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2020 DIREITO CIVIL Cristiano Vieira Sobral Pinto Sistematizado revista, atualizada e ampliada edição 12 a Lei de Introdução | Parte Geral | Obrigações | Teoria Geral dos Contratos | Contratos em Espécie | Responsabilidade Civil | Direito das Coisas | Direito das Famílias | Direito das Sucessões

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Page 1: Cristiano Vieira Sobral Pinto DIREITO CIVIL · 660 DIREITO CIVIL SISTEMATIADO Cristiano Vieira Sobral Pinto A antijuridicidade nada mais é do que o elemento objetivo do ato ilícito

2020

DIREITO CIVIL

Cristiano Vieira Sobral Pinto

Sistematizado

revista, atualizada e ampliadaedição12 a

Lei de Introdução | Parte Geral | Obrigações | Teoria Geral dos Contratos |

Contratos em Espécie | Responsabilidade Civil | Direito das Coisas | Direito das Famílias | Direito das Sucessões

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Page 2: Cristiano Vieira Sobral Pinto DIREITO CIVIL · 660 DIREITO CIVIL SISTEMATIADO Cristiano Vieira Sobral Pinto A antijuridicidade nada mais é do que o elemento objetivo do ato ilícito

DA RESPONSABILIDADE CIVIL

12.1. CONCEITO

A responsabilidade civil está ligada à conduta que provoca dano às outras pessoas. Trata-se de um dever de indenizar aquele que sofreu alguma espécie de dano. San Tiago Dantas menciona que a responsabilidade civil configura um dever sucessivo, resultante da violação de um dever originário.1 Em suma, é a reparação dos injustos, resultante da violação de um dever de cuidado.

12.2. PRESSUPOSTOS

1. Ato ilícito ou conduta

2. Culpa

3. Dano

4. Nexo de causalidade

12.2.1. Ato ilícito

O ato ilícito é a conduta contrária ao ordenamento jurídico, sendo seus elementos a antijuridicidade e a imputabilidade. Segundo Venosa, o ato ilícito traduz-se em um comportamento voluntário que transgride um dever.2 Pablo Stolze prefere utilizar o primeiro elemento como conduta humana e não o ato ilícito, pois na sua visão a ilicitude não acompanha necessariamente a ação humana danosa ensejadora da responsabilização.3

1. DANTAS, San Tiago. Programa, p. 322.

2. VENOSA, Silvio de Salvo. Responsabilidade civil, p. 22.

3. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Responsabilidade civil, p. 31.

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660 DIREITO CIVIL SISTEMATIZADO – Cristiano Vieira Sobral Pinto

A antijuridicidade nada mais é do que o elemento objetivo do ato ilícito. É uma ação ou omissão que ofende a norma. Já a imputabilidade é o elemento subjetivo (discernimento = maturidade + sanidade).

Nelson Rosenvald4 dispõe que o art. 186 do Código Civil5 não trata do ato ilícito em sentido amplo, mas em sentido estrito, tratando apenas uma de suas espécies que é o ato ilícito reparatório. Todavia, propõe que o ato ilícito não deva ser considerado apenas quando gera dano a outrem, na hipótese em que o agente sabe da iminência do risco causado, a mera compensação das lesões decorrentes de seu ato resulta insuficiente.

A responsabilidade civil tem por preceito primário em seus efeitos a ameaça de um mal e a prática do ilícito por si gerando ou não dano que repercute na vida em sociedade, devendo, portanto, ser objeto de condenação por uma pena civil. Esta deverá ser mensurada tendo por fundamento os elementos subjetivo e finalístico do comportamento do agente ofensor.

A pena civil assim incidiria tendo por objetivo o desestímulo e o castigo da conduta independendo da incidência de dano. Assim, a base do ilícito independe da culpa ou do dano, bastando para tanto, a antijuridicidade do ato comissivo ou omissivo.

12.2.1.1. Espécies

a) Indenizatório: Diante de um dano, haverá indenização. Ex.: aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

b) Invalidante: Proporciona a anulação do ato praticado de forma ilícita. Ex.: anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

c) Caducificante: Aqui ocorre perda do direito. Ex.: perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:

• castigar imoderadamente o filho;

• deixar o filho em abandono;

• praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

• incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.d) Autorizante: A lei autoriza pedidos diante da prática de um ilícito. Ex.:

a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.

4. ROSENVALD, Nelson. As funções da responsabilidade civil: a reparação e a pena civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 176.

5. “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

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12.2.2. Culpa

Se a culpa for lato sensu irá abranger o dolo (conduta fundamentada em uma vontade). O dolo é a modalidade mais grave da culpa lato sensu, podendo ser:

a) dolo direto: neste o agente atua para atingir o fim ilícito;b) dolo necessário: na modalidade o agente pretende atingir o fim lícito,

mas sabe que a sua ação determinará inevitavelmente o resultado ilícito;c) dolo eventual: quando o agente atua em vista de um fim lícito, mas com

a consciência de que pode eventualmente advir do seu ato um resultado ilícito e quer que este se produza.

No caso de a culpa ser stricto sensu (mera culpa), o autor não visa ao resultado, mas pela falta de cuidado pratica a conduta.

Sua exteriorização ocorre pela negligência, pela imprudência e pela imperícia: na imprudência, há conduta comissiva; na negligência (desídia), a conduta é omissi-va; imperícia (temeridade) é a falta de habilidade no exercício de atividade técnica.

Quanto à sua graduação, pode a culpa ser grave (erro grosseiro), leve (falta evitável) ou levíssima (falta de atenção extraordinária), e todos esses graus levam igualmente ao dever de indenizar (in lege Aquilia et levissima culpa venit).

Destaco que a matéria não é abordada pela lei, mas tanto a doutrina como a jurisprudência se utilizam de tais graus para a fixação da indenização.

O juiz pode, todavia, reduzir equitativamente o valor da indenização, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano (Código Civil, art. 944, parágrafo único).

Interessante mencionar, nesse sentido, o Enunciado n. 46 da I Jornada do CJF.

Art. 944. A possibilidade de redução do montante da indenização em face do grau de culpa do agente, estabelecida no parágrafo único do art. 944 do novo Código Civil, deve ser inter-pretada restritivamente, por representar uma exceção ao princípio da reparação integral do dano, não se aplicando às hipóteses de responsabilidade objetiva.

12.2.2.1. Espécies de culpa stricto sensu

a) A culpa contratual é a violação de um dever jurídico. O Dano resulta da violação de uma obrigação que decorre de contrato. Ex.: transportador que tem o dever de incolumidade com o passageiro.

b) Culpa extracontratual ou aquiliana é aquela que ocorre quando, en-tre o autor do dano e a vítima, não há nenhuma relação jurídica anterior. Ex.: motorista que atropela pedestre e que sequer sabe o seu nome.6

6. Alguns autores citam a culpa como contratual ou extracontratual; porém, com a devida vênia, acha-se um tanto imprópria a denominação, pois culpa em sentido amplo é sinônimo de viola-ção a um dever de conduta, não importando se esse dever é imposto pela lei ou pelo contrato.

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c) É in comitendo quando resulta de ação. Ex.: motorista que dirige de forma imprudente.

d) Será in omitendo quando resulta de omissão, negligência, ou seja, não fazer o que deveria ter feito.

e) In vigilando é aquela que recai sobre as pessoas que têm o dever de fiscalizar o comportamento de outra que lhe é subordinada. Ex.: pai com relação aos filhos, empregadores com relação aos empregados.

f) In eligendo é aquela quando o empregador escolhe como preposto, empregado, pessoa inadequada, sem qualificação. Ex.: contratar motorista sem olhar o prontuário do mesmo.7

Destaca-se, sobre o exposto, a Súmula n. 341 do STF:

É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto.

Ressalte-se que não concordamos com o teor da Súmula, uma vez que a mesma se encontra em desacordo com os arts. 932, III, e 933 da Lei Civil.

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: (...)III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; (...)

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

a) In custodiando ocorre quando quem deveria ter cuidado da coisa e não o fez. Ex.: é a culpa do locatário, do depositário, do comodatário.

7. O proprietário de reboque responde, solidariamente com o proprietário do cavalo mecânico que o tracionava, por acidente de trânsito no veículo conduzido por preposto do qual resultou a morte de vítima que estava dentro do veículo na condição de carona. As instâncias ordinárias ex-pressamente afirmaram a existência de liame de subordinação e preposição entre a proprietária do reboque e o dono do cavalo-mecânico, o que não pode ser revisto na instância especial. A relação de preposição, que se caracteriza pela subordinação hierárquica, desafia a responsabilidade, pois o preposto – motorista – age no interesse e sob autoridade, ordens e instruções do preponente – empregador –, a quem cabe a fiscalização da atividade imputada. Há culpa in eligendo da trans-portadora que contrata transportador autônomo dono de automóvel inadequadamente conservado, cujas deficiências foram detectadas no sistema de freios (falha mecânica e ruptura do chassi com a presença de rachadura e oxidação). Ao permitir a circulação de veículo nessa condição, tracionando reboque da sua propriedade (alugado para o cumprimento do transporte de cargas em rodovias movimentadas), não observou o dever de cuidado objetivo de não lesar o próximo (neminem lae-dere). A despeito de não possuir força motriz independente, quer dizer, aptidão para se movimentar autonomamente, o reboque da transportadora foi alugado para cumprir uma finalidade contratual e econômica de seu interesse, circunstância que não a exime de assumir as consequências pelo acidente causado por “cavalo-mecânico” mal conservado. Trata-se de responsabilidade objetiva do transportador, atualmente prevista no art. 735 do CC (sem correspondente no Código de 1916), que não exclui a responsabilidade no caso de fortuito interno (ligado à pessoa, à coisa ou à empresa do agente) (REsp n. 453.882-MG, rel. Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, j. em 18.09.2012).

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æ Nota!

Já se falou em culpa in eligendo, culpa in vigilando e culpa in custodiando, nos casos de responsabilidade por atos de terceiros e por fatos das coisas e animais. Essa classificação perdeu a razão de ser, diante do art. 933 do Código Civil, que considera essas hipóteses como de responsabilidade objetiva.

b) Culpa presumida: aqui é imprescindível a culpa para fins de reparação; porém existe uma presunção cabendo ao autor do dano demonstrar que sua con-duta não foi culposa. Relativiza-se o brocardo latino: actori incumbit probatio (ao autor cabe o ônus da prova). Objetivo: permite-se que a vítima seja reparada em inúmeras situações.

c) Culpa concorrente: aplica-se nas hipóteses em que, ao lado da culpa do agente, se faz presente também a culpa da vítima pelo resultado danoso.8 A doutrina majoritária recomenda que a indenização seja repartida proporcional-mente aos graus de culpa do agente e da vítima.9

Sobre o assunto apresento as Jornadas de Direito Civil:

Art. 945. A conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de causalidade na respon-sabilidade civil objetiva (Enunciado n. 459 da V Jornada de Direito Civil).

Art. 945: Culpas não se compensam. Para os efeitos do art. 945 do Código Civil, cabe ob-servar os seguintes critérios: (i) há diminuição do quantum da reparação do dano causado quando, ao lado da conduta do lesante, verifica-se ação ou omissão do próprio lesado da qual resulta o dano, ou o seu agravamento, desde que (ii) reportadas ambas as condu-tas a um mesmo fato, ou ao mesmo fundamento de imputação, conquanto possam ser simultâneas ou sucessivas, devendo-se considerar o percentual causal do agir de cada um. (Enunciado n. 630 da VIII Jornada de Direito Civil).

Importante!

O abuso de direito é um exemplo de ilícito sem culpa. Comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.10 Significa dizer que o direi-to subjetivo ou potestativo da pessoa está sendo utilizado de modo desproporcional. Nada mais é do que a quebra do radar da confiança, a violação da boa-fé e de um dever de lisura. Sérgio Cavalieri Filho defende que não há no abuso de direito a menor intencionalidade a fim de causar dano a alguém, bastando que o direito seja exercido de forma que ultrapasse os limites normais.11

8. Ver os julgados: STJ, REsp n. 773853/RS e REsp n. 435230/RJ.

9. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Comentários ao novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2003. v. III, t. II, p. 109.

10. Art. 187 do Código Civil.

11. Responsabilidade civil no novo Código Civil. In: RDC 48/75.

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O Superior Tribunal de Justiça entende que comete ato ilícito (abuso de direito) a em-presa de cobrança que envia carta ameaçando de representação criminal por emissão de cheque sem fundos, quando esse documento não existe.12

Acerca da natureza jurídica da responsabilidade civil do ato praticado com abuso de direito, fundamento minha opinião no Enunciado n. 37 da I Jornada de Direito Civil; assim a responsabilidade será objetivada.13

Saliente-se que o abuso de direito possui conteúdo lícito; a ilicitude ocorre devido à falta de legitimidade, ou seja, o ofensor viola materialmente os limites éticos.Observe o Enunciado n. 617 da VIII Jornada de Direito Civil: Art. 187: O abuso do direito impede a produção de efeitos do ato abusivo de exercício, na extensão necessária a evitar sua manifesta contrariedade à boa-fé, aos bons costumes, à função econômica ou social do direito exercido

æ Nota!

Abuso de Direito = Licitude na origem + Ilicitude na finalidade.

César Fiúza informa que o abuso de direito gera obrigação de indenizar, como também pode gerar outra espécie de sanção, tudo dependendo do caso concreto.14

São exemplos na jurisprudência:

Civil e processual. Ação declaratória de nulidade de cláusula contratual cumula-da com pedido de ressarcimento de despesas hospitalares. Associação. Relação de consumo reconhecida. Limitação de dias de internação em UTI. Abusivida-de. Nulidade. I – A 2ª Seção do STJ já firmou o entendimento no sentido de que é abusiva a cláusula limitativa de tempo de internação em UTI (REsp n. 251.024/SP, rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, por maioria, DJU, 04.02.2002). II – A relação de consumo caracteriza-se pelo objeto contratado, no caso a cobertura médico-hospi-talar, sendo desinfluente a natureza jurídica da entidade que presta os serviços, ainda que se diga sem caráter lucrativo, mas que mantém plano de saúde remunerado. III – Recurso especial conhecido e provido. Ação procedente (REsp n. 469.911/SP, rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, 4ª Turma, j. em 12.02.2008, DJe, 10.03.2008) (ver In-formativo n. 344).15

A Turma entendeu ser devido o ressarcimento por danos morais, por abuso de direito, na hipótese de erro grosseiro na avaliação dos motivos que embasaram o pedido de realização de vistoria, conforme previsto no art. 14, § 5º, da Lei n. 9.609/1998. No caso, uma empresa fabricante de programas de computador ajuizou ação de vistoria com o intuito de verificar a utilização irregular de seus produtos. Após analisar trezentos com-

12. STJ, REsp n. 343700/PR.

13. “Art. 187. A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa, e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.”

14. FIÚZA, César. Direito civil, p. 244.

15. Ver ainda os julgados: STF, ADIn n. 2213 MC, rel. Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, j. em 04.04.2002, DJ, 23.04.2004, p. 00007, ement. v. 02148-02, p. 00296 (ver Informativo n. 301); RE n. 153.531, rel. Ministro Francisco Rezek, rel. p/Acórdão Ministro Marco Aurélio, 2ª Turma, j. em 03.06.1997, DJ, 13.03.1998, p. 00013, ement. v. 01902-02, p. 00388; STJ, REsp n. 250.523/SP, rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma, j. em 19.10.2000, DJ, 18.12.2000, p. 203.

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putadores, ficou comprovado que a empresa vistoriada sequer utilizava os programas da autora da cautelar. Verificado o erro grosseiro na avaliação das circunstâncias que embasaram o pedido de vistoria, o ajuizamento da cautelar constituiu abuso de direito e foi aplicada a sanção indenizatória prevista no art. 14, § 5º, da Lei n. 9.609/1998. Ficou ressalvado que o entendimento ora firmado não determina a indenização sempre que a cautelar de vistoria tiver resultado desfavorável ao autor da ação. O dever de ressarcir o vistoriado ocorrerá nas hipóteses do dispositivo legal acima mencionado (REsp n.1.114.889-DF, rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, j. em 15.05.2012).

Mencionamos ainda o recente Enunciado n. 543 da VI Jornada de Direito Civil:

“Constitui abuso do direito a modificação acentuada das condições do seguro de vida e de saúde pela seguradora quando da renovação do contrato”.

Importante! O abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade civil. Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle independente-mente de dano (Enunciado n. 539 da VI Jornada de Direito Civil).Súmula n. 638, STJ: “É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilida-de de instituição financeira pelos danos decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de penhor civil. “Segunda Seção, julgado em 27/11/2018, DJe 5/12/2018.

12.2.3. Dano

O dano pode ser material, moral, estético, coletivo e social.

12.2.3.1. Espécies

12.2.3.1.1. Dano material

Consiste na lesão concreta que atinge interesses relativos a um patrimônio, acarretando sua perda total ou parcial. É aquele suscetível de avaliação pecuniária.

12.2.3.1.1.1. Dano emergente e lucro cessante

Dano emergente é aquele que atinge o patrimônio presente da vítima. O lucro cessante16 atinge o patrimônio futuro da vítima (ganho esperável), impe-dindo seu crescimento. Lembre-se, aqui, de que não pode ser realizado pedido de lucros cessantes de atividades ilícitas.

16. “Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:I – no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a

duração provável da vida da vítima.”

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Diz a Lei:

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Sobre a matéria:

Indenização. Acidente aéreo. Fotógrafo. O recorrente, fotógrafo profissional especiali-zado em fotos aéreas, ajuizou ação de danos materiais e morais contra a recorrida, socie-dade empresária de táxi aéreo, ao fundamento de que, em razão da queda do helicópte-ro em que se encontrava, sofreu fraturas e danos psicológicos que o impossibilitaram de exercer seu ofício por mais de 120 dias e o impediram de retomar os trabalhos de fotogra-fia aérea. Nesse contexto, faz jus o recorrente ao recebimento de lucros cessantes, visto que comprovadas a realização contínua da atividade e a posterior incapacidade absoluta de exercê-la no período de convalescência. Contudo, apesar de a jurisprudência propalar que o lucro cessante deve ser analisado de forma objetiva, a não admitir mera presunção, nos casos de profissionais autônomos, esses lucros são fixados por arbitramento na liqui-dação de sentença e devem ter como base os valores que a vítima, em média, costumava receber. Já a revisão das conclusões das instâncias ordinárias de que a redução da capa-cidade laboral (25% conforme laudo) não o impediria de exercer seu ofício, mesmo que não mais realize fotografias aéreas em razão, como alega, do trauma psicológico sofrido, não há como ser feita sem desprezar o contido na Súmula n. 7-STJ. Anote-se, por fim, que devem ser aplicados desde a citação os juros moratórios no patamar de 0,5% ao mês até 10.01.2003 (art. 1.062 do CC/1916) e no de 1% ao mês a partir do dia 11 daquele mês e ano (art. 406 do CC/2002), pois se cuida de responsabilidade contratual. Precedentes citados: REsp n. 846.455-MS, DJe, 22.04.2009; REsp n. 1.764-GO, DJ, 19.09.1994; REsp n. 603.984-MT, DJ, 16.11.2004; AgRg no Ag 922.390-SP, DJe, 07.12.2009; EDcl no AgRg nos EDcl no REsp n. 1.096.560-SC, DJe, 26.11.2009; REsp n. 721.091-SP, DJ, 1º.02.2006; REsp n. 327.382-RJ, DJ, 10.06.2002; EDcl no REsp n. 671.964-BA, DJe, 31.08.2009; AgRg no Ag 915.165-RJ, DJe, 20.10.2008; e REsp n. 971.721-RJ, rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. em 17.03.2011 (ver Informativo n. 466).

æ Nota!

Juíza determina que Facebook reative perfil do Instagram suspenso sem motivação

Desativar um perfil em rede social sem motivação gera evidente risco de dano ao usuário que utiliza as plataformas digitais para divulgar seu tra-balho. Com esse entendimento, a juíza Paula da Rocha e Silva Formoso, da 36ª Vara Cível de São Paulo, concedeu liminar para que o Facebook reative uma conta no Instagram que havia sido bloqueada por suposta violação de propriedade intelectual.

O perfil “Tia Crey” foi suspenso no dia 11 de maio sem outras justificativas do Facebook, empresa responsável pela rede social de fotografias. A proprie-tária da página, então, ajuizou ação com patrocínio dos advogados Maria Carolina Feitosa e Marcos de Araújo Cavalcanti pleiteando a reativação do registro e a informação sobre as violações alegadas pela rede.

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667Cap. 12 • DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A juíza indeferiu o pedido de suplementação do prazo concedido para apresentação das informações ao Facebook, sob argumento de que a empresa já tivera tempo suficiente para tomar as medidas pertinentes e justificar o motivo pelo qual suspendeu o perfil da autora.

“Dessa forma, à vista da ausência de prestação de informações e nos termos do disposto no artigo 300 do Código de Processo Civil, verifico a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”, afirmou a magistrada.

Ela reconheceu urgência na medida, pois a autora alega que falta de divul-gação dos trabalhos ficou prejudicada pela ausência da exposição buscada no Instagram. A juíza ainda concluiu que o Facebook não comprovou o que diferenciaria a conta da autora de outras contas que estão ativas, sequer esclarecendo no que consistiria a denominada reincidência que autorizou o cancelamento da conta.

Segundo a magistrada, excluir o perfil sem razão seria um “verdadeiro paradoxo” porque a rede social ré incentiva o “uso e exploração com pu-blicidade pelos usuários chamados ‘influenciadores digitais’, com o objetivo de aumentar sua própria receita”.

O prazo que o Facebook tinha para reestabelecer o perfil era de 24 horas com pena de multa diária de R$ 1 mil em caso de descumprimento. Mas, na noite desta sexta-feira (8/6), o perfil “Tia Crey” já estava novamente disponível. (TJSP, Processo 1053858-90.2018.8.26.0100).17

Importante! No caso do art. 952 do Código Civil, se a coisa faltar, dever-se-á, além de reembolsar o seu equivalente ao prejudicado, indenizar também os lucros cessantes (Enunciado n. 561 da VI Jornada de Direito Civil).

12.2.3.1.2. Perda de uma chance

A perda de uma chance consiste na destruição de uma possibilidade de ganho, a qual, embora incerta, apresenta contornos de razoabilidade.18 O benefí-cio não era certo, era aleatório, mas havia uma chance – e essa tinha um valor

17. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2018-jun-09/juiza-manda-facebook-reativar--perfil-suspenso-justificativa>.

18. Perda de uma chance de uma cura: ação de indenização. Dano moral. Morte de familiar. Falha na prestação do serviço. Demora injustificada para o fornecimento de autorização para cirurgia. Majoração do quantum indenizatório. Provimento. I – O valor indenizatório deve ser compatível com a intensidade do sofrimento do recorrente, atentando, também, para as condições socioeconômicas das partes, devendo ser fixado com temperança. II – A indenização fixada na origem é ínfima, segundo as circunstâncias do caso e destoa dos valores aceitos por esta Corte para casos semelhantes, isto é, de dano moral decorrente de morte de familiar por falha na prestação do serviço, consubstanciada na demora injustificada para o fornecimento de autorização para cirurgia, devendo, portanto, ser majorada para o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), atualizados monetariamente a contar da data deste julgamento. Recurso especial provido (STJ, REsp n. 1.119.962, rel. Ministro Sidnei Beneti, 3ª Turma, j. em 01.10.2009, DJe, 16.10.2009).

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econômico. Em síntese: uma privação. O magistrado deverá se valer da propor-cionalidade para fixar a indenização.19 O caso mais comentado é o do programa de TV Show do Milhão, em que determinada participante deixou de ganhar prê-mio porque a pergunta realizada não tinha fundamentação para ser respondida.20

A teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico. De início, pode-se argumentar ser impossível a aplicação da teoria da perda de uma chance na seara médica, tendo em vista a suposta ausência de nexo causal entre a conduta (o erro do médico) e o dano (lesão gerada pela perda da vida), uma vez que o prejuízo causado pelo óbito da paciente teve como causa direta e imediata a própria doença, e não o erro médico. Assim, alega-se que a referida teoria estaria em confronto claro com a regra insculpida no art. 403 do CC, que veda a indenização de danos indiretamente gerados pela conduta do réu. Deve-se notar, contudo, que a responsabilidade civil pela perda da chance não atua, nem mesmo na seara médica, no campo da mitigação do nexo causal. A perda da chance, em verdade, consubstancia uma modalidade autônoma de indenização, passível de ser invocada nas hipóteses em que não se puder apurar a responsabilidade direta do agente pelo dano final. Nessas situações, o agente não responde pelo resultado para o qual sua conduta pode ter contribuído, mas apenas pela chance de que ele privou a paciente. A chance em si – desde que seja concreta, real, com alto grau de probabilidade de obter um benefício ou de evitar um prejuízo – é considerada um bem autônomo e perfeitamente reparável. De tal modo, é direto o nexo causal entre a conduta (o erro médico) e o dano (lesão gerada pela perda de bem jurídico autônomo: a chance). Inexistindo, portanto, afronta à regra inserida no art. 403 do CC, mostra-se aplicável a teoria da perda de uma chance aos casos em que o erro médico tenha reduzido chances concretas e reais que poderiam ter sido postas à disposição da paciente (REsp n. 1.254.141-PR, rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em 04.12.2012.

19. Neste sentido, Guilherme Couto de Castro defende que o justo e correto é pagar o meio--termo. Mas há casos muito delicados que não se encaixam na balança da mera probabilidade.Esses casos provocam certa discussão, em boa parte porque não se pode adequá-los à ideia dedano patrimonial, e sim de dano moral em sentido amplo (na maior parte punitivo). Exemplorecorrente é o do advogado que perde o prazo do apelo e é condenado a indenizar o cliente(Direito civil: Lições. 3. ed. Impetus, 2009. p. 177-178).

Não é possível a fixação da indenização pela perda de uma chance no valor integral corres-pondente ao dano final experimentado pela vítima, mesmo na hipótese em que a teoria da perda de uma chance tenha sido utilizada como critério para a apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico. Isso porque o valor da indenização pela perda de uma chance somente poderá representar uma proporção do dano final experimentado pela vítima (REsp n. 1.254.141-PR, rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em 04.12.2012).

20. Recurso especial. Indenização. Impropriedade de pergunta formulada em programade televisão. Perda da oportunidade. 1. O questionamento, em programa de perguntas e respostas, pela televisão, sem viabilidade lógica, uma vez que a Constituição Federal não indica percentual relativo às terras reservadas aos índios, acarreta, como decidido pelas instâncias ordinárias, a impossibilidade da prestação por culpa do devedor, impondo o dever de ressarcir o participante pelo que razoavelmente haja deixado de lucrar, pela perda da oportunidade. 2.Recurso conhecido e, em parte, provido (REsp n. 788.459/BA, rel. Ministro Fernando Gonçalves,4ª Turma, j. em 08.11.2005, DJ, 13.03.2006, p. 334). Ver, ainda: TJSP, Apelação n. 994093324931,rel. Enio Zuliani, Comarca: Osasco, 4ª Câmara de Direito Privado, j. em 13.05.2010, data deregistro: 14.06.2010.

Vale mencionar ainda os seguintes julgados: REsp n. 1.104.665/RS, rel. Ministro Massami Uyeda, j. em 09.06.2009 (ver Informativo n. 398); e, REsp n. 821.004/MG, rel. Ministro Sidnei Beneti, j.

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Observe o julgado:

Teoria. Perda. Chance. Concurso. Exclusão. A Turma decidiu não ser aplicável a teoria da perda de uma chance ao candidato que pleiteia indenização por ter sido excluído do concurso público após reprovação no exame psicotécnico. De acordo com o Min. Relator, tal teoria exige que o ato ilícito implique perda da oportunida-de de o lesado obter situação futura melhor, desde que a chance seja real, séria e lhe proporcione efetiva condição pessoal de concorrer a essa situação. No entanto, salientou que, in casu, o candidato recorrente foi aprovado apenas na primeira fase da primeira etapa do certame, não sendo possível estimar sua probabilidade em ser, além de aprovado ao final do processo, também classificado dentro da quantidade de vagas estabelecidas no edital. AgRg no REsp n. 1.220.911-RS, rel. Ministro Castro Meira, j. em 17.03.2011 (ver Informativo n. 466).

O tema foi levado à V Jornada de Direito Civil, vejamos:

444 – Art. 927. A responsabilidade civil pela perda de chance não se limita à categoria de danos extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias do caso concreto, a chance per-dida pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial. A chance deve ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais apriorísticos.

12.2.3.1.3. Dano incerto

Segundo a jurisprudência do STJ, não se poderia indenizar um dano incerto porque o mesmo não possui guarita na ordem jurídica brasileira.21

12.2.3.1.4. Dano material futuro

Poder-se-ia sustentar que é possível a ocorrência de um dano material futuro, quando esse for certo e concreto. Tal fato não seria cabível se o mesmo fosse hipotético.22

em 19.08.2010 (ver Informativo n. 443). Consultar ainda: Proc. nº 0075000-41.2008.5.04.0017. Disponível em <http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=20143>. Public. 16 ago 2010.

21. Responsabilidade civil. Transporte aéreo. Extravio de bagagem. Inaplicabilidade da convenção de Varsóvia. Relação de consumo. Código de Defesa do Consumidor. Indenização ampla. Danos materiais e morais. Orientação do tribunal. Pagamento de bolsa de estudos. Dano incerto e eventual. Aprovação incerta. Exclusão da indenização. Recurso acolhido parcialmente. Maioria.

I – Nos casos de extravio de bagagem ocorrido durante o transporte aéreo, há relação de con-sumo entre as partes, devendo a reparação, assim, ser integral, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, e não mais limitada pela legislação especial. II – Por se tratar de dano incerto e eventual, fica excluída da indenização por danos materiais a parcela correspondente ao valor da bolsa que o recorrido teria se tivesse sido aprovado no exame para frequentar o curso de mes-trado (REsp n. 300.190/RJ, rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma, j. em 24.04.2001, DJ, 18.03.2002, p. 256).

22. Vide REsp n. 183.508/RJ.

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12.2.3.1.5. Dano moral23

Carlos Roberto Gonçalves, apoiado em Zannoni, afirma que o dano moral consistiria na lesão a um interesse que visa à satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade ou nos atributos da pessoa.24-25

Vale citar a V Jornada de Direito Civil:

445 – Art. 927. O dano moral indenizável não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor ou sofrimento.

Sobre o tema, um interessante julgado:

Reparação por danos morais. Atos praticados por deputado federal. Ofensas veiculadas pela imprensa e por aplicações de internet. Imunidade parlamen-tar. Alcance de limitações. Atos praticados em função do mandato legislativo. Não abrangência de ofensas pessoais. Violência à mulher. As opiniões ofen-sivas proferidas por deputados federais e veiculadas por meio da imprensa, em manifestações que não guardam nenhuma relação como o exercício do mandato, não estão abarcadas pela imunidade material prevista no art. 53 da CF/88 e são aptas a gerar dano moral. O propósito recursal consiste em determi-nar se a imunidade parlamentar torna inexigível a reparação por danos morais, em razão de ofensas, sem relação com o mandato, veiculadas tanto no Plenário da Câ-mara dos Deputados quanto em entrevista divulgada na imprensa e em aplicações na internet. Inicialmente, cabe pontuar que a Constituição outorga aos membros do Poder Legislativo, de maneira irrenunciável, a imunidade parlamentar para o desempenho de suas funções com autonomia e independência. Dentre as imuni-

23. Súmulas do STJ com referência ao dano moral:37 – “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.”227 – “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”281 – “A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.”326 – “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postu-

lado na inicial não implica sucumbência recíproca.”

24. 362 – “A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento.”

370 – “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.”385 – “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por

dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.”387 – “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.”388 – “A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.”402 – “O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula

expressa de exclusão.”420 – “Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos morais.”624 – “É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei n.

10.559/2002 (Lei da Anistia Política).”Art. 186 do Código Civil.

25. STF, AgRg no RE n. 387.014/SP, rel. Ministro Carlos Velloso, 2ª Turma, j. em 08.06.2004.GONçALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil, 8. ed. (rev. de acordo com o novo Código

Civil). São Paulo: Saraiva, 2003. p. 549).

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dades, destacam-se as materiais que garantem a inviolabilidade penal e civil dos parlamentares por suas opiniões, palavras e votos, cumprindo ressaltar que não podem ser consideradas como prerrogativas absolutas, sem exceções em casos específicos. Na hipótese analisada, as manifestações feitas, no sentido de ofender deputada afirmando que não “mereceria ser estuprada” não guardam qualquer re-lação com a atividade parlamentar e, portanto, não incide a imunidade prevista no art. 53 da CF. No que tange à potencialidade indenizatória da agressão, cabe salien-tar serem múltiplos os fundamentos para a compensação dos danos morais. Sob o prisma constitucional, tem-se o princípio da dignidade da pessoa humana. No plano infraconstitucional, tem-se que a edição do atual Código Civil tratou adequa-damente a questão, em verdadeiro avanço à codificação anterior. No CC/02, o art. 186 exerce a função de cláusula geral de responsabilidade civil, com previsão expressa do dano moral, afastando qualquer dúvida que poderia haver. A reparabilidade dos danos morais exsurge no plano jurídico a partir da simples violação, ou seja, existente o evento danoso, surge a necessidade de reparação, observados os pressupostos da responsabilidade civil em geral. Uma consequência do afirmado acima seria a prescin-dibilidade da prova de dano em concreto à subjetividade do indivíduo que pleiteia a indenização. Cumpre notar que a ofensa perpetrada toca em uma questão nevrálgica, de extrema sensibilidade para a sociedade brasileira, que é a violência contra a mulher. Ademais, percebe-se que a mensagem publicada pelo Deputado encontrou grande re-verberação em seu público, o que tem a nefasta consequência de reforçar a concepção bárbara de que, nos crimes sexuais, a vítima concorre para a ocorrência do delito. Ao afirmar que a deputada não “mereceria” ser estuprada, atribui-se ao crime a qualidade de prêmio, de benefício à vítima, em total arrepio do que prevê o ordenamento jurídico em vigor. Ao mesmo tempo, reduz a pessoa da recorrida à mera coisa, objeto, que se submete à avaliação do ofensor se presta ou não à satisfação de sua lascívia violenta. Conclui-se, portanto, pela presença de danos à pessoa da ofendida, ensejando a ne-cessária reparação pelos danos morais causados pelo recorrente. REsp 1.642.310-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em 15/8/2017, DJe 18/8/2017. (Inf. n. 609) (grifos nossos)

Direito Civil e consumidor. Recusa de clínica conveniada a plano de saúde em realizar exames radiológicos. Dano moral. Existência. Vítima menor. Irrelevân-cia. Ofensa a direito da personalidade. – A recusa indevida à cobertura médica pleiteada pelo segurado é causa de danos morais, pois agrava a situação de aflição psicológica e de angústia no espírito daquele. Precedentes. As crianças, mesmo da mais tenra idade, fazem jus à proteção irrestrita dos direitos da personalidade, entre os quais se inclui o direito à integridade mental, assegurada a indenização pelo dano moral decorrente de sua violação, nos termos dos arts. 5º, X, in fine, da CF, e 12, caput, do Código Civil de 2002. – Mesmo quando o prejuízo impingido ao menor decorre de uma relação de consumo, o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 6º, VI, as-segura a efetiva reparação do dano, sem fazer qualquer distinção quanto à condição do consumidor, notadamente sua idade. Ao contrário, o art. 7º da Lei n. 8.078/90 fixa o chamado diálogo de fontes, segundo o qual sempre que uma lei garantir algum di-reito para o consumidor ela poderá se somar ao microssistema do Código de Defesa do Consumidor, incorporando-se na tutela especial e tendo a mesma preferência no trato da relação de consumo. Ainda que tenha uma percepção diferente do mundo e uma maneira peculiar de se expressar, a criança não permanece alheia à realidade que a cerca, estando igualmente sujeita a sentimentos como o medo, a aflição e a angústia. Na hipótese específica dos autos, não cabe dúvida de que a recorrente, então com apenas três anos de idade, foi submetida a elevada carga emocional. Mes-mo sem noção exata do que se passava, é certo que percebeu e compartilhou da

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agonia de sua mãe tentando, por diversas vezes, sem êxito, conseguir que sua filha fosse atendida por clínica credenciada ao seu plano de saúde, que reiteradas vezes se recusou a realizar os exames que ofereceriam um diagnóstico preciso da doença que acometia a criança. Recurso especial provido (REsp 1037759/RJ, rel.ª Ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. em 23.02.2010, DJe, 05.03.2010) (ver Informativo n. 424).

Note-se que o mero dissabor não gera ofensa moral, e consequentemente não poderíamos falar em compensação. Nesse sentido, a jurisprudência do Su-perior Tribunal de Justiça:

Recurso especial – Responsabilidade civil – Indenização por danos morais – Imóvel – Defeito de construção – Infiltrações em apartamento – Possibilidade de utilização – Constatação, pelas instâncias ordinárias – Lamentável dissabor – Dano moral – Não caracterizado – Recurso especial improvido.I – As recentes orientações desta Corte Superior, a qual alinha-se esta Relatoria, caminham no sentido de se afastar indenizações por danos morais nas hipóteses em que há, na realidade, aborrecimento, a que todos estão sujeitos.II – Na verdade, a vida em sociedade traduz, infelizmente, em certas ocasiões, dissabores que, embora lamentáveis, não podem justificar a reparação civil, por dano moral. Assim, não é possível se considerar meros incômodos como ensejadores de danos morais, sendo certo que só se deve reputar como dano moral a dor, o vexame, o sofrimento ou mesmo a humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, chegando a causar-lhe aflição, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar.III – No caso, a infiltração ocorrida no apartamento dos ora recorrentes, embora tenha causado, é certo, frustração em sua utilização, não justifica, por si só, indenização por danos morais. Isso porque, embora os defeitos na construção do bem imóvel tenham sido constatados pelas Instâncias ordinárias, tais circunstâncias, não tornaram o imóvel impróprio para o uso.IV – Recurso especial improvido (REsp n. 1234549/SP, Rel. Ministro Massami Uyeda, 3ª Turma, j. em 01.12.2011, DJe, 10.02.2012).

E ainda o Enunciado n. 159 da III Jornada de Direito Civil afirma:

Art. 186. O dano moral, assim compreendido todo o dano extrapatrimonial, não se carac-teriza quando há mero aborrecimento inerente a prejuízo material.

Assim julgou o STJ:

Processual civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Presença de corpo estranho em alimento. Dano moral. Decisão mantida.1. Consoante a jurisprudência desta Corte, ausente a ingestão do produto considerado impróprio para o consumo, em virtude da presença de corpo estranho, não se configura o dano moral indenizável.2. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no AREsp n. 445.386/SP, Rel.Ministro Antonio Carlos Ferreira, 4ª Turma, j. em 19.08.2014, DJe, 26.08.2014).

Porém, logo depois, o mesmo tribunal condenou determinada empresa em razão da presença de corpo estranho no produto adquirido pelo consumidor. Vejamos:

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Direito do consumidor. Dano moral decorrente da presença de corpo estranho em alimento.A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo es-tranho, expondo o consumidor a risco concreto de lesão à sua saúde e segurança, ainda que não ocorra a ingestão de seu conteúdo, dá direito à compensação por dano moral. A lei consumerista protege o consumidor contra produtos que coloquem em risco sua segurança e, por conseguinte, sua saúde, integridade física, psíquica, etc. Segundo o art. 8º do CDC, “os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores”. Tem-se, assim, a exis-tência de um dever legal, imposto ao fornecedor, de evitar que a saúde ou segurança do consumidor sejam colocadas sob risco. Vale dizer, o CDC tutela o dano ainda em sua potencialidade, buscando prevenir sua ocorrência efetiva (o art. 8º diz “não acarretarão riscos”, não diz necessariamente “danos”). Desse dever imposto pela lei, decorre a res-ponsabilidade do fornecedor de “reparar o dano causado ao consumidor por defeitos decorrentes de [...] fabricação [...] de seus produtos” (art. 12 do CDC). Ainda segundo o art. 12, § 1º, II, do CDC, “o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera [...], levando-se em consideração [...] o uso e os riscos” razoavel-mente esperados. Em outras palavras, há defeito – e, portanto, fato do produto – quando oferecido risco dele não esperado, segundo o senso comum e sua própria finalidade. Assim, na hipótese em análise, caracterizado está o defeito do produto (art. 12 do CDC), o qual expõe o consumidor a risco concreto de dano à sua saúde e segurança, em clarainfringência ao dever legal dirigido ao fornecedor, previsto no art. 8º do CDC. Diante dis-so, o dano indenizável decorre do risco a que fora exposto o consumidor. Ainda que, na espécie, a potencialidade lesiva do dano não se equipare à hipótese de ingestão do pro-duto contaminado (diferença que necessariamente repercutirá no valor da indenização), é certo que, mesmo reduzida, também se faz presente na hipótese de não ter havidoingestão do produto contaminado. Ademais, a priorização do ser humano pelo ordena-mento jurídico nacional exige que todo o Direito deva convergir para sua máxima tutela e proteção. Desse modo, exige-se o pronto repúdio a quaisquer violações dirigidas à dig-nidade da pessoa, bem como a responsabilidade civil quando já perpetrados os danosmorais ou extrapatrimoniais. Nessa linha de raciocínio, tem-se que a proteção da segu-rança e da saúde do consumidor tem, inegavelmente, cunho constitucional e de direitofundamental, na medida em que esses valores decorrem da especial proteção conferida à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF). Cabe ressaltar que o dano moral nãomais se restringe à dor, à tristeza e ao sofrimento, estendendo sua tutela a todos os bens personalíssimos. Em outras palavras, não é a dor, ainda que se tome esse termo no senti-do mais amplo, mas sua origem advinda de um dano injusto que comprova a existência de um prejuízo moral ou imaterial indenizável. Logo, uma vez verificada a ocorrência de defeito no produto, a afastar a incidência exclusiva do art. 18 do CDC à espécie (o qualpermite a reparação do prejuízo material experimentado), é dever do fornecedor de re-parar também o dano extrapatrimonial causado ao consumidor, fruto da exposição desua saúde e segurança a risco concreto e da ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa humana. (REsp n. 1.424.304-SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em 11.03.2014. Informativo n. 537).

Importante! O art. 8º, do CDC sofreu alteração em sua redação pela Lei n. 13.486/2017, que incluiu o § 2º estabelecendo que: “O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensí-lios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do consumidor, e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre orisco de contaminação.”

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O mero descumprimento contratual acarreta dano moral? Apresento a V Jornada de Direito Civil:

411 – Art. 186. O descumprimento de contrato pode gerar dano moral quando envolver valor fundamental protegido pela Constituição Federal de 1988.

Destaco a jurisprudência abaixo:

Recurso especial. Processo civil. Direito civil. Incorporação imobiliária. Inexecu-ção contratual. Dano moral. Ocorrência. Ausência de responsabilidade solidária na indenização por danos morais do proprietário do terreno. Súmula 07 do STJ. Dissídio jurisprudencial não demonstrado. Art. 557, § 2º do CPC. Súmula 284 do STJ. Violação do art. 535 do CPC não configurada. (...) 2. A inexecução de contrato de promessa de compra e venda de unidade habitacional, em virtude da ausência de construção do empreendimento imobiliário pela incorporadora, transcorridos 09 (nove) anos da data aprazada para a entrega, causa séria e fundada angústia no espírito do adquirente, não se tratando, portanto, de mero dissabor advindo de cor-riqueiro inadimplemento de cláusula contratual, ensejando, assim, o ressarcimento do dano moral. Precedentes. 3. A Lei de Incorporações (Lei 4.591/64) equipara o pro-prietário do terreno ao incorporador, desde que aquele pratique alguma atividade condizente com a relação jurídica incorporativa, atribuindo-lhe, nessa hipótese, res-ponsabilidade solidária pelo empreendimento imobiliário. Na hipótese vertente, to-davia, a jurisdição ordinária consignou, mediante ampla cognição fático-probatória, que a ora recorrida limitou-se à mera alienação do terreno para a incorporadora, que tomou para si a responsabilidade exclusiva pela construção do referido empreen-dimento. (...) (REsp n. 830.572/RJ, rel. Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, j. em 17.05.2011, DJe, 26.05.2011).

æ Nota!

Há responsabilidade civil do cúmplice de relacionamento extraconjugal no caso de ocultação de paternidade biológica?

Direito civil. Inexistência de responsabilidade civil do cúmplice de relacionamento extraconjugal no caso de ocultação de paternidade biológica.

O “cúmplice” em relacionamento extraconjugal não tem o dever de reparar por danos morais o marido traído na hipótese em que a adúltera tenha ocultado deste o fato de que a criança nascida durante o matrimônio e criada pelo casal seria filha biológica sua e do seu “cúmplice”, e não do seu esposo, que, até a revelação do fato, pensava ser o pai biológico da criança.  Isso porque, em que pese o alto grau de reprovabilidade da con-duta daquele que se envolve com pessoa casada, o “cúmplice” da esposa infiel não é solidariamente responsável quanto a eventual indenização ao marido traído, pois esse fato não constitui ilícito civil ou penal, diante da falta de contrato ou lei obrigando terceiro estranho à relação conjugal a zelar pela incolumidade do casamento alheio ou a revelar a quem quer que seja a existência de relação extraconjugal firmada com sua amante (REsp 922.462-SP, rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, j. em 04.04.2013).

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