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Amiraldo dos Santos Oliveira Junior – UNIFAP [email protected] Josivan Ferreira Sarmento – UNIFAP [email protected] Josiel da Costa da Silva – UNIFAP [email protected] Rômulo Gomes Marques – UNIFAP [email protected] Da realidade às perspectivas: um caso do assentamento do Piquiazal no município de Mazagão-Ap. Introdução O objetivo da pesquisa é analisar o perfil sócio – econômico da agricultura familiar dentro do estado do Amapá, enfatizando em quatro estruturas básicas para seu funcionamento, ou seja, os créditos rurais, assistência técnica, escoamento da produção e a comercialização. A partir do referencial teórico em relação ao assunto podemos perceber o quanto esse setor da economia é desvalorizado pelas políticas publicas frente ao seu potencial produtivo. Segundo Alentejano (2004), as políticas de assentamento no Brasil começaram no governo de Fernando Henrique Cardoso devido as fortes pressões dos movimentos que lutavam e lutam por terras, no entanto durante o seu governo foram desapropriados 16 milhões de hectares, mas isso se apresentou insignificante frenteà estrutura fundiária que nosso país tinha e ainda tem, isso é um reflexo do período colonial. O estado do Amapá atualmente possui 40 projetos de assentamentos e que a maior parte está sobre a jurisdição do INCRA, que ocupa uma área total de 2.125.326 (ha) e que tem capacidade de atender 16.044 famílias e somente 81,23% das áreas dos assentamentos estão ocupadas, ou seja, 13.034

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Amiraldo dos Santos Oliveira Junior – UNIFAP

[email protected]

Josivan Ferreira Sarmento – UNIFAP

[email protected]

Josiel da Costa da Silva – UNIFAP

[email protected]

Rômulo Gomes Marques – UNIFAP

[email protected]

Da realidade às perspectivas: um caso do assentamento do Piquiazal no município de Mazagão-Ap.

Introdução

O objetivo da pesquisa é analisar o perfil sócio – econômico da agricultura familiar dentro do estado do Amapá, enfatizando em quatro estruturas básicas para seu funcionamento, ou seja, os créditos rurais, assistência técnica, escoamento da produção e a comercialização. A partir do referencial teórico em relação ao assunto podemos perceber o quanto esse setor da economia é desvalorizado pelas políticas publicas frente ao seu potencial produtivo.

Segundo Alentejano (2004), as políticas de assentamento no Brasil começaram no governo de Fernando Henrique Cardoso devido as fortes pressões dos movimentos que lutavam e lutam por terras, no entanto durante o seu governo foram desapropriados 16 milhões de hectares, mas isso se apresentou insignificante frenteà estrutura fundiária que nosso país tinha e ainda tem, isso é um reflexo do período colonial.

O estado do Amapá atualmente possui 40 projetos de assentamentos e que a maior parte está sobre a jurisdição do INCRA, que ocupa uma área total de 2.125.326 (ha) e que tem capacidade de atender 16.044 famílias e somente 81,23% das áreas dos assentamentos estão ocupadas, ou seja, 13.034

famílias estão assentadas, havendo um déficit de 3.010 lotes a serem ocupados (INCRA – AP, 2011).

Os assentamentos no estado do Amapá apresentam na sua grande maioria aspectos semelhantes em relação às dificuldades e suas perspectivas. Estivemos no assentamento do Piquiazal que fica localizado no município de Mazagão na parte sudeste do estadoAmapá para analisar agricultura familiar e as suas formas de produção e reprodução nesses espaços, compreender o papel do estado na aplicação de recursos nesse setor, como a efetivação dos programas de incentivos ao agricultor rural. Sabemos que agricultura de pequena escala é responsável por 70% do abastecimento do mercado nacional e que sua importância não corresponde as atitudes que o governo tem em relação aaplicabilidade das verbas nesse setor, e grande parte dos incentivos e financiamentos são para atender os grandes agricultores.

A metodologia utilizada para compreender os processos da agricultura familiar no Piquiazal foi baseada através de um levantamento bibliográfico como temas relevantes ao desenvolvimento do nosso trabalho, como a visão de autores como Martins (1986), que o processo de valorização da agricultura capitalista pelo governo é um processo que já vem ocorrendo com muita frequência e não é recente; também buscando um histórico da cidade de Mazagão onde esta localizada o assentamento do Piquiazal, VIDAL (2008), revela que Mazagão é uma cidade fundada no Marrocos (África) que após uma disputa nessas terras, Mazagão é transferida para Portugal (Europa) e depois de alguns anos e novamente transferida para o Brasil (América). Estivemos em instituições que são responsáveis pelo assentamento,como o INCRA, RURAP e Secretaria de Desenvolvimento Rural do Amapá (SDR – AP) com a finalidade de coletar dados mais recentes, mas não tivemos um bom êxito, nada que tenha comprometido o trabalho; buscamos informações no endereço eletrônico do ministério de desenvolvimento agrário (MDA) com a finalidade de cooptar informações a nível federal para o assentamento do Piquiazal, como benefícios ou investimento para tal área, e por fim um trabalho de campo dentro da área de estudo, da qual tivemos a oportunidade de esta em contato com a população local e ver de perto as suas reais necessidades tanto no que se refere ao desenvolvimento da agricultura familiar, mas também as serviços básicos do qual é dever do estado oferecer, aplicamos um questionário com perguntas semiestruturadasa fim de observar as questões sobre o perfil dos assentados relacionado á produção familiar e os benefícios que conseguem acessar como: créditos, assistência técnica, de como acontecem o escoamento da produção e a comercialização dos produtos.Entretanto elaboramos um

questionário em relação às pessoas que não produzem com intuito também de traçar um perfil de sua manutenção, pois muitos desses que não produzem tem a terra, mas não faz o uso dela e alguns não possuem titulo da terra e consequentemente não tem uma licença para plantar, nas duas formas de questionários que foram aplicados enfatizamos ao fim uma pergunta em relação ás suas perspectivas da situação em relação a sua permanência no assentamento, infelizmente muitos dos quais foram entrevistados não acreditam em um futuro melhor.

O Assentamento do Piquiazal no município de Mazagão

O assentamento do PA Piquiazal foi criado pela Portaria Nº000289 de 01 de abril de 1987 (INCRA, 2002), e está localizado na área leste do município de Mazagão como mostra o mapa abaixo: Mapa1 – Localização do assentamento do Piquiazal, Mazagão – AP.

Fonte: Secretaria de meio ambiente do estado do Amapá, 2013.

Este assentamento está sobre jurisdição do INCRA, tem uma área de 26.000 (ha), possui a capacidade familiar de 650 e somente 207 famílias estão assentadas, ou seja, 31% dos lotes estão ocupados efetivamente (INCRA, 2011).

Um breve histórico da cidade de Mazagão

Antes de começar a compreender a realidade do assentamento iremos fazer um recorte histórico da criação do município de Mazagão, pois é uma cidade que passou por três continentes fundada no Marrocos (África), que passa por Portugal (Europa) até chegar no Brasil (América). A cidade de Mazagão foi construída em “terras infiéis” porque o povo que antes habitavam naquela região negavam o cristianismo, pois eram tribos que se negavam a submeter a coroa portuguesa. Assim Mazagão naquelas terras criou uma fortaleza para se defender das tribos africanas não só defendia os mazaganenses, mas sim as suas plantações que cultivam,

Mas, para suplementar esse abastecimento quase sempre irregular, os habitantes precisam nos campos próximos à fortaleza, cultivar trigo, legumes, cevada, favas, vinhas. (VIDAL, 1969- 1983:27).

Segundo Laurent Vidal no seu livro “Mazagão a cidade que atravessou o atlântico” (1969 – 1983), os mazaganenses não tinham o costume de cultivar,preferiam se empenhar na defesa da fortaleza, todavia a coroa portuguesa solicitava migrantes açorianos do norte de Portugal pra tratarem e

se dedicarem ao meio rural. Depois da chegada a Portugal os moradores da antiga Mazagão imaginavam como seria o Brasil, com isso a coroa portuguesa pede ao governador do grão Pará para enviar um documento, que deveria ter como conteúdo, as características da cidade de Belém, não obstante observou ele que este local possuía potencial para a agricultura.

Observa-se que a questão de distribuição de terra já existia como planejamento sendo efetivado através da coroa portuguesa. Segundo Vidal, ao chegar neste novo lugar os soldados passam a ser chamados de soldados lavradores, porque segundo a coroa, este povo precisa cultivar para a sobrevivência e pede que produzam arroz para abastecer o Grão Pará e Portugal e substituir a policultura para a monocultura. O povo de Mazagão sente a necessidade para efetivar o plano agrícola, emprestam recursos do Grão Pará para investirem na produção de rizicultura e aqueles que não tinham propriedade se ocupavam apenas com o comércio. Entretanto, nas proximidades de Santa Ana e Macapá a coroa construiu casase aplainou as ruas onde de fato iriam morar, mas a chegada deste povo causou certo desconforto, pois a malária tomou conta da região e as ruas se encontravam em péssimas condições eo povo desejava voltar para cidade de Belém.

Uma visão da Agricultura familiar no Brasil

A agricultura familiar é um sistema estreitamente ligado ao conjunto da família, pois a grande maioria da mão de obra empregada são os próprios familiares que exercem a força de trabalho, mas também sendo considerado um setor pré – capitalista e que consegue ainda se reproduzir dentro de uma sociedade altamente atrelado aos interesses do capital.

Para entender o funcionamento da agricultura familiar a lei 11.326 estabelece:

Não detenha, área maior do 4 módulos fiscais, utilize predominantemente mão - de - obra da própria família nas atividades econômicas no seu estabelecimento ou empreendimento, tenha um percentual mínimo da renda familiar originada de atividade econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento (....),dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. (lei Nº 11.326, de 24 julho de 2006).

Para Fornazier ET AL 2011, hoje no Brasil quando refere à agricultura como um setor de grande peso para nossa economia, temos uma valorização pela agricultura capitalista e que grande parte dos recursos que advém da união para esse setor atende em primeira estância as atividades não familiares e quando se tem recursos para a agricultura familiar se tem um grande percentual desses recursos/financiamentos que atende os agricultores do sul e do sudeste do país e isso de alguma maneira gera uma certa forma de segregação não só com agricultura familiar, mas com os agricultores do norte.

O setor familiar do campo é um sistema organizacional que opera de maneira muito lento dentro Piquiazal e no Brasil como um todo, pois a criação de assentamentos muitos vezes não acompanhadas de uma infra – estrutura básica para que os assentados tenham condições de se reproduzir dentro suas terras, e isso gera muitas vezes inseguranças em relação as suas permanências dentro dessas áreas rurais e fazendo dessa instabilidade uma possível transferências dessas pessoas para meio urbano, ocasionando ainda mais os problemas sócias e econômicos nas cidades próximas.

Segundo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), atualmente o PRONAF (Programa Nacional de fortalecimento da Agricultura Familiar) é um programa nacional que estimula o pequeno agricultor na sua produção. Criado em 1995 durante o governo de FHC, tal programa objetivou estimular o aumento da produtividade para competir de igualdade com o grande agricultor. Esse programa foi fruto de uma forte pressão e com negociação com os movimentos sociais ligados a esse setora fim de atender a necessidade de uma política agrícola diferenciada para a agricultura familiar. O programa abrange linhas de credito como Pronaf custeio, Pronaf investimento (mais alimentos), micro créditos rurais entre outros. A safra atual 2013/2014 possui um orçamento de R$ 21 bilhões de reais para o fortalecimento da agricultura familiar.

Para MDA, o PRONAF é uma política pública que vai além de oferecer somente linhas de créditos:

O pronaf, porém, é mais do que um instrumento de garantia de crédito aos produtores rurais. É também uma oportunidade para que os agricultores familiares coloquem em prática o seu projeto de desenvolvimento, suas expectativas de renda e de mudança de vida. Atualmente, o pronaf conta com mais de 3,5 milhões de contratos – de custeio e de investimento. (MDA: plano de safra da agricultura familiar 2013/2014:10).

Ao contrario do que muita gente acredita o Pronaf não limitou-se ao mero programa de beneficio social aos camponeses, mas sim tomou como forma um projeto abrangente do governo afim de levar aos agricultores familiares uma forma concreta da manutenção enquanto seres reprodutores desses espaços, mas sabemos que os objetivos dessa política publica não se efetivam de forma como o governo previa, pois a realidade que hoje esse setor sofre frentes aos projetos das agroindústria são alarmantes.

Para Martins (1986), mostra como é a competição na agricultura entre grandes latifundiários e o pequeno agricultor e como o estado regula essa disputa, em 1975 os estabelecimentos com menos de 20 (ha) receberam somente 8,4% dos financiamentos enquanto que as propriedades com mais de 20 (ha) receberam 91,6% dos financiamentos do qual o estado os concediam. Daí e fácil concluir uma lógica bem clara mostrando de que lado o governo mais apoia quando falamos em agricultura.

A realidade da agricultura familiar no Assentamento do Piquiazal: Os

créditos rurais

Em recente trabalho do RURAP no assentamento do Piquiazal foi realizado um levantamento geral das características do desenvolvimento desse assentamento, um dado que chamou atenção foi sobre os créditos rurais obtidos pelos agricultores, logose constatou entre os 103 moradores que foram visitados somente 2 moradores tinham conseguindo acesso aos créditos como mostra o gráfico abaixo:

Fonte: RURAP, 2013.

Pronaf A Frequência Porcentagem Sim 2 1,94 Não 101 98,06 Total 103 100

Pronaf A

sim

não

2%

98%

Os números demonstram que grandes partes dos agricultores não conseguiram acessar o Pronaf, pois alguns deles estão sem o titulo da terra regularizado junto ao INCRA, mas o principal fator éa questão burocrática que se tem para adquirir o contrato, e também a ausência de técnicos dentro do assentamento para elaborar os projetos.

Para Paulo Marcelo de Souza ETAL, 2011 no seu trabalho sobre agricultura brasileira tanto a capitalista quanto a familiar, nos seus dados de pesquisa mostra que no Amapá 92, 98% dos agricultores familiar não obtivem financiamentos das linhas de créditos do governo e dentro desse percentual 2,85% não conseguiram acessar por falta de garantia, 2,59% não sabem como conseguir, 20,66% alegam que o processo é muito burocrático, 1,05% não conseguiram por debito anterior, 8,72% alegaram ter medo de contrair dividas, 9,09% apresentou outro motivo e talvez o dado mais importante dessa pesquisa mostra que 55,03% não precisou de qualquer tipo de financiamento.

O dado acima, principalmente o ultimo citado não condiz com a realidade dos assentamentos, como a sua principal atividade econômica é a agricultura familiar os assentados sentem a necessidade de apoio do governo municipal, estadual e federal no que se refere ao fortalecimento desse setor. Aindabaseando-se sobre estes dados, podemos também reforçar que a burocracia dentro do sistema de financiamento na área do Piquiazal é um fator que contrapõe ainda muito o acesso aos créditos rurais.

Segundo MDA na cartilha plano de safra 2013/2014 é exigindo do agricultor que ele obtenha uma carteira do DAP (Declaração de aptidão ao Pronaf) onde consta o cadastro de pessoa física (CPF) regularizada, e a partir daí procurar um técnico habilitado de órgãos especializados que estejam vinculados com a ATER (assistência técnica e extensão rural) para fazer visita na área destinada ao financiamento. O agricultor deve elaborar um plano para obtenção do credito e encaminhar para o banco da Amazônia para assim se efetivar a proposta de credito.

Os moradores do assentamento do Piquiazal relataramdurante o trabalho de campoque a falta de técnicos do RURAP, que é o órgão responsável pela assistência técnica e manutenção representa uma grande barreira na hora de fazer os projetos para obtenção dos créditos. Por outro lado, ao questionar um técnico do RURAP sobre esse problema, ele relatou que existem técnicos para fazer esse trabalho, porém o que impede a execução das visitas é a falta de transporte para se deslocar até ao assentamento, mas independente disso o

fato é que os moradores do Piquiazal sofrem certo descaso por parte dos órgãos competentes.

1.1 Assistência técnica e extensão rural (ATER).

Atualmente no estado do Amapá temos um órgão que responsável pela assistência técnica e extensão rural (ATER) que é o instituto de desenvolvimento rural do Amapá (RURAP).

O PROTAF é o programa territorial da agricultura familiar e floresta sendo uma políticaestadual que foi criado em 2011 após dissolvição do antigo programa institulado de PPI (Programa de produção Integrada). Segundo SILVA (2012) que a mudança de siglas do programa aconteceu em meio uma transição politica no estado do Amapá; o PPI tinha como objetivo fortalecer a agricultura familiar e durante os dois primeiros ciclo de produtividade do programa em ação teve um aumento de produtividade no ano 2008 para 2009, mas que nem de perto atendeu as demandas dos agricultores familiares; com o surgimento do PROTAF não houver grandes mudanças no programa, talvez a mais significa que no PPI o programa atendia 14 municípios e nova embalagem atente 15 das 16 cidades.

O MDA em 2007 junto ao INCRA entregou uma patrulha mecanizada que serve para utilização do preparo do solo em áreas previamente localizadas nos projetos de assentamentos (PAs) Piquiazal e Pancada do Camaipi iriapropiciar através do cultivo mecanizado condições de aumentar a produtividade em suas áreas. E o uso do mesmo seria feito através de uma comissão composta por associados pertencentes a organizações legalizadas e reconhecidas nos assentamentos envolvidos, para garantir o uso coletivo, planejando atividades e guardar os equipamentos.

Os moradores relataram que este trator esteve muito poucas vezes dentro do assentamento prestando serviço a qual foi destinado, segundo eles essa patrulha mecanizada ficou sobre a responsabilidade municipal (Mazagão) do qual fez e ainda faz uso de maneira inadequada, pois prestava serviços particulares aos proprietários de grandes terras no próprio município.

Na visita ao assentamento podemos perceber que em muitas áreas tinham recebido assistência técnica através do PROTAF, que basicamente é a terra mecanizada e adubada como a imagem abaixo mostra:

Imagem 1: Terra mecanizada e adubada. Foto: Rômulo Marques

Todavia, há três aspectos a serem analisados nesta assistência técnica, a primeira se refere no tempo de execução desse serviço, pois estivemos no mês de novembro no assentamentoa terra tinha sido preparada recentemente para plantar noinicio do mês de janeiro de 2014 durante o período das chuvas, mas esse serviço era para ser iniciado em outubro do ano anterior (2012)para plantar em janeiro 2013, podemos perceber que se tem assistência técnica, mas de maneira muito tardia. O segundo aspecto é referente à qualidade do serviço, os moradores relataram que a adubação é feita de modo comparativo, então não se tem estudos específicos em cada área o que faz desfavorecer as terras que precisam de mais adubo. E o terceiro aspecto é a falta de técnicos no acompanhamento do processo produtivo, fazendo a produção se tornar muito vulnerável no que se refere à qualidade dos alimentos.

1.2 Escoamento da produção

O assentamento do Piquiazal tem como principal acesso a rodovia estadual AP-010 que liga Santana à Mazagão, atualmente esta rodovia encontra-se parcialmente asfaltada no trecho Santana até no município de Mazagão Novo e apresenta um bom estado de conservação como mostra a imagem abaixo:

Imagem 1: Rodovia AP-010. Foto: Josiel Silva.

O outro trecho da rodovia AP-010 que ainda não possui asfalto encontra em uma situação mínima de estrutura, sem oferecer boas condições de mobilidade entre as localidades que vivem na margem dessa rodovia e que dependem dela diretamente para se locomover entre o espaço urbano e rural como os assentados do Piquiazal que precisam ir á feira do produtor em Macapá para comercializar os seus produtos, a imagem abaixo mostra a realidade da rodovia AP - 010:

Imagem 2: Rodovia AP-010 parte ainda asfaltada. Foto Josiel Silva.

O ramal do Piquiazal e o do Pioneiro são outras vias de maior expressão no que diz respeito no escoamento da produção e a própria circulação dos

assentados, entretanto os dois ramais também não possuem nenhum tipo de terraplenagem e muito menos de asfalto e se encontram em um estado de péssimas condições de estruturas com muitos “buracos e valas” em grande parte dos ramais como ilustra as imagens abaixo:

(A) (B)

Imagens 3 e 4: a imagem (A) ramal do Pioneiro e a imagem (B) ramal do Piquiazal. Fotos: Rômulo Marques.

Segundo Irenildo ET AL (2012):

Somados a estes problemas, tem-se que em muitos assentamentos, devido à precariedade das infraestruturas básicas, muitas famílias não moram nos seus lotes, sendo muito assentados abrigados a percorrerem longas distancias até o local onde produzem o que é muito mais dificultoso ainda, quando se leva em consideração o péssimo estado dos ramais, vias de acesso que muitas vezes não permitem a passagem de nenhum tipo de veículo até as proximidades das plantações dos assentados, impossibilitando, dessa forma, o escoamento da produção. (SILVA ET AL, 2012:10).

Diante das imagens que se apresentam, observa-se uma grande dificuldade de acesso das pessoas e do escoamento da produção, assim conversando com alguns moradores do assentamento, eles nos relataram que a estrada que oferece acesso ao assentamento atualmente está um pouco viável, todavia vale aqui ressaltar que estas imagens e a visita a esta comunidade se fez no período de verão e que consequentemente a estrada

oferece uma leve condição de infraestrutura, por outro lado em períodos chuvosos estas estradas se tornam intrafegáveis e em alguns momentos dela, inunda completamente.

Em relação ao transporte da produção, estes agricultores utilizam estas estradas para se locomoverem até ao município de Macapá e Mazagão se instalando na feira do bairro Buritizal e (Bairro) respectivamente, contando com o suporte de um caminhão que desloca os agricultores até os espaços das feiras. Ao conversar com um dos agricultores, questionando um pouco mais sobre este suporte que conduz a produção e obtendo informações do órgão competente, cruzamos alguns dados e descobrimos que este caminhão não está cumprindo a sua tabela de atender o assentamento do Piquiazal. E um dos produtores justificou essa questão alegando que o caminhão não adentra mais no assentamento devido à baixa produção dos assentados, mas em uma visita a secretaria de desenvolvimento rural do Amapá (SDR-AP) um funcionário relatou que o caminhão adentra a feira a cada 15 dias, de uma forma ou de outra, o assentamento mesmo com suas dificuldades de acesso e a produção dos alimentos, vale aqui esclarecer que ainda existem muitos agricultores que produzem e necessitam dos transportes necessários para ajudar-lhes no suporte da produção, com essa possível deficiência muitos dos assentados que produzem, necessitam tirar dos seus bolsos para pagar um transporte particular.

1.3 Comercialização dos produtos

O assentamento do Piquiazal tem como principal produto a mandioca para o beneficiamento da farinha, assim como outros produtos como o cupuaçu, abacaxi, abacate, açaí, maracujá, laranja, batata, milho, macaxeira entre outros, todavia vale ressaltar que a farinha é o produto mais produzido dentro do assentamento.

Em 2012 segundo a secretaria de desenvolvimento rural do Amapá (SDR-AP), o assentamento do Piquiazal teve uma produção de pouco mais de 10 toneladas de produtos que foram transportados para a feira do produtor que acontece em Macapá. Dentre essa produção mais de 50% representa a farinha e se considerarmos a farinha, a coma de tapioca e o tucupi que são os derivados da mandioca totalizam mais de 80% da produção dos assentados.

( A ) ( B )

( c )

Imagens 5, 6 e 7: (A) plantação de mandioca; (B) casa da farinha e (C) comercialização da farinha. Fotos: Rômulo Marques.

Em relação ao uso do extrativismo observa-se a extração da Bacaba que é realizada no período de Outubro a Março e do Piquiá que é de Fevereiro a Março, essaatividade tem como objetivo na complementação da renda dos moradores que em seus terrenos podem usufruir dessa atividade.

A comercialização dos produtos dos assentados é feito na feira do produtor localizada na capital Macapá, no bairro Buritizal e no município de Mazagão. Em Macapá existe uma feira de maior proporção, onde o mercado consumidor é relativamente maior e a estrutura oferecida pelo estado, segundo os assentados é considerável, ela acontece a cada 15 dias para os assentados do Piquiazal (é quando o caminhão da feira devia entrar no assentamento) e a secretaria desenvolvimento rural (SDR) além da suposta disponibilização do caminhão que já foi citado acima, possui uma estrutura relativamente melhor do que a de Mazagão, mas ainda muito aquém do que realmente os agricultores familiares necessitam.

Imagem 8: Feira do produtor no bairro Buritizal. Foto: Gabriel Penha. Fonte G1-AP.

A feira que acontece no Mazagão Novo ocorre todos os sábados no período da manhã, o município disponibiliza um caminhão para buscar a produção dos assentados, mas isso acontece de forma conjunta, pois nesta feira participa assentados do Piquiazal, Pancada do Camaipí e alguns produtores da comunidade do Carvão, além do caminhão a prefeitura oferece um espaço para a comercialização desses produtos. Nesse espaço apresenta uma estrutura mínima para este fim, é um local pequeno para agregar esses produtores, produtos e a sociedade que faz uso desses espaços para comprar os derivados da produção camponesa.

Imagem 9: Espaço onde ocorre a feira no município Mazagão. Foto: RômuloMarques

Vale acrescentar, que estes dados citados sobre a comercialização é somente dos produtos que chegam às feiras, contudo estes produtores não vendem somente nesses ambientes, mas sim comercializam em seus lotes como uma alternativa de mercado.

2. Das perspectivas

Abordar as perspectivas dos assentados em relação ao seu próprio espaço que estão inserindo é um exercíciode reflexão na relação entre meio e homem e suas formas de territorialidade.Então para começar vamos conceituar o que é perspectivas dentro da forma semântica da língua portuguesa:

A arte de representar os objetos sobre um plano tais como se apresentam à vista (...). Aspectos sob o qual uma coisa se apresenta; ponto de vista (...). Expectativa, esperança, probabilidade (...). Esperado no futuro. (Aurélio, 1999:1.553).

As perspectivas de uma pessoa em relação a seu modo de vida futuramente pode ser negativo ou positivo levando em conta as condições sociais ou econômicas, contudo seja como for, não é diferente para aquelas pessoas que estão incluídas em assentamentos e além disso contar com o apoio de órgãos públicos que oferecem certa sustentabilidade para os agricultores que ali vivem.

Na visita ao assentamento realizada através do trabalho de campo, diante de varias perguntas elaboradas, uma delas foi especificado desta maneira, “quais as suas perspectivas em relação ao assentamento?” e assim obtemos várias respostas ou opiniões futuras sobre a sua impressão sobre sua produção e reprodução. Muitas respostas foram diretas e outras trazidas com um sentimento de esperança, tristeza e revolta. Quanto àqueles que pensam positivo em relação ao assentamento, acreditam que futuramente vai mudar a situação, quando a partir do momento que as políticas públicas possam ser planejadas, efetuada e acompanhada. Segundo aqueles que têm esperança pode acontecer a tão esperada e pensada mudança. Algumas consternações se traduzem ao sentimento de abandono dos agricultores por parte do poder publico competente, o qual segundo os assentados a equipe técnica do RURAP dificilmente aparece para visitar este assentamento o que deixa as pessoas aflitas sem quase o acompanhamento em direção aos agricultores e não agricultores. Entretanto os apelos são dirigidos ao governo, o qual segundo um morador que vive há 26 anos no assentamento não acredita em nenhuma melhoria devido ao tempo que já reside na localidade, todavia a outra parte(órgão publico) se justifica alegando que os recursos não cobrem as necessidades e as demandas dos assentamentos no Amapá.

Além disso, os moradores dos assentamentos relataram algumas coisas que deveriam ser resolvidas para melhorar as condições dos assentados como: melhorar as estradas que dão acesso ao Piquiazal, órgãos públicos mais atuantes em cumprir o seu trabalho, mecanização da agricultura, linhas de crédito que cubram os financiamentos, diminuição da burocracia para a terra ser legalizada, e aquisição para os créditos de habitação.

Dentre outras coisas, algo que pode ser pensado e questionado é: onde está a associação dos agricultores do Piquiazal? Diante da visita feita e dialogando com os moradores daquele local, eles relataram que a associação esta menos atuante e consequentemente os agricultores se sentem prejudicados, pois segundo eles se associação funcionasse não dependeriam totalmente do governo e os agricultores teriam certa dependência, pois uma

associação com gestores responsáveis e preocupados com o bem estar dos assentados, sem duvida nenhuma obteriam bons efeitos, e este processo de declínio da atuação da associação vem se arrastando a um longo período:

ASAPI – associação dos agricultores do Piquiazal está inadimplente na receita federal; a grande maioria dos associados está insatisfeita devido ao desinteresse e irresponsabilidade dos agentes da associação. (IEPA, 2005:64)

Em contra partida a criação de uma cooperativa dentro do assentamento poderia amenizar os problemassócio econômicos, fazendo com que a agricultura familiar possa concorrer de igual dentro do sistema capitalista. Ao compreender esta questão das cooperativas é uma forma de melhorar a vida dos agricultores através da venda dos seus produtos agregados criando uma logística de mercado e se inserindo assim de fato dentro da lógica da produção e reprodução da sociedade atual.

Segundo um morador que vive mais de 18 meses no assentamento e ainda não possui o titulo do lote e licença ambiental para produzir, acredita no potencial das terras para a agricultura, afirma que as linhas de créditos oferecidas pelo governo não cobrem os investimentos e nem as necessidades dos projetos, o qual os agricultores querem implementar, afirmando que precisa ser criado políticas sérias para atender os agricultores familiares e por fim explica a importância da assistência técnica para que os mesmos se desenvolvam, pois a agricultura se tornou mecanizada e o apoio das instituições que estão diretamente ligadas a esse setor como o RURAP tem um papel de grande importância nesse processo evolutivo da agricultura familiar.

Para um outro morador que vive mais de 20 anos dentro do assentamento, enfatiza assim:

Ainda! Viu porque se eu sou filho de alguém, o responsável por mim se eu dependo dele é o meu pai não é? Agora se eu dependo dele, agora se eu não dependo dele tudo bem, aqui nos depende do INCRA. (trabalho de campo, 2013).

Podemos perceber o quanto os assentados possuem uma grande interdependência dos órgãos estatais para colocar em funcionamento a agricultura familiar dentro do estado. Em outro trecho dessa conversa o

morador comenta que não deseja ficar refém desse processo, dessa dependência diretamente ligado ao governo, que busca a emancipação das raízes que fazem dos agricultores se vincularem à estrutura do estado. Como a agricultura vai se desenvolver quando falta água? Sabemos que no estado do Amapá não temos chuva periodicamente durante o ano todo, então fica claro que para se planejar um setor da economia, precisa de estudos que mostre de fato as necessidades de cada área. Para finalizar o depoimento deste morador; as pessoas que estão no assentamento possuem duas alternativas, uma é tentar vencer todas as barreiras da burocracia e as naturais, da falta de estrutura, por falta de serviços básicos que eles tem direitos como qualquer outro cidadão, da falta de vontade em investir na agricultura familiar tanto a nível estadual e nacional. E o outro e o que geralmente acontece dentro do Piquiazal que é o abandono do seu lote por não ter como vencer todas as dificuldades já citadas e se transferir para cidade fazendo aumentar ainda mais as problemáticas urbanas como moradia, segurança entre outros, e assim afirmou:

Ah! Vou vender essa porcaria qualquer dinheiro, inchar a cidade virar ladrão, bandido lá, o bocorinha tá cheio de tatuagem, a maioria daqui tá lá em Macapá, Santana e Mazagão (trabalho de campo, 2013).

A partir dos relatos dos moradores do assentamento fica bem claro o que eles esperam no futuro em relação á produção camponesa familiar, muitos simplesmente não aguentam tanto descaso e prefere tentar uma vida melhor nas cidades mais próximas. Outros apesar de todas as dificuldades que agricultura apresenta no estado ainda tenta superar todas as limitações, no qual o estado é principal responsável em não atender as demandas básicas desses sujeitos sociais que compõem a população amapaense.

Conclusão

Portanto, a agricultura familiar é um grande setor de nossa economia e é responsável por aproximadamente 70% da produção de alimentos no Brasil, mas essa realidade não condiz com a eventual caracterização o qual o setor vem sofrendo por parte do poder publico. Nos assentamentos do estado do Amapá encaram esse processo contraditório de maneira valente, pois sendo em alguns dos assentamentos sendo deixadas de lados pelo poder publico, o assentamento do Piquiazal, localizado no município de Mazagão encaixa-se no

contexto de quase total abandono; os créditos que são destinados aos agricultores familiares que muitas das vezes não conseguido por eles, em alguns casos por uma burocracia muito grande, a assistência técnica extremamente ineficiente e sem qualidade no serviço, o processo de escoamento da produção sofre com varias situações como os ramais sem condições de tráfego dos caminhões da feira e que estes caminhões além de carregar a produção dos agricultores e este também serve como transporte dos agricultores para as feiras colocando a suas vidas em perigo, haja vista que ramais não apresentam uma boa condição de trafego;e a comercialização dos produtos nas feiras com espaços sem estruturas adequadas para tal processo.

As dificuldades são imensas pelos agricultores familiares dentro do assentamento do Piquiazal para dar continuidade no processo produtivo e isso reflete diretamente em condições subjetivas em relação as suas condições de permanência dentro de seus lotes, muitos apontam caminhos para o poder publico agir, mas infelizmente quase nada é feito e por isso uma grande parte desses agricultores, inclusive um vive a mais de 20 anos no assentamento acredita que se o rumo das politicas públicas não mudar a favor deles migrarão para as cidades próximas como Macapá e Santana.

Enquanto em muitos lugares do Brasil o camponês ou campesinato luta para entrar nas terras e ter o direito de plantar e colher. No assentamento do Piquiazal o discurso é inverso, os agricultores lutam por condições mínimas de produção e reprodução, lutam por demandas que atendam de maneira eficiente a agricultura familiar, um setor com um dos maiores potenciais do Brasil, mas que ainda luta pela sua sobrevivência.

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