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DINÂMICAS RECENTES DO CAMPO BRASILEIRO: ATUALIZAÇÃO E APRIMORAMENTO DO ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA Eduardo Paulon Girardi Professor do Departamento de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente [email protected] Edson Sabatini Ribeiro Graduando do Curso de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente Iniciação científica [email protected] Lucas Pauli Graduando do Curso de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente Bolsista BAAEI – Iniciação Científica [email protected] Michele Cristina Martins Ramos Graduanda do Curso de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente Bolsista PIBIC –Unesp-Reitoria [email protected] INTRODUÇÃO Neste artigo apresentamos alguns resultados iniciais da atualização do Atlas da Questão Agrária Brasileira (AQAB), iniciada no final de 2013. O Atlas foi publicado exclusivamente on-line (www.fct.unesp.br/nera/atlas ) em 2008 e desde então teve mais de 73 mil acessos, sendo utilizado em vários trabalhos acadêmicos, livros didáticos, materiais governamentais e pelos movimentos socioterritoriais. O AQAB apresenta uma análise da questão agrária no Brasil e nele o mapa é utilizado como um importante instrumento na análise e no discurso geográfico. Os principais temas analisados no Atlas são: a) a configuração territorial, com ênfase na antropização dos meios naturais; b) as características socioeconômicas, com destaque aos indicadores de qualidade de vida, dinâmicas populacionais e mão-de-obra/ocupação da força de trabalho; c) a estrutura fundiária; d) a produção agropecuária, analisando as principais culturas, rebanhos e explorações florestais do país; e) a luta pela

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DINÂMICAS RECENTES DO CAMPO BRASILEIRO: ATUALIZAÇÃO E APRIMORAMENTO DO

ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA

Eduardo Paulon Girardi Professor do Departamento de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente

[email protected]

Edson Sabatini Ribeiro Graduando do Curso de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente

Iniciação científica [email protected]

Lucas Pauli

Graduando do Curso de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente Bolsista BAAEI – Iniciação Científica

[email protected]

Michele Cristina Martins Ramos Graduanda do Curso de Geografia da Unesp – Campus de P. Prudente

Bolsista PIBIC –Unesp-Reitoria [email protected]

INTRODUÇÃO

Neste artigo apresentamos alguns resultados iniciais da atualização do

Atlas da Questão Agrária Brasileira (AQAB), iniciada no final de 2013. O

Atlas foi publicado exclusivamente on-line (www.fct.unesp.br/nera/atlas) em

2008 e desde então teve mais de 73 mil acessos, sendo utilizado em vários

trabalhos acadêmicos, livros didáticos, materiais governamentais e pelos

movimentos socioterritoriais. O AQAB apresenta uma análise da questão

agrária no Brasil e nele o mapa é utilizado como um importante instrumento na

análise e no discurso geográfico. Os principais temas analisados no Atlas são:

a) a configuração territorial, com ênfase na antropização dos meios naturais;

b) as características socioeconômicas, com destaque aos indicadores de

qualidade de vida, dinâmicas populacionais e mão-de-obra/ocupação da força

de trabalho; c) a estrutura fundiária; d) a produção agropecuária, analisando

as principais culturas, rebanhos e explorações florestais do país; e) a luta pela

terra e sua conquista; f) a violência no campo, com o mapeamento dos dados

disponibilizados pela CPT.

A perspectiva teórica da qual partimos para a elaboração do AQAB tem

base nos estudos de geografia agrária a partir da geografia crítica brasileira. A

interpretação das dinâmicas do campo brasileiro são orientadas pelo paradigma

da questão agrária Fernandes (2005); Girardi (2008); Vinha (2011); Felicio

(2011), que busca averiguar as desigualdades e conflitos no campo.

Enfatizamos a desintegração do campesinato, a concentração de terra e poder, a

política de assentamentos rurais, as ações dos movimentos socioterritoriais e as

respostas violentas dos latifundiários. Na perspectiva da cartografia, tomamos

como referência a teoria crítica do mapa, que o interpreta como uma construção

social e que permite compreendê-lo como parte integrante do discurso

geográfico, podendo subsidiar nossos discursos para denúncia e mudança

social (GIRARDI, 2008; 2011).

Iniciamos a atualização do AQAB com o mapeamento de dados

recentes de todos os temas que já o compõem e as próximas etapas incluirão a

inserção de novos temas, em especial relacionados ao mapeamento da

agricultura camponesa. A metodologia consiste no levantamento de dados

nacionais agregados por municípios ou microrregiões de diversas fontes como

IBGE, INPE, IPEA, DATALUTA, CPT, MTE e INCRA. Os dados são

formatados e adequados para serem mapeados no programa de cartomática

Philcarto e, após mapeados, os mapas passam por um processo final de

diagramação no programa Adobe Illustrator e então são publicados no portal do

AQAB. São elaborados mapas de variação (representação estática) e também

mapas que exploram a dinâmica expressas nos dados, permitindo descobertas

através do processo de mapeamento. As análises são desenvolvidas com base

na exploração dos dados e revisão bibliográfica sobre os temas mapeados.

A atualização e aprimoramento do AQAB está permitindo análises da

dinâmica recente do campo brasileiro. Como neste artigo o espaço é restrito

apresentamos uma breve análise da evolução da agropecuária e a situação atual

da concentração da terra e da violência no campo. Com isso podemos

identificar a dinâmica recente da agropecuária no território e também a

permanência dos problemas no campo brasileiro, permitindo o levantamento de

algumas hipótese iniciais sobre esses temas. A atualização e aprimoramento do

Atlas da Questão Agrária Brasileira conta com o apoio do CNPq via Edital

Universal e da Pró-Reitoria de Extensão da Unesp com bolsa BAAE1.

DINÂMICA TERRITORIAL RECENTE DA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA

A agropecuária brasileira tem apresentado crescimento constante desde meados

da década de 1990, quando o incentivo do Estado via crédito agropecuário foi retomado

depois de ter chegado em 1996 ao menor valor desde 1969. Como pode ser verificado

em Delgado (2012), a dinâmica da agropecuária brasileira desde pelo menos a década

de 1960 está fortemente ligada os incentivos dados pelo Estado, principalmente em

forma de crédito. Neste sentido, desde 1995 o crédito agropecuário no Brasil tem

apresentado valores crescentes, saindo de 23,41 bilhões de reais em 1996 e atingindo

114,7 bilhões em 2012. Certo é que a maior parte de todo este recurso é destinado às

commodities agropecuárias (carne bovina, grãos e biocombustíveis) e beneficia a

agricultura capitalista em detrimento da agricultura camponesa.

Para analisar a evolução recente da agropecuária no Brasil tomamos como

referência o rebanho bovino e as lavouras temporárias 2 , que são os principais

responsáveis pela produção (quantidade, valor) e área ocupada no campo. Realizamos

dois recortes temporais de seis anos: 2000-2006 e 2006-2012. Enquanto no primeiro

período o rebanho bovino (ver gráfico 1) apresentou crescimento muito importante

(21,2%), no segundo período analisado este crescimento foi muito inferior, de apenas

2,6%, o que talvez possa ser explicado pela crise internacional e pela

estagnação/saturação do mercado interno nos últimos anos. Contudo, diferente do

rebanho bovino, a evolução da quantidade produzida de grãos (principal produção das

1 Valores atualizados para o ano de 2012. BNDES (2013). 2 Em 2012 as lavouras permanentes representavam apenas 8,9% da area de lavouras no Brasil.

lavouras temporárias) nos dois períodos foi praticamente igual: de 39,4% entre 2000 e

2006 e de 38,5% entre 2006 e 2012. A semelhança entre os dois períodos também

ocorre na produtividade das lavouras temporárias: entre 2000 e 2006 houve um

acréscimo médio de 15,6% e entre 2006 e 2012 um acréscimo de 14,6% na

produtividade.

Adicionalmente aos dados de quantidade produzida é necessário levar em

consideração a área ocupada pelas lavouras: entre 2000 e 2006 as lavouras temporárias

aumentaram a área em 23% e as lavouras permanentes em 4%; entre 2006 e 2012 a

evolução da área foi de 12,4% para as lavouras temporárias e de -4,6% para as lavouras

permanentes (ver gráfico 1). Comparando a evolução percentual da quantidade

produzida das lavouras temporárias (grãos) e área plantada das lavouras temporárias há

uma clara indicação de que a evolução tenha ocorrido principalmente pelo aumento da

produtividade, especialmente pelo fato de que grande parte dos 12,4% do aumento da

área plantada de lavouras temporárias é referente à cana-de-açúcar. As lavouras

permanentes perdem importância na agropecuária brasielira.

GRÁFICO 1 – Evolução da agropecuária no Brasil (área plantada e rebanho)

Entre a segunda metade da década de 1990 e a década de 2000 o crescimento da

produção agropecuária no Brasil ocorreu majoritariamente sobre as áreas da fronteira

agropecuária no Centro-Oeste e na Amazônia meridional, definidas via apropriação

privada das terras durante o regime militar. A ocupação dessas novas terras para o

aumento da produção foi o principal processo verificado. Contudo, no final da década

de 2000 várias medidas foram tomadas para o fechamento da fronteira agropecuária,

limitando a incorporação de novas terras à agropecuária via desflorestamento, de forma

os dados sugerem que a evolução recente (a partir de 2006) tem se dado principalmente

via aumento da produtividade das terras e do deslocamento da pecuária pela agricultura.

Se o aumento do rebanho bovino geral no Brasil foi pequeno (2,6%) entre 2006

e 2012, a dinâmica territorial do rebanho não se demonstrou tão estática, com regiões de

significativo aumento e outras com significativo decréscimo, indicando claramente o

deslocamento da pecuária para dar lugar às lavouras. A comparação entre os mapas 1 e

2 permite compreender bem este processo. A fronteira agropecuária da Amazônia ainda

é a principal região de aumento do rebanho bovino, mas regiões do Maranhão e oeste de

Minas Gerais também apresentaram fortes crescimentos. Com exceção do limite com o

estado de São Paulo, Minas Gerais apresenta crescimento significativo do rebanho

bovino, assim como o sul de Mato Grosso e o oeste da região Sul do país.

MAPA 1 MAPA2

MAPA 3

A metade oeste do estado de São Paulo é o foco de maior diminuição do rebanho

bovino, processo que se estende ao Mato Grosso do Sul, norte do Paraná, sul de Minas

Gerais (especialmente o triângulo mineiro) e sul de Goiás. O centro do estado de São

Paulo também apresentou diminuição das culturas permanentes. A cultura protagonista

desta expulsão da pecuária e das culturas permanentes é a cana-de-açúcar, em franca

expansão até pelo menos 2010. Sobre o Sul do país, parece haver uma retração das

culturas temporárias (sul do Paraná, Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul)

associada ao crescimento do rebanho bovino nessas regiões. No nordeste, com exceção

do estado do Ceará e do Maranhão, a diminuição do rebanho bovino é geral, ocasionado

principalmente pela severa seca de 2012 na região. As culturas temporárias avançaram

sobretudo no estado de São Paulo e regiões limítrofes (cana-de-açúcar) e no

norte/nordeste de Mato Grosso e sul do Piauí (grãos).

A PERMANÊNCIA DOS PROBLEMAS

Em Girardi (2008) demonstraram a grande concentração da estrutura

fundiária no Brasil, mas a análise da evolução da estrutura fundiária no período

2003-2012 revela um processo de aumento da concentração da terra no país,

como pode ser visto na representatividade das classes de área nos dois anos

(tabela 1): as classes de área maiores passaram a concentram maior

porcentagem de terra. Também a comparação dos mapas 4 e 5 evidencia o

processo de concentração, visto que a maior parte dos municípios brasileiros

aumentou o grau de concentração (passaram para classes superiores dos mapas).

TABELA 1 – Estrutura fundiária – 2003 e 2012

Nº de Imóveis Área (ha) % da área (ha) Nº de Imóveis Área (ha) % da área (ha)

TOTAL 4.290.531 418.483.332,30 100 5.498.451 597.018.808,73 100Menos de 1 81.995 43.409,10 0,01 117.301 58.875,48 0,01

1 a menos de 2 141.481 191.005,50 0,05 168.738 229.075,39 0,04

2 a menos de 5 559.841 1.874.158,80 0,45 759.005 2.549.567,34 0,43

5 a menos de 10 626.480 4.530.025,20 1,08 829.862 5.996.899,20 1,00

10 a menos de 25 1.109.841 18.034.512,20 4,31 1.391.712 22.560.429,52 3,78

25 a menos de 50 693.217 24.266.354,60 5,80 860.300 30.210.990,87 5,06

50 a menos de 100 485.956 33.481.543,20 8,00 611.745 42.414.477,17 7,10

100 a menos de 200 272.444 36.516.857,80 8,73

200 a menos de 500 181.919 56.037.443,20 13,39

500 a menos de 1.000 68.972 47.807.934,80 11,42 85.437 59.426.508,45 9,95

1.000 a menos de 2.000 35.281 48.711.363,10 11,64 41.206 56.933.642,14 9,54

2.000 a menos de 5.000 26.341 77.612.461,90 18,55 31.865 93.781.039,50 15,71

5.000 a menos de 10.000 5.780 41.777.204,40 9,98 6.157 44.106.421,27 7,39

10.000 a menos de 20.000 635 8.600.834,20 2,06 1.113 15.263.453,08 2,56

20.000 a menos de 50.000 294 8.502.361,60 2,03 627 18.502.428,82 3,10

50.000 a menos de 100.000 32 2.181.546,40 0,52 138 9.701.272,64 1,62

100.000 e mais 22 8.314.316,30 1,99 219 72.951.538,86 12,22

DADOS: Cadastro do INCRA/DATALUTA Estrutura Fundiária.

Classes de Área (ha)

593.026 122.332.189,00

2003 2012

20,49

Outro grave problema que configura o campo brasileiro é a violência

contra camponeses. A violência pode ser direta ou indireta, ativa ou passiva. A

violência direta é a violência física empregada contra a pessoa, contra a

ocupação e contra a posse camponesa. Ela pode ser deflagrada por particulares

ou pelo Estado e constitui principalmente em assassinatos, tentativas de

assassinato, ameaças de morte, despejos da terra, expulsões da terra e outras

formas que causem danos físicos ou psicológicos aos trabalhadores rurais e

camponeses ou a seus bens. As tentativas de assassinato, ameaças de morte e

expulsões da terra são formas de violência privada contra os camponeses.

MAPA 4 MAPA 5

Na violência direta e ativa o Estado age principalmente com os despejos

judiciais e com o uso da força policial no cumprimento de ordens de despejo e

na dissipação de manifestações, o que tem como consequência mortes e

ferimentos. A forma passiva da violência direta ocorre com a omissão do

Estado em relação à violência direta praticada por particulares contra os

camponeses. A violência indireta é uma prática simultânea do Estado,

fazendeiros e empresários. A ação política é a principal forma de execução

dessa violência. Promovendo lobbies e fazendo parte dos poderes executivo,

judiciário e principalmente no legislativo, fazendeiros e empresários

influenciam as decisões que envolvem temas relativos à questão agrária

(VIGNA, 2001). A criminalização da luta pela terra é outro exemplo de

violência indireta contra os camponeses, e que pode gerar formas de violência

direta no seu cumprimento. Essas ações contribuem para impedir o acesso à

terra por meio da reforma agrária.

Analisamos nesta seção as principais formas de violência direta contra

pessoa no campo. Esta violência ocorre paralelamente à agricultura altamente

produtiva que caracteriza o agronegócio e por isso configura o que Oliveira

(2004) chama de barbárie da modernidade. A Comissão Pastoral da Terra

documenta, desde a década de 1980, as ocorrências de conflitos e violências no

campo brasileiro, cujos dados são publicados desde 1984 no “Caderno

conflitos no campo”. Paralelamente aos dados, a pastoral ligada à igreja

católica também publica manifestos e relatos de diversos casos de violência

contra a pessoa, posse e propriedade de camponeses e trabalhadores rurais.

O mapa 6 representa os conflitos por terra no Brasil em 2012, que

somaram 816 naquele ano. A Amazônia/fronteira agropecuária é o lócus

central dos conflitos, embora haja focos importantes no sul de Mato Grosso do

Sul, oeste do estado de São Paulo, sul da Bahia e entre Pernambuco e Sergipe,

no Nordeste. Os conflitos por terra são despejos pelo Estado, expulsões por

fazendeiros, ameaças de despejo e expulsões, bens destruídos e pistolagem,

indicando a violência contra os camponeses e a posse e propriedade das suas

terras. Segundo a CPT (2013), também ocorreram em 2012, 238 ocupações de

terra e foram montados 13 acampamentos. O total de conflitos no campo

registrado em 2012 foi de 1.364, tendo como resultado 36 assassinatos, a

participação de 648.515 pessoas na disputa por 13.181.570 hectares.

MAPA 6 MAPA 7

O mapa 7 apresenta os casos de violência contra a vida (assassinatos,

ameaças de morte e tentativas de assassinato) ocorridos no campo brasileiro

entre 2010 e 2012, assim como a taxa de violência contra a pessoa, expressa

por número de casos por mil habitantes da zona rural. Segundo a CPT (2013),

somente em 2012 foram 36 assassinatos, 77 tentativas de assassinato, 295

ameaçados de morte, 10 mortos em consequência dos conflitos, 99 presos e 88

agredidos. Destacadamente, a Amazônia também é onde estão concentradas

essas violências, que são fruto da repressão deflagrada pelos fazendeiros e

grileiros contra os camponeses e trabalhadores rurais, principalmente.

TABELA 2 – Conflitos no campo Brasil – 2003-2012 Fonte: CPT (2013) – Caderno Conflitos no Campo 2012.

Como ressalta o relatório da CPT (2013), a investidas sobre as terras da

Amazônia para a exploração mineral e energética na atualidade também

contribui para manter a região no centro dos conflitos no campo, já que essas

ações têm como uma característica importante a violação dos diretos das

pessoas e das comunidades. A Amazônia responde pelas seguintes

porcentagens dos conflitos e violências registrados em 2012: 45,8% dos

conflitos, 97% das áreas em conflito, 58,3% dos assassinatos, 84,4% das

tentativas de assassinato, 77,4% das ameaças de morte, 62,6% dos presos e

63,6% dos agredidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados parciais apresentados neste artigo indicam alguns processos

territoriais no campo brasileiro: a agricultura das commodities não adentrou a

Amazônia como se previa na década de 2000, mas tomou lugar no Maranhão e

Piauí; a pecuária estagnou, mas foi expulsa de áreas tradicionais de pecuária de

corte e leite para a Amazônia; a concentração da terra aumentou no país, talvez

pelo ganho de força das commodities e do etanol e pelos impactos do crescimento

do emprego e de programas de distribuição de renda sobre os agricultores

marginalizados; a violência não desaparece do campo e embora a Amazônia ainda

tenha maior peso na ocorrência dos conflitos e violências, o fenômeno torna-se

mais homogêneo no Brasil, indicando a generalização das tensões no campo.

A atualização e aprimoramento do AQAB está permitindo análises da

dinâmica recente do campo brasileiro por meio de mapeamento comparativo e

exploratório via visualização cartográfica. Com isso, podemos analisar a expansão,

retração e direções tomadas pelas diversas culturas e rebanhos no território

brasileiro. Também é possível verificar as ações dos movimentos socioterritoriais,

das políticas agrárias e dos vários conflitos no campo brasileiro. Todos esses

mapeamentos permitem uma visão geral sobre o campo brasileiro e que pode

contribuir para os diversos estudos regionais e locais, os quais colaboram com

nossas análises no AQAB, em um processo de construção conjunta do

conhecimento sobre o campo brasileiro. Todos os mapas estão disponíveis em

www.fct.unesp.br/nera/atlas .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BNDES – BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Anuário estatístico do crédito rural – 2012. Brasília: BNDES, 2013.

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FERNANDES, B. M. Questão agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial. In: BUAINAIN, A. M. (org.). Luta pela terra, reforma agrária e gestão de conflitos no Brasil. Campinas: Unicamp, 2005.

GIRARDI, E. P. A construção de uma cartografia geográfica crítica. Revista Geográfica de América Central. v.2, n.47e. San José: Universida Nacional de Costa Rica, 2011.

_____. Proposição teórico-metodológica de uma Cartografia Geográfica Crítica e sua aplicação no desenvolvimento do Atlas da Questão Agrária Brasileira. 2008. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2008a. Disponível em: <www.fct.unesp.br/nera/atlas/downloads/Tese_Eduardo_Girardi.zip>

OLIVEIRA, A. U. de. Barbárie e modernidade: as transformações no campo e o agronegócio no Brasil. Revista Terra Livre. São Paulo: AGB, n.21, p.113-156, 2º sem. 2003.

VIGNA, E. A bancada ruralista: um grupo de interesse. Argumentos. n.8. Brasília: INESC, 2001.

VINHA, J. F. de S. C. Leituras dos territórios paradigmáticos da Geografia Agrária: análise dos grupos de pesquisa do estado de São Paulo. 2011. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2011.