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________________________________________________________________________________ Natal/RN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte 22 a 24 de outubro de 2014 1 DESCONCENTRAÇÃO VERSUS DESCENTRALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE HISTÓRICO-ECONÔMICA DAS DÉCADAS DE 1970 E 1980 ENTRE SÃO PAULO E O BRASIL Severino Félix de Souza 1 RESUMO O Sudeste é uma região recebedora de muitos recursos, porém, ocorreram movimentos desconcentradores que fizeram com que esses investimentos fossem feitos em outras regiões, como por exemplo: As regiões Norte e Nordeste. Boa parte dos recursos investidos passaram a migrar, sendo aplicados em diversos setores. Na Região Norte, os investimentos foram responsáveis pela criação da Zona Franca de Manaus, o que gerou uma expansão em diversos setores, como o de microeletrônica, entre outros. No Nordeste, órgãos como a SUDENE, fomentavam e faziam crescer a desconcentração. No geral, alguns setores da economia avançaram com ganhos devido ao movimento desconcentrador, porém, de forma contrária outros setores não tiveram o mesmo desempenho. Vários são os fatores que contribuíram para o aumento da desconcentração, como exemplo: a alocação de grandes investimentos petrolíferos de extração, continuidade da desconcentração agrícola e mineral, políticas estaduais fomentadas por órgãos como a SUDENE e SUDAM, São Paulo se tornaria o centro da crise, entre outros. Portanto, este estudo tem como objetivo desmistificar o que aconteceu com São Paulo e o Brasil nas décadas de 1970 e 1980 no que concerne a desconcentração ou descentralização produtiva de São Paulo para as regiões. Especificamente, objetivou-se detalhar e caracterizar as décadas de 1970, 1980 e as relações entre São Paulo e o Brasil nas duas décadas analisadas. A metodologia utilizada consiste em uma revisão bibliográfica, concernente à temática abordada caracterizando as décadas estudadas, bem como mostrando a diferença entre desconcentração e descentralização. De acordo com o estudo realizado, fica claro que desconcentração é diferente de descentralização, ou seja, a região Sudeste, em específico o estado de São Paulo desconcentrava seu capital e seus setores econômicos para outras regiões. Porém, São Paulo ainda era o centro econômico do país, desta forma, ainda recebia grande parte do capital, onde, esse mesmo capital ainda era centralizado no estado paulista. Palavras-chave: Desconcentração, Descentralização, Desenvolvimento Regional. 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]

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Severino Félix de Souza (UFRN)Desconcentração Versus Descentralização - Uma Análise Histórico-econômica Das Décadas de 1970 e 1980 Entre São Paulo e o Brasil

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1

DESCONCENTRAÇÃO VERSUS DESCENTRALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE

HISTÓRICO-ECONÔMICA DAS DÉCADAS DE 1970 E 1980 ENTRE SÃO PAULO E

O BRASIL

Severino Félix de Souza1

RESUMO

O Sudeste é uma região recebedora de muitos recursos, porém, ocorreram movimentos desconcentradores que fizeram com que esses investimentos fossem feitos em outras regiões, como por exemplo: As regiões Norte e Nordeste. Boa parte dos recursos investidos passaram a migrar, sendo aplicados em diversos setores. Na Região Norte, os investimentos foram responsáveis pela criação da Zona Franca de Manaus, o que gerou uma expansão em diversos setores, como o de microeletrônica, entre outros. No Nordeste, órgãos como a SUDENE, fomentavam e faziam crescer a desconcentração. No geral, alguns setores da economia avançaram com ganhos devido ao movimento desconcentrador, porém, de forma contrária outros setores não tiveram o mesmo desempenho. Vários são os fatores que contribuíram para o aumento da desconcentração, como exemplo: a alocação de grandes investimentos petrolíferos de extração, continuidade da desconcentração agrícola e mineral, políticas estaduais fomentadas por órgãos como a SUDENE e SUDAM, São Paulo se tornaria o centro da crise, entre outros. Portanto, este estudo tem como objetivo desmistificar o que aconteceu com São Paulo e o Brasil nas décadas de 1970 e 1980 no que concerne a desconcentração ou descentralização produtiva de São Paulo para as regiões. Especificamente, objetivou-se detalhar e caracterizar as décadas de 1970, 1980 e as relações entre São Paulo e o Brasil nas duas décadas analisadas. A metodologia utilizada consiste em uma revisão bibliográfica, concernente à temática abordada caracterizando as décadas estudadas, bem como mostrando a diferença entre desconcentração e descentralização. De acordo com o estudo realizado, fica claro que desconcentração é diferente de descentralização, ou seja, a região Sudeste, em específico o estado de São Paulo desconcentrava seu capital e seus setores econômicos para outras regiões. Porém, São Paulo ainda era o centro econômico do país, desta forma, ainda recebia grande parte do capital, onde, esse mesmo capital ainda era centralizado no estado paulista.

Palavras-chave: Desconcentração, Descentralização, Desenvolvimento Regional.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:

[email protected]

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ABSTRACT

The Southeast it’s a recipient region of many resources, however, unconcentrated movements that made these investments were made in other regions, such as occurred: The North and Northeast regions. Most of the funds invested began to move, being applied in various industries. In the North, the investments were responsible for creating the Zona Franca de Manaus, which generated an expansion in several sectors such as microelectronics, among others. In the Northeast, as SUDENE organs, were fostered and grow devolution. Overall, some sectors of the economy forward with gains due to unconcentrated movement, however, contrary to other sectors did not have the same performance. Several factors contributed to the increased unconcentrated, such as: the allocation of large oil investments extraction, continuation of agricultural unconcentrated and mineral, state policies promoted by agencies such as the SUDENE and SUDAM, São Paulo has become the center of the crisis, among others. Therefore, this study aims to demystify what happened to Sao Paulo and Brazil in the 1970s and 1980s regarding the unconcentrated movement or decentralization of production from Sao Paulo to the regions. Specifically aimed to detail and characterize the decades to 1970, 1980 and relations between São Paulo and Brazil in the two decades analyzed. The methodology consists of a literature review concerning the selected theme featuring the decades studied, as well as showing the difference between unconcentrated movement and decentralization. According to the study, it is clear that unconcentrated movement is different from decentralization, ie the Southeast, in particular the state of São Paulo unconcentrated their capital and economic sectors to other regions. However, São Paulo was still the economic center of the country, thus still receiving much of the capital, where, this capital was still centralized in that State. Key words: Unconcentrated, Decentralization, Regional Development

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INTRODUÇÃO

As décadas2 analisadas são de profunda importância para o país, devido à

conjuntura econômica e seus efeitos vivenciados de Norte a Sul. A década de 1970 é

importante pela “saída” de uma industrialização de restringida a uma industrialização

pesada (CAIADO, 2002), como também devido aos altos e baixos vividos referentes ao

boom econômico, da mesma forma, pela a crise do petróleo.

Já a década de 1980, marcada por crises e perdas na economia, chega a ser

conhecida e chamada pelos economistas e estudiosos – sociólogos, geógrafos, entre

outros – como a “década perdida”, uma vez que os investimentos privados declinaram,

houve queda no PIB, aceleração da inflação, esgotamentos dos programas de

assistência regional, entre outros fatores. A década de 1980 no Brasil foi a década que

levou o final do ciclo de expansão vivido nos anos passados – década de 1970.

Concernente a todo esse cenário econômico, são vários os fatores que fizeram

com que houvesse essa desconcentração: Nordeste e Rio de Janeiro recebiam a

alocação de grandes investimentos petrolíferos de extração, havia a continuidade da

desconcentração agrícola e mineral, algumas políticas estaduais passavam a vigorar, –

essas políticas desconcentraram de São Paulo em direção principalmente a Zona

Franca de Manaus – São Paulo era tido como o epicentro da crise, em que o

movimento migratório inter-regional, provavelmente, viu-se inibido de continuar tendo

esse estado como destino, entre outros diversos fatores.

Diante dos acontecimentos, da conjuntura econômica e de todo o apanhado

histórico, é peculiar em debates acadêmicos ou até mesmo em “rodas de conversas”

entre economistas e diversos estudiosos, o fomento da dúvida entre o que realmente

aconteceu no decorrer dessas décadas: desconcentrou ou apenas descentralizou?

2 É de sabedoria do autor que todas as décadas são importantes no que concerne aos acontecimentos históricos,

políticos, sociais, econômicos, entre outros, porém, a colocação está no sentido referente aos acontecimentos das

duas décadas analisadas.

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1 OBJETIVOS

1.1 Objetivo Geral

Este estudo tem como objetivo desmistificar o que aconteceu com São Paulo e o

Brasil nas décadas de 1970 e 1980 no que concerne a desconcentração ou

descentralização produtiva de São Paulo para as regiões.

1.1.2 Objetivos Específicos

Detalhar e caracterizar a década de 1970 e as relações econômicas entre São

Paulo e o Brasil;

Detalhar e caracterizar a década de 1980 e as relações econômicas entre São

Paulo e o Brasil.

1.2 Metodologia

A metodologia utilizada consiste em uma revisão bibliográfica, concernente à

temática abordada caracterizando as décadas estudadas, bem como mostrando a

diferença entre desconcentração e descentralização, fazendo assim uma análise

histórico-econômica.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A economia brasileira durante as décadas passadas passou por diversas

alterações, sofrendo assim diversas modificações no que diz respeito a sua conjuntura.

Segundo Lima (2011), já a partir da década de 1930 os papéis dos países concernentes

à estruturação econômica começaram a ser transformados, ou seja, os países que

antes eram exclusivamente fornecedores de matérias primas e produção primária para

as os países de economias mais desenvolvidas passaram a ter características

diferenciadas, decorrente da crise de 1929.

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Desta forma, essas economias passaram a desenvolver então o modelo

substitutivo de importações, com ênfase no atendimento do mercado interno, na

intenção de diminuir a importação, passando a importar apenas o que não era

encontrado na indústria nacional.

Conforme Junior (2004) o pensamento da CEPAL questionava o

posicionamento das nações da América Latina no que concerne a divisão internacional

do trabalho. A CEPAL afirmava que estariam em desvantagens países que fossem

fornecedores de produtos primários e importassem manufaturas do mercado

internacional.

De acordo com Tavares (1972, p. 35), o processo de substituição de importações

foi “parcial e fechado que, respondendo às restrições do comércio exterior, procurou

repetir aceleradamente, em condições históricas distintas, a experiência de

industrialização dos países desenvolvidos”.

Referente à década de 1970, ou a década do milagre econômico, o saldo da

balança de pagamentos tinha índices bastante positivos nos últimos anos do milagre. A

economia brasileira estava passando por diversas mudanças relacionadas ao foco de

sua política econômica e até mesmo mudanças no foco da inflação, onde havia um

forte incentivo as exportações (BATARRARA, 2010).

Porém, segundo Leão (2009), o grande questionamento ao milagre estava

remetido ao âmbito social, ou seja, existia uma diferença significativa entre crescimento

e desenvolvimento econômico. Desta forma, o crescimento econômico melhorava os

índices de produção, mas não refletia na elevação do bem-estar do conjunto da

população.

Em relação a década de 1980, ou a “década perdida”, Caiado (2002) afirma que

alguns investimentos ainda garantiam uma continuidade da desconcentração produtiva,

na indústria em meados dos anos 80. Porém, São Paulo e o Brasil cresciam a médias

medíocres, levando consigo o esfriamento do crescimento da periferia e interrompia

assim o processo desconcentrador.

As dificuldades econômicas na década perdida eram notáveis. Segundo Junior e

Kugelmas (1991) houve a interrupção dos fluxos externos de capital, acompanhado do

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endividamento público externo e interno que reduziam redicalmente a capacidade do

Estado de criar ou até mesmo fomentar qualquer investimento público ou privado

respectivamente.

3 DÉCADA DE ALTOS E BAIXOS ECONÔMICOS

3.1 A década de 1970: a mudança na ótica da industrialização

Em um momento de resultados negativos provenientes da crise do petróleo e

resultados positivos decorrentes da grande acumulação de reservas internacionais

provindas da maior exportação frente à importação, a década de 1970 é importante

para o estudo, porque é esta década que “recebe” as alterações por completo da

mudança na ótica da industrialização.

Neste sentido, é possível dizer que depois da grande crise de 1930, a

industrialização passa de uma fase limitada, devido a grande dependência do capital

externo, para uma etapa de industrialização mais “agressiva” a partir do Plano de Metas

que foi introduzido nos anos de 1956-1960.

Concernente à industrialização e desenvolvimento, entre as décadas de 1960 e

1970 a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) era a favor de

que fosse implementado e implantado uma política, a qual ficou marcada pelo ousado

plano de substituição das importações3 – I Plano Nacional de Desenvolvimento –

desenvolvido pelo governo. Este plano tinha como meta básica, o cerceamento das

importações, com o fomento das exportações, importando apenas produtos que não

apresentassem similares4 na indústria brasileira, buscando com essa política,

desenvolver o setor industrial.

Conforme Caiado (2002), este ciclo chegaria ao seu auge em 1975, começando

então a desacelerar. Entretanto, o governo seguia com um novo programa de 3 No Brasil, após a crise de 1929, a política de substituição de importações foi instalada no intuito de desenvolver o

setor de manufatura, fazendo assim com que o país não dependesse mais do capital externo, o qual era extremamente

dependente. A ênfase nas décadas de 1970, dá-se devido a mesma ser a década abordada no trabalho. 4 Caso existissem produtos similares na indústria brasileira, a importação desse produto era cessada, utilizando-se

assim do produto nacional.

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desenvolvimento – II Plano Nacional de Desenvolvimento – acreditando que os

sintomas provocados pela crise do petróleo não afetaria o fluxo do investimento

externo.

Desta forma, o início da década de 1970, passa a receber toda essa mudança,

do desenvolvimento industrial limitado ao desenvolvimento industrial mais “agressivo”.

Dividida em dois momentos, a década de 1970 tem sua fase expansiva onde a

retomada do crescimento trás consigo a utilização da capacidade produtiva ociosa do

setor industrial e o investimento, mas também, uma segunda fase, onde o crescimento

da economia brasileira começa a diminuir, proveniente do choque do petróleo, quando

seu preço teve uma grande alta.

Essa elevação no preço gerou déficits na balança comercial, uma vez que o

Brasil tinha que importar grande quantidade de petróleo. A dívida externa brasileira

crescia e as divisas tornavam-se insuficientes, em paralelo, a inflação atingia elevados

índices, dando início a uma período de recessão econômica.

3.2 Análise econômica entre São Paulo e brasil na década de 1970

Não é de hoje que o poder econômico de São Paulo é bastante conhecido.

Segundo Cano (2007), antes mesmo de 1930, São Paulo já despontava como o

principal parque industrial do país. Tamanho poderio econômico deu-se principalmente

pelo planejamento e investimento, que foram tidos como a panaceia ou o motor que

alavancou o forte desenvolvimento do estado.

O país como um todo não ficou de fora do planejamento, uma vez que “não foi

por falta de planos que a questão regional não foi corretamente tratada. Proliferam

planos nos últimos vinte anos no país: não só pelo governo federal, mas principalmente

pelos governos estaduais e órgãos regionais de desenvolvimento” (CANO, 1998, p. 39).

A industrialização que sempre foi vista como o ponto chave responsável por

sanar as diferenças entre estados e regiões precisava fazer um movimento

desconcentrador. Esse movimento tinha como finalidade diminuir ou até mesmo evitar

as crises econômicas, as pressões sociais provindas da falta de investimento, uma vez

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que São Paulo atuava como centro dinâmico da economia brasileira. Portanto,

conforme Mioto (2010), a caracterização deste movimento está na expansão das

atividades produtivas partindo do centro dinâmico para as regiões periféricas.

Esse movimento tinha investimentos saindo de São Paulo, direcionado as

demais regiões do país, uma vez que esse estado já contava em 1970 com menos de

10% na participação agrícola e mais de 40% no setor industrial, o que é típico de um

país desenvolvido (CANO, 1998).

Porém, uma boa parte desses investimentos que fora realizado na década de

1970 só iria amadurecer plenamente na primeira metade da década de 1980, gerando

então um prolongamento dos seus efeitos de crescimento, na periferia nacional, em

pleno período de crise.

Esses investimentos possibilitaram o uso da tecnologia, do capital e da mão de

obra de forma intensa aproveitando assim, o potencial produtivo da periferia nacional.

Desta forma, a periferia usufruía de índices de crescimento pouco acima de São Paulo,

embora que a taxa média do estado de São Paulo tenha sido de valorosos 8,2%

(CANO, 2007).

No Nordeste, esse movimento começava a ser percebido, uma vez que a

economia da região crescia bem mais do que a economia brasileira no período

(GUIMARÃES, 1989), graças às políticas de desenvolvimento regional da SUDENE e

de outros órgãos responsáveis por distribuição de renda e do fomento de projetos que

fizesse com que o movimento desconcentrador passasse a de fato existir.

O investimento industrial era incentivado, resultante de estratégias regionais de

desenvolvimento, que tinham origem extra-regional, provenientes do Rio de Janeiro e

São Paulo. Apesar disto, o movimento de desconcentração para as outras regiões

passava a ser atrativo devido à rentabilidade proveniente dos altos subsídios impostos

por essas regiões. Segundo Guimarães Neto (1998, p. 131) “a rentabilidade

proporcionada pelos subsídios ao capital, desempenhou um papel decisivo no aumento

dos investimentos no Nordeste”.

No que diz respeito à desconcentração, o mercado nacional se formava com

crescimentos reais elevados das regiões decorrentes de políticas de desenvolvimento

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regional. Assim, como a indústria paulista, a indústria da periferia também obtinham

altas taxas de crescimento.

O restante das regiões do país crescia graças a maiores articulações

econômicas com São Paulo, ou seja, o estado ao crescer, acelerava e levava junto

consigo o crescimento das demais regiões.

Nesta visão, é necessário entender que parte do capital encontrava-se

centralizado, localizado na região Sudeste, principalmente em São Paulo. Os

investimentos feitos nas outras regiões faziam parte do movimento desconcentrador, o

que é diferente de um movimento descentralizador, uma vez que o capital investido

continua sendo do centro – de onde saiu, ou seja, da matriz – apenas é direcionado

para outro local, como investimento, podendo retornar a qualquer hora, atendendo ao

“bel prazer” do capitalista.

4 DÉCADA DA INSTABILIDADE ECONÔMICA

4.1 A década de 1980: a estagnação da economia

A década de 1980, ou “década perdida” como é conhecida por grande parte dos

economistas e estudiosos, ficou marcada pela estagnação econômica não só do Brasil,

mas de toda a América Latina. Esta estagnação econômica deu-se devido a uma forte

retração da produção industrial e a um menor crescimento da economia como um todo.

Entretanto, alguns setores da economia, como por exemplo, os setores de mineração e

agricultura tiveram bom desempenho, mas no geral, o desempenho total e

particularmente, o industrial foi bastante pífio.

Mediante a toda essa conjuntura econômica desfavorável e de índices negativos,

era necessário que fossem tomadas algumas medidas. Segundo Pacheco (1998, p.

80), “a gestão do novo ministro inicia-se com um arrojado conjunto de medidas voltado

ao ajuste do financiamento público, recompondo a carga fiscal e eliminando subsídios”.

A dureza das políticas desenvolvidas tinha como objetivo administrar a possível

expectativa da aceleração da inflação atrelada ao contexto nada animador da crise do

petróleo, que elevara significativamente seus preços.

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Todo esse desdobrar econômico tinha uma finalidade de grande importância,

pois o insucesso no desenvolver do planejamento desta política econômica, levaria o

país a trilhar pelos árduos caminhos da recessão, frente ao agravamento das condições

de financiamento externo (PACHECO, 1998).

A segunda parte da década, período correspondente aos anos de 1985-1989 é

marcado pelo esgotamento dos efeitos do II PND, entretanto, o governo insistiu na

continuidade das políticas de desenvolvimento.

Em linhas gerais, como afirma Caiado (2002, p. 62):

“a política econômica do período foi marcada por: i) retomada do crescimento

apartir de 1984, puxada pela expansão do setor externo e, posteriormente,sancionada pelo crescimento da demanda interna que garantiu algum fôlego à economia até 1986; ii) pelo Plano Cruzado e; iii) pelo recrudescimento da inflação ecrescente deterioração dos fundamentos econômicos, após 1987”.

Desta forma, este fato esclarece o movimento de altos e baixos sofridos pela

década de 1980, com intercalados períodos de expansão e de recrudescimentos

inflacionários seguidos de recessão.

Uma informação importante é destacada por Caiado (2002) e por Cano (2007),

referente a erros metodológicos acerca dos dados estatísticos que deixaram uma

grande lacuna proveniente da interrupção dos censos econômicos pós 1985. Porém,

essa falta de dados foi suprida pela substituição por novas pesquisas estruturais anuais

e as séries da produção física por cada autor5, respectivamente.

4.2 Análise econômica entre São Paulo e brasil na década de 1980

De forma contrária a década de 1970, a década de 1980 teve uma

desaceleração no processo desconcentrador. A “década perdida” com seus baixos

índices de crescimento e elevados problemas econômicos, dentre eles baixas no PIB,

5 Os autores não constroem as séries, eles apenas substituíram a partir de outros dados de determinadas instituições.

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aceleração da inflação, produção industrial fraca, entre outros, viu-se diante de um

movimento fraco ou quase que estagnado.

Caiado (2002, p. 64) em seu estudo, faz a seguinte afirmação: “até meados dos

anos 80, a entrada em operação e o amadurecimento de alguns investimentos ainda

garantiram alguma continuidade da desconcentração produtiva, notadamente na

indústria”. De fato, o Brasil retornaria o crescimento advindo da recuperação da

economia norte-americana, que gerou o regresso das exportações para esse mercado,

recuperando assim, de certa forma o setor industrial, porém, em virtude da grande

vulnerabilidade do câmbio, a inflação seguia em alta.

Desta forma, a crise insistia em não ter fim pondo em cheque o crescimento do

Brasil, tanto de São Paulo como das regiões periféricas que recebiam grande volume

de capital proveniente da região Sudeste, mais precisamente do estado de São Paulo.

Paralelo com a diminuição do crescimento, o processo de desconcentração também

diminuía.

Para tentar diminuir ou até acabar com essa recessão que o país passava os

governos estaduais e municipais usufruíam de políticas de concessão de subsídios e

benefícios na tentativa de atrair novos investimentos. Esse cenário de “guerra fiscal”

segundo Varsano (1996) era tido como conflitoso na Federação, ou seja, uma vez que

a entidade federada ganhasse a “guerra”, este membro estaria impondo uma perda em

alguma ou até mesmo em algumas outras entidades federadas. Desta forma, via-se

abalado o federalismo, que agia em relação de cooperação entre as unidades do

governo.

O efeito desta “guerra fiscal” não foi tão devastador, porque a crise passava a

diminuir o investimento e as taxas de formação do capital portavam-se bem abaixo da

média de períodos anteriores (CAIADO, 2002). Porém, existia a conotação negativa

vinculada à expressão guerra fiscal, que, “do ponto de vista de um governo estadual, há

claros incentivos econômicos, além de políticos, para que a guerra continue”

(VARSANO, p. 6, 1996).

Mesmo em um cenário de pouco ou quase nenhum crescimento, alguns setores

e regiões aumentavam suas participações. O Norte se mostrava para o Brasil a partir da

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criação da Zona Franca de Manaus, que fora responsável por um novo fôlego

econômico devido à ampliação dos incentivos fiscais.

Em suma, a participação por setor de algumas regiões aparecia da seguinte

forma: No setor agrícola, via-se também movimentos de desconcentração mais

avançado, de São Paulo e do Sul, em direção a periferia. O progresso técnico, a

introdução de fertilizantes, entre outros motivos levaram ao aumento da produtividade

do setor, como também a substituição de áreas com cultivos menos rentáveis.

Porém, paralelo a toda essa tecnologia, crescia o aumento do desemprego

gerado pela utilização das máquinas. No setor da indústria extrativa mineral, o Norte

tinha modestos ganhos graças à expansão da produção de minerais, o Nordeste

expandia a produção de petróleo e gás, o que fazia com que atenuasse a perda da

participação da região.

No setor de serviços, as regiões Norte e Centro Oeste apresentavam ganhos

devido a redução da base de serviços e elevação urbana que gerou crescimento e

diversificação de serviços, ampliando a demanda e forçando a expansão da oferta de

serviços públicos e privados.

Na indústria de transformação, a depressão da primeira metade da década

reduzia a produção. O conturbado processo inflacionário e a crise vivida pelo estado

dificultavam a criação e implementação de políticas públicas de crescimento e

desenvolvimento. A Zona Franca de Manaus tinha seu destaque e apresentava alguns

índices positivos elevando assim, a participação da região Norte.

O cenário não era de expansão, o momento vivenciado era de tímidos

crescimentos de apenas alguns setores, em detrimento da queda de outros. De acordo

com Cano (2007, p. 72) “por pequena que seja a diferença entre esses números, ela

revela a inflexão do processo de desconcentração. Vale dizer: a “locomotiva” parou e,

assim, os vagões pouco andaram”, deste modo, o investimento volta para São Paulo,

fazendo com que o movimento de desconcentração diminua. Desta forma, cresce a

“participação de São Paulo no PIB nacional de 36,1% em 1985, para 37,8% em 1989”

(CAIADO, 2002, p. 64).

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Os fatores que contribuíam para o esfriamento da desconcentração eram: a crise

fiscal e financeira que iniciava o processo de deterioração de vários órgãos regionais

como a SUDENE, entre outros e do sistema de incentivos fiscais regionais; o

debilitamento gradativo fiscal e financeiro, que fora transmitido aos governos estaduais,

acentuando a queda nos investimentos em infraestrutura, entre outros.

Segundo Caiado (2002, p. 53) “observa-se que a desconcentração industrial foi

estancada entre 1985 e 1998 e a participação de São Paulo praticamente não variou”, o

que confirma a citações anteriores.

Neste sentido, a desconcentração é diferente de uma descentralização, uma vez

que, enquanto houve a desconcentração com crescimento das outras regiões atrelado

ao crescimento de São Paulo, a concentração do capital ainda está no estado paulista,

ou seja, as empresas até podem migrar ou desconcentrar para outras regiões, porém, o

capital é enviado para São Paulo.

5 CONCLUSÃO

O seguinte estudo teve como objetivo analisar, explicitar e responder os mitos

que pairam no meio acadêmico entre a dualidade da desconcentração e da

descentralização da economia da região Sudeste, em particular do estado de São

Paulo, com o resto do Brasil.

De acordo com o explicitado, desconcentração não é descentralização, ou seja,

a região Sudeste, em específico o estado de São Paulo desconcentrava seu capital e

seus setores econômicos para outras regiões. Porém, São Paulo ainda era o centro

econômico do país, desta forma, ainda recebia grande parte do capital, onde, esse

mesmo capital ainda era centralizado no estado paulista.

A afirmação é corroborada por vários economistas, no que concerne aos

diversos setores. Em especial, destaca-se que o setor industrial - responsável por

grande parte da atração do capital - que correspondia a 11,6%, superando assim,

qualquer outro Estado da Federação, ultrapassando até mesmo o montante das regiões

Norte, Nordeste e Centro Oeste juntas (10,8%).

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Portanto, não chegou a surgir um espaço novo, ocorreu um reforço na

industrialização dos espaços existentes, sem que tenha havido o deslocamento do

centro urbano industrial da economia, que é São Paulo. Desta forma, assinala-se que a

desconcentração aconteceu, porém, o ponto central, continuou sendo o estado de São

Paulo.

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