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PROPOSTAS RELACIONADAS À OBRAS PARA TRANSPORTE E COMUNICAÇÃO NA CIDADE DE CAMPOS DOS GOYTACAZES EM MEADOS DO SÉCULO XIX E SUA IMPORTÂNCIA PARA A COLONIZAÇÃO DOS “SERTÕES” Diego Gonzaga Duarte da Silva [email protected] Maria Isabel de Jesus Crhysostomo [email protected] INTRODUÇÃO O presente trabalho faz parte de um projeto de Iniciação Científica cujo título é “Imigração estrangeira nos confins da Zona da Mata Mineira (1840s -1910): entre civilização dos sertões e controle do território”, na qual é financiado pelo programa institucional de bolsas de Iniciação Científica da UFV (Universidade Federal de Viçosa) PROBIC/FAPEMIG e CNPQ coordenado pela professora Maria Isabel de Jesus Chrysostomo. Tal pesquisa encontra-se em andamento. Este trabalho tem a intenção de compreender como as propostas para comunicação e transportes no município de Campos dos Goytacazes – RJ (Rio de Janeiro) contribuíram para modernizar o município supramencionado, bem como compreender como tal processo impulsionou a ocupação de determinadas áreas tidas pelos políticos locais e estaduais comoáreas “férteis”, capazes de impulsionar a economia Campista e Fluminense, através das Colônias Agrícolas e Industriais. O processo de ocupação como veremos no decorrer deste trabalho se deu, principalmente, através da instalação de colônias de imigrantes estrangeiros. Os primeiros resultados dizem respeito ao levantamento das vias de Comunicação e transportesque foram produzidos nos anos de 1840 e 1841, assinalando a importância politica e econômica de Campos dos Goytacazes no século XIX. A pesquisa inicialmente apresenta e descreve as propostas para a reforma e implantação de

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PROPOSTAS RELACIONADAS À OBRAS PARA TRANSPORTE E

COMUNICAÇÃO NA CIDADE DE CAMPOS DOS GOYTACAZES EM

MEADOS DO SÉCULO XIX E SUA IMPORTÂNCIA PARA A

COLONIZAÇÃO DOS “SERTÕES”

Diego Gonzaga Duarte da Silva [email protected]

Maria Isabel de Jesus Crhysostomo [email protected]

INTRODUÇÃO

O presente trabalho faz parte de um projeto de Iniciação Científica cujo título é

“Imigração estrangeira nos confins da Zona da Mata Mineira (1840s -1910): entre

civilização dos sertões e controle do território”, na qual é financiado pelo programa

institucional de bolsas de Iniciação Científica da UFV (Universidade Federal de Viçosa)

PROBIC/FAPEMIG e CNPQ coordenado pela professora Maria Isabel de Jesus

Chrysostomo. Tal pesquisa encontra-se em andamento.

Este trabalho tem a intenção de compreender como as propostas para

comunicação e transportes no município de Campos dos Goytacazes – RJ (Rio de

Janeiro) contribuíram para modernizar o município supramencionado, bem como

compreender como tal processo impulsionou a ocupação de determinadas áreas tidas

pelos políticos locais e estaduais comoáreas “férteis”, capazes de impulsionar a

economia Campista e Fluminense, através das Colônias Agrícolas e Industriais. O

processo de ocupação como veremos no decorrer deste trabalho se deu, principalmente,

através da instalação de colônias de imigrantes estrangeiros.

Os primeiros resultados dizem respeito ao levantamento das vias de

Comunicação e transportesque foram produzidos nos anos de 1840 e 1841, assinalando

a importância politica e econômica de Campos dos Goytacazes no século XIX. A

pesquisa inicialmente apresenta e descreve as propostas para a reforma e implantação de

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novas vias de comunicação e transportes em meados do século XIX, demonstrando as

principais obras e áreas privilegiadas, assim como e os atores propositores. São

apresentados alguns dos projetos de Colonização empreendidos no município de

Campista em meados do século XIX, elencando sua importância para a Província do

Rio de Janeiro e também para todo o país, haja vista, que tal projeto potencializaria uma

maior produção agrícola e industrial.

OBJETIVOS

O Objetivo desta pesquisa é compreender a politica de imigração estrangeira nas

regiões tidas como fronteiras, a fim de colonizar entre os anos de 1840 a 1910, as

regiões que compreendem os Sertões de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Para tal

análise enfoquei na “cidade-região” circunscrita a Campos dos Goytacazes, no Rio de

Janeiro.

METODOLOGIAS

Inicialmente realizei em conjunto com minha professora orientadora um

levantamento dos materiais a serem analisados. Tais materiais eram constituídos por

Jornais, Livros, Artigos e Mapas da região analisada do século XIX.

O primeiro material analisado foi o Jornal “O Monitor Campista” dos anos de

1840 e 1841 por meio de microfilmes. Foram analisados todos os periódicos destes

anos, somando um total de 175 (cento e setenta e cinco) periódicos. Estes periódicos

foram lidos e sistematizados, já que os mesmos não estavam disponíveis digitalmente.

Tais informações foram mapeadas a fim de se ter uma melhor visualização e

espacialização das informações contidas no mesmo. O segundo material analisado

foram os Annais da Assembleia Legislativa Provincial do Rio De Janeiro” de Outubro a

Dezembro de 1864. Foram analisados e sistematizados 41 (quarenta e uma) seções de

discussão. Esses materiais estão disponíveis digitalmente na Hemeroteca nacional

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(http://hemerotecadigital.bn.br/). Por último foram analisados e sistematizados o

“Relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro” dos anos de 1840a 1849.

Além desses materiais foram consultados alguns livros como “O Império das

Províncias” de Maria de Fátima Silva Gouvêa, o Boletim do Observatório Ambiental

Alberto Ribeiro Lamego, o Livro “O Homem e o Brejo” de Alberto Ribeiro Lamego,

dentre outros textos e artigos.

RESULTADOS PRELIMINARES

AS VIAS DE COMUNICAÇÃO E TRANSPORTES E SUA IMPORTÂNCIA

PARA A ECONOMIA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES NO SÉCULO XIX

Observamos no decorrer dessa pesquisa que a economia da província do Rio de

Janeiro do século XIX, bem como de todo o Brasil Imperial era dominada pela

agricultura de exportação, tendo como base principal o açúcar, além do café e do

algodão. Desse modo, os principais grupos políticos e econômicos da província do Rio

de Janeiro tinham o desejo de resguardar os elementos necessários para o

desenvolvimento de uma economia de exportação, seja ela para os mercados regionais

internos, seja para os mercados internacionais -, “de modo muito particular a

escravidão, que fundamentava os modos de produzir e fazer circular toda a produção

agrícola então em curso no país” (GOUVÊA, 2008. p.20).

A economia provincial do Rio de Janeiro se expandia rapidamente e tal processo

refletia em uma nova organização ocupacional no território provincial. Novos colonos

provenientes de São Paulo e de Minas Gerais chegavam à província, segundo GOUVÊA

(2008, p.32). Nesse contexto de rápida expansão territorial a cidade de Campos dos

Goytacazes se sobressaía. Vale ressaltar que até o ano de 1832 a cidade de Campos

estava sob jurisdição da província do Espirito Santo, que administrava a cidade desde

1753 (GOUVÊA, 2008. p.32).

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Campos era uma cidade de grande importância politica e econômica para a

província do Rio de Janeiro, pois era um centro econômico independente, que

desenvolvia atividades ligadas a produção açucareira. Mantinha também um núcleo

econômico de subsistência, comercializando seus excedentes para a cidade do Rio de

Janeiro e para as áreas vizinhas.

Segundo GOUVÊA (2008, p.33) “com o crescimento da demanda por açúcar na

Corte, a economia local de Campos tornou-se mais forte e cresceram as disputas pelo

acesso à propriedade fundiária”. Tais propriedades eram indispensáveis para o

desenvolvimento da produção açucareira.

Em função do seu desempenho econômico e poder político, os políticos

vinculados a Campos empreenderam uma verdadeira batalha para garantir maiores

investimentos na região. Esse processo redundou num significativo aumento das

estradas na cidade e área de abrangência. Portanto, alguns fazendeiros tomaram para si

essa função fazendo novas estradas e outras vias de comunicação e transporte e/ou

melhorando as já existentes, como veremos mais adiante. Como naquele contexto, uma

das formas de escoar a produção de Campos por meio dos Canais, abundantes na região

devido, as condições geológicas, hidrológicas e climáticas da região. Os investimentos

nestes meios se tornaram muito comuns

Foi possível identificar através da leitura e sistematização do Jornal o “Monitor

Campista” dos anos de 1840 e 1841, 28as propostas relacionadas à construção de novas

vias de comunicação e transportes, bem como de reparos das já existentes. Tais obras

eram para reparo e construção de novos Canais, Valas, Estradas e Pontes.

É importante ressaltar também que o Governo da província do Rio de Janeiro

tinha uma preocupação em projetar e implantar novas vias de comunicação e transportes

na região de Campos, já que grande parte da produção era direcionada a cidade do Rio

de Janeiro, onde se encontrava a “Corte”.

Eramcomuns no município de Campos dos Goytacazes os fazendeiros e demais

agentes privados tomarem para si a tarefa de construírem ou reparem as vias de

comunicação e transportes. Um dos fazendeiros que tomaram tal iniciativa foi José

Fernandes da Costa Pereira. O mesmo era um importante fazendeiro e político local. A

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proposta empreendida por esse fazendeiro é o do conhecido Canal do Onça. A proposta

seria de construir um canal partindo das imediações do sitio do cidadão Joze

Bernardinho de Souza no Morro da Onça, ligando-o a lagoa do Onça. Esse canal seria

de enorme vantagem para a população local, haja vista que facilitaria o escoamento das

produções do sertão de “Pedra Liza”, já que as estradas que iriam de encontro ao porto

de embarque na lagoa das pedras se encontravam em péssimo estado. O Canal

desaguaria no Rio Muriaé, facilitando o escoamento de madeiras e a produção do sertão

de Pedra Liza e de sua área circundante.

O mesmo Joze Fernandes do Costa Pereira foi o propositor do canal que ligaria

os Sertões de Pedra Liza ao Rio Muriaé, como aparece no jornal “O Monitor Campista”,

edição nº. 70 de 17 de Novembro de 1840. Segundo este periódico esta obra seria de

grande utilidade para o país, “porque além de hir dar navegação aos habitantes do

mencionado certão de mais a mais vai deseccar os pântanos adjacentes” (MONITOR

CAMPISTA, 1840).

Percebemos que as regiões próximas aos Sertões de Pedra Lizaconsideradas

férteis do ponto de vista agrícola, notabilizou-se a partir de 1840 como uma área

produtora de café. Além disso, havia uma preocupação por parte dos agentes públicos e

privados em ampliar tal produção. Contudo, para que isso ocorresse era necessário que

houvesse infraestruturas capazes para escoar a produção, por isso a preocupação de tais

agentes em criar vias de comunicação e transportes eficientes e reparar as já existentes.

Outro Canal projetado nesse período foi o Canal do Nogueira. Conforme

apresentado por Soffiati (2007) o Canal do Nogueira iniciava-se na lagoa do Campelo,

“até as margens do rio Muriaé, pelo lado esquerdo do rio Paraíba do Sul”. Esta obra

iniciou-se no ano de 1833, no entanto, a mesma havia sido projetada no ano de 1829

pelo brigadeiro AntonioElisiario de Miranda Brito (1942, apud SOFFIATI, 2007). Tal

canal serviria para escoar a produção de madeiras, bem como da produção agrícola do

Sertão do Nogueira (1934), apud SOFFIATI, 2007).

Em relação às estradas observamos, entre os anos de 1840 e 1841, a existência

de uma proposta para recuperação de uma estrada ligando Campos à província de Minas

Gerais, pela margem esquerda do rio Muriaé. Segundo consta no jornal Monitor

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campista, o reparo desta estrada facilitaria a comunicação do município de Campos com

a província de Minas, considerando tal comunicação benéfica para a cidade de Campos

e a Província de Minas Gerais. Tal estrada, segundo seus propositores, seria de enorme

vantagem para o comércio entre a cidade Campista e a Província de Minas Gerais como

mencionado pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro em seu relatório do ano de

1840:

A importancia, que a facilidade das communicaçãoes entre a provincia

de Minas Geraes e aquellemunicipio, pelas margens do rio Muriahé,

viria dar ao commercio d’este ultimo, he tão evidente, que, não há

mister demonstração. Muitos sertões hoje improductivos e emermos,

abertos ou melhorados os meios de communicação para o litoral, hão

de povar-se e trazer-lhe em abundancia os produtos da sua portentosa

fertilidade. A communicação já começa a estabelecer-se, cumpre

acoroçoal-a, e por isso acedendo ao patriótico pedido da camara

municipal de Campos, vou mandar proceder ás explorações

necessárias no caminho por onde actualmente se faz a communicação,

e levantar a respectiva planta” (RELATÓRIO PRESIDENTE DA

PROVINCIA DO RIO DE JANEIRO 1840, pag. 60).

Das regiões do município de Campos dos Goytacazes damos destaque aos

“sertões” situados a direita do rio “Muriahé”, destacando o “Sertão de Pedra Liza”.Tais

vias de comunicação e transportes naquela região eram frequentemente mencionadas

nas sessões da Câmara Municipal de Campos.

Abaixo temos um mapa contendo as principais propostas identificadas no

município de Campos dos Goytacazes nos anos de 1840 e 1841 retiradas do jornal “O

Monitor Campista”. É possível identificar também quais propostas eram mais

priorizadas nesse período, em função do número de citações que apareciam nas sessões

da Câmara Municipal de Campos.

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Conseguimos identificar através desse mapa, as regiões do Município de

Campos dos Goytacazes na qual os investimentos em infraestruturas para comunicação

e transportes eram priorizadas. Damos destaque aos “sertões” situados a direita do rio

“Muriahé”, destacando o “Sertão de Pedra Liza”, pois as vias de comunicação e

transportes naquela região eram frequentemente mencionadas nas sessões da Câmara

Municipal de Campos.

As estradas e demais vias de comunicação e transportes de Campos dos

Goytacazes têm grande importância pois em grande medida, conduzem aos portos da

província do Rio de Janeiro, no caso de Campos dos Goytacazes o Porto de S. João da

Barra, responsável pela exportação de gêneros agrícolas da cidade. Segundo consta no

“Relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro” do ano de 1840 (p. 22), no ano

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de 1839 exportou-se as seguintes quantidades de açúcar, principal cultura agrícola da

cidade naquele período: “17480 caixas; 441 feixos; 4243 barricas; 7saccos; e 38

arrobas a granel”. De café foram exportados “391 caixas; 121 feixos; 25 caixões; 1541

barricas; 3912 saccos; 1491 jacás; 1quartola; e 7 ancoretas”; De madeiras foram

exportados “13615 cossueiras de jacarandá; 981 toros de tatagiba; 2330 taboas de

varias qualidades; 56 cossueiras de cedro; 59 de óleo; 96 de ariribá; 324 de gurubú;

128 paós de construcção,191 pernas de asna; 43 toros de vinhático; 57 vigas; 175 eixos

para carros; 48 aduelas; e 1 mastro”.

O principal produto agrícola produzido em Campos, como observado acima, era

o açúcar. O açúcar era cultivado nas regiões mais planas do município enquanto que o

café, segundo produto mais exportado naquele período, era produzido na região norte de

Campos, onde as terras são mais elevadas, e, portanto consideradas mais propíciais para

o desenvolvimento dessa cultura agrícola.

AS COLÔNIAS AGRÍCOLAS

Observamos que o Governo da Província do Rio de Janeiro em meados do

século XIX tinha a preocupação de fundar colônias agrícolas na província.O objetivo da

implantação de tais colônias, entre outras razões, era maximizar a produção agrícola e

industrial da referida província. Além disso, havia a preocupação de se formar uma

nova Nação e de criação de um novo povo (CHRYSOSTOMO, 2012). De acordo com

o Relatório do Presidente da Província de 1842, havia uma lei de 10 de Maio de 1840

publicada sob o nº. 56, que previa o estabelecimento dessas colônias. Tal lei autorizava

ao presidente da província a tomar as seguintes providências:

na falta de terras devolutas de sesmarias competentemente concedidas,

a haver por compra, aforamento, ou outro meio legitimo as terras

necessárias para serem distribuídas pelos Colonos: considerando

porêm que o meio da compra absorveria uma grande parte do capital

preciso para o transporte, estabelecimento, e sustentação dos Colonos,

e tendo informação particular de existirem ainda algumas terras

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devolutas nos Municipios de Campos, Macahé, Cantagallo, e Paraty,

dirigi ao Governo Imperial uma supplica em nome d’esta Provincia

solicitando a concessão de sesmarias para assento das

Coloniasprojectadas. (RELATÓRIO DO PRESIDENTE DA

PROVINCIA DO RIO DE JANEITO DE 1842, p.19).

Esta lei, segundo consta no mencionado Relatório, pretendia aumentar o número

da população livre e branca com habilidades industriais capazes de estabelecer e

potencializar a produção agrícola nos núcleos fundados.

Conforme mencionado neste documento a Cidade de Campos dos Goytacazes

foi uma das escolhidas para implantação das possíveis Colônias Agrícolas, pois

deacordo com as expedições realizadas pelo governo provincial, o “Sertão de Pedra

Liza” era uma das melhores áreas para a implantação das mesmas, poisreunia uma série

de qualidades, entre as quais a grande disponibilidade de terras férteis para a

colonização.

Segundo consta no Relatório do Presidente da Província do ano de 1843, os

terrenos do Sertão de Pedra Liza eram muito férteis, sendo adaptados a qualquer tipo de

cultura que se desejasse cultivar, e apresentavam uma vegetação parecida com as

observadas na Europa, com arbustos de média altura. Além disso, no referido Sertão era

encontrado muitos recursos naturais como as mais valiosas madeiras, como o Jacarandá

e o Nogueira. Dizia também que o Terreno de Pedra Liza era bastante plano, tendo

morros pouco elevados, havendo abundância em águas potável, bem como águas

capazes de manter funcionando moinhos e engenhos de grande importância para a

produção agrícola naquele período.

Os investimentos em infraestruturas para Comunicação e Transportes, como

vimos anteriormente, foram de grande importância para a implantação de uma Colônia

Agrícola no Sertão de Pedra Liza, pois possibilitaram um melhor acesso as colônias,

facilitando o transporte de sua produção agrícola e industrial.

Em 20 de outubro de 1842, conforme apresentado pelo Relatório do Presidente

da Província de 1843, o Governo Provincial contratou juntamente com o belga Ludgero

José Nellis o estabelecimento de 20 colonos e com o Governo Geral outros 20 colonos

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de origem belga, iniciando o processo de colonização. Tal colônia funcionou como um

ensaio para analisar a viabilidade das colônias.

Assim esse sertão teve grande importância para a apropriação do território por

parte do governo Imperial já que representava uma imagem de um território desejável,

conforme apresentado por Raffestin (1993) em seu livro “Por uma Geografia do Poder”.

Tal imagem seria de uma província desenvolvida na industrial, na economia e na

agricultura, tendo como referência a Europa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observamos que as propostas de Comunicação e transportes empreendidas no

município de Campos dos Goytacazes foram de grande importância para a ligação do

município supramencionado com outros municípios da província do Rio de Janeiro e de

outras províncias. Isso possibilitou e potencializou a produção de gêneros agrícolas,

além de promover a ocupação de áreas de difícil acesso. Tais investimentos foram de

fundamental importância para o estabelecimento de algumas colônias agrícolas, como a

estabelecida nos arredores do “Sertão de Pedra Liza”. Isso facilitou o acesso a aquela

área, melhorando o transporte, a produção e a comercialização de seus gêneros agrícolas

e industriais, como planejava o governo a Provincial. Como foi possível observar, a

referida colônia agrícola serviu de “ensaio” paraverificar viabilidade econômica e

produtiva desse tipo de empreendimento para a província do Rio de Janeiro, bem como

para o Governo Geral. Caso essa colônia funcionasse poderia servir como um núcleo de

colonização do Governo Geral na província do Rio de Janeiro, como foi apresentado no

relatório do Presidente da Província do ano de 1843.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus. Uma Veneza no Sertão Fluminense: Os

Rios e os Canais em Campos dos Goitacazes. Disponível em:

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<http://132.248.9.34/hevila/Historiarevista/2009/vol14/no2/7.pdf> Acesso em:

25/02/2014.

CHRYSOSTOMO, Maria Isabel de Jesus; SANTOS, Higor Mozart Geraldo. Política

de expansão e controle territorial numa região de fronteira: o caso da catequização

e civilização dos índios nos sertões do Rio de Janeiro e Minas Gerais no século

XIX. Apresentado no III Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico e I

Encontro Nacional de Geografia Histórica de 5 a 10 de novembro de 2012.Disponível

em: <http://www.3hpg1gh.net/gt_3/GT%203-%20368%20-

%20CHRYSOSTOMO_SANTOS.pdf> Acesso em: 27/02/2014.

GOUVÊA, Maria de Fátima. O império das províncias: Rio de Janeiro, 1822-1889. –

Rio de Janeiro: Civilização Brasileiro, 2008.

LAMEGO, Alberto Ribeiro.O Homem e o Brejo. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do

IBGE, 1945.

MACEDO, Nylson; SILVA, Leonardo de Vasconcellos. A ferrovia agrícola de

Quissaman e suas conexões regionais.Quissamã (RJ): Prefeitura Municipal de

Quissamã, 2012.

SOFFIATI, Arthur. Os canais de navegação do Século XIX no Norte Fluminense.

In:_ Boletim do Observatório Ambienta Alberto Ribeiro Lamego. Campos dos

Goytacazes: Essentia, 2007.

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília

França. São Paulo: Ática, 1993.

FONTES PRIMÁRIAS

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ANNAIS DA ASSEMBLÉA LEGISLATIVA PROVINCIAL DO RIO DE JANEIRO:

Outubro a Dezembro de 1864

O MONITOR CAMPISTA: 1840 e 1841.

RELATÓRIO DO PRESIDENTE DA PROVINCIA: 1840, 1841, 1842, 1843, 1844,

1845, 1846, 1847, 1848, 1849.