done zine #3

7
Ladies Rockers Dias atrás eu li no jornal uma matéria sobre duas “divas” do rock. Kim Deal e Patti Smith. Sinceramente fiquei emocionada ao vê-las, principalmente Patti (se assim posso chamá-la). As duas na casa dos que muito chamam de “coroas”. Kim com 40 e Patti nos 55. “Que coisa mais linda!”, pensei. “Duas mulheres 'maduras', mas com o mesmo espírito rocker”. Nunca, apesar de todos os pesos que a vida nos coloca, parece que a música as abandonou. Ao contrário. Embora até silenciada por algum tempo, sempre esteve lá, dando-as caráter. Chegar na idade em que estão e continuarem rockers... Isso é rock'n'roll! Mas mais rocker foi ver ao vivo uma “lady” de 45 anos cantando punk. Estou falando de Ing, vocal do Gee Strings (da Alemanha), que esteve circulando pelo Brasil em maio. Isso dá força. Ao vê-las cantando começo achar que a vida não pode terminar depois dos 30. Ando preocupada em estar ficando mais “idosa” - fiz 27 há pouco -, mas vendo-as ali estampadas, bem mais vividas que eu, fortes em suas vontades, fiquei realmente feliz. Meu irmão mais velho sempre me fala que eu vou ter 50 anos e vou continuar indo a shows de rock. Me falou isso de novo exatamente antes de ir para o show do Gee Strings (e eu nem sabia que a vocal tinha 45 anos imaginava que era uma 'mocinha'). Disse a ele, que se depender de mim, escutarei rock e irei a shows de rock até os 100... ***************** E por falar em shows, nosso querido Brasil foi bombardeado por shows excelentes nestes últimos meses e gostaria de deixar aqui meu “muito obrigada” - exceto pelo preço ridículo de alguns - a todas essas pessoas que têm iniciativa e boa vontade de promover o rock independente nacional, com festivais de peso ou mesmo shows esporádicos em suas terras natais. April pro Rock (Recife e SP), Bananada (Goiânia), Elektro (BH) são apenas uns entre vários que pipocaram entre abril e maio. Com isso, além das bandas nacionais, aqueles que tiveram sorte de ter dinheiro na época puderam ver o estilo “simples-doce-tímido” de Tim Burgess, vocal do Charlatans, e de sua surpreendente banda distribuindo seus dotes musicais por aqui. “Outro nível”, como disse meu amigo Thiago sobre o guitarrista Mark Collins, quando saíamos do show. Caro, mas compensador... Malkmus, infelizmente, não pude assistir, mas ouvi relatos bastante contentes sobre sua apresentação em São Paulo. No mesmo dia estiveram Butcher's e Pullovers, este último, segundo testemunhas oculares, fazendo a melhor apresentação do April pro Rock em São Paulo. Até o fechamento desta edição estava marcado show de Agnostic Front, Mogwai, Watts (alguns integrantes do ex- Mono Men/Seatle) e de nosso amado Echo and The Bunnymen. Aqui por Campinas, estivemos órfãos de shows durante alguns meses, já que a única pessoa que promove shows legais na cidade (leia-se E.T.) se mostrou um pouco “abatida e desanimada” com a cena. Mas nuvens estão se movendo e novas alegrias já começaram a aparecer dentro de casa. O espírito “rock- promoter” de E.T. parece estar de volta. E ainda cogita-se nos bastidores algo mais movimentado para o segundo semestre. Alguém está devidamente engajado a tentar organizar um festival de rock decente na Unicamp, algo como um terceiro JuntaTribo. Estamos torcendo para que os boatos se tornem realmente fatos. (Contatos para enviar material pelo email *************** Done Zine chega em seu número 2, na verdade a terceira edição. Ficamos muito contentes com os vários contatos e pedidos que recebemos de várias partes do Brasil (obrigada Mário e Jesuíno). Realmente é muito empolgante e gratificante esta comunicação entre o “mundo independente”. E ficamos bastante honrados também ao saber que a entrevista de Mário Bross/Wry, publicada na última edição, foi a primeira dada por eles a um impresso no Brasil (obrigada Mário, mais uma vez!!!). Em agosto eles devem aportar por aqui para alguns shows. É muito importante que os meios de comunicação alternativos existam para que mais e mais a cultura independente possa se difundir. Falamos daquilo que gostamos, mas falamos porque acreditamos que realmente são bons. E se são bons merecem ser comentados, tocados, escutados. É isso... Escutem, assistam, leiam, divirtam-se... (Márcia Raele) Este zine é dedicado a todas as pessoas que me inspiram diariamente para publicá-lo (as bandas e meus verdadeiros amigos). Obrigada também a todos os colabores./ Falha nossa: no último Done, o selo Slag foi citado como sendo do Espírito Santo. Na verdade, Slag é de São Paulo. [email protected]). Done - zine - número 2. - junho/2002 Edição: Márcia Raele - Capa: Dimitri Souza Reis Ligue ou escreva - 19 32090434 [email protected] (c/ márcia)

Upload: done-zine-marcia-raele

Post on 03-Apr-2016

256 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Terceira edição do zine Done, com New Order, 24 hour party people, Old Suite, Suite #5, Kid Vinil, Bozo.

TRANSCRIPT

Page 1: Done Zine #3

Ladies Rockers

Dias atrás eu li no jornal uma matéria sobre duas “divas” do rock. Kim Deal e Patti Smith. Sinceramente fiquei emocionada ao vê-las, principalmente Patti (se assim posso chamá-la). As duas na casa dos que muito chamam de “coroas”. Kim com 40 e Patti nos 55. “Que coisa mais linda!”, pensei. “Duas mulheres 'maduras', mas com o mesmo espírito rocker”. Nunca, apesar de todos os pesos que a vida nos coloca, parece que a música as abandonou. Ao contrário. Embora até silenciada por algum tempo, sempre esteve lá, dando-as caráter. Chegar na idade em que estão e continuarem rockers... Isso é rock'n'roll!Mas mais rocker foi ver ao vivo uma “lady” de 45 anos cantando punk. Estou falando de Ing, vocal do Gee Strings (da Alemanha), que esteve circulando pelo Brasil em maio. Isso dá força. Ao vê-las cantando começo achar que a vida não pode terminar depois dos 30. Ando preocupada em estar ficando mais “idosa” - fiz 27 há pouco -, mas vendo-as ali estampadas, bem mais vividas que eu, fortes em suas vontades, fiquei realmente feliz. Meu irmão mais velho sempre me fala que eu vou ter 50 anos e vou continuar indo a shows de rock. Me falou isso de novo exatamente antes de ir para o show do Gee Strings (e eu nem sabia que a vocal tinha 45 anos imaginava que era uma 'mocinha'). Disse a ele, que se depender de mim, escutarei rock e irei a shows de rock até os 100...*****************E por falar em shows, nosso querido Brasil foi bombardeado por shows excelentes nestes últimos meses e gostaria de deixar aqui meu “muito obrigada” - exceto pelo preço ridículo de alguns - a todas essas pessoas que têm iniciativa e boa vontade de promover o rock independente nacional, com festivais de peso ou mesmo shows esporádicos em suas terras natais. April pro Rock (Recife e SP), Bananada (Goiânia), Elektro (BH) são apenas uns entre vários que pipocaram entre abril e maio. Com isso, além das bandas nacionais, aqueles que tiveram sorte de ter dinheiro na época puderam ver o estilo “simples-doce-tímido” de Tim Burgess, vocal do Charlatans, e de sua surpreendente banda distribuindo seus dotes musicais por aqui. “Outro nível”, como disse meu amigo Thiago sobre o guitarrista Mark Collins, quando saíamos do show. Caro, mas compensador...

Malkmus, infelizmente, não pude assistir, mas ouvi relatos bastante contentes sobre sua apresentação em São Paulo. No mesmo dia estiveram Butcher's e Pullovers, este último, segundo testemunhas oculares, fazendo a melhor apresentação do April pro Rock em São Paulo. Até o fechamento desta edição estava marcado show de Agnostic Front, Mogwai, Watts (alguns integrantes do ex-Mono Men/Seatle) e de nosso amado Echo and The Bunnymen.Aqui por Campinas, estivemos órfãos de shows durante alguns meses, já que a única pessoa que promove shows legais na cidade (leia-se E.T.) se mostrou um pouco “abatida e desanimada” com a cena. Mas nuvens estão se movendo e novas alegrias já começaram a aparecer dentro de casa. O espírito “rock-promoter” de E.T. parece estar de volta.E ainda cogita-se nos bastidores algo mais movimentado para o segundo semestre. Alguém está devidamente engajado a tentar organizar um festival de rock decente na Unicamp, algo como um terceiro JuntaTribo. Estamos torcendo para que os boatos se tornem realmente fatos. (Contatos para enviar material pelo email ***************Done Zine chega em seu número 2, na verdade a terceira edição. Ficamos muito contentes com os vários contatos e pedidos que recebemos de várias partes do Brasil (obrigada Mário e Jesuíno). Realmente é muito empolgante e gratificante esta comunicação entre o “mundo independente”. E ficamos bastante honrados também ao saber que a entrevista de Mário Bross/Wry, publicada na última edição, foi a primeira dada por eles a um impresso no Brasil (obrigada Mário, mais uma vez!!!). Em agosto eles devem aportar por aqui para alguns shows.É muito importante que os meios de comunicação alternativos existam para que mais e mais a cultura independente possa se difundir. Falamos daquilo que gostamos, mas falamos porque acreditamos que realmente são bons. E se são bons merecem ser comentados, tocados, escutados.É isso... Escutem, assistam, leiam, divirtam-se... (Márcia Raele)

Este zine é dedicado a todas as pessoas que me inspiram diariamente para publicá-lo (as bandas e meus verdadeiros amigos). Obrigada também a todos os colabores./ Falha nossa: no último Done, o selo Slag foi citado como sendo do Espírito Santo. Na verdade, Slag é de São Paulo.

[email protected]).

Done - zine - número 2. - junho/2002Edição: Márcia Raele - Capa: Dimitri Souza Reis

Ligue ou escreva - 19 32090434 [email protected] (c/ márcia)

Page 2: Done Zine #3

Vida perfeita

O recomendado é que durmamos de 8 a 10 horas por dia, mas o que vejo por aí é que a maioria das pessoas vão dormir antes e acordam muito, muito antes do que gostariam. Acordar, na verdade, é modo de dizer, pois passamos a maior parte do dia sonhando. Não necessariamente infelizes com a própria vida, mas de certo modo insatisfeitos, até ligeiramente frustrados.

Pois, onde está aquela vida perfeita por anos idealizada, com a pessoas perfeitas, músicas, filmes, livros perfeitos, empregos perfeitos, roupas, bares, bebidas e drogas perfeitas?

Talvez sonhar demais tire um pouco do brilho da realidade. Mas eu me lembro de pequeno, nos momentos mais difíceis, minha mãe falando de perseverança, determinação, de fé e de quando se quer algo com muita, mas muita força, mesmo que demore, sempre conseguimos. Lembro até de ter ficado com 40º de febre pra ganhar um tanque do “Comandos em Ação”. Será que se olharmos com os olhos bem arregalados não veremos que tudo é fácil quando não construímos nossas próprias barreiras, quando não nos auto-sabotamos? É... viver de sonho é que traz a tal frustração. Mas sonhar é o primeiro passo para a realização. Na edição passada do Done, isso foi bem retratado pelas matérias com o Wry e o Pullovers. E nesta com mais algumas outras.

Mas, enfim, estava eu num sábado de manhã meio nublado como eu gosto, lendo umas letras do Ian Curtis, esperando pelo show do Echo and Bunnymen, tentando aprender a tocar baixo, sempre com Simon Gallup e Petter Hook na cabeça, quando me lembro de um velho amigo (que felizmente ou infelizmente virou pastor Batista) me contando que a mulher perfeita para ele tem que acordar no domingo e, com a mesma intensidade que ele, viajar em New Order.

Mas já é sábado à tarde e está sol e calor, que eu abomino, e eu na casa da Marcinha bolando esta edição. E após me mostrar um trailer de um filme inglês e ler um email de Mário Bross falando de um suposto revival anos 80 e que pela terceira vez escutava Suite Number Five, eu lhe conto a história do tal velho amigo e, com toda a intensidade que ele procurava, ela exclama “que cara lindo!!!!!!” e me fala que para sermos realmente felizes temos que tentar realizar tudo o que sonhamos mesmo

que pareça impossível. E eu me lembro do velhinho pintor de ossos de vidro de Amélie Poulain dizendo que “às vezes é preciso mergulhar de cabeça”. Sim, parece banal e todo mundo sabe disso, mas freqüentemente eu esqueço e então eu apenas balanço a cabeça concordando.

Voltamos, então, os dois pra tela de seu computador e pela milésima vez entramos no tal trailer citado acima... 24 Hour Party People...

(Rafael Martins)

Por trás da cena

Se você tem sangue quente correndo em suas veias certamente o filme 24 Hour Party People irá fazer você tremer. Ainda não tive a chance de velo inteiro. Mas só o trailer já me fez ter convulsões. Não! Não iguais as de Ian. Aliás, hoje (quando escrevo este texto) é 18 de maio. Aqui está tudo bem e aí?

Voltando a Terra... Trilha sonora perfeita fez os tempos nos 80. Sexo e drogas também. Club noturno. Haçienda é o nome, e por trás dele New Order e Tony Wilson - o homem por trás da cena. No meio deles, Happy Mondays e todo o início da geração ácida. Manchester é a cidade, como eles dizem “a mais vibrante do mundo”. Inglaterra é o país. Onde mais?

É a febre dos anos 80 de volta. Perda de tempo relembrar o passado? Que se dane! Se ele foi bom, que venha novamente e venha grande!!!!! “Here To Stay”.

“Abrimos um clube noturno porque estávamos muito influenciados pelas viagens aos EUA. Queríamos criar um ambiente em Manchester e achamos que um clube noturno era o melhor modo. Queríamos que fosse um bom clube noturno, por isso nos inspiramos em lugares tipo o The Paradise Garage e o Fun House”, Bernard Summer.

“Basicamente abrimos o Haçienda porque não existia lugar para se ir à noite... e também de dia. Era um lugar para se passar o dia”, Peter Hook.

24 Hour Party People - Direção: Michael Winterbottom - http://www.fhm.com/24hourpartypeople. (Márcia Raele)

Done - Vai, pergunta óbvia. Como a banda se formou? músicas, mas para ver os músicos (risos)...João - uma vez na festa do Sérgio “Capeta” eu queria formar uma banda, pois eu estava saindo do Acme. Daí eu chamei um amigo, Done - Sex symbols?o Pirulão (baixista) e o Diogo (batera) também estava saindo de João - é… mas de alguma forma acabam se identificando.outra banda e por coincidência o Flavinho (vocal) estava saindo do Subtonics. E tinha o Gal que a gente já tinha feito uma bagunça Done - Por que Suite Number Five?antes, mas ele estava entrando na Unicamp e estava sem tempo e João - (em gargalhadas) Tinha um monte de nomes que o Flavinho daí ele entrou e a banda se formou. tinha trazido e entre esses o Suite Number Five era o que soava

mais bonito para a gente. Mas era Sweet, de doce. Então eu falei Done - O público de vocês vem crescendo em pouco tempo. para colocarmos Suite, de suíte mesmo, que era mais legal. Não Vocês acham que isso é pelo fato de terem tocado em outras tem nada a ver com garotas no quarto (mais gargalhadas).bandas?João - Com certeza. A gente tem bastante amizade. Quando Done - Falem um pouco das gravações de “Nothing in The formamos a banda todo mundo ficava perguntando como era a Sky” [primeiro CD da banda].banda, quando ia ter show. O pessoal vai vendo o show, gostando João - A gente gostou bastante. Tivemos alguns momentos das músicas, não sei se se identificam e se gostam do show ou das conflitantes, por musicalidade, porque quando você está pessoas, porque tem gente que vai ao show não para ouvir as ensaiando é uma coisa, mas quando está gravando é mais

Rafael Martins

Demorou quase um mês para conseguir esta entrevista. O empresário deles ficava me perguntando para qual revista eu trabalhava, qual era a última banda que eu havia entrevistado, qual a música deles que eu mais gostava, quais shows eu havia assistido. Mas, enfim, consegui falar com João (guitarra) e Diogo (bateria), da maneira mais familiar e esculhambada possível, na sala da suíte número 5 de João, vendo o São Paulo meter 2 a 0 no Palmeiras. Até o Vítor, o guri de João que chegou há um mês, deu opinião. Então, com a palavra a banda mais cheia de firulas de Campinas dos últimos tempos: o Suite Number Five.

Suite Number Five e 2 a 0 pro São Paulo!

Page 3: Done Zine #3

responsabilidade. Eu adorei gravar. tem o material em mãos e fica deixando para depois. Mas têm lugares que já pediram para a gente mandar.

Done - E quais as expectativas em relação ao CD?João - A gente espera que as pessoas ouçam, gostem, Done - Se pegarem não só em Campinas, mas no levem pra casa e mostrem pra mais alguém. A gente Brasil inteiro, são poucas as bandas que têm uma sabe que não vai fazer sucesso ou tocar na Rede certa continuidade de trabalho. Por exemplo, em Globo... Campinas mesmo temos o Linguachula que

lançou um CD e acabou. Também o Lethal Done - Mas isso é bom, não? Charge. Talvez o Muzzarelas sejam os únicos que Diogo - Isso é ótimo! tenham conseguido chegar ao quarto CD. Isto pra João - O importante é que as pessoas ouçam e vocês é uma preocupação?gostem. João - Quando eu formo uma banda ou entro numa

banda é para tocar por longo e longo tempo. Mas se Done - E a quanto andas o lançamento? Vocês já a banda acaba, beleza. Mas eu formei o Suite têm algum contato? Number Five pra tocar até velhinho.João - Contato a gente tem. Mas vamos pegar um pouco no pé da galera. Está faltando um pouco mais de responsabilidade e um pouco de grana. A gente

Done - Uma vez vocês me falaram de uma tal síndrome Stone Roses, de todos estarem elogiando o CD e vocês encanados por não conseguirem fazer algo tão bom ou até das pessoas ouvirem o CD e depois verem que ao vivo diferente (mas não no sentido de ruim). Como vocês estão lidando com isto?Diogo - quando gravamos o CD a preocupação era essa, pois ela ficou muito boa, mas o primeiro show depois da gravação já foi muito bom, acho que até melhor que antes.

Done - e o fator Stone Roses?

João - Acho que isso rolou por um independente hoje? Vocês acham que Done - Falando em Bar 54, vocês teriam período, mas chegou um certo momento existe uma “cena”? alguma “solução mágica” para voltar a que a gente começou a ensaiar sem se João - Eu não sei se existe uma cena. Está ter bandas tocando em Campinas?preocupar com isso e as canções juntando uma galera que tem consciência e João - O problema dos bares de Campinas começaram a entrar de novo e está colocando na mídia e tal. Mas na é o seguinte: tem uma galera que vai todo começamos a fazer canções que até verdade ela existe há muito tempo. Selos o sábado, mas chega uma hora que elas superavam as expectativas das anteriores. sempre existiram, gente fazendo shows em começam a fugir do bar. 'Ah, essa banda A síndrome Stone Roses acabou, foi uma barracos fechados, em lugares abertos... eu já vi, aquela eu não conheço e deve ser crise passageira. talvez agora com a internet estejamos chata'. Por conseqüência os bares tipo 54 e

vendo mais... Tipo: vai ter festival em tal o Ozz acabam fechando. Tem também a Done - O Mário, do Wry, andou lugar, vai tocar tal banda. Eu acho isso galera que vai raramente e quando vão elogiando bastante o som de vocês e ótimo. ficam zoando e falando mal do bar. O que falou que em Londres está acontecendo precisa é ter umas baladas monstro de 15 um tal revival dos anos 80, e o som de Done - Teve um show de vocês que teve em 15 dias. Está precisando ter um vocês, eu sinto, é bastante isso. Com até streap tease. Tem algum show que festival, porque Campinas merece. Está tudo isso, vocês já pensaram na foi memorável? rolando um boato de que vai ter um possibilidade de arrumar as malas e ir Diogo - Isso foi no segundo show, que foi terceiro Juntatribo.pra fora? no bar 54. O Pirulão empolgado começou Diogo - O problema é que os “roqueiros” João - Eu acho que isso depende de cada a tocar e falou que ia tirar a roupa e todo de Campinas reclamam de barriga cheia. um. A gente teria que se reunir e mundo começou a duvidar e de repente ele Tipo eles vão ao bar por R$ 5,00 para ver conversar sobre isso. Particularmente eu tirou e ficou só de cueca. três, quatro bandas e falam para abaixar não tenho esse sonho de ir fazer sucesso João - Outro show memorável foi o de pra R$ 3,00. Em São Paulo, a balada mais lá fora. Eu tenho medo dessa questão. O Sorocaba. Geralmente depois de um show barata é R$ 10,00 pra ver duas bandas.som que eu quero fazer é para cá. Talvez, bom a gente faz um ruim. Não que seja se em algum momento a banda se ruim pro público, mas pra gente. E Done - Gol!!!!!transformar e precisar buscar um público vínhamos de um show bom na Moradia João - De quem?maior, mas eu acho que por enquanto as (Unicamp) e também sempre que a gente Done - São Paulo!!! (ao fundos todos nossas necessidades estão sendo supridas. toca com o Pullovers é fatal. Mas esse foi comemoram, afinal o gravador ainda A gente mal conseguiu sair para tocar em nosso melhor show... estava ligado). Tem mais alguma coisa outros lugares aqui mesmo. Diogo - Até o segurança ficou pedindo o que vocês queiram falar?

CD. João - Eu gosto de vinho.Done - Como vocês vêem o mercado Diogo - a gente gosta de tocar bêbado.

Page 4: Done Zine #3

formação musical. Quando pequenos assistíamos a muitos shows do Killing Chainsaw de Piracicaba. Eles também foram sem dúvida uma influência importantíssima para o Old Suit”, afirma.

O primeiro trabalho, “La Enfermidad”, veio quando tinham cerca de 15 anos e a pouca idade dos integrantes da banda nunca havia sido um problema até então. O entrave só apareceu quando tiveram que fazer shows no Nordeste e no Sul. Sem autorização do Conselho Tutelar, nada feito. Só puderam seguir viagem depois da tal autorização, o que Neto lembra com certo humor. “Na época essa história foi bastante comentada por fanzines”, diz.Hoje, um pouco mais velhos e com a vida cheia de “responsabilidades”, fazer shows está mais difícil. Mas como comenta Robinson (baixista do grupo), “foram poucos os shows, mas todos muito bons”.“É que sempre tivemos problemas com agenda. O Dadá estuda em São José do Rio Preto e o irmão dele, André, nosso vocalista, estuda em Teresópolis. Então fica difícil a gente conseguir marcar shows. Mas tudo bem... tocamos por prazer mesmo”.

A banda que mais tenho escutado nas últimas semanas, sem dúvida, é o “The Old Suit”, de Cerquilho (SP). O maravilhoso EP em CD “Terno Velho” chegou em minhas mãos através de meu colega Rafael Martins, que falou: “tem uma banda muito legal de Cerquilho, que você vai se impressionar com a qualidade sonora das músicas. Parece que eles têm muito tempo de estrada”. Ele tinha razão. Suas músicas são pura poesia e melodia encaixadas perfeitamente entre guitarras, baixo e bateria.

Confesso minha ignorância a respeito do grupo e já até me desculpei com eles pelo fato. Mas é imperdoável a banda existir desde 1996 e a ter escutado apenas em 2002. Pedi desculpas a eles também por um certo preconceito de minha parte, pois nunca imaginei que pudesse existir uma banda tão boa em Cerquilho, uma pacata cidade com pouco mais de 30 mil habitantes do interior de São Paulo. Realmente puro preconceito, porque se isso fosse certo não teríamos ganho uma das melhores bandas de todos os tempos (na minha opinião, é lógico) que foi o Killing Chainsaw vinda de Piracicaba (embora seja bem maior que Cerquilho). Aliás, a existência do Killing Chainsaw está diretamente associada a do Old Suit.

A maturidade das músicas, comentada por Rafael, provavelmente é pelo tempo de estrada dos músicos. Além de terem influência musical dentro de casa vinda dos pais, eles tocam desde os 10, 11 anos (!!!! hoje estão na faixa dos 23), quando tinham uma banda chamada Mrs. Mary's Room. O primeiro show que assistiram do Killing, segundo comenta Neto (guitarrista da banda), foi com 13 anos. “Desde pequenos, todos gostamos muito de rock. Tivemos muito apoio e influência dos nossos pais e sem dúvida isso contribuiu muito para nossa

Márcia Raele

Os velhos jovens garotos de Cerquilho

Scott Weiland - “12 blues bar”Este disco solo do vocalista do Stone Temple Pilots passou desapercebido por público e foi pouco comentado pela crítica especializada. Trata-se de uma excelente mistura de melodias super harmoniosas (Beattles e anos 60 em geral) com guitarras barulhentas tipo serra elétrica, que provavelmente foram plugadas em linha e gravadas sem passar por amplis.O resultado é impressionante pois o disco traz 12 composições assinadas pelo Junkie Scott que vinha de uma fase recheada de internações brigas e porres que ocasionaram um break na carreira do STP, que na mesma época(1998) soltou um disco com outro vocalista sob o nome: Talk Show.Ironicamente nenhum dos dois alcançou sucesso comercial, o

Coco Halley “Never Gone um punhado de baladas, não traduções, explanações e Away”: Cerquilho deve ser tristes, mas serenas. diagramações igualmente

(Rafael Martins)uma típica cidade do interior insanas.(Dimitri Souza Reis)de São Paulo onde as horas

Libertinagem (sem título): o passam calmas e lentamente, mais recente lançamento da l- The Microphones é uma pois uma definição mais dopa em conjunto com o banda de um homem só: Mr simplória do Coco Halley coletivo cisma (de Belo Phil Elvrum. Letras simples, seria descrevê-los como Horizonte), como não poderia vocais calmos (quase Weezer com freio de mão deixar de ser, transborda sussurrados) e melodiosos, e puxado, mas seria um tanto criatividade e trabalho uma engenharia sonora que vago. Os vocais e guitarras artesanal. O som é quase garante ambientações nos remete realmente aos indefinível e ultrapassa a linha fascinantes, como na música nerds californianos, mas a da insanidade, as letras são “The Moon”. Microfonias, bateria muitas vezes nos leva ora em inglês ora em baterias nervosas e muito até o final dos anos 50 e a um português e até partes em experimentalismo também clima... eu diria “emotional”. espanhol. O cd vem em uma fazem parte de seu trabalho. Já existe o rótulo “emo-caixa de papelão grande com Excelente para um domingo guitar”? Na verdade as vários textos e junto as letras, chuvoso. (Márcia Raele)músicas do Coco Halley são

que dá a impressão de que um não funciona sem o outro. Mas no caso deste trabalho vale a pena conferir pois é de primeiríssima. Não precisa ser fã do STP que aliás, não tem conseguido alavancar a carreira ultimamente, mas continua produzindo.

(André Biaggio)

Audio DicaAudio DicaThe Old Suit - “Terno Velho”

Por Rafael Martins

Nunca um nome pareceu vestir tão bem uma banda como este “Terno Velho” de Cerquilho (SP). Eles parecem que estão uns 10, 15 anos na estrada, tamanha a maturidade e coesão de suas músicas, que são lentas, reflexivas e elegantes, mas com arranjos simples que se movimentam para lugares distintos.Bom, poderia classificá-los como college-rock (???) se eu soubesse o que é isso exatamente, mas é recomendado para quem gosta de rock arrastado e denso. Talvez se estas canções fossem despidas de eletricidade, poderia muito bem chamá-las de folk.A capa é belíssima e um detalhe engraçado é que Belladona (última música do CD “Terno Velho”) é uma versão em português de Speedpeach (eles cantam em inglês), mas carregada de sotaque gringo.Além “La Enfermidad” e “Terno Velho”, o The Old Suit esteve também na coletânea “Different Songs” e, provavelmente, neste mês deverá sair numa coletânea ainda sem nome lá no Japão. Para contatos: www.oldsuit.hpg.com.br ou [email protected].

Page 5: Done Zine #3

Não sei por que, mas quando pequeno eu odiava o Bozo, e 94. Durou até 98, quando Thiago mudou-se para Brasília, hoje, sei lá, mais adulto (???) acabei de entrevistar o Bozo mas retornaram em 2001.Thiago (do “Programa do Bozo” Rádio Muda/Unicamp). O Ao contrário da maioria dos programas da Rádio Muda, eles outro Bozo, o Daniel, estava em Sampa e pelo que consta realmente se levam a sério, sustentando a liberdade de fazer não existe um terceiro. O mais engraçado é que por motivos o que querem, mas preocupando-se sempre com a de desencontros a conversa aconteceu no horário matutino, qualidade. E essa é justamente uma das questões o que se transformou num agradável café da manhã como o levantadas, de como essa proposta de “rádio livre” é mal nosso adorável palhaço. utilizada. Como defende Thiago, o fato de ter liberdade não O Programa do Bozo é um dos poucos sobreviventes da significa algo como ficar em casa brincando com o gravador. “geração JuntaTribo”. É transmitido pela Rádio Muda, todas “Do outro lado tem um monte de gente ouvindo, você está as quartas, das 20 às 22 horas e é um verdadeiro oásis para entrando em outras casas.Tem que pensar antes o que vai quem se interessa pelo que está rolando de novo e autêntico falar, o que vai tocar, mas parece que para alguns essa na música e também por humor e já está farto de todas preocupação não existe e isso desvaloriza a rádio”.essas baboseiras que se ouve por aí. Para Thiago o mercado independente hoje está muito mais O cardápio é simples: locutores (???) inteligentes e “profissional” do que quando começaram a fazer o programa empolgados fazendo algo em que realmente acreditam e em 1994. Ele só lamenta o fato de Campinas não ter mais gostam. E isso engloba piadas, na sua maioria nenhum lugar que role bandas, como “os bares do ET”. “Eu extremamente sem graça, mas provavelmente pelo acho que falta um pessoal que se junte e pense 'vamos despojamento que são contadas se tornam extremamente fazer', e organizem, articulem, porque gente que curte tem engraçadas, além de um gosto musical realmente refinado. um monte”.Muito rock independente nacional e rock gringo que Mas mesmo divulgando muitas bandas independentes, ele geralmente não se ouve em outros lugares seja ele não acredita que faça parte de uma “cena”. “A gente adora independente ou mainstream. descobrir coisas novas. Por isso, quem quiser mandar E foi justamente por amor à música e a insatisfação pelo o material pode escrever para [email protected]. que estava rolando que Thiago e Daniel decidiram, ao Só que a gente não promete tocar nenhuma, pois como a entrarem na faculdade em 1993, aproveitar a oportunidade gente faz tudo, a gente só toca aquilo que a gente acha oferecida pela Rádio Muda, a rádio “livre” da Unicamp. legal. Sem querer ser pedante, mas é um dos lugares em Porém, o formato e o nome como está hoje só surgiram em que o que vai imperar é só o gosto mesmo”.

Café da manhã com o BozoPor Rafael Martins

PARKER - "O ensolarado clima retrô em contraste às frias paisagens suecas”

outras reproduções insolitamente absurdas que tanto musical que libertou e alçou as mulheres diante dos agitaram - e tornaram lendárias - as matinês no Ritz e spotlights do show-business como nunca se tinha CBGB (NYC), Eletric Circus, Marquee Club, ambos visto antes na indústria do entretenimento.ingleses, e outros "pulgueiros" espalhados no circuito Entretanto, o que se pode constatar nitidamente é anglo-saxão daquele período transitório. uma saudável viagem ao tempo em que a simpática Deste universo bastante fértil e divertido - que ao tríade desfrutava da inconseqüente, mas

por Jailson de Assis - Junkmail longo de mais de 20 anos serviu de fonte inspiradora apaixonante, fase da adolescência, mantendo [email protected]

para grupos tão diversos como Primitives, Darling apenas uma ligeira acidez nas letras. E para não Buds, Sugarcubes, Throwing Muses, Pixies, Nirvana, deixar dúvidas com relação a competência deles em

Muito criticado por admiradores de vertentes Echobelly, Elástica, The Donnas, Le Tigre e The fazer o que alguns veículos informativos vêm

contemporâneas como o heavy-metal e o hardcore, o Strokes -, e vindo das frias e bucólicas paisagens da chamando de new "retro" wave basta uma atenciosa

estilo convencionalmente chamado new wave Suécia (o habitat de crias como Cardigans e audição em seu álbum de estréia, "Aderpale",

marcou época na virada dos anos 70/80 por Wannadies), apareceu talvez a mais precisa releitura lançado no segundo semestre de 2001 e totalmente

proporcionar uma releitura despojada e fortemente daquela era de múltipla plasticidade nos últimos bancado pelo grupo.

engajada no frescor juvenil. Tal aversão talvez se anos: o promissor trio Parker. Com cerca de quatro As 10 faixas que o compõem são autênticas

deva pelo suposto espírito de descartabilidade anos de atividade, o grupo é formado por Eva Parker, "polaroides" - que o diga a capa, a aparelhagem

impulsionado pela sua urgência propagandeira Carlos Parker e Klaus Parker, que se revezam nas utilizada e a forma de gravação- de uma estética tão

(envolvente caráter melódico e comercial, músicas guitarras, baixo, teclados e bateria; tendo Eva como criticada pelo charme vilipendiano. A urgência

curtas, letras na maioria das vezes reproduziam o autora de todas as letras e encarregada do vocal desenfreada nas duas primeiras músicas, "Let´s Go

universo pueril, ressurgimento da importância dos principal. To Bed" e "Sweet Lover of Mine", comprova que as

compactos, forte apelo visual nos então aperfeiçoado Assim como os Ramones se denominavam "irmãos" influências ramonescas não se estende só no nome

promo-videos e as chamativas referências secretos de Paul McCartney, possivelmente motivo do trio. Em "Blind and Stupid", as características mais

criptográficas).para adoção do sobrenome seja o de insinuar um evidentes de bandas inglesas ligada ao início do

Suas mais expressivas fontes de idéias áudio-visuais curioso "parentesco" com a polêmica punk como Au Pairs, Adverts e XTC e as levadas do

pairavam em torno dos dez primeiros anos de escritora/poetisa novaiorquina Dorothy Parker Mersey Beat da Liverpool sessentista também

rock´n´roll (rockabilly, instrumental rock, surf music, (militante feminista dos anos 20/30, tendo tb escrito marcam presença. Os lisérgicos floreados nas

mersey beat, beat ballads, bublegum, british blues, peças teatrais, ensaios, canções e roteiros guitarras e o vocal de ninfeta de Eva em "Sunshine

psico-garage rock, etc) aliado a um certo tempero de cinematográficos para musicais como "Nasce uma After The Rain" remetem ao regressive rock dos anos

sua época (ska, reggae, funk, discotheque, ritmos Estrela" e "Perfídia"; além de ter parte de sua carreira 80 presente no Parachute Men e Primitives, bem

caribenhos, glitter-rock, musica eletrônica e transformada em filme pelo diretor Alan Rudolf, "O como a envolvente batida muito próxima ao surf-

minimalista), sob uma produção mais bem encorpada Circulo do Vicio" de 1994). Da mesma forma como as punk-pop das Go-Go´s. A levada cadenciada e o

(era véspera da criação dos samplers e dos estúdios letras e uma certa postura de líder adotado por Eva a vocal lento e levemente melancólico em "Miss You

digitais); além de fortes citações a filmes juvenis partir da inquieta personalidade de Dottie, o visual e like Crazy" não faria feio no repertório de Martha

nostálgicos, livros/filmes de ficção científica nível B, principalmente as músicas deveriam refletir de forma Davis e o seu The Motels. O apelo bubblegum com

personagens de quadrinhos e desenhos, além de explicita os maneirismos de tal influente gênero uma incisiva pegada punk em "Hip Hip Hooray"

Page 6: Done Zine #3

Em abril, Kid Vinil e o grupo Magazine estiveram em Campinas para lançamento do CD “Na Honestidade”. Uma apresentação bastante cínica e divertida.Mas antes do show, realizado na Fnac, Kid e toda a banda conversou com “Done” e, além de muitas informações sobre o Magazine, comentou algumas coisas bastante interessantes... como notícias de possíveis shows aqui no Brasil do The Hives e do Belle & Sebastian pela segunda vez.De maneira totalmente humilde, Kid também falou de sua “representatividade” dentro do rock nacional. Ser chamado de guru, enciclopédia do rock etc, definitivamente não é para ele. Não que não tenha gabarito para tal. Mas simplesmente porque não gosta. “Eu tenho essa humildade pra chegar nas pessoas e dizer 'olha, esse aqui eu não conheço, você sabe o que que é?'. Acho bobagem essa coisa de você querer se impor de certa forma. Ninguém tem esse poder de ser tão conhecedor”.

O Wry está na Inglaterra e tem outras bandas do Brasil também por lá. O que vocês acham de banda brasileira tentar um mercado lá fora?Kid Vinil - Não é fácil. Eu sei a dificuldade que eles estão enfrentando. Se eles caem nas graças de algum crítico, de algum jornal tipo New Music Express tudo bem, aí a vida muda. Até cair nas graças e no “hype”, isso é muito difícil. Acho que a gente poderia dar o exemplo do Maria Angélica... o Fernando Naporano foi pra lá tentar e não conseguiu cair nas graças de ninguém.

Mas aqui no Brasil eles até tinham alguma “graça”, pro público brasileiro eles eram bem conceituados na época, não?Kid Vinil - É exatamente. É esse que é o problema, se eles ficarem todo

Kid Vinil: “eu não sou sabe tudo”Márcia Raele

Márcia Raele

um tempo e não conseguirem conquistar ninguém, não adianta tocar em pub ou qualquer lugar. Esse circuito não chega a lugar nenhum. Tem que sair no New Music Express, tem que conhecer os jornais... que nem o Drugstore... a Isabel Monteiro caiu nas graças dos caras. Eu lembro que ela lançou o primeiro compacto e eu vi no Melody Maker “Compacto da Semana”. Nossa! Uma brasileira! Eu fiquei entusiasmadíssimo. “Nossa! Meu deus do céu! Uma brasileira saindo como compacto da semana!”. Eu fiquei desesperado querendo saber o que é que era, e o Fernando Naporano, que estava morando lá, me mandou o disco. Aí todo disco que ela lançava era disco da semana, disco do mês... É incrível que a crítica na época abraçou a banda e isso a ajudou crescer. Mas se isso não tivesse acontecido, nada teria acontecido, como muitas bandas foram para lá e nada aconteceu. O problema é cair nas graças. É uma puta máfia, como é aqui também. Mas a tentativa é válida. Vale a experiência. Tomara que eles consigam cair na graça desses jornalistas, porque é a única maneira de você conseguir “sobreviver” lá.

Você é considerado um certo ponto de referência para o rock aqui no temos um plano de trazer novamente o Belle & Sebastian, mas este ano Brasil. O que você acha desse conceito que as pessoas costumam dar não sei se eles têm data. Se tiverem, até o final do ano a gente queria a você e como você mesmo se definiria? trazê-los novamente.Kid Vinil - Não... eu sou uma pessoa que gosta de música, eu não sou “Reverendo Massari”, eu não sou nada disso... eu não gosto de ser Quando vocês tocaram no JuntaTribo, o que vocês acharam?chamado de enciclopédia, eu acho bobagem e acho até chato esse tipo de Kid Vinil Foi muito legal... mas foi muito confuso, porque a gente tocou coisa. Eu sou um cara que gosta de música, mas eu prefiro não ser taxado tarde pra caramba, foi a última banda, muita gente já tinha ido embora. como gênio, deixa a genialidade para essas pessoas, sabe? Eu gosto de Foi chato um crítico que não viu nosso show e escreveu que ele não boa música, não sou nenhum gênio. gostou e no fim ele confessou para alguém “eu não vi o show, mas eu

não gosto deles”. Tentou emendar e ficou pior ainda. Mas pra nós o show Foi um processo natural? foi legal. A gente estava muito a fim de fazer aquele show e a fim de Kid Vinil - É um processo natural. Gostar de boa música é processo tocar. Pena que a gente entrou muito tarde e não conseguiu ter um natural, eu detesto forçar uma barra, dizer que eu conheço, que eu sei de retorno que a gente esperava do público pelo fato do horário. Mas no tudo. Eu não sou “sabe tudo''. Conheço música, conheço um pouco, palco eu me senti muito bem, a banda estava muito bem, a gente estava tenho muito para conhecer ainda, eles (integrantes do Magazine) me ótimo no palco, a gente estava feliz.ensinam muito. Às vezes não sei coisas, eu pergunto pro Airton (contrabaixista), pro Carlos (guitarrista e produtor). Eu tenho essa Esse tipo de festival deveria existir com freqüência?humildade pra chegar nas pessoas e dizer 'olha, esse aqui eu não Kid Vinil - Eu acho que sim. É uma oportunidade pras bandas. Com conheço, você sabe o que que é ?'... acho bobagem essa coisa de você certeza! Se tivesse todo ano, acho que incentivava muito mais. Tem que querer se impor de certa forma. Ninguém tem esse poder de ser tão ter uma infra-estrutura, patrocínio é complicado, mas de certa forma é conhecedor. Tudo bem, eu sou uma pessoa que dedica muito tempo da uma luta e tem que correr atrás. Alguns patrocinadores vão atrás daquilo sua vida à música, praticamente toda minha vida, todo o meu tempo a que é moda. Mas as pessoas têm que tentar convencer que isso também é isso, mas às vezes acho até curto esse espaço de tempo pra tanta coisa e legal. Não pode desistir no primeiro não. Eu sei que não é fácil. Mas tanta informação. também não é desistir...

Como diretor internacional da Trama, você tem trazido várias coisas legais pro Brasil... Yo la Tengo, Belle e Sebastian, o Malkmus ... Tem algo mais pela frente, algum projeto?Kid Vinil - A gente está trazendo aos poucos esses grupos pra cá. Na verdade, às vezes é um processo difícil para trazer essas bandas, porque tem um gasto muito grande com isso. Mas pra gente é importante porque é uma forma de divulgá-los aqui no Brasil. Este ano ainda tem o Magwai, que é da Escócia (entrevista realizada em abril/ os shows aconteceram em meados de maio). O Hives a gente está com vontade de trazer se a gente conseguir lançar o disco até o final de maio. Está meio enrolado essa questão do lançamento mas a gente pretende lançar ainda. E se der certo a gente quer trazê-los para fazer show também. Também

Márcia Raele

Page 7: Done Zine #3

lembrando as afetações sensuais de Debbie Harry nos primórdios do Blondie. A ênfase em grooves e na forte marcação de "I Want A Life" (a música mais pesada do disco) seria facilmente associada ao trabalho das Lusicous Jackson. Em "Never Again" e "Do do You", as linhas de baixo a frente, a forte levada sincopada, a utilização do lendário órgão Farfisa e o vocal ligeiramente mais grave nos traz a mente os belos sucessos de Rick Ocasek e o seu marcante grupo TheCars. Para encerrar o disco de forma inusitada, temos uma versão da balada "Thunder In My Heart", do cantor Leo Sayer - teve um razoável sucesso nos anos 70 com as musicas "When I Need Love" e "You Make Me Feel Like Dancing". Um exótico desfecho em pouco mais de meia hora de puro deleite retroativo.Apesar de estruturalmente não propor nenhuma ruptura com sua concepção musical, o apaixonante exercício de releitura proposta pelo suecos do Parker é autenticamente fiel aos supostos ideais da New Wave: simplicidade, despojamento e uma divertida tensão entre o "artístico" versus o "fútil".Tais elementos já eram detectáveis na obra de visionários como Jonathan Richman (Modern Lovers), Tom Verlaine (Televison), Peter Laughner (Pere Ubu), Chris Stein (Blondie), David Byrne (Talking Heads), Richard Hell (Voidoids), Elvis Costello e Joe Jackson. Contra todas as dificuldades e incompreensões possíveis na época, eles souberam encontrar no mar de obviedades e pretensões - combinando lirismo desregrado a uma lépida plasticidade -, o caminho para a eternidade através de seu legado artístico.

[email protected]