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DIREITO CIVIL – PROF. CRISTIANO CHAVES DIA 22.02 Ou você se compromete com o objetivo da vitória, ou não.” Ayrton Sena DIREITOS DA PERSONALIDADE Não é possível tratar de direitos da personalidade, sem, antes, abordar o que vem a ser personalidade jurídica. Personalidade Jurídica Historicamente, se conceituou personalidade como sendo a aptidão para ser sujeito de direitos, aptidão para titularizar relações jurídicas. Relação implicacional: toda pessoa possui personalidade jurídica, ou seja, possui aptidão para ser sujeito de direito. Pessoa Personalidade Jurídica Aptidão para ser sujeito de direito Ocorre, contudo, que alguns autores, a exemplo de Pontes de Miranda, passaram a atacar o conceito histórico de personalidade jurídica. Pontes de Miranda foi o primeiro a se insurgir contra essa construção histórica. O condomínio edilício pode ser contratante, parte no processo, empregador, etc. Não há dúvidas, portanto, que o condomínio edilício, assim como todo e qualquer ente despersonalizado, titulariza relações jurídicas. Como sustentar que os entes despersonalizados não possuem personalidade jurídica? Percebe-se, então, a fragilidade do conceito histórico de personalidade jurídica. 1

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DIREITO CIVIL – PROF. CRISTIANO CHAVES

DIA 22.02

“Ou você se compromete com o objetivo da vitória, ou não.” Ayrton Sena

DIREITOS DA PERSONALIDADE

Não é possível tratar de direitos da personalidade, sem, antes, abordar o que vem a ser personalidade jurídica.

Personalidade Jurídica

Historicamente, se conceituou personalidade como sendo a aptidão para ser sujeito de direitos, aptidão para titularizar relações jurídicas.

Relação implicacional: toda pessoa possui personalidade jurídica, ou seja, possui aptidão para ser sujeito de direito.

Pessoa

Personalidade Jurídica

Aptidão para ser sujeito de direito

Ocorre, contudo, que alguns autores, a exemplo de Pontes de Miranda, passaram a atacar o conceito histórico de personalidade jurídica. Pontes de Miranda foi o primeiro a se insurgir contra essa construção histórica.

O condomínio edilício pode ser contratante, parte no processo, empregador, etc. Não há dúvidas, portanto, que o condomínio edilício, assim como todo e qualquer ente despersonalizado, titulariza relações jurídicas. Como sustentar que os entes despersonalizados não possuem personalidade jurídica?

Percebe-se, então, a fragilidade do conceito histórico de personalidade jurídica.

Atualmente, concebe-se a seguinte noção: toda pessoa possui personalidade jurídica e, por conseguinte, goza de uma proteção fundamental (essencial), qual seja, os direitos da personalidade.

Os direitos fundamentais formam a categoria fundamental do sistema.

O reconhecimento dos diretos da personalidade implicou na valorização do conceito de personalidade jurídica.

Pessoa

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Personalidade Jurídica

Proteção Fundamental (essencial)

Direitos da Personalidade

Os direitos da personalidade, que são de construção recente, tendem a proteger a pessoa.

Para o direito, a pessoa só interessa se tiver personalidade.

Somente as pessoas podem sofrer dano moral, os entes despersonalizados não.

Ao lado do conceito de personalidade surge o conceito de capacidade jurídica, que é a aptidão para ser sujeito de direitos.

A capacidade jurídica pode ser plena (quando o sujeito de direito puder praticar os atos pessoalmente) ou limitada (hipótese em que o sujeito de direito não pode praticar os atos da vida civil pessoalmente).

Entes despersonalizados não são pessoas e, dessa forma, não possuem personalidade jurídica. Não obstante, eles possuem capacidade jurídica e, consequentemente, são sujeitos de direito.

Todo aquele que tem personalidade, tem capacidade, mas a recíproca não é verdadeira. Ou seja, nem todo aquele que possui capacidade tem personalidade.

Toda pessoa tem capacidade, mas nem todo aquele que tem capacidade é uma pessoa.

Em síntese:

Personalidade Relações existenciais

Capacidade Relações patrimoniais

Direitos subjetivos são aqueles que conferem ao titular a prerrogativa de exigir de alguém comportamentos (positivos ou negativos).

Exemplos de direitos da personalidade: honra, nome, imagem, integridade física e psíquica.

A partir do conceito supradescrito é possível perceber que o rol de direitos da personalidade é exemplificativo. A esse respeito, vale dizer, que o direito brasileiro, na mesma linha do direito português e espanhol, estabeleceu uma cláusula geral de proteção da personalidade (ou direito geral da personalidade), reforçando a ideia de que o rol é exemplificativo. Não é necessário, dessa

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Os direitos da personalidade são: subjetivos, de construção recente, reconhecendo uma proteção mínima à essência da personalidade.

Os direitos da personalidade são: subjetivos, de construção recente, reconhecendo uma proteção mínima à essência da personalidade.

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maneira, que todos os direitos sejam tipificados por conta da cláusula geral, e, esta cláusula geral resume-se na dignidade da pessoa humana.

Os direitos da personalidade reconhecem o direito a uma vida digna nas relações privadas.

Celso Antônio Bandeira de Melo, em sua obra O Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade, dispõe que os princípios fundamentais não possuem conceitos rígidos, entretanto, é possível estabelecer um núcleo mínimo.

Conteúdo jurídico mínimo do princípio da dignidade da pessoa humana:

1. Integridade física e psíquica;

Lei 11.346/06: esta lei reconhece o direito à alimentação adequada.

2. Liberdade e igualdade;

REsp. 820.475/RJ: neste julgado o STJ reconheceu a possibilidade jurídica do pedido de união familiar homossexual.

3. Direito ao mínimo existencial (ou direito ao patrimônio mínimo).

Lei 11.382/06: esta lei modificou o art. 649 do CPC. Esta lei implantou o conceito de bem de família móvel com base no padrão médio de vida digna. Com o advento desta lei, então, se tornou possível a penhora de bens móveis de elevado valor. Não se pode conceber bem de família de elevado valor, porquanto o conceito de bem de família é parte integrante do mínimo existencial. Insta observar, que bens imóveis de elevado valor não podem ser penhorados à luz desta lei, tendo em vista que o Presidente da República vetou o artigo que também estabelecia um conceito de bem de família imóvel com base no padrão médio de vida digna.

O STJ se alinhou às mesmas pegadas da Lei 11.382/06, afastando a tese do Professor Guilherme Marinoni segundo a qual seria possível aplicar o princípio da dignidade da pessoa humana diretamente, para possibilitar a penhora de bens imóveis de elevado valor. Nesse sentido, bens imóveis de alto valor, na esteira da lei, não podem ser penhorados.

Não se pode confundir direitos da personalidade, direitos humanos e direitos fundamentais. Trata-se de categorias jurídicas distintas.

Direitos da personalidade são direitos essenciais da pessoa observados nas relações privadas.

Direitos humanos dizem respeito às relações jurídicas internacionais (perspectiva globalizada, internacional).

Os direitos fundamentais são aplicáveis no âmbito público e privado.

O STF, no julgamento do RE 201.819/RJ, reconheceu que os direitos fundamentais trazem consigo uma perspectiva vertical, assim como uma perspectiva horizontal (aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas).

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Momento aquisitivo dos Direitos da Personalidade

Três teorias explicativas da natureza do nascituro: teoria natalista, teoria concepcionista e teoria condicionista.

O momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a concepção, seja para a teoria concepcionista ou para a teoria condicionista.

Historicamente, o conceito de concepção, inclusive harmonizando o Direito Civil com Direito Penal, é a nidação (a fixação do embrião fecundado no útero materno no 14º dia). Pode-se dizer, pois, que com a nidação são adquiridos os direitos da personalidade.

Questões polêmicas relacionadas à aquisição dos direitos da personalidade

1. Natimorto: quem foi concebido, mas não nasceu com vida. Natimorto possui direitos da personalidade? Se o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a concepção e, o natimorto foi concebido, é evidente que ele possui direitos da personalidade. Ex.: direito ao nome, à sepultura, à imagem, etc. Nesse sentido, é o enunciado n. 1 da jornada de direito civil.

2. Ação proposta na comarca do Rio de Janeiro, pleiteando a paralização do uso indevido da imagem de exame de ultrasonografia, bem como indenização por violação de direito da personalidade. Caso a decisão do juiz transite em julgado antes do nascimento do nascituro, ele não poderá receber indenização uma vez que ainda não pode ser titular de direitos patrimoniais.

3. O embrião congelado pode ser titular de direitos da personalidade? O enunciado n. 2 da Jornada de Direito Civil, enfrentando a questão, estabeleceu que o Código Civil não seria a esfera adequada para cuidar desta questão. Deste modo, foi editada a Lei 11.105/05 (Lei de Biosegurança). Vale dizer que o art. 5º desta lei foi questionado no STF no bojo da ADI n. 3510/DF, a qual foi julgada improcedente.

No direito brasileiro somente é possível preparar embriões congelados para fins de reprodução humana (para fins científicos não!). Todavia, o artigo 5º da lei não ignora que, ao preparar embriões para fins reprodutivos, é possível haver uma sobra.

Os embriões remanescentes serão guardados pelo prazo de três anos. Findo este prazo, o médico notificará o casal para se manifestar acerca do interesse em uma nova reprodução e, caso a resposta seja negativa, os embriões serão descartados e, encaminhados para realização de pesquisas com células-tronco. De acordo com a declaração de constitucionalidade do referido art. 5º, o embrião congelado não é titular de direitos da personalidade, pois, se caso fosse, não poderia ser descartado.

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1 – Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.

1 – Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.

2 – Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.

2 – Art. 2º: sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.

Me recorde de o Min. Ayres Brito dizer que não há que se falar em direto à vida do embrião congelado. Ao embrião somente será assegurado o direito à vida na hipótese em que ele for inserido do útero materno.

Me recorde de o Min. Ayres Brito dizer que não há que se falar em direto à vida do embrião congelado. Ao embrião somente será assegurado o direito à vida na hipótese em que ele for inserido do útero materno.

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4. Direito sucessório do embrião congelado cujo pai faleceu antes da implantação no útero (art. 1.798, CC).

Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.

O dispositivo supratranscrito estabelece o marco para a capacidade sucessória.

Existem duas modalidades de concepção. A concepção uterina é chamada de nidação. Fertilização assistida é a concepção laboratorial.

Caio Mário informa que o conceito de concepção é uterino, negando, portanto, direito sucessório ao embrião congelado.

Por outro lado, a Profª. Maria Berenice Dias e a Profª. Giselda Hironaka defendem o direito sucessório do embrião congelado com base no princípio constitucional da igualdade entre os filhos (se todos os filhos são iguais, o embrião possui direitos sucessórios). Esta corrente é a que prevalece. Importa lembrar, que os direitos sucessórios são patrimoniais e, para titulariza-los não é necessário ser pessoa (obs.: o ente despersonalizado pode ser titular de direito patrimonial).

Momento extintivo dos Direitos da Personalidade

Os direitos da personalidade se extinguem com a morte.

Se a morte extingue a personalidade, naturalmente, ela também extingue os direitos da personalidade. Até porque não pode dispor de direitos da personalidade quem não possui personalidade.

Assim, os direitos da personalidade são intransmissíveis e vitalícios. Logo, os direitos da personalidade não são perpétuos.

Situações polêmicas relativas à extinção dos direitos da personalidade:

1. Sucessão processual (art. 43, CPC): na sucessão processual o titular de um direito da personalidade (honra, imagem, nome, etc.) sofre um dano, uma lesão, ainda vivo, ajuíza a ação e falece no curso do procedimento. Neste caso, os seus sucessores se habilitarão no processo e darão continuidade. Note que esta questão é eminentemente processual. Esse instituto da sucessão processual não implica a transmissão de direitos da personalidade.

2. Transmissão do direito à reparação de danos (art. 943, CC): se o titular de um direito da personalidade sofreu a lesão ainda vivo, tendo falecido sem propor ação, transmite-se ao seu espólio o direito de requerer a indenização em lugar do falecido. O direito da personalidade não é transmitido. O que se transmite é apenas o direito de requerer indenização (transmite-se apenas o direito patrimonial de requerer indenização por violação de direito da personalidade). O espólio, portanto, recebe o direito de requerer a reparação. Dessa forma, o juiz fixará apenas uma indenização (aquela que seria devida ao falecido). Este direito de exigir a reparação, que é transmitido para o espólio, pressupõe a não ocorrência de

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prescrição, isto porque ninguém pode transmitir mais do que tem. O direito do espólio tem que ser exercido dentro do prazo prescricional que já se iniciou.

Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.

3. Lesados indiretos (art. 12, parágrafo único, CC): se o dano a um direito da personalidade ocorre após o óbito do titular, atingirá diretamente o morto. Ocorre que, nesse caso, o dano dirigido diretamente ao morto não produzirá nenhum efeito jurídico (nada decorrerá). Contudo, além de atingir diretamente o morto, este dano atingirá também indiretamente os seus familiares vivos. Os direitos que decorrem dessa circunstância são titularizados pelos chamados lesados indiretos, que são os familiares do morto, os quais são atingidos indiretamente pelo dano dirigido diretamente ao morto.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Nesta situação, os familiares atuam em nome próprio, defendendo direito próprio (o lesado indireto não é substituto processual). Na hipótese dos lesados indiretos, eles reclamam um direito da personalidade próprio consistente em defender a personalidade dos seus parentes mortos.

Os lesados indiretos são: o cônjuge, descendentes, ascendentes e colaterais até o quarto grau.

Nesse ponto, não se observa a ordem de vocação sucessória. Isto significa dizer que os lesados indiretos possuem legitimação concorrente. A partir desse raciocínio, cada lesado deverá demonstrar o dano provocado. Vale dizer, que nada impede a formação de litisconsórcio facultativo ativo (obviamente).

O rol de lesados indiretos é meramente exemplificativo e, por esta razão, admite-se a inclusão de outras pessoas ligadas afetivamente ao morto. Ex.: namorada, noiva, enteado, entre outros.

Atenção, o rol dos lesados indiretos sofrerá a exclusão dos colaterais até o quarto grau quando se tratar de violação do direito à imagem. Isto se justifica pelo fato de que o código entende que o direito à imagem é mais fluído e, como os colaterais não são tão próximos, eles não teriam legitimidade.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da

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Em uma interpretação civil constitucional, deve-se acrescentar o companheiro e o parceiro homoafetivo.

Em uma interpretação civil constitucional, deve-se acrescentar o companheiro e o parceiro homoafetivo.

Todo litisconsórcio ativo é facultativo.

Todo litisconsórcio ativo é facultativo.

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indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Enunciado n. 5 da Jornada de Direito Civil.

REsp. 86.109: este primeiro julgado versa sobre o caso de Lampião e Maria Bonita. A filha do casal descobriu que a imagem de seus pais estaria sendo indevidamente utilizada. Nesta hipótese, os irmãos dos falecidos não possuem legitimidade para tanto, pois que se trata de lesão à imagem dos falecidos.

REsp. n. : este julgado versa sobre o caso de Garrincha. Os filhos de Garrincha ajuizaram ação alegando violação ao direito da personalidade do morto. Neste caso, o STJ arbitrou indenização de R$ 75.000,00 para cada filho do falecido.

É possível tutela judicial dos direitos do morto. Os lesados indiretos são titulares da tutela judicial dos direitos da personalidade da pessoa morta. Não se pode confundir: a pessoa morta não possui direitos da personalidade.

Conclusão: os direitos da personalidade não se transmitem.

Fontes dos Direitos da Personalidade

Fonte é o nascedouro, a origem.

Maria Helena Diniz e a doutrina amplamente majoritária sustentam que os direitos da personalidade são provenientes do jusnaturalismo1. Os direitos da personalidade então emanariam de uma ordem natural preconcebida, motivo pelo qual não teriam natureza jurídica. O grande exemplo trabalhado por estes autores é o Tribunal de Nuremberg: os oficiais nazistas foram condenados sob o argumento de que o cumprimento da lei não pode inobservar prescrições naturalmente preconcebidas (obs.: os oficiais alegaram que cumpriram a lei).

Minoritariamente, Pontes de Miranda e Gustavo Tepedino, sustentam o caráter normativo dos direitos da personalidade e não naturalista. Argumentam, que se os direitos da personalidade fossem naturais, eles também teriam que ser também universais (vários países do mundo não observam os direitos da personalidade; ex.: alguns países preveem a pena de morte). Assim sendo, os direitos da personalidade consistiriam em uma opção normativa. Obs.: se os direitos da personalidade são inatos, de onde é que provém a autorização para aplicar pena de morte em tempo de guerra no Brasil???

O princípio da proibição de retrocesso, de índole constitucional, obsta qualquer tipo de sacrifício futuro de direito da personalidade. Não procede, assim, o argumento de que os direitos da personalidade, por possuírem um caráter normativo, poderiam ser facilmente suprimidos.

Direitos da Personalidade e Liberdades Públicas

1 O jusnaturalismo tem sua origem no cristianismo.

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Os direitos da personalidade são vistos por uma ótica eminentemente privada, portanto, os direitos da personalidade asseguram o direito à vida digna nas relações privadas. Entretanto, não é difícil perceber que eventualmente o exercício de um direito da personalidade exige a imposição de obrigações positivas ou negativas ao poder público. Toda vez que se impuser ao poder público uma obrigação positiva ou negativa para garantir o exercício de um direito da personalidade, chama-se isso de liberdades públicas.

As liberdades públicas são obrigações impostas ao Estado para assegurar ao titular o exercício de um direito da personalidade. Ex.: Direito de locomoção e habeas corpus. O direito de locomoção impõe ao Estado a concessão de habeas corpus quando necessário. A garantia do habeas corpus é uma liberdade pública disponibilizada para garantir o exercício do direito de locomoção (direito de ir e vir). Os direitos da personalidade, assim como as liberdades públicas, eventualmente, podem figurar no rol de direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal (Ex.: privacidade, imagem, habeas corpus2, etc.)

DIA 10.03

Direitos da Personalidade da Pessoa Jurídica

Vem-se discutindo se a pessoa jurídica titulariza ou não direitos da personalidade. Existem posicionamentos diversos sobre esse assunto na doutrina.

O entendimento predominante, no entrechoque de ideias, resume-se à noção de que os direitos da personalidade estão ancorados na cláusula geral de proteção da dignidade da pessoa humana, de sorte que, por essa razão, eles não podem ser reconhecidos às pessoas jurídicas.

Enunciado n. 286. Os direitos da personalidade são direitos inerentes....

Percebe-se, pois, que os direitos da personalidade foram construídos com base na dignidade da pessoa humana, não se estendendo às pessoas jurídicas.

A pessoa jurídica, de qualquer sorte, possui personalidade.

Os direitos da personalidade foram concebidos a partir da ideia de que toda pessoa tem personalidade e, quem tem personalidade, possui direitos da personalidade. Ter personalidade jurídica significa ter proteção essencial, ter proteção dos direitos da personalidade. Nesse sentido, a pessoa jurídica possui personalidade e, em decorrência disso, faz jus à proteção. O art. 52 do CC não estabelece que as pessoas jurídicas dispõem de direitos da personalidade, mas merece a proteção que provém desses direitos.

Art. 52, CC. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.

O dispositivo legal supra evidencia que os direitos da personalidade foram construídos pelo homem e para o homem. Os direitos da personalidade constituem uma categoria jurídica essencialmente humana, embora a proteção deles decorrentes alcance as pessoas jurídicas, por conta de um atributo

2 O habeas corpus consiste em uma liberdade pública.

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Este artigo está a dizer que as pessoas jurídicas não são titulares de direitos da personalidade, mas são alcançadas pela proteção deles decorrentes, no que couber.

Este artigo está a dizer que as pessoas jurídicas não são titulares de direitos da personalidade, mas são alcançadas pela proteção deles decorrentes, no que couber.

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de elasticidade. O atributo de elasticidade é uma qualidade dos direitos da personalidade; é o que permite que os direitos da personalidade, embora ordinariamente não alcancem as pessoas jurídicas, a sua proteção seja aplicável a elas no que couber.

“No que couber” significa: naquilo que a sua falta de estrutura biopsicológica permita exercer.

A proteção dos direitos da personalidade alcança as pessoas jurídicas naquilo que a sua falta de estrutura biopsicológica permita exercer. Nessa linha de raciocínio, tem-se os seguintes exemplos: direito ao nome (a estrutura biopsicológica da pessoa jurídica lhe permite ter essa proteção), direito à privacidade (segredo empresarial), direito à imagem, direito autoral, etc.

Outros direitos da personalidade não podem ser reconhecidos às pessoas jurídicas, por conta da sua falta de estrutura biopsicológica, dentre eles: direito à integridade física e direito à intimidade.

Se a pessoa jurídica não possui direitos da personalidade, mas goza da proteção que deles decorre, é possível a pessoa jurídica sofrer dano moral? De acordo com a súmula 227/STJ, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral, no que couber (REsp. 433.954). Rememore-se que dano moral nada mais do que lesão a direito da personalidade.

Conflitos entre direitos da personalidade e direito de comunicação social

O direito de comunicação social abrange, a um só tempo, liberdade de imprensa e liberdade de expressão.

Note, que é possível esses dois direitos estarem em rota de colisão. Explicitada essa possibilidade de conflito e de tensão entre direitos da personalidade e direito de comunicação social, é de se indagar qual seria a solução para o conflito.

A solução para esse conflito passa pela técnica ponderação de interesses.

Evite incorrer no seguinte erro: confundir ponderação de interesses com proporcionalidade. A proporcionalidade se apresenta com duas feições: como princípio interpretativo das normas ou como técnica de solução de conflitos normativos. Atenção. Quando a proporcionalidade se apresenta como princípio interpretativo, ela é denominada por razoabilidade. Por seu turno, quando a proporcionalidade se apresenta como técnica de solução de conflitos, ela é denominada como ponderação de interesses. Nesse sentido, saliente-se que toda ponderação de interesses é proporcionalidade, mas nem toda proporcionalidade é ponderação de interesses.

Viola o princípio da proporcionalidade a disposição condominial que proíbe peremptoriamente a entrada de animais no condomínio. Esta norma é desarrazoada, pois que nessa situação proíbe-se, inclusive, a entrada de peixes em aquário. Proporcionalidade como princípio interpretativo.

Utilização de provas ilícitas em benefício do réu. Ponderação da vedação das provas ilícitas e a ampla defesa do réu. Ponderação como técnica de solução de conflitos.

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Protesto indevido de duplicata ensejou o reconhecimento de dano moral à pessoa jurídica.

Protesto indevido de duplicata ensejou o reconhecimento de dano moral à pessoa jurídica.

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O eventual conflito entre direitos da personalidade e direitos de comunicação social resolve-se pela ponderação de interesses e, portanto, a solução é casuística, ou seja, depende do caso concreto. Deve-se colocar em uma balança hipotética os dois valores conflitantes (em colisão), para descobrir no caso concreto qual deles merece proteção. A solução do conflito por meio da ponderação de interesses permite descobrir qual dos valores em colisão possui maior densidade valorativa no caso concreto, o direito da personalidade ou o direito de comunicação social.

Percebe-se, a partir desse raciocínio, que no sistema brasileiro não existem direitos absolutos. Os direitos podem, portanto, sofrer mitigação.

Obs.: dizer que a liberdade de imprensa não é absoluta, não significa a repristinação da censura.

Nesse particular, o direito brasileiro se afasta do direito norte americano (“hate speech”: discurso do ódio ou da intolerância; são as manifestações de desprezo por outras pessoas ou por grupos sociais). O direito brasileiro não admite o “hate speech”. No Brasil, a liberdade de expressão não é absoluta.

STF/HC 82.424/RS: nessa decisão o STF admitiu o processamento de uma ação penal contra um descendente de alemão que publicou uma obra anti-semita, defendendo ideais nazistas (descaracterizando os judeus).

Deve-se ter em mente que a solução extraída pela ponderação de interesses é casuística, isto é, no caso particular.

Vide as súmulas 221 e 281, ambas do STJ.

Súmula 221. São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação. Hipótese em que súmula cria responsabilidade solidária.

Súmula 281. Não se aplica à indenização por dano moral causado pela imprensa a limitação de tarifa imposta pela lei de imprensa. Obs.: a lei de imprensa não foi recepcionada pelo ordenamento brasileiro.

Frisa-se, a liberdade de imprensa não é ilimitada. Ex.: Casseta e Planeta.

Características dos Direitos da Personalidade

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Verifica-se três diferentes ideias em uma mesa frase.

Os direitos

Intransmissível e irrenunciáveis são espécies do gênero “indisponíveis”.

A redação do artigo 11 do Código Civil pode ser substituída pela seguinte: os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis.

Características eleitas pelo art. 11 para os direitos da personalidade são: intransmissibilidade e irrenunciabilidade. Esses direitos podem sofrer restrição voluntária nos casos previstos em lei.

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Exemplo de restrição voluntária: doação de órgãos, doação de sangue, cessão de imagem, etc.

Vide Enunciado n. 139 da Jornada de Direito Civil: a restrição dos direitos da personalidade não necessitam estar expressamente previstos em lei. Embora o art. 11 se refira a atos de restrição voluntária previsto em lei, a doutrina vem sustentando que os atos de restrição voluntária podem decorrer da autonomia privada, como ocorre no caso da doação de órgãos.

139   –  Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.

Admitido um ato de restrição voluntária aos direitos da personalidade, haveriam limites a esta restrição voluntária? Sim. Existem limites.

Limites ao ato de restrição voluntária a direitos da personalidade:

1. O ato de restrição não pode ser permanente (tem de ser temporário); Ex.: contrato de cessão permanente do direito de imagem do jogador Ronaldo à Nike (se este contrato existir, ele pode ser denunciado, buscando-se a sua interrupção).

2. O ato de restrição não pode ser genérico (tem que ser específico); Ex.: as pessoas que estão confinadas no BBB cederam à rede globo o seu direito à imagem, e tão somente; o direito a honra dessas pessoas não pode ser violado.

3. A restrição ao direito da personalidade não pode violar a dignidade do titular, mesmo que ele consinta; Ex.: arremesso de anões.

Vide enunciado n. 4 da jornada de Direito Civil:

4 – Art.11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral.

Os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis, mas o seu exercício admite restrição voluntária.

Além das características dos direitos da personalidade expressas no artigo 11 (intransmissibilidade e irrenunciabilidade), existem outras.

a) Absolutos: no sentido de oponíveis erga omnes (os direitos da personalidade são relativos, na medida em que admitem restrição).

b) Inatos: decorrem de uma ordem preconcebida (do direito natural).

c) Extrapatrimoniais: significa que o seu conteúdo não tem valor econômico (não possui expressão patrimonial). Dizer que os direitos da personalidade são extrapatrimoniais, não significa dizer que não resulta indenização da sua violação.

d) Vitalícios e intransmissíveis: os direitos da personalidade extinguem com o titular. Obs.: o art. 943 permite a transmissão do direito à reparação, e não a transmissão do direito da personalidade.

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e) Imprescritívies: não há prazo extintivo para o seu exercício (não há prazo para que o titular exerça o seu direito da personalidade). Haverá sim prazo extintivo para que o titular reclame eventual indenização por violação de direito da personalidade (o pleito indenizatório prescreve em três anos).

Há um caso em que o STJ estabelece a imprescritibilidade de uma pretensão reparatória: REsp. 816.209/RJ. Neste REsp. o STJ reconheceu a imprescritibilidade da pretensão reparatória decorrente de tortura. Entendeu o STJ que se a tortura é imprescritível, a reparação dela decorrente também o será. Obs.: utilizando-se este entendimento, os negros e os quilombolas poderão propor ação reparatória.

Proteção jurídica dos Direitos da Personalidade

Historicamente, a tutela jurídica dos direitos esteve baseada no fenômeno lesão sanção, ou seja, a proteção jurídica esteve ancorada na imposição de sanção a toda e qualquer lesão. Qual seria esta sanção imposta? No sistema jurídico brasileiro, esta sanção sempre foi, historicamente, perdas e danos. Todavia, desde o advento da reforma processual de 1994 e do Código de Defesa do Consumidor em 1990, o sistema jurídico começou a discutir a idoneidade do binômio lesão/sanção, de modo que se pretendia discutir se este binômio efetivamente protegia os direitos. Chegou-se então à conclusão de que a vítima da lesão não estava interessa somente na imposição de sanção ao agente, muito mais do que isso a vítima almejava a proteção efetiva do seu direito (quando o nome de alguma pessoa é inserido indevidamente nos órgãos de cadastro de proteção ao crédito a primeira ato que vítima deseja é a retirada do seu nome do referido registro). O CC 2002 rompeu o binômio lesão/são em face da sua insuficiência. O código civil passou a entender que a vítima da violação do direito da personalidade não pretendia apenas o ressarcimento. Desse modo, o Código estabeleceu um novo sistema protetivo dos direitos da personalidade.

A proteção jurídica dos direitos da personalidade se apresenta em duas vertentes: ela é preventiva, sem prejuízo de ser também compensatória (preventiva e/ou compensatória).

Preventiva: processualmente, a proteção aos direitos da personalidade se dá por meio da tutela específica (art. 461, CC – jurisdição individual; art. 84, CDC – jurisdição coletiva).

Compensatória: a proteção subsiste por meio de indenização por danos morais (Art. 5º, V, X e XII, CF).

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.

Proteção preventiva de direitos da personalidade

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Tutela penal (crimes contra a honra, contra a pessoa), administrativas e os casos de autotula previstas em lei (art. 1.301 e 1.303, do CC e art. 931, CPC.)

Tutela penal (crimes contra a honra, contra a pessoa), administrativas e os casos de autotula previstas em lei (art. 1.301 e 1.303, do CC e art. 931, CPC.)

Anteriormente, só havia tutela compensatória.Anteriormente, só havia tutela compensatória.

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Tutela específica dos direitos da personalidade

O reconhecimento de uma tutela preventiva para os direitos da personalidade induziu a uma despatrimonialização da proteção dos direitos da personalidade (a proteção dos direitos da personalidade deixa de subsistir apenas por meio de dinheiro).

Tutela específica consiste no provimento jurisdicional adequado para a solução de um conflito de interesses específico. Em outras palavras, é a solução concreta de um caso (o que a vítima busca é uma solução efetivamente específica para um conflito específico).

Dentro da tutela específica hospedam-se algumas providências (diferentes possibilidades): tutela inibitória, tutela sub-rogatória, tutela de remoção do ilícito, etc. (o rol das hipóteses de tutela específica é exemplificativo).

Ex.: A inserção do nome do devedor indevidamente no SERASA. O juiz determina a retirada do nome do SERASA impondo multa diária para tanto (astreintes).

O §5º do art. 461 do CPC consagra um rol exemplificativo. A tutela preventiva dos direitos da personalidade se materializa por meio da tutela específica do art. 461 do CPC, cujo rol é meramente exemplificativo (o juiz pode conceder diferentes providências a título de tutela preventiva).

Enunciado n. 140 – Art. 12: A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo.

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 1o A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 2o A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287). (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 3o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 4o O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial. (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)§ 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

O juiz pode conceder a tutela preventiva de ofício, não é necessário o requerimento da vítima. O juiz pode conceder, revogar, ampliar, diminuir a tutela específica ex officio. Ex.: caso Carolina Dickman X Pânico.

Aspectos controvertidos sobre a tutela específica:

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Caso Daniela Cicarelli.Caso Daniela Cicarelli.

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Concessão de mandado de distanciamento (restrição da liberdade de ir e vir): é possível ao juiz conceder mandado de restrição de direitos de locomoção a título de tutela específica. Este mandado é muito comum nas ações de separação de corpus. O STJ tem entendido, ao conceder o mandado de distanciamento, que a fixação da distância de aproximação deve ser levada a efeito obedecendo-se às peculiaridades de cada lugar. Ex.: caso Dado Dolabella.

Prisão civil a título de tutela específica: o rol de possibilidades da tutela específico é exemplificativo. Dessa forma, surge a indagação: permite-se a prisão civil? Os autores clássicos sustentam a impossibilidade da prisão civil como tutela específica por conta da vedação constitucional. Após a súmula vinculante n. 25, somente o devedor de alimentos pode ser preso civilmente por dívidas. Autores contemporâneos (Marinoni e Didier), diferentemente, admitem o uso da prisão civil como forma de tutela específica, ao argumento de que neste caso o juiz não está determinando a prisão por dívida, mas sim por descumprimento espontâneo de uma decisão judicial.

A segunda tese trás consigo um inconveniente, a saber: qual seria o prazo desta prisão civil?

O Professor adota uma medida intermediária segundo a qual o juiz pode se valer prisão, quando nenhuma outra medida se mostrar suficiente e, em ponderação de interesses (quando o sacrifício da liberdade do devedor for menor que o direito violado). Ex.: caso em que o juiz ordena a internação de um indivíduo e o médico recusa realizá-la.

Tutela compensatória dos direitos da personalidade

A indenização por danos morais corresponde à violação dos direitos da personalidade.

Os direitos da personalidade estão sustentados na dignidade da pessoa humana. Em última análise, a indenização por danos morais corresponde à violação da dignidade humana.

Percebe-se, pois, uma aproximação entre direitos da personalidade e dano moral, de modo que o dano moral não é mais dor, vexame, humilhação, sofrimento, vergonha (sentimentos negativos), mas é sim violação da dignidade da pessoa humana.

Se o rol de direitos da personalidade é exemplificativo, o dano moral também o é.

Para configurar dano moral é necessário haver lesão à dignidade da pessoa humana. Meros aborrecimentos não acarretam dano moral.

A prova do dano moral atualmente é in re ipsa (ínsita na própria coisa).

Sustentar que o dano moral se correlaciona com a dignidade da pessoa humana é o mesmo que defender a autonomia do dano moral. Súmula 37/STJ: são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.

É possível cumular indenização por dano moral com dano moral? No Brasil, a expressão “dano moral” é utilizada como gênero e como espécie (violação à honra: dano moral; violação à imagem:

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dano à imagem; violação à integridade física: dano estético). Assim sendo, é plenamente possível a cumulação de dano moral com outro dano moral, desde que se tratem de bens jurídicos distintos (categorias distintas de dano moral).

Súmula 387/STJ. É lícita a cumulação das indenizações de dano moral e dano estético.

Impossibilidade de concessão de dano moral de ofício. A tutela compensatória não pode ser concedida ex officio. A concessão de indenização por dano moral depende da provocação das partes, tendo em vista o seu caráter econômico.

Seguindo este raciocínio, o Ministério Público não possui legitimidade para requerer indenização por dano moral em substituição do interessado. Há, no entanto, uma única hipótese em que o Ministério Público pode pleitear indenização por dano moral: é a hipótese de ação civil ex delicto (ação que decorre de uma condenação criminal). No julgamento do RE 135.328/SP, o STF construiu a tese da inconstitucionalidade progressiva, de sorte que a norma consubstanciada no art. 68 do CPP é constitucional até que a Defensoria Pública esteja instalada em todas as comarcas. Assim sendo, nas comarcas aonde ainda não houver defensoria pública instalada, conserva-se a legitimidade do Ministério Público.

Aspectos controvertidos da tutela compensatória dos direitos da personalidade:

Haveria uma natureza punitiva na tutela compensatória? Genericamente, a indenização por danos morais não possui uma natureza punitiva, mas sim compensatória. Desta feita, o Direito Brasileiro não admite o instituto norte americano denominado “punitive damage”. No entanto, ao fixar o valor da reparação o juiz deve levar em conta a teoria do desestímulo e estabelecer um valor que ostente um caráter pedagógico. Em outros termos, o dano moral não possui natureza punitiva, mas pode e deve ser utilizado com natureza punitiva.

Seria possível falar em dano moral contratual? Não, pois, ordinariamente, o inadimplemento contratual gera indenização apenas por dano material. Entretanto, o inadimplemento contratual pode violar a dignidade. O STJ se manifestou sobre a questão no Resp. 202.564, admitindo a possibilidade de indenização por dano moral nos casos em que o descumprimento contratual atingir a dignidade do contratante. Ex.: interrupção indevida do serviço de fornecimento de água. O dano moral possui natureza extracontratual, haja vista que a indenização por este motivo pode suplantar o valor do contrato.

Dano moral difuso ou coletivo: estas modalidades de dano moral são admitidas pelo art. 6º, VI, do CDC, bem como pelo art. 1º, da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública). Dano moral difuso é aquele que viola os direitos de todos e de ninguém a um só tempo. Dano moral coletivo é aquele que viola os direitos de uma categoria. Ex.: dano moral ao meio ambiente é difuso; o dano moral causado a uma categoria profissional é coletivo. Tanto o dano moral difuso como o coletivo somente podem ser requeridos por meio de ação civil pública, que deve ser intentada por um dos colegitimados do art. 5º da Lei 7.347/85. Cumpre esclarecer, que o valor da indenização por dano moral coletivo reverterá em prol do fundo previsto no art. 13 da Lei da ACP, nunca em favor uma pessoa.

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Obs.: não se pode esquecer que a ação civil pública pode ser proposta para tutelar direitos individuais homogêneos; se duas ou mais pessoas sofrerem o mesmo dano, cada uma delas pode propor ação individualmente ou, então, ação civil pública; neste último caso, a liquidação e a execução da sentença serão individuais.

Todo dano moral difuso ou coletivo só pode ser cobrado por meio de ação civil pública, com liquidação e execução coletivas. O dano moral individual pode ser cobrado em ação individual ou, atingido a duas ou mais pessoas por ação civil pública para a defesa de direito individual homogêneo, com liquidação e execução individuais (artigos 94 e seguintes do CDC).

DIA 11.03

DIREITOS DA PERSONALIDADE EM ESPÉCIE

Direitos da Personalidade das Pessoas Públicas

Pessoas públicas são as celebridades, pessoas notórias.

Pessoas públicas titularizam direitos da personalidade, todavia essas pessoas sofrem uma mitigação (uma relativização) no seu exercício dos direitos das personalidade, uma vez que o seu ofício ou profissão exigem uma exposição de sua personalidade. Dessa forma, é preciso deixar claro que as pessoa públicas são titulares de direitos da personalidade.

Ex.: direito de imagem. Imagine se a revista ou o jornal precisasse pedir autorização às pessoas públicas para usarem sua imagem.

Os paparazzi podem ser responsabilizados por invadirem a privacidade das pessoas.

A relativização dos direitos da personalidade pressupõe a inexistência de desvio de finalidade. Apesar da imagem da pessoa notória ser pública, não se pode realizar a sua exploração comercial sem autorização.

Junto com a mitigação dos direitos da personalidade de pessoas públicas também serão relativizados os direitos das pessoas que acompanham as pessoas públicas.

A classificação dos direitos da personalidade não é taxativa, uma vez que o direito brasileiro traz consigo uma cláusula geral de proteção, qual seja, a dignidade da pessoa humana. Não obstante, alguns direitos da personalidade foram tipificados a partir de um critério tricotômico, que divide os direitos da personalidade em três perspectivas:

Integridade física: corresponde à tutela jurídica do corpo humano.

Integridade psíquica: tutela jurídica dos valores humanos imateriais: Ex.: honra e privacidade.

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Este critério corresponde aos atributos da pessoa humana: corpo, alma e intelecto.

Este critério corresponde aos atributos da pessoa humana: corpo, alma e intelecto.

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Integridade intelectual: inteligência humana.

Obs.: o direito à vidas está presente nas três perspectivas, porquanto os direitos da personalidade estão assentados sob a ideia de vida digna.

Direitos da personalidade em espécie no Código Civil:

Art. 13: direito ao corpo vivo.

Art. 14: direito ao corpo morto.

Art. 15: autonomia do paciente (também chamada de livre consentimento informado).

Artigos 16 a 19: direito ao nome civil.

Art. 20: direito à imagem.

Art. 21: direito à privacidade.

Obs.: esta estrutura encontra-se em consonância com o critério tricotômico.

Direito ao corpo vivo

Compreende a proteção do corpo humano como um todo, mas também a proteção das partes separadas do corpo humano.

A violação da integridade física (do corpo humano) caracteriza o dano estético. Para a configuração do dano estético não se exige a existência de sequelas permanentes. No REsp. 575.576, o STJ confirmou a prescidibilidade de seqüelas permanentes para caracterização do dano estético. Não se pode olvidar que o dano estético pode ser cumulado com o dano moral. Há, portanto, uma autonomia no tratamento da integridade física, de modo que a violação da integridade física é autônoma em relação a outros valores personalíssimos. É possível a cumulabilidade do dano estético com o dano moral.

Súmula 387/STJ. É lícita a cumulação das indenizações de dano moral e dano estético.

Embora não seja imprescindível a existência de seqüelas permanentes para a caracterização do dano estético, cumpre deixar claro que a intensidade da seqüela interfere na quantificação do dano moral.

O dispositivo legal abaixo transcrito está a dizer que a proibição do ato de disposição corporal é condicionada. Nesse sentido, o ato de disposição do próprio corpo é válido quando não importar a diminuição permanente ou contrariar os bons costumes.

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.

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Os “bons costumes” nesse caso são compreendidos como ética social (comportamentos socialmente esperados).

Ex.: piercing e tatuagens são permitidos. A limitação de piercings e tatuagens a pessoas maiores de idade são questões que dizem respeito à saúde pública.

Ex.: e as situações jurídicas dos “Wannabe”? Os Wannabe são pessoas que nutrem repulsa em relação a um determinado órgão humano. O art. 13 do CC, conforme se verifica, proíbe a situação jurídica dos Wannabe. Vale dizer que, por exigência médica, é possível amputar órgãos e membros do corpo humano.

Questões polêmicas atinentes à integridade física:

Cirurgia de mudança de sexo: essa questão deve ser analisada à luz da resolução 1642/02 do Conselho Federal de Medicina; essa resolução reconhece natureza patológica ao transsexualismo, ou seja, transexualismo é doença. Homossexualismo e bissexualismo diz respeito à orientação sexual, não é patológico. O transsexualismo é uma patologia fisio-psiquica, porquanto nesses casos há uma dicotomia entre o sexo físico e o sexo psíquico. Sob o ponto de vista da orientação sexual, o transexual é heterossexual (na mente do transsexual ele mantém relação sexual com o sexo oposto). Nesse sentido, a medicina recomenda tratamento psicológico ao transsexual. Se por ventura o psicólogo ou o psiquiatra atestarem a irreversibilidade do quadro realiza-se o tratamento físico (primeiro, realiza-se um tratamento psicológico; não sendo possível a reversão, faz-se o tratamento físico, que consiste na mudança de sexo). Presente o requisito do tratamento psicológico é possível realizar a cirurgia.

Realizada a cirurgia o transsexual tem direito de modificar seu registro? O STJ, na homologação de sentença estrangeira 1058/Itália, firmou seu entendimento no sentido de que o transsexual operado tem direito de modificar tanto o seu nome quanto o seu estado sexual no novo registro, independentemente do motivo.

A Professora Maria Berenice sustenta o entendimento de que os transsexuais podem modificar o registro civil mesmo que não tenham realizado a cirurgia.

É possível o transsexual casar com uma pessoa do sexo oposto. Nesse caso, se o outro cônjuge não conhecer a situação de transexual da pessoa com quem se está casando, é possível anular o casamento com base no art. 1.557, CC.

É necessário autorização apenas para promover alteração no registro civil. Para realizar cirurgia não é necessário autorização.

O pedido de autorização para alteração do registro civil deverá ser proposto na Vara da Família, haja vista que essa questão diz respeito ao estado das pessoas. Esta ação é de estado e não uma ação registral. Neste caso, não existe um erro no registro, mas sim uma divergência de sexo.

É permitida a barriga de aluguel, desde que se observe alguns limites, quais sejam: pessoas maiores e capazes, pessoas da mesma família, impossibilidade gestacional da mãe biológica,

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gratuidade no procedimento (Resolução n. 1.957 do Conselho Federal de Medicina). Considerando esses requisitos, a designação “barriga de aluguel” é imprópria. O nome técnico dessa situação é gestação em útero alheiro. Presentes todos os requisitos, o médico declarará a maternidade da mãe biológica e não da mãe hospedeira. Diante de uma hipótese de conflito negativo, deve-se encaminhar a criança para adoção.

Não obstante a expressão “diminuição permanente da integridade física” constante no art. 13, a proteção que emana do artigo 13 não se dirige apenas ao corpo humano como um todo, mas também às suas partes. Ex.: caso Glória Trevis.

O sêmen congelado, que compõe o embrião já concebido, pertence a quem?

A tutela do corpo vivo não se aplica aos transplantes, pois que está submetido a regra própria. Requisitos que devem ser preenchidos para realização de transplante: 1) órgãos dúplices ou regeneráveis; 2) pessoas de uma mesma família (se não for da mesma família é necessário autorização do conselho de medicina); 3) gratuidade; 4) intervenção do Ministério Público (no âmbito administrativo; basta que se comunique o promotor da comarca do doador, a fim de que se verifique a presença dos requisitos).

Essas regras não necessitam ser observadas quando se tratar de leite materno, sêmen, óvulo, medula e sangue.

Direito ao corpo morto

Art. 14, CC. Este artigo autoriza a disposição gratuita do corpo para depois da morte.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Este artigo consagra a tutela jurídica do corpo morto, abrangendo o corpo como um todo e as partes separadas do todo.

Os beneficiários dos transplantes post mortem não podem ser escolhidos, haja vista que a lei estabelece uma fila, de sorte que o beneficiário será o primeiro da fila. Deste modo, é nula a indicação de beneficiário de transplante post mortem.

O ato pelo qual se dispõe do corpo após a morte é revogável a qualquer tempo.

Questões controvertidas:

De acordo com o art. 14 o ato de disposição é sempre para depois da morte. Assim sendo, é nula toda e qualquer disposição antes da morte (testamento vital ou “living will” – caso em que o indivíduo, em razão do seu estado, prefere a morte).

Colisão do disposto no art. 14 com o conteúdo do art. 4º da Lei 9.434 - transplantes (consentimento do titular X consentimento da família). Esse problema se resolve da seguinte forma: havendo declaração de vontade, prevalece a manifestação de vontade do titular; não havendo declaração do titular, a família deverá decidir. Entrementes, o entendimento

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predominante é o de que prevalece a de transplantes, ou seja, é a família do morto quem decidirá.

Em se tratando de indigente (pessoa morta sem identificação), não pode haver a retirada de órgãos para fins de transplantes.

Art. 15, CC. Toda e qualquer intervenção médica ou cirúrgica depende do consentimento do paciente. Somente podendo haver intervenção médica forçada na hipótese em que houver necessidade.

O artigo 15 revela dois importantes efeitos jurídicos: 1) a impossibilidade de internação forçada; no Brasil, a internação subsiste por vontade do paciente ou por exigência médica. 2) direito à indenização do paciente por violação do dever de informação; o dever de informação consiste em desdobramento da boa-fé objetiva.

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.

O testemunho de Jeová tem direito de recusar a transfusão de sangue. Os testemunhos de Jeová realizam uma interpretação bíblica pela qual não admitem a transfusão de sangue. Neste caso, ao contrário do que se costuma sustentar, não há um conflito entre o direito à vida e a liberdade de crença. O conflito neste caso se estabelece entre a integridade física X direito à liberdade de crença. Segundo a opinião majoritária, esse conflito se resolve em favor da integridade física. No entanto, alguns doutrinadores (Tepedino, Ferreira Filho, Cristiano Chaves e Celso Ribeiro Bastos) sustentam o entendimento de que o testemunho de Jeová tem o direito de recusar a transfusão de sangue, ao argumento de que nessa hipótese a liberdade de crença possuiria um valor superior à integridade física. Vale dizer, que este último entendimento não se aplica aos casos de urgência médica e de menores incapazes.

Direito ao nome civil

No direito brasileiro, o nome é direito da personalidade.

O nome diz respeito à individualização da pessoa.

Sendo o nome um direito da personalidade, a escolha é personalíssima. O Direito Brasileiro estabelece um prazo decadencial de um ano, contados a partir da maioridade civil, para pleitear a mudança imotivada do nome. Este é o único caso em que se permite a mudança imotivada do nome (artigos 56 a 58 da Lei de Registros Públicos). O prazo decadencial reforma a natureza personalíssima do direito ao nome.

O procedimento para modificação imotivada e motivada é judicial.

Elementos componentes do nome civil: prenome, sobrenome (patronímico) e agnome.

O prenome identifica a pessoa.

O sobrenome identifica a origem ancestral ou familiar.

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O agnome é a partícula diferenciadora de pessoas que são da mesma família e tem o mesmo nome (Ex.: júnior, neto, sobrinho).

No caso de gêmeos com o mesmo prenome, é necessário haver um segundo prenome diferenciador.

Não é elemento componente do nome: títulos, pseudônimo (heterônimo ou cognome).

O pseudônimo não compõe o nome, mas merece a mesma proteção. Ex.: Silvio Santos, Zezé di Camargo, José Sarney (ele se chama José Ribamar).

O pseudônimo não se transfere aos filhos.

Pseudônimo não se confunde com hipocorístico. Pseudônimo é uma identificação profissional. Hipocorístico é um apelido notório; um hipocorístico não se identifica não só no campo profissional, mas também no campo pessoal. O art. 57 da Lei de Registros Públicos permite que o hipocorístico seja acrescentado ou substitua o nome. Nesse caso, o hipocorístico se torna elemento componente do nome. A competência nessas hipóteses é da vara de registros públicos.

A firma (assinatura) não se confunde com o nome, sendo certo que poderá ser diferente do nome.

Princípio da inalterabilidade relativa do nome: é possível a mudança do nome. A inalterabilidade é relativa, uma vez que somente se autoriza a mudança do nome nos casos previstos em lei ou por decisão judicial baseado em motivo, havendo justificação aceita judicialmente.

Exemplos previstos em lei:

Adoção. O ECA permite a mudança do nome (prenome e patronímico) na hipótese de adoção. Se o adotado contar com mais de doze anos de idade, é necessário o seu consentimento.

Acréscimo de sobrenome de padrasto por decisão judicial, desde que haja consentimento das pessoas envolvidas (Lei 11.924/09).

Programa de proteção a testemunha (Lei 9.807/09).

Casamento e união estável. Após o advento da EC n. 66, o cônjuge somente perde o sobrenome se quiser.

Exemplos não previstos em lei:

Transsexualismo.

Inclusão de sobrenome de ascendente.

Viuvez.

Retirada de sobrenome no caso de abandono paterno.

Obs.: todos os casos de alteração de nome dependem de decisão judicial.

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Nome utilizado apenas para atividades profissionais.Nome utilizado apenas para atividades profissionais.

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Direito à imagem

Direito à identificação das pessoas. A pessoa pode ser identificada não só pelos traços fisionômicos. O direito à imagem é tridimensional, haja vista que envolve, a um só tempo a:

Imagem retrato: características fisionômicas.

Imagem atributo: qualificação pela adjetivação, pelas qualidades da pessoa. Costuma-se falar de imagem atributo em relação às pessoas jurídicas.

Imagem voz: é o timbre sonoro identificador.

O direito à imagem é um só. No caso em que for violado a imagem retrato e a imagem voz ao mesmo tempo, o indivíduo fará jus a uma única indenização.

A doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de reconhecer a autonomia do direito de imagem. No entanto, o artigo 20 do CC não acompanhou a autonomia constitucional do direito à imagem. Nesse sentido, o referido art. 20 terminou por afirmar, equivocadamente, que o direito à imagem só merece proteção quando houver exploração comercial ou violação da honra. O Código Civil condicionou a proteção da imagem à exploração comercial ou à violação da honra. Não se tratando desses casos específicos, a proteção da imagem decorre da Constituição.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

É possível a flexibilização do direito à imagem em dois casos:

1. Função social da imagem: quando necessária à manutenção da ordem pública ou à administração da Justiça. Nessa hipótese, permite-se a utilização da imagem alheia. Ex.: programa linha direta.

2. Consentimento do titular (autorização): não precisa ser expressa (pode ser tácita – é o que ocorre na maioria dos casos). REsp. 595.600/SC: nesse caso o STJ reconheceu a inexistência de violação do direito de imagem (caso do top less na praia)

Direito à privacidade

Art. 21, CC.

O direito à privacidade trás consigo dois aspectos: segredo e intimidade.

Privacidade são aquelas informações particulares que pertencem ao titular e a mais ninguém. Privacidade é o aspecto mais recôndito do ser; é aquilo que é dele e de mais ninguém.

Segredo são as informações do titular, mas que, eventualmente, podem ser compartilhadas por terceiros em nome do interesse público (Ex.: movimentação bancária e fiscal).

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Intimidade são as informações que pertencem exclusivamente ao titular, cujo compartilhamento depende da vontade do titular do direito. Ex.: opção sexual e religiosa.

A teoria dos círculos concêntricos demonstra que a privacidade encontra-se no círculo mais externo, o segredo e o sigilo estão localizados no círculo intermediário e a intimidade se encontra no centro.

O direito à privacidade é autônomo, significando isto dizer que o direito à privacidade não depende da violação da honra. Ex.: caso do jogador Garrincha (nesse caso, houve violação da privacidade).

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