiente, inclusive em juízo, para equilibrar as prestações, evitando enriquecimento sem causa, ou se o favore-cido concordar com a redução da vantagem, aproveitando, assim, o negócio.

e) a prova da existência de um risco pessoal que diminui a capacidade da parte de dispor livre e conscientemente.

2. (Esaf ) Assinale a opção correta, levando em consideração as disposições do ordenamento jurídico brasileiro vigente, no que tange aos negócios jurídicos.

a) Nos negócios de transmissão gratuita de bens, a caracterização da fraude contra credores não exige a presença do elemento subjetivo (consilium fraudis), bastando apenas a existência do elemento objeti-vo (eventus damni).

b) Quando a lei proibir a prática de um negócio jurídico, sem cominar sanção, o prazo para pleitear-se a anulação do mesmo será de 2 (dois) anos, a contar da conclusão do ato.

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c) Tanto a simulação absoluta quanto a simulação relativa, quando pre-sentes no negócio jurídico, eivam de nulidade absoluta o negócio ju-rídico como um todo, sendo impossível a subsistência de qualquer ato negocial dissimulado.

d) Tem-se por inexistentes as condições incompreensíveis ou contradi-tórias, mantendo-se o negócio jurídico.

e) Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, mesmo que se constitua em motivo determinante da liberalidade.

3. (Esaf ) Se um contratante supõe estar adquirindo um lote de terreno de excelente localização, quando, na verdade, está comprando um situado em péssimo local, configurado está:

a) o dolo acidental.

b) o dolo negativo.

c) o dolo principal.

d) o erro sobre o objeto principal da declaração.

e) o dolo positivo.

Dica de estudo VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

ReferênciasGONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil – parte geral. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 137. (Coleção Sinopses Jurídicas).

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil – parte I. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

RODRIGUES, Marcelo Guimarães. Direito Civil. Belo Horizonte: Inédita, 1999.

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Gabarito1. D

2. A

3. D

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