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2021 DIREITO CIVIL Cristiano Vieira Sobral Pinto Sistematizado revista, atualizada e ampliada 13 a edição Lei de Introdução | Parte Geral | Obrigações | Teoria Geral dos Contratos | Contratos em Espécie | Responsabilidade Civil | Direito das Coisas | Direito das Famílias | Direito das Sucessões

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Page 1: Cristiano Vieira Sobral Pinto DIREITO CIVIL

2021

DIREITO CIVIL

Cristiano Vieira Sobral Pinto

Sistematizado

revista, atualizada e ampliada13 a edição

Lei de Introdução | Parte Geral | Obrigações | Teoria Geral dos Contratos | Contratos em Espécie | Responsabilidade Civil | Direito das Coisas |

Direito das Famílias | Direito das Sucessões

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LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

1.1. ESTRUTURA DO DECRETO-LEI N. 4.657/1942Estrutura da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro:Arts. 1º e 2º – Vigência das NormasArt. 3º – Obrigatoriedade das NormasArt. 4º – Integração da NormaArt. 5º – Interpretação da NormaArt. 6º – Aplicação da Norma no TempoArts. 7º a 19 – Aplicação da Lei no Espaço (Direito Internacional Privado) Arts. 20 a 30 – Normas sobre segurança jurídica e eficiência na criação e

na aplicação do direito público.

1.2. CONCEITO DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB)

A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro não se aplica apenas ao direito civil (esta lei tem um caráter autônomo), possuindo um âmbito muito maior. Em matéria de aplicação de leis, por exemplo, suas normas se destinam não só ao Direito Privado, mas também ao Direito Público e ao Direito Interna-cional, na ausência de qualquer outro preceito.1

1.3. DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVOO direito objetivo é aquilo que se chama na expressão latina como norma

agendi, isto é, uma norma de conduta. Trata-se de um complexo de normas que regula as relações juridicamente relevantes com fixação em abstrato, como o art. 186 do Código Civil2 (ato ilícito subjetivo).

1. Trata-se a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (alteração do nome LINDB comfundamento na Lei n. 12.376/10) de um conjunto de normas sobre normas (Lex Legum).

2. “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violardireito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

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Por outro lado, tem-se o direito subjetivo, chamado na expressão latina de facultas agendi. O mesmo surge da projeção do que estava em abstrato para o concreto; é dizer, propalam-se no mundo concreto poderes de seu titular para exigir ou pretender de alguém um comportamento específico. No art. 186 do Código Civil, por exemplo, existe uma norma que está em abstrato; mas, caso alguém que seja imprudente cause danos a outrem, este terá direito de pleitear a indenização devida.

Direito subjetivo e direito objetivo são aspectos de um conceito único, com-preendendo a facultas e a norma; ou seja, os dois lados de um mesmo fenômeno, os dois ângulos de visão do jurídico. Um é o aspecto individual; outro, o aspecto social.3

1.4. FONTES DO DIREITO

a) Lei (fonte primária): o direito brasileiro se submete ao sistema romano--germânico, cuja diretriz fundamental é a predisposição legislativa e posterior adequação do fato à norma. As leis podem ser cogentes, ou seja, leis de ordem pública, de caráter obrigatório. Podem ser também dispositivas: aquelas que deixam ao alvedrio das partes as suas respectivas condutas.

Com o fenômeno da globalização, a comunicação entre as civilizações tornou mais fácil a interação entre os sistemas jurídicos. Nossa matriz romano -germânica tem sido influenciada pelas práticas do direito consuetudinário que se baseia na vasta utilização de precedentes judiciais para decidir novos casos. Tradicional-mente, o sistema romano-germânico utiliza-se de vasto manancial de decisões jurisprudenciais que acabam sendo definidas pelos tribunais superiores. Esse “direito sumulado” traz segurança jurídica ao nosso sistema, embora as partes tenham baseado seus direitos na estrita letra legal. O modelo de precedente desse sistema diverge em parte, pois o Juiz do Common Law não se baseia necessária e exclusivamente em casos que chegaram às cortes superiores de seus países. Os precedentes utilizados pelos juízes do Common Law podem se basear em outras decisões semelhantes àquelas de juízes de mesmo grau (ou hierarquia).

Não apenas no caso da utilização dos precedentes que caracterizam essa in-teração de modelos, mas algumas práticas características do Common Law (direito consuetudinário) passaram a ser adotadas pelo direito brasileiro. Entre algumas, podemos citar a regra que permite aos juízes dos Juizados Especiais julgarem as causas fora do critério da estrita legalidade; a existência de juízes leigos que podem conduzir a instrução e minutar sentenças; a própria fixação de alimentos, que há muito é feita com base na equidade, instituto que se coaduna fortemente com a prática do Common Law; poderes crescentes reconhecidos aos juízes de primeiro grau, com o aumento de exigências para a propositura de recursos protelatórios, conferindo mais poderes ao Juiz que está mais próximo da comunidade que julga.4

3. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, p. 14.

4. GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. v. I,p. 5 e segs.

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Da mesma forma, a premissa contrária também é observada. Países anglo -saxões (Inglaterra, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia etc.) pas-saram a ter uma expressiva criação de direito positivo, ou seja, seus parlamentos passaram a vislumbrar na criação da norma positiva uma parte representativa do ordenamento jurídico desses países.

b) Costumes (fontes secundárias): os costumes, por sua vez, são regrassociais que se incorporaram a uma comunidade. Variam de um local para o outro. Aquele que o alega deve provar que o costume existe. Em síntese, eles constituem uma norma criada, imposta pelo uso social.

c) Jurisprudência: constitui decisões reiteradas em um determinado sentido.A maioria da doutrina entende que tal espécie não é fonte formal do direito, pois julga o caso concreto.

d) Doutrina: é majoritário o entendimento de que não é fonte formal de direito.e) Princípios Gerais de Direito: a doutrina clássica entende que os mes-

mos devem ser aplicados somente quando esgotadas as possibilidades de uso de analogia e dos costumes. Hoje, a doutrina moderna não enxerga dessa for-ma, mencionando que os princípios servem de base para toda a aplicação do ordenamento jurídico, ou seja, todo o sistema legal encontra fundamento nos princípios, os quais servem como vetores e acabam orientando a solução de casos concretos. Os professores Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves Farias lembram que os princípios são sintetizados em três axiomas: não lesar ninguém (neminem laedere), dar a cada um o que é seu (suum cuique tribuere) e viver honestamente (honeste vivere).5

1.4.1. Existência ou inexistência de lacuna na lei

Alguns entendem que existe lacuna na lei, a qual denominam formal, inexistindo, por outro lado, lacuna no direito, esta chamada de lacuna mate-rial.6-7 A doutrina citada se vale do método de autointegração do ordenamento jurídico.

A autointegração consiste na integração da norma feita por meio do próprio ordenamento jurídico, dentro dos limites da mesma fonte dominante, sem pre-cisar recorrer a outros ordenamentos e com o mínimo recurso a fontes diversas da dominante.8

5. ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves. Parte geral. 7. ed. 3ª tiragem. Rio de Janeiro:Lumen Juris, 2009. p. 49.

6. ZITELMAN. Las lagunas del derecho. Apud JACQUES, Paulino. Curso de introdução à Ciên-cia do Direito. p. 121-123. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=30&p=2.>.

7. DONATI. Il problema della lacune dell’ordinamento giuridico. Apud GUSMãO, Paulo Dou-rado. Introdução à Ciência do Direito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1960. p. 142-143.

8. BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 146-148. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=30&p=2.>.

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6 DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO – Cristiano Vieira Sobral Pinto

Outros autores9 admitem a tese da existência de lacunas na lei no momento em que o operador do direito não supre essa necessidade no texto legislativo, faltando assim solução ao caso concreto.

Indaga-se então: como se dá o suplemento dessas lacunas? a) critério cro-nológico (norma posterior prevalece sobre a anterior); b) critério da especialidade (norma especial prevalece sobre a geral);10 c) critério hierárquico (norma superior prevalece sobre norma inferior).

æ Nota!

Observam-se a antinomia, também denominadas pela doutrina como lacunas de conflito, de 1º grau, ou seja, conflito que envolve um dos critérios acima, e, ainda, a antinomia de 2º grau, que envolve dois critérios daqueles acima expostos.

Importante!

Como visto, havendo conflito entre uma norma regra versus norma-regra, vamos nos valer dos chamados métodos hermenêuticos (critérios cronológico, da especialidade e hierárquico). Porém, é possível falarmos sobre Derrotabilidade (defeseability) ou Supe-rabilidade da norma regra. Derrotabilidade se dá quando as regras em situações excepcionais, que não cumpram o objetivo ou a finalidade constitucional, devem ser derrotadas, e, como consequência, devem ser afastadas do caso concreto e não formar jurisprudência. Um exemplo quepodemos retirar da nossa jurisprudência, apesar de não ser explícito, é o REsp 799.431/MG. Vejamos:Administrativo. Processual civil. Violação ao art. 535, incisos I e II do Código de Processo Civil não reconhecida. Dissídio jurisprudencial não demonstrado. Estágio probatório.Reprovação. Arredondamento de percentual. Aplicação dos princípios da razoabilida-de e proporcionalidade. Possibilidade.

9. BRUNETTI. Sul valore del problema delle lacune. Apud GUSMãO, Paulo Dourado. Introdu-ção à ciência do direito, p. 143; SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso de direito civil, p. 181. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=30&p=2.>.

10. Recurso especial. Processual civil. Administrativo. Abate de animais. Indenização. Pres-crição. Lei n. 569/1948, com a redação dada pela Lei n. 11.515/2007. Aplicação do princípio da especialidade.

[...] 2. O acórdão recorrido está em consonância com o entendimento do STJ, segundo o qual o prazo da prescrição para ajuizamento de ação indenizatória pelo sacrifício de animais doentesou destruição de coisas ou construções rurais, para salvaguardar a saúde pública ou por interesseda defesa sanitária animal, é aquele estabelecido no art. 7º da Lei n. 569/1948, com a redaçãodada pela Lei n. 11.515/2007.

3. A norma geral que disciplina a prescrição no Direito Administrativo – art. 1º do Decreto20.910/32 –, relativa à cobrança das dívidas Passivas da União, dos Estados e dos Municípios, e de todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal cede regência ao art. 7º da Lei n. 569/48, norma específica que regula a matéria e de observância obrigatória, na ação em comento, em razão do princípio da especialidade.

4. Recurso especial a que se nega provimento (REsp n. 1343504/PR, rel. Ministro Og Fernandes,Segunda Turma, j. em 08.04.2014, DJe 02.05.2014).

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[...] 3. Esta Corte Superior de Justiça, bem como o Supremo Tribunal Federal, têm admi-tido a possibilidade de o Poder Judiciário apreciar, excepcionalmente, a razoabilidade e a proporcionalidade do ato praticado pela Administração.4. A exoneração está calcada na reprovação no estágio probatório, porquanto nãoalcançado percentual mínimo de 80%, sendo o resultado efetivamente obtido de79,55823%. A diferença é de apenas 0,44177%, deveras ínfima e, portanto, incapazde justificar a exoneração de cargo público, o que justifica o arredondamento.5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido (REsp 799.431/MG, rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma, j. em 16.04.2009, DJe, 05.04.2010).

1.5. VIGÊNCIA DA LEIPode a lei em seu próprio texto trazer sua data de vigência. Se a mesma

não a mencionar, aplica-se a regra do art. 1º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro ou o seu § 1º (45 dias em território nacional ou três meses depois de oficialmente publicada, caso aceita no estrangeiro, terá sua admissão).11

A lei passa por um processo antes de sua vigência (elaboração, promulga-ção12 e publicação). Após tal processo, a lei passa a valer no término da vacatio legis (prazo razoável para se ter conhecimento da lei13).

Elaboração Promulgação Publicação Vacatio Legis (aqui a lei existe, mas não pode ser aplicada) Vigência.

Durante o prazo da vacatio, a lei não tem obrigatoriedade e deve ser computada de acordo com o § 1º do art. 8º da Lei Complementar n. 95/98.14

11. “Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cincodias depois de oficialmente publicada.

§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se iniciatrês meses depois de oficialmente publicada.” O § 1º do art. 1º da LINDB consta como revogado pelo Decreto-lei n. 333/1967.

12. Momento que o Poder Executivo autentica a lei.

13. Dormência.

14. “Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazorazoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em vigor na data de sua publicação’ para as leis de pequena repercussão.

§ 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.”

Atenção!!! O art. 132 do CC não apresenta conflito com o artigo descrito. Importante salientar que o artigo da lei civil se refere aos prazos de natureza obrigacional, enquanto o § 1º do art. 8º da Lei Complementar n. 95/98 guarda referência com o prazo de vacância. Assim diz o art. 132 do CC: “Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.

§ 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguintedia útil.

§ 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.§ 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato,

se faltar exata correspondência.§ 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.”

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Ocorrendo nova publicação de seu texto, mesmo para a correção de erros materiais ou até falhas de ortografia, o prazo para sua obrigatoriedade volta a fluir da nova publicação, salvo se a lei já estiver vigorando.15 Veja-se a questão do Ministério Público do RJ:

Ministério Público do Estado do Rio de JaneiroProcuradoria-Geral de JustiçaXXV concurso para ingresso na classe inicial da carreira do Ministério PúblicoProva escrita preliminar – 20.01.2002O novo Código Civil foi publicado em 11 de janeiro de 2002, entrando em vigor um ano após a sua publicação. Se, durante o período da vacatio legis, forem feitas correções em normas do direito de família, publicadas em 1º de outubro de 2002, indaga-se: quando entrarão em vigor:a) As normas alteradas?b) As normas relativas ao direito das obrigações?

RESPOSTA OBJETIVAMENTE JUSTIFICADA, segundo a legislação vigente, desnecessária a consulta ao novo Código Civil.

a) 1º de outubro de 2003, porque com a nova publicação ela se submete auma nova vacatio. Se fosse correção de erros, somente por lei nova.

b) Se não foram objeto de mudança, entrarão em vigor em 11 de janeirode 2003.

Necessário observar que as leis que estabelecem período de vacância não podem ser contadas em meses ou anos; elas sempre serão contadas em números de dias de sua publicação oficial. Importante colacionar o art. 8º, § 2º, da Lei Comple-mentar n. 95/98,16 imprescindível para concursos, principalmente na fase objetiva.

A lei nasce formalmente com sua promulgação, mas somente começa a vigorar depois de oficialmente publicada.

Vale mencionar que os atos normativos administrativos (decretos, resoluções e regulamentos) entram em vigor na data de sua publicação no órgão oficial da imprensa, conforme determinam o Decreto n. 572 de 1890 e o caput do art. 8º da Lei Complementar n. 95/98,17 pois se trata de lei de pequena repercussão, como podemos observar pelo julgado abaixo:

Lei municipal. Publicidade. A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro pres-creve que, salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 (qua-

15. “Art. 1º, Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Salvo disposição contrária, a leicomeça a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.

§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.”

16. “Art. 8º [...]§ 2º As leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em

vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação oficial’.”

17. “Art. 8º, caput. A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplarprazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em vigor na data de sua publicação’ para as leis de pequena repercussão.”

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renta e cinco) dias depois de oficialmente publicada. Em se tratando de instituição de regime jurídico único de servidor público, criado por lei, revestindo-se de caráter de ato administrativo, há disposição legal em contrário. Ensina-nos Juarez de Oliveira, em nota à LINDB, in Código Civil. 49. ed. São Paulo: Saraiva, p. 01: ‘com relação aos atos administrativos, admite-se a obrigatoriedade a partir da publicação, de acordo com o art. 5º do Decreto n. 572, de 12.07.1890, que, nesta parte, não se pode conside-rar revogado pelo Código Civil’ (conforme RáO, Vicente. O direito e a vida dos direi-tos, p. 378, nota). A lição do mestre Hely Lopes Meirelles, in Direito administrativo brasileiro. 20. ed. São Paulo: Malheiros, p. 86 e 88, de que: “publicidade a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos; vale ainda como publicação oficial a afixação dos atos e Leis municipais na sede da prefeitura ou da câmara, onde não houver órgão oficial, em conformidade com o disposto na Lei orgânica do município” (TRT 3ª R., RO n. 2.664/99, rel.ª Juíza Maria Lúcia Cardoso de Magalhães, 1ª Turma, DJMG, 21.01.2000, p. 10).

Salvo melhor juízo, entende-se que o art. 1º da Lei de Introdução às nor-mas do Direito Brasileiro não foi revogado pelo art. 8º da Lei Complementar n. 95/98. A regra desse dispositivo tornou-se residual, sendo aplicada somentequando o legislador não houver estabelecido outro prazo e quando a lei for degrande repercussão, porquanto apenas as leis de pequena repercussão podementrar em vigor na data de sua publicação.

æ Nota!

Conforme descrito abaixo, o § 2º do art. 1º da Lei de Intro-dução às normas do Direito Brasileiro foi revogado. Art. 1º, § 2º A vigência das leis, que os Governos Estaduais elaborem por autorização do Governo Federal, depende da aprovação deste e começa no prazo que a legislação estadual fixar. (Revogado pela Lei n. 12.036, de 2009).

1.6. EFICÁCIA DAS LEIS

Uma vez em vigor, a lei se torna obrigatória em todo território nacional. Tal norma é estipulada no art. 3º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro,18 e merece algumas críticas. É notório que no Brasil há uma gama muito vasta de leis; por isso, exigir das pessoas o conhecimento de todas as leis seria um verdadeiro absurdo; logo, tal norma merece um temperamento, uma mitigação. A edição infindável de novas leis gera dificuldades até para o profissional do Direito, quanto mais para um leigo. É por essa razão quetal matéria foi prevista no art. 139, III, do Código Civil.19 Uma questão quepode ser colocada em concurso diz respeito ao sentido jurídico da norma do

18. “Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.”

19. “Art. 139. O erro é substancial quando: [...] III – sendo de direito e não implicando recusa àaplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.”

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art. 3º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, o qual consiste na segurança jurídica.

O que significa o princípio iura novit curia? Como se diz que ao juiz não é dado desconhecer a lei, significa que em tese as partes podem apresentar ao magistrado para julgamento somente e exclusivamente fatos. As exceções a esse princípio são: o direito estrangeiro, estadual, municipal e consuetudinário.

Vejamos a jurisprudência:

Direito Processual Civil. Adoção de Novos Fundamentos no Julgamento de Ape-lação.No julgamento de apelação, a utilização de novos fundamentos legais pelo tri-bunal para manter a sentença recorrida não viola o art. 515 do CPC. Isso porque o magistrado não está vinculado ao fundamento legal invocado pelas partes ou mes-mo adotado pela instância a quo, podendo qualificar juridicamente os fatos trazidos ao seu conhecimento, conforme o brocardo jurídico mihi factum, dabo tibi jus (dá-me o fato, que te darei o direito) e o princípio jura novit curia (o juiz conhece o direito).Precedentes citados: AgRg no Ag 1.238.833-RS, Primeira Turma, DJe 7.10.2011 e REsp 1.136.107/ES, Segunda Turma, DJe 30.8.2010.  REsp 1.352.497-DF, Rel. Min. Og Fer-nandes, j. em 04.02.2014 (ver Informativo n. 535).

A lei produz seus efeitos até que outra lei a revogue ou a modifique. Trata-se do princípio da continuidade das leis, esculpido no art. 2º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro e por essa razão diz-se que “só lei tem condão de revogar lei”. Exceção a esse tema é a lei temporária (são exemplos: leis orçamentárias, leis para o congelamento de preços etc.), ou seja, aquela que já traz em seu texto o prazo de sua vigência, que, quando findo, a revoga automaticamente, sem necessidade de redação de uma nova lei.

1.7. REVOGAÇÃO E DERROGAÇÃO DA LEI

a) Ab-rogação – significa extinguir a lei, tirando-lhe a força obrigatória,o que ocorre pela substituição de suas normas por outras disposições diferentesou pela supressão pura e simples das existentes.20

b) Derrogação – revogação parcial de uma lei, ou seja, parte de deter-minada lei continua a viger, enquanto parte dela se extingue com a entrada em vigor de uma nova lei.21

Em suma: A ab-rogação abrange toda a lei, ao passo que a derrogação é parcial. Importante lembrar que, de qualquer forma, apenas uma nova lei pode revogar ou derrogar outra existente.

A lei deixa de ser obrigatória no dia em que a lei revogadora ou derroga-dora se torna vigente. A cessação da eficácia de uma legislação não se dá com a publicação da lei nova.

20. Exemplo: art. 2.045, 1ª parte, do Código Civil.

21. Exemplo: art. 2.045, 2ª parte, do Código Civil.

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Breve suma

Em conformidade com o Código Civil, a Primeira Parte da obra tratará dos aspectos basilares da disciplina. Para tanto, serão abordados temas como a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, das Pessoas, dos Bens e do Negócio Jurídico, matérias que compõem a Parte Geral da norma civilista.

Abrimos o capítulo com o Decreto-Lei nº 4.657/1942 que teve sua ementa alterada pela Lei n. 12.376/2010, trata-se da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. A norma sob comento tem por intuito regulamentar a vigência e a revogação de lei, tratar da interpretação e da integração do sistema jurídi-co e ainda apresentar soluções para o conflito de normas no tempo e espaço. Ultrapassa a esfera do Direito Civil, abarcando o direito privado e alcançando aspectos do direito público. Ainda trazemos a última alteração na norma onde foram acrescidos artigos pela Lei n. 13.655/2018, dispondo acerca da segurança jurídica e eficiência na criação e aplicação do direito público.

O tema foi desenvolvido nos itens referentes ao direito objetivo e subjetivo; fontes do Direito; lacuna da lei; vigência e revogação; interpretação e integração de lei; eficácia da lei no tempo e conflito de lei no espaço e segurança jurídica e eficiência na criação e aplicação do direito público.

1.15 QUESTÕES COMENTADAS52

1. (Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão:  Prefeitura de São José dos Campos – SP Prova:  Pro-curador) Assinale a alternativa correta no que tange à Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro.

a) O prazo geral de  vacatio legis  é de trinta dias, respeitável em caso de inexistência de previsão em sentido diverso.

b) O magistrado, por força da vedação ao  non liquet, deverá, em caso de lacuna da lei, apoiar-se na analogia, nos costumes e nos princípios gerais do Direito para julgar. 

c) A repristinação é prevista como regra no sistema legislativo brasileiro, de tal modo que a perda de vigência da lei revogadora restaura automaticamente a revogada.

d) A sentença proferida no estrangeiro poderá ser executada no Brasil, desde que, dentre outros requisitos, seja homologada pelo Supremo Tribunal Federal. 

e) Os brasileiros casados residentes no exterior não poderão se divorciar perante as auto-ridades consulares brasileiras, sendo mister o retorno ao Brasil para o rompimento do vínculo matrimonial.

Comentários

Incorreta a assertiva de letra A, de acordo com o disposto no art. 1º, da LINDB: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada” Correta a alternativa de letra B, com base no art. 4º, da LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,

52. Os gabaritos estão de acordo com os publicados pela banca.

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DOMICÍLIO

O conceito legal de domicílio civil da pessoa natural, contido no art. 70 do Código Civil, defi ne-o como o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo defi nitivo, tendo, portanto, por critério a residência. Nessa concei-tuação legal, há dois elementos: o objetivo, que é a fi xação da pessoa em dado lugar, e o subjetivo, que é a intenção de ali permanecer com ânimo defi nitivo. Importa a fi xação espacial permanente da pessoa natural.1

Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á seu domicílio qualquer uma delas (domicílio plúrimo).2

Nossa legislação admite a pluralidade domiciliar, sendo domicílio qualquer resi-dência, desde que haja mais de uma.

É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à pro-fi ssão, o lugar onde esta é exercida (domicílio profi ssional).3 Se a pessoa exercitar profi ssão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. Aqui adotamos a mesma regra exposta acima, ou seja, admite-se a pluralidade domiciliar profi ssional. Se uma empresa tem escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro e em Curitiba, todos eles serão considerados domicílios.

O domicílio ocasional4 é aquele em que a pessoa natural não tem residência habitual, sendo aquele onde for encontrada; v.g., caixeiro-viajante, circense etc.

1. SILVA, Regina Beatriz Tavares da (coord.). Código Civil comentado. 6. ed. São Paulo: Saraiva,2008. p. 77.

Ver o seguinte enunciado da V Jornada de Direito Civil:“408 – Arts. 70 e 7º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Para efeitos de interpretação

da expressão ‘domicílio’ do art. 7º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, deve ser con-siderada, nas hipóteses de litígio internacional relativo à criança ou adolescente, a residência habitual destes, pois se trata de situação fática internacionalmente aceita e conhecida.”

2. Art. 71 do Código Civil.

3. Art. 72 do Código Civil.

4. “Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugaronde for encontrada.”

4

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160 DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO – Cristiano Vieira Sobral Pinto

São estas as condições para a mudança de domicílio:a) transferência da residência para local diverso;b) ânimo definitivo de fixar a residência, constituindo novo domicílio.Perde-se o domicílio pela mudança, porque este passará a ser o mais recente.

Ter-se-á, como vimos, a mudança quando houver transferência de residência, com a intenção de deixar a anterior para estabelecê-la em outra parte.5

A mudança de domicílio corresponderá à intenção de não permanecer mais no local em que se encontra. O modo exigido por lei para que se dê a exterio-rização da referida intentio será a simples comunicação à municipalidade. Essa é feita pela pessoa que se mudou para indicar o lugar que deixa e o local para onde vai. Como, em regra, a pessoa natural que se muda não faz tal declaração, seu ânimo de fixar domicílio em outro local resultará da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.6

Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:7

a) da União, o Distrito Federal;b) dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;c) do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;d) das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos consti-tutivos.

Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. Se a administração ou diretoria tiver sua sede no estrangeiro, o domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por qualquer uma das suas agências, será o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o ma-rítimo e o preso (domicílio necessário).

O domicílio do incapaz é legal e será o de seus representantes.O domicílio do servidor público é o local onde exerce suas funções por

investidura efetiva. Logo, tem por domicílio o lugar onde exerce sua função permanente.8

Veja a jurisprudência acerca do tema:

5. SILVA, Regina Beatriz Tavares (coord.). Código Civil comentado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 79.

6. Idem, ibidem.

7. Art. 75 do Código Civil. Súmula n. 363 do STF: “A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio

da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato.”

8. SILVA, Regina Beatriz Tavares (coord.). Código Civil comentado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 79.

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Dom

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161Cap. 4 • DOMICÍLIO

Habeas corpus. Homicídio qualificado. Condenação. Apelação julgada. Embargos infringentes pendentes. Prisão preventiva. Paciente não localizado para consti-tuir novo defensor. Funcionário público. Endereço funcional. Evasão não carac-terizada. Ordem concedida. 1. Hipótese em que, julgada a apelação, o relator dos embargos infringentes decretou a prisão preventiva do paciente porque ele não foi localizado no endereço anteriormente informado, a fim de constituir novo defensor. Ocorre que, conforme comprovou a Defesa, o paciente possui endereço funcional, onde exerce o cargo de inspetor penitenciário há mais de 30 anos e deveria ter sido procurado para a intimação. 2. Nos termos do art. 76 do Código Civil, o servidor público possui domicílio necessário no lugar em que exerce permanentemente suas funções. Não se constata, pois, hipótese de evasão, a justificar a prisão preventiva para aplicação da lei penal com amparo no art. 312 do Código de Processo Penal. 3. Ordem concedi-da para, confirmando a liminar, garantir a liberdade ao paciente até o julgamento dos embargos infringentes e de nulidade, ressalvada a possibilidade de ser decretada nova prisão caso ele não seja localizado em seu endereço funcional ou sobrevenha fato con-creto que justifique a medida extrema. (HC 361.991/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 08/11/2016, DJe 22/11/2016).

O domicílio do militar do Exército é o lugar onde ele servir, e o do da Marinha ou da Aeronáutica, em serviço ativo, a sede do comando a que se en-contram imediatamente subordinados.

Com relação à Marinha Mercante, o domicílio é o lugar onde estiver ma-triculado o navio.

Aquele que está preso terá por domicílio o lugar onde cumprir a sentença.O agente diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar extraterri-

torialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser deman-dado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde esteve.9

Domicílio contratual ou de eleição é o estabelecido contratualmente pelas partes em contrato escrito, que especificam onde se cumprirão os direitos e os deveres deles resultantes. A eleição do domicílio deve ser analisada de acordo com o princípio da função social e da boa-fé objetiva.10

Importante! No Código de Defesa do Consumidor, destaca-se a regra disposta no art. 101:Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem pre-juízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:I – a ação pode ser proposta no domicílio do autor;II – o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada

9. Art. 77 do Código Civil.

10. Arts. 421 e 422 do Código Civil.

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a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este.11

æ Nota!

Com relação ao domicílio eleitoral, aplica-se a Lei n. 4.737/65.

Importante! Transcrevemos a seguir algumas Súmulas.

Súmulas do STF:60 – Não pode o estrangeiro trazer automóvel quando não comprovada a transferência definitiva de sua residência para o Brasil.62 – Não basta a simples estada no estrangeiro por mais de seis meses para dar direito à trazida de automóvel com fundamento em transferência de residência.80 – Para a retomada de prédio situado fora do domicílio do locador exige-se a prova da necessidade.335 – É válida a cláusula de eleição do foro para os processos oriundos do contrato.363 – A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato.406 – O estudante ou professor bolsista e o servidor público em missão de estudo satisfa-zem a condição da mudança de residência para o efeito de trazer automóvel do exterior, atendidos os demais requisitos legais.410 – Se o locador, utilizando prédio próprio para residência ou atividade comercial, pede o imóvel locado para uso próprio, diverso do que tem o por ele ocupado, não está obrigado a provar a necessidade, que se presume.483 – É dispensável a prova da necessidade, na retomada de prédio situado em localidade para onde o proprietário pretende transferir residência, salvo se mantiver, também, a ante-rior, quando dita prova será exigida.484 – Pode, legitimamente, o proprietário pedir o prédio para a residência de filho, ainda que solteiro, de acordo com o art. 11, III, da Lei n. 4.494, de 25.11.1964.517 – As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federal quando a união intervém como assistente ou opoente.539 – É constitucional a lei do município que reduz o imposto predial urbano sobre imóvel ocupado pela residência do proprietário, que não possua outro.583 – Promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é con-tribuinte do Imposto Predial Territorial Urbano.689 – O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o juízo fe-deral do seu domicílio ou nas varas federais da capital do estado-membro.

Súmulas do STJ:1 – O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos.58 – Proposta a execução fiscal, a posterior mudança de domicílio do executado não des-loca a competência já fixada.

11. Sobre o tema, o seguinte julgado: REsp n. 540.922/PR, rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, j. em 15.09.2009 (ver Informativo n. 407). O art. 80 do CPC/1973 corresponde ao 132 do Novo CPC.

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163Cap. 4 • DOMICÍLIO

4.1.

FLU

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RA

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164 DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO – Cristiano Vieira Sobral Pinto

Breve suma

O domicílio é o local considerado a sede jurídica da pessoa. O domicílio da pessoa natural diz respeito à residência com ânimo definitivo. Em caso de inúmeras residências será considerado domicílio qualquer uma delas; em caso de residência não habitual será considerado o local onde a pessoa for encontrada e ainda o de âmbito profissional.

No que concerne à pessoa jurídica, o domicílio compreende: da União, o Distrito Federal; dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; e das demais pessoas jurídicas,o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou ondeelegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. Se tiver maisestabelecimentos em lugares diversos cada um corresponde a um domicílio. Odomicilio é classificado em: voluntário, podendo ser comum ou especial; neces-sário ou legal.

4.2. QUESTÕES COMENTADAS12

1. (Ano:  2016 Banca:  VUNESP Órgão:  Prefeitura de Sertãozinho – SP Prova:  ProcuradorMunicipal) Sobre as regras de domicílio, é correto afirmar que

a) se considera como domicílio da União todas as capitais dos Estados da federação.b) as sociedades empresárias possuem domicílio no endereço de qualquer de seus sócios.c) o marítimo e o militar, em razão de suas atribuições, possuem domicílio itinerante.d) o servidor público possui domicílio necessário.e) o domicilio do Município é eleito pelo seu prefeito.

Comentários

A letra A está incorreta, a teor do art. 75, I, do CC. A alternativa de letra B está errada, de acordo com o disposto no inc. IV, do art. 75, do CC. A letra C está incorreta, conforme previsão do art. 76, do CC. A questão tem por gabarito a letra D, de acordo com o art. 76, do CC: “Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso”. E por fim, incorreta a alternativa de letra E, de acordo com oart. 75, inc. III, do CC.

2. (Ano:  2018 Banca:  FUMARC Órgão:  PC-MG Prova:  Delegado de Polícia Substituto)Considere as seguintes afirmativas a respeito do domicílio da pessoa natural:

I. Tem como regra geral o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimodefinitivo.

II. Considera-se também como domicílio da pessoa natural, quanto às relações concer-nentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.

III. Se houver exercício da profissão em lugares diversos, o local da contratação constituirádomicílio para as relações que lhe corresponderem.

12. Os gabaritos estão de acordo com os publicados pela banca.

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165Cap. 4 • DOMICÍLIO

IV. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares,que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, comas circunstâncias que a acompanharem.

Estão  CORRETAS  apenas as afirmativas:a) I, II e III.b) I, II e IV.c) I, III e IV.d) II, III e IV.

Comentários

O item I está correto a teor do art. 70, do CC: “O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.” O item II, está correto, de acordo com o art. 72, da lei civil: “É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida”. O item III está incorreto, com fundamento no art. 72, parágrafo único, do CC: “Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem. Por fim, está certo o item IV, com base no art. 74, do CC: “Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar. Parágrafoúnico. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades doslugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudan-ça, com as circunstâncias que a acompanharem.” Diante do exposto, a questão tem porgabarito a assertiva de letra B.

3. (Ano:  2018 Banca:  INSTITUTO AOCP Órgão:  TRT – 1ª REGIÃO (RJ) Prova:  Analista Ju-diciário – Oficial de Justiça Avaliador Federal) Celso é agente diplomático brasileiro ese encontra exercendo sua profissão em outro país. Em visita ao Brasil, envolveu-seem um imbróglio pessoal com Manuel, resultando deste um possível litígio, tendoposteriormente Celso retornado ao país onde exerce sua profissão. Em relação aoque dispõe o Código Civil de 2002 sobre o domicílio, assinale a alternativa correta

a) Diante da profissão exercida por Celso, apenas poderá ele ser demandado judicialmenteno país onde exerce sua função, o que se justifica em razão de ser nesse país o seudomicílio.

b) Considerando o imbróglio que versa o enunciado, em eventual ação judicial movidapor Manuel, citado Celso no estrangeiro, diante de alegação de extraterritorialidadepor este, sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandadono Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.

c) Tendo-se em vista a profissão exercida por Celso ser equiparada a da pessoa deno-minada de marítimo, não é possível atribuir-lhe domicílio. Portanto eventual demandajudicial de interesse de Manuel contra Celso restará impossibilitada de ajuizamento.

d) Diante do interesse de Manuel em ajuizar ação em face de Celso, este deverá ser de-mandado essencialmente no Distrito Federal, por ser considerado este o local necessáriode domicílio de funcionários públicos a serviço com atividade no exterior, sem exceções.

e) Caso Manuel pretenda acionar Celso judicialmente em razão do imbróglio, não serálevado em conta a profissão exercida por Celso para que seja definido o possível do-micílio onde possa este ser demandado, visto ser vedado pelo Código Civil a utilizaçãodas relações concernentes à profissão para definir o domicílio.