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REVISTA DE MANGUINHOS | MAIO DE 2015 28 Biblioteca de Obras Raras da Fundação foi palco da assinatura de um contra- to que representa um grande passo para a pre- servação e difusão dos acervos culturais e científicos da instituição, com o lança- mento do projeto Preservo: Complexo de Acervos da Fiocruz. A iniciativa, uma parceria com o BNDES, permitirá cons- truir infraestrutura moderna e obter tec- nologias mais avançadas para a guarda e o acesso público ao extenso patrimô- nio da instituição. O lançamento marcou a liberação de R$ 2,7 milhões (54% do total) pelo BNDES. Outros 46% serão di- vididos em duas parcelas, liberadas du- rante a execução do projeto, cujo prazo estimado é de até 40 meses para sua conclusão. O projeto é resultado de par- ceria entre três unidades da Fiocruz: a Casa de Oswaldo Cruz (COC), o Institu- to Oswaldo Cruz (IOC) e o Instituto de Comunicação e Informação Tecnológi- ca em Saúde (Icict). Os recursos serão geridos pela Fundação para o Desenvol- vimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec). O evento, ocorrido em dezembro, contou com a participação dos presidentes do BNDES, Luciano Cou- tinho, e da Fundação, Paulo Gadelha. O Preservo se torna uma realidade no mo- mento em que a Fiocruz, fundada em 25 de maio de 1900, completa 115 anos. O patrimônio da Fiocruz – que com- pletará 115 anos em 25 de maio – con- templado pelo projeto inclui os acervos arquivístico (documentos textuais, icono- gráficos, cartográficos, micrográficos, A sonoros, filmográficos e tridimensionais); arquitetônico (o núcleo histórico de Man- guinhos, que inclui o Castelo da Fiocruz); bibliográfico (livros, periódicos científicos, folhetos, dissertações e teses); biológico (coleções biológicas); e museológico (equipamentos de laboratório, instrumen- tos médicos, mobiliário, indumentária e uma pinacoteca). Bens culturais, reconhe- cidos por agências públicas e pela socie- dade, os acervos entrarão a partir de agora em nova fase – com marca na integração – assegurando o legado de Oswaldo Cruz às futuras gerações. ”A questão da memória e da pre- servação dos acervos é constitutiva do projeto de desenvolvimento institucional da Fiocruz e o BNDES está nos dando grande ajuda nesse sentido”, declarou Gadelha na cerimônia. Os recursos con- cedidos serão utilizados para a constru- ção de infraestrutura e a aquisição de tecnologias que garantam a guarda e o acesso público ao patrimônio da institui- ção. Coutinho também destacou a im- portância do projeto para a preservação dos acervos da Fiocruz e para a constru- ção de novos saberes. “Preservar a me- mória é uma das missões mais nobres para o avanço do conhecimento. A ci- ência não avança sem aprendizado, e aprendizado não se faz sem memória”, afirmou o presidente do BNDES. “A co- nexão entre essas memórias [da Fiocruz] produz uma agenda museológica de alta qualidade. Essa instituição tem a capa- cidade de compartilhar isso com a socie- dade”, complementou. Coordenador-geral do Preservo, o vice-diretor de Informação e Patrimônio Cultural da COC, Marcos José de Araujo Pinheiro, apresentou detalhes sobre o pro- jeto, que prevê a digitalização de parte do acervo e a criação de catálogos virtu- ais que serão disponibilizados para a co- munidade científica e a sociedade, entre outras iniciativas. Em sua apresentação destaca que o Preservo está integrado às iniciativas e aos planos nacionais que visam preservar o patrimônio científico e cultural brasileiro, reconhecendo sua im- portância não só por seus valores históri- cos, artísticos ou relativos à memória, mas também por seu valor como fontes de pesquisa para as ciências. “O Preservo tomou como referência as iniciativas e pla- nos nacionais que visam preservar o pa- trimônio científico e cultural, preocupados não só com seus valores históricos, artísti- cos ou identitários, mas principalmente, para as instituições de pesquisa e para a produção do conhecimento, com seu va- lor cognitivo”, disse Pinheiro. Descrição dos acervos Arquitetônico, urbanístico e arque- ológico: Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos, tombado pelo Iphan; prédios modernistas tombados pelo Ine- pac; Palácio Itaboraí, tombado pelo Iphan; sítio arqueológico de Mangui- nhos, inscrito no Cadastro Nacional de Sítios Históricos; canaletas do aquedu- to do Núcleo Arquitetônico Rodrigues Caldas (Fiocruz Mata Atlântica/Colônia Juliano Moreira), tombado pelo Iphan. Bibliográfico: seção de Obras Ra- REVISTA DE MANGUINHOS | DEZEMBRO DE 2014 28 ESPECIAL 115 ANOS REVISTA DE MANGUINHOS | MAIO DE 2015 28

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Biblioteca de Obras Rarasda Fundação foi palco daassinatura de um contra-to que representa umgrande passo para a pre-

servação e difusão dos acervos culturaise científicos da instituição, com o lança-mento do projeto Preservo: Complexo deAcervos da Fiocruz. A iniciativa, umaparceria com o BNDES, permitirá cons-truir infraestrutura moderna e obter tec-nologias mais avançadas para a guardae o acesso público ao extenso patrimô-nio da instituição. O lançamento marcoua liberação de R$ 2,7 milhões (54% dototal) pelo BNDES. Outros 46% serão di-vididos em duas parcelas, liberadas du-rante a execução do projeto, cujo prazoestimado é de até 40 meses para suaconclusão. O projeto é resultado de par-ceria entre três unidades da Fiocruz: aCasa de Oswaldo Cruz (COC), o Institu-to Oswaldo Cruz (IOC) e o Instituto deComunicação e Informação Tecnológi-ca em Saúde (Icict). Os recursos serãogeridos pela Fundação para o Desenvol-vimento Científico e Tecnológico emSaúde (Fiotec). O evento, ocorrido emdezembro, contou com a participaçãodos presidentes do BNDES, Luciano Cou-tinho, e da Fundação, Paulo Gadelha. OPreservo se torna uma realidade no mo-mento em que a Fiocruz, fundada em25 de maio de 1900, completa 115 anos.

O patrimônio da Fiocruz – que com-pletará 115 anos em 25 de maio – con-templado pelo projeto inclui os acervosarquivístico (documentos textuais, icono-gráficos, cartográficos, micrográficos,

Asonoros, filmográficos e tridimensionais);arquitetônico (o núcleo histórico de Man-guinhos, que inclui o Castelo da Fiocruz);bibliográfico (livros, periódicos científicos,folhetos, dissertações e teses); biológico(coleções biológicas); e museológico(equipamentos de laboratório, instrumen-tos médicos, mobiliário, indumentária euma pinacoteca). Bens culturais, reconhe-cidos por agências públicas e pela socie-dade, os acervos entrarão a partir deagora em nova fase – com marca naintegração – assegurando o legado deOswaldo Cruz às futuras gerações.

”A questão da memória e da pre-servação dos acervos é constitutiva doprojeto de desenvolvimento institucionalda Fiocruz e o BNDES está nos dandogrande ajuda nesse sentido”, declarouGadelha na cerimônia. Os recursos con-cedidos serão utilizados para a constru-ção de infraestrutura e a aquisição detecnologias que garantam a guarda e oacesso público ao patrimônio da institui-ção. Coutinho também destacou a im-portância do projeto para a preservaçãodos acervos da Fiocruz e para a constru-ção de novos saberes. “Preservar a me-mória é uma das missões mais nobrespara o avanço do conhecimento. A ci-ência não avança sem aprendizado, eaprendizado não se faz sem memória”,afirmou o presidente do BNDES. “A co-nexão entre essas memórias [da Fiocruz]produz uma agenda museológica de altaqualidade. Essa instituição tem a capa-cidade de compartilhar isso com a socie-dade”, complementou.

Coordenador-geral do Preservo, o

vice-diretor de Informação e PatrimônioCultural da COC, Marcos José de AraujoPinheiro, apresentou detalhes sobre o pro-jeto, que prevê a digitalização de partedo acervo e a criação de catálogos virtu-ais que serão disponibilizados para a co-munidade científica e a sociedade, entreoutras iniciativas. Em sua apresentaçãodestaca que o Preservo está integradoàs iniciativas e aos planos nacionais quevisam preservar o patrimônio científico ecultural brasileiro, reconhecendo sua im-portância não só por seus valores históri-cos, artísticos ou relativos à memória, mastambém por seu valor como fontes depesquisa para as ciências. “O Preservotomou como referência as iniciativas e pla-nos nacionais que visam preservar o pa-trimônio científico e cultural, preocupadosnão só com seus valores históricos, artísti-cos ou identitários, mas principalmente,para as instituições de pesquisa e para aprodução do conhecimento, com seu va-lor cognitivo”, disse Pinheiro.

Descrição dos acervosArquitetônico, urbanístico e arque-

ológico: Núcleo Arquitetônico Históricode Manguinhos, tombado pelo Iphan;prédios modernistas tombados pelo Ine-pac; Palácio Itaboraí, tombado peloIphan; sítio arqueológico de Mangui-nhos, inscrito no Cadastro Nacional deSítios Históricos; canaletas do aquedu-to do Núcleo Arquitetônico RodriguesCaldas (Fiocruz Mata Atlântica/ColôniaJuliano Moreira), tombado pelo Iphan.

Bibliográfico: seção de Obras Ra-

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ESPECIAL 115 ANOS

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ras da Biblioteca de Ciências Biomédi-cas (do século 17 ao 19); biblioteca dehistória das ciências e da saúde, espe-cializada em história da medicina, his-tória da saúde pública, história,sociologia e filosofia da ciência (do sé-culo 17 aos dias atuais); rede compos-ta por 14 bibliotecas especializadas.

Biológico: são 30 coleções biológicasreconhecidas pela Câmara Técnica deColeções Biológicas, constituídas desde1901, com milhões de amostras microbi-ológicas, zoológicas e histopatológicas, degrande valor para a biodiversidade nacio-nal. Destas, 19 coleções são credencia-das como Fiel Depositária. Há também aColeção de Paleoparasitologia.

Museológico: constituído por equipa-mentos e instrumentos de laboratório,materiais e maquinário utilizados naprodução de medicamentos e vacinas,instrumentos médicos, mobiliário, indu-mentárias e objetos pessoais de cientis-tas da instituição e uma pinacoteca.Composto por mais de 2 mil peças, estálocalizado na Reserva Técnica Museoló-gica do Museu da Vida.

Arquivístico: arquivo permanente daFiocruz e arquivos pessoais de cientistase sanitaristas composto por documentostextuais, iconográficos, cartográficos, mi-crográficos, sonoros, filmográficos e tri-dimensionais abrangendo o período de1803 aos dias atuais. Destaque paraos arquivos dos cientistas OswaldoCruz e Carlos Chagas, e os negativosde vidro do Fundo IOC, reconhecidoscomo patrimônio documental da Hu-manidade pelo Programa Memória doMundo da Unesco.

Fotos: Peter Ilicciev/CCS

Foto: Acervo da Casa de Oswaldo Cruz

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Jacqueline Boechat

tão de riscos. Em seguida, vem o esta-belecimento de políticas. Uma mais ge-ral e outras específicas, para cada tipode acervo. A terceira dimensão trata dapreservação e do acesso físico. Indepen-dentemente de estarem em prédios his-tóricos – que também se constituemcomo acervos históricos – toda uma es-trutura tem que ser pensada e orientadapara isso. Por fim, temos a preservaçãoe o acesso digital à informação, para oqual é necessário estabelecer padrões decaptura e do que hoje se denomina comopreservação digital, em sistemas integra-dos que se comuniquem e que permi-tam uma busca integrada. E tambémpensar em um futuro repositório temáti-co de obras e de acervos culturais e ci-entíficos, que estaria vinculado ao Arca,que é o grande repositório institucional.

Na prática, que ações já come-çaram a ser desenvolvidas?

Pinheiro: Foram constituídos algunsgrupos para trabalhar os princípios nor-teadores do projeto e a questão da pre-servação digital e elaborar um manualde procedimentos segundo as caracte-rísticas das edificações que abrigam acer-vos científicos e culturais. Os gruposcontam com representantes de váriasunidades da Fiocruz e também externos,como por exemplo o Arquivo Nacional.Temos também a construção do Centrode Documentação de História e Saúde(CDHS) e a implantação do Centro de

Por que um projeto como o Pre-servo? A Fiocruz já não preservavaseus acervos?

Marcos José de Araújo Pinheiro:Há pelos menos duas razões que tornamcomplexas atualmente a conservaçãopreventiva e a recuperação integrada deinformações sobre os acervos da Fiocruz:o fato de terem sido constituídos e ar-mazenados em separado, por cada uni-dade, com culturas próprias e depreservação e acessibilidade, e por ha-ver sistemas de informação distintos, quenão dialogam, para cada tipologia deacervo. Por exemplo, como cruzar osarquivos bibliográficos com os arquivoshistopatológicos in situ sobre febre ama-rela, se as duas coleções estão em luga-res distintos, com procedimentos dearmazenamento e de acesso diferencia-dos? Pensar, de modo integrado, seusacervos e sistemas de informação, é es-tratégico para uma instituição como aFiocruz. O Preservo foi desenvolvido parasuprir também essa demanda.

Quais são os principais pontosdo projeto?

Pinheiro: O Preservo é compostopor quatro dimensões. Em primeiro lu-gar, existem princípios norteadores quebalizam todo o processo, que regem aforma de como o acervo deve ser pre-servado, de como se dará o acesso, há aquestão de ensino, da pesquisa, da ges-

oucas instituições no mundo se diferenciam por ter e conservarcom equipes próprias um acervo expressivo nas tipologias arquite-tônico e urbanístico, arquivístico, bibliográfico, biológico e museo-lógico reconhecido nacional e internacionalmente. Portanto, éestratégico integrar esses bens culturais e os sistemas de informa-

ção a respeito deles, não só para conservar esse legado, como para otimizar eampliar as possibilidades de pesquisa. O vice-diretor de Informação e PatrimônioCultural da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Marcos José de Araújo Pinhei-ro, coordenador do projeto Preservo, explica e dá detalhes sobre a iniciativa de-senvolvida para suprir essa necessidade.

P

Coordenador detalhacomo é o projeto quepermitirá uma maiore melhor difusão dosdocumentos, edificaçõese conteúdos históricosda Fiocruz

Acervos dinâmicose organizados

foto: Peter Ilicciev/CCS

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Recursos Biológicos da Saúde (CRB-Saú-de). Previsto para ficar pronto em 2016,o CDHS é um equipamento do Preservorelacionado à questão da infraestruturade guarda de acervos. O CRB é o com-plexo da parte de micro-organismos pa-togênicos relacionados principalmente adoenças tropicais ou com potencial bio-tecnológico na área da saúde. Além dis-so, a COC elaborou uma política depreservação que pode servir de modelopara uma política da Fiocruz.

Em que consiste esta política?

Pinheiro: Em 2013, a Casa deOswaldo Cruz elaborou a Política dePreservação e Difusão de Acervos, quedefine objetivos, princípios, valores, di-retrizes e responsabilidades, e a partirdela a unidade vem desenvolvendo osprogramas específicos de preservação,que detalham essas ações definindoquando e como devem ocorrer. No úl-timo Congresso Interno da Fiocruz, em2014, foi definida como estratégica aelaboração de uma política análogapara toda a Fiocruz, a ser desenvolvi-da por um grupo de trabalho que de-verá considerar em sua formação asunidades que detêm a guarda de acer-vos. No entanto, a regulamentação decada tipo de acervo se dará por meiode documentos específicos. Comoexemplo, temos a política que regula-menta os acervos da COC e o manualde coleções biológicas.

No ano passado, a Fiocruz e o BN-DES assinaram um contrato de R$ 5milhões, que contempla o Preservo.Como os recursos serão utilizados?

Pinheiro: Os recursos do BNDESdeflagraram e vão impulsionar as ações

do Preservo. Será possível constituirtrês plataformas de digitalização paraos acervos biológicos, bibliográficos earquivísticos, inclusive os de grande for-mato. Além das plataformas, os recur-sos contemplam a instalação dosistema de combate a incêndio no pré-dio do Castelo da Fiocruz, que por sisó é um acervo histórico, e abriga ascoleções entomológicas e de obras ra-ras; na Reserva Técnica Museológica;e nos pavilhões Lauro Travassos, Adol-pho Lutz e Cardoso Fontes, que abrigamcoleções zoológicas e histopatológicas.

Como funcionarão as platafor-mas? Por que são tão importantes?

Pinheiro: Apesar de instaladasem unidades diferentes – acervos bi-ológicos no Instituto Oswaldo Cruz(IOC), arquivísticos na COC e biblio-gráficos no Instituto de Comunicaçãoe Informação Científica e Tecnológi-ca (Icict) – esses equipamentos deúltima geração não são de uso ex-clusivo de uma unidade em particu-lar, operando com a lógica deplataformas em rede. A parte das co-leções biológicas trabalha ainda coma ideia da microscopia digital, querdizer, o usuário acessa não somenteum representante digital, mas é comose estivesse realmente trabalhandocom um microscópio digital. As ins-talações também devem impulsionaro aumento e a melhoria da infraes-trutura de TI da Fiocruz, pois o volu-me de informações terá impacto nofluxo de rede da instituição e de al-gumas unidades, inclusive na capa-cidade de armazenamento de dados.

Estamos trabalhando também,na COC, com a parte da interopera-

bilidade dos sistemas de informaçãoa partir de um vocabulário controla-do e de ferramentas de busca inte-grada. A partir de bons resultados, ainiciativa pode ser estendida ou serreferência no tempo aos demais sis-temas de acervos da instituição. Aparte das coleções biológicas seráatendida por um sistema de gestãode informação em desenvolvimentopela Vice-Presidência de Pesquisa eLaboratórios de Referência da Fio-cruz. As ações, portanto, não se res-tringem a um determinado aspectodo projeto, mas se desenvolvem pa-ralelamente em todas as direções.

Quais as expectativas quanto aosresultados?

Pinheiro: Acho que algumasações vão avançar primeiro, mas es-tamos trabalhando todas as dimensõesde forma integrada. A expectativa éa de que, uma vez que a gente dispo-nibilize as informações ao público, oacesso deverá crescer exponencial-mente, como aconteceu em outras ins-tituições de ensino e pesquisa quefizeram esse tipo de ação. Além dis-so, o fato de se ter esses acervos digi-talizados auxilia na preservação, poiso usuário não precisa ter contato físi-co com o acervo e concede mais pari-dade à informação que está sendodisponibilizada, já que permite traba-lhar de forma integrada. O pesquisa-dor pode consultar informações sobreo barbeiro, por exemplo, no acervobiológico ligado a Carlos Chagas, as-sim como a bibliografia sobre o as-sunto, até o que foi produzido eregistrado. Isso amplia muito as pos-sibilidades da pesquisa.

O coordenador do projeto, Marco José Pinheiro, explica oPreservo na cerimônia de lançamento. Foto: Peter Ilicciev/CCS

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Núcleo Arquitetônico eHistórico de Manguinhos(Nahm), formado pelosprédios históricos e tom-bados da Fiocruz, será

um dos grandes beneficiados peloPreservo e conta com um guardiãono empenho e na dedicação em con-servá-lo sempre em boas condiçõesde uso e visitação. É o Departamen-to de Patrimônio Histórico (DPH) daFundação, que existe desde 1989 etem como missão preservar, valorizare divulgar o patrimônio histórico-ar-quitetônico, urbanístico, ambiental,artístico e arqueológico da Fiocruz.Segundo a chefe do departamento,a arquiteta Ana Maria Barbedo Mar-ques, a preservação se tornou insti-tucional a partir dos anos de 1980.

“Naquela época os prédios his-tóricos se encontravam em um esta-do de conservação inadequado. Aarquitetura eclética, consideradacomo um estilo estrangeiro, não eravalorizada nas políticas de preserva-ção de então. No entanto, nas ges-tões dos presidentes Guilardo Alvese Sergio Arouca ocorreram mudan-ças. Com Guilardo houve uma inici-ativa de reconhecimento do valor

Oartístico e histórico do patrimônioeclético da Fiocruz, com o pedido detombamento ao Iphan. E na gestãode Arouca houve um esforço por cri-ar uma equipe com capacitação es-pecífica para atuar de forma maiscontínua na restauração, com des-taque para a vinda, em 1987, da ar-quiteta Cristina Mello para chefiar aCoordenação de Restauração (Coo-res)”, afirma Ana Maria.

Hoje a situação é bem diferentee o DPH, que é vinculado à Casa deOswaldo Cruz (COC/Fiocruz) tem 29profissionais dedicados ao trabalho.Entre eles há arquitetos, alguns ain-da do início da criação do departa-mento, engenheiro, restauradores/conservadores, técnico em edifica-ções, historiadora, funcionários deapoio administrativo e bolsistas. “Oideal é conservar, e não restaurar”,afirma a chefe do setor. O departa-mento tem três áreas: o Serviço deConservação e Restauração, o Núcleode Estudos de Urbanismo e Arquite-tura em Saúde e o Núcleo de Educa-ção Patrimonial.

Para o Preservo, são consideradoscomo bens de interesse para preser-vação, na relação dos acervos arqui-

Ricardo Valverde

tetônico, urbanístico e arqueológico,os edifícios e espaços mais represen-tativos do processo histórico de ocu-pação do Campus de Manguinhos,que constituem o Nahm. E tambémo conjunto arquitetônico do PalácioItaboraí e as edificações e estruturassingulares localizadas no Campus Fi-ocruz Mata Atlântica. A seguir, a des-crição de alguns desses acervos.

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Eclético, o Castelo da Fiocruzmescla duas ou mais tendências deestilo e ornamentação, sendo um dospoucos edifícios neomouriscos aindaexistentes no Rio de Janeiro. É o prin-cipal componente do Nahm.

O projeto foi encomendado a LuizMoraes Júnior, engenheiro e arquite-to português que imigrou para o Bra-sil em 1900, por Oswaldo Cruz. Eles

se conheceram em uma das muitasviagens que fizeram juntos nos vagõesdos trens do ramal da Leopoldina,quando o arquiteto coordenava obrasde reforma da Igreja da Penha. O tra-ço inicial de Oswaldo Cruz serviu debase para o projeto final do arquiteto.O Castelo foi estrategicamente cons-truído sobre uma das colinas da re-gião, por condições de higienização

obedeceu a uma disposição que per-mite melhor aproveitamento dos ven-tos e do sol.

Sua ornamentação foi inspirada naarquitetura mourisca. Os materiais usa-dos na construção e no acabamentoforam importados da Europa, bem comoa mão-de obra, constituída de operári-os portugueses, espanhóis e italianos.As obras foram concluídas em 1918.

Fotos: Peter Ilicciev/CCS

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Pavilhão do RelógioO Pavilhão da Peste, também do

arquiteto Luiz Moraes Júnior, foi dosprimeiros projetos do campus de Man-guinhos, construído simultaneamenteà Cavalariça, entre 1903 e 1904. Emcimento, tijolos e pedras, é conhecidocomo Prédio do Relógio porque em suatorre central encontra-se um relógio emfuncionamento, com três faces. Abri-gava laboratórios para estudos geraisde bacteriologia e protozoologia, rela-cionados à peste e enfermarias paracavalos e para a preparação da vaci-na. Contava ainda com salas de espe-ra e de estufas, para a manutençãodas culturas.

CavalariçaA Cavalariça foi construída em

1904 e destinava-se às inoculações dematerial virulento em cavalos, visandoa obtenção de soros, exceto o antipes-toso, preparado exclusivamente noPavilhão da Peste. A Cavalariça tinhainstalações extremamente engenhosasdo ponto de vista da assepsia e funcio-nalidade, como a distribuição e des-pejo de água automáticos e oaproveitamento das fezes dos animais.

O gás metano, exalado da fermen-tação, era utilizado para iluminaçãointerna, e a massa sólida do estrumeservia para adubar a plantação de al-fafa que, por sua vez, servia de alimen-to para os cavalos, antecipando o quehoje é chamado de “sustentabilidade”.O projeto foi encomendado a LuizMoraes Júnior, que veio ao Brasil a con-vite do padre Ricardo, vigário-geral daIgreja da Penha, para executar obrasde reestruturação e embelezamentodas fachadas.Fotos: Peter Ilicciev/CCS

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Pavilhão Figueiredode Vasconcelos (Quinino)

O projeto original de dois pavimentosdeste edifício, de autoria de Luiz MoraesJr., não interferia na harmonia do conjuntoarquitetônico do qual faz parte e cuja cons-trução foi concluída em 1919. O projeto deampliação deu ao prédio mais dois pavi-mentos, sendo a obra supervisionada pelopróprio Moraes e desenvolvida por NaborFoster, arquiteto da equipe da Divisão deObras do Ministério da Educação e Saúde.Nessa sobrelevação, em 1943, acrescen-tou-se uma estrutura de concreto armadopara abrigar a escada e o elevador. Os fron-tões, elementos triangulares da fachada,foram simplificados, e os tijolos foram co-bertos por massa de emboço.

Palácio ItaboraíLocalizado em Petrópolis, o Palácio Ita-

boraí foi construído em 1892 para ser resi-dência de verão do projetista e construtoritaliano Antonio Jannuzzi. Abrigou ainda ocolégio Americano e a primeira faculdadede direito de Petrópolis. A partir da décadade 1930 a edificação passou a ser utilizadacomo residência de verão dos governado-res do Estado e posteriormente por órgãosdo Governo do Estado. Em 1998 a Funda-ção Oswaldo Cruz recebeu o Palácio emcessão de uso. Hoje abriga o Fórum Itabo-raí: Política, Ciência e Cultura na Saúde.

Campus Mata AtânticaLocalizado em Jacarepaguá, junto ao

maciço da Pedra Branca, o campus FiocruzMata Atlântica ocupa parte da área ante-riormente pertencente à Colônia de Alie-nados Juliano Moreira. A Colônia foiimplantada entre 1919 e 1924 na área daantiga Fazenda do Engenho Novo de Curi-cica – conhecido inicialmente como Enge-nho de Nossa Senhora dos Remédios – umdos mais antigos engenhos de cana-de-açú-car da região.

Localizados no campus destacam-se oPavilhão Agrícola, o Pavilhão Nossa Senhorados Remédios, as estrebarias e as canale-tas do antigo aqueduto. Além de atuar napreservação dessas edificações, a COC co-labora com ações de preservação relacio-nadas ao Núcleo Histórico Rodrigues Caldas.

Fotos: Peter Ilicciev/CCS

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ão Paulo, 1º de no-vembro de 1899. “Mi-nha querida Miloca,após uma semana etanto de angústias, tra-

balhando até meia noite, receando acada instante pela minha saúde e vida[...], vendo cair vitimados pela pesteos companheiros de trabalho e espe-rando a cada instante a minha vez,eis-me felizmente livre dessas preo-cupações, são e salvo [...]”. A cartado fim do século 19 em que OswaldoCruz relata as agruras pelas quais pas-sou em Santos - cidade onde estevepara combater uma epidemia de pes-te bubônica - é um dos documentosdo rico acervo arquivístico da Fiocruzque estará disponível em qualquer lu-gar do mundo via internet a partir daimplementação do Preservo.

“A documentação institucional daFiocruz é um acervo muito rico para amemória nacional. A instituição tem par-ticipado da história da ciência e da saú-de pública no Brasil há mais de um século,em um período de muita mudança, emque houve muitos avanços nas pesqui-sas biomédicas e na possibilidade de me-lhorar a qualidade de vida do cidadão”,diz a chefe do Departamento de Arqui-

S

vo e Documentação (DAD) da Casa deOswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Maria daConceição Castro. Parte importante doacervo sob a guarda da instituição vaiser digitalizada com equipamentos queserão adquiridos com recursos do BNDES.

Além de documentos institucionais,a Casa guarda ainda arquivos pessoaisde cientistas e profissionais ligados à áreada ciência e da saúde, e um acervo ico-nográfico composto de negativos de vi-dro e flexíveis e cópias em papel.Também estão na COC pranchas comdesenhos técnico-científicos, em grandeparte destinadas à ilustração de exem-

plares das Memórias do Instituto Oswal-do Cruz, periódico científico editado pelainstituição a partir de 1909, além de char-ges, caricaturas e álbuns fotográficos.

“A parte de iconografia tem forteapelo e é a mais procurada no acervo.Esse conjunto muito interessante e bempreservado cobre um período de tempogrande, anterior à criação do IOC. Agrande joia desse acervo são os negati-vos de vidro do IOC”, diz Maria da Con-ceição. Composto por 7.680 unidades,o conjunto, reconhecido pela Unescocomo patrimônio da Humanidade, trazimagens da origem do IOC, em cenas

Glauber Gonçalves

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das atividades de produção de soros evacinas, de pesquisa e ensino em medi-cina experimental. Também há registrosdas expedições de cientistas da institui-ção às regiões Norte, Nordeste e Cen-tro-oeste buscando conhecer melhor ascondições de vida no interior do país.

O número de arquivos confiados àCOC vem crescendo nos últimos anos.Em 2014, por exemplo, a instituiçãorecebeu o acervo fotográfico do antro-pólogo americano Anthony Leeds. Asimagens são um importante registrodas favelas e bairros populares do Riode Janeiro e de outras cidades na dé-

cada de 1960. “A chegada de novosacervos é uma demonstração da credi-bilidade e do renome que a Casa vemalcançando nessa área. Os detentoresde acervos não querem que seu mate-rial fique esquecido em um canto. Elesquerem que o acervo seja tratado, co-nhecido e divulgado. E é isso que faze-mos aqui”, avalia Maria da Conceição.

O acervo sob a guarda da Casa temsido procurado por pesquisadores, es-tudantes, jornalistas e editores de di-versas partes do mundo, que atualmenteprecisam se deslocar ao Rio de Janeiropara realizar suas pesquisas. “Recente-

mente fomos contatados por uma pu-blicação do Japão interessada em algu-mas fotos”, conta a chefe do DAD. Apartir da implantação do Preservo, osinteressados poderão ter acesso onlinea uma versão digital dos arquivos. Ma-ria da Conceição observa que a digita-lização faz com que o arquivo originalseja menos manuseado, contribuindopara sua preservação. “Qualquer es-tratégia para poupar o original é fan-tástica. Com o Preservo, já que ousuário não precisará ter acesso aooriginal, esses documentos não serãodesgastados”, diz.

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onstituído por equipa-mentos de laboratório,máquinas e materiais uti-lizados na produção demedicamentos e vaci-

nas, instrumentos médicos, móveis, tra-jes e objetos pessoais de cientistas e umapinacoteca, o acervo museológico daFiocruz conta mais de 2 mil itens. Esseconjunto será beneficiado pelo projetoPreservo: Complexo de Acervos da Fio-cruz, com recursos do BNDES. A Reser-va Técnica do Museu da Vida seráadaptada e equipada a fim de assegu-rar a preservação e a difusão do patri-mônio museológico das ciências e dasaúde no Brasil, acumulados pela insti-tuição em sua trajetória de 115 anos.

Com a iniciativa, a Casa de OswaldoCruz (COC/Fiocruz) moderniza a edifica-ção conforme as normas técnicas maisrecentes de segurança e gerenciamentoambiental. O projeto contempla a refor-mulação das áreas de trabalho e de servi-ços, aumentando o espaço e dando maisconforto aos usuários. Nas áreas de acer-vo são previstas intervenções para o seuadequado armazenamento, a segurançacontra incêndio, intempéries e vandalis-mo, climatização e fluxo seguro e corretode peças e pessoas.

CO Rio de Janeiro se destaca como

território de significativo acervo cien-tífico. Abriga, entre outras institui-ções, a sede da Academia Nacionalde Ciência, fundada em 1916, e aAcademia Nacional de Medicina, cri-ada no longínquo ano de 1829. Estaimportância da cidade é representa-da por museus e centros de ciência,mas também por instituições de saú-de, incluindo hospitais, cujas edifica-ções e acervos foram inventariadospela COC na coleção de livros Histó-ria & Patrimônio da Saúde.

Neste contexto histórico, a forma-ção do patrimônio científico da Fiocruzsurge na gestão do sanitarista Oswal-do Cruz, em plena época de transfor-mação da capital federal. Ao assumira direção do Instituto Soroterápico Fe-deral, em 1902, o jovem médico re-servou uma grande área para abrigarum museu científico. As coleções zo-ológicas e de anatomia patológica “órgãos, tecidos e fragmentos do cor-po humano, utilizados pelos cientistasde Manguinhos em suas pesquisas “foram os primeiros componentes da-quele museu, voltado inicialmente àcomunidade científica.

Após sua morte, em 1917, uma

nova coleção é formada com obje-tos pessoais e de trabalho perten-centes a Oswaldo Cruz. Com otempo, são incorporados objetos re-lacionados a outros cientistas deManguinhos e ao trabalho desenvol-vido na instituição, constituindo aprimeira coleção histórica. Na déca-da de 1970, inicia-se a sistematiza-ção da prática museológica naFundação com a formação de equi-pes dedicadas a identificação, sele-ção, captação e documentação deantigos objetos que foram substituí-dos por equipamentos modernos.

Por intermédio de transferênci-as, ocorridas entre as diferentes uni-dades técnico-cientificas da Fiocruze a Casa de Oswaldo Cruz, e de do-ações de terceiros, principalmentefeitas por familiares de cientistas emédicos, o acervo museológico, clas-sificado como de ciência e tecnolo-gia em saúde, representa relevanteparcela da memória e da história dasaúde no país, além de se constituirem fonte de informação para a pes-quisa histórica e instrumento auxili-ar em processos de educação edivulgação científica destinados aopúblico em geral.

Haendel Gomes

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ove coleções biológicasdo Instituto OswaldoCruz (IOC/Fiocruz) estãoentre o patrimônio arqui-vístico, museológico e bi-

bliográfico da Fiocruz contempladospelo Preservo. De importância nacionale internacional, estas coleções inclueminsetos, helmintos e peças histopatoló-gicas relacionadas a casos de febreamarela. De acordo com a vice-direto-ra de Serviços de Referência e ColeçõesBiológicas do IOC, Eliane Veiga Costa,o investimento contribui para o contí-nuo trabalho de aperfeiçoamento nainfraestrutura, organização e divulgaçãodas milhões de amostras sob a guardado Instituto. “Seguindo uma tendênciainternacional, três novos e modernosequipamentos nos permitirão acelerara digitalização dos nossos acervos. Esseserá um benefício para toda a Fiocruz epara instituições de ensino e pesquisado Brasil e do mundo”, destaca Eliane.

O projeto inclui as coleções Ento-mológica, Helmintológica, de Simulí-deos, de Triatomíneos, de Moluscos,de Ceratopogonidae, de Culicídeos, deArtrópodes Vetores Ápteros de Impor-tância em Saúde das Comunidades,além da única coleção histopatológicada Fundação, a de Febre Amarela.Todas receberão melhorias estruturaise terão seus acervos digitalizados e dis-ponibilizados para consulta e estudoonline. “Ao mesmo tempo em que têmum aspecto histórico que precisa serpreservado, as coleções contribuempara o desenvolvimento de diversosestudos científicos. Um projeto que aliaa conservação e a inovação, por meiode modernos equipamentos de infra-estrutura, tende a garantir saltos dequalidade”, enfatiza o pesquisadorMarcelo Pelajo, representante do IOCno projeto e curador da Coleção de

NLucas Rocha

Foto: Ascom/IOC

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Febre Amarela. Além do forte valorhistórico, as coleções biológicas perma-necem ativas, disponíveis para consul-ta com finalidade de ensino e pesquisa.Em geral, os espaços prestam serviçode empréstimo de espécimes, recebemdepósitos de diversas instituições deensino e pesquisa do mundo, e pres-tam apoio por meio de consultoria,cursos e treinamentos.

AvançosA instalação de equipamentos de

microscopia digital será uma das es-tratégias para ampliar o acesso ao con-teúdo das coleções. O projeto contemplaum scanner capaz de produzir imagensde alta resolução de preparados histo-lógicos – lâminas de vidro que guar-dam fatias extremamente finas detecidos, órgãos ou células, além de doisequipamentos capazes de criar ima-gens digitais tridimensionais de amos-tras de maior porte, como insetos evermes. Inovadores, os equipamentosconseguem reproduzir exatamente avisão que o pesquisador tem ao anali-sar este material ao microscópio. Comisso, quando forem disponibilizadas on-line, cientistas e estudantes terão aces-so a milhares de exemplares emqualquer lugar do mundo. O Preservotambém vai garantir a produção defotografias em 360° do acervo da Se-ção de Anatomia Patológica do Mu-seu da Patologia do IOC, que conta comexemplares de ilustres patologistas,como Gaspar Vianna e Emmanuel Dias.

Com o aporte recebido, serão ins-talados mobiliários deslizantes e clima-tizados que facilitam o manuseio epermitem a expansão dos acervos comnovos depósitos. Além disso, dois no-vos freezers com capacidade para atin-gir até 86°C negativos atenderão os

exemplares mais sensíveis. O tradicio-nal Castelo Mourisco da Fiocruz e di-versos pavilhões situados no campus daFundação, em Manguinhos, no Rio deJaneiro, que abrigam diferentes tiposde acervos, receberão um novo siste-ma de segurança para prevenção ecombate a incêndios.

A riquezadas coleções

Os caminhos da história e da ciên-cia se cruzam na trajetória das Cole-ções Biológicas do IOC. A mais antigadelas, a Entomológica, foi fundada ain-da em 1901 pelo próprio Oswaldo Cruz.A composição do acervo, um verdadei-ro registro da biodiversidade, conta comcolaborações de pesquisadores reno-mados, como Carlos Chagas e ArthurNeiva. Também centenária, a ColeçãoHelmintológica, que reúne mais de 37mil amostras provenientes dos cincocontinentes, começou a ser formada apartir de coletas realizadas pelos céle-bres pesquisadores José Gomes de Fa-ria e Lauro Pereira Travassos emtrabalhos de campo realizados no finaldo século 19 e início do 20.

Na década de 1970, durante o re-gime militar, além de dez renomadoscientistas vinculados ao IOC terem seusdireitos políticos cassados, no episó-dio conhecido como Massacre de Man-guinhos, a estrutura de algumascoleções, como a de Febre Amarela,foi afetada pela perda inestimável departe de seu acervo. Apenas o mate-rial mantido em formol foi preserva-do. Como verdadeiros sobreviventes,ainda hoje, os acervos passam portransformações estruturais, visandosuprir as deficiências herdadas desseacontecimento histórico.

Fotos: Ascom/IOC

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importante missão de di-gitalizar e preservarobras raras, livros, peri-ódicos e outros docu-mentos de inestimável

valor simbólico guardados pela Fiocruzganhou recentemente um reforço ex-pressivo com o anúncio do projeto Pre-servo. O conjunto de iniciativas abrecaminhos para mais tecnologia e inves-timentos nos setores envolvidos. Entreos contemplados está o serviço de Mul-timeios do Instituto de Comunicação eInformação Tecnológica em Saúde doInstituto de Comunicação e InformaçãoCientífica e Tecnológica (Icict/Fiocruz),que por meio do Laboratório de Digita-lização de Obras Raras (LabDigital) seráresponsável pela transposição para oformato digital de parte do acervo bibli-ográfico, em especial as obras raras.

O LabDigital se prepara para dar umgrande salto tecnológico. Com os re-cursos do Banco Nacional de Desenvol-vimento Econômico e Social (BNDES),que a Fiocruz obteve a partir de editalde seleção pública, serão adquiridosequipamentos de ponta para a realiza-ção da tarefa. “A principal novidadeserá a aquisição de um novo scannerpara digitalização de obras raras. É umequipamento importado, que tem re-gulagens específicas para não forçar aslombadas, protegendo a encadernaçãooriginal da obra”, explica o coordena-dor do Multimeios, Mauro Campello.

AAndré Bezerra Além do scanner, a unidade recebe-

rá novos computadores de alta perfor-mance, que possibilitarão o tratamentodos arquivos digitalizados para depoisserem disponibilizados para o público. “OMultimeios já tem experiência e um la-boratório estruturado e estamos naperspectiva de modernizá-lo. Esse equi-pamento vai possibilitar realizar o tra-balho com mais eficiência, qualidadee segurança para as obras”, completa.Até o momento, o laboratório já digitali-zou 380 obras e disponibiliza 39 delasna internet. Uma delas é a tese de dou-toramento de Oswaldo Cruz, de 1892.

Acervo únicoFirmado em dezembro, o contrato

entre o BNDES prevê um apoio de R$5 milhões para ações de preservaçãoe difusão de acervos bibliográfico, ar-quivístico, museológico, arquitetônicoe biológico. O Icict será responsávelpela área bibliográfica, que incluirá tí-tulos da Biblioteca de Ciências Biomé-dicas (Biblioteca de Manguinhos) e daBiblioteca de História das Ciências eda Saúde, do Instituto Oswaldo Cruz(IOC), especializada em história damedicina, da saúde pública, história,sociologia e filosofia da ciência.

“A Seção de Obras Raras A. Over-meer, da Biblioteca de Manguinhos,abriga um acervo que se estende doséculo 17 ao século 19 e conta com tra-balhos em diversas áreas do conheci-mento científico cujos destaques são osFoto: Vinicius MarinhoIcict

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realizados nas ciências biológicas, namedicina e na história natural. Atual-mente, este acervo, com cerca de 40mil itens, é formado por livros, periódi-cos científicos, folhetos, dissertações eteses, bem como obras únicas da pro-dução intelectual de pesquisadores re-nomados da história institucional”,afirma Mônica Garcia, responsável pelagestão de acervos bibliográficos da Bi-blioteca de Manguinhos.

Antes de chegarem ao laboratório,as obras passam por um cuidadoso pro-cesso de tratamento na biblioteca. “Oslivros são higienizados e conferidos pá-gina a página, para garantir que este-jam completos. Em caso de folhassoltas, rasgadas, dobradas ou amassa-das as páginas são reparadas para quenão haja perda de informação. Depois,voltam à seção de preservação para con-ferencia e possíveis reparos ou danosque possam ter ocorrido com a digitali-zação”, detalha.

Excelênciaem preservação

Para Mauro Campello, o Preservocontribui para firmar o instituto como umdos centros de excelência na área de pre-servação e digitalização. “O projeto éimportante porque traz reconhecimen-to. É a primeira vez que recebemos fo-mento externo para a atividade, o quetambém aumenta a responsabilidade eo desafio”, comenta. A equipe vem se

aperfeiçoando continuamente, tendoparticipado de capacitações em institui-ções como a Biblioteca Nacional, o Ar-quivo Nacional e com profissionais daBiblioteca Brasiliana, da Universidade deSão Paulo (USP).

Outra vertente do projeto Preservodiz respeito à disponibilização das obrasao público. O Multimeios já está emfase de testes do Sistema de Gerencia-mento de Base de Dados (SGBD), quepromoverá o acesso, a integração, amanutenção e a segurança dos arqui-vos digitalizados. O trabalho começarápelos periódicos raros, que apresentammaior complexidade. Além disso, a Fio-cruz está preparando o Plano de Preser-vação Digital (PPD), que será umdocumento de referência para todas assuas unidades, além de expor diretrizese metodologias eficientes de digitaliza-ção e guarda de representantes digitais,termo técnico que designa a obra.

Em todo o mundo, há um grandeesforço em fazer a transposição de li-vros e obras raras para o suporte digi-tal, uma vez que sua guarda requercondições especiais de acondicionamen-to e controle de umidade e temperatu-ra, além das restrições ao manuseio pelopúblico em geral. Na Fiocruz, uma dascoleções mais buscadas é a Brazil Mé-dico, revista semanal de medicina e ci-rurgia, datada de 1888. “Nosso objetivoé realmente ampliar o acesso e difundiro conteúdo das obras raras, e por meiodas obras digitalizadas não há nenhu-ma restrição”, defende Campello.

Foto: Vinicius MarinhoIcict

Foto: Vinicius MarinhoIcict

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