direito administrativo questões de concursos públicos

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QUESTÕES COMENTADAS DE DIREITO ADMINISTRATIVO – ESAF/2012 Leandro Gonsalves Ferreira (Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil/2012) A possibilidade jurídica de submeter-se efetivamente qualquer lesão de direito e, por extensão, as ameaças de lesão de direito a algum tipo de controle denomina-se: a) Princípio da legalidade. b) Princípio da sindicabilidade. c) Princípio da responsividade. d) Princípio da sancionabilidade. e) Princípio da subsidiariedade. Resposta correta: letra “b”. Princípio da legalidade: significa que, no exercício das atividades administrativas, a Administração deve observar estritamente as normas legais. Enquanto na esfera particular é permitido fazer tudo o que a lei não proíbe, no âmbito administrativo sucede o contrário: o administrador somente pode agir nos exatos limites da autorização legislativa (princípio da legalidade estrita). Exemplo(s) : A alienação de bens da Administração Pública deve obedecer aos critérios previstos no art. 17 da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações). 1

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Leandro Gonsalves Ferreira

(Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil/2012) A possibilidade

jurídica de submeter-se efetivamente qualquer lesão de direito e, por

extensão, as ameaças de lesão de direito a algum tipo de controle

denomina-se:

a) Princípio da legalidade.

b) Princípio da sindicabilidade.

c) Princípio da responsividade.

d) Princípio da sancionabilidade.

e) Princípio da subsidiariedade.

Resposta correta: letra “b”.

Princípio da legalidade: significa que, no exercício das atividades

administrativas, a Administração deve observar estritamente as normas

legais. Enquanto na esfera particular é permitido fazer tudo o que a lei

não proíbe, no âmbito administrativo sucede o contrário: o

administrador somente pode agir nos exatos limites da autorização

legislativa (princípio da legalidade estrita).

Exemplo(s): A alienação de bens da Administração Pública deve

obedecer aos critérios previstos no art. 17 da Lei nº 8.666/93 (Lei de

Licitações).

Princípio da sindicabilidade: Conforme enunciado da questão, tal

princípio enuncia a possibilidade jurídica de submeter-se efetivamente

qualquer lesão de direito e, por extensão, as ameaças de lesão de

direito a algum tipo de controle (doutrina de Diogo de Figueiredo

Moreira Neto). A palavra “sindicar” juridicamente é utilizada no sentido

de apreciar e julgar, apurar, investigar, conforme se observa no seguinte

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trecho: “(...) 1. O Poder Judiciário pode e deve sindicar

amplamente, em mandado de segurança, o ato administrativo

que aplica a sanção de demissão a Servidor Público, para verificar

(a) a ocorrência dos ilícitos imputados ao Servidor e, (b) mensurar a

adequação da reprimenda à gravidade da infração disciplinar, não

ficando a análise jurisdicional limitada aos seus aspectos formais. (...)” –

STJ, ROMS 28169, Rel. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA,

DJE 29/11/2010. O conhecimento do vocábulo permitiria ao candidato

acertar a questão.

Exemplo(s): reclamações e recursos administrativos previstos em

legislação esparsa (Leis 8.112/90, 8.666/93, 9.784/99, Decreto nº

70.235/72 etc.), habeas data, mandado de segurança, ação popular etc.

(CF/88 e leis processuais).

Princípio da responsividade: Uma das características da República é

a responsabilidade dos representantes do povo, eleitos

democraticamente para mandatos periódicos. E essa responsabilidade

se traduz na obrigatoriedade de os governantes (agentes políticos) e

administradores públicos (agentes públicos em sentido amplo)

prestarem contas à sociedade pela legitimidade de seus atos,

respondendo política, administrativa, penal e civilmente por condutas

desviadas da lei, emanação da expressão da vontade popular. É o que,

no estrangeiro, se denomina “Accountability.” “O princípio da

responsividade vem, por isso, complementar o princípio da

responsabilidade e ampliar-lhe os efeitos, além da legalidade estrita (...)

é princípio instrumental da democracia, uma vez que se destina a

salvaguardar a legitimidade, ou seja, a conciliar a expressão da vontade

popular, democraticamente recolhida, com a racionalidade pública” (

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Exemplo(s): prestação de contas – art. 31, § 3º, e art. 70, parágrafo

único, da Constituição Federal:

“Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.(...)§ 3º - As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a legitimidade, nos termos da lei.”

“Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)”

Princípio da sancionabilidade: Para estimular, modelar, orientar,

controlar ou proibir comportamentos de indivíduos em suas relações

com a Administração ou que ajam em nome dela, o Direito

Administrativo, para reforçar o bem jurídico objeto da tutela

administrativa, impõe sanções (“enforcement”). As normas

sancionatórias ou coercitivas de comportamentos podem consistir em

prêmios ou punições.

Exemplo(s): Arts. 117, 127 (punições ou penalidades) e 237 (prêmios ou

benefícios) da Lei 8.112/90:

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“Art. 117. Ao servidor é proibido:(Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)(...)VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu subordinado;(...)IX- valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública;

Art. 127.São penalidades disciplinares:I-advertência;II-suspensão;III-demissão;IV-cassação de aposentadoria ou disponibilidade;V-destituição de cargo em comissão;VI-destituição de função comissionada.

Art. 237. Poderão ser instituídos, no âmbito dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, os seguintes incentivos funcionais, além daqueles já previstos nos respectivos planos de carreira:I-prêmios pela apresentação de idéias, inventos ou trabalhos que favoreçam o aumento de produtividade e a redução dos custos operacionais;II-concessão de medalhas, diplomas de honra ao mérito, condecoração e elogio.”

Princípio da subsidiariedade: Tal princípio exprime, em linguagem

que se almeja didática, que no exercício das competências

administrativas deve prevalecer o interesse mais próximo possível dos

cidadãos. Mais simples ainda: tudo que puder ser exercido pela

administração local não deve ser atribuído aos níveis regionais ou de

maior abrangência (ideias de descentralização e fortalecimento do

município, onde o indivíduo concreta e materialmente se realiza e

exerce a cidadania). Aos Municípios cabe executar concretamente as

atividades administrativas de interesse local; aos Estados, as inerentes a

interesses intermunicipais (regionais); à União Federal, aquelas que

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envolvam mais de um Estado-membro (verificar arts. 21 a 32 da

Constituição, no que concerne à divisão de competências entre os entes

federados – princípio ou critério da preponderância de interesses). A

respeito desse princípio, leciona Diogo de Figueiredo Moreira Neto:

“(...) As derivações políticas mais relevantes da legitimidade e da eficiência levam-nos ao princípio da subsidiariedade e ao princípio da participação política.O princípio da subsidiariedade diz respeito à relação entre níveis de concentração de poder e respectivos níveis de interesses a serem satisfeitos. É um moderno princípio do poder cuja origem histórica remonta à prática política da Confederação Helvética e teve sua divulgação favorecida pelo magistério da Igreja Católica, a partir da orientação da Encíclica Quadragesimo Anno, do Papa Pio XI, que nela o enunciou claramente, e, mais recentemente, por sua adoção do constitucionalismo alemão e no direito comunitário europeu.(...)(...) a sucessiva concentração de poder nas organizações políticas deverá obedecer ao mesmo princípio organizador do poder: primariamente, as demandas que puderem ser atendidas pela organização política local, como o Município, o Condado, a Comuna etc., serão aquelas que determinarão suas respectivas competências político-administrativas; secundariamente, as que não possam ser satisfeitas por meio de decisões e de ações locais deverão passar à organização política regional, ou intermédia, como o Estado, a Província, o Cantão, a Região Autônoma etc.; terciariamente, as que ultrapassem as possibilidades regionais, por sua generalidade e peculiaridade, serão cometidas às organizações políticas nacionais soberanas, como a União, nos Estados Federados, o Estado Nacional etc., dotadas de todas as competências necessárias para atendê-las diretamente, bem como as de negociar com outras concentrações de poder, soberanas ou não, a satisfação indireta ou coordenada de interesses do País.(...)O que se pretende nessa vertente de transformação da administração pública é aproximar o administrado de todas as discussões e, se possível, das decisões em que seus interesses estejam mais diretamente envolvidos, multiplicando, paulatinamente, os instrumentos de participação administrativa, com a necessária prudência, mas decididamente, com vistas à legitimação das decisões que,

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como ensina a Ciência Política, serão por isso mais aceitáveis e facilmente cumpridas pelas pessoas. (...)”

Exemplo(s): Sistema Único de Saúde (SUS). A Constituição Federal,

quanto a ações e serviços públicos de saúde, adota um modelo

descentralizado e municipalizado, conforme art. 198:

“Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;III - participação da comunidade.(...)”

Há de ser lembrado o art. 30, VII, da CF/88, que atribui ao município

prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,

serviços de atendimento à saúde da população;

A Lei nº 8.080/90, conhecida com a Lei Orgânica da Saúde – LOS segue a

diretriz constitucional de descentralização do SUS, enfatizando o papel

dos municípios nesse particular, clareando o princípio da

subsidiariedade, de forma que o ente municipal, mais próximo do

cidadão-usuário, possa identificar as necessidades do último e este, por

sua vez, possa fiscalizar o correspondente serviço prestado pelos

gestores da máquina pública municipal. Eis o que dispõe o art. 7º da

LOS:

“Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:(...)VIII - participação da comunidade;

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IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo:a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;(...)”

Por ser pertinente ao princípio constitucional-administrativo da

subsidiariedade, convém mencionar o seguinte julgado do Tribunal

Regional Federal da 1ª Região (a leitura da ementa citada reforçará o

entendimento acerca do princípio em estudo):

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORNECIMENTO EXCEPCIONAL DE MEDICAMENTO. DIREITO INDIVIDUAL. SENTENÇA PROCESSUAL (EXTINÇÃO DO PROCESSO POR ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL). APELAÇÃO. DEFERIMENTO LIMINAR DA PRETENSÃO, NO TRIBUNAL. NOTÍCIA DE CUMPRIMENTO DESSA DECISÃO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO DA APELAÇÃO. SUPERVENIENTE PERDA DE OBJETO: INOCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. CUIDADO COM A SAÚDE PÚBLICA. AQUISIÇÃO E DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTO. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. SUBSIDIARIEDADE SOLIDARIEDADE ENTRE UNIÃO, ESTADO E MUNICÍPIO? JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: SOLIDARIEDADE. APELAÇÃO PROVIDA. SENTENÇA ANULADA. 1. Negado seguimento ao recurso de apelação ao fundamento de que, tendo a União fornecido o medicamento pleiteado e "atendido", assim, "o pedido principal da ação, falta interesse processual ao Apelante, porquanto verificada a perda de objeto do recurso". 2. Merece acolhida o inconformismo do Ministério Público Federal, porquanto o que se busca é provimento definitivo e a tutela de urgência não é apta à coisa julgada material. 3. Depreende-se, sobretudo em face do laudo de avaliação médica, que o tratamento da paciente depende de fornecimento continuado do medicamento. 4. Provimento ao agravo regimental. Julgamento da apelação. 5. Prevê a Constituição que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entre outras, "cuidar da saúde e assistência pública ..." (art. 23, II). Em seguida, no parágrafo único, estabelece que "leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional". 6. No Superior Tribunal de Justiça predomina o entendimento de que essa disposição resulta em solidariedade entre os três níveis de governo no que diz respeito ao cuidado da saúde pública, de

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modo que a demanda por prestações específicas pode ser dirigida a um ou mais entes, sem qualquer precedência (Divergência do Relator, para quem a existência de dispositivo prevendo que "leis complementares fixarão normas para a cooperação" das entidades políticas contradiz a solidariedade. A competência em questão é sistêmica, como deixa entrever o art. 198 da Constituição. Um sistema não admite vácuo ou superposição de atribuições; os elementos do sistema estão entrelaçados e orientados pela finalidade comum, mas cada órgão desempenha atribuições específicas, sob pena de desperdício e omissões e, consequentemente, atentado ao princípio da eficiência. A execução dos serviços de saúde é atribuída, em regra, aos Municípios, o que, aliás, está expresso na Constituição, quando prevê competir aos Municípios "prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população" - art. 30, VIII. A competência do Estado-membro ou da União é, sucessivamente, suplementar, isto é, quando a entidade menor, comprovada ou presumidamente, não tem capacidade ou é omissa nessa execução e quando os interesses em causa ultrapassam, conforme o caso, os limites locais ou estaduais). 7. No caso sob apreciação, é presumível, a esta altura, a incapacidade do Município de Belo Horizonte ou do Estado de Minas Gerais para tomar "as medidas administrativas necessárias à importação, em caráter de urgência, do medicamento NaglasymeR", seja porque, segundo alega a União, esse medicamento ainda não é liberado pela ANVISA, seja porque o respectivo preço ultrapassa a capacidade financeira municipal e até mesmo estadual. Além disso, pede-se que "a União, através do Ministério da Saúde, no papel de Gestor Federal do SUS, responsável pela elaboração da lista de medicamentos excepcionais, adote as medidas administrativas necessárias à inclusão do medicamento NaglazymeR, em lista pactuada de medicamentos excepcionais...". 8. Há, mesmo assim, legitimidade de parte do Município de Belo Horizonte e do Estado de Minas Gerais, os quais devem permanecer na lide, apesar do entendimento de que a solidariedade não implica litisconsórcio necessário e de que a conexão não prorroga a competência especializada da Justiça Federal (Vencido o Relator). 9. Apelação provida para anular a sentença, com remessa dos autos ao juízo de origem para processo e julgamento da causa.” (AGRAC 200738000210350, DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA, QUINTA TURMA, e-DJF1 12/04/2011).

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Para finalizar o assunto em comento, uma questão que poderia ser

formulada em concurso seria a seguinte: O entendimento jurisprudencial

de que os municípios são legitimados para figurar no polo passivo de

ações que buscam o fornecimento de medicamentos básicos, ao passo

que, tratando-se de medicamentos excepcionais, são legitimados

passivamente para a causa o Estado e a União, porque as normas que

organizam o SUS estabelecem obrigações para ambos os entes no

tocante a esta prestação material, evidencia qual princípio? A resposta,

de acordo com o estudo acima, é o princípio da subsidiariedade.

(Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil/2012) Determinada

cidadã brasileira foi contratada por um conselho de fiscalização

profissional regional em 07/11/1975, tendo seu contrato sido rescindido

em 02/01/2007.

A cidadã sustenta que sua demissão fora ilegal porquanto gozava da

estabilidade prevista no art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias – ADCT, sendo seu vínculo jurídico estatutário, que lhe

garantiria o direito ao prévio processo disciplinar para fins de demissão.

Acerca do caso concreto acima narrado e à luz da jurisprudência do STF

e STJ, bem como da disciplina constitucional aplicável aos agentes

públicos, assinale a opção incorreta.

a) A estabilidade prevista no art. 19 do ADCT garante o vínculo

estatutário, que não permite a perda do cargo público sem o devido

processo administrativo disciplinar em que sejam assegurados ao

acusado a ampla defesa e o contraditório.

b) O art. 58, §30 da Lei n. 9.649/98, que submetia os empregados dos

conselhos à legislação trabalhista, permaneceu em vigor enquanto a

cidadã manteve sua relação de emprego com o referido conselho.

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c) A decisão do STF que determinou a suspensão liminar da vigência da

norma contida no caput do art. 39 da CF, com a redação dada pela EC

19/98, ressaltou seus efeitos ex nunc, subsistindo a legislação editada

nos termos da emenda declarada suspensa.

d) Não há direito adquirido a regime jurídico.

e) Não há que se falar em ilegalidade da demissão por ausência de

prévio processo administrativo, uma vez que, à época, a referida cidadã

não estava submetida a regime estatutário.

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Resposta correta: letra “b”.

A questão foi retirada do Informativo de Jurisprudência do Superior

Tribunal de Justiça (STJ) nº 491 (Período: 13 a 24 de fevereiro de 2012):

“CONSELHO. FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL. REGIME JURÍDICO.A controvérsia está em saber a natureza do vínculo jurídico da recorrente com o conselho de fiscalização profissional, a fim de ser apreciada a legalidade do ato de sua demissão. A Min. Relatora ressaltou que o regime jurídico dos funcionários dos conselhos de fiscalização profissional, por força do art. 1º do DL n. 968/1969, era o celetista até o advento da CF/1988, que, em conjunto com a Lei n. 8.112/1990, art. 243, instituiu o regime jurídico único. Essa situação perdurou até a edição do art. 58, § 3º, da Lei n. 9.469/1998, que instituiu novamente o regime celetista para os servidores daqueles conselhos, em razão da promulgação da EC n. 19/1998, que aboliu o regime jurídico único dos servidores públicos. Entretanto, destacou que, no julgamento da ADI 1.171-DF, o STF declarou a inconstitucionalidade dos §§ 1º, 2º, 4º, 5º, 6º, 7º, 8º e do caput do art. 58 da Lei n. 9.649/1998, reafirmando a natureza de autarquia especial dos conselhos de fiscalização profissional, cujos funcionários continuaram celetistas, pois permaneceu incólume o § 3º da norma em comento, que submetia os empregados desses conselhos à legislação trabalhista. Porém, frisou que essa situação subsistiu até 2/8/2007, quando o Pretório Excelso, no julgamento da ADI 2.135-DF, suspendeu, liminarmente, com efeitos ex nunc, a vigência do art. 39, caput, do texto constitucional, com a redação dada pela EC n. 19/1998. Com essa decisão, subsiste, para os servidores da administração pública direta, autarquias e fundações públicas, a obrigatoriedade de adoção do regime jurídico único, ressalvadas as situações consolidadas na vigência da legislação editada nos termos da norma suspensa. In casu, a recorrente manteve vínculo trabalhista com o conselho de fiscalização de 7/11/1975 até 2/1/2007, ou seja, antes do retorno ao regime estatutário por força da decisão do STF (na ADI 2.135-DF). Assim, visto que à época a recorrente não estava submetida ao regime estatutário, sendo, portanto, de natureza celetista a relação de trabalho existente, não cabe invocar normas estatutárias para infirmar o ato de dispensa imotivada. Dessarte, a Turma, prosseguindo o julgamento, negou provimento ao recurso. Precedente citado: REsp 820.696-RJ, DJe

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17/11/2008. REsp 1.145.265-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/2/2012.”

→ DICA: concurseiro não pode deixar de ler informatizados de

jurisprudência do STF e STJ (do mês da publicação do edital para trás,

até, pelo menos, um ano), caso contrário “leva pau” na prova de direito

administrativo, ainda mais em se tratando da ESAF, que adora formular

questões do tipo “... de acordo com a jurisprudência do STF ou do

STJ...”!

Passo ao comentário das alternativas.

a) A estabilidade prevista no art. 19 do ADCT garante o vínculo

estatutário, que não permite a perda do cargo público sem o devido

processo administrativo disciplinar em que sejam assegurados ao

acusado a ampla defesa e o contraditório.

b) O art. 58, §30 da Lei n. 9.649/98, que submetia os empregados dos

conselhos à legislação trabalhista, permaneceu em vigor enquanto a

cidadã manteve sua relação de emprego com o referido conselho.

c) A decisão do STF que determinou a suspensão liminar da vigência da

norma contida no caput do art. 39 da CF, com a redação dada pela EC

19/98, ressaltou seus efeitos ex nunc, subsistindo a legislação editada

nos termos da emenda declarada suspensa.

d) Não há direito adquirido a regime jurídico.

e) Não há que se falar em ilegalidade da demissão por ausência de

prévio processo administrativo, uma vez que, à época, a referida cidadã

não estava submetida a regime estatutário.

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Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço público. 

“As duas Turmas desta Corte, analisando recursos da ora agravante, concluíram ser da competência da Justiça comum o julgamento do mandado de segurança que alega estabilidade prevista no art. 19 do ADCT. Precedentes: (RE 232.982-AgR; AI 239.048-AgR; entre outros.” (RE 235.011-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 14-9-2010, Segunda Turma, DJE de 8-10-2010.)

 

“A estabilidade prevista no art. 19 do ADCT requer tempo de serviço, à época da promulgação da Carta de 1988, igual a cinco anos. (...) A cessação de relação jurídica regida pela CLT, no tocante a servidor público que não detenha a estabilidade, prescinde da formalização de processo administrativo e, portanto, do contraditório.” (RE 289.321, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 2-12-2010, Primeira Turma, DJE de 2-6-2011.)

 

“À luz do art. 97, § 1º, da EC 1/1969, é válida a exoneração de quem passou a ocupar cargo público, em primeira investidura, sem a prévia submissão a concurso público. No caso, evidentemente, não se pode falar de cargo de natureza especial – condição que autorizaria, de acordo com a jurisprudência desta Corte, a nomeação sem o prévio concurso. A estabilidade do art. 19 do ADCT é manifestamente inaplicável. Não é possível elastecer o requisito temporal ali fixado em aplicação ‘teleológica’, entendendo-se que, caso não tivessem sido exonerados, teria havido continuidade na prestação de serviços.” (RE 199.649-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 14-9-2010, Segunda Turma,DJE de 8-10-2010.)

 

“A norma do art. 19 do ADCT da Constituição brasileira possibilita o surgimento das seguintes situações: a) o servidor é estável por força do art. 19 do ADCT e não ocupa cargo de provimento efetivo; b) o servidor que se tornou estável nos termos do art. 19 do ADCT ocupa cargo de provimento efetivo após ter sido aprovado em concurso público para o provimento deste cargo; c) o servidor ocupa cargo de provimento efetivo em razão de aprovação em concurso público e é estável nos termos do art. 41 da CR. O STF já se manifestou sobre essas hipóteses e, quanto às listadas nos itens a e b, firmou o entendimento de que, independentemente da estabilidade, a efetividade no cargo será

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obtida pela imprescindível observância do art. 37, II, da CR.” (ADI 114, voto da Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 26-11-2009, Plenário, DJE de 3-10-2011.)

 

"Estabilidade anômala. (...) Professor. Precedentes da Corte. A Corte Suprema assentou que na situação peculiar dos professores as interrupções decorrentes de encerramento do ano letivo, provocadas pela própria administração, estão ao abrigo do art. 19 do ADCT, o mesmo devendo ser aplicado quando as interrupções ocorrem em virtude de substituições que se destinam a assegurar a continuidade do período letivo, comprovada a existência do serviço no período de cinco anos." (RE 171.141, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 15-4-2008, Primeira Turma, DJE de 30-5-2008.)

 

“Prefeitura de Osasco. Convênio para fornecimento de mão de obra. Funcionários da Prosasco. Estabilidade do art. 19 do ADCT. Estabilidade que se aplica somente a servidores públicos. Precedentes.” (RE 190.488-ED, Rel. Min.Gilmar Mendes, julgamento em 18-3-2008, Segunda Turma, DJE de 18-4-2008.)

 

“Constitucional. Estabilidade excepcional: art. 19 do ADCT-CF/1988. Requisitos. Inobservância. O preceito do art. 19 do ADCT-CF/1988 deferiu a estabilidade aos servidores que não foram admitidos no serviço público na forma do art. 37, II, da CF, mas a estabilidade somente se adquire se observado o lapso temporal de cinco anos continuados de prestação de serviço público." (AI 465.746-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 26-10-2004, Primeira Turma, DJ de 26-11-2004.)

 

“Servidor público: estabilidade. CF/1988, ADCT, art. 19. Prestação de serviço por mais de cinco anos, até 5-10-1988, data da promulgação da Constituição. Breves interrupções ocorreram no exercício das atividades de professor. Esses breves intervalos nas contratações, decorrentes mesmo da natureza do serviço (magistério), não descaracterizam o direito do servidor. Precedentes: RE 158.448/MG, RE 257.580/MG e RE 218.323/SP, Min. Marco Aurélio; RE235.742/MG e RE 378.036-AgR/MG, Min. Carlos Velloso, DJ de 2-2-1999 e 24-10-2003." (RE 361.020, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 28-9-2004, Segunda Turma, DJ de 4-2-2005.) No mesmo sentido: RE 372.242-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 1º-2-2011, Primeira Turma, DJE de 21-2-2011; RE 352.671-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 8-9-2009, Segunda Turma, DJE de 9-10-2009; AI 449.263-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 17-5-2005, Segunda Turma, DJ de 17-6-2005.

 

“A exigência de concurso público para a investidura em cargo garante o respeito a vários princípios constitucionais de direito administrativo, entre eles, o da impessoalidade e o da isonomia. O constituinte, todavia, inseriu no art. 19 do ADCT norma transitória criando uma estabilidade excepcional para servidores não concursados da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que, quando da promulgação da CF, contassem com, no mínimo, cinco anos ininterruptos de serviço público. A jurisprudência desta Corte tem considerado inconstitucionais normas estaduais que ampliam a exceção à regra da exigência de concurso para o ingresso no serviço público já estabelecida no ADCT Federal.

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Precedentes: ADI 498, Rel. Min. Carlos Velloso (DJ de 9-8-1996) e ADI 208, Rel. Min. Moreira Alves (DJ de 19-12-2002), entre outros." (ADI 100, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 9-9-2004, Plenário, DJ de 1º-10-2004.) No mesmo sentido: RE 356.612-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 31-8-2010, Segunda Turma, DJE de 16-11-2010; ADI 88, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 11-5-2000, Plenário, DJ de 8-9-2000; ADI 289, Rel. Min.Sepúlveda Pertence, julgamento em 9-2-2007, Plenário, DJ de 16-3-2007; ADI 125, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 9-2-2007, Plenário, DJ de 27-4-2007. Vide: ADI 114, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 26-11-2009, Plenário, DJE de 3-10-2011.

 

“Art. 19 do ADCT. Funcionário de cartório. Ausência de vínculo com a administração. Estabilidade. Impertinência. A norma do art. 19 do ADCT não socorre o recorrente, que admite jamais ter recebido remuneração dos cofres públicos e ser contratado apenas do Cartório de Distribuição do TJDFT, pelo regime da CLT. Dispositivo constitucional transitório que se aplica somente àqueles servidores públicos em exercício, há pelo menos cinco anos antes da promulgação da Carta de 1988, na administração direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como em suas autarquias e fundações públicas." (RE 388.589, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 15-6-2004, Segunda Turma, DJ de 6-8-2004.)

 

“Artigo do ADCT da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul que assegura aos servidores públicos civis estabilizados, nos termos do art. 19 do ADCT/CF, a organização em quadro especial em extinção. Equiparação de vantagens dos servidores públicos estatuários aos então celetistas que adquiriram estabilidade for força da CF. Ofensa ao art. 37, II, da CF." (ADI 180, Rel. Min. Nelson Jobim, julgamento em 3-4-2003, Plenário, DJ de 27-6-2003.)

 

“Estabilidade excepcional (ADCT, art. 19): reconhecida a continuidade dos períodos sucessivos de serviço, não obsta à estabilidade a falta ao trabalho nos dois últimos dias do primeiro: a assiduidade absoluta não foi erigida em requisito essencial de estabilidade do art. 19 das Disposições Transitórias. Estabilidade excepcional (art. 19 ADCT): não implica efetividade no cargo, dependente de concurso interno." (RE 187.955, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 15-10-1999, Primeira Turma, DJ de 5-11-1999.)

 

“Servidor estável ex vi do art. 19 do ADCT, redistribuído para Assembleia Legislativa e efetivado na carreira por ato da Mesa Legislativa. Anulação. Ilegalidade e existência de direito adquirido. Alegação improcedente. Súmula 473/STF. O ato de ‘redistribuição’ ou ‘enquadramento’, assim como o de ‘transferência’ ou ‘aproveitamento’, que propiciou o ingresso do servidor na carreira, sem concurso público, quando esse era excepcionalmente estável no cargo para o qual fora contratado inicialmente (art. 19, ADCT), é nulo, por inobservância ao art. 37, II, da CF. Legítimo é o ato administrativo que declarou a nulidade da resolução da Mesa da Assembleia Legislativa, que efetivou o agente público, pois a administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos (Súmula 473). A CF não permite o ingresso em cargo público – sem concurso." (RE 167.635, Rel. Min.Maurício Corrêa, julgamento em

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17-9-1996, Segunda Turma, DJ de 7-2-1997.)

 

"O art. 19 do ADCT da Constituição de 1988 tem abrangência limitada aos servidores civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entre eles não se compreendendo os empregados de empresas públicas e sociedades de economia mista. CF, arts. 39 e 173, §1º." (ADI 112, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 24-8-1994, Plenário, DJ de 9-2-1996.) No mesmo sentido: ADI 2.689, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 9-10-2003, Plenário, DJ de 21-11-2003; ADI 1.808-MC, Rel. Min. Sydney Sanches, julgamento em 1º-2-1999, Plenário, DJ de 1º-6-2001; RE 208.046, Rel. Min. Octavio Gallotti, julgamento em 3-2-1998, Primeira Turma, DJ de 24-4-1998.

 

“Estado do Piauí. Lei 4546/1992, art. 5º, IV, que enquadra no regime único, de natureza estatutária, servidores admitidos sem concurso público após o advento da Constituição de 1988. Alegada incompatibilidade com as normas dos arts. 37, II, e 39 do texto permanente da referida carta e com o art. 19 do ADCT. Plausibilidade da tese. O provimento de cargos públicos tem sua disciplina trancada, com rigor vinculante, pelo constituinte originário, não havendo que se falar, nesse âmbito, em autonomia organizacional dos entes federados. Dispositivo destoante dessa orientação." (ADI 982-MC, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 24-3-1994, Plenário, DJ de 6-5-1994.)

 

“Cuidando-se de militares do quadro de temporários, isto é, admitidos por prazo limitado, como previsto no art. 2º, § 2º, b, da Lei 7.150, de 1º-12-1983, não há reconhecer-lhes direito à permanência em atividade, após cumprido o prazo de incorporação. Inaplicabilidade, a tais servidores, da norma do art. 19, do ADCT, de 1988, restrita a servidores civis." (RMS 21.614, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 23-3-1993, Primeira Turma, DJ de 16-4-1993.) No mesmo sentido: RMS 22.311, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 25-11-2003, Segunda Turma, DJ de 12-3-2004.

 

§ 1º - O tempo de serviço dos servidores referidos neste artigo será contado como título quando se submeterem a concurso para fins de efetivação, na forma da lei. 

“Servidor público. Estabilidade. ADCT, art. 19. Estabilidade reconhecida: ADCT, CF/1988, art. 19, ficando o servidor sujeito a concurso para fins de efetividade (§ 1º do art. 19)." (RE 223.426-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 17-12-2002, Segunda Turma, DJ de 21-3-2003.)

 

“Promulgada a CF de 1988, aos servidores, a quem a lei local conferiu o direito excepcional, aplica-se o preceito do art. 19 do ADCT, sendo estáveis no cargo em que se encontravam se preenchidos os seus requisitos, mas tornar-se-ão efetivos somente após aprovação em concurso público." (RE 181.883, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 25-11-1997, Segunda Turma, DJ de 27-2-1998.)

 

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“Efetividade e estabilidade. Não há que confundir efetividade com estabilidade. Aquela é atributo do cargo, designando o funcionário desde o instante da nomeação; a estabilidade é aderência, é integração no serviço público, depois de preenchidas determinadas condições fixadas em lei, e adquirida pelo decurso de tempo. Estabilidade: art. 41 da CF e art. 19 do ADCT. A vigente Constituição estipulou duas modalidades de estabilidade no serviço público: a primeira, prevista no art. 41 (...). A nomeação em caráter efetivo constitui-se em condição primordial para a aquisição da estabilidade, que é conferida ao funcionário público investido em cargo, para o qual foi nomeado em virtude de concurso público. A segunda, prevista no art. 19 do ADCT, é um favor constitucional conferido àquele servidor admitido sem concurso público há pelo menos cinco anos da promulgação da Constituição. Preenchidas as condições insertas no preceito transitório, o servidor é estável, mas não é efetivo, e possui somente o direito de permanência no serviço público no cargo em que fora admitido, todavia sem incorporação na carreira, não tendo direito à progressão funcional nela, ou a desfrutar de benefícios que sejam privativos de seus integrantes. O servidor que preenchera as condições exigidas pelo art. 19 do ADCT-CF/1988 é estável no cargo para o qual fora contratado pela administração pública, mas não é efetivo. Não é titular do cargo que ocupa, não integra a carreira e goza apenas de uma estabilidade especial no serviço público, que não se confunde com aquela estabilidade regular disciplinada pelo art. 41 da CF. Não tem direito a efetivação, a não ser que se submeta a concurso público, quando, aprovado e nomeado, fará jus à contagem do tempo de serviço prestado no período de estabilidade excepcional, como título.” (RE 167.635, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 17-9-1996, Segunda Turma, DJ de 7-2-1997.) No mesmo sentido: ADI 114, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 26-11-2009, Plenário, DJE de 3-10-2011.

(Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil/2012) Determinado

servidor público federal foi acometido de doença que, por recomendação

de seu médico particular, devidamente atestada, render-lhe-ia quatro

dias de licença para tratamento da própria saúde.

O referido servidor afastou-se de suas atividades laborais sem, todavia,

entregar à chefia imediata o atestado médico para fins de homologação.

Também não compareceu ao serviço médico do seu local de trabalho

durante o afastamento nem nos cinco dias subsequentes a ele.

Tendo em vista que o servidor não foi periciado, nem sequer apresentou

atestado médico para que a licença médica pudesse ser formalizada, a

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chefia imediata efetuou o registro das faltas em sua folha de controle de

frequência.

Ao final do mês, o referido servidor fora descontado da remuneração

correspondente aos dias faltosos.

Considerando a legislação de pessoal em vigor e a recente

jurisprudência do STJ, assinale a opção correta.

a) A limitação temporal para a apresentação do atestado médico para

homologação não encontra fundamento na Lei n. 8.112/90, não podendo

ser estabelecida por meio de decreto.

b) Não é possível aplicar a penalidade da falta sem a instauração de

prévio processo administrativo disciplinar.

c) O desconto pelos dias não trabalhados não pode ser realizado sem a

prévia instauração do processo administrativo disciplinar.

d) É descabida a instauração de processo administrativo disciplinar

quando não se colima a aplicação de sanção de qualquer natureza, mas

o mero desconto da remuneração pelos dias não trabalhados.

e) A compensação de horário não é admitida, em nenhuma hipótese,

pela Lei n. 8.112/90.

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