dia do nutricionistacrn2.org.br/crn2/conteudo/revista/revista_edicao_n20.pdf · 2015-12-23 ·...

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No mês em que se comemora o dia do Nutricionista, o CRN-2 e o CRN-10 contam um pouco da história da profissão através de alguns personagens e áreas de atuação, homenageando, assim, cada um dos 7.000 profissionais do RS e de SC Impresso Especial 0344/01 ETC/DR/RS CRN-2 CORREIOS Dia do Nutricionista

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No mês em que se comemora o dia do Nutricionista, o CRN-2 e o CRN-10 contam um pouco da história da profissão através de alguns personagens e áreas de atuação, homenageando, assim, cada um dos 7.000 profissionais do RS e de SC

ImpressoEspecial

0344/01 ETC/DR/RSCRN-2

CORREIOS

Dia do Nutricionista

Prezados colegas.

Nós, da Comissão de Comunicação e do plenário do CRN-2, gostaríamos de, hoje, entregar a você, Nutricio-nista, uma revista que contasse a história profissional de cada um dos 7.000 profissionais que compõem atual-mente o CRN-2. A história que cada um carrega: de luta, de desafios, de vitórias e do que é ser um Nutricionista, hoje, no Brasil. Além disso, gostaríamos de poder relatar os sonhos e aspirações dos novos profissionais. Como isto é impossível nestas poucas páginas desta edição, trazemos, então, os depoimentos da trajetória profissio-nal de alguns colegas que possam representar cada um de nós. Eles falam um pouco sobre algumas das áreas de atuação profissional, que crescem e se consolidam a cada dia, já que não podemos falar de todas.

Muitos foram e são os desafios que enfrentamos para ocupar nossos espaços nos locais de trabalho. Apesar de termos alcançado muitas de nossas metas, precisamos continuar batalhando diariamente. Não só as entidades de classe devem lutar para que haja maior re-conhecimento da profissão. Esta é uma tarefa que cada Nutricionista deve se colocar cotidianamente, para que, assim, conquistemos mais oportunidades de trabalho e melhor remuneração.

Que o dia 31 de agosto não seja apenas de comemo-rações, mas seja, também, um momento para reflexões da atuação e da colaboração de cada um, como cidadão em uma sociedade mais igualitária, com mais saúde, educação e qualidade de vida.

Nutricionista, por tudo isto: nossos parabéns!Esta edição marca também uma despedida dos gaú-

chos para com os catarinenses. Afinal, na próxima edi-ção da revista, o plenário do CRN-10 já estará constituí-do. Um trabalho de parceria por 29 anos. Uma união de muitas realizações, muitos desafios, muitas discussões, mas que sempre resultou em crescimento: pessoal e, principalmente, profissional. Nossos colegas de Santa Catarina lutaram para criação do CRN-10 e sentem-se em condições de gerenciar seu próprio Conselho. A to-

dos vocês colegas do Esta-do vizinho, boa sorte!

Ivete R. Ciconet DornellesPresidente CRN-2

Editorial

Alimentação EscolarEnsino, Pesquisa e ExtensãoCesta de AlimentosClínica de HemodiáliseEmpreendedorismoSPAIndústria de AlimentosEducação InfantilNutrição EsportivaNutrição HospitalarAlimentação ColetivaRestaurantesClínica e Personal DietSaúde ColetivaBanco de AleitamentoResponsabilidade Social

Índice

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GESTÃO 2007/2010

Conselho Regional de Nutricionistas - 2a RegiãoAv. Taquara, 586/503, Porto Alegre, RS CEP 90460-210 - Fone/Fax: (51) 3330-9324E-mail: [email protected] / www.crn2.org.br

Conselho Regional de Nutricionistas - 10a RegiãoAv. Rio Branco, 787/207, Centro, Florianópolis, SC - CEP 8015-203 - Fone/Faz (48) 3222-1967E-mail: [email protected]

Conselho Editorial: Ivete R. Ciconet Dornelles, Mara Roma-nenco e Soraia AbuchaimJornalista Responsável: Flávia Lima MoreiraFotos: Stock photoImpressão: Gráfica TrindadeTiragem: 9000 exemplaresDiretoria:Presidente: Ivete R. Ciconet DornellesVice-Presidente: Sandra MelchionnaTesoureira: Ana Lice BernardiSecretária: Ana Cláudia Pereira de Paula

Expediente

No cenário mundial, a Nutrição surgiu – como ciência, política social e profissão – recentemente. É uma carac-terística do início do século XX. Os estudos científicos da área começaram a partir da Revolução Industrial europeia (final do século XVIII e início do XIX), que é considerada um dos grandes marcos da reorganização econômico-social da História. Os primeiros estudos de pesquisas, cursos para formação de especialistas e as primeiras agências condutoras das atividades na Nutrição foram criados no período entre as duas Guerras Mundiais, em dois continentes: Europa (Itália, França, Inglaterra, Alema-nha e Dinamarca) e América do Norte (EUA e Canadá). A seguir, incluiu-se nesse cenário a América Latina (Argen-tina e Brasil).

Na América Latina, a Nutrição teve forte influência de um médico argentino, Pedro Escudero. Foi ele o res-ponsável pela criação do Instituto Nacional de Nutrição em 1926, da Escola Nacional de Dietistas em 1933 e do curso de médicos dietólogos da Universidade de Buenos Aires. Os primeiros brasileiros a estagiar e participar de cursos promovidos pelo referido médico foram José João Barbosa e Sylvio Soares de Mendonça (curso de dietólo-

A origem

gos); Firmina Sant’Anna e Lieselotte Hoeschel Ornellas (curso de dietistas) e Josué de Castro, hoje uma referên-cia da área.

Trazendo um pouco mais essa história para o Brasil, os estudos relacionam o surgimento da Nutrição com a política empregada pelo Estado Nacional Populista, nas décadas de 1930 e 1940. Era época de modernização da economia nacional, refletindo o cenário europeu e norte-americano. Foi a partir de então, que as questões rela-cionadas à alimentação da população brasileira despon-taram de forma mais sistematizada. Foram apresentadas teses especialmente na faculdade de Medicina na Bahia e do Rio de Janeiro. E foi nesta época que surgiu o primeiro curso de Nutrição na Universidade de São Paulo.

Mas há divergência. Alguns estudos apontam para um começo anterior, com as obras de Eduardo Magalhães (1908) e de Álvaro Osório de Almeida (1906) no cam-po da fisiologia da alimentação. E há, ainda, estudos que citam pesquisas referentes às doenças provocadas pela carência de alimentos e hábitos alimentares mostrados pelo médico Gama Lobo (avitaminose A) e Nina Rodri-gues (sobre o consumo da farinha de mandioca).

Por ter surgido em uma época em que a evolução é acelerada, a Nutrição vem evoluindo de forma rápida e consistente. Ao mesmo tempo em que a profissão é re-gulamentada há apenas 40 anos, as áreas de atuação tem sido expandidas e consolidadas a cada ano. Essa conso-lidação é apontada como a segunda fase da Nutrição no Brasil, que vai de 1950 a 1975. Nestes 25 anos, houve um aumento no número de cursos, de profissionais e de áreas de atuação. Com esse crescimento, outra grande evolução se fez urgente: a regulamentação da profissão, que aconteceu em 24 de abril de 1967. O próximo passo era a criação do órgão regulador da profissão: a história dos Conselhos surgiu em 20 de outubro de 1978; de fato, em 30 de janeiro de 1980. Em 6 de março de 1980 foi oficializada a criação dos CRNs, instalados em junho de 1980. Desde então, passaram-se quase quatro décadas de trabalho e reconhecimento gradativo.

A partir desse momento, o Nutricionista passou a con-

quistar seu espaço como agente promotor da saúde. As áreas de ampliação só fazem crescer e a procura pela sua atuação é requerida em áreas cada vez mais diversifica-das. Começa, então, outra fase tão importante quanto as que a antecederam: a consolidação do conhecimento.

É esta história que contaremos a seguir, através da trajetória de personagens que ajudaram a construir esse caminho e que dão continuidade ao trabalho iniciado de forma tímida. É impossível reproduzir todas as histórias e citar todos os grandes profissionais de dois Estados (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) em uma revista. Mas, ao contar a evolução da profissão e suas áreas, valorizamos a atuação de cada profissional que, agindo com ética, de-dicação e paixão, fazem parte da história. Sinta-se parte de tudo o que for lido, pois o CRN-2 que, em 2010 com-pleta 30 anos, é feito por cada um de seus profissionais. E o CRN-10 surge em 2009 para concretizar o cresci-mento desta ciência.

O crescimento e a regulamentação

Da antiguidade, Hipócrates já dizia: “que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”

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Atualmente, o Conselho Federal de Nutricionistas seg-menta as áreas de atuação em sete áreas: Alimentação Co-letiva, Nutrição Clínica, Saúde Coletiva, Docência, Indústria

As áreas e as históriasde Alimentos, Nutrição em Esportes e Marketing na área de Alimentação e Nutrição. Estas sete áreas subdividem-se em outras, e a seguir apresentamos algumas delas.

A Alimentação Escolar é uma área recente e que vem ganhando cada vez mais importância no cenário brasi-leiro. Novas leis que a regulamentam foram aprovadas em 2009 e a qualidade deste serviço depende, essen-cialmente, da atuação do Nutricionista. Algumas cidades destacam-se nessa área, como os municípios de Campo Alegre (SC), Bagé e Novo Tiradentes (RS), premiados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) pelo trabalho desenvolvido. Porto Alegre (RS) também é destaque e serve como modelo não apenas para as cidades brasileiras, como para outros países. O trabalho desenvolvido na capital gaúcha é coordenado pela Nutricionista Sandra Pinho que recentemente foi convidada a ir à Bolívia, onde esteve 30 dias atuando como Consultora Internacional em Alimentação Escolar pelo Programa Mundial de Alimentos. O trabalho diário de cada um dos profissionais que atuam nessa área vai além do preparo das refeições de milhões de alunos. Este trabalho permite que eles tenham condições de estudar e se desenvolver.

Uma das principais conquistas da área é a inserção na lei do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que possibilitou a abertura de concursos em todos os municípios e Estados brasileiros. Desta forma, o profissional foi ainda mais reconhecido e valorizado.

Alimentação Escolar Ainda há muito a evoluir, mas as conquistas estão sendo alcançadas e o Nutricionista ganha cada vez mais im-portância nesse cenário. Prova disto é a aprovação da lei que amplia a merenda e o transporte escolar para o ensi-no médio, sancionada em 16 de junho 2009. Nesta área, o Brasil é considerado modelo para muitos países o que, de certa forma, ratifica o excelente trabalho desenvolvido pelos Nutricionistas.

Para Sandra Pinho, os profissionais têm conquis-tado seu espaço técnica e politicamente. “A cada ano percebemos a ampliação de nossa área de atuação, o crescimento de muitos profissionais e a ocupação de cargos mais elevados em todas as Secretarias”, analisa. Atualmente, a coordenação do PNAE está sob a chefia de uma Nutricionista e talvez este tenha sido um dos fa-tores decisivos para os grandes avanços obtidos, entre eles o reconhecimento por parte de todos os governan-tes. Nesse sentido, a Nutricionista Adriana Braun costu-ma dizer que “entre o real e o ideal, existe o possível”. Ela defende a necessidade de que se compreenda que a alimentação escolar requer o comprometimento de to-dos (sociedade civil, poder público, iniciativa privada, entidades representativas) com as ações básicas em educação e saúde.

Apesar dos avanços concretizados, o mercado ainda

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está em ascensão. Nem todos os municípios atendem à lei e à resolução do CFN número 358 em relação às atribuições do Nutricionista e ao quadro técnico. Nes-se ponto o Sistema CFN/CRN entra em ação através de ações fiscais, cobrando o cumprimento da Lei, sensibi-lizando os Gestores quanto à importância da atuação do Nutricionista e abrindo novas possibilidades de mercado e de inserção profissional.

No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a evolução precisa ser acelerada, mas o trabalho pode ser espelha-do em excelentes exemplos. A cidade de Porto Alegre faz um trabalho de décadas e segue buscando crescer ainda mais. Hoje, no quadro técnico, existem na Secretaria Mu-nicipal de Educação oito Nutricionistas e 36 Técnicos em Nutrição, com a perspectiva de ampliação.

Essa ampliação justifica-se no fato de que é preciso investir em prevenção. E o PNAE age nesse sentido, per-mitindo aos alunos mudarem os hábitos alimentares de toda a família.

Quanto à importância do trabalho desenvolvido na área, Sandra consegue defini-la bem: “Acredito que o futuro está nas crianças de hoje e quanto mais con-centrarmos nossas ações em educação melhor será a perspectiva de mudança na qualidade de vida em seu sentido mais amplo”. Adriana acredita que “a saúde da população é proporcional aos conhecimentos de saúde e Nutrição. A adoção de hábitos alimentares adequados durante a gestação, infância e adolescência, é funda-mental no processo de crescimento e desenvolvimento do indivíduo”.

Em qualquer área, especialmente da saúde, Ensino, Pesquisa e Extensão são fundamentais. A evolução é rápida e o aperfeiçoamento constante tornou-se primor-dial. Essa história, no Rio Grande do Sul, começou na década de 1970, com a implantação do curso de gra-duação em Nutrição na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). “Nesta época o Nutricionista era prati-camente desconhecido pelos demais integrantes da área da saúde (com quem deveríamos trabalhar em equipe), assim como pela população em geral (nossos potenciais clientes)”, lembra a professora da UFPel, Nutricionista Cora Araújo.

Durante alguns anos, a Unisinos teve o único curso de graduação em Nutrição no Rio Grande do Sul. De lá saíram os pioneiros da Nutrição que tinham como primei-ro grande desafio desbravar o mercado de trabalho. E o fizeram com recurso fundamental: respeito profissional.

Com as perspectivas melhorando e o mercado de atuação crescendo, a Universidade Federal de Pelotas também abriu o curso de graduação e, em 1979, formou sua primeira turma. A abertura desse novo curso pos-sibilitou a ampliação das oportunidades para a carreira docente, no Rio Grande do Sul.

Atualmente, é grande e crescente o número de Nutri-cionistas que vêm se dedicando ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão nas universidades brasileiras. E o Nutricionis-ta, hoje, é reconhecidamente indispensável nessa área. São muitas as parcerias que permitem aos estudantes e professores/pesquisadores fazerem novas descobertas, ao mesmo tempo em que mapeiam as condições de vida da população na qual estão inseridos.

Como resultado, surgem cada vez mais projetos con-juntos com escolas, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e Educação, creches, serviços de atendimento

Ensino, Pesquisa e Extensão a idosos, entre outros. “Por volta de 1983, já trabalhava há qua-tro anos como docente na UFPel e fui, juntamente com outra colega de departa-mento, procurar o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação da universidade a fim obter orientação sobre ‘por onde começar’. Depois de uma instigante conversa, ele nos advertiu gentilmente: ‘professoras, para fazer pesquisa não basta querer, é preciso fazer uma longa formação’. No curto prazo, não foi fácil digerir tal conselho. Entretanto, essa foi uma saudável provocação para que perdêsse-mos a ingenuidade (afinal, querer é importante, mas não é suficiente) e partir em busca do mestrado e, posteriormente, do doutorado. Talvez ele não tenha percebido na época a dimensão de suas palavras, pelas quais lhe somos hoje, imensamente gratas”, re-lembra Cora.

A pesquisa na área de Nutrição vem se solidificando dia após dia, mas há desafios. “O principal é aprofundar os estudos sobre associações entre fatores precoces (primeiros anos de vida) e contemporâneos para o apa-recimento de doenças crônicas já na adolescência e na vida adulta”, explica Cora. “Tenho muito orgulho da pro-fissão que escolhi e sou extremamente otimista quanto ao seu futuro. É nossa missão trabalhar incansavelmente na prevenção e tratamento de problemas nutricionais. E a pesquisa é um elemento fundamental”, finaliza.

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Antes de falar direto da Cesta de Alimentos, é preci-so relembrar um pouco do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). Essa é a ideia do Nutricionista Virgílio J. Strasburg. Segundo ele, há mais de três décadas esse programa vem auxiliando na promoção e manutenção da qualidade de alimentação para os trabalhadores brasilei-ros. Nesse contexto, surgem as Cestas de Alimentos, uma importante conquista que permite flexibilizar a composi-ção dos alimentos para os trabalhadores de acordo com as particularidades dos hábitos alimentares regionais.

Virgílio, que vê a Nutrição como uma ciência em plena evolução, acredita que vivemos a fase da consolidação da área. “Deixamos de ser um modismo e nos tornamos fun-damentais na prevenção e promoção da saúde das pes-soas”, afirma. Apaixonado, como todos os entrevistados, quando questionado sobre o tema, Virgilio fala: “Pense na comodidade de receber alimentos de seu uso diário, en-tregues no seu local de trabalho. E que esses alimentos poderão ser consumidos pela sua família na preparação de suas refeições, com preços menores que o do merca-do, em condições plenas de integridade das embalagens,

Cesta de Alimentos com as datas de validade adequadas e adequadamente inspecionados e manipulados”.

Nas três décadas de história, a principal evolução é acompanhar a realidade do mercado na qual o cliente tem a opção de definir o que deseja receber, ao contrário de anos atrás, quando as empresas fornecedoras já tinham as composições padronizadas para oferecer. “Temos as legislações para essa modalidade desde o ano de 2002 que são a Instrução Normativa nº 51 (14/08/2002) do Ministério da Agricultura e também a Portaria nº 186 do Inmetro que foram elaboradas para trazer uma maior pro-fissionalização para esse segmento”, lembra o Nutricio-nista. Porém, apesar de obrigatório, ainda há um número muito pequeno de empresas adequadas a essa questão. No Brasil, apenas 13 Estados possuem alguma empresa certificada. “Por isso, acredito que o Nutricionista tenha uma boa oportunidade de ascensão profissional para tra-balhar em empresas dessa modalidade. Além dos critérios quanto aos aspectos da segurança alimentar, é fundamen-tal o conhecimento de processos de gestão de qualidade”, explica Virgílio.

Todos reconhecem a importância da Nutrição para a população em geral. A maioria, porém, desconhece a im-portância desta ciência em algumas patologias específicas, como na insuficiência renal ou em pacientes em hemodi-álise. O aumento da necessidade da inserção do Nutricio-nista em clínicas de diálise ou em clínicas de tratamento conservador é muito reconhecido atualmente. Mas, embora a legislação vigente torne obrigatória a presença de Nutricio-nista em clínicas de diálise, a realidade é diferente. Aqueles que cumprem a legislação sabem, no entanto, a importân-cia de se ter um profissional atuante que conduza a uma boa avaliação, orientação e prevenção de patologias associadas a uma má-nutrição nos doentes renais em hemodiálise. E, graças ao trabalho consciente e respeitoso, os pacientes já requisitam o seu tratamento dietético e a presença do Nutri-cionista nas clínicas. “Uma das funções do Nutricionista é

Clínica de Hemodiálise esta: expor todas as necessidades, prioridades, para ensinar e reviver muitas maneiras deste tão complexo ‘alimentar’”, defende a Nutricionista Joana Lemos.

O trabalho do Nutricionista em hemodiálise é árduo e contínuo, um “trabalho de formiguinha”, diz Joana. A grande atuação do Nutricionista está no ato de conduzir estas restri-ções, propondo modificações interessantes, dinâmicas de grupo, educação nutricional, novas receitas e possibilida-des que até então o paciente não conhecia. O fato de impor restrições, apesar de em alguns casos ser importante, já é considerado antiquado, e o Nutricionista deve ser capaz de superar os desafios. Além de conhecimento, experiên-cia, esse trabalho exige paixão. “Uma frase que me motiva muito – cujo autor foi um renomado nefrologista, professor e grande colaborador para a nossa área Dr. Otto Busatto – diz que ‘o nefrologista não vive sem o Nutricionista e que

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só não enxerga isso quem nunca teve em suas mãos um doente renal’”.

Muitas novidades científicas vêm contribuindo para a formação de profissionais atualizados e capacitados em avaliar, planejar e tratar o paciente renal. Ou seja, mais uma área em expansão para o Nutricionista.

Joana relembra alguns acontecimentos marcantes nes-tes anos de trabalho em hemodiálise. “O mais gratificante está nos trabalhos de grupos, nos pacientes do interior que

dialisam pelo SUS. Na própria clínica, no horário em que o paciente está dialisando, são feitas algumas brincadeiras, algumas como se fossem competições entre os pacientes para ver quem atinge o melhor perfil bioquímico e de ganho de peso interdialítico. Até mesmo aqueles pacientes que chamamos de ‘transgressores’ da dieta se esforçam e mui-tas vezes alcançam o melhor perfil. Mais uma prova de que a forma de trabalhar com esta população deve ser diferente para atingir um trabalho de excelência”, diz Joana.

Algumas profissões formam profissionais que são di-recionados rapidamente para empregos “formais”. A Nu-trição tem um pouco dessa rotina, mas vai além. Permite ao profissional autonomia para empreender, crescer, des-cobrir áreas, conquistar mercado, criar, inovar. O mercado está aberto às novas ideias e, para aqueles que o fazem com competência e dedicação, o resultado é a realização profissional. Nos Estados que compõem o CRN-2 algu-mas histórias vêm comprovando essa afirmação.

A Nutricionista Marlise Potrick Stefani, que atua há pelo menos 25 anos nesse cenário, conta algumas mu-

Empreendedorismodanças de paradigmas. “Em 1976, após a implantação do PAT, vimos a alimentação coletiva ter ganhos e o mer-cado cresceu. Hoje, vejo a aplicação da Nutrição em di-versas formas: em empresas, escolas, asilos, hospitais, times de futebol, supermercados, confeitarias. Em um mercado globalizado, o Nutricionista deve estar de olhos atentos para a evolução da nossa ciência, que por tantas vezes mistura-se com a arte de alimentar o ser humano”, diz Marlise.

Acompanhando essa evolução, a Nutricionista re-solveu investir no empreendedorismo. Ela conta que a semente foi plantada quando ela, recém-formada, foi tra-balhar em São Paulo, em uma grande empresa que fazia 18 mil refeições por dia. “Sozinha, tendo que aprender e ensinar ao mesmo tempo, sabendo que tantas pesso-as dependiam do meu trabalho foi o meu maior incen-tivo. Vi muitos profissionais investirem em consultoria, quando aqui no Sul ainda não se falava em empregos não-formais”, explica. Quando voltou, Marlise retomou os estudos e investiu em Gestão. Há 19 anos abriu uma empresa em São Leopoldo que trabalha com consultoria e clínica, e há cinco anos investiu novamente, desta vez com alimentos light e um bistrô saudável.

“Acho que me encontrei na profissão, realmente amo o que faço e vejo que tem muito caminho pela frente. Por isso, tento passar aos meus alunos a paixão, a garra por fazer da nossa profissão o futuro de um mundo melhor”, afirma Marlise.

SPAOutra área recente de atuação são os SPAs. Tanto em

Santa Catarina quando no Rio Grande do Sul, os Nutri-cionistas ganham espaço através do comprometimen-to e respeito que pautam seu trabalho. A Nutricionista Alessandra Lessmann atua nesse segmento e afirma que trabalhar nesta área é muito gratificante, pois as pessoas aprendem em pouco tempo o quanto é prazeroso cuidar de si, da sua alimentação e da sua saúde. “Elas saem do SPA com novas perspectivas, querendo melhorar a sua qualidade de vida e sua autoestima”, diz.

Através da atuação do Nutricionista, as pessoas tornam-se mais conscientes e procuram melhorar seus hábitos de vida, principalmente no que diz respeito à ali-mentação. Isso é resultado direto da ação dos Nutricio-nistas, que orientam as pessoas sobre a incidência e a prevalência de várias doenças que podem ser causadas por erros alimentares.

Em quase seis anos de atuação em SPA, Alessan-dra teve contato com inúmeras pessoas com diferentes objetivos. Algumas buscavam apenas relaxar, comer

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Estudos apontam que a obesidade é um dos grandes males a serem evitados neste começo de século. A má alimentação precisa ser combatida desde cedo e, mais uma vez, o Nutricionista é agente principal nesse proces-so. A educação nutricional voltada às crianças é cada vez mais importante e valorizada. Através de estímu-los, as crianças aprendem mais facilmente a gostar de uma grande variedade de alimentos. E essa é uma parte do trabalho desenvolvido pela Nutricionista Gabriela da Silveira. “Nosso desafio é fazer com que os docentes, funcionários e crianças sejam, junto conosco, agentes

Educação Infantil multiplicadores de saúde levando a seus amigos e fami-liares conhecimentos necessários para a promoção de qualidade de vida através de uma alimentação saudável”, diz. Para a Nutricionista Maria Cristina Furtado da Silva, o mercado está aberto e em busca de profissionais ino-vadores e criativos que consigam traduzir e adaptar as realidades e culturas locais para toda a população.

A alimentação da criança é um processo dinâmico que requer muita criatividade desde a hora do preparo, até a hora de servir. A formação dos hábitos alimentares tem início na hora do nascimento e é influenciada, prin-

uma comida equilibrada e saudável; outras engordar; e outras na busca do corpo perfeito. Esses personagens protagonizam histórias peculiares. Alessandra conta que “há aqueles que negociam o lanche do outro, os pseudo-satisfeitos, que durante o dia passam muito bem com pouca comida, mas à noite comem a reserva que trouxe-ram de casa, etc”.

Mas, a Nutricionista sabe e transmite ao paciente que, para alcançar os resultados esperados, eles preci-sam tomar decisões importantes, muitas vezes difíceis, relacionadas ao estilo de vida e aos hábitos alimenta-res. É preciso aderir a um programa de reeducação. E é preciso segui-lo. “É nesse ponto que muitas pesso-as se deparam com dificuldades. O período no SPA é o começo de todo esse processo. As dicas, o prazer da boa alimentação, o convívio com outros spazianos e o esclarecimento das dúvidas são fundamentais para o sucesso da reeducação alimentar e posterior melho-ra da saúde física e mental”, explica Alessandra, mais uma profissional apaixonada e realizada por saber que, através de suas orientações, muitas pessoas tornaram-se mais saudáveis e mais conscientes de que corretos hábitos alimentares são imprescindíveis para obtermos boa saúde e longevidade.

O Nutricionista na Indústria de Alimentos atua no de-senvolvimento e produção de alimentos. Nos últimos dez anos, atuar na Indústria Alimentar tem sido um grande desafio para o Nutricionista, pois a evolução é rápida e a cabe ao profissional a implementação de novos alimentos que respondam às necessidades modernas das popula-ções e, simultaneamente, sejam promotores de saúde, re-duzindo e evitando doenças crônicas da atualidade. “Este é sem dúvida um campo de atuação para o Nutricionista do século XXI”, defende a Nutricionista Roberta Pandolfo que, desde recém-formada atua na área de Indústria de Alimentos. Ela trabalha no interior do Rio Grande do Sul, na cidade de Taquara, desenvolvendo formulados desidrata-dos para merenda escolar e food service, além de desidra-tar carnes e vegetais para grandes indústrias alimentícias.

O campo de atuação do Nutricionista na Indústria Ali-mentar é vasto e está diretamente ligado à segurança ali-mentar e à qualidade nutricional dos alimentos, promo-vendo constantes adaptações e inovações alimentares.

Indústria de Alimentos O Nutricionista, ao fomentar o equilíbrio nutricional dos alimentos, pode ser considerado um agente promotor de saúde. “No que se refere à segurança alimentar também, pois este é um conjunto de normas de produção, trans-porte e armazenamento de alimentos visando a determi-nadas características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais padronizadas, segundo as quais os alimentos seriam adequados ao consumo, ou seja, fornecer ali-mentos seguros à população”, explica Roberta.

Roberta, que começou atuando no desenvolvimento de produtos, percebeu a importância da garantia da qua-lidade e passou a atuar nesse setor. “Sinto muita satis-fação em trabalhar na Indústria de Alimentos visto que, hoje, segurança alimentar é um assunto tão discutido, de grande importância à população e meu trabalho tem co-laborado para isso”, diz. A Nutricionista defende, ainda, o aprimoramento permanente de todos aqueles que atu-am nessa área, pois a responsabilidade que têm é muito grande.

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cipalmente, pelos pais nos primeiros anos de vida. Em seguida, a formação destes hábitos vai sendo moldada de acordo com as preferências, nível sócio-econômico, necessidades fisiológicas e influências do ambiente e da mídia. “Por isso, é muito importante estimular a ali-mentação saudável na infância para que permaneça no futuro. Por outro lado, o Nutricionista deve pensar muito além de fazer a criança ser consciente de suas escolhas. Deve prepará-las para influenciar nos hábitos alimenta-res da sua família”, defen-de Gabriela. “Depois que a criança desenvolve o hábito alimentar inadequado, a ten-dência é que ela o mantenha durante a sua vida adulta”, lembra Maria Cristina.

Através dessa interação promovida pela atuação do Nutricionista, muitas histó-rias surgem da espontanei-dade infantil. Gabriela conta que, através da educação, as crianças passam a co-brar dos próprios pais. “Uma criança foi lanchar na hora do recreio e se indignou ao ver que sua mãe havia colocado bolachas recheadas em sua lancheira. Quando pegou as bolachas, retirou o re-cheio, dizendo para mim e para seus amigos, que ‘aqui-lo’ era fonte de muita gordura e açúcar e que fazia muito mal à saúde’”, conta. Em outra ocasião, um aluno levou uma banana e explicou aos seus amigos a importância

do potássio para ficar ‘cada vez mais forte’, enquanto mostrava o músculo do braço. “Nestes momentos sinto um orgulho enorme de ser Nutricionista”, afirma. Já Ma-ria Cristina lembra a ocasião em que prepararam com as crianças um “omelete gigante” com um ovo de avestruz e que eles dividiram com as 50 crianças da escola.

Gabriela ressalta, no entanto, que é preciso que as es-colas conheçam a Resolução CFN 380/2005, que dispõe sobre a definição das áreas de atuação do Nutricionista

e suas atribuições e afirma que este profissional é ca-pacitado a atuar nesta área.

Sobre as maiores con-quistas, Maria Cristina cita a presença do Nutricionista na equipe multidisciplinar como agente educador da área escolar. “Creio que o Nutricionista pode exercer a educação alimentar desde a idade escolar através de ati-vidades pedagógicas, teóri-co e práticas interagindo em todas as áreas matemática,

geografia, química, física, etc”. Para o futuro, Gabriela cita uma de suas frases favori-

tas, de Pitágoras: “Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos”. Para a Nutricionista, desde o primeiro momento de nossas existências precisamos da Nutrição para alcançar a longevidade com qualidade de vida.

Desempenho. Essa tem sido uma das palavras mais usa-das para quem trabalha com esportes. Nessa área, tudo o que pode aumentar o desempenho tem sido usado, desde roupas e tecidos especiais, passando por atendimentos psi-cológicos e palestras de motivação. Mas um item é de extre-ma importância e ganha cada vez mais espaço: a Nutrição Esportiva. O cuidado com a alimentação dos atletas tem sido cada vez maior e aumenta sua importância na medida em que os profissionais mostram resultados eficientes.

Hoje, no Rio Grande do Sul, temos mais de um curso de especialização nesta área. “Acredito que o mercado já está bem melhor do que esteve. É visível o número de adeptos a esportes, como corridas, por exemplo. As pessoas sabem que é fundamental à saúde praticar esportes, e cada vez mais estão se engajando de forma recreacional em equipes de corrida, em academias, participando de corridas de aventura, travessias de natação, etc. E, se cresce o número de espor-tistas, cresce o campo de atuação para o Nutricionista que atua nesta área”, explica Cláudia Dorneles Schneider, PhD em Nutrição Esportiva.

O Nutricionista Guilherme Cysne Rosa, que atua no Avaí

Nutrição Esportiva Futebol Clube, de Florianópolis, lembra que o campo da Nu-trição Esportiva vem evoluindo bastante, mas que ainda há uma carência muito grande de profissionais qualificados e com experiência na área. “Acredito ser uma das áreas da Nu-trição que vem sendo mais procurada visando trabalhar em conjunto atividade física e alimentação”, explica. Como em qualquer área, o profissional que pretende atuar em Nutrição Esportiva deve procurar estudar e se dedicar muito, em espe-cial à área do exercício. Nesse sentido, a interação com ou-tros profissionais, como os educadores físicos, treinadores, preparadores físicos, técnicos e fisiologistas do exercício, é de fundamental importância. Essa troca permite o desenvol-vimento da especialidade.

Entre as principais conquistas da área, Cláudia e Guilher-me citam o reconhecimento e inclusão da área no curriculum das faculdades de Nutrição, bem como nas equipes e clu-bes esportivos. Guilherme lembra que outro fato igualmente importante foi o reconhecimento por parte dos atletas e de outros profissionais do esporte sobre a importância de um profissional qualificado para atender as necessidades de um público especial e cada vez mais exigente.

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Dentro da área, Guilherme explica que existem duas situa-ções distintas: de um lado os praticantes de atividade física, de outro os atletas de alto rendimento. “Nosso papel é de grande importância nas duas situações, porém, com os praticantes de atividade física, devemos ter um cuidado especial. O Nu-tricionista esportivo deve ser muito ético, pensando sempre na saúde da população, deixando de lado as pretensões indi-viduais”, diz. Cláudia ressalta, também, a importância dessa área específica para a manutenção da saúde da população de forma geral. “Muitas vezes as pessoas se engajam num novo plano de exercícios sem a devida orientação nutricional. Fazem exercício logo pela manhã em jejum, ou ao final da tar-de sem ter feito lanche algum durante toda a tarde, e correm o risco de ter uma hipoglicemia, por exemplo. Por outro lado, um indivíduo que visa ao rendimento, que ignore as orienta-ções sobre a importância da hidratação e da reposição de carboidratos durante um treino ou competição intenso e/ou prolongado, pode ter comprometida sua performance e sua saúde, em especial se faz uso de agentes ergogênicos sem prescrição nutricional”, explica.

Entre as muitas histórias que envolvem esporte e paixão, Guilherme lembra uma em especial. “Um momento muito legal foi a conquista do Campeonato Catarinense de 2009 depois de um jejum de títulos de 12 anos. Fizemos um trabalho de alimentação e suplementação que começou em janeiro e fina-lizou no jogo final do campeonato. Nossos atletas correram os dois tempos mais a prorrogação sem cansaço ou cãimbras e ganhamos o jogo pelo placar de 6x1. O trabalho da Nutrição foi muito elogiado pelo Treinador, Diretoria e Atletas”.

Cláudia define a Nutrição como uma área belíssima, am-pla e inesgotável. “A cada dia surgem novas pesquisas e descobertas mostrando o poder dos alimentos na prevenção e recuperação da saúde, bem como na melhora do desem-penho esportivo”, diz. Guilherme complementa, e afirma que “com a união dos profissionais, sempre compartilhando o conhecimento, poderemos alcançar novos horizontes dentro da profissão”. Ele finaliza lembrando a frase: “Uma Nutrição adequada não tornará um atleta sem talento em um campeão, porém uma Nutrição errada por impedir um atleta de talento de chegar ao topo.”

A Nutrição Hospitalar é um dos mais delicados segmen-tos desta ciência. As descobertas da medicina passam, obrigatoriamente, por um acompanhamento nutricional adequado e direcionado. Estudos e pesquisas mostram que, cada vez mais, pacientes são clientes e buscam não apenas tratamentos eficazes, como também qualidade. Dentro deste conceito, a Nutricionista Ana Heck, chefe da Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) do Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo, interior do Rio Grande do Sul, acredita que a maior conquista obtida é ter tornado o hospital Centro de Referência em Terapia Nutricional. “Traba-lhamos intensamente para trazer a Passo Fundo e, mais es-pecificamente para o nosso hospital, todas as possibilidades existentes em grandes centros e proporcionar as mesmas possibilidades para as instituições de saúde da região”, expli-ca. Esse cuidado é essencial, pois na Nutrição Hospitalar as situações de risco são constantes e aqueles que precisam de atendimento estão vivenciando realidades delicadas.

Os dois Estados do CRN-2 dispõem de excelentes exem-plos na área. E muitas das conquistas e resultados positivos vêm da forma como os profissionais atuam no dia-a-dia. “Vejo a Nutrição como um meio importantíssimo para a pre-venção de doenças e manutenção da saúde, especialmente

Nutrição Hospitalar quando incorporada como um estilo de vida em todas as faixas etárias. Os cuidados nutricionais trazem inúmeros be-nefícios, especialmente na prevenção e redução de gastos relacionados com doenças”, diz Ana.

Ainda há muito a evoluir, é certo. Por isso a Nutricio-nista defende que, em todos os locais em que se trabalha com alimentação coletiva ou com educação, deve haver o assessoramento de um profissional da Nutrição. “Temos muito campo de trabalho, mas precisamos aprender a bri-gar competentemente para mostrar a importância do nosso trabalho. A Terapia Nutricional tem se mostrado um meio eficaz e fundamental para recuperar e restabelecer a saú-de de pessoas que estão doentes ou com risco nutricional. Quantos destes doentes não precisariam estar utilizando esta forma de Nutrição se tivessem tido uma alimentação melhor durante sua vida”, questiona Ana.

No Hospital de Passo Fundo, bem como em tantos ou-tros exemplos de sucesso, a trajetória é pautada pelo traba-lho em equipe, com objetivos em comum, muita força de vontade e uma pitada de teimosia. Os desafios são catalisa-dores e incentivam a busca pelo novo, pelo diferente. “São estes sonhos que se tornam a meta do nosso trabalho e que torna tão maravilhoso trabalhar”, finaliza Ana.

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Alimentação Coletiva A Alimentação Coletiva tem evoluído muito nos últimos

anos e cada vez mais privilegia o atendimento personalizado dos usuários. Segundo a Nutricionista Betina Bender, que atua no segmento há 26 anos, com o passar dos dias, recebendo a mesma alimentação, é normal o ser humano se acostumar com a rotina dos cardápios e não se satisfazer mais com o tipo de serviço com o qual está acostumado. “Com o intuito de atender estas expectativas, as empresas estão desenvol-vendo novos serviços proporcionando mais opções aos usu-ários. Desta forma os antigos refeitórios se transformaram em verdadeiras praças de alimentação com cardápios variados, comunicação visual, dicas de alimentação saudável, climati-zação, um ambiente alegre para tornar o momento da refei-ção o mais agradável possível”, fala Betina. Hoje, os serviços de alimentação deixaram de ser apenas uma exigência legal ou um benefício. Passaram a ser uma importante ferramenta de Recursos Humanos, que busca o bem-estar e a satisfação dos funcionários das empresas.

Para apoiar esta evolução, as empresas fornecedoras de refeição estão capacitando seus profissionais para conseguir atender toda a demanda destes diferentes serviços. O profis-sional de Nutrição precisa de bons conhecimentos técnicos, além de ter domínio no desenvolvimento de habilidades para

o desempenho de suas funções dentro de um serviço de ali-mentação.

“Do ponto de vista nutricional, as empresas e os usuários estão mais atentos aos bons hábitos de alimentação, o que se confirma pela mudança nos per capitas dos alimentos que compõem os cardápios, diminuindo os mais calóricos e au-mentando o consumo de fibras”, explica Betina. Ela lembra, também, que algumas empresas, preocupadas com a saú-de de seus colaboradores, já desenvolvem bons programas educativos em parceria com as concessionárias, incluindo a educação alimentar e o atendimento clínico. Betina ressalta, ainda, que “no que diz respeito à legislação sanitária, houve também uma grande evolução nos serviços de alimentação porque, atualmente, um manipulador de alimentos, além de saber fazer suas tarefas rotineiras, precisa ter conhecimentos sobre boas práticas de forma a assegurar que na sua produ-ção os alimentos produzidos sejam seguros”.

Betina lembra, ainda, que tem crescido a preocupação das empresas com seus funcionários. “Há uma busca maior pela valorização das pessoas. Hoje, é importante fazer as pessoas sorrirem, propiciar sua satisfação”, explica. E os Nutricionistas que trabalham com Alimentação Coletiva são fundamentais nesse processo.

Foto: Grupo Prato Feito

A atuação dos Nutricionistas em restaurantes é mais uma possibilidade que vem se expandindo. Essa atuação está ligada diretamente à segurança alimentar. A Gestão em Negócios em Alimentos tem crescido e muitos profissionais saíram da zona de conforto e buscam se especializar em gerir tanto negócios quanto pessoas. A evolução deste seg-mento está diretamente ligada à constante capacitação.

A atual Legislação tem auxiliado. Com a publicação das Resoluções RDC 275 e 216, entre outras, foram estabele-cidos os critérios de segurança. O maior desafio, agora, é colocá-los em prática. A Nutricionista Isaura Hammersch-mitt Clemente atribui a essa nova legislação e ao desafio o grande crescimento na parte de Gestão em Negócios em Alimentos: “O campo é grande, mas faltam trabalhadores capacitados. Precisamos amar este trabalho, querer crescer como pessoas e fazer o outro querer crescer junto. De nada adianta cozinhas totalmente equipadas se não conseguir-

Restaurantesmos que o colaborador aprenda a mexer com esta tecnolo-gia e garantir alimentos seguros”, explica.

A Nutricionista dá treinamentos quase todas as semanas em salas de aula e acompanha os treinamentos em serviço diariamente. Em sua rotina, ela revela que muitas pessoas são resistentes à mudança. Mas, aos poucos, demonstran-do todo o conhecimento que possui, o Nutricionista asse-gura o seu trabalho, cumprindo com responsabilidade sua tarefa: garantir a segurança alimentar.

Isaura vê a Nutrição como “uma ciência que cresce com o indivíduo e o acompanha até a sua morte, e a educação dada a este com relação ao alimento, vai imprimir nela que tipo de qualidade de vida terá”. Ela entende que a missão do profissional é fazer um alimento que não prejudique a saúde de quem come. E isso deve ser feito do dia-a-dia e, também, em restaurantes comerciais e em bistrôs de comi-da variada.

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A Nutrição Clínica talvez seja a mais conhecida do pú-blico em geral. É, também, uma das mais procuradas por futuros estudantes de Nutrição, que veem no atendimen-to individualizado, um desafio e uma motivação especial. Sobre esse segmento, a Nutricionista Yole Brasil da Luz afirma que o trabalho ainda é pequeno, mas crescente. “A importância da alimentação na boa saúde do cidadão tem colocado profissionais diariamente nos meios de comuni-cação, o que tem atraído cada vez mais pessoas para os consultórios”, afirma Yole. A Nutricionista Ondina dos San-tos Pansard Crusius vê a Nutrição Clínica cada vez mais evoluída, acompanhada por pesquisas e pela necessidade cada vez maior da qualidade de vida e longevidade. “As perspectivas da área são imensas, pois a ciência da Nutrição está participando passo a passo na descoberta de novos co-nhecimentos acerca do bem-estar dos indivíduos e da importância na qualidade da alimentação para a manutenção e resgate da saúde. Precisamos estar atentos, pois a Nutrição Clínica exige profissionais conscientes, capazes e éticos, que apliquem seus conhecimentos em-basados em evidência e que não usem terapias ditas como revolu-cionárias e alternativas, mas sem comprovação científica”, diz.

Yole aponta como importante fator relacionado à ampliação do mercado, a inclusão do Nutricionista nos planos de saúde. Ela lembra, ainda, que o reconhecimento pela sociedade, mídia e outros profissionais da área da saúde são funda-mentais para a expansão do mercado. “Na medida em que os profissionais vão se qualificando, as perspectivas de evolução da demanda por seus serviços são crescentes e a interação com outras áreas da saúde é fundamental para o sucesso, pois amplia o mercado da nutrição clínica”, fala. “Dentro de todo o histórico de crescimento da Nutrição Clí-nica, acredito que o mais importante tenha sido o espaço de respeito e compromisso profissional que conseguimos conquistar perante a classe médica e os pacientes. Isso nos permitiu, ainda, concretizar a importância do Nutricionista nas equipes de saúde interdisciplinar”, lembra Ondina.

A atuação em Clínicas tem uma característica especial: todo o indivíduo que recebe orientação alimentar e passa a segui-la, é um agente de multiplicação desse conheci-mento. É desta forma que Yole vê seu trabalho direcionado e individualizado ganhar proporções maiores, gerando al-gumas transformações positivas nos hábitos alimentares da população. “Sem individualizar casos, vejo com alegria e realização as pessoas que nos procuram não só com

Clínica e Personal Dietpreocupação de tratar patologias, mas com a finalidade de reeducação alimentar para melhor qualidade de vida”, enfatiza ela.

Como a população tem voltado seu olhar para a im-portância de uma alimentação saudável e equilibrada, a busca por Nutricionistas tem crescido consideravelmente. São diversos os fatores que contribuem para esse desen-volvimento, inclusive a mídia e as campanhas de preven-ção e promoção da saúde. E é nos consultórios que essa busca por novos hábitos começa a ser desenhada. “Vejo a Nutrição bem inserida e atuante e com grandes possi-bilidades de aumento de demanda, pela conscientização

da importância da alimentação na formação, recuperação, manuten-ção e longevidade do indivíduo”, lembra Yole. “Quando temos um paciente à nossa frente, sempre teremos um multiplicador de in-formações, basta sabermos usar as possibilidades que esta pessoa dispõe para termos um grande re-sultado. A partir deste paciente, e de suas dúvidas em relação à ali-mentação familiar, poderemos, aos poucos, alterar os hábitos de uma família inteira”, ressalta Ondina.

Essa busca e aumento de mer-cado se deve a uma ação que teve o apoio do Sistema CFN/CRN: a in-clusão do atendimento nutricional nos Planos de Saúde. Aprovada

em 2008, a nova regra da Agência Nacional de Saúde Su-plementar (ANS) passou a valer em 2 de abril de 2008, beneficiando mais de 42 milhões de brasileiros.

Com as mudanças de comportamento e paradigmas da sociedade, uma nova tendência surgiu: consumo per-sonalizado. Cada vez mais as pessoas recebem as infor-mações que escolhem e buscam os benefícios do atendi-mento individualizado. Na saúde tem sido assim, também. Há pouco tempo, o Nutricionista realizava o atendimento clínico nutricional restrito ao consultório e/ou ambulatório. Alguns poucos atendimentos eram realizados na residência do paciente que, na maioria das vezes, estava impedido de comparecer ao consultório. Este tipo de atendimento era direcionado à orientação dietética para algumas doenças e não para orientações normais de alimentação saudável. Porém, surgiu a necessidade de realizar um atendimento mais específico e uma orientação mais detalhada enfati-zando a técnica dietética, como também uma orientação mais abrangente, contemplando toda a família. “Assim surgiu o Nutricionista Personal Diet com atribuições es-pecíficas, que complementam o atendimento nutricional e contribuem para que a adesão ao plano nutricional seja

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maior”, conta a Nutricionista Lúcia Dizconzi.No entendimento de Lúcia, o Nutricionista Personal Diet

evoluirá para um atendimento mais especializado, indo ao encontro das necessidades específicas de cada paciente. A tendência é que a rotina do profissional seja atender pa-cientes portadores de doenças, tais como diabetes, hiper-tensão, dislipidemias, além de situações normais como crianças no primeiro ano de vida, adolescentes, adultos e idosos, passando pelas orientações nos ciclos da vida aliadas a doenças decorrentes e associadas. “Tudo isto estará vinculado à nutrigenômica e nutrigenética. O mer-cado tem acenado com boas perspectivas, sendo que do profissional depende iniciativas para que se tenha maior campo de atuação”, lembra.

Dentro desta perspectiva, novos serviços poderão ser oferecidos dentro das necessidades que surgirão. “Cito como exemplo o Personal Diet que atenderá somente de-terminada faixa etária, desde a compra até a ingestão do alimento, passando por todas as etapas que envolvem a orientação nutricional”, cita Lúcia. Ela conta que há alguns

anos, quando orientava um paciente em seu consultório, percebeu que todas as palavras que dizia pareciam não fazer efeito. “O que de fato estava acontecendo, era que ele não tinha maior compreensão de como poderia colocar em prática todas as orientações que recebia”, conta. Foi quando ela sugeriu o atendimento domiciliar, onde poderia orientar melhor a funcionária que preparava as refeições, bem como a esposa do paciente que determinava o que seria preparado. O resultado foi um a aceitação de imedia-to pelo paciente. “Foi, então, que me dei conta de que o atendimento misto no consultório e domicílio seria o mais indicado, trazendo melhores resultados no tratamento nutricional deste paciente. Quando aliamos a orientação nutricional à técnica dietética, certamente temos melhores resultados na adesão ao tratamento e, consequentemente, resposta ao mesmo”, conta.

Sobre o futuro, Lúcia acredita que a Nutrição, como uma ciência em constante evolução e crescimento, terá muitos novos campos de atuação, contribuindo para que tenhamos uma melhor qualidade de vida.

Desde 1988, quando da promulgação da Constitui-ção Federal, as Políticas Públicas de Saúde orientam-se pelos princípios de universalidade e equidade no acesso às ações e serviços, pela descentralização da gestão, de integralidade do atendimento e de participação da comu-nidade na organização de um Sistema Único de Saúde no território nacional. A Nutricionista Maria Luiza Hofmeister Meneghini explica que, no caso da saúde, estas Políti-cas integram o campo social do Estado orientado para melhoria das condições de saúde da população e dos ambientes natural, social e do trabalho. Sua tarefa específica consiste em organizar as fun-ções públicas governamentais para promoção, proteção e recu-peração da saúde dos indivíduos e da coletividade. Com tudo isto, esta nova concepção do sistema de saúde faz com que a partici-pação da sociedade organizada se efetive nas relações de poder político e na distribuição de responsabilidades entre os três níveis de governo: na-cional, estadual e municipal, tanto que para isto foram instituídos as Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde em cada esfera do governo, como instâncias co-legiadas para a participação social na gestão do SUS; a Comissão Intergestores Tripartite na Direção Nacional do SUS e as Comissões Intergestores Bipartites na Direção Estadual, assim como órgãos colegiados nacionais de representação política dos gestores das ações e servi-ços nos estados e municípios – o CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Estado de Saúde) e o CONA-

Saúde Coletiva SEMS (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde).

Maria Luiza Hofmeister Meneghini, formada há 23 anos, entende que cada vez mais, pelas perspectivas da área, precisaremos de Nutricionistas que tenham apti-dão e que gostem de atuar no planejamento e execução das Políticas Públicas. “Os desafios e conquistas para este setor seriam de fazer com que o planejamento seja executado; o orçamento cumprido e as metas atingidas, sempre com o acompanhamento destes processos e

avaliação de seu impacto sobre a situação existente”, reflete. Segundo ela, “O Nutricionista é imprescindível nas equipes das UBS e equipes multidisciplina-res, pois tem na sua formação o conhecimento da alimentação e Nutrição, importante para pro-moção e manutenção da saúde, para a prevenção de doenças

individuais ou coletivas, contribuindo para melhoria e manutenção da qualidade de vida”.

Para a Nutricionista Denise Scopp Przestrzeleniec Krasner, o campo de atuação do profissional de Nutrição tem se ampliado significativamente nos últimos anos e cada vez mais ele está envolvido em diversos setores e serviços. Entre as oportunidades mais visíveis, destaca-se a Nutrição em Saúde Coletiva atuando na Vigilância Sanitária com enfoque nas ações de promoção e prote-ção a saúde e prevenção das doenças por meio de estra-tégias e ações de educação e fiscalização. A atuação do Nutricionista nesse meio é importante, pois ele é o ponto

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No ano de 1980, o Hospital da Criança Santo Antônio, de Porto Alegre, (hospital pediátrico sem maternidade/alojamento), através da então Coordenação do Serviço de Nutrição – Nutricionista Miria Wolfenbuttel, implantou o Banco de Leite Humano. O objetivo principal era pre-venir o desmame dos bebês em decorrência da doença, hospitalização e separação, bem como obter leite humano para re-cém-nascidos internados. Segundo a Nutricionista Izabel Oliveira Bran-dão, responsável pelo Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno até o ano de 1994 pela SSMA e Nutricionista do Hospital da Criança Santo Antonio no período de 1981 a 1994, “devido ao entusiasmo e envolvimento dos profissionais das áreas de saúde envolvidos, outros projetos foram particulados, com a parceria da Secreta-ria de Saúde do Estado, a Faculdade de Nutrição do IMEC e a Empresa Zivi-Hercules”, lembra.

O Banco de Leite Humano do Hospital Santo Anto-nio passou a oferecer estágio curricular a acadêmicos do Curso de Nutrição do IMEC, que receberam orienta-

Banco de Aleitamento ção para trabalho educativo sobre aleitamento materno, técnicas para ordenha manual de leite humano, pasteuri-zação de leite humano, armazenamento, distribuição do leite doado e pasteurizado para recém-nascidos de alto risco hospitalizados.

Izabel conta que a empresa Zivi-Hércules, através de convênio firmado entre a Secretaria de Saúde do Estado, o Hospital da Criança Santo Antonio e o Curso de Nutrição do IMEC, implantou o “Programa de Incentivo ao Aleita-mento Materno para funcionárias”, possibilitando diminuir o desmame precoce decorrente do retorno da funcionária nutriz ao trabalho pela ordenha sistemática durante a jor-nada de trabalho. Essa ação bene-ficiou as mães e seu bebês pelos

benefícios decorrentes do aleitamento materno, dimi-nuindo absenteísmo, melhorando bem-estar e saúde de modo geral; propiciar campo de estágio curricular para acadêmicos; e doar o excedente de leite humano para recém-nascidos de alto risco do HCSA.

Através desse convênio, a Secretaria de Saúde do

de referência quanto às questões da área de alimentos, propondo ações e projetos que visem adequar os esta-belecimentos do município à situação sanitária regular.

Desde o ano de 2000, Denise integra a equipe de vigi-lância dos alimentos da coordenadoria geral de vigilância em saúde da Secretaria da Saúde de Porto Alegre e foi a partir de então que se iniciou a fiscalização e orientação na área de Terapia de Nutrição Enteral. “Atualmente faço parte da equipe de vigilância de serviços e produtos de interesse a saúde composta por uma equipe multipro-fissional com médico, enfermeiro, biólogo, dentista, far-macêutico, físico, engenheiro e agente de fiscalização”, conta Denise. Esta equipe é responsável pela inspeção, orientação e liberação de alvará de saúde em consul-tórios, banco de sangue, hemodiálise, farmácias, dro-garias, medicamentos, próteses, geriatrias, escolas de educação infantil entre outros.

A inserção do Nutricionista na área de Saúde Coleti-va deve ser defendida tanto pelos profissionais, quanto pelas entidades da categoria, sendo de vital importância ampliar sua participação na vigilância em saúde. “O Nu-tricionista, por ser um profissional que detém o saber científico do alimento, é imprescindível e atuante nesta área”, defende Denise, que vê na Saúde Coletiva um novo nicho de mercado que se abre para os profissionais da área atuarem, tanto em Vigilância Sanitária como em Vigilância Epidemiológica, e Vigilância Ambiental. “Talvez estas áreas ainda não estejam com a devida visibilidade

para os profissionais e escolas de formação”, diz. “O Nutricionista é, e será, um profissional empenha-

do cada vez mais na busca de formas para aumentar a sobrevivência e longevidade do ser humano”, acredita Denise. A Nutricionista vê os colegas de profissão como educadores, pois todas as suas ações no campo de tra-balho o fazem agente de mudanças.

A Nutricionista Maurem Ramos, professora do Depar-tamento de Medicina Social, área Nutrição da UFRGS, conta que, no Rio Grande do Sul, este campo de atuação originou-se, provavelmente, no final da década de 1970 com as primeiras Nutricionistas compondo o grupo de residência multidisciplinar, que se iniciava no Centro de saúde escola Murialdo promovida e sustentada pela Se-cretaria Estadual de Saúde e Escola de Saúde Pública do RS. Maurem lembra, ainda que nesta mesma década teve início o movimento da reforma sanitária brasileira que culminou com o Sistema Único de Saúde, cuja legiti-mação se deu com a Constituição Brasileira em 1988.

“Considero o SUS o grande mercado de trabalho futu-ro do Nutricionista, lembrando que, mesmo em hospitais privados, o grande financiador dos serviços prestados é o SUS. Em especial, a Saúde Coletiva absorvendo o pro-fissional na Estratégia de Saúde da Família (ESF), propria-mente dito ou através dos Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASF)”, comenta Maurem. A Nutricionista de-fende, ainda, a ideia de que as instituições tenham como pauta o debate do papel do Nutricionista no NASF.

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Estado do Rio Grande do Sul estabeleceu uma política de saúde específica, promovendo cursos, treinamen-tos e criando um modelo de referência para o assunto em questão. “Puérperas com excedente de leite mater-no eram incentivadas a doarem a leite humano para o hospital, através de campanhas veiculadas na mídia e dos postos de saúde”, lembra Izabel. À época foi criado, ainda, um sistema de transporte de leite humano (Telei-te), que permita a coleta de leite e sua distribuição (após tratamento) para bebês de alto risco. Uma parceria entre o Grupo Técnico e a Fundação Osvaldo Cruz resultou,

ainda, no aprimoramento de todos os seguimentos, ex-presso através de treinamentos, cursos para capacitação de pessoal e organização de Bancos de Leite Humano, organizando congressos, simpósios de alto nível profis-sional.

“Essa pequena grande semente de profissionalismo e ideal desses profissionais, certamente faz parte do tra-balho que se conhece até nossos dias, da importância do aleitamento materno para a saúde infantil, base para uma sociedade forte dos homens de amanhã”, avalia Izabel.

As Nutricionistas Bernadete Weber e Enilda de Sousa Lara, ao falarem sobre a relação entre a Nutrição e a Res-ponsabilidade Social, iniciam por uma questão essencial: Responsabilidade Social é um conceito que não pode ser confundido com Assistência Social, onde é decisivo tra-balhar numa base voluntária, no sentido de contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo, sustentável. O papel no Nutricionista vai além: ele tem am-pla condição, através de sua formação, de apoiar, plane-jar e executar projetos de promoção de saúde através de hábitos de vida saudável. “A partir deste foco, buscamos integrar nas nossas equipes, profissionais, cuja prática, mesmo quando clínica, tivesse alcance social. Neste con-vívio tivemos oportunidades de incentivar e abrir campo para projetos com profissionais Nutricionistas (ex: Enilda Lara, Maria Rita Cuervo, Joseane Weber, Gabriela Hermann entre outras)”, conta Bernadete, hoje Superintendente As-sistencial do Hospital do Coração de São Paulo.

Bernadete conta que a inserção na Responsabilidade Social se deu através da participação em: Conselhos, onde o controle social era muito ativo (por exemplo, o Conse-lho Municipal de Assistência Social), da intensa atuação na criação do CONSEA-RS (Conselho de Segurança Ali-mentar e Nutricional Sustentável do RS) e dos Conselhos Distritais e Municipais de Saúde; Projeto Fome Zero; apoio e incentivo de projetos a favor da amamentação; Inclusão do Nutricionista nas Equipes de Saúde da Família, (Morro da Cruz e Ilhas); Saúde da Mulher, através do projeto de

Responsabilidade Social

redução de fator de risco alimentar no câncer de mama; participação da 12ª Conferência Nacional de Saúde em Brasília; e a presença do Nutricionista na Coordenação do projeto Saúde nas Ilhas com a visão da promoção da saúde em cinco eixos (meio ambiente, educação, saúde, proteção social e gestão social).

Quanto às perspectivas, Bernadete e Enilda citam a maior presença do Nutricionista em ações de responsa-bilidade social de abrangência não só diretamente ligadas à saúde e, sim, no contexto geral do desenvolvimento hu-mano, com intenso foco em educação e adesão a hábi-tos saudáveis, fomento à produção da agricultura familiar, além da ocupação de espaços políticos para promoção de saúde e prevenção de doenças. Além disso, há a perspec-tiva de melhor inserção no campo das pesquisas clínicas de impacto na construção da Nutrição baseada em evi-dências. “Mercado existe. Depende mais da postura pró-ativa e assertiva dos profissionais, com visão pautada no contexto político e social, ou seja, de criar espaços, apro-veitar as oportunidades e ampliar os horizontes”, afirma Bernadete.

“A ‘nutrição é vida’, já dizia a grande mestre Dra. Nelzir Trintade dos Reis. E vida é o único patrimônio do qual so-mos realmente proprietários, com total responsabilidade sobre as ações e reações. Cuidar do corpo, da mente e da alma é o principio do sentido de vida. Cuidar da alimen-tação é um braço importante do sentido de vida”, finaliza Bernadete.

A todos os Nutricionistas, a homenagem e o reconhecimento da equipe do CRN-2 e do CRN-10.

Parabéns!

31/08 - Dia do Nutricionista

Av. Taquara, 586, sala 503, Porto Alegre/RS CEP: 90460-210