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    OAB 2 FASE XIV DIREITO CIVIL

    CRISTIANO SOBRAL

    1

    I. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

    1. CONCEITO

    Contrato o negcio jurdico bilateral formado

    pela convergncia de duas ou mais vontades,

    que cria, modifica ou extingue relaes

    jurdicas de natureza patrimonial.

    um negcio jurdico, pois uma atuao

    humana em que as partes escolhem os efeitos

    que sero produzidos ao praticarem o ato.

    bilateral, pois formado pelo acordo de

    vontades, ou seja, so necessrias pelo menos

    duas vontades. O testamento um negcio

    jurdico, pois atuao humana em que se

    escolhem os efeitos que dele sero produzidos,

    mas no um contrato, pois um negcio

    jurdico unilateral.

    2. CLASSIFICAES DOS CONTRATOS

    2.1. Contrato unilateral, bilateral e plurilateral

    No se fala aqui no nmero de vontades

    envolvidas, pois vimos que no existe contrato

    com uma vontade apenas. Fala-se aqui em

    nmero de prestaes.

    a) Contrato unilateral: aquele em que h

    prestao apenas para uma das partes.

    Doao contrato, pois h duas vontades, em

    razo da necessidade do donatrio aceit-la.

    Todavia, contrato unilateral, pois s tem

    prestao para o doador (entregar o bem).

    b) Contrato bilateral: aquele que, alm de

    duas vontades, tem prestao para ambas as

    partes, por exemplo, contrato de compra e

    venda, pois o vendedor tem a prestao de

    entregar o bem e o comprador tem a prestao

    de dar o preo.

    c) Contrato plurilateral: aquele em que h

    pelo menos trs vontades envolvidas. Exemplo:

    contrato de sociedade, em que so partes os

    scios e a prpria sociedade, como parte

    credora das prestaes dos scios

    (contribuio para o capital social).

    2.2. Contrato oneroso e gratuito

    a) Contrato oneroso: aquele em que as

    partes ganham algo equivalente sua

    prestao, ou seja, h equilbrio econmico

    entre as partes porque ambos perdem e

    ganham na mesma proporo econmica, por

    exemplo, contrato de compra e venda.

    b) Contrato gratuito: aquele em que a parte

    no ganha algo equivalente sua prestao,

    ou seja, h desequilbrio econmico, pois uma

    das partes s ganha e uma das partes s

    perde, por exemplo, contrato de doao.

    2.3. Contrato comutativo e aleatrio

    a) Contrato comutativo: aquele em que as

    partes podem antever os seus efeitos, ou seja,

    ao celebrar o contrato, j sabem os efeitos que

    sero produzidos. Exemplo: contrato de

    compra e venda, pois j se sabe que um

    entrega o bem e que outro entrega o preo.

    b) Contrato aleatrio: aquele em que as

    partes no podem antever os seus efeitos, ou

    seja, ao celebrar o contrato no h como saber

    os efeitos que sero produzidos. A razo

    simples: contrato aleatrio o contrato de risco

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    (lea significa risco). Exemplo: contrato de

    seguro, pois o segurado pode ou no receber a

    indenizao, a depender se ocorre ou no o

    sinistro, o que no se sabe quando o contrato

    celebrado.

    O contrato aleatrio pode ser naturalmente

    aleatrio (aleatrio tpico) ou acidentalmente

    aleatrio (aleatrio atpico). O contrato

    naturalmente aleatrio quando for da sua

    essncia ser aleatrio, por exemplo, contrato

    de seguro. O contrato acidentalmente

    aleatrio quando for da sua essncia ser

    comutativo, mas aleatrio em razo de uma

    circunstncia que lhe especfica. Exemplo:

    contrato de compra e venda comutativo, mas

    o contrato de compra e venda de uma safra

    que est sendo plantada aleatrio, pois no

    se sabe qual ser a quantidade da produo.

    Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos de

    contratos de compra e venda atipicamente

    aleatrios: compra e venda de coisa futura e de

    coisa exposta a risco.

    a) Compra e venda de coisa futura: O contrato

    de compra e venda de coisa futura aleatrio,

    pois no se sabe se a coisa vir a existir e em

    que quantidade. Pode o contratante assumir o

    risco da coisa no vir a existir, pagando mesmo

    assim o preo (chamado de contrato de

    compra e venda emptio spei) ou assumir o

    risco de vir a existir em qualquer quantidade,

    pagando o preo se vier a existir em

    quantidade inferior esperada, mas no

    pagando se nada do avenado vier a existir

    (chamado contrato de compra e venda emptio

    rei speratae).

    Em ambos os casos, no pagar o preo se

    menos do esperado vier a existir por culpa ou

    dolo do contratante. Como exemplo, pense na

    compra de peixes que ainda sero pescados,

    em que se paga o preo mesmo que nenhum

    peixe seja pescado (emptio spei) ou se vier em

    qualquer quantidade, s no pagando se

    nenhum vier (emptio rei speratae). Em nenhum

    dos dois casos pagar, se o insucesso total ou

    parcial decorreu de dolo ou culpa do pescador.

    b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O

    contrato de compra e venda de coisa exposta a

    risco de coisa que j existe, mas

    atipicamente aleatrio, pois o comprador

    assume o risco exposto. Exemplo: compra de

    cermica a ser transportada em navio, cujo

    risco de vir a se quebrar o comprador assuma.

    Dever pagar todo o preo, mesmo que alguns

    venham quebrados, a menos que dolosamente

    o vendedor se aproveite, colocando alguns j

    quebrados.

    2.4. Contrato consensual e real

    O contrato se forma, em regra, quando a uma

    proposta se seguir uma aceitao, ou seja,

    com o acordo de vontade das partes. Essa

    regra quebrada em alguns casos, quando o

    acordo de vontades no suficiente para a

    formao do contrato, o que s ocorre com a

    prtica de um ato posterior: a entrega do bem

    objeto da prestao.

    a) Contrato consensual: aquele que se forma

    com o acordo de vontades das partes. a

    regra em matria de contratos, por exemplo, o

    contrato de compra e venda.

    b) Contrato real: aquele que se forma com a

    tradio, ou seja, com a entrega do bem, que

    se segue ao acordo de vontade das partes.

    So trs os contratos reais: mtuo, comodato e

    depsito.

    2.5. Contrato de execuo instantnea,

    continuada e diferida

    a) Contrato de execuo instantnea: aquele

    que cumprido em uma s vez, no momento

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    da celebrao do contrato (exemplo: compra e

    venda com pagamento vista).

    b) Contrato de execuo continuada: aquele

    em que a prestao cumprida em cotas

    peridicas (exemplo: compra e venda com

    pagamento parcelado).

    c) Contrato de execuo diferida: aquele em

    que a prestao cumprida em uma s vez,

    mas no futuro (exemplo: compra e venda com

    pagamento a prazo).

    2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes

    uma classificao que se refere formao

    do contrato. Pelos nomes, parece que

    depende se as partes esto ou no na

    presena fsica um do outro. No bem assim,

    pois h tecnologias que fazem com que uma

    conversa entre pessoas distantes seja como se

    estivessem fisicamente presentes, pois

    proposta e aceitao se do em tempo real.

    a) Contrato entre presentes: aquele em que

    proposta e aceitao se do em tempo real,

    sendo firmado no s entre pessoas

    fisicamente presentes, mas tambm por

    telefone ou meio de comunicao semelhante

    (vdeo conferncia, chats, entre outros).

    b) Contrato entre ausentes: aquele em que

    proposta e aceitao no se do em tempo

    real, cujos principais exemplos so aqueles

    formados por carta ou por e-mail.

    3. PRINCPIOS CONTRATUAIS

    3.1. Princpio da autonomia da vontade

    As partes so livres para contratar, ou seja,

    contratam se quiserem, com quem quiserem e

    sobre o que quiserem. Isso decorre de simples

    razo: contrato um acordo de vontades. O

    limite para suas atuaes a lei e, como

    veremos mais frente, o interesse social e a

    boa-f.

    3.2. Princpio da obrigatoriedade e a teoria da

    impreviso (pacta sunt servanda x clusula

    rebus sic stantibus)

    As partes contratam se quiserem, mas, se

    contratarem, so obrigadas a cumprir o

    contrato. O contrato faz lei entre as partes, o

    que traduz o conhecido pacta sunt servanda,

    ou seja, os pactos devem ser cumpridos.

    Essa a noo bsica do princpio, mas o seu

    estudo pode e deve ser aprofundado. O atual

    CC adotou o princpio do pacta sunt servanda,

    mas no de forma absoluta, pois foi mitigado

    pela previso da chamada clusula rebus sic

    stantibus.

    Para entender essa clusula, necessria uma

    breve anlise histrica. Desde a origem dos

    contratos, vigora o princpio do pacta sunt

    servanda, ou seja, o contrato sempre fez lei

    entre as partes. No entanto, a Idade Mdia foi

    uma poca que ameaou a sobrevivncia

    desse princpio, pois foi um perodo marcado

    por constantes guerras e conflitos feudais, o

    que inviabilizava o cumprimento de um

    contrato. Por isso, naquela poca, tornou-se

    comum vir nos contratos com prestao que se

    prolongava no tempo uma clusula liberando o

    contratante em caso de ocorrer uma guerra ou

    conflito feudal, permitindo-lhe pedir o fim do

    contrato.

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    Rebus sic stantibus significa coisa assim ficar,

    ou seja, o contratante obrigado a cumprir o

    contrato, mas apenas se a coisa assim ficar.

    A inovao do atual CC foi tornar a clusula

    rebus sic stantibus implcita aos contratos,

    quando passou a prever a teoria da impreviso

    ou da onerosidade excessiva. Se um contrato

    for assinado e sobrevier fato imprevisvel que o

    desequilibre, tornando-o excessivamente

    oneroso para uma das partes e com extrema

    vantagem para a outra, poder aquela pedir a

    resoluo do contrato (art. 478 do CC). O

    exemplo tpico o contrato de leasing de um

    carro,

    com valor atrelado ao dlar (locao com

    opo de compra ao fim do contrato mediante

    pagamento de valor residual). O dlar vale um

    real e passa do dia para noite para dois reais,

    dobrando o valor a ser pago. Poder ser

    pedida a resoluo do contrato com base na

    teoria da impreviso ou da onerosidade

    excessiva.

    So os elementos necessrios para incidncia

    da teoria da impreviso ou da onerosidade

    excessiva:

    a) Contrato de execuo continuada ou

    diferida: A teoria da impreviso se aplica a

    contratos cuja execuo se prolongue no

    tempo, ou seja, quando a execuo

    continuada ou diferida no tempo. Como o

    contrato de execuo instantnea tem

    prestaes cumpridas quando da celebrao

    do contrato, estas no sero atingidas pelo fato

    imprevisvel superveniente.

    b) Prestao excessivamente onerosa para

    uma das partes: a ideia da teoria, a

    excessiva onerosidade para uma das partes,

    desequilibrando o contrato.

    c) Extrema vantagem para a outra parte: Para

    a resoluo dos contratos, no basta este ter

    ficado muito oneroso para uma das partes.

    preciso que, concomitantemente, tenha havido

    extrema vantagem para a outra parte. Assim

    sendo, se o contratante perde seu emprego e

    consegue outro recebendo metade do salrio

    anterior, o contrato fica excessivamente

    oneroso para ele, mas no poder pedir a

    resoluo pela onerosidade excessiva porque

    no houve extrema vantagem para a outra

    parte.

    c) Fato superveniente e imprevisvel: A

    resoluo do contrato s ter lugar se o

    desequilbrio das prestaes decorrerem de um

    fato superveniente que as partes no podiam

    prever quando da celebrao do contrato.

    Ateno: no confunda teoria da onerosidade

    excessiva com leso e estado de perigo.

    Nesses defeitos do negcio jurdico, o ato j

    nasce viciado, enquanto que na aplicao da

    teoria ora em estudo, o contrato nasce

    conforme a lei, mas se vicia por fato

    superveniente. A consequncia disso que na

    leso e no estado de perigo o contrato

    anulado, enquanto que na teoria da impreviso

    ele objeto de resoluo. Nos citados vcios da

    vontade, como o ato invalidado, a sentena

    anulatria retroage data da prtica do ato,

    desfazendo todos os efeitos produzidos,

    inclusive os anteriores anulao.

    Na resoluo do contrato pela onerosidade

    excessiva, a sentena no deveria retroagir, s

    aniquilando os efeitos a partir da resoluo.

    Todavia, por expressa previso legal, efeitos

    anteriores resoluo sero desfeitos, pois a

    lei determina que a sentena retroaja data da

    citao, ou seja, s so preservados os efeitos

    anteriores citao.

    Importante lembrar que o contrato atingido pela

    teoria da impreviso ou onerosidade excessiva

    pode se manter, sem ser objeto de resoluo, o

    que ocorrer se o contratante beneficiado

    concordar com a reduo do seu ganho,

    reequilibrando as prestaes.

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    3.3. Princpio da relatividade dos efeitos dos

    contratos

    O contrato s produz efeitos em relao s

    partes. por isso que dizemos que o direito

    contratual inter parte (entre as partes),

    diferente dos direitos reais, que so direitos

    oponveis erga omnes (contra todos). Significa

    que o contratante s pode opor seu direito

    contratual ao outro contratante e no a

    pessoas estranhas relao contratual, pois s

    as partes podem ter direitos e deveres frutos

    do contrato que celebraram.

    3.4. Princpio da funo social do contrato

    O contrato no interessa apenas s partes

    contratantes, mas sim a toda sociedade,

    porque ele repercute no meio social. Essa a

    ideia do princpio da funo social do contrato,

    que reflete a atual tendncia de sociabilidade

    do direito, ou seja, de subordinao da

    liberdade individual em funo do interesse

    social. Assim sendo, se o contrato repercute

    negativamente para a sociedade, o juiz pode

    nele intervir para preservao do interesse

    coletivo.

    Como exemplo, podemos pensar em um

    contrato com juros excessivamente elevados.

    No ruim apenas para a parte devedora, mas

    para toda a sociedade, pois aumenta o risco de

    inadimplemento, o que aumenta ainda mais os

    juros, o que dificulta a circulao do crdito,

    diminuindo os investimentos produtivos e

    fazendo com que o Estado no se desenvolva.

    O juiz, sob o fundamento da funo social do

    contrato, poder intervir nessa relao entre

    particulares, trazendo os juros para valor de

    mercado.

    O CC, em vrias oportunidades, tem regras

    que refletem essa tendncia da sociabilidade

    do direito. o caso, por exemplo, da teoria da

    impreviso, podendo o juiz pr fim ao contrato

    em razo do seu desequilbrio econmico pela

    supervenincia de um fato imprevisvel. O

    mesmo ocorre no caso de leso e estado de

    perigo, podendo o juiz invalidar o contrato, por

    uma das partes ter assumido obrigao

    excessivamente onerosa em razo de

    determinadas circunstncias que foram a

    contratao. Isso demonstra a preocupao

    socializante do atual CC, pois,

    mesmo preenchidos os requisitos formais de

    validade do negcio jurdico, a lei pretende

    amparar um dos contratantes da esperteza ou

    ganncia do outro ou do prejuzo econmico

    imprevisvel com extrema vantagem para o

    outro contratante. Qual a razo disso? O Poder

    Judicirio s pode chancelar contratos que

    respeitem no s regras formais de validade

    jurdica, mas, sobretudo, normas superiores de

    cunho moral e social.

    Essa concepo social do contrato chega ao

    seu pice quando o CC, j em seu primeiro

    artigo sobre contratos, diz que a funo social

    do contrato representa uma limitao na

    liberdade de contratar (art. 421 do CC). As

    partes so livres para, dentro dos limites legais,

    colocarem no contrato as clusulas que

    quiserem, mas a limitao autonomia da

    vontade no se d apenas pela lei, mas

    tambm pelo interesse social.

    Imagine um contrato para a construo de uma

    obra de vulto ou de uma indstria. No

    obstante estejam observados os requisitos

    legais de validade (agente capaz, objeto

    possvel, determinado ou determinado e forma

    prescrita ou no defesa em lei), alguns

    questionamentos podem ser feitos: e os

    reflexos ambientais? E os reflexos trabalhistas?

    E os reflexos sociais? E os reflexos morais, ou

    seja, no mbito dos direitos da personalidade?

    Por melhor que seja o contrato do ponto de

    vista econmico para os contratantes,

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    no se pode chancelar como vlido um negcio

    negativo para a sociedade em razo do

    desrespeito de leis ambientais, que pretenda

    fraudar leis trabalhistas ou que viole a livre

    concorrncia, as leis do mercado ou postulados

    de defesa do consumidor, mesmo sob o

    pretexto da livre iniciativa.

    Analisando os exemplos supramencionados,

    podemos verificar que um contrato que no

    cumpre a sua funo social pode ser bom

    apenas para uma das partes, como ocorre com

    o contrato com juros excessivos. Neste caso,

    caber ao contratante prejudicado pedir a

    tutela jurisdicional com base na funo social

    do contrato. No entanto, at mesmo quando o

    contrato for bom do ponto de vista econmico

    para ambas as partes, poder ser alvo de

    interveno do juiz, caso contrarie o interesse

    social,

    como o caso de um contrato muito lucrativo,

    mas que gera danos ambientais ou que fraude

    leis trabalhistas. A questo : nesse caso de

    mtuo benefcio, a quem caber pedir a

    interveno judicial?

    O papel de guardio do princpio da funo

    social do contrato deve recair sobre os ombros

    do Ministrio Pblico. A princpio, o parquet

    no teria legitimidade ativa para pedir a

    interveno do juiz no contrato, por tratar-se de

    interesse privado. Todavia, como o contrato

    tem uma funo social, no podendo prejudicar

    a sociedade como um todo, o interesse passa

    a ser coletivo, legitimando a atuao

    ministerial.

    Com efeito, o princpio da funo social do

    contrato possibilita uma nova tendncia de

    controle dos contratos inaugurada pelo atual

    CC: o dirigismo judicial dos contratos. O que

    significa isso? O contrato sempre sofreu

    controle externo, limitando a atuao dos

    contratantes. At ento, prevalecia o controle

    feito pela lei, razo pela qual esse controle

    chamado de dirigismo legal dos contratos.

    Pense, como exemplo, no contrato de locao,

    onde a lei do inquilinato limita a atuao do

    locador. Hoje, com o CC vigente, prevalece o

    dirigismo judicial dos contratos, ou seja, no

    a lei que controla o contrato, mas sim o juiz, na

    anlise do caso concreto.

    O que torna isso possvel a utilizao das

    chamadas clusulas gerais ou conceitos

    jurdicos indeterminados, que tem como

    exemplo a funo social dos contratos. So

    expresses vagas em seu contedo, exigindo

    do aplicador do direito uma anlise do caso

    concreto para suprir a vacncia. A lei diz que o

    contrato deve atender a funo social, ou seja,

    no pode ir contra o interesse social.

    O que atender ou ir contra o interesse social?

    A lei no enumera casos, preferindo usar uma

    expresso vaga, permitindo ao juiz dizer,

    analisando o contrato, se ele atende ou no o

    interesse social.

    Em concluso, no se pretende aniquilar o

    princpio da autonomia da vontade ou o pacta

    sunt servanda, mas temper-lo, tornando-os

    mais vocacionados ao bem-estar comum, sem

    prejuzo do interesse econmico pretendido

    pelas partes contratantes. A lei relativiza o

    princpio do pacta sunt servanda com regras

    especficas, como a clusula rebus sic

    stantibus ou com a previso da leso ou do

    estado de perigo,

    mas tambm relativiza permitindo interveno

    judicial em uma relao que deveria interessar

    unicamente s partes do contrato, mas que

    interessa a toda a sociedade, pois a lei diz que

    o contrato tem uma funo social.

    3.5. Princpio da boa-f objetiva

    Este princpio vem consagrado no art. 422 do

    CC, que obriga as partes contratantes a

    agirem de boa-f quando da celebrao de um

    contrato. A palavra chave do princpio

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    confiana, que significa parceria contratual. A

    ideia que os contratantes no so lutadores,

    um querendo prejudicar o seu adversrio, mas

    sim parceiros, porque um confia no outro, uma

    vez que so obrigados a agir conforme os

    ditames da boa-f.

    Imagine um casal de noivos que compra suas

    alianas em uma joalheria, optando por um

    modelo que feito com ouro amarelo e ouro

    branco. Satisfeitos com a bela aliana, no dia

    da festa do noivado, um casal de amigos

    informa que toda aliana com ouro branco fica

    amarelada com o decorrer do tempo.

    Revoltados, reclamam junto joalheria,

    que diz nada poder fazer. Os noivos podero

    pedir a resoluo do contrato de compra e

    venda, devolvendo as alianas e recebendo

    seu dinheiro de volta, em funo da quebra da

    boa-f do vendedor, que no informou um

    relevante aspecto do contrato, que interferiria

    na escolha do modelo da aliana ou na prpria

    realizao do negcio.

    O princpio que rege os contratos o princpio

    da boa-f objetiva, mas, em realidade, existem

    dois tipos: a objetiva ou a subjetiva. A

    subjetiva, como o nome sinaliza, a boa-f

    interior, psicolgica, ou seja, o que o

    contratante acredita ser correto. J a objetiva

    lhe exterior, ou seja, agir de forma correta,

    segundo um padro normal de conduta. A boa-

    f que rege os contratos a objetiva, pois

    mais segura, uma vez que no depende do que

    pensa o outro contratante, mas sim em verificar

    se o contratante agiu seguindo um

    comportamento normal das pessoas.

    O que um comportamento normal? Como

    saber se o contratante agiu seguindo um

    padro normal de conduta? o juiz que dir na

    anlise do caso concreto. Com efeito, vimos

    que a tendncia atual em matria de controle

    contratual o chamado dirigismo judicial dos

    contratos, em substituio da antiga

    prevalncia do dirigismo legal. Cabe ao juiz

    controlar os contratos, o que lhe permitido a

    partir do uso de clusulas gerais ou de

    conceitos jurdicos indeterminados, que so

    expresses vagas, reclamando suprimento da

    vacncia pelo aplicador do direito na anlise do

    caso concreto.

    o caso no s da funo social dos

    contratos, mas tambm da boa-f objetiva. A lei

    obriga as partes a agirem de boa-f, sem, no

    entanto, enumerar as condutas permitidas e

    proibidas sob esse aspecto. Esse papel caber

    ao juiz, que poder intervir em um contrato,

    podendo at resolv-lo, mesmo tendo sido

    observados os requisitos formais de validade

    em uma livre negociao entre particulares.

    Ateno: Conforme o art. 422 do CC, a boa-f

    deve nortear o comportamento dos

    contratantes no s no momento da concluso

    do contrato, mas tambm durante a sua

    execuo. o fundamento da chamada

    responsabilidade civil ps-contratual. s vezes,

    um contrato produz efeitos aps a sua

    celebrao, devendo a boa-f perdurar

    enquanto durarem esses efeitos.

    Imagine que uma pessoa compre um carro

    junto a uma concessionria. O carro quebra,

    mas no existe pea para reposio e o

    comprador no poder mais utiliz-lo. Ele

    poder pedir a resoluo do contrato alegando

    quebra da boa-f objetiva em razo de no ter

    informado fato que poderia ocorrer aps a

    execuo do contrato.

    Importante: embora no mencionado

    expressamente no art. 422 do CC, a boa- f

    deve nortear o comportamento dos

    contratantes at mesmo antes da proposta. o

    fundamento da chamada responsabilidade civil

    pr-contratual, que ser analisada a seguir nas

    consideraes sobre a formao dos contratos.

    Exemplo tpico a proibio da propaganda

    enganosa. O contrato celebrado a partir de

    uma propaganda enganosa poder ser

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    resolvido a requerimento da parte prejudicada,

    pois a boa-f j deve fazer-se presente mesmo

    durante as negociaes preliminares para uma

    futura contratao.

    4. PRELIMINARES

    O CC trata da teoria geral dos contratos a partir

    do seu art. 421, iniciando com questes

    preliminares. De todos os princpios vistos,

    trata do princpio da funo social dos

    contratos e da boa-f objetiva. A seguir, trata

    de trs temas: contrato de adeso, contratos

    atpicos e pacto sucessrio, o que passamos a

    abordar.

    4.1. Contratos de adeso

    Contrato de adeso o contrato elaborado

    unilateralmente por uma das partes

    contratantes, opondo-se ao contrato paritrio,

    em que elas elaboram conjuntamente as

    clusulas do contrato. No um negcio

    jurdico unilateral, pois o aderente, embora no

    tenha o poder de negociar as clusulas do

    contrato, tem que aceitar a proposta, no

    perdendo, portanto, sua natureza contratual de

    bilateralidade.

    O aderente parte mais fraca nessa relao

    contratual. Para garantir a isonomia material

    ou real, o CC lhe confere duas protees:

    a) Art. 423: quando houver no contrato de

    adeso clusulas ambguas ou contraditrias,

    deve ser adotada uma interpretao mais

    favorvel ao aderente.

    b) Art. 424: so nulas as clusulas em um

    contrato de adeso que estipulem a renncia

    do aderente de um direito seu resultante da

    prpria natureza do negcio. Exemplo: contrato

    de depsito aquele em que o depositante

    entrega temporariamente ao depositrio a

    guarda e conservao de um bem, que tem o

    dever de devolver o bem tal como recebido.

    Note que um direito do depositrio receber o

    bem tal como entregou ao depositrio. Sendo o

    estacionamento em estabelecimentos

    comerciais um contrato de depsito e de

    adeso, nula a clusula que diz no haver

    responsabilidade pelos objetos deixados no

    interior do veculo.

    4.2. Contratos atpicos

    O CC, nos arts. 481/853, trata da

    regulamentao das vrias espcies de

    contrato. No h como a lei prever todo tipo de

    contrato, pois este resulta do acordo de

    vontade das partes, que so livres para

    negociar de acordo com suas necessidades.

    Ademais, as alteraes da lei no conseguem

    acompanhar o surgimento de novos contratos

    em razo da dinmica social.

    Contratos tpicos so aqueles previstos e

    regulamentados em lei, enquanto que os

    contratos atpicos no os so. So lcitos os

    contratos atpicos em razo do princpio da

    autonomia da vontade. Que normas so

    aplicadas a eles, j que no h

    regulamentao especfica em lei? Nos termos

    do seu art. 425, as normas gerais do CC, tanto

    da sua parte geral quanto da teoria geral dos

    contratos, ora em estudo.

    4.3. Pacto Sucessrio

    Pacto sucessrio o contrato que tem por

    objeto herana de pessoa viva, sendo tambm

    chamado de pacta corvina ou pacto de abutres.

    Nos termos do art. 426 do CC, um contrato

    proibido por lei, sendo invlido se praticado. A

    questo : ser nulo ou anulvel? A lei probe a

    prtica sem dizer, no entanto, se nulo ou

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    anulvel, razo pela qual considerado nulo

    pela lei, conforme prev o art. 166, VII, do CC.

    Note no poder ser objeto de contrato herana

    de pessoa viva, ou seja, aps morte do de

    cujos, aps a abertura da sucesso, os

    herdeiros podem negociar seus quinhes

    hereditrios, mesmo antes da individualizao

    obtida ao fim do inventrio com o formal de

    partilha, sendo considerado por lei um contrato

    de bem imvel (art. 80, II, do CC).

    5. FORMAO DOS CONTRATOS

    O contrato se forma, em regra, quando a uma

    proposta se seguir uma aceitao, seja com o

    acordo de vontades das partes. Como

    exceo, temos os contratos reais, em que

    este acordo no suficiente para a formao

    do contrato, o que s ocorre com um ato

    posterior: a tradio, ou seja, a entrega do

    bem. o caso de trs tipos contratuais: mtuo,

    comodato e depsito.

    No confunda a formao do contrato com a

    sua validade. O contrato se formar significa

    passar a existir no mundo jurdico, obrigando

    as partes ao seu cumprimento, enquanto que

    ser vlido estar de acordo com a lei e,

    portanto, apto a produzir seus regulares

    efeitos. O art. 107 do CC prev que a validade

    dos contratos no exige forma especial, seno

    quando a lei exigir, ou seja, o contrato se forma

    com o simples acordo de vontades, mas, em

    alguns casos,

    sua validade reclama uma forma especial para

    produzir efeitos. Assim, destacando que em

    alguns casos deve haver uma forma especial

    do contrato, o que tratamos aqui do momento

    da sua formao, pois passando a existir no

    mundo jurdico, obriga as partes ao seu

    cumprimento, sob pena de responsabilidade

    civil contratual, ou seja, indenizao de perdas

    e danos em razo da mora ou do

    inadimplemento (tema tratado em obrigaes,

    para onde remetemos sua leitura).

    O CC trata do tema formao dos contratos

    nos arts. 427/435, mencionando a proposta e

    a aceitao. Todavia, a formao do contrato

    no composta apenas por esses dois atos.

    Normalmente existe uma fase prvia, de

    negociaes preliminares, chamada de fase de

    puntuao, que poder culminar na formulao

    de uma proposta, que, se aceita, formar o

    contrato. So as fases que passamos a

    estudar.

    5.1. Fase de puntuao e a responsabilidade

    pr-contratual

    Fase de puntuao a fase de negociaes

    preliminares que antecedem a proposta,

    marcada por conversaes prvias,

    ponderaes, reflexes, sondagens, clculos e

    estudos de viabilidade de negociao futura.

    Pode resultar, inclusive, em uma minuta

    contratual se alguns pontos acordados forem

    reduzidos a termo, ou seja, a escrito (difere da

    proposta, pois esta completa, uma vez bastar

    um sim para o contrato se formar).

    Sobrevindo uma proposta fase de puntuao,

    esta vincula o proponente, pois, se a outra

    parte a aceitar, o contrato estar formado e

    ambos estaro obrigados em seus termos. A

    questo : podemos falar em responsabilidade

    civil nesta fase de negociaes preliminares

    pela no concluso do contrato? Em regra no,

    pois no h qualquer problema em se iniciarem

    negociaes e se perceber a inviabilidade ou

    inconvenincia da contratao.

    Todavia, em alguns casos, pode haver

    responsabilidade civil extracontratual ou

    aquiliana, pois no h ainda um contrato,

    sendo chamada de responsabilidade civil pr-

    contratual.

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    Quando isso ocorre? Quando, nas negociaes

    preliminares, uma das partes cria na outra a

    justa expectativa de contratao e, sem

    qualquer justificativa, por mero capricho, no

    formaliza a proposta. O fundamento a quebra

    da boa-f objetiva na fase das negociaes

    preliminares. H um abuso de direito, que

    considerado pela lei ato ilcito a ensejar

    responsabilidade civil (art. 187 c/c art. 927,

    ambos do CC). Ora, ao criar a justa expectativa

    de contratao, legitima a outra parte a contrair

    gastos e at a recusar outras propostas,

    e no concluir o contrato sem qualquer

    justificativa causar o que chamamos de dano

    de confiana, em razo da quebra da boa f

    objetiva, que deve nortear o comportamento

    dos contratantes at mesmo antes da proposta.

    Como exemplo, cito um caso cobrado na prova

    organizada pela FGV. Imagine que durante

    anos um fabricante de extrato de tomate

    distribui gratuitamente sementes de tomate

    entre agricultores de uma regio, procurando-

    os na poca da colheita para celebrar com eles

    contrato de compra e venda de toda a

    produo de tomate. No dcimo ano distribuiu

    as sementes, mas no apareceu para compra

    da safra. Procurada pelos agricultores,

    recusou-se, sem qualquer justificativa,

    a celebrar o contrato. Nesse caso, h

    responsabilidade civil pr-contratual aquiliana

    do fabricante de extrato de tomate, tendo que

    indenizar os agricultores em razo dos

    prejuzos que resultaram da no contratao,

    como os custos da produo e eventual recusa

    de venda para outros compradores.

    O fundamento da responsabilidade pr-

    contratual a violao do princpio da boa-f

    objetiva nessa fase de negociaes

    preliminares anterior proposta, pois o

    fabricante criou nos agricultores a justa

    expectativa de contratao e, sem qualquer

    justificativa, por mero capricho, no formalizou

    a proposta de compra e venda.

    5.2. Pr-contrato ou contrato preliminar

    O pr-contrato, tambm chamado de contrato

    preliminar ou pacto de contrahendo, um

    contrato em que as partes assumem a

    obrigao de celebrar um contrato definitivo no

    futuro, por no ser possvel a contratao

    agora ou por no ser o melhor momento.

    Exemplo: Um time de futebol quer contratar um

    jogador. No pode celebrar um contrato

    definitivo agora, pois ele tem contrato em vigor

    com outro clube. No entanto, podero celebrar

    um pr-contrato, em que se obrigam a

    contratar ao trmino do contrato em vigor.

    Caso o jogador negocie seu passe com outro

    clube ou este no queira mais contrat-lo,

    haver descumprimento do contrato, devendo

    arcar com perdas e danos, que provavelmente

    vir pr-fixada em uma clusula penal.

    Importante: O pr-contrato deve ter os mesmos

    elementos do contrato definitivo, exceo de

    um deles: a forma. As partes e o objeto so os

    mesmos, mas a forma no precisa ser a

    mesma. Se o contrato definitivo tem que ser

    por escritura pblica, nada impede que o pr-

    contrato seja por instrumento particular.

    Qual a importncia do pr-contrato? Em

    princpio, a responsabilidade civil na fase de

    negociaes preliminares extracontratual,

    pois ainda no h um contrato. No entanto, se

    celebrarem um pr-contrato, as partes

    transformaro essa responsabilidade pr-

    contratual em contratual antes mesmo da

    celebrao do contrato definitivo, pois o pr-

    contrato um contrato. Qual a vantagem? A

    parte prejudicada no precisar provar a culpa

    do inadimplente no descumprimento do

    contrato nem tampouco o dano, seja sua

    prpria existncia, seja a sua extenso. Voc

    lembra o que vimos a respeito do tema?

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    Lembrando: tanto a responsabilidade civil

    extracontratual (em regra) como a contratual

    so subjetivas, mas esta tem culpa presumida.

    Assim, se o caso de responsabilidade

    contratual, basta ao contratante prejudicado

    provar o inadimplemento, sem precisar provar

    que o outro teve culpa no descumprimento do

    contrato (este poder elidir sua

    responsabilidade provando no ter tido culpa,

    pois a presuno de culpa relativa, admitindo

    prova em contrrio, o que representa inverso

    do nus da prova). Por outro lado,

    se caso de responsabilidade civil

    extracontratual subjetiva, a vtima do dano, ao

    cobrar perdas e danos, dever provar que o

    agressor teve culpa em caus-lo. Assim sendo,

    a responsabilidade civil contratual mais

    vantajosa para quem sofre o dano, pois no

    precisar provar o difcil elemento subjetivo da

    culpa. Alm disso, como h um contrato,

    podemos pr-fixar as perdas e danos em uma

    clusula penal, dispensando a parte

    prejudicada de provar no s o dano, mas,

    sobretudo, a sua extenso.

    No supramencionado exemplo da compra dos

    tomates, o fabricante, por ser fase anterior

    proposta, tem responsabilidade civil

    extracontratual, somente sendo

    responsabilizado civilmente se os agricultores

    provarem a justa expectativa de contratao e

    a recusa sem qualquer justificativa, mas

    tambm a sua culpa na no celebrao do

    contrato.

    No entanto, se na fase de negociaes

    preliminares, as partes reduzirem as bases do

    contrato a escrito em um pr-contrato, bastaro

    provar que o fabricante assinou um pr-

    contrato e que houve inadimplemento, alm de

    sequer precisar provar o dano e a sua

    extenso, pois podero executar direto a

    clusula penal.

    O mesmo ocorre no exemplo da contratao do

    jogador de futebol. Se o clube apenas

    conversa em negociaes preliminares,

    acertando as bases de um futuro contrato,

    pode ser que, ao final do contrato em vigor, o

    atleta quebre a confiana e resolva permanecer

    no clube que est ou contratar com outro. Para

    responsabiliz-lo civilmente, dever provar que

    o atleta no contratou culposamente, mas, se

    assinar um pr-contrato, bastar comprovar o

    inadimplemento, sem sequer precisar provar o

    dano e a sua extenso.

    5.3. A proposta

    O contrato se forma quando a uma proposta se

    seguir uma aceitao. raro uma pessoa

    fazer uma proposta e a outra simplesmente a

    aceitar, pois normal se sucederem

    sucessivas contrapropostas at culminar em

    uma aceitao final. Essa fase de sucessivas

    contrapropostas a partir de uma proposta

    chamada de fase de policitao ou fase de

    oblao.

    Isso d nome aos atores envolvidos: quem faz

    a proposta chamado de proponente ou de

    policitante e quem a aceita chamado de

    aceitante ou de oblato.

    Na fase de policitao, no deixa de haver uma

    negociao entre as partes, o que j acontece

    na fase de puntuao. Ora, qual a diferena

    entre a fase de puntuao e a fase de

    policitao na formao dos contratos? a

    existncia de uma proposta. A fase de

    puntuao a fase de negociaes

    preliminares, ou seja, anterior proposta. J a

    fase de policitao se d aps a proposta,

    sucedendo-se sucessivas contrapropostas.

    A pergunta se mantm: como saber se uma

    conversa entre as partes j configura uma

    proposta ou apenas negociaes preliminares,

    que at pode resultar em uma minuta, se

    reduzido a termo? a seriedade da proposta.

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    Significa que a proposta pronta e acabada,

    abordando todos os elementos do contrato,

    pois basta um sim para a formao do contrato.

    Se isso j existe, fase de policitao; se

    ainda no existe, sendo conversados apenas

    alguns pontos do contrato, a fase de

    puntuao.

    O aspecto mais importante da proposta o seu

    aspecto vinculatrio, ou seja, a proposta

    obriga o proponente. Se eu fao uma proposta,

    crio na outra parte a justa expectativa de

    contratao, que pode lev-la a contrair gastos

    e at a recusar outras propostas. Feita a

    proposta, o proponente a ela se obriga, ou

    seja, se houver aceitao, no poder alegar

    desistncia ou arrependimento, podendo o

    aceitante pedir em juzo a execuo forada do

    contrato ou indenizao por perdas e danos.

    J responsabilidade civil contratual, pois com

    a aceitao o contrato se formou, passando a

    existir no mundo jurdico. A proposta s obriga

    o proponente e a aceitao passa a obrigar

    ambas as partes.

    A questo : a proposta sempre obriga o

    proponente? No, pois nos termos do art. 427

    do CC a proposta no obriga o proponente em

    trs casos:

    a) Se isso resultar dos termos da proposta: se

    no prprio corpo da proposta vier expressa a

    no obrigatoriedade, no cria justa expectativa

    de contratao na outra parte.

    b) A depender da natureza do negcio: h

    certos negcios jurdicos que, por sua

    natureza, no obrigam o proponente, como

    proposta de venda de produto com quantidade

    limitada em estoque, a partir do fim do estoque.

    c) A depender de determinadas circunstncias:

    existem certas circunstncias que fazem com

    que a proposta deixe de ser obrigatria,

    estando elas elencadas no art. 428 do CC - a

    primeira delas para contrato entre presentes e

    as trs restantes para contrato entre ausentes,

    a saber:

    (i) se feita proposta sem prazo pessoa

    presente e esta no foi imediatamente aceita;

    (ii) se feita proposta sem prazo a pessoa

    ausente e tiver decorrido tempo suficiente para

    chegar a resposta ao conhecimento do

    proponente;

    (iii) se feita proposta com prazo pessoa

    ausente e esta no expedir a resposta no

    prazo;

    (iv) se feita uma proposta entre ausentes e

    antes dela ou simultaneamente chegar ao

    conhecimento da outra parte a sua retratao.

    A proposta fixa o local de formao do contrato

    (art. 435 do CC). A importncia em saber o

    local de sua formao determinar qual lei

    ser aplicada ao contrato.

    5.4. A aceitao

    Se a proposta obriga apenas o proponente, a

    aceitao vincula tambm o aceitante, pois ela

    faz o contrato se formar, passando a existir no

    mundo jurdico, estando ambas as partes

    obrigadas ao seu cumprimento nos termos da

    responsabilidade civil contratual.

    A aceitao pode ser expressa ou tcita.

    Expressa a aceitao inequvoca, podendo

    ser escrita, verbal ou at gestual (ex. leilo).

    Tcita a aceitao presumida pela prtica de

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    13

    um ato incompatvel com a no aceitao.

    Exemplo: doao de vaso no aceita de forma

    expressa, mas o donatrio manda busc-lo na

    casa do doador e o coloca exposto em sua

    sala. por isso que o art. 111 do CC prev que

    o silncio, embora no seja a regra, at pode

    valer como aceitao, mas apenas quando as

    circunstncias indicarem que a pessoa aceitou

    tacitamente e, evidente, a lei no exija

    aceitao expressa.

    Conforme visto, a proposta obriga o

    proponente. No entanto, essa obrigatoriedade

    no eterna, mas sim pelo prazo dado. Se

    houver aceitao fora do prazo ou at mesmo

    com modificaes, o proponente no

    obrigado a concordar, mas se quiser poder

    aceit-la. Por isso, dizemos que a aceitao

    fora do prazo ou com modificaes tem

    natureza de nova proposta.

    O contrato se forma quando a uma proposta se

    seguir uma aceitao. Se o contrato entre

    presentes, fcil ser determinar o momento,

    pois proposta e aceitao se do em tempo

    real. E se o contrato for entre ausentes, quando

    se d sua formao? Em regra, quando a

    aceitao expedida, pois quando o

    aceitante perde o controle de sua vontade.

    Como exceo, o contrato entre ausentes se

    forma quando a resposta chegar ao

    proponente, se assim convencionado entre as

    partes.

    6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS

    A TERCEIROS

    Em razo do princpio da relatividade de seus

    efeitos, o contrato s atinge as partes, ou seja,

    s quem parte pode ter direito e deveres que

    dele decorrem. Todavia, h trs contratos em

    que um terceiro por ele atingido, pois tero

    direitos e deveres decorrentes de um contrato

    em que no celebraram originariamente:

    6.1. Estipulao em favor de terceiro: o

    contrato em que um dos contratantes estipula

    um terceiro para quem o outro contratante

    dever cumprir a prestao. um terceiro ao

    contrato tendo um direito dele decorrente.

    Exemplo: contrato de compra e venda em que

    o estipulante determina a entrega do bem para

    um beneficirio. Se a prestao no for

    cumprida, o estipulante poder exigi-la em

    juzo.

    O beneficirio tambm tem esse poder, desde

    que no haja essa restrio no contrato. Caso

    tenha sido retirado do beneficirio esse poder,

    poder o estipulante exonerar o devedor de

    cumprir a prestao. E a substituio do

    beneficirio possvel? Sim, independente da

    anuncia dele e do outro contratante, se

    reservar esta faculdade no contrato.

    6.2. Promessa de fato de terceiro: o contrato

    em que um dos contratantes promete que um

    terceiro cumprir a prestao para o outro

    contratante. terceiro ao contrato com um

    dever dele decorrente. Exemplo: contrato por

    meio do qual uma das partes promete que seu

    irmo, um cantor famoso, conceder uma

    entrevista exclusiva a um programa de rdio.

    Se o terceiro no cumprir a prestao,

    o promitente responde por perdas e danos,

    mesmo que tenha feito todos os esforos para

    o cumprimento da prestao. O promitente no

    responder, mas sim o terceiro, se este aceitar

    a prestao e depois no cumpri-la. Ademais, o

    promitente no responde pelo descumprimento

    da prestao do terceiro se, pendendo sua

    aceitao, forem casados e, a depender do

    regime de bens do casamento, a cobrana

    sobre o promitente recair de alguma forma

    sobre o terceiro.

    6.3. Contrato com pessoa a declarar: o

    contrato em que um dos contratantes pode

    indicar uma pessoa que ir assumir a sua

    posio no contrato. um terceiro ao contrato

    tendo direitos e deveres que dele decorrem.

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    14

    Exemplo: uma pessoa quer comprar uma casa,

    cujo dono jamais lhe vender por problemas

    pessoais, podendo se valer de uma pessoa

    para contratar com o proprietrio, inserindo no

    contrato clusula que lhe permite indic-lo a

    assumir sua posio no contrato.

    Essa indicao deve ser feita em cinco dias, se

    outro prazo no for estipulado, mas tem efeito

    retroativo data da celebrao do contrato,

    pois o indicado assume os direitos e deveres

    do contrato desde a sua celebrao e no

    apenas a partir da sua nomeao. Esse

    contrato exige muita confiana entre quem

    indicar e quem ser indicado, pois se no

    houver nomeao ou se esta no for aceita

    pelo indicado, o contrato produz efeitos entre

    os contratantes originrios.

    7. GARANTIAS IMPLCITAS IMPOSTAS AO

    ALIENANTE

    Quando uma pessoa aliena um bem, deve

    garantir ao adquirente, em nome da boa-f

    objetiva, o seu normal uso e fruio, bem como

    a garantia de que no o perder para terceiros

    por razes de direito. Assim sendo, o alienante

    responde perante o adquirente do bem tanto

    por defeitos materiais como por defeitos

    jurdicos.

    O alienante, responder por defeito material

    responder por vcio redibitrio, ou seja, o bem

    apresenta um defeito fsico que o torna intil ao

    seu uso ou que lhe diminui o valor. Por sua

    vez, responder por defeito jurdico responder

    pela evico, ou seja, quem alienou o bem no

    poderia t-lo feito e o adquirente o perdeu para

    um terceiro, podendo buscar uma indenizao

    do alienante.

    Procederemos aqui ao estudo em separado do

    vcio redibitrio e da evico. No entanto, de

    plano, merecem destaque trs observaes

    comuns a ambos os institutos, pois so

    questes muito recorrentes em prova e que

    merecem sua especial ateno:

    a) O alienante responde por eles mesmo que

    no haja previso expressa em contrato, pois

    so garantias implcitas, que decorrem de lei e

    no da vontade das partes.

    b) O alienante responde por eles apenas diante

    de alienaes onerosas. Ateno: a doao

    uma alienao gratuita, mas o alienante

    responder por eles quando a doao for com

    encargo, o que a lei chama de doao onerosa.

    c) O alienante responde por eles mesmo que a

    aquisio do bem tenha se dado em hasta

    pblica, ou seja, atravs da venda pblica de

    bem penhorado em processo de execuo.

    7.1. Vcios Redibitrios

    Aqui a responsabilidade diante da existncia

    de defeitos materiais, ou seja, o bem est

    quebrado. Importante voc no confundir a

    disciplina civil dos vcios redibitrios com a

    disciplina consumerista. Sendo o CDC uma lei

    especial em relao ao CC, s aplicamos suas

    regras quando inaplicveis as regras do CDC.

    Quando, ento, aplicamos as regras dos vcios

    redibitrios previstas no CC? Quando no

    houver relao de consumo,

    o que ocorre em dois casos: (i) quando o

    alienante no fornecedor, como ocorre na

    venda ocasional de um bem usado, pois ser

    fornecedor exige habitualidade da negociao;

    e (ii) quando o adquirente no for consumidor,

    como ocorre no caso de algum adquirir um

    bem para renegociao, pois o CDC afirma que

    s consumidor quem adquire um bem como

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    15

    destinatrio final. Aqui nos concentraremos na

    disciplina civil do tema, deixando as regras da

    relao de consumo para um estudo especfico

    do tema.

    Por definio, vcios redibitrios so defeitos

    ocultos que tornam o bem imprprio para o

    uso a que se destina ou que lhe diminuem o

    valor. Note que na disciplina civil, diferente da

    relao de consumo, o alienante s responde

    por defeitos ocultos, ou seja, que no poderia

    ter sido facilmente detectado pelos rgos dos

    sentidos, pois se o vcio era aparente,

    presume-se que o adquirente o admitiu, pois

    dele ciente.

    Note que o vcio redibitrio um defeito

    material que pode tornar o bem imprprio para

    o seu uso ou que pode apenas lhe diminuir o

    valor. Portanto, haver vcio redibitrio tanto no

    defeito oculto em um motor de um carro que o

    faz no mais funcionar, como tambm no

    defeito oculto de uma mquina que produz

    determinado produto, diminuindo a sua

    produo, embora ela ainda funcione. Assim

    sendo, o adquirente pode reclamar do vcio

    redibitrio em juzo optando por uma de duas

    aes judiciais:

    a) Ao Redibitria: ao judicial em que se

    pede para redibir o contrato, ou seja, desfazer

    o negcio jurdico. Trata-se de anulao e no

    de declarao de nulidade, pois a lei impe

    prazo para reclam-lo, sob pena de

    convalescimento.

    b) Ao Quanti Minoris ou Ao Estimatria:

    ao judicial em que se pede abatimento do

    preo, ou seja, o adquirente quer permanecer

    com o bem, mas quer devoluo do valor da

    desvalorizao em razo do defeito oculto ou,

    se ainda no pagou, descont-lo quando do

    pagamento. Nessa ao se apura o valor a ser

    abatido do preo, o que justifica o seu nomem

    iuris: estimar quanto menos vale o bem.

    Detalhe importante para a prova: o alienante

    responde por vcios redibitrios estando ele de

    m-f ou at mesmo de boa-f, ou seja,

    sabendo ou no do defeito oculto. A diferena

    que apenas diante da m-f ser obrigado a

    indenizar perdas e danos. Nos termos do art.

    443 do CC, se o alienante agiu de boa-f,

    apenas ressarcir o adquirente dos gastos que

    teve com o negcio em si, ou seja,

    devoluo do valor recebido e ressarcimento

    das despesas do contrato. Se o alienante

    procedeu de m-f, no s devolver o valor

    recebido, mas tambm indenizar o adquirente

    de todas as perdas e danos decorrentes do

    vcio redibitrio.

    Qual o prazo que tem o adquirente para

    reclamar vcio redibitrio em juzo? Depende

    do bem adquirido: trinta dias para bem mvel e

    um ano para bem imvel. A princpio, o prazo

    se inicia quando da entrega efetiva do bem e

    no quando da alienao, pois s com o seu

    uso que ele consegue perceber o defeito

    oculto. No entanto, se o adquirente j tinha a

    posse do bem, o prazo se iniciar quando da

    prtica do ato, pois quando adquire

    legitimidade para reclamao em juzo, mas os

    prazos sero reduzidos metade,

    por j ter tido contato com o bem. Alm disso,

    se for um defeito oculto que por sua natureza

    seja de difcil percepo, o prazo s se inicia

    quando o adquirente dele tiver cincia.

    Todavia, a lei confere um prazo mximo para

    cincia do defeito a se somar ao prazo de

    reclamao: cento e oitenta dias para bem

    mvel e um ano para bem imvel.

    Por fim, no se esquea que eventual prazo de

    garantia convencional oferecida pelo alienante

    no substitui o prazo de garantia legal, mas sim

    a ele se soma, pois, se houver garantia

    convencional, o prazo de garantia legal s se

    inicia quando este for encerrado.

    7.2. Evico

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    16

    Evico a perda ou desapossamento judicial,

    ou excepcionalmente administrativo, de um

    bem, em razo de um defeito jurdico anterior

    alienao. Quem alienou o bem no poderia t-

    lo feito, e o adquirente o perdeu, tendo ao de

    indenizao contra o alienante. O adquirente

    que perde o bem o evicto, e o terceiro que

    dele o toma o evictor.

    Exemplo: estelionatrio invade terreno e,

    falsificando a escritura pblica, vende-o. O

    verdadeiro dono ajuza ao reivindicatria

    reclamando seu terreno. Ao se constatar a

    falsidade da escritura pblica, o comprador

    perder judicialmente o imvel, o que

    chamamos de evico, tendo apenas direito

    indenizatrio contra o alienante.

    Note que a evico pode se dar

    excepcionalmente atravs de uma perda

    administrativa do bem, pois, em alguns casos,

    a jurisprudncia do STJ tem admitido a evico

    independente de deciso judicial. Destaque

    para o caso em que h apreenso policial da

    coisa em razo de furto ou roubo anterior

    alienao, podendo o caso ser resolvido no

    prprio mbito da delegacia. Exemplo: ladro

    que vende carro roubado, sendo o evicto

    parado em uma blitz e o carro levado

    delegacia e devolvido ao seu real dono.

    Informao importante para a sua prova: Nos

    termos do art. 448 do CC, as partes podem

    por clusula expressa reforar, diminuir ou at

    excluir a responsabilidade do alienante pela

    evico. Cuidado, pois a excluso s valer se

    o evicto foi informado do risco da evico e o

    tenha assumido (art. 449 do CC).

    Ao perder o bem, o evicto poder cobrar

    indenizao do alienante. A regra o

    ressarcimento da integralidade do dano do

    evicto, o que lhe permite cobrar do alienante

    no s a devoluo do que pagou pelo bem,

    como tambm as perdas e danos em razo da

    evico, os frutos que eventualmente tenha

    sido obrigado a restituir ao evictor e o que

    gastou com custas judiciais e honorrios

    advocatcios (art. 450 do CC).

    Ainda dentro da regra da indenizao da

    integralidade do dano, o alienante responder

    perante o evicto por eventual valorizao do

    bem entre a poca da alienao e da evico.

    Se o bem se desvalorizou, o evicto cobrar do

    alienante o preo que lhe pagou, mas se

    houver valorizao, cobrar o valor do bem da

    poca em que se evenceu, ou seja, da poca

    em que perdeu o bem pela evico.

    Mais uma vez, ainda dentro da regra da

    indenizao da integralidade do dano, ainda

    que o bem esteja deteriorado, o evicto poder

    cobrar do alienante o valor total do bem, a

    menos que tenha sido causado dolosamente

    por ele, quando s poder cobrar do alienante

    o valor que passou a valer o bem. Note que, se

    a ttulo de culpa em sentido estrito a

    deteriorao, ainda assim o evicto cobrar do

    alienante o valor integral do bem.

    Conforme ser visto no estudo da posse no

    captulo de direitos reais deste livro, para onde

    remetemos a sua leitura, o possuidor que

    realiza benfeitorias no bem e vem a perd-lo,

    tem direito de ser indenizado quando as

    benfeitorias forem necessrias e teis. o

    caso que ocorre aqui, pois o evicto tem a posse

    do bem e a perde para o evictor.

    Assim, se ele realizou benfeitorias necessrias

    ou teis no bem antes da perda, poder

    reclamar indenizao do evictor. O art. 453 do

    CC diz que o evicto pode cobrar do alienante o

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    17

    que gastou com benfeitorias necessrias e

    teis, se no foram abonadas, ou seja, se no

    foram pagas pelo evictor. No entanto, completa

    o art. 454 do CC, se as benfeitorias foram

    feitas pelo alienante e abonadas, ou seja,

    pagas ao evicto pelo evictor, o valor ser

    deduzido quando o evicto cobrar a indenizao

    do alienante.

    Para cobrar o direito que da evico lhe

    resulta, o evicto poder denunciar ao alienante

    da lide, para, em caso de sentena decretando

    a perda do bem, j determine o juiz na

    sentena a indenizao por ele devida ao

    evicto. Em havendo sucessivas vendas antes

    de o dono reclamar o bem, poder o evicto

    cobrar indenizao no s do alienante

    imediato, mas tambm qualquer dos anteriores

    (art. 456 do CC).

    Por fim, fechando o tema evico, precisamos

    entender o que evico parcial, tema que

    tratado no art. 455 do CC. Haver evico

    parcial quando o evicto perder apenas parte do

    que adquiriu na alienao, por exemplo,

    quando compra cem cabeas de gado e perde

    vinte ou trinta delas pela evico. Qual a

    consequncia? Depende se a evico

    considervel ou irrisria, pois uma coisa

    perder uma ou duas cabeas de gado, outra

    perder noventa delas. Se a perda for

    considervel,

    o evicto pode pedir a resciso do contrato ou

    restituio da parte do preo correspondente

    ao desfalque sofrido, ou seja, devolver o que

    sobrou e cobrar devoluo do que pagou ou

    ficar com o que sobrou e cobrar apenas o

    equivalente sua perda. Se, no entanto, a

    perda for irrisria, s poder o evicto cobrar a

    indenizao pela perda sofrida, permanecendo

    com o que sobrou.

    8. EXTINO DO CONTRATO

    Extino do contrato o fim de sua existncia,

    a sua morte, o seu desaparecimento do

    mundo jurdico. Extino o gnero, que

    contempla vrias espcies, pois a expresso

    mais ampla para o fim do contrato, seja pela

    causa que for.

    Quando falamos em extino do contrato, esta

    pode se dar, em princpio, por duas formas

    diferentes: por causa anterior ou superveniente

    formao do contrato.

    Se a causa de extino do contrato anterior

    ou at concomitante sua formao, temos

    um caso de imperfeio do contrato, pois ele j

    nasceu viciado. Nesse caso, o contrato

    invlido, podendo ele ser nulo ou anulvel, a

    depender do vcio. No tema para aqui ser

    visto, pois assunto da parte geral do direito

    civil, para onde remetemos sua leitura.

    Se a causa de extino do contrato

    superveniente sua formao, estamos

    tratando de um contrato perfeito, ou seja, que

    se formou de forma vlida, no sendo caso de

    nulidade nem de anulabilidade. O contrato

    perfeito pode ser extinto de duas formas

    diferentes: por execuo ou por inexecuo do

    contrato.

    Execuo do contrato quando ele

    cumprido, o que pode ocorrer pelo pagamento

    ou at pelas formas anormais de extino das

    obrigaes, quais sejam: pagamento em

    consignao, pagamento com sub-rogao,

    novao, imputao ao pagamento, dao em

    pagamento, compensao, confuso ou

    remisso. Tambm no tema para aqui ser

    tratado, pois assunto de obrigaes, para

    onde remetemos a sua leitura.

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    18

    O caso de inexecuo quando no h

    cumprimento de um contrato perfeito, que o

    tema que aqui estudamos. Perceba a

    impropriedade do CC ao tratar do tema sob o

    ttulo da extino dos contratos, quando, na

    verdade, deveria t-lo intitulado de inexecuo

    dos contratos ou at mesmo da extino dos

    contratos pela inexecuo.

    A inexecuo pode causar trs tipos de

    extino do contrato: resilio, resoluo e

    resciso. Vamos definir cada um dos institutos,

    para em seguida aprofundar o estudo.

    a) Resilio: extino do contrato por vontade

    de um ou de ambos os contratantes, ou seja,

    quando eu termino o contrato porque quero ou

    quando terminamos porque queremos, sem ter

    qualquer razo jurdica para isso. Exemplo:

    celebrei contrato de aluguel pelo prazo de trs

    anos e decido resili-lo com dois anos por

    questo pessoal.

    b) Resoluo: extino do contrato em razo

    do inadimplemento da outra parte, ou seja, um

    dos contratantes no cumpre o contrato,

    legitimando a outra parte pedir sua resoluo.

    Exemplo: mesmo contrato de aluguel de trs

    anos, resolvido pelo locador em razo do

    inquilino no pagar o aluguel.

    c) Resciso: no h consenso na doutrina

    sobre o significado de resciso do contrato.

    Muitos usam o termo resciso como sinnimo

    de extino do contrato, at mesmo por causa

    antecedente, sendo, inclusive, o sentido que

    caiu no gosto popular, que s fala em resciso

    do contrato quando este chega ao fim. Autores

    clssicos, como Orlando Gomes e Caio Mrio,

    no entanto, com base na doutrina italiana,

    ensinam que resciso em sentido tcnico s

    ocorre quando um contrato extinto em caso

    de leso ou de estado de perigo.

    Modernamente, esse no o entendimento,

    at porque so defeitos do negcio jurdico,

    portanto, causas antecedentes ou

    concomitantes formao do contrato, caso de

    invalidade e no de inexecuo, quando

    pressupomos um contrato perfeito. Outros

    autores mencionam resciso como uma

    espcie de resoluo do contrato, significando

    a resoluo culposa ou voluntria, ou seja,

    quando o contrato extinto por inadimplemento

    culposo do outro contratante. O conselho

    evitar o uso do termo resciso, pois, como no

    h consenso, um risco desnecessrio em

    prova.

    8.1. Resilio do contrato

    Conforme visto, resilio do contrato ocorre

    quando h extino do contrato unicamente

    em razo da vontade das partes. A resilio

    pode ser unilateral ou bilateral, a depender se a

    vontade de apenas um dos contratantes ou

    de ambos. No se discute aqui culpa da parte

    fazendo surgir uma causa de extino do

    contrato, pois no h causa jurdica que motive

    o seu fim, simplesmente no quero ou no

    queremos mais.

    a) Resilio unilateral: ocorre quando apenas

    uma das partes no quer mais manter o

    contrato, sem precisar externar qualquer razo

    para isso. O art. 473 do CC diz que se opera

    mediante denncia notificada outra parte, ou

    seja, o contratante deve notific-la

    formalmente. A resilio unilateral do contrato

    pode se dar quando a lei permitir ou quando

    houver expressa previso no contrato. H

    casos em que a lei permite a resilio unilateral

    do contrato, razo pela qual no ser devedor

    em perdas e danos outra parte. Por

    exemplo:

    o direito de revogao de contrato de mandato.

    Pode a lei no permiti-la, mas a vontade das

    partes sim, quando inserem no contrato

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    19

    clusula permissiva, podendo ou no ser fixada

    uma multa a ser paga ao outro contratante se

    esta ocorrer. Se no houver previso legal nem

    contratual, a parte no poder unilateralmente

    resilir o contrato, podendo ser o caso de

    reclamao judicial para sua execuo forada.

    Exemplo: contrato de locao em que h

    previso apenas para o locatrio o resilir, tendo

    o locador que esperar o fim do contrato pela

    total execuo.

    b) Resilio bilateral: ocorre quando a extino

    do contrato se d unicamente por vontade, mas

    de ambas as partes, sendo chamado de

    distrato. um acordo das partes, pondo vim

    avena contratual, sem se externar qualquer

    causa para isso, razo pela qual, em princpio,

    nenhuma das partes deve qualquer

    indenizao ao outro contratante.

    Importante sobre o tema o art. 472 do CC,

    que diz que o distrato dever ser feito na

    mesma forma exigida para ser feito o contrato.

    Como exemplo, se o contrato de compra e

    venda de um imvel de valor superior a trinta

    salrios mnimos deve ser por escritura pblica,

    o distrato assim tambm deve ser.

    8.2. Resoluo do contrato

    Resoluo do contrato a sua extino em

    razo do inadimplemento ou da mora da outra

    parte. Aqui o contrato no termina apenas em

    razo da vontade das partes, pois h uma

    causa que autoriza uma delas a pedir sua

    extino: o no cumprimento do contrato.

    Esse descumprimento pode ser com culpa ou

    sem culpa do contratante inadimplente, o que

    faz com que existam dois tipos de resoluo do

    contrato: com culpa (voluntria) ou sem culpa

    (involuntria). A grande diferena que no

    caso de resoluo culposa, o inadimplente ser

    devedor de perdas e danos junto com a

    resoluo, o que no ser devido quando a

    resoluo no for culposa. Perceba que aqui

    falamos de mora e de inadimplemento, tema

    que abordamos no estudo das obrigaes

    neste livro,

    valendo lembrar que s h mora e

    inadimplemento indenizveis em perdas e

    danos quando com culpa do devedor, pois, se

    sem culpa, apenas haver resoluo do

    contrato.

    Clusula resolutria a clusula que permite

    ao contratante resolver o contrato diante do

    inadimplemento da outra parte. O contrato

    pode trazer uma clusula resolutria expressa,

    mas esta tambm pode ser implcita aos

    contratos. Quando isso ocorre?

    Todo contrato bilateral tem implcita a clusula

    resolutria. A razo que todo contrato

    bilateral sinalagmtico, o que significa que a

    prestao de uma das partes causa da

    prestao da outra parte. Como uma das

    partes s cumpre a sua prestao porque a

    outra cumpre a sua, o descumprimento

    autoriza a outra parte pedir a resoluo do

    contrato, mesmo que no tenha nele clusula

    permissiva expressa.

    Sendo contrato unilateral ou plurilateral,

    necessria a clusula resolutiva expressa no

    contrato, para que uma das partes possa pedir

    a resoluo em razo do inadimplemento ou

    mora da outra parte.

    H vantagem da clusula resolutria expressa

    em relao implcita, o que justifica sua

    insero inclusive no contrato bilateral. Vindo

    expressa no contrato, haver extino

    automtica do contrato em caso de

    inadimplemento, enquanto que, se implcita,

    depende de interpelao judicial (art. 474 do

    CC). Alm disso, vindo expressa no contrato, j

    se insere clusula penal prefixando o valor da

    indenizao por perdas e danos.

    8.2.1. Exceo de contrato no cumprido

    (exceptio non adimplenti contractus)

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    20

    Se uma das partes inadimplente, legitima a

    outra a pedir a resoluo do contrato. Agora,

    imagine que antes disso o inadimplente ajuze

    uma ao cobrando o cumprimento da

    prestao da outra parte. O que ela poder

    fazer? Sendo um contrato bilateral, poder

    alegar a exceo de contrato no cumprido, ou

    seja, que no cumprir sua prestao em razo

    do autor da ao no ter cumprido a sua.

    A razo j foi exposta: como o contrato bilateral

    sinalagmtico, a prestao de uma das

    partes causa da prestao da outra parte,

    razo pela qual quem no cumpre a sua

    prestao no pode exigir o cumprimento da

    prestao da outra parte (art. 476 do CC).

    8.2.2. Resoluo sem culpa ou involuntria

    A extino do contrato se d pelo

    inadimplemento da outra parte, sem ela ter

    tido culpa no descumprimento contratual. Aqui

    no h indenizao por perdas e danos, mas

    apenas resoluo do contrato, pois o

    contratante quer cumprir o contrato, mas no

    consegue. Isso ocorre em dois casos: caso

    fortuito ou motivo de fora maior e no caso de

    aplicao da teoria da impreviso ou da

    onerosidade excessiva.

    a) Caso fortuito ou motivo de fora maior: so

    situaes inevitveis, insuperveis, que

    impedem o contratante de cumprir sua

    prestao. Imagine contrato de compra e

    venda de produto agrcola, que no pde ser

    entregue em razo de violenta tempestade que

    destruiu toda a plantao. No h culpa no

    inadimplemento, havendo simples resoluo do

    contrato, retornando as partes ao estado em

    que se encontravam antes de sua celebrao,

    sem direito de indenizao da parte

    prejudicada.

    Cuidado: h dois casos em que haver

    resoluo sem culpa do contratante

    inadimplente, por decorrer de caso fortuito ou

    motivo de fora maior, mas que haver dever

    indenizar o outro contratante em perdas e

    danos, o que j foi visto neste livro, em

    obrigaes, para onde remetemos sua leitura:

    (i) quando houver previso expressa no

    contrato impondo o dever de indenizar perdas

    e danos pelo seu descumprimento, mesmo em

    razo de caso fortuito ou motivo de fora maior

    (art. 393 do CC); e

    (ii) quando a impossibilidade da prestao se

    d por caso fortuito ou motivo de fora maior

    que ocorre durante a mora do contratante (art.

    399 do CC).

    b) Teoria da impreviso ou da onerosidade

    excessiva: o tema j foi visto neste livro, neste

    captulo dos contratos, quando do estudo do

    princpio da obrigatoriedade mitigado pela

    clusula rebus sic stantibus, para onde

    remetemos a sua leitura. resoluo do

    contrato sem culpa, pois acontece fato

    superveniente e imprevisvel que desequilibra

    economicamente o contrato, legitimando o

    pedido de resoluo do contrato pelo fato da lei

    no exigir mais o seu cumprimento.

    8.2.3. Resoluo com culpa ou voluntria (que,

    para alguns autores, a resciso)

    A extino do contrato se d pelo

    inadimplemento da outra parte, tendo ela culpa

    no descumprimento do contrato. Exemplo:

    contrato de aluguel resolvido em razo do

    inquilino no ter pago o aluguel porque no

    quis ou porque foi negligente.

    A diferena para a resoluo no culposa

    que aqui o inadimplente, alm de suportar a

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    21

    resoluo do contrato, deve pagar indenizao

    por perdas e danos ao outro contratante

    (embora isso possa ocorrer na resoluo sem

    culpa, mas por exceo nos casos

    supramencionados).

    A resoluo com culpa no pode ser bilateral,

    apenas podendo ser unilateral. Se ambas as

    partes tiverem culpa no inadimplemento, a

    culpa ser daquele que primeiro tinha a

    obrigao de cumprir sua prestao. A razo

    disso o princpio da exceo de contrato no

    cumprido, pois, se houver prestaes

    simultneas e um dos contratantes no cumpre

    sua prestao, o outro est legitimado a no

    cumprir a sua prestao.

    8.3. Efeitos no tempo da resoluo e da

    resilio dos contratos

    Havendo resoluo do contrato, essa deciso

    tem efeito retroativo ou no retroativo?

    Depende se o contrato for de execuo

    instantnea, diferida ou continuada.

    Se o contrato de execuo nica, ou seja, de

    execuo instantnea ou at diferida, a

    deciso produz efeitos retroativos ou ex tunc,

    desfazendo-se o que foi feito at ento, pois

    resolver o contrato fazer retornar ao estado

    em que as partes se encontravam antes da sua

    celebrao. Assim, se estamos diante da

    resoluo de um contrato de compra e venda,

    o comprador devolve o bem e o vendedor

    devolve o dinheiro recebido, buscando-se

    eventual indenizao diante da perda ou

    deteriorao do bem ou at em razo de algum

    melhoramento por que passou.

    Se, no entanto, o contrato for de execuo

    prolongada no tempo, ou seja, de execuo

    continuada, os efeitos sero no retroativos ou

    ex nunc, mantendo-se os efeitos at ento

    produzidos. A razo disso evitar um

    enriquecimento sem causa de um dos

    contratantes. Imagine um contrato de locao:

    se a resoluo tivesse efeito retroativo, faria

    com que o locador devolvesse o valor recebido

    durante o contrato, no tendo como o inquilino

    devolver o tempo que usou o bem, o que lhe

    geraria um enriquecimento sem causa por ter

    alugado o imvel por um tempo sem por isso

    pagar.

    O efeito retroativo (ex tunc) da resoluo dos

    contratos de execuo instantnea ou diferida

    e o efeito no retroativo (ex nunc) da resoluo

    dos contratos de execuo continuada valem

    tanto para a resoluo com culpa quanto para

    a resoluo sem culpa. A nica diferena entre

    eles que na resoluo culposa o inadimplente

    ser devedor de indenizao por perdas e

    danos, o que no ocorre, em regra, na

    resoluo sem culpa.

    Cuidado com um detalhe: no caso da resoluo

    sem culpa decorrente da aplicao da teoria

    da impreviso ou da onerosidade excessiva,

    para cuja abordagem remetemos sua leitura,

    seja contrato de execuo continuada ou

    diferida, o efeito ser, por expressa previso

    legal, retroativa, mas at data da citao do

    processo em que o contratante pede a sua

    resoluo (a teoria no se aplica aos contratos

    de execuo instantnea).

    E se o caso for de resilio do contrato, a

    deciso tem efeito retroativo ou no retroativo?

    Quando falamos em resilio, estamos falando

    de contrato de execuo continuada, pois na

    resilio o contratante quer interromper o

    cumprimento da sua prestao prolongada no

    tempo. Por isso, a resilio do contrato tem

    efeito no retroativo ou ex nunc, no se

    desfazendo os efeitos produzidos at ento,

    mas apenas afastando a produo de efeitos

    da para frente, at porque no h qualquer

    causa jurdica a gerar o seu trmino, apenas o

    acordo de vontades em acabar com um

    contrato que produziu efeitos normalmente at

    ento.

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    OAB 2 FASE XIV DIREITO CIVIL

    CRISTIANO SOBRAL

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