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90 DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES HIDRÁULICAS DE SOLOS ALUVlAIS ATRAVÉS DA DESCARGA DE DRENOS SUBTERRÃNEOS (1) A.A. MILLAR (2) & P.C.F. GOMES (3) RESUMO Estudou-se num campo piloto a caracterização das propriedades hidráulicas de solos aluviais, através de testes de descarga de drenos subterrâneos. Recuperou-se e limpou-se um siste- ma de drenagem numa área de 1,3ha, contendo drenos de manilhas de 60 CPl de comprimento e 10 cm de diâmetro, com um total de cinco linhas de drenos de 70 m de comprimento, instalados a uma profundidade de 1,4m e 20m de espaçamento. Instalou-se uma rede simétrica de 25poços de observação e estruturas de saída nas linhas de drenos, para facilitar a medida da vazão. Esta área foi f'eeaITel'ada durante 15dias, e durante o periodo de descarga fizeram-se medidas simultâneas, a cada duas horas, da profundidade do lençol em todos os poços e da vazão nas cinco linhas de drenos. Para a análise dos dados usou-se a fórmula de Hooghoudt, para fluxo permanente, e a de Glover Dumm, para fluxo não permanente, objetivo principal do trabalho. A expressão para fluxo não permanente não caracterizou adequadamente a condutividade hidráulica efetiva da área de fluxo, o fator de intensidade de drenagem e a porosidade drenável do perfil que contribui para o fluxo aos drenos. O uso da equação para fluxo permanente proporcionou valores de condutividade hidráulica mais próximos aos valores representativos obtidos por outros métodos de campo. Con- tudo, e devido à grande estratificação textural dos perfis, requer-se maior número de testes com condições variáveis de recarga, para definir o melhor procedimento de análise dos resultados. testes de campo é a coleta, em pouco tempo, de vasta informação, como condutividade hidráuli- ca, capacidade de armazenamento, porosidade drenãvel e espessura do aquífero, além do forne- cimento de dados sobre o regime do lençol freá- tico sob as condições experimentais de profun- didade e espaçamento de drenos (Dieleman, 1973). Hã várias expressões matemáticas que descrevem o fluxo de ãgua subterrãnea para li- nhas de drenos paralelos (Kirkham et alii, 1974; Van Schilfgaard, 1974; Raadsma, 1974; Wesse- líng, 1973). Estas fõrmulas são baseadas em sim- plificações das condições de campo, sendo co- mum considerar homogêneo o perfil do solo, com as mesmas características hidráulicas na região do fluxo, e quando o perfil não é homogê- neo, é restrito a duas ou três camadas horizon- tais diferentes. Outras simplificaçõessão a ho- mogeneidade em propriedades transmissoras d? volume de .aterro perto dos drenos e a condi- çao d~ dreno Ideal, ou seja, a não existência de resI~tênCIa de entrada da água para os drenos (ChIld e Young, 1958). Há duas fórmulas que são amplamente empregadas nas práticas do delineamento de SUMMARY: DETERMINATION OF HYDRAULIC PROPERTIES OF ALLUVIAL SOILS THROUGH TILE DRAIN DISCHARGE The hidraulic properties of an alluvial soUwere studied in a pilot area through discharge tests of tile drains. The test area consisted of 1,3 ha which had tile drains of60 em lenght and 10 em diameter. The area had 5 tile lines of70 m lenght, installed at 1,4 m depth and 20 m spacing. Twenty five observation wells uiere installed with symetric distTibution in the area. The whole area was re- ctuirçeâ for 15 days and duTing the discharge period simultaneous 2-hourly measurements of uxüer table depth in alI wells and discharge raies in the 5 tile drain outlets were made. Data analysis uiere done by using Hooçtiouâi's formula for steady state flow and Glover- Dumm's formula for transientflow. It uiasfounâ that the transientjlow expression did not characte- Tizeproperly the e.tfectivehydraulic conductivity, drainage intensity jactor and drainable porosity of the complete area. The use of the steady state expression gave K values more related to the ones obtained by auger hole and piezometer. Despite thesefindinqs, and due to the presence of signifi- cant textural strati,fication, more tests are requireâ, specially having vaTiable recharçe conditions before a proper data analysis can be âefineâfor these highly mixtureâ alluvial soils. INTRODUÇÃO A heterogeneidade do solo é um dos maio- res problemas na determinação dos parãmetros hidráulicos que definem o delineamento de um sistema de drenagem. Particularmente em solos aluviais, a condutividade hidráulica varia consi- deravelmente nas direções vertical e horizontal (Maasland, 1957). A taxa de infiltração e o espa- ço poroso drenável e a capacidade de armazena- mento de água e recarga dos solos variam mui- to com sua textura e estrutura (Dieleman e Trafford, 1976; Gomes e Millar, 1978). Através dos procedimentos tradicionais pode-se reunir informações de todos os paráme- tros requeridos, mas em condições de muita va- riabilidade do perfil de solo é desejável apoiar- se em resultados de campo, através do uso de um delineamento preliminar. A vantagem dos ('):i'!~n~u1Ii~NstD~ CPATSA/EMBRAPA. SUDENE e DNOCS. Convê- de Ciência do Solo. São ~J:.c:iJ.: ~gent.;;d~O ~~ Congresso BrW!Uelro outubro de 1977 e aprovado em abril de 1978· ce o para publicaçao em (') :0á:~~~4b~is~=~~~~~g~~~~1>~a Agropecuárla do Trópi- (') Centro de Pesquisa Agropec árI d Tr PA. Petrollna-PE. u a o óplco Sernl·Artdo. CPATSAJEMBRA- R. bras. CI. Solo 2: 90-94. 1978

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90

DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES HIDRÁULICAS DE SOLOS ALUVlAIS ATRAVÉS DADESCARGA DE DRENOS SUBTERRÃNEOS (1)

A.A. MILLAR (2) & P.C.F. GOMES (3)

RESUMO

Estudou-se num campo piloto a caracterização das propriedades hidráulicas de solosaluviais, através de testes de descarga de drenos subterrâneos. Recuperou-see limpou-se um siste-ma de drenagem numa área de 1,3ha, contendo drenos de manilhas de 60CPl de comprimento e 10cm de diâmetro, com um total de cinco linhas de drenos de 70 m de comprimento, instalados auma profundidade de 1,4m e 20m de espaçamento. Instalou-se uma rede simétrica de 25poços deobservação e estruturas de saída nas linhas de drenos, para facilitar a medida da vazão. Esta áreafoi f'eeaITel'ada durante 15dias, e durante o periodo de descarga fizeram-se medidas simultâneas,a cada duas horas, da profundidade do lençol em todos os poços e da vazão nas cinco linhas dedrenos.

Para a análise dos dados usou-se a fórmula de Hooghoudt, para fluxo permanente, e a deGlover Dumm, para fluxo não permanente, objetivo principal do trabalho. A expressão para fluxonão permanente não caracterizou adequadamente a condutividade hidráulica efetiva da área defluxo, o fator de intensidade de drenagem e a porosidade drenável do perfil que contribui para ofluxo aos drenos. O uso da equação para fluxo permanente proporcionou valores de condutividadehidráulica mais próximos aos valores representativos obtidos por outros métodos de campo. Con-tudo, e devido à grande estratificação textural dos perfis, requer-se maior número de testes comcondições variáveis de recarga, para definir o melhor procedimento de análise dos resultados.

testes de campo é a coleta, em pouco tempo, devasta informação, como condutividade hidráuli-ca, capacidade de armazenamento, porosidadedrenãvel e espessura do aquífero, além do forne-cimento de dados sobre o regime do lençol freá-tico sob as condições experimentais de profun-didade e espaçamento de drenos (Dieleman,1973).

Hã várias expressões matemáticas quedescrevem o fluxo de ãgua subterrãnea para li-nhas de drenos paralelos (Kirkham et alii, 1974;Van Schilfgaard, 1974; Raadsma, 1974; Wesse-líng, 1973). Estas fõrmulas são baseadas em sim-plificações das condições de campo, sendo co-mum considerar homogêneo o perfil do solo,com as mesmas características hidráulicas naregião do fluxo, e quando o perfil não é homogê-neo, é restrito a duas ou três camadas horizon-tais diferentes. Outras simplificaçõessão a ho-mogeneidade em propriedades transmissorasd? volume de .aterro perto dos drenos e a condi-çao d~ dreno Ideal, ou seja, a não existência deresI~tênCIa de entrada da água para os drenos(ChIld e Young, 1958).

Há duas fórmulas que são amplamenteempregadas nas práticas do delineamento de

SUMMARY: DETERMINATION OF HYDRAULIC PROPERTIES OF ALLUVIALSOILS THROUGH TILE DRAIN DISCHARGE

The hidraulic properties of an alluvial soUwere studied in a pilot area through dischargetests of tile drains. The test area consisted of 1,3 ha which had tile drains of60 em lenght and 10emdiameter. The area had 5 tile lines of70 m lenght, installed at 1,4 m depth and 20 m spacing. Twentyfive observation wells uiere installed with symetric distTibution in the area. The whole area was re-ctuirçeâ for 15 days and duTing the discharge period simultaneous 2-hourly measurements of uxüertable depth in alI wells and discharge raies in the 5 tile drain outlets were made.

Data analysis uiere done by using Hooçtiouâi's formula for steady state flow and Glover-Dumm's formula for transientflow. It uiasfounâ that the transientjlow expression did not characte-Tizeproperly the e.tfectivehydraulic conductivity, drainage intensity jactor and drainable porosityof the complete area. The use of the steady state expression gave K values more related to the onesobtained by auger hole and piezometer. Despite thesefindinqs, and due to the presence of signifi-cant textural strati,fication, more tests are requireâ, specially having vaTiable recharçe conditionsbefore a proper data analysis can be âefineâfor these highly mixtureâ alluvial soils.

INTRODUÇÃO

A heterogeneidade do solo é um dos maio-res problemas na determinação dos parãmetroshidráulicos que definem o delineamento de umsistema de drenagem. Particularmente em solosaluviais, a condutividade hidráulica varia consi-deravelmente nas direções vertical e horizontal(Maasland, 1957). A taxa de infiltração e o espa-ço poroso drenável e a capacidade de armazena-mento de água e recarga dos solos variam mui-to com sua textura e estrutura (Dieleman eTrafford, 1976; Gomes e Millar, 1978).

Através dos procedimentos tradicionaispode-se reunir informações de todos os paráme-tros requeridos, mas em condições de muita va-riabilidade do perfil de solo é desejável apoiar-se em resultados de campo, através do uso deum delineamento preliminar. A vantagem dos

('):i'!~n~u1Ii~NstD~CPATSA/EMBRAPA. SUDENE e DNOCS. Convê-de Ciência do Solo. São ~J:.c:iJ.:~gent.;;d~O ~~ Congresso BrW!Uelrooutubro de 1977 e aprovado em abril de 1978· ce o para publicaçao em

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PA. Petrollna-PE. u a o óplco Sernl·Artdo. CPATSAJEMBRA-

R. bras. CI. Solo 2: 90-94. 1978

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DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES HIDRÁULICAS DE SOLOS ALUVIAISATRAVÉS DA DESCARGA... 91

drenagem e testes de sistemas, sendo a de Hoo-ghoudt (Raadsma, 1974)para condições de flu-xo permanente e a de Glover Dumm (Wesseling,1973) para fluxo não permanente. As suas limi-tações são discutidas por Dieleman e Trafford(1976).Os solos de perfis relativamente homogê-neos permitem avaliar satisfatoriamente a ope-ração de sistemas de drenagem e obter adequa-das estimativas de condutividade hidráulica eespaçamento de drenos (Perrier et alii, 1972;Dumm e Winger, 1964).Isso nem sempre aconte-ce no caso de solos aluviais muito estratifica-dos, especialmente com o uso de equações defluxo não permanente, sendo necessário maiorvolume de pesquisa, especialmente em condi-ções de campo (Van Schilfgaard, 1974).

Neste trabalho apresentam-se informa-ções de testes de descarga num sistema de dre-nagem subterrãnea implantado em área de soloaluvial com problemas de sódio. Para sua análi-se usa-se, principalmente, a teoria para fluxonão permanente, mas também compara-se coma situação de fluxo permanente.

MATERIAIS E MÉTODOS

1. Estudo teórico - No caso de fluxo não permanenteas normas de drenagem se prendem ao rebaixamento do len-çol freãtico num certo tempo, a partir de uma situação inicial.Para descrever esta situação tem-se usado a equação da con-tinuidade na seguinte forma (Dieleman e Ridder, 1973):

ah/at= (KDIV)(iJ2h/ ax2)

onde KD é a transmissiviuade (m2/dia), h é a carga hidráuli-ca (rn),a qual é função de x e t; x é a coordenada horizontalde posição (m); t é o tempo (dias) e V é o espaço poroso dre-nável.

A equação (1) fica sujeita ás seguintes condições ini-ciais e de contorno:

t= O h=RilV= ho O<x<L (lençol freático inicial-mente horizontal)

t>O h= O x= O,x= L (água nos drenos a nível zero)

onde Ri é a recarga instantânea por.unidade de área (m), e hoé a altura do lençol freático inicialmente horizontal sobre onível dos drenos.

A solução da equação (1)para as condições anterioresé apresentada por Carslaw e Jaeger (1959),como sendo a se-guinte:

htx.t)« (4hohd i (l/n) exp (-n"at) sin (n7Tx/L) (2)n~ 1.3.5,

onde a= rr"KDIVV (Fator de intensidade de drenagem,días'") (3)

Para a altura do lençol freático no ponto médio entredrenos a qualquer tempo t, ht = h (1/2L,t) pode-se substituirx= 1/2Lna equação (2)obtendo:

ht= 4ho/7Tf (l/n) exp (-n2at)n~I,3,5

Segundo Wesseling (1973)os valores dos termos daequação (4)diminuem com o aumento de n. Certo tempo de-pois do término da recarga, t= O,4/a, o segundo termo e os se-guintes são desprezíveis, obtendo-se:

ht= (4/7T) ho exp t-at)

Colocando o valor de a (equação 3) na equação 5

obtem-se a forma da conhecida expressão de Glover-Dumm(Wesseling, 1973).

A taxa de descarga dos drenos no tempo t, quando ex-pressada por unidade de superfície (Rt), pode ser obtidada equação de Darcy:

Rt= -(2KD/L) (dh/dx) x= O (6)

Düerenciando a equação (2),com respeito a x, e subs-tituindo x= O,obtem-se para a equação (6)',

Rt= (8/7T") aRi f exp (-n2at) (7)n= 1.3,5

Considerando só o primeiro termo, tem-se:

Rt= (8/T) aRi exp t-at) (8)

Comparando-se as equações (5)e (8),deduz-se que du-rante a recessão na descarga tem-se:

Rt= (27TKd/V)ht

e também Rt./Rt, = ht./ht,= exp [-a(tct.>]

(9)

(10)

(1)

Na equação (9) tem-se incluído o valor d de Hoog-houdt, no lugar de D para levar em conta a resisténcia ra-dial ao fluxo perto do dreno.

Quando se usa a fórmula de Kraijenhoff Van de Leur(Díeleman, 1973) para o período de recessão, obtém-se omesmo resultado.

De acordo com a equação (10),se plotarmos Rt ou htnuma escala logarítmica e o tempo t numa escala linearobtém-se uma linha reta. A linearização dos dados de cam-po permitem determinar a, O fator de intensidade de drena-gem, a partir da informação de descarga de drenos com de-termínado espaçamento. Por outro lado, conhecendo a, Ve L pode-se obter a transmissividade KD do perfil do solo, econseqüentemente a condutividade hidráulica média querepresenta as condições naturais da área dos drenos.

2. Descrição do campo piloto de testes - O trabalho foiexecutado no projeto de irrigação de São Gonçalo no Esta-do da Paraíba. As características gerais da área e do perfildo solo foram descritas por Gomes e Millar (1978).

Essa área (1,3ha), já com um sistema de drenagem, foirecuperada e transformada em campo piloto de testes dedrenagem subterrânea. Esse sistema consiste de dreno! demanilhas de 60 em de comprimento e 10 cm de diâmetro,com um total de cinco linhas de drenos de aproximadamen-te 70 m de comprimento, instalados a uma profundidade de1,4m e 20 m de espaçamento entre linhas.

O sistema de drenagem foi originalmente instaladopor volta de 1945.As linhas de drenos vinham operando ul-timamente através dos trabalhos em execução do ConvênioDNOCS/SUDENE, mas foi extensamente limpa antes dostestes usando uma ponta metálica de forma elíptica, que le-va uma peça móvel e funciona com jato de água a pressão.Por outro lado, construíram-se estruturas de saída, das li-nhas dos drenos aos coletores, as quais permitiram o con-trole e a medida da descarga dos drenos.

3. Medidas e metodologia - Para os testes de descargade drenos é necessária a instalação de poços de observaçãona área. Na Figura 1 mostra-se um mapa esquemático docampo piloto indicando as linhas de drenos, o coletor decampo e parcelar e a distribuição de poços de observação. Arede de poços, com um total de 25, obedeceu a seguinte dis-tribuição: (1) poços na distância intermediária entre as li-nhas de drenos; (2)poços a 5 m do dreno; (3)poços a 1,5mdo dreno; (4)poços a 0,5m do dreno e (5)um poço sobre a li-nha do dreno D3' Os poços de observação foram instaladosde acordo com o procedimento descrito por Millar (1977).Usaram-se tubos de PVC de uma polegada de diâmetro, ins-talados até a profundidade dos drenos.

Fizeram-se três testes de descarga dos drenos. Paracada teste, a área do campo piloto foi previamente recarre-gada. Para ta! fim fecharam-se os coletores e as linhas dedrenos subterrâneos, através de tampas plásticas. Durantequinze dias inundou-se a área, sendo necessária a constru-ção de diques internos com a finalidade de obter melhor dis-tribuição da água. Uma vez completado o período de recar-ga ~em-se medidas simultâneas, a cada duas horas, da pro-fundidade do lençol em todos os pocos, e da vazão nas cincolinhas de drenos. A profundidade do lençol foi medida me-

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dois dias, sendo da ordem de 0,4 x 10-4 m/día'do 2.0 ao 4.o dia. A carga hidráulica diminuimais rapidamente durante o primeiro dia paralogo diminuir a uma taxa de 0,5m/dia, até o fimdo teste.

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diante uma sonda elétrica (Millar, 1977),e a vazão medianteo método volumétrico usando baldes de 20 litros e cronô-metro.

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DRENO COLETOR

Figura 1. Mapa esquemático do campo piloto de testes in-dicando as linhas de drenos e a distribuição depoços de observaçáo.

4. Análise dos dados - A informação de campo foi ade-quadamente transformada para os cálculos, como segue: (a)As vazões obtidas em litros/segundo foram convertidas emm/dia, através da seguinte relação:

R= (q x 10-3 x 86400)/LC

onde q é a vazão do dreno em Iítros/seg., C é o comprimentodo dreno e L é o espaçamento entre drenos; (b)Os dados deprofundidade do lençol freático foram convertidos em valo-res de carga hidráulica. Por exemplo, suponha que a profun-didade do lençol num poço esteja a 0,8 m do extremo do tu-bo. Se o extremo do poço está a 0,2 m acima da superftcie eos drenos a 1,4 m abaixo da superftcie a carga hidráulica é:

h= 1,4-(0,8- 0,2)= 0,8 m

(c) A informação anterior foi adequadamente colocada emgráficos para obter os dados para os c~culos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 2 apresentam-se os dados de ta-xa de descarga e carga hidráulica em função dotempo, para um dos testes de descarga de dre-nos. A taxa de descarga corresponde ao drenointermediário D3 do campo piloto. Utilizou-se odreno do meio para evitar o efeito de bordadu-ras no rendimento da descarga. O rendimentode descarga neste teste variou consideravel-mente de um dreno para outro, sendo da ordemde 400 litros num período de seis dias. A varia-ção da descarga acumulada é um reflexo da he-terogeneidade do perfil dos solos aluviais.

A informação da Figura 2 indica que tan-to a vazão como a carga hidráulica diminuíramrapidamente com o tempo. A taxa de descargadiminui com uma relação de 1,4 x 10-4 rn/día" atéR. bras. Ci. Solo 2: 90-94, 1978

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2 3 4 5 6TEMPO (DIAS)

Figura 2. Taxa de descarga e carga hidráulica em funçãodo tempo num gráfico normal.

A Figura 3 mostra a mesma informaçãoda Figura 2 em papel monolog. Os quadradosnas retas, correspondem a dados das curvas daFigura 2. De acordo com a análise teórica, quan-do a Informação de campo é plotada nesse pa-pel, obtém-se uma linha reta que fica descritapela equação (10). Mediante o gráfico da Figura3 pode-se obter o parãmetro conhecido como fa-tor de intensidade de drenagem a. O fator a é Ocoeficiente angular da reta, considerando-seque a equação (10), também pode ser descritacomo: #

Rt= Roe-at e ht= hoe-at (11)

ou t'nRt= fnRo-at e tnht= tnho-at (12)

A equação (12)é a relação da reta da Figu-ra 3, onde tnRo e fIlho são as interseções na or-denada, e a é a declividade das retas. O fator po-de ser obtido graficamente, resultando ser a= 2,3tan O, sendo O o ângulo da reta com respeito àhorizontal.

Da análise matemática se deduz que o va-lor de a deve ser idéntico, seja usando a infor-mação da taxa de descarga, ou de carga hidráu-lica, o que implica que ambas as retas devem'ser paralelas. As retas da Figura 3 não são para-

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DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES HIDRÁULICAS DE SOLOS ALUVIAIS ATRAVÉS DA DESCARGA... 93

CAMPO PILOTO I

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Figura 3. Taxa de descarga e carga hidráulica em funçãodo tempo num gráfico monologarítmico.

lelas, sendo isso observado nos três testes exe-cutados, o que dificultou para o cálculo de a. Amelhor forma de calcular a é tomar um ciclocompleto do logarítmo, resultando tan {}= 1/(t2 - tI). Usando os dados de descarga obtem-seque tan ()= 1/2,6= 0,38 dias-I, e a= 2,3 tan {}=2,3x 0,38= 0,87dias-I. Usando os dados de carga hi-dráulica obtém-se um valor de a igual a 0,32dias-I. A falta de concordância dos valores de adeve-se principalmente à grande heterogeneída-de dos perfis de solo da área estudada. Conside-rando a natureza do processo, o valor mais ade-quado é calculado através dos dados de vazões,já que os valores de carga hidráulica estão maissujeitos a erros devido à estratificaçáo do perfil.Da inspeção dos valores de carga hidráulica, éprovável que, ainda usando uma média dos seispoços em torno do dreno D3(Figura 1),haja de-fasagem em relaçáo à vazão de descarga devidoà variação da condutividade hidráulica das dife-rentes camadas.

Na Figura 4 mostra-se a relação entre ataxa de descarga e a carga hidráulica. Os círcu-los indicam valores tomados das curvas da Fi-gura 2. Esse gráfico, importante, permite calcu-lar a condutividade hidráulica, e também dá in-formação sobre o fluxo da água na posição dosdrenos.

Analisando o fluxo da água para os dre-·nos como uma situaçáo de fluxo permanente,obtém-se uma relação conhecida como fórmulade Hooghoudt (Dieleman e Trafford, 1976), a

qual, em forma simplificada, pode ser escrita co-mo R= Ah + Bh2• O primeiro termo indica acontribuiçáo de água das camadas abaixo dosdrenos, e o segundo termo a contribuição dascamadas acima dos drenos. Por inspeção da re-lação gráfica entre R e h, é possível definir acontribuição do fluxo. No caso da Figura 4, a re-lação é predominantemente reta, 1ndicando, as-sim, que a componente do fluxo para os drenosfoi da camada abaixo deles. Somente para car-gas hidráulicas expressivas no início do teste,houve uma contribuição das camadas acimados drenos, como indica a tendência para altosvalores de h (Figura 4).

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a::ct 2-u(f)wowoctx I -ctI-

0,5 , 0,7 0,9HIDRAULICA, h (M)

Figura 4. Taxa de descarga do dreno subterrâneo em fun-ção da carga hidráulica medida em pontos mé-dios entre drenos.

A infonnação da Figura 4 permite calcu-lar a transmissividade do estrato transmissorde água. Como foi evidenciado, a relação entreR e h é da forma R= Ah, linha reta, sendo A= 8Kd/V, o coeficiente do primeiro termo da fór-mula de Hooghoudt (Dieleman e Trafford, 1976),ou a declividade da reta da Figura 4. Dessa for-ma, obtemos que R/ha= 8 Kd/U, ou Kd= (R/h)(V/8), onde d é o estrato equivalente de Hoogh-oudt, e (R/h) é obtido da Figura 4. Também po-de-se obtero valor de Kd usando a relação (9) aqual difere da situação de fluxo permanente pe-lo fator 27Tno lugar de 8. Da Figura 4 obtém-seR/h= 5,33 x 10-\ e usando a equação (9)obtém-se Kd= 0,034 m2/dia. Uma inspeção do perfil dosolo indicou que a profundidade da camada im-permeável encontra-se entre 1 e 3 m e, portanto,

R. bras. Ci. Solo 2: 90-94, 1978

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Da anâlise anterior se deduz que o métodode descarga de drenos dá informaçáo valiosadas condições de fluxo de água para os mesmos.Contudo, observa-se que sua aplicação no casode solos aluviais muito estratificados apresentavárias inconsistências com os dados obtidossendo necessário realizar estudos mais detalha-dos, a fim de obter informações sob diferentescondições de fluxo permanente e não perma-nente para definir as características da descar-ga e assim definir também a metodologia maisapropriada para a análise dos resultados. Alémdos trabalhos em condições de campo, pode serde utilidade fazer pesquisas em condições con-troladas, usando modelos reduzidos.

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o estrato equivalente (d) é 0,8 a 2,15 m. Usandoesses valores de d, obtém-se K entre 0,015e 0,04m/dia. Esses valores de K são consideravelmen-te menores que os valores representativos obti-dos pelos métodos tradicionais (Gomes e Millar,1978).

Usando a equação (3), pode-se calcular aporosidade efetiva das camadas transmissoras.Feitos os cálculos obtém-se um valor em tomode 0,004, o qual está longe dos valores represen-tativos em solos. A porosidade efetiva, de acor-do com a relação empírica V= Rl/2,onde K dadoem m/dia, é 0,32 - 0,45, quando se usam valoresde K= 0,1 - 0,2 m/día como obtidos através demétodos tradicionais (Gomes e Millar, 1978).Oanterior está indicando que os valores de a, Kdou R/h não correspondem com os valores nor-mais reais das condições de descarga, e que aanâlise como fluxo náo permanente não descre-ve adequadamente a descarga da área de testes.Uma análise sob as condições de fluxo perma-nente dá outro tipo de informação (Figura 5).

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0,2 0,3 0,4 0,5CARGA HIDRAULlCA, h (M)

Figura 5. Relação R/h em função da carga hidráulica.

Na Figura 5 mostra-se a relação entre R/hpara a mesma série de dados anteriormente dis-cutidos. Novamente, usando a fórmula simplifi-cada de Hooghoudt R= Ah + Bh2 obtém-seR/h= A + Bh, relação que descreve a reta da Fi-gura 5, coeficiente B= 4K/U (Dieleman e Traf-ford, 1976)sendo igual à declividade da relação.No caso da Figura 5, B= 7,54 X 10-4 m/día,obtém-se K= 7,54 x 10-4 x 203/4= 0,075m/día, va-lor este mais próximo aos valores obtidos pelosmétodos tradicionais (Gomes e Millar, 1978).

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