direito administrativo - i (1)

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    INOES INTRODUTRIAS AO DIREITO ADMINISTRATIVO

    Direito posto o conjunto de normas impostas coativamente pelo Estado

    que iro disciplinar a vida em sociedade, vigente num determinado momento,

    permitindo a coexistncia/convivncia pacfica/harmnica dos seres.

    Para fins didticos, o direito foi subdivido em ramo do direito interno e do

    direito externo. O ramo do direito interno se preocupa com as relaes internas,

    dentro do territrio nacional. Enquanto o direito internacional se preocupa com

    relaes externas.

    O direito tambm foi subdividido em ramo do direito pblico e do direito

    privado. O primeiro se preocupa com a atuao do Estado na realizao/satisfao

    do interesse pblico. J o objeto do direito privado se ocupa das relaes com a

    satisfao do interesse particular.

    Para a doutrina brasileira, toda a regra de direito pblico tambm regra de

    ordem pblica. Mas tambm h regras de ordem pblica no direto privado.

    O direito administrativo um ramo do direito pblico interno que tem por

    escopo a atuao do Estado na satisfao do interesse coletivo. interno porque sepreocupa com relaes que ocorrem dentro do territrio nacional.

    Conceito de Direito Administrativo

    H vrias teorias a respeito do conceito de direito administrativo:

    Escola legalista ou exegtica (emprica ou catica)o direito administrativo

    pura e simplesmente um estudo de leis.

    Esta teoria no vingou. Fica superada a Escola legalista e vem ento a ideia

    que se consolida com os anos dizendo que o direito administrativo o estudo

    de princpios e leis. Tendo como base essa premissa, vrias outras teorias

    surgiram.

    Escola do servio pblico O direito administrativo teria por objeto de

    estudo o servio pblico. Mas servio pblico tinha conceito muito

    abrangente. Toda atividade do Estado era servio pblico, inclusive

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    atividades comerciais e industriais. Esse conceito muito amplo, pois

    prejudica/compromete e exclui os demais ramos do direito pblico.

    Essa escola no foi acolhida pela nossa doutrina.

    Critrio do Poder Executivo o direito administrativo tem como objeto de

    estudo a atuao do Poder Executivo (como se s o poder executivo

    realizasse atividade administrativa). A premissa falsa, pois todos os poderes

    exercem atividade administrativa. Todos os poderes - executivo, legislativo e

    judicirio - sero objeto do estudo do direito administrativo, desde que

    estejam no exerccio da atividade administrativa.

    Esse critrio tambm no prosperou.

    Critrio das relaes jurdicas o direito administrativo se preocupa com

    todas as relaes jurdicas do Estado. Esse conceito muito amplo, na

    medida em que nem todas as relaes jurdicas do Estado so objeto do

    direito administrativo. Exemplo: direito tributrio.

    Este critrio no foi acolhido no Brasil. Na sequncia, quarto critrio foi

    estabelecido.

    Critrio teleolgico direito administrativo um sistema (conjunto

    harmnico) de regras e princpios que regulam/disciplinam a atividade estatal

    no cumprimento de seus fins. Conceito verdadeiro, mas insuficiente.

    Logo, esse critrio foi aceito do no Brasil. Mas foi dito insuficiente,

    precisando de complementao.

    Critrio residual ou negativo o direito administrativo definido porexcluso. Excludas as funes jurisdicional e legislativa, o que resta direito

    administrativo. Conceito verdadeiro, mas insuficiente.

    Com esse critrio aconteceu a mesma coisa. Foi acolhido, embora

    considerado insuficiente.

    Critrio de distino da atividade jurdica e atividade social do Estado o

    objeto do direito administrativo no passa pela valorao, no se preocupa

    com a atividade social (no se estuda qual a melhor poltica pblica). (ex.: a

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    poltica pblica, em si bolsa escola, etc.), mas sim com a atividade jurdica

    (a forma de implementao da poltica pblica, a forma de pagamento,

    fiscalizao). Conceito verdadeiro, mas insuficiente.

    Tambm foi tido deficiente esse critrio.

    Critrio da Administrao Pblica (Hely Lopes Meireles) o conceito mais

    admitido pela doutrina brasileira, constitudo pela soma dos critrios

    anteriores que so aceitos.

    Direito Administrativo um conjunto harmnico de princpios e regras que

    regem agentes/rgos/entidades no exerccio da atividade administrativa,

    independentemente de quem a exera, tendente a realizar de forma direta,

    concreta e imediata os fins desejados pelo Estado.

    Realizar de forma concreta ter destinatrios determinados, produzindo

    efeitos concretos, estando excluda a atuao abstrata (pelo que eliminada a

    funo legislativa, critrio residual).

    Realizar de forma direta atuar de ofcio, independentemente de

    provocao, estando excluda a funo indireta (consequentemente a funojurisdicional, critrio residual).

    Realizar de forma imediata reunir a atividade jurdica do Estado, ficando a

    via mediata para cuidar da atividade social (critrio da distino da atividade).

    Fontes do Direito Administrativo

    Fonte aquilo que leva criao da norma de direito administrativo. So

    elas:

    Lei em sentido amplo: aqui abrangida qualquer espcie normativa (CF, leis

    complementares, leis ordinrias), estando os atos inferiores em compatibilidade com

    os superiores, e todos eles com a Constituio Federal (compatibilidade vertical,

    segundo o STF).

    O ordenamento jurdico estruturado de forma escalonada/hierarquizada.

    Assim, o STF analisando a questo definiu que a norma inferior tem que ser

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    compatvel com a norma superior e todas elas precisam ser compatveis com a

    Constituio Federal. O STF denominou essa relao de compatibilidade vertical.

    Doutrina:como resultado do trabalho dos estudiosos da matria. falta de

    um cdigo unificado, mas apenas legislao fragmentria/esparsa, as divergncias

    ficam mais salientes. A nossa doutrina no se resolve bem.

    Jurisprudncia: esta a muitas vezes incumbida de resolver as divergncias

    doutrinrias, da porque vem ganhando relevo enquanto fonte do direito

    administrativo. A smula se insere no mbito da jurisprudncia, pois nada mais do

    que a cristalizao e consolidao do posicionamento jurisprudencial.

    Atentar para a repercusso geral, que admitida pelo Supremo Tribunal

    Federal, aps o julgamento do leading case, haver efeito vinculante para os outros.

    Costumes: prtica habitual, em razo da crena de ser ela obrigatria. No

    Brasil, o direito consuetudinrio/costumeiro, no cria nem extingue obrigao.

    Princpio Geral de Direito: est no alicerce/base da disciplina, viga mestra

    do direito administrativo. Podem ser expressos ou implcitos. Na sua maioria so

    implcitos. Exemplo: vedao ao enriquecimento ilcito, ningum pode se beneficiarda prpria torpeza.

    Sistemas Administrativos ou Mecanismos de Controle

    Quando a administrao pratica um ato, quem pode control-lo ou rev-lo?

    H dois sistemas de controle:

    Contencioso Administrativo (sistema francs):praticado um ato administrativo, fica

    seu controle/reviso incumbido prpria Administrao, exceto em algumascircunstncias. Excepcionalmente o Poder Judicirio poder intervir e rever o ato,

    quando se tratar de atividade pblica de direito privado (a atuao do Estado no

    regime de direito privado), propriedade privada, represso penal e questo

    relacionada ao estado e capacidade das pessoas.

    Jurisdio nica (sistema ingls): quem d a ltima palavra e decide em definitivo

    o Poder Judicirio. Note que tambm h julgamento pela Administrao, mas ele

    pode ser revisado pelo Judicirio. A administrao tambm julga e decide, mas no

    em ltima instncia, pois essa deciso revisvel pelo judicirio. o sistema adotado

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    pelo Brasil via de regra. Tentamos inserir o sistema francs com a EC n 07/97, mas

    essa regra tornou-se inoperante, nunca foi implementada.

    A doutrina no admite a criao de um sistema misto, pois a mistura j daessncia de cada um dos sistemas.

    A responsabilidade civil do Estado objetiva (artigo 37, 6, da Constituio

    Federal), mas no da Administrao Pblica.

    que o Estado corresponde pessoa jurdica de direito pblico, que goza de

    personalidade jurdica e, portanto, aptido para ser sujeito de direitos e obrigaes.

    Os poderes do Estado tm, portanto, dois tipos de funo, a chamada tpica,que a precpua, principal, para a qual cada poder criado; e a atpica, que

    secundria

    Os poderes separados no possuem funes estanques, mas sim principais,

    ditas tpicas, podendo assumir em carter excepcional funes atpicas.

    A funo tpica do Poder Legislativo a legislativaou seja, inovar na ordem

    jurdica, em carter abstrato e geral , (alguns doutrinadores falam que tambm

    tpica a funo fiscalizao, em virtude das CPIs e do Tribunal de Contas). O

    legislativo tambm pode ter funo de julgamento (Senado Federal, nos Crimes de

    Responsabilidade do Presidente da Repblica) e administrativa (licitar). Essas duas

    ltimas so funes atpicas.

    A funo tpica do Poder Judicirio a jurisdicional , ou seja, o julgamento e

    aplicao da lei ao caso concreto (atuao concreta), de forma indireta (provocada),

    no tendo o poder de inovar no ordenamento jurdico, revestindo-se suas decises

    de carter irreversvel/imodificvel, atravs da coisa julgada material (caracterstica

    de intangibilidade jurdica).

    Funo jurisdicional consiste em solucionar lides aplicando coativamente o

    ordenamento jurdico, sendo concreta e indireta e no inovando.

    A funo tpica do Poder Executivo a administrativa, isto , executar o

    ordenamento jurdico vigente. No lhe cabe inovar no ordenamento jurdico

    (Medida provisria diz respeito funo legislativasecundria- do Executivo). Atua

    de forma concreta e sua atuao pode ser revisada pelo Poder Judicirio (ento suas

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    decises no se revestem de intangibilidade). direta, pois no precisa de

    provocao.

    Coisa julgada administrativa no impossibilidade administrativa. No

    verdadeira coisa julgada. Significa apenas que h impossibilidade de mudana no

    mbito administrativo. uma definitividade na seara administrativa exclusivamente,

    sendo revisvel pelo poder judicirio

    Sano e veto do presidente da repblica; declarao de guerra e celebrao

    da paz; decretao de estado de defesa ou de stio so exemplos de qual funo?

    Essas situaes no se encaixam em nenhuma das trs funes anteriores.

    A doutrina moderna fala numa quarta funo do Estado, incumbida ao Poder

    Executivo, que a funo poltica ou de Governo, consistente na tomada de decises

    importantes e de cunho e contedo poltico, tais como, quando o Presidente da

    Repblica declara guerra e celebra a paz, instaura o Estado de Defesa e de Stio, veta

    ou sanciona um projeto de Lei. Essa funo diz respeito a situaes de alto grau de

    discricionariedade, que no se confundem com o dia-a-dia da administrao. So

    situaes excepcionais.

    E Governo? um elemento do Estado que significa comando/direo. Paraque o Estado seja independente, o governo deve ser soberano. Governo soberano

    significa independncia na ordem internacional, com supremacia na ordem interna.

    E o que Administrao? Para a maioria dos autores, o aparelho/mquina

    estatal. a composio/estrutura fsica que compe a pessoa jurdica do Estado.

    Segundo a doutrina, sua conceituao pode ser vista sob dois enfoques:

    Critrio Formal (Orgnico ou Subjetivo): o aparelho estatal.So os agentes, bens e

    patrimnio que compem a pessoa jurdica do Estado.

    Critrio Material (Objetivo): se refere atividade administrativa, que deve ser

    exercida nos limites da lei e da norma tcnica.

    II - REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO

    Regime jurdico um conjunto harmnico de regras e princpios que

    guardam entre si uma coerncia/correlao lgica, formando um sistema/unidade, o

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    que gera a ideia de que, na hiptese concreta, mais de um princpio aplicvel ao

    caso.

    Existe a teoria da ponderao de interesses, que traz dois raciocnios

    importantes:

    1 - A cada caso concreto, h aplicao de uma regra. Para as regras, pensa-se

    no plano de validade. Se a norma A aplicvel ao caso, dentro do plano de validade,

    as normas B, C, D e demais esto excludas, no so vlidas.

    2 - Para os princpios, no h essa excluso, todos podem ser aplicados ao

    mesmo tempo, de uma s vez. Todos so importantes e vlidos. Mas, dependendo

    do caso concreto, um ir prevalecer sobre os outros, de acordo com os interesses.

    Trata-se da chamada ponderao de interesses, ora prevalece um princpio, ora

    prevalece outro. Um princpio no se sobrepe ao outro. No h conflito, no h

    princpio absoluto. ( sabido que, de uma forma geral, os princpios no so

    aplicados de forma absoluta. Todos tm a mesma fora e a mesma importncia,

    devendo ser considerados ao mesmo tempo e sopesados segundo critrio da

    ponderao de interesses, diante de cada situao concreta).

    Posio nova: estabilizao dos efeitos do ato. Exemplo - nomeao deservidores sem concurso pblico. Diante de um ato ilegal, em face do princpio da

    legalidade, haver a anulao. Mas poder ser mantido em razo do princpio da

    segurana jurdica e da boa-f, pode haver a estabilizao do ato.

    Princpios de Direito Administrativo

    Princpios Mnimos do Direito Administrativo

    So aqueles estampados no caput do artigo 37 da Constituio Federal:Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficincia, sendo este

    dispositivo alterado pela Emenda Constitucional n 19/1998 (reforma

    administrativa).

    Princpios-alicerce do direito administrativo (Pedras de toque - Celso Antnio

    Bandeira de Mello)

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    Quais so as pedras de toque do Direito Administrativo? Segundo Celso

    Antnio Bandeira de Mello, so os princpios da supremacia do interesse pblico e

    indisponibilidade do interesse pblico.

    A primeira conceituao que deve ser feita de interesse pblico,

    passando em seguida anlise dos princpios alicerais do direito administrativo.

    Interesse pblico enquanto vontade do povo, o chamado interesse pblico

    primrio. J o interesse pblico secundrio representa a vontade do Estado

    enquanto pessoa jurdica. O ideal que sejam coincidentes, harmnicos. Estado e

    povo devem ter mesmo objetivo. Caso no haja convergncia de vontades do povo e

    do Estado, deve sempre prevalecer aquele, ou seja, o interesse primrio.

    Interesse pblico primrio: vontade do povo.

    Interesse pblico secundrio: vontade do Estado enquanto pessoa jurdica.

    1) Princpio da Supremacia do Interesse Pblico:quer significar a sobreposio,

    ou a superioridade do interesse coletivo (pblico) frente aos interesses

    individuais. Cuida-se de pressuposto lgico para o convvio social. Note que

    interesse pblico no o do administrador, da mquina estatal, mas sim o

    interesse coletivo. O princpio traz prerrogativas e privilgios para o Estado.Para a doutrina majoritria, o princpio serve como base, como fundamento

    dos demais institutos do direito administrativo.

    H uma corrente minoritria que vem criticando e defendendo a excluso do

    princpio da supremacia do interesse pblico sobre o particular. Em resumo,

    sustenta que o princpio justifica abuso e arbitrariedade, contribui e d

    respaldo prtica da ilegalidade. A maioria da doutrina defende que a

    questo no de eliminao, mas sim de aplicao de forma correta e efetiva

    do princpio.

    2) Princpio da Indisponibilidade do Interesse Pblico: em nome da supremacia

    do interesse pblico, verificado o interesse pblico, no pode a

    Administrao Pblica (o administrador) dele abrir mo. O administrador no

    pode dispor do interesse pblico, no tem liberalidade face a esse interesse.

    O administrador exerce funo pblica, ou seja, exerce uma atividade em

    nome e no interesse do povo (mnus pblico), motivo pelo qual no dispor

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    daquilo que no lhe pertence. Alm disso, o administrador de hoje no pode

    criar entraves, obstculos que comprometam a futura administrao.

    Toda a administrao pblica, direta ou indireta, dos poderes executivo,

    legislativo e judicirio de qualquer unidade da federao (Unio, Estado, Municpios

    e Distrito Federal) est sujeita aos princpios:

    Legalidade:indispensvel para o Estado de Direito( aquele politicamente

    organizado e que obedece as prprias leis). O princpio tem dois vieses: de

    um lado a legalidade para o direito pblico, de outro, para o direito privado.

    Na legalidade para o direito privado, permitido tudo o que no estiver

    proibido ao particular (critrio de no contradio lei), (muito utilizado pela

    FCC). Na legalidade para o direito pblico sucede o oposto, ou seja, o

    administrador s est autorizado a fazer o que estiver permitido em lei

    (critrio de subordinao lei). Por vezes, a lei d ao administrador certa

    discricionariedade, ou seja, lhe d certa margem de ao para atuar em

    concreto.

    O constituinte utiliza e enuncia vrias vezes o princpio: art. 5, II, (ningum obrigado a fazer ou deixar de fazer, seno em virtude de lei), art. 37, caput;

    art. 84, IV; art. 150.

    Legalidade x Reserva de Lei: no so sinnimos. Para o direito administrativo

    reserva de lei equivale escolha da espcie normativa, atribuir a uma

    determinada matria uma espcie normativa (ordinria, complementar).

    Lembrando que, quando o constituinte no diz qual espcie apropriada

    nos termos de lei, est a apontar a utilizao da lei ordinria, pois onde quis

    que fosse complementar, o fez expressamente.

    Hoje, no Brasil, para os atos administrativos, aplica-se a chamada legalidade

    em sentido amplo, que significa compatibilidade do ato administrativo com a

    lei e conformidade com regras e princpios constitucionais.

    Impessoalidade: o administrador deve agir de forma impessoal, no pode

    buscar interesses pessoais. Deve agir com ausncia subjetividade. No pode

    se utilizar da mquina administrativa para a consecuo de interesses

    prprios, vale dizer, para beneficiar a si prprio ou determinados sujeitos.

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    Sob o aspecto da administrao, o ato administrativo impessoal, ou seja,

    no considerado praticado pelo administrador (servidor pblico) que o

    pratica, mas da pessoa jurdica, do ente pblico (entidade) a que est

    subordinado ou representando.

    Divergncia entre os princpios da impessoalidade x finalidade: h duas

    correntes doutrinrias. A doutrina tradicional equipara os dois princpios,

    dizendo tratar-se de sinnimos (Hely Lopes Meirelles). Fala que o princpio da

    impessoalidade veio para substituir os da finalidade e imparcialidade. Na

    doutrina moderna (Celso Antnio Bandeira de Mello) os princpios no se

    confundem, so princpios autnomos. Nessa, a impessoalidade sinnimo

    de ausncia de subjetividade. Finalidade significa buscar o esprito da lei, ou

    sua vontade maior. E ao faz-lo, o princpio da finalidade est cumprindo a

    prpria lei, estando ligado ao princpio da legalidade e no da

    impessoalidade. O artigo 2 da Lei n 9.784/99 (processo administrativo)

    refora a ideia de finalidade como princpio autnomo. A posio que

    prevalece a da doutrina moderna.

    Moralidade:traduz a ideia de lealdade, coerncia, correo de atitudes, boa-

    f, obedincia a princpios ticos, probidade, honestidade. O administrador,no desempenho da funo administrativa, deve agir de forma proba, honesta

    e tica. Deve pautar sua conduta na boa-f.

    Para a doutrina, a moralidade um conceito eminentemente

    vago/indeterminado, o que dificulta sua aplicao de forma isolada,

    aparecendo normalmente atrelada a outros princpios. Desrespeitar a

    moralidade administrativa redunda em improbidade (Lei de Improbidade

    Administrativan 8.429/92).

    Moral comum: raciocinar o certo e errado tendo em vista as regras de

    convvio social

    X

    Moralidade administrativa: correo de atitudes tomadas boa

    administrao (esta tambm est ligada ideia de eficincia). mais

    exigente/rigorosa do que a moralidade comum.

    Nepotismo x moralidade: O nepotismo foi vedado pelo CNJ e pelo CNMP, que

    editaram resolues nesse sentido, nas estruturas do Judicirio e do

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    Ministrio Pblico, respectivamente. Desde a Lei n 8.112/90, a proibio j

    existia. Mas a questo ganha ateno a partir da EC n 45/04, que criou o CNJ

    e o CNMP, os quais realizam controle administrativo. A Resoluo n 7 do CNJ

    marca a proibio do nepotismo em todo o Poder Judicirio. No mbito do

    Ministrio Pblico, a resoluo a n 01 do CNMP.

    1 hiptese: no pode relao de parentesco entre o nomeante e o nomeado

    que exerce cargo em comisso nem funo gratificada. Essa primeira

    hiptese advm de uma relao de hierarquia.

    Cargo em comisso: antes da CR/88, era chamado cargo de confiana. o

    cargo baseado na confiana, de livre nomeao e exonerao (exonerao

    ad nutum). Serve para direo, chefia e assessoramento. Qualquer pessoa

    pode exercer, mas reservado um limite mnimo, que ser dado para quem

    de carreira (o mnimo depende da lei).

    X

    Funo de confiana (gratificada): baseada na confiana. a nica funo

    que foi mantida pela CR/88. Serve para direo, chefia e assessoramento. S

    pode ser exercida funo por quem j tem cargo efetivo, pois j est na

    estrutura da administrao (tem posto) cargo=atribuio+responsabilidade+

    posto/funo= atribuio+responsabilidade. Recebe remuneraocorrespondente ao cargo e gratificao correspondente funo de

    confiana (gratificao por funo de confiana). Trata-se, portanto, da

    funo gratificada.

    2 hiptese: relao de parentesco entre servidor investido em cargo de

    direo, chefia e assessoramento e outro servidor investido em cargo em

    comisso ou de confiana (funo gratificada) da mesma pessoa jurdica

    Cargo de direo chefia e assessoramento (cargo em comisso) cargo em

    comisso ou funo gratificada na mesma pessoa jurdica.No existe relao de hierarquia.

    No possvel que um sujeito que exera funo de confiana de chefia,

    direo ou assessoramento numa pessoa jurdica tenha outro parente em

    cargo em comisso ou funo gratificada na mesma pessoa jurdica.

    3 hiptese: ajuste mediante designaes recprocas, viola a Constituio

    Federal. o chamado nepotismo cruzado.

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    O STF, interpretando a Smula, definiu que agentes polticos esto fora da

    vedao.

    Publicidade:significa divulgao, cincia ou conhecimento ao titular do

    direito/interesse, que o povo (aquele em nome de quem o poder pblico

    exercido).

    condio de eficcia dos atos e contratos administrativos, ou seja, incio de

    produo de efeitos (por exemplo, artigo 61, nico da Lei n 8.666/93). A

    no publicao no compromete a validade, mas a eficcia. Ex.: o prazo para

    recurso contra multas de trnsito se inicia com a publicidade/conhecimento

    (recebimento da notificao). Assim a publicidade tambm representa o

    incio da contagem de prazos.

    A publicidade tambm instrumento/ferramenta de fiscalizao/controle da

    administrao.

    Qual o remdio cabvel em face da negativa de acesso a informaes do seu

    interesse (no pessoais)?

    Habeas Data s se presta ao conhecimento e retificao de informaes

    pessoais. Se a informao negada no for pessoal, o remdio cabvel o

    Mandado de Segurana (direito lquido e certo de informao).

    Excees ao princpio:

    a) a intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas (artigo 5, X da

    CF/88) esto acima da exigncia de publicidade;

    b) informaes que possam colocar em risco a segurana da sociedade e do

    Estado (artigo 5, XXXIII da CF/88: todos tem direito informao, salvo...).

    (Exceo mais cobrada em concurso).

    c) atos processuais, judiciais ou administrativos, que corram em sigilo porpreviso em lei (artigo 5, LX da CF/88). O processo tico-disciplinar, na

    maioria dos conselhos, sigiloso at o julgamento final, para preservar e

    proteger a carreira do profissional.

    Na doutrina, h divergncia sobre as excees. H quem somente considere a

    segunda. O direito informao est regulamentado pela Lei n 12.527/11.

    O artigo 37, 1 da Constituio Federal traz, na sua primeira parte, o dever

    de publicidade e a forma de publicao: a publicidade deve ter carter

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    educativo, informativo, ou de orientao pessoal. A no publicao configura

    crime de improbidade administrativa (artigo 11 da Lei n 8.429/92 Lei de

    Improbidade Administrativa). Na segunda parte, traz o dever de

    impessoalidade, no podendo da publicao das informaes constar nomes,

    smbolos ou imagens que representem promoo ou propaganda pessoal do

    administrador, sob pena de improbidade administrativa (artigo 11 da Lei n

    8.429/92). O governo pode publicar. O que no pode vincular a pessoa do

    administrador pblico.

    Segundo o STJ, o simples fato de ter o nome do administrador no

    necessariamente configura propaganda pessoal. A divulgao de dados de

    uma obra, atravs de uma placa, por exemplo, com o nome do

    administrador, em carter informativo, conjuntamente com outros tantos

    dados, no compromete a impessoalidade, no configurando improbidade.

    Nome de bem pblico no Brasil, em tese, para homenagear pessoas

    falecidas que foram importantes para aquela sociedade. Com o passar dos

    anos, a histria mudou. Comearam a colocar nome de pessoa viva, e virou

    uma troca de favores. O problema quando o administrador coloca o prprio

    nome quando realiza uma reforma, por exemplo. No pode constar nome

    que caracterize promoo pessoal, por exemplo, no pode colocar nome doadministrador em exerccio no prdio.

    A promoo pessoal utilizando terceiros tambm caracteriza improbidade

    administrativa.

    Eficincia: antes era princpio implcito na CR/88. Ganha roupagem de

    princpio expresso na CR/88 por via da Emenda Constitucional n 19/98. Mas

    o dever de eficincia da Administrao j tinha consagrao expressa em

    nvel infraconstitucional, mesmo antes da Emenda Constitucional, na Lei n8.987/95 (art. 6 - trata do servio pblico adequado).

    Traduz a ideia de agilidade, presteza, produtividade e de forma econmica,

    ausncia de desperdcio. Cuida-se de princpio que tem por postulado a ideia

    de que deve a Administrao agir de forma gil, produtiva, econmica, com

    ausncia de desperdcio.

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

    14/99

    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    Para tornar o princpio efetivo, o legislador constitucional alterou outros

    dispositivos, criando dois mecanismos importantes:

    a)

    estabilidade do servidor pblico, estabelecendo exigncias

    constitucionais para aquisio, quais sejam: 1) nomeao de cargo

    efetivo, mediante previa aprovao em concurso pblico; 2) trs anos de

    efetivo exerccio; 3) aprovao na avaliao especial de desempenho

    (depende de regulamentao). Confira-se o artigo 41, caput e 4 da

    Constituio Federal.

    E aps adquirida a estabilidade, deve-se manter o servidor eficiente, sob

    pena de perd-la. O servidor pode perder o cargo de trs modos: 1) via

    processo administrativo; 2) via processo judicial com o trnsito em julgado; 3)

    via avaliao peridica de desempenho (depende de regulamentao).

    b) Despesas com pessoal: disciplinada pelo artigo 169 da CR/88, que recebe

    o nome de racionalizao da mquina administrativa. Impe o limite de

    despesas com pessoal. S se pode gastar com pessoal o limite previsto

    em lei complementar: art. 19 da LC n 101 (Lei de Responsabilidade

    Fiscal).

    Limite de despesa com pessoal: Unio - 50%; Estados e Municpios -

    60%.Ultrapassado esse limite, h previses para reduo dos gastos, na

    seguinte ordem: 1) cargos em comisso e funo de confiana

    (gratificada), em pelo menos 20%; 2) servidores no-estveis, sem um

    percentual determinado, sendo possvel a exonerao de todos, de

    acordo com a necessidade. No h regra de escolha, corta-se por um

    critrio de importncia/necessidade, preferindo aqueles que exeram

    funes mais relevantes/necessrios para Administrao.

    3) servidores estveis, estes com direito indenizao.

    Obs: Cuida-se de uma ordem que no pode ser desconsiderada, de sorte

    que s se pode exonerar uma classe de servidores mediante o

    esgotamento da classe anterior. (S posso exonerar os estveis, depois

    de exonerados todos os no-estveis).

    Obs: Veja que no se trata de hiptese de demisso, que constitui

    penalidade por falta grave, mas sim de exonerao.

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    Obs.: Para evitar que tais regras sejam utilizadas com o objetivo de

    vingana pessoal e poltica do administrador, o cargo do servidor

    exonerado em razo da racionalizao fica extinto, s podendo ser

    recriado com funes idnticas ou assemelhadas quatro anos depois (na

    prxima legislatura).

    Obs.: s tem direito indenizao o servidor estvel.

    Quando se pensa em eficincia, h questo importante no que diz

    respeito ao servio pbico: a eficincia deve ser observada em dois

    momentos distintos, quanto aos meios e quanto aos resultados.

    A eficincia pressupe o equilbrio entre menores gastos (meios) com

    obteno de bons resultados (finalidade).Eficincia gastar o menor

    valor possvel e obter o melhor resultado possvel.

    O princpio da eficincia ainda no se tornou uma realidade. Estamos

    melhores do que antes, mas ainda h muito a melhorar. H autores que

    digam que o princpio no passou de um mero desabafo, utopia, sonho

    do constituinte de 1998.

    PRINCPIO DA ISONOMIA

    No est consagrado no caputdo artigo 37, mas com toda a certeza cuida-se

    de princpio aplicvel tambm ao direito administrativo. Isonomia significa tratar

    igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas

    desigualdades.

    A primeira tarefa na consecuo do princpio verificar o fator de

    excluso/discriminao (idade, altura, etc.). Depois verificar se o fator de excluso

    est compatvel com a vontade e objetivo da norma, sob pena de violao doprincpio da isonomia.

    Exemplos: 1) imagine-se um concurso para salva-vidas, que veda deficientes

    fsicos (fator de excluso). Estes com toda a certeza no conseguiriam exercer aquela

    funo. Aqui no h violao isonomia; 2) concurso para polcia civil, funo

    administrativa, que veda deficientes fsicos, viola o princpio; 3) concurso para polcia

    feminina, que tem por fator de excluso o sexo masculino. Ora, a finalidade

    justamente angariar policiais do sexo feminino, do que decorre a constitucionalidade

    da excluso operada. No h violao; 4) a excluso de pessoas com menos de 1.5m

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    de altura para concurso de delegado da polcia civil, viola o princpio da isonomia,

    pois a altura aqui no constitui fator de excluso legtimo, j que esta no implica

    necessariamente na possibilidade de o candidato desempenhar melhor ou pior suas

    funes; 5) concurso para gari exigia 5 dentes em cada arcada, superior e inferior,

    viola a isonomia.

    A jurisprudncia (STJ e do STF) enuncia trs condies para os requisitos de

    concurso:

    1) Previso na lei da carreira;

    2) Compatibilidade com as atribuies do cargo;

    3) Previso em edital do concurso.

    No fere a isonomia a exigncia de grau em direito e atividade jurdica para o

    candidato a defensor pblico.

    Segundo o STF (Smula 686), o exame psicotcnico admitido desde que

    haja parmetros/critrios objetivos, previso na lei da carreira, e direito a recurso

    (requisito includo pelo STJ).

    PRINCPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE

    A maioria dos administrativistas estuda os princpios em conjunto.

    Razoabilidade quer dizer coerncia, lgica, congruncia. O administrador

    deve agir de forma coerente, lgica, congruente, sempre de acordo com o

    parmetro do homem mdio. Ele no pode agir de modo despropositado,

    tresloucado.

    Para os administrativas, o princpio da proporcionalidade desdobramento

    da razoabilidade.

    Quanto proporcionalidade, a palavra-chave equilbrio; equilbrio entre os

    benefcios e prejuzos; entre atos e as medidas consequentes.

    O ato administrativo deve ser idneo ao resultado pretendido (adequao),

    tem que alcanar o objetivo impingindo o menor dano possvel ao administrado

    (menor gravame), propiciando pelo menos o equilbrio entre o nus e o bnus,

    benefcio e prejuzo (proporcionalidade em sentido estrito).

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    Os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade so implcitos na

    Constituio, mas expressos na Lei n 9.784/99 (Processo Administrativo). Alguns

    autores chegaram a afirmar que o princpio da razoabilidade se tornou expresso na

    CR/88 com a EC n45/04, a partir do art. 5, LXXVIII (consagra a razovel durao do

    processo), mas essa ideia no vingou. A posio que prevalece que continua

    implcito. Na verdade, aquele dispositivo constitucional trata do princpio da

    celeridade do processo.

    Seguem duas premissas:

    1) Com base neste princpio, qualquer ato administrativo pode ser revisto

    pelo Poder Judicirio para controle da legalidade em sentido amplo (Leis

    e CR/88), ou seja, pode haver reviso do ato para controle da

    razoabilidade e da proporcionalidade.

    2) O que o judicirio no pode fazer rever o mrito do ato administrativo, ou

    seja, a convenincia e a oportunidade, a discricionariedade do

    administrador (juzo de valor).

    Exemplo: numa determinada situao, a administrao s tem recursos para

    investir em uma coisa: uma escola ou um hospital. Escolhe fazer o hospital. Isso ojudicirio no pode discutir. Agora, utilizando o mesmo exemplo, estando a

    coletividade a necessitar da escola e do hospital, vem o administrador e decide fazer

    uma praa com o dinheiro. Essa deciso viola a razoabilidade e a proporcionalidade,

    princpios constitucionais (ainda que implcitos), e por isso, pode se sujeitar reviso

    judicial. Pois isso controle de legalidade.

    Ainda que tambm implique em anlise do mrito, de certa forma, deve se

    reconhecer que os princpios da razoabilidade e da proporcionalidade constituem

    limites da atividade administrativa, inclusive a discricionariedade/liberdade doadministrador.

    O controle de legalidade em sentido amplo acaba atingindo, por vias

    indiretas, o mrito do ato administrativo.

    CONTRADITRIO E AMPLA DEFESA (NO PROCESSO ADMINISTRATIVO)

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    No mbito administrativo, esses princpios foram consagrados na CR/88.

    algo novo, portanto. H grande ndice de nulidade nesse ponto. Sua observncia est

    prevista no artigo 5, inciso LV da Constituio Federal.

    O princpio do contraditrio consiste na cincia/conhecimento da parte

    acerca da existncia do processo, constituindo a bilateralidade da relao

    processual. No Estado Democrtico de Direito, ningum pode ser processado nem

    condenado sem o conhecimento do processo. Exige-se a participao da pessoa no

    processo do seu interesse.

    Esta participao, vez instaurada a bilateralidade, desgua no exerccio

    efetivo do direito de defesa, que no deve ser meramente formal, ou consistir

    apenas na concesso de prazos, mas deve sim ser ampla. preciso conceder

    ferramentas para que a parte se defenda.

    Por meio do princpio da ampla defesa, portanto, preciso dar parte a

    oportunidade de efetivo exerccio do direito de defesa. (Se esse direito ou no

    exercido por vontade da parte no interessa).

    So exigncias para a efetivao do princpio da ampla defesa:

    a) defesa prvia: para que a defesa seja prvia, so necessrios: a)

    procedimento pr-determinado, (pois do contrrio no se conhece as etapas

    seguintes a serem percorridas, o que dificulta o trao da estratgia de defesa, etc.),

    assim como; b) penalidades/sanes pr-estabelecidas, (ou seja, o processado deve

    conhecer, de antemo, as consequncias que podem decorrer do procedimento);

    c) acesso s informaes do processo pela parte (garantia de informao). O

    Estado deve garantir e viabilizar o direito s cpias (reproduo dos documentos),

    cujas despesas devem ser arcadas pelo interessado;

    d) direito produo de provas, e mais do que isso, direito valorao destas

    provas, sendo possvel a produo de todos os tipos de prova em direito admitidas,

    vedada a ilcita. No basta fazer prova para constar (para cumprir formalidade), o

    julgador deve avali-la e consider-la para formao do seu convencimento;

    e) defesa tcnica (presena do advogado no processo): a Lei n 8.112/90

    afirma que a defesa tcnica facultativa em sede de processo administrativo

    disciplinar. O STJ, no entanto, consolidou o entendimento de que esta se afigura

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    obrigatria, por entender que o advogado pode contribuir para a regularidade e

    ajudar muito no processo administrativo, por meio da Smula 343-STJ.

    Contudo, vrios servidores j haviam sido demitidos mediante processos

    administrativos sem a presena de advogado. Ento, chegou-se concluso de que o

    servidor teria direito de retornar com reintegrao (retornar para o cargo de origem

    com todas as vantagens). Feita as contas, percebeu-se que isso custaria muito caro

    ao Estado. A questo chega ao STF que, ao contrrio, edita a Smula Vinculante n 5,

    por meio da qual decide queem processo administrativo disciplinar facultativa a

    presena do advogado, a teor do disposto na Smula Vinculante n5 do STF. A

    Smula 343 est, portanto, superada.

    f) direito de recurso,independentemente de previso especfica, ou seja,

    ainda que no haja uma regulamentao administrativa a respeito. preciso garantir

    parte de levar a matria nova analise. ( comum editais de concurso vedarem

    recurso em determinadas etapas do certame, o que viola o direito de defesa). Para

    que seja efetivado este direito, h de ser demonstrada a motivao do recurso, pois

    sem ela no h como se garantir o manejo do recurso.

    A exigncia de depsito prvio como condio do exerccio do direito de

    recurso reputada inconstitucional. Isso porque atrelar o direito de recurso aodepsito prvio condicionar o recurso capacidade econmica/financeira da parte

    - Smula 373-STJ e Smula Vinculante n 21-STF.

    Sempre que algum puder ser prejudicado por uma tomada de deciso, deve

    ser chamado para participar. A jurisprudncia do STF j est consolidada nesse

    sentido.

    O STF entende ainda que nos processos perante o TCU devem ser

    assegurados o contraditrio e a ampla defesa quando a deciso puder resultar aanulao ou revogao de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada

    a apreciao da legalidade do ato de concesso inicial de aposentadoria, reforma e

    penso (Smula Vinculante n 3).

    Excetua-se, do mbito da Smula, o contraditrio e a ampla defesa na

    apreciao da legalidade dos atos de concesso inicial de aposentadoria, reforma e

    penso. Porque justifica-se a exceo? Porque nesses casos cuida-se de ato

    administrativo complexo (depende de duas manifestaes de vontade em rgos

    distintos), que depende da manifestao da administrao e do Tribunal de Contas.

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    A Smula quer apenas dizer que no haver contraditrio e ampla defesa perante o

    tribunal., mas no quer dizer que no sero garantidos. Logo se o ato ainda no se

    aperfeioou, no h que se falar em contraditrio e ampla defesa. Estes sero

    assegurados na administrao pblica. (Haver observncia do direito de recurso -

    portanto, contraditrio e ampla defesa - dentro da estrutura da administrao, pois

    foi l que o processo se iniciou).

    Temperando a vinculante n 3: Via de regra no mbito do TCU, no so

    garantidos o contraditrio e ampla defesa para os ato de concesso inicial de

    aposentadoria, reforma e penso. No entanto, interpretando aquele enunciando,

    em nome da segurana jurdica, entende-se que, se passados cinco anos e o TCU

    ainda no analisou a questo, decidindo, a smula vinculante no ser aplicada,

    devendo ser garantido o contraditrio e a ampla defesa.

    O servio pblico tem de ser prestado de forma interrupta, contnua.

    PRINCPIO DA CONTINUIDADE

    O princpio da continuidade determina que o servio pblico tem de ser

    prestado de forma interrupta, contnua.

    Indaga-se ento se o servidor pblico tem direito de greve.

    Direito de greve

    Preceitua o art. 37, VII da CR/88 que o servidor pblico tem direito de greve

    na forma da lei especfica.

    Essa lei a lei ordinria, que especfica, devendo cuidar somente deste

    assunto. (Ateno: at a EC n 19/98, a hiptese dependia de lei complementar). At

    hoje no h essa lei. Cuida-se de norma de eficcia limitada (STF).

    Teoricamente, o servidor no poderia exercer o direito de greve enquanto

    no editada a lei especfica. Logo, essas greves, durante muitos anos, foram

    reconhecidas como ilegais. Vrios mandados de injuno foram manejados perante

    o STF, que declarava a omisso e dava cincia ao Poder Legislativo para que editasse

    a lei. O CN, embora ciente da omisso, mantinha-se inerte. O ento Presidente Lula

    defendeu que esse direito deveria ser abolido. O STF ento muda o seu

    posicionamento no que toca ao mandado de injuno, definindo que pode ter

    efeitos concretos. Assim, reconheceu a legalidade da greve, sendo aplicvel, no que

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    couber, a lei do trabalhador comum (Lei n 7.783/89), enquanto no for aprovada a

    lei do servidor pblico (MI 670/708/712). No resolve o problema de plano, mas

    um paliativo.

    Via de regra, o MI produz efeito meramente declaratrio e efeitos inter

    partes. Mas para esses mandados de injuno, o STF reconhece a produo de

    efeitos concretos e erga omnes.

    Corte do servio

    Artigo 6, 3, da Lei n 8.987/95 (Lei de concesso e permisso de servio

    pblico).

    possvel cortar o servio pblico: a) em caso de emergncia (ex.: corte da

    energia eltrica em caso de chuvas); b) aps prvio aviso: i) quando motivada por

    razes de ordem tcnica ou segurana das instalaes; ii) por inadimplemento do

    usurio, considerado o interesse da coletividade.

    Mesmo em caso de servio essencial, possvel o corte do servio diante do

    inadimplemento do usurio.

    Uma corrente minoritria entende que o corte no possvel com

    fundamento nos artigos 22 e 42 do CDC. A corrente majoritria, por outro lado,

    defende que possvel, desde que mediante aviso prvio, em nome da supremacia

    do interesse pblico, do interesse da coletividade e da isonomia.

    Em nome da supremacia do interesse pblico, pode haver o corte, porque a

    prpria continuidade do servio ser comprometida se for obrigatria a sua

    manuteno quele que no paga.

    Em nome da isonomia, preciso tratar os desiguais de forma desigual. Logo o

    inadimplente no pode receber o mesmo tratamento do adimplente, pois isso

    tratar igualmente os desiguais.

    A jurisprudncia no entanto identifica excees.

    Se o usurio no pagador for o Estado pode haver o corte do servio, salvo

    excees (hospital pblico, logradouros pblicos).

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    PRESUNO DE LEGITIMIDADE

    O ato administrativo goza de presuno de legitimidade.

    Presuno de legitimidade leia-se ao mesmo tempo presuno de legalidade

    e presuno de veracidade. Os atos administrativos so presumidamente legtimos

    (obedincia a regras morais), legais (obedincia lei) e verdadeiros (correspondncia

    com a verdade).

    Cuida-se de presuno relativa (juris tantum), admitindo prova em contrrio.

    A consequncia prtica da presuno de legitimidade a aplicao imediata.

    O ato administrativo ser aplicado at ser tido ilegal.

    O nus da prova de quem alega. Via de regra, incumbe ao administrado.

    PRINCPIO DA AUTOTUTELA

    O princpio da autotutela determina que a administrao pblica pode rever

    os prprios atos, quanto convenincia e quanto legalidade. Estas possibilidades

    esto em duas Smulas do STF (346 e 473).

    Revisto o ato ilegal, haver a anulao. Revisto o ato inconveniente, haver a

    revogao.

    Maria Sylvia DI PIETRO alerta ainda que, alm da reviso dos atos, a

    autotutela encerra dever de cuidado e zelo com o patrimnio e interesses pblicos.

    Atentar para isso, j foi questo de concurso.

    PRINCPIO DA ESPECIALIDADE

    As pessoas jurdicas da administrao pblica, especialmente da indireta,

    esto vinculadas s finalidades para as quais foram criadas.

    Quando a administrao direta (entes polticos = Unio, Estados, Municpios

    e DF) cria por lei um ente da administrao indireta (autarquias, fundaes pblicas,

    empresas pblicas, sociedades de economia mista, dentre outras), define a

    finalidade especfica do ente criado. Assim, os entes da administrao indireta ficam

    presos e vinculados finalidade que lhe foi assinalada por lei.

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    O administrador no pode modificar tal finalidade. Se a finalidade definida

    por lei, apenas por lei pode ser modificada.

    O princpio nasceu visando regular a atuao da administrao indireta, mas

    hoje se reconhece que tambm aplicado para os rgos da administrao direta,

    vez que estes tambm possuem uma funo especfica.

    ORGANIZAO DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

    FORMAS DE PRESTAO DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

    O normal que o prprio Estado preste a atividade administrativa.

    Se o prprio ncleo ou centro da administrao direta (Unio, p.ex.) quem

    presta, temos a prestao centralizada da atividade administrativa (entes polticos:

    Unio, Estados, Municpios e DF).

    Na busca da eficincia e aperfeioamento do servio, evitando o

    agigantamento da mquina administrativa, o Estado retira uma parcela da prestao

    do servio do centro/ncleo e transfere a outras pessoas, configurando a chamadaprestao descentralizada da atividade administrativa. Essa transferncia pode se

    direcionar aos entes da administrao indireta e aos particulares. Aqui no h

    relao hierrquica (subordinao), pois o ente poltico no manda no prestador da

    atividade, mas h controle e fiscalizao.

    Quando um ente poltico distribui a competncia, deslocando a atividade,

    dentro de si prprio, com base na hierarquia, ou seja, dentro da mesma pessoa

    jurdica da administrao direta, temos a forma desconcentrada de prestao da

    atividade administrativa.

    No entanto, quando um centro, um ncleo da administrao direta transfere

    a atividade administrativa a outro ncleo (Unio => Estado), outro ente poltico,

    deslocando a realizao da atividade, temos hiptese de descentralizao poltica,

    que objeto do direito constitucional.

    DESCENTRALIZAO ADMINISTRATIVA DESCONCENTRAO ADMINISTRATIVA

    Nova pessoa (fsica ou jurdica). Mesma pessoa jurdica.

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    INTENSIVO I2015DIREITO ADMINISTRATIVO

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    Controle e fiscalizao (no h relao de

    hierarquia).

    Relao de hierarquia.

    Descentralizao Administrativa

    A descentralizao administrativa se d de duas formas, por outorga ou

    delegao.

    a) Outorga: significa a transferncia da titularidade mais a execuo dos

    servios. Por transferir a titularidade, que algo de grande relevo, pois

    torna o outorgado proprietrio/dono do servio, a outorga s pode ser

    realizada atravs de lei.

    Para a doutrina majoritria, considerando que a titularidade da atividade

    administrativa no pode sair das mos do poder pblico, a outorga s

    pode ser feita s pessoas da administrao indireta de direito pblico

    (autarquias, fundaes pblicas de direito pblico). (Para a posio

    minoritria, poderia ser para qualquer pessoa da administrao indireta).

    b)

    Delegao:transferncia somente da execuo do servio. Pode ser feita:i) por lei, para as pessoas da administrao indireta de direito privado

    (empresas pblicas e sociedades de economia mista); ii) por contrato

    administrativo, aos particulares (concesso e permisso); iii) por ato

    administrativo (a exemplo da autorizao). Por reter a titularidade

    perante o poder pblico, no h exigncia que se o faa por meio de lei

    (delegao legal).

    Delegao dos servios notariais: o servio notarial est previsto no artigo

    236 da CR/88. delegao de funo, que diferente da delegao queestamos estudando. O servio notarial, apesar de ser considerado servio

    pblico, quem presta o particular, que recebe a delegao por meio de

    concurso pblico. O titular do cartrio desenvolve a atividade como

    particular. chamado de particular em colaborao. classificado

    como agente pblico, na qualidade de particular em colaborao. A CR/88

    imps a privatizao mediante concurso pblico. Alguns estados o

    fizeram e outros no. O CNJ est em cima.

    Relao entre Estado e agente

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    O Estado pessoa jurdica que, como fico legal, no tem como, sozinho,

    manifestar sua vontade. Depende, pois, da pessoa fsica para exteriorizar essa

    vontade. Logo, preciso entender como se constitui essa relao jurdica entre a

    pessoa jurdica (Estado) e a pessoa fsica que o representa (agente).

    Como se formaliza a relao entre o Estado (pessoa jurdica) e agente (pessoa

    fsica)?

    Para explicar essa relao, vrias teorias foram constitudas ao longo dos

    anos. So trs:

    1) Teoria do Mandato: o estado e os seus agentes celebram contrato de

    mandato (assim como no contrato entre cliente e advogado). Mas no h

    como o Estado celebrar esse contrato sem o prprio agente. Ele no tem

    como manifestar sozinho a prpria vontade. Algum tem que assinar em

    seu lugar. A teoria fica ento superada. Na sequncia, outra teoria foi

    construda.

    2) Teoria da Representao: o Estado, assim como na tutela e na curatela,

    ser tratado como incapaz, e como tal, necessitar de numrepresentante. H uma relao de incapacidade e o incapaz necessita de

    um representante. Mas no Brasil o Estado no tratado como sujeito

    incapaz. O Estado responde pelos seus agentes, o que significa dizer que

    sujeito capaz. Logo, aquela condio de incapacidade no se realiza. O

    Estado no precisa de representao. A teoria tambm fica superada.

    3) Teoria da Imputao ou Teoria do rgo: o agente atua como se Estado

    fosse. A vontade do agente se confunde com a vontade do Estado, (a

    vontade do agente a vontade do Estado e a vontade do Estado avontade do agente). Esse poder decorre de imputao (previso) legal. O

    agente ento manifesta a vontade do Estado por imputao legal. A lei

    deve ento estabelecer as atribuies/competncias do agente para

    atuar em nome do Estado. A pessoa jurdica responde pelos atos de seus

    agentes, em razo justamente da imputao legal, por meio da qual o

    agente age fazendo as vezes do Estado. Essa orientao prevalece no STF.

    Essas pessoas jurdicas tem uma organizao administrativa. A estrutura

    administrativa se organiza por meio de rgos pblicos.

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    rgos pblicos

    A estrutura interna da pessoa jurdica do Estado se divide em rgos

    pblicos, cada qual com a sua especialidade, em busca da eficincia.

    rgo pblico um centro/ncleo especializado de competncia. A ideia

    atender a eficincia. Tanto as pessoas da administrao direta quanto da

    administrao indireta subdividem-se em rgos pblicos - artigo 1 da Lei n

    9.784/99.

    Caractersticas:

    a) No tem personalidade jurdica, ou seja, no tem aptido para ser sujeito

    de direito e obrigaes. A responsabilidade por seus atos da pessoa

    jurdica a que o rgo pblico pertence.

    rgo pblico no celebra contrato, tendo em vista que no pode ser

    sujeito de obrigao. A parte no contrato ser a pessoa jurdica a que

    pertence o rgo. Este somente cuida da execuo do contrato, o

    gestor. Normalmente, quem assina o chefe do executivo. Mas

    possvel, por lei, delegar a celebrao (assinatura) dos contratos ao chefedo rgo pblico. A parte do contato continua sendo a pessoa jurdica.

    O artigo 37, 8 (EC n 19/98) prev o contrato de gesto, que pode ser

    celebrado entre entes da administrao; rgos pblicos e

    administradores. Esse dispositivo legal muito criticado pela doutrina.

    Primeiro, porque rgo pblico no celebra, no poder ser parte no

    contrato. Segundo, porque contrato entre administradores no

    contrato administrativo, mas privado, entre dois particulares. Contrato

    administrativo exige a presena do Estado. A doutrina defende que essaregra inconstitucional, mas no houve declarao nesse sentido.

    Apesar de no ter personalidade jurdica, o rgo pblico possui CNPJ

    (Cadastro Nacional da Pessoa Jurdica), pois possui recurso oramentrio

    (isso com o objetivo de fiscalizar e controlar o fluxo do dinheiro).

    b) Pode ir a juzo, excepcionalmente. Em que se pese o fato de no ter

    personalidade jurdica, pode ir a juzo em algumas situaes. Em regra,

    no pode. Conforme construo jurisprudencial, o rgo pblico por ir a

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    juzo em busca de prerrogativas funcionais (naquilo que diz respeito

    diretamente ao exerccio de sua funo) e normalmente enquanto

    sujeito ativo.

    O rgo pblico pode ter representao prpria em juzo, depende da

    organizao da administrao (da estrutura de cada ente). Depende de

    previso da lei que o cria.

    Classificao

    a) Quanto posio estatal. O rgo pode ser:

    Independente: aquele que goza de independncia, no sofrendo

    qualquer relao de subordinao. Existe controle e fiscalizao, mas no

    subordinao e hierarquia. Exemplos: so os comandos de cada um dos

    poderes. Presidncia da Repblica, Governadorias de estado e Prefeituras

    (Poder Executivo). Congresso Nacional; Assembleias Legislativas e

    Cmaras Municipais (Poder Legislativo). Tribunais e juzes monocrticos

    (Poder Judicirio).

    Autnomos: aquele que goza de autonomia, mas sofre subordinaoem relao aos independentes. Amplo grau de liberdade, mas h relao

    de hierarquia com os rgos independentes. Exemplos: ministrios,

    secretarias estaduais e municipais.

    No que toca organizao administrativa, Ministrio Pblico e Tribunal

    de Contas classificam-se como rgos autnomos. Mas h muita

    divergncia a respeito.

    Superiores: tem poder de deciso, mas no goza de independncia nemde autonomia. Esto subordinados aos rgos anteriores. Exemplos:

    gabinetes e procuradorias.

    Subalternos: aquele que no tem poder de deciso. So chamados

    rgos de mera execuo. Exemplos: zeladorias (cuida do patrimnio

    pblico); almoxarifado e as cesses administrativas.

    b) Quanto estrutura. O rgo pblico pode ser:

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    Simples: aquele que no tem outros rgos agregados sua estrutura.

    Existe s, sem ramificao, subdivises. Exemplos: gabinetes.

    Composto: aquele que possui ramificaes/subdivises/desdobramentos.

    Ex.: postos de sade e hospitais frente Secretaria de Sade. Escolas e

    delegacias de ensino.

    c) Quanto atuao funcional. O rgo pode ser:

    Singular/Unipessoal: aquele em que a tomada de deciso feita por

    um nico servidor. Ex.: presidncia, prefeitura, juiz monocrtico.

    Colegiado: aquele em que a tomada de deciso coletiva. Composto

    por vrios agentes. Ex.: tribunais e casas legislativas.

    Administrao pblica indireta:

    So pessoas jurdicas da administrao indireta: autarquias, fundaes,

    empresas pblicas e sociedades de economia mista. (Agncias reguladoras,

    Conselhos de Classe, Agncias Executivas, Consrcios Pblicos so espcies de

    autarquias).

    Caractersticas gerais

    So aplicveis a todas as pessoas que compem a administrao indireta.

    a) Personalidade jurdica prpria. Pode ser sujeito de direitos e de

    obrigaes, do que decorrem alguns desdobramentos:

    Quanto responsabilidade, as pessoas da administrao indiretarespondem pelos seus atos;

    Possui receita e patrimnios prprios (no interessa a origem dos

    recursos);

    Goza de autonomia administrativa, tcnica e financeira. Perceba que elas

    no gozam de capacidade poltica ( o poder de legislar).

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    b) Criao e extino da pessoa jurdica mediante lei.Artigo 37, XIX, da

    CR/88. Em alguns momentos, a prpria lei cria e em outros autoriza a sua

    criao. Lei ordinria especificacria e autoriza a criao da pessoa da

    administrao indireta. Isso significa dizer que essa lei no pode tratar de

    vrios temas e cada pessoa jurdica ter a sua lei.

    O artigo 37, XIX preceitua que lei ordinria especfica: i) cria a autarquia e

    ii) autoriza a criao de empresa pblica; fundao e sociedade de

    economia mista. Quando a CR/88 determina que a criao cabe lei,

    bastar uma lei que a autarquia j estar pronta, j existia no mundo

    jurdico. Quando a lei autoriza a criao, para que a pessoa jurdica exista

    efetivamente, ser necessrio o registro. O registro depender da

    natureza da pessoa jurdica. Se a natureza for empresarial, o registro ser

    na Junta Comercial; se civil, o registro ser no Cartrio de Registro de

    Pessoas Jurdicas.

    Por paralelismo de formas, se a criao da autarquia cabe lei, somente

    lei cabe sua extino. Se a lei autoriza a criao de fundao; sociedade

    de economia mista e empresa pblica, tambm autorizar a sua extino.

    Lei complementar definir as possveis finalidades da fundao. leicomplementar cabe somente definir as finalidades, pois a lei ordinria

    especifica que autorizar a sua criao. So, portanto, necessrias duas

    leis distintas para a fundao.

    Para entender esse dispositivo, passaremos ao estudo das fundaes.

    FUNDAO: o destacamento de um patrimnio que se personifica para uma

    finalidade especfica (ideal). Cuida-se de patrimnio personalizado

    (Universitasbonourum).

    De acordo com o seu instituidor, a fundao divide-se em duas categorias:

    Fundao privada: aquela constituda por um particular. (Est fora da

    administrao pblica. O Estudo cabe ao direito civil);

    Fundao pblica: se o fundador foi o poder pblico. Objeto de estudo do direito

    administrativo.

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    No que toca fundao pblica, quando o poder pblico a institui, pode optar por

    dois regimes diferentes (STF):

    Fundao pblica de direito pblico. Nada mais do que uma espcie de autarquia.

    Denomina-se ento de AUTARQUIA FUNDACIONAL. Segue as mesmas regras de uma

    autarquia. Logo, sendo espcie de autarquia, a lei cria (e no autoriza a criao). O

    que for dito a respeito de autarquia tambm se aplica a fundao pblica de direito

    pblico.

    Fundao pblica de direito privado (est em segundo plano). Chamada de

    FUNDAO GOVERNAMENTAL. Segue o mesmo regime da empresa pblica e da

    sociedade de economia mista. Logo, lei autoriza a criao. O que for dito a respeito

    de empresa pblica e sociedade de economia mista tambm se aplica fundao

    pblica de direito privado.

    Posio minoritria:

    Helly Lopes Meireles: toda fundao pblica deve ser de direito privado. Celso

    Antnio Bandeira de Melo: toda fundao pblica deve ser de direito pblico.

    Finalidade no lucrativa. As pessoas jurdicas da administrao indireta no tem finslucrativos. Significa no ser criada para o lucro. O objetivo no o lucro, mas pode

    ocorrer.

    Autarquia e fundao tem como finalidade a prestao de servios pblicos.

    Empresa pblica e sociedade de economia mista podem ter dois fins: prestao de

    servios pblicos e exerccio de atividade econmica. Neste ltimo caso, tambm a

    finalidade no lucrativa. O artigo 173, da CR/88 preceitua que o Estado no

    interfere na atividade econmica, salvo quando imprescindvel ao interesse coletivoe fundamental segurana nacional.

    Finalidade especfica. As pessoas da administrao indireta esto vinculadas sua

    finalidade, finalidade esta definida na lei de criao. Concretizao do princpio da

    especialidade.

    Sujeio a controle. No h relao de subordinao/hierarquia, o que existe

    controle e fiscalizao. Ex.: No mbito do Poder Legislativo, o controle pode se dar

    atravs do Tribunal de Contas e de CPIs. No mbito do Poder Judicirio, o controle se

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    realiza atravs de aes judiciais. O Poder Executivo, por outro lado, realiza a

    chamada superviso ministerial. Esta feita pelo ministrio de acordo com o ramo

    de atividade, controlando receitas, despesas, cumprimento da finalidade, e

    nomeando os seus dirigentes. Normalmente, os dirigentes da indireta so nomeados

    pela direta, livremente feita pelo chefe do executivo. Excepcionalmente, depender

    de aprovao do Congresso Nacional.

    AUTARQUIAS

    Cuida-se de pessoa jurdica de direito pblico, que tem como finalidade

    prestao de servio pblico, desenvolvendo atividade tpica de Estado.

    Regime jurdico

    Por ser pessoa jurdica de direito pblico, o seu regime jurdico muito

    semelhante ao da administrao direta.

    Os atos praticados pela autarquia so atos administrativos , gozando,

    portanto de presuno de legitimidade, imperatividade, auto-executoriedade. O

    regime prprio dos atos administrativos.

    Seus contratos tambm so contratos administrativos, e seguem o regime

    administrativo, de forma que esto sujeitas licitao e lei n 8.666/93, com

    previso de clusulas exorbitantes (artigo 58).

    Responsabilidade civil

    A autarquia tem regime mais rigoroso e exigente de responsabilidade civil,

    pois est sujeita regra disposta no artigo 37, 6 da CR/88, que dispe sobre a

    responsabilidade civil do Estado. Assim, como pessoa jurdica de direito pblico,responde a autarquia pelos atos praticados por seus agentes no exerccio da funo.

    A responsabilidade civil da autarquia em regra, objetiva, nos termos do

    artigo 37, 6, da Constituio Federal. Excepcionalmente, aplica-se a teoria da

    responsabilidade subjetiva (em caso de omisso).

    Ao descentralizar o servio pblico, o Estado no se exime de sua

    responsabilidade. Desta forma, se a autarquia no possui patrimnio suficiente para

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    arcar com o ressarcimento, continua o Estado sendo responsvel pelo dano, porm

    de forma subsidiria.

    Aplica-se ento, quanto ao Estado, a responsabilidade subsidiria. (Existe

    uma ordem. Primeiro busca-se responsabilizar a autarquia e apenas se esta no tiver

    patrimnio suficiente, responsabiliza-se o Estado secundariamente).

    Assim, deve ser acionada primeiro a autarquia, depois o Estado. Ateno!

    Subsidiria no quer significar subjetiva. De qualquer forma, responde um ou outro

    na modalidade objetiva da responsabilidade porque, caso a subsidiria fosse

    tambm subjetiva, deveria a vtima comprovar culpa ou dolo do Estado. Mesmo

    porque um tipo de responsabilidade exclui a outra: ou ser objetiva ou subjetiva.

    No que toca culpa, a responsabilidade pode ser objetiva ou subjetiva. Em

    contrapartida, no que toca ordem, a responsabilidade pode ser solidria ou

    subsidiria.

    a) Bens autrquicos

    Se os bens so pertencentes pessoa jurdica de direito pblico, so

    considerados bens pblicos, seguindo as regras que lhes so prprias artigo 98 doCC.

    Caractersticas:

    So em regra inalienveis, (significa que no possvel alienar de

    qualquer forma). Essa inalienabilidade no absoluta. Quer dizer que

    so alienveis de forma relativa, isto , em algumas condies

    possvel alienar. So chamados, portanto, de inalienveis de forma

    relativa ou alienveis de forma condicionada. Essas condies estoenumeradas no artigo 17 da Lei n 8.666/93, como a desafetao, a

    autorizao legislativa e a licitao.

    So ainda impenhorveis, significa que no pode ser objeto de

    penhora, arresto nem de sequestro. Penhora ato de constrio

    judicial realizado em sede de ao de execuo, servindo como

    garantia do juzo, para garantir o pagamento da dvida. Assim, a

    consequncia da penhora a alienao para pagamento do credor.

    Arresto (bens indeterminados) e sequestro (bens determinados) so

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    cautelares tpicas, que visam garantir a futura penhora. Mas no faz

    sentido realizao de arresto ou sequestro se no ser

    posteriormente possvel a penhora.

    Tambm so insuscetveis de onerao (direito real de garantia).

    Assim, no podem ser objeto de penhor, hipoteca e anticrese.

    Enquanto a penhora se d em juzo, penhor e hipoteca se do

    extrajudicialmente. Penhor direito real de garantia sobre bens

    mveis; hipoteca sobre bens imveis. Anticrese direito real de

    garantia em que o credor explora o patrimnio do devedor e com o

    produto da explorao salda o dbito.

    Por fim, so imprescritveis. No podem ser objeto de prescrio

    aquisitiva. Assim, no so suscetveis de usucapio, nos termos do

    artigo 102 do Cdigo Civil.

    Assim, os dbitos judiciais da autarquia so pagos atravs do regime de

    precatrios, previsto no artigo 100 da CR/88 e que nada mais que uma fila

    organizada por ordem cronolgica para pagamento dos dbitos da Fazenda Pblica.

    Cada autarquia tem fila prpria para pagamento. (Cada pessoa jurdica tem a sua

    prpria fila).

    Nos termos da Constituio (artigo 100, 5), os precatrios constitudos at

    1 de julho de um determinado ano devem ser pagos at o fim do exerccio

    financeiro seguinte.

    b) Prescrio contra autarquias

    Autarquia pessoa jurdica de direito pblico, de forma que a regra geral da

    prescrio de cinco anos, nos termos do Decreto 20.910/32. A prescrio quinquenal.

    Quanto matria reparao civilh divergncia doutrinria sobre tal prazo.

    A posio predominante na jurisprudncia do prazo prescricional de 5 anos (STF e

    STJ).

    c) Procedimentos financeiros

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    As autarquias esto sujeitas contabilidade pblica, nos termos da Lei n

    4.320/64, bem como Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n

    101/2000).

    (obs.: ler a Lei Complementar n 101/2000 se o concurso for para Tribunal de Contas

    ou AGU).

    d) Regime processual

    A autarquia, sendo pessoa jurdica de direito pblico, recebe tratamento de

    Fazenda Pblica no processo. Assim, goza das prerrogativas processuais dadas

    Fazenda Pblica. Tem prazo processual dilatado e direito a reexame necessrio.

    O artigo 188 do CPC prev o prazo em qudruplo na contestao e em dobro

    no recurso.

    Em havendo condenao da pessoa jurdica de direito pblico (o que inclui as

    autarquias), independentemente de recurso voluntrio, o processo ser levado ao

    Tribunal para confirmao da sentena.

    A ausncia de reexame necessrio impede o trnsito em julgado da sentena.

    O reexame necessrio no regra absoluta, no ocorrendo em duas

    hipteses excepcionais: i) se a condenao for at 60 (sessenta) salrios mnimos; ii)

    se a matria j foi analisada pelo Pleno do Tribunal.

    e) Regime tributrio

    O artigo 150, VI, a, da CR/88 estatui a chamada imunidade recproca. Significa

    que um ente no pode instituir imposto para outro ente.

    A imunidade somente para impostos, sendo possvel a instituio de taxas e

    contribuies entre os entes polticos.

    O pargrafo 2 do artigo 105 dispe que a imunidade recproca extensvel

    s autarquias, mas somente no que toca sua finalidade especfica, isto , no paga

    impostos com relao aos servios, patrimnio e renda vinculados sua atividade

    especfica (princpio da especialidade).

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    Logo, a assertiva de que a autarquia jamais pagar imposto falsa. A

    autarquia paga imposto (no que no se refere sua finalidade especfica), taxa e

    contribuio.

    f) Regime de pessoal

    Se a autarquia pessoa jurdica de direito pblico, o trabalhador dela

    servidor pblico, de forma que est sujeito a Regime Jurdico nico. Ou seja, ou

    sero todos celetistas ou todos estatutrios.

    Exemplos de autarquia: INSS; INCRA; universidades federais.

    Autarquias territoriais

    Nada mais so do que os nossos territrios.

    A Constituio no incluiu os territrios entre os entes polticos da

    administrao direta. Nada obstante, necessitava-se que se lhe atribusse a

    personalidade jurdica de direito pblico. Assim conferiu-se ao territrio a qualidade

    jurdica de autarquia.

    Apesar de o territrio ter natureza de autarquia, no tem nada a ver comesta, pois autarquia entidade administrativa prestadora de servio pblico.

    Conselhos de classe

    Conselhos de classe surgiram no Brasil com natureza de autarquia, recebendo

    o nome de conselhos profissionais, tendo, portanto, natureza jurdica de direito

    pblico.

    Em 1998, a Lei n 9.649/98 conferiu ao conselho de classe natureza jurdicade direito privado (ganharam personalidade jurdica de direito privado).

    O Conselho de Classe tem natureza de autarquia, isto , personalidade

    jurdica de direito pblico (STF).

    Cada Conselho possui sua lei especfica disciplinadora.

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    A anuidade do Conselho tem natureza tributria, tratando-se de contribuio

    (excetuar a OAB). Se a contribuio no paga, ser exigida atravs de execuo

    fiscal.

    Assim sendo, sua contabilidade pblica, estando sujeita a fiscalizao e

    controle pelo Tribunal de Contas.

    A participao no quadro de pessoal do conselho de classe est sujeita a

    aprovao mediante concurso pblico.

    A OAB tem trajetria diferenciada.

    Por previso do Estatuto da OAB e de acordo com a jurisprudncia pacfica do

    STF e STF, a anuidade da Ordem no tem natureza tributria. Assim, no cabvel

    execuo fiscal, sendo a anuidade exigida mediante execuo comum. A

    contabilidade tambm no pblica. No tendo a anuidade natureza de tributo, a

    contabilidade no pblica, s podendo ser privada. Logo, no est sujeita ao

    controle pelo Tribunal de Contas.

    Nos termos do artigo 79 do EAOAB, o quadro de pessoal da Ordem

    celetista.

    O STF entendeu que a OAB no entidade da administrao indireta da

    Unio (no se sujeitando as regras da administrao pblica indireta), mas sim uma

    pessoa jurdica mpar, autnoma e independente, no estando sujeita a fiscalizao

    e controle. Assim, concluiu ser incabvel a exigncia de concurso pblico.

    Fato que para a OAB no h exigncia de aprovao mediante concurso

    pblico, mas continua gozando dos privilgios de pessoa pblica (no tem

    obrigaes de pessoa jurdica de direito pblico, mas os privilgios tem).

    Autarquias de Regime Especial (Agncias Reguladoras)

    autarquia com regras prprias e tratamento diferenciado em algumas

    situaes.

    O termo foi utilizado inicialmente para designar as universidades pblicas,

    que tinham como regime especial as seguintes regras: i) a escolha dos dirigentes via

    eleio (e no por nomeao pelo chefe do Executivo, como normalmente acontece

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    em entidade da administrao indireta); ii) autonomia no que diz respeito

    definio da grade curricular (liberdade pedaggica).

    Outro grupo de autarquia que tambm recebe tratamento especial so as

    chamadasagncias reguladoras.

    Assim, as agncias reguladoras nada mais so do que autarquias de regime

    especial. A elas se aplica tudo o que foi dito acerca das autarquias, com algumas

    peculiaridades, justificando o termo regime especial.

    A partir de 1995, o governo brasileiro decidiu que precisava enxugar a

    mquina administrativa, na busca da eficincia. As solues encontradas foram:

    privatizao e desestatizao (mediante a concesso do servio pblico), recebendo

    esta ltima o nome de Poltica Nacional de Desestatizao.

    Em havendo desestatizao de diversos servios pblicos, surge a

    necessidade de fiscalizao e controle dessas atividades. Como instrumento de

    controle so ento criadas as agncias reguladoras.

    Logo, as agncias reguladoras so consequncia da poltica nacional de

    desestatizao ocorrida a partir de 1995, com a finalidade de controle, normatizao

    e regulao dos servios desestatizados.

    A novidade apenas no que toca ao nome e criao da pessoa jurdica

    (autarquia), para o desempenho de tal funo, pois a atividade de controle no

    nova (o Estado j a fazia pessoalmente). A denominao foi reproduzida do direito

    norte-americano, com a ideia de dar credibilidade.

    O que define a especialidade do regime aplicvel s agncias reguladoras:

    a)

    funo: possuem funo de normatizao/regulao, controle efiscalizao de diversas atividades. Quanto funo de normatizar,

    vale dizer que se faz de forma complementar previso legal, ou seja,

    defini normas tcnicas complementares lei. Assim, as agncias

    reguladoras necessitam de mais autonomia e liberdade para o

    desempenho de sua funo do que as autarquias de regime ordinrio.

    Ateno! Agncia reguladora no tem poder de legislar, apenas

    complementa o que j est previsto em lei!

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    b) Nomeao e investidura especial dos dirigentes: depende de prvia

    aprovao pelo Senado Federal, para posterior nomeao pelo chefe

    do executivo. O presidente da Repblica no o faz livremente.

    c) com a nomeao presidencial especial, seus dirigentes assumem

    mandato com prazo fixo e determinado, prazo este fixado de acordo

    com a lei especfica de cada agncia.

    Como o mandato de prazo fixo, o dirigente no sai livremente antes

    do fim do mandato. Para retir-los do cargo antes do prazo, s com

    condenao em processo judicial/administrativo ou renncia.

    Encerrado o mandato, h um prazo de quarentena (via de regra, so 4

    meses, excepcionalmente, podem ser 12 meses), no podendo o

    dirigente, na iniciativa privada, assumir nenhum cargo no mesmo

    ramo de atividade, perodo dentro do qual continua recebendo o

    salrio de diretor. (Se for outro ramo de atividade no precisa

    observar a quarentena).

    O regime jurdico das agncias reguladoras, em regra, o mesmo das

    autarquias, aplicveis as mesmas regras. Mas duas regras especiais merecemateno, no que diz respeito licitao e ao pessoal.

    Licitao das agncias reguladoras

    A princpio, tem-se que agncia reguladora autarquia, e como tal, est

    sujeita licitao.

    A Lei n 9.472/97 instituiu a ANATEL, disciplinando ainda que agncia

    reguladora tem procedimento prprio de licitao. Consignou-se entoque as agncias reguladoras no se sujeitariam Lei n 8.666/93, mas sim

    a procedimento prprio (cada agncia teria o seu), seguindo como

    modalidade licitatria o prego e a consulta.

    Hoje o prego no mais modalidade especfica das agncias

    reguladoras. Foi inserido como modalidade licitatria especfica das

    agncias a partir de 1997, com a Lei n 9.472. A partir de 2000, passou a

    ser utilizada tambm pela Unio. E desde 2002 passou a ser utilizada por

    todos os entes polticos.

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    Logo, atualmente, a nica modalidade especfica licitatria das agncias

    reguladoras a consulta, que ainda depende de norma regulamentadora.

    Pessoal

    A Lei n 9.986/00 chamada norma geral das agncias reguladoras.

    Disciplina o regime de pessoal das agncias reguladoras, estatuindo que

    seu pessoal seria regido por emprego pblico, e as leis especficas das

    agncias acrescentaram ainda que tal seria mediante contrato temporrio

    por regime celetista.

    Exemplos de agncias reguladoras:

    Controle e fiscalizao de servios pblicos:

    ANEEL (Agncia nacional de energia eltrica);

    ANATEL (Agncia nacional de telecomunicaes);

    ANS (Agncia nacional de sade);

    ANVISA (Agncia nacional de vigilncia sanitria);

    ANTT (Agncia nacional de transportes terrestres);

    ANTAC (Agncia nacional de transportes aquavirios); ANAC (Agncia nacional de aviao civil).

    Fiscalizao do monoplio do petrleo: ANP (Agncia nacional de petrleo).

    Fiscalizao de bem pblico: ANA (Agncia nacional de guas);

    Fomento: ANCINE (Agncia nacional de cinema). Foi criada por Medida

    Provisria, que, no entanto, ainda no foi convertida em lei.

    Impropriedades:

    Nem tudo que tem nome de agncia agencia reguladora. Por exemplo, a

    ABIN (Agncia brasileira de inteligncia), no agncia reguladora, tem natureza de

    rgo da administrao direta. O mesmo ocorre com a AEB (Agncia espacial

    brasileira), que tem natureza de simples autarquia. Em sentido oposto, a CVM

    (Comisso de valores mobilirios) que, apesar de no ter nome de agncia, tem

    natureza de agncia reguladora.

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    Para identificar se se trata ou no de agncia reguladora, preciso verificar a

    lei criadora.

    AGNCIAS EXECUTIVAS (LEI N 9.649/98)

    H na estrutura da administrao pblica inmeras autarquias e fundaes

    ineficientes, sucateadas, que no cumprem satisfatoriamente a misso que lhe

    incumbida.

    Assim foi criada a chamada agncia executiva pela Lei n 9.649/98.

    Agncia executiva nada mais do que uma velha autarquia ou fundao

    pblica, que est ineficiente. Assim, tem o propsito de se tornar eficiente,

    aperfeioando e melhorando seus servios. um status temporrio (somente

    enquanto vigente o contrato de gesto).

    A autarquia ento vai at o ente de administrao direta, apresentando um

    plano estratgico de reestruturao, celebra com esta um contrato de gesto, a

    partir gozar de mais autonomia, liberdade e recursos pblicos. (Para que tal seja

    cumprido, ela demanda mais autonomia e recursos pblicos). Encerrado o contrato

    de gesto, termina a figura da agncia executiva, voltando ao status deautarquia/fundao pblica.

    No entanto, a agncia executiva est prometendo o que j tinha obrigao de

    ser. Isto , ele est se comprometendo a ser eficiente desde que receba mais

    liberdade e autonomia, sendo que a eficincia j sua obrigao. Ampliar a

    liberdade e autonomia dessas entidades premiar a ineficincia, a incompetncia.

    Ademais, a lei criadora j conferiu a liberdade e autonomia necessrias ao

    atendimento da eficincia, razo pela qual desnecessria sua ampliao. Da que a

    figura das agncias executivas recebem muitas crticas da doutrina.

    EMPRESAS PBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA

    Empresa estatal ser aquela empresa que o Estado participa ou dono. Pode

    ser empresa pblica ou sociedade de economia mista se seguir o regime especfico.

    Mas poder no ser nenhuma das duas. Logo, nem toda empresa estatal empresa

    pblica ou sociedade de economia mista; para tal deve ser seguir regime prprio.

    Empresa pblica

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    Ao contrrio do que o nome sugere, cuida-se de pessoa jurdica de direito

    privado, que segue regime jurdico misto/hbrido, e que tem o capital

    exclusivamente pblico.

    O capital, no entanto, no ser necessariamente de um nico ente. Desde

    que exclusivamente pblico, o capital pode ser de mais de um ente (Estado e

    Municpio, p.ex.). Nessa circunstncia, ou seja, se o capital exclusivamente pblico,

    seu regime tambm no ser absolutamente privado.

    A empresa pblica pode ter duas finalidades: a) prestao de servio pblico;

    b) explorao de atividade econmica.

    Pode ainda a empresa pblica se revestir de qualquer modalidade de

    constituio empresarial, inclusive annima (obviamente de capital fechado). No h

    exigncia quanto modalidade empresarial.

    Sociedade de economia mista(o nome diz respeito ao capital).

    Sociedade de economia mista pessoa jurdica de direito privado que segue

    regime jurdico hbrido e que tem capital misto, parte pblico e parte privado.

    O capital misto, mas sempre com a maior parte do capital votante nas mos

    do poder pblico, Quer dizer que o poder pblico deve ter o comando ou a direo

    da empresa.

    A sociedade de economia mista tambm pode ter as mesmas duas

    finalidades: a) prestar servio pblico; e b) explorar atividade econmica. No

    entanto, s pode se revestir da constituio empresarial de sociedade annima.

    (Toda sociedade de economia mista ser sociedade annima).

    Diferenas entre empresa pblica x sociedade de economia mista

    J foram vistas algumas diferenas.

    Quanto ao capital, a empresa pblica tem capital exclusivamente pblico; j

    a sociedade de economia mista tem capital misto.

  • 7/23/2019 Direito Administrativo - I (1)

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    Quanto constituio, a empresa pblica pode ter qualquer modalidade

    empresarial; enquanto a sociedade de economia mista s pode constituir sob

    a forma de S/A.

    A terceira diferencia diz respeito competnciaparajulgamento das aes

    destas empresas, que decorre do artigo 109 da Constituio, o qual define a

    competncia da justia federal. As empresas pblicas federais tm seus

    processos julgados na justia federal. As sociedades de economia mista

    federal, por sua vez, eis que no elencadas na regra especial no artigo 109,

    CF, tero seus processos julgados perante a justia estadual, salvo se houver

    interesse da Unio no julgamento da causa, caso em que a competncia

    deslocada para a justia federal. Veja que tal diferena somente se aplica aos

    casos de empresas pblicas e sociedades de economia mista federais. Sendo

    estas estaduais ou municipais, a competncia sempre ser da justia comum

    estadual.

    Nessa ideia, vale conferir duas smulas importantes do STF: 512 e 556.

    Regime jurdico das empresas pblicas e das sociedades de economia mista

    Como visto, hbrido.

    A empresa pblica e a sociedade de economia mista podem ter duas

    finalidades distintas (prestadora de servio pblicos e exploradoras da atividade

    econmica), com regime jurdico hbrido.

    Se for prestador de servio pblico, haver predominncia do regime pblico

    (o regime ser mais pblico do que privado). Se tiver a funo de explorao de

    atividade econmica, haver predominncia do regime privado (o regime ser mais

    privado do que pblico).

    Essa atividade econmica deve ter fundamento no artigo 173 da Constituio

    Federal: segurana nacional e relevante interesse coletivo.

    Em regra, o Estado no intervir na atividade econmica, a no ser na forma

    de sociedade de economia mista ou de empresa pblica, nos casos em que for

    necessrio segurana nacional e ao rel