dialética_métodos de abordagem

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  • MtodoMetodologia a cincia que estuda os mtodos utilizados no processo de

    conhecimento. , portanto, [...] uma disciplina que se relaciona com a episte-mologia e consiste em estudar e avaliar os vrios mtodos disponveis, identi-ficando suas limitaes ou no no mbito das implicaes de suas aplicaes (COSTA, 2001, p. 4).

    O mtodo o caminho a ser trilhado pelo pesquisador, desde o incio de sua caminhada, com a formulao de um problema, at a comprovao da hiptese (resposta ao problema), ao final da pesquisa. Pode ser entendido como um conjunto de etapas que sero vencidas de forma sistematizada na busca pela verdade.

    Note-se que essa verdade validada pela cincia, uma vez que, em sen-tido absoluto, ela jamais ser alcanada, [...] pois mesmo depois de mil expe-rimentos que produzam resultados consistentes com uma teoria cientfica, basta um, apenas um resultado contrrio, para derrubar uma teoria cient-fica (CRUZ; RIBEIRO, 2003, p. 33).

    E, para que uma pesquisa seja considerada cientfica, ela dever utilizar um mtodo tambm cientfico, ou seja, deve propiciar que essa busca possa ser refeita por outros pesquisadores, os quais devem identificar com clareza e preciso as tcnicas e os raciocnios j utilizados.

    Mtodo cientficoA cincia busca capturar e analisar a realidade, e o mtodo que faz com

    que o pesquisador consiga atingir seus objetivos (DEMO, 1985, p. 20).

    No h cincia sem mtodo; contudo, o mtodo sozinho no consegue produzir cincia. A disciplina do pesquisador na busca pela verdade faz com que, juntamente com o mtodo, respostas possveis sejam alcanadas. Isso

    Mtodos de abordagem e de procedimento

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    Metodologia da Pesquisa

    porque o mtodo o responsvel pela conduo do pesquisador ao seu objetivo, ele quem leva o pesquisador desde o problema inicial que o motivou a pesqui-sar at a comprovao de uma resposta, no trmino da pesquisa.

    O mtodo responsvel pela transparncia e pela objetividade da pesquisa. Significa, portanto, que o mtodo traduz a forma por meio da qual o pesquisa-dor obteve seus resultados, possibilitando a outros pesquisadores seguirem os mesmos passos, o mesmo caminho utilizado pelo pesquisador.

    Todavia, no se pode confundir mtodo com processo. Ao primeiro fornecida uma abordagem mais ampla, enquanto que o processo [...] a aplicao espe-cfica do plano metodolgico e a forma especial de execuo das aes (CRUZ; RIBEIRO, 2003, p. 33).

    Podem-se destacar quatro prticas operacionais que consagram o mtodo cientfico:

    Criao de um problema esse um questionamento, uma indagao, ou seja, aquela curiosidade que o levou a pesquisar.

    Indicao de uma hiptese uma resposta a priori ao problema desta-cado.

    Coleta de dados busca de dados que venham responder o problema e confirmar a hiptese.

    Anlise da resposta verificao da viabilidade da hiptese encontrada.

    Contudo, no a simples utilizao dessas prticas operacionais que torna uma pesquisa cientfica. preciso optar por um mtodo especfico, que ser res-ponsvel pelas diferentes formas de se chegar s respostas pretendidas. Nesse sentido, o mtodo cientfico [...] no supre os conhecimentos, etapas, decises e planos necessrios para a investigao; no entanto, pode ser de extrema impor-tncia para que possamos orden-los, precis-los e enriquec-los (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2004, p. 53).

    Frente a tal cenrio, possvel afirmar que existem diferentes mtodos que correspondem a cada ramo da cincia e a cada tema a ser pesquisado. As classi-ficaes dos mtodos so muitas. Aqui utilizaremos a classificao que divide os mtodos em de abordagem e de procedimento.

  • Mtodos de abordagem e de procedimento

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    Mtodos de abordagemSo os mtodos que possuem carter mais geral. So responsveis pelo ra-

    ciocnio utilizado no desenvolvimento da pesquisa, ou seja, [...] procedimentos gerais, que norteiam o desenvolvimento das etapas fundamentais de uma pes-quisa cientfica (ANDRADE, 2001, p. 130-131).

    Dentre os mtodos de abordagem, destacam-se: o indutivo, o dedutivo, o hipo-ttico-dedutivo e o dialtico.

    Mtodo indutivo

    um mtodo responsvel pela generalizao, isto , parte-se de algo particu-lar para uma questo mais ampla, ou seja, geral. Para Lakatos e Marconi (2003, p. 86):

    Induo um processo mental por intermdio do qual, partindo de dados particulares, sufi-cientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, no contida nas partes exa-minadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos levar a concluses cujo contedo muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam.

    O seu objetivo [...] chegar a concluses mais amplas do que o contedo es-tabelecido pelas premissas nas quais est fundamentado (MEZZAROBA; MON-TEIRO, 2003, p. 63).

    Essa generalizao no ocorre por meio das escolhas a priori das respostas, sendo que estas devem ser repetidas, geralmente baseadas na experimentao. Isso significa que a induo parte de um fenmeno para chegar a uma lei geral por meio da observao e de experimentao, descobrindo-se a relao existente entre dois fenmenos para se generalizar.

    Podem-se destacar algumas etapas para a utilizao do mtodo indutivo:

    Observao identificao de fenmenos da realidade, seja de forma na-tural, seja de forma induzida.

    Hiptese resposta prvia.

    Experimentao anlise da reao causa-efeito.

    Comparao classificar e analisar os dados obtidos.

    Generalizao tratar de forma universal os dados obtidos.

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    Metodologia da Pesquisa

    Os professores Orides Mezzaroba e Cludia Monteiro (2003, p. 63) indicam o cuidado que se deve ter na utilizao do mtodo indutivo:

    Vamos imaginar essa situao: os jornais do cobertura a um grande caso de corrupo de um proeminente magistrado nacional. O cidado leigo em Sociologia utiliza seu senso comum para refletir e chega seguinte concluso: Se aquele juiz X corrupto, logo todos os juzes tambm so!

    Para que no sejam cometidos equvocos na utilizao desse mtodo, primei-ramente o pesquisador dever se certificar que a relao que se pretende genera-lizar verdadeira, que os fenmenos ou fatos relacionados devem ser idnticos e, por fim, no se pode relevar o aspecto quantitativo dos fatos ou fenmenos. Apri-morando esses cuidados, foram estipuladas algumas leis para o mtodo indutivo (NRICI apud LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 88):

    [...] nas mesmas circunstncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos;

    o que verdade de muitas partes suficientemente enumeradas de um su- jeito, verdade para todo esse sujeito universal.

    Portanto, note-se que nesse mtodo imprescindvel a verificao do dado particular, assim como de sua utilizao de forma geral, por meio de uma experi-mentao ampla para que a generalizao obtida seja considerada verdadeira.

    Mtodo dedutivo

    O mtodo dedutivo o oposto do indutivo. Ele parte de uma generalizao para uma questo particularizada.

    Esses argumentos gerais apresentam-se como verdadeiros, pois j foram vali-dados pela cincia. H, portanto, uma relao lgica entre as premissas gerais e os particulares, pois caso a primeira seja considerada invlida a concluso tambm o ser. Essa logicidade fez com que esse mtodo fosse amplamente utilizado por pesquisadores mais formalistas.

    Esse tipo de mtodo fundamenta-se no silogismo: partindo de uma premissa maior, passando por outra menor e chegando a uma concluso particular. Vamos ver um exemplo:

    Premissa maior os empregadores so favorveis flexibilizao das leis trabalhistas.

  • Mtodos de abordagem e de procedimento

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    Premissa menor Mrio empregador.

    Concluso logo, Mrio a favor da flexibilizao das leis trabalhistas.

    Note-se que, se a premissa maior for considerada falsa, a concluso no ter validade. A questo fundamental da deduo est na relao lgica que deve ser estabelecida entre as proposies apresentadas, a fim de no comprometer a validade da concluso (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 65).

    Para Salomon (1996, p. 30), existem duas diferenas bsicas entre os mtodos indutivo e dedutivo. A primeira consiste no fato de que se todas as premissas so verdadeiras, no mtodo dedutivo, a concluso deve ser verdadeira. J no mtodo indutivo, se todas as premissas so verdadeiras, a concluso provavelmente, mas no necessariamente, verdadeira.

    A segunda diferena que no mtodo indutivo a concluso traz ideias que no estavam presentes nas premissas, enquanto que no mtodo dedutivo todas as informaes j estavam, mesmo que indiretamente, previstas nas premissas.

    Note-se que o mtodo dedutivo possibilita ao pesquisador caminhar do co-nhecido para o desconhecido com uma margem pequena de erro. Todavia, esse mtodo bastante limitado, uma vez que a concluso a que se chegou no pode ultrapassar as premissas (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 65).

    Outro aspecto a ser observado em relao a esses dois mtodos que

    [...] no se apresentam de forma muito clara, isto porque ambos esto fundamentados no pro-cesso observacional. Ressalta-se, no entanto, que, se por um lado, o mtodo dedutivo pode nos levar construo de novas teorias e novas leis, por outro, o mtodo indutivo s nos possibilita chegar a generalizaes empricas de observaes. (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 66)

    O pesquisador, ao escolher o mtodo para sua pesquisa, dever levar em con-siderao os seus objetivos, o que e onde pretende chegar. No se deve esquecer tambm que os mtodos de abordagem devem estar presentes em todos os mo-mentos da pesquisa, independentemente da parte da monografia que est sendo analisada.

    Mtodo hipottico-dedutivo

    O mtodo hipottico-dedutivo busca unir os dois anteriores, acrescentando a racionalizao do mtodo dedutivo experimentao do mtodo indutivo.

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    Metodologia da Pesquisa

    Foi desenvolvido por Karl R. Popper e consiste na eleio de hipteses (propo-sies hipotticas), as quais possuem uma certa viabilidade para responder um determinado problema de natureza cientfica.

    Aps a eleio dessas hipteses, busca-se o falseamento delas, a fim de com-provar sua sustentabilidade. O mtodo encerra-se com a comprovao das hip-teses; caso sejam refutadas, as hipteses devero ser refeitas.

    No entender de Soares (2003, p. 39), o mtodo hipottico-dedutivo consistiria

    [...] na construo de conjecturas, as quais deveriam ser submetidas a testes, os mais diversos possveis, crtica intersubjetiva e ao controle mtuo pela discusso crtica, publicidade crtica e ao confronto com os fatos, para ver quais as hipteses que sobrevivem como mais aptas na luta pela vida, resistindo s tentativas de refutao e falseamento.

    Problema

    Hipteses

    Falseamento das hipteses

    Comprovao ou no das hipteses

    Figura 1 Passos de utilizao do mtodo hipottico-dedutivo.

    Para que um pesquisador refute uma hiptese, ele dever atuar de forma cr-tica. O prprio Popper, em suas obras A Lgica da Pesquisa Cientfica (1934) e Con-jecturas e Refutaes (1963), afirmou que impossvel atingir a verdade. A cincia no trabalha nessa esfera, mas sim na esfera da probabilidade.

    Isso quer dizer que uma teoria cientfica pode fornecer apenas solues temporrias para os problemas que enfrenta, pois assim que uma eventual nova teoria responder de forma diferen-te, ou melhor, ao problema suscitado, a primeira ser refutada. (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 69)

    Na rea jurdica, esse fato verificvel empiricamente, pois as decises so al-teradas cotidianamente. Como o Direito linguagem e depende da interpretao dos seus operadores, ser varivel. Uma teoria (hiptese, no nosso caso) ser vista como adequada, para no utilizar o termo verdadeira, at que seja falseada e no consiga se manter; ser, portanto, refutada.

  • Mtodos de abordagem e de procedimento

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    Mtodo dialtico

    A primeira questo a ser pontuada a respeito da identificao do mtodo dia-ltico com a corrente de pensamento marxista. O mtodo dialtico no foi criado por Marx, mas sim utilizado na criao de sua teoria. Por isso, a opo por esse mtodo no implica a adoo de um pensamento de esquerda.

    Dialtica a arte de dialogar, ou seja, de argumentar e contra-argumentar em relao a assuntos que no podem ser demonstrados. A dialtica, portanto, restringia-se, nesse caso, emisso de opinies, [...] que poderiam ser conside-radas racionais desde que fundamentadas em uma argumentao consistente (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 71).

    Mas h tambm outra forma de entender o mtodo dialtico, que disciplina a construo de conceitos para diferenciar os objetos, e examin-los, com rigor cien-tfico. Dessa forma, aquilo que se coloca perante o pesquisador como verdade deve ser contraditado, confrontado com outras realidades e teorias para se obter uma concluso, uma nova teoria. Utilizar o mtodo dialtico como raciocnio faz com que seja possvel [...] verificar com mais rigor os objetos de anlise, justa-mente por serem postos frente a frente com o teste de suas contradies poss-veis (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 72).

    Mas foi com Hegel que a dialtica ganhou espao na cincia, j no sculo XIX. Esse pensador identificou trs momentos bsicos que compem o mtodo dia-ltico: a tese, que constitui uma pretenso de verdade, a anttese, que vai negar a tese apresentada, e a sntese, que surge do embate terico entre tese e anttese. A sntese, por sua vez, constituir uma nova tese, qual ser proposta uma anttese, e assim por diante. Dessa forma, o mtodo dialtico impe movimento, pois a concluso ser acatada como uma nova tese, dando continuidade ao mtodo.

    Vejamos como fica o esquema do mtodo dialtico:

    Tese

    Anttese

    Sntese (Nova tese)

    Figura 2 Esquema do mtodo dialtico.

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    Metodologia da Pesquisa

    Note-se que a partir desse mtodo, o objeto proposto para se superar me-diante a proposio de uma anttese, originando um resultado distinto. a partir dessa permanente superao que podemos afirmar que o mtodo dialtico um mtodo de movimento.

    O que a dialtica faz de diferente captar as estruturas da dinmica social, no da esttica. No , pois, um instrumental de resfriamento da histria, tornando-a mera repetio estanque de esquemas rgidos e j no reconhecendo contedos variados e novos, mas um instrumental que exalte o dinamismo dos contedos novos, mesmo que se reconhea no haver o novo total. (DEMO, 1985, p. 91)

    Mesmo sendo um mtodo interessantssimo, sua utilizao complexa e ne-cessita de um amadurecimento na pesquisa.

    Mtodos de procedimento ou secundriosOs mtodos de procedimento constituem etapas mais concretas da pesquisa,

    explicando objetos menos abstratos. Relacionam-se, portanto, especificamente com as fases da pesquisa e no com o plano geral dela.

    Mtodo experimental

    O mtodo experimental um mtodo fundado na experincia. Seu objeto controlado para se atingir resultados pretendidos. Dessa forma, o objeto colo-cado sob condies ideais, reproduzidas em laboratrios ou no, selecionando-se as hipteses a serem verificadas.

    Mtodo estatstico

    O mtodo estatstico empregado nas pesquisas quantitativas, uma vez que trata de elementos de carter matemtico. Pretende fornecer uma base concreta e segura das informaes a serem analisadas. Ter grficos e apresentaes anal-ticas das tendncias caractersticas dos fenmenos pesquisados.

    Mtodo histrico

    O mtodo histrico coloca os dados da pesquisa sob uma perspectiva histrica. Isso pode ocorrer de trs formas:

    comparar o conjunto dos elementos que existe hoje com suas origens his- tricas;

  • Mtodos de abordagem e de procedimento

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    comparar formaes anteriores que eram precursoras do que h na atuali- dade;

    acompanhar a evoluo do objeto pesquisado pela histria.

    Mtodo comparativoO mtodo comparativo consiste no confronto entre elementos, levando em

    considerao seus atributos. Promove o exame dos dados a fim de obter diferen-as ou semelhanas que possam ser constatadas, e as devidas relaes entre as duas.

    Pode ser unido ao mtodo histrico, realizando comparaes entre os dados do presente com os do passado.

    Texto complementar

    A cincia procura certezas(ACHINSTEIN, 2005)

    No que toca a este critrio, a cincia parece-se com a matemtica e di-ferente da metafsica, da teologia e da astrologia, as quais, alegadamente, nunca podero ser seno especulativas. Nas Regulae ad Directionem Ingenii (Regras para a Direo do Esprito, 1628) a segunda regra de Descartes diz-nos que importa lidar apenas com aqueles objetos para cujo conhecimento certo e indubitvel os nossos espritos parecem ser suficientes. Os empiristas en-contram-se mais divididos. Newton, que rejeitou a ideia de Descartes de que a cincia deveria procurar proposies indubitveis, reconhece na sua quarta regra do mtodo cientfico que qualquer proposio, por muito sustentada que seja, est sujeita a confrontar-se com excees, medida que novos fen-menos vo sendo observados. Ainda assim, os cientistas deveriam sempre se esforar por procurar as maiores certezas que as suas investigaes empricas lhes permitissem. Essas certezas podem ser obtidas deduzindo proposies a partir dos fenmenos e generalizando-as atravs da induo.

    Entre os empiristas, no outro extremo oposto a Newton, esto Popper e Laudan. Para Popper, a cincia no pode ter um elevado grau de certeza, uma

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    Metodologia da Pesquisa

    vez que a utilizao de quaisquer generalizaes indutivas que poderia gerar essa certeza carece de justificao. Tampouco desejvel, uma vez que os cientistas fariam as generalizaes mais fortes possvel, logo, as mais improv-veis. Para Laudan (1977) a cincia procura oferecer solues adequadas para problemas interessantes, para os quais as questes da verdade, da certeza ou mesmo da probabilidade so irrelevantes.

    Uma perspectiva empirista que se situa entre estes dois extremos a de Carnap e de outros probabilistas. Os cientistas devem procurar provas emp-ricas que sustentem uma dada teoria, aumentando a sua probabilidade, mas sem que necessariamente esta probabilidade seja elevada (para uma crtica, veja-se Achinstein, 1983).

    Os cientistas seguem um mtodo cientfico

    Os praticantes das no-cincias no o fazem. Um mtodo cientfico um conjunto de regras que os cientistas deveriam seguir para descobrir e testar leis e teorias. Se tais regras existem e, assim sendo, qual a sua formulao, se so universais para todas as cincias ou dentro de uma dada cincia, se mudam de uma poca para a outra, so questes calorosamente disputadas.

    De acordo com uma perspectiva, existem regras destinadas a testar as teo-rias cientficas que se aplicam a toda a cincia em todas as pocas. Esta pers-pectiva foi abraada por Descartes, que props 21 dessas regras; foi tambm defendida por Newton (1687), que props quatro regras de pensamento para a filosofia (natural), consistindo em duas para inferir causas de coisas, e duas para produzir generalizaes indutivas a partir de fenmenos observados.

    As duas mais importantes posies empiristas empenhadas num mtodo cientfico universal so o hipottico-dedutivismo e o indutivismo. Perante os dados e os problemas, o cientista comea por propor uma hiptese, a qual no indutiva ou dedutivamente inferida a partir dos dados ou de qualquer outra coisa, mas simplesmente apresentada como uma conjectura. Partindo dela e, possivelmente, de outras suposies, so deduzidas concluses obser-vveis, geradas por via dedutiva, utilizando a lgica e, frequentemente, a matemtica. Se as concluses so confirmadas pela observao, a hiptese provisoriamente aceita. Se descobrir-se que so falsas, a hiptese rejeitada e proposta outra nova hiptese. Esta a perspectiva de Popper.

  • Mtodos de abordagem e de procedimento

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    Contrastando com ela, os indutivistas exigem mais um passo: um argu-mento indutivo que d um apoio independente hiptese ou teoria. Este consiste em aplicar aquilo que se observou num nmero limitado de casos a todos os casos abrangidos por uma dada lei, ou em procurar causas semelhan-tes para efeitos semelhantes. Indutivistas como Newton ou Mill rejeitaram o mtodo hipottico-dedutivo com a justificao de que diferentes hipteses incompatveis podem implicar os mesmos dados. Aquilo de que se necessita que uma delas tenha um suporte indutivo independente.

    A existncia de um mtodo cientfico universal tem sido contestada por vrios autores do sculo XX, especialmente a partir dos anos 1960. Thomas Kuhn (1962), defendendo uma abordagem histrica e relativista, afirma que numa dada poca os cientistas trabalham dentro de um paradigma, o qual consiste num conjunto de conceitos, prticas, parmetros de avaliao, regras de pensamento e mtodos de observao que variam consideravelmente de uma cincia e de uma poca para outra. O paradigma define os problemas que tm que ser resolvidos e os mtodos para o fazer. No h um mtodo cientfico comum a todos os paradigmas.

    Para terminar, foi advogada uma abordagem sociolgica da cincia (veja- -se, por exemplo, Pinch, 1986), da qual existe uma verso forte que rejeita que se recorra s regras metodolgicas para explicar os procedimentos dos cien-tistas. As teorias, sendo subdeterminadas pelos dados, no podem ser inferi-das desses dados atravs de regras. Dever-se-ia, em vez disso, observar dentro da comunidade cientfica os fatores sociais que explicam a forma como uma teoria cientfica se desenvolve e o grupo negocia a sua aceitao.

    Ampliando seus conhecimentosMetodologia da Pesquisa Jurdica: teoria e prtica da monografia para cursos de

    Direito, de Eduardo C. B. Bittar, editora Saraiva.

    Metodologia Cientfica, de Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi, editora Atlas.

    A Lgica da Pesquisa Cientfica, de Karl Popper, editora Cultrix.