descentralização do programa de controle de tuberculose ... · gustavo brito marinho falcÃo...

56
FUNDA ÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva Descentralização do Programa de Controle de Tuberculose e taxas de abandono ao tratamento na cidade do Recife: uma análise do período de 1996 a 2005 GUSTAVO BRITO MARINHO FALCÃO RECIFE 2008

Upload: vuongque

Post on 24-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva

Descentralização do Programa de Controle de

Tuberculose e taxas de abandono ao tratamento na

cidade do Recife: uma análise do período de 1996 a

2005

GUSTAVO BRITO MARINHO FALCÃO

RECIFE 2008

GUSTAVO BRITO MARINHO FALCÃO

Descentralização do Programa de Controle de Tuberculose e taxas de

abandono ao tratamento na cidade do Recife: uma análise do período de 1996

a 2005

Monografia apresentada ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do título de Especialista em Saúde Coletiva.

Orientadora: Profª. Drª. Cynthia Braga

RECIFE 2008

Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

F178d

Falcão, Gustavo Brito Marinho.

Descentralização do Programa de Controle de Tuberculose e taxas de abandono ao tratamento na cidade do Recife: uma análise do período de 1996 a 2005/ Gustavo Brito Marinho Falcão. — Recife: G. B. M. Falcão, 2008.

54 f.: il. Monografia (Programa de Residência Multiprofissional em Saúde

Coletiva) – Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.

Orientador: Cynthia Braga.

1. Tuberculose. 2. Descentralização. 3. Desistência do Paciente.

I. Braga, Cynthia. II. Título.

CDU 616-002.5

GUSTAVO BRITO MARINHO FALCÃO

Descentralização do Programa de Controle de Tuberculose e Taxas de

Abandono ao Tratamento na Cidade do Recife: uma Análise do Período de

1996 a 2005

Aprovado em: ____/____/_______

Monografia apresentada ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do título de Especialista em Saúde Coletiva.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ Profª. Drª. Maria Cynthia Braga

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/IMIP

_________________________________ Profª. Drª. Mirian Domingos Ferreira

UPE/ Secretaria de saúde de Pernambuco

AGRADECIMENTOS

A Deus por sempre está presente em todos os percursos da minha vida. A minha querida esposa Aninha, pela sua paciência e compreensão da minha ausência em muitos momentos durante a realização do estudo e pela certeza de sempre contar com sua companhia em qualquer situação. À Profª. Drª. Cynthia Braga pela confiança em mim depositada desde o início do projeto, além da orientação tranqüila e segura em todas as etapas do trabalho, ultrapassando as barreiras da orientação à distancia. Ao estatístico Alessandro pela colaboração na análise dos dados Aos amigos companheiros da residência com os quais compartilhei horas de estudo e diversão durante o curso. Aos inesquecíveis amigos do Distrito Sanitário II, pela oportunidade de vivenciar a prática de organização do sistema de saúde e colaborar para minha formação como sanitarista e pessoa. À Júlia Vilela Coordenadora municipal do programa de controle da tuberculose do Recife que contribuiu com a disponibilização dos dados do programa e se mostrou sempre disposta a ajudar durante a realização da pesquisa.

“Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia,pois o triunfo pertence a quem se atreve... E a vida é muito para ser insignificante”. (Charles Chaplin)

RESUMO

A interrupção prematura do tratamento da tuberculose constitui um dos motivos do insucesso no controle da doença. Buscando reduzir as taxas de abandono e o controle da doença no Brasil, o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PCT) instituiu o tratamento supervisionado (DOTS), em 1999, e para garantir a operacionalização da estratégia, recomendou a descentralização das ações de controle a todos os serviços de saúde. Obedecendo a essa diretriz, a Secretaria de Saúde do Recife iniciou o processo de descentralização do PCT, a partir de 2001, porém o impacto sobre as taxas de abandono ainda não foi analisado. O Objetivo do trabalho foi descrever a evolução das taxas de abandono de tratamento de tuberculose e analisar a sua relação com o processo de descentralização das ações do Programa de Controle da Tuberculose no município do Recife, no período de 1996 a 2005. O estudo foi do tipo ecológico, de série histórica. Utilizou-se como fonte de dados o banco do SINAN. Analisou-se a tendência temporal das taxas de abandono do tratamento e dos percentuais de unidades com PCT implantado no município e por Distrito Sanitário (DS). A associação entre as variáveis foi testada utilizando-se o coeficiente de correlação de Pearson e o modelo de regressão linear. Estimou-se o coeficiente angular, o coeficiente de determinação (R2) e o p-valor a um nível de significância de 5%. Observou-se uma tendência de redução estatisticamente significante das taxas de abandono ao tratamento de TB, no município como um todo e nos DS I, III, IV e VI ao longo da série temporal, mas esta taxa permaneceu, no período, bem acima da meta preconizada pelo Ministério da Saúde. Nos DSs II e V esta redução não foi significativa. Em todos os DSs e no Recife, houve uma significante tendência de aumento de descentralização do programa ao longo da série histórica, e este aumento foi significativamente associado com uma leve redução da taxa de abandono no Recife e no DS IV, nos outros DSs tal associação não se mostrou significativa. Mesmo com o intenso processo de descentralização do PCT para as unidades básicas de saúde, as taxas de abandono ao tratamento da TB, no Recife, continuaram elevadas. Tal situação demonstra que este processo, não se mostrou eficaz para a redução do percentual de abandono no município, durante o período em estudo. Palavras chaves: descentralização, tuberculose, abandono

ABSTRACT

The premature interruption of tuberculosis treatment is one of the reasons of failure in controlling the disease. Seeking reduce abandonment rates and control of disease in Brazil, the National Program for Control of Tuberculosis (PCT) established the supervised treatment (DOTS), in 1999, and to ensure the operationalization of the strategy, recommended the decentralization of the shares to control the all health services. Obeying this directive, the Secretary of Health of Recife started the process of decentralization of the PCT, from 2001, but the impact on rates of abandonment has not yet been analyzed. To describe the evolution of the rates of tuberculosis treatment discontinuation and analyze its relationship with the process of decentralization of shares of Tuberculosis Control Program in the city of Recife, in the period from 1996 to 2005. The study was kind of ecological, historical series. It was used as a source of the data bank of SINAN. Analyzed to time trend in rates of treatment abandonment and percentage of units with PCT deployed in the city and by Health District (DS). The association between variables was tested using the Pearson correlation coefficient and linear regression model. It was estimated the slope, the coefficient of determination (R2) and the p-value for a significance level of 5%. There was a tendency for a statistically significant reduction in the rates of abandonment to the treatment of TB, in the municipality as a whole and the DS I, III, IV and VI during the time series, but the rate remained in the period, and above the target recommended by the Ministry of Health In DSs II and V this reduction was not significant. In all DSs in Recife, there was a significant trend of increasing decentralization of the program along the historical series, and this increase was significantly associated with a slight reduction in the rate of abandonment in Recife and the DS IV, in other DSs such association was not significant. Even with the intense process of decentralization of the PCT for primary health, abandonment rates to the tuberculosis treatment, in Recife, remained high, shows this process, was not a measure for reducing the effective percentage of abandonment in the municipality during the period under study. Key words: decentralization, tuberculosis, abandonment

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Divisão do Recife em Regiões Político-Administrativas.....................21 Quadro 1 - População Residente e porcentagem da população residente, por Distritos Sanitários em 2005...................................................................................21 Quadro 2 - Rede de Serviços de Saúde do Programa de Controle da Tuberculose no Recife, 2005...................................................................................22 Quadro 3 - Unidades de referência do Programa de Controle da Tuberculose do Recife, por Distrito Sanitário, 2005.........................................................................22 Gráfico 1 - Regressão da evolução das taxas de abandono de tratamento de tuberculose na cidade do Recife, de 1996 a 2005.................................................29 Figura 2 - Regressão da evolução das taxas de abandono de tratamento de tuberculose nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005........................................................................................................................... 30 Figura 3 - Regressão do percentual de unidades com PCT versus a taxa de abandono nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005............................................................................................................................32 Gráfico 2 - Regressão da evolução do percentual de unidades com PCT implantado na cidade do Recife, de 1996 a 2005..................................................35 Figura 4 - Regressão da evolução do percentual de unidades com PCT implantado nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005.........36 Gráfico 3 - Regressão do percentual de unidades com PCT versus a taxa de abandono na cidade do Recife, de 1996 a 2005....................................................39 Figura 5 - Regressão do percentual de unidades com PCT versus a taxa de abandono nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005...........40

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número absoluto de abandono ao tratamento de TB, total de casos que iniciaram tratamento de TB, taxa de abandono ao tratamento de TB e análise de tendência da taxa de abandono, entre as coortes de 1996 e 2005, no Recife e Distritos sanitários....................................................................................28 Tabela 2 – Número absoluto de unidades de saúde com PCT, número total de unidades de saúde, percentual de unidades de saúde com PCT e análise de tendência da taxa de unidades com PCT implantado, entre as coortes de 1996 e 2005, no Recife e Distritos sanitários.................................................................... 34 Tabela 3 – Associação entre o percentual de unidade com PCT implantado e taxas de abandono ao tratamento de tuberculose na cidade do Recife e seus Distritos Sanitários, de 1996 a 2005...................................................................... 38 Tabela 4 – População residente, número de Unidades de Saúde com PCT, relação entre população residente e unidades com PCT, taxa de abandono do tratamento de tuberculose e p- valor da associação entre população residente por unidade com PCT e taxa de abandono na cidade do Recife e seus Distrito Sanitário, no ano de 2005........................................................................................41

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................... 11

2 OBJETIVOS............................................................................................................................... 19

2.1 Objetivo Geral...................................................................................................................... 19

2.2 Objetivos Específicos....................................................................................... 19

3 METODOLOGIA.................................................................................................... 20

3.1 Delineamento do Estudo................................................................................................... 20

3.2 Área de Estudo..................................................................................................................... 20

3.3 População de Estudo........................................................................................................ 23

3.4 Critério de Exclusão......................................................................................... 23

3.5 Período de Referência........................................................................................................ 23

3.6 Definição e Categorização das variáveis................................................................... 23

3.6.1 Variáveis Dependentes..................................................................................................... 23

3.6.2 Variável Independente...................................................................................................... 24

3.7 Fonte de Dados..................................................................................................................... 24

3.8 Plano de Análise dos dados............................................................................................ 25

3.9 Limitações da pesquisa.................................................................................................... 25

3.10 Questões éticas.................................................................................................................. 26

4 RESULTADOS.......................................................................................................................... 27

4.1 Análise descritiva, taxas de abandono ao tratamento de tuberculose e

análise de Regressão entre as coorte de 1996 a 2005.............................................

27

4.2 Comparação entre os modelos de regressão da taxa de

abandono........................................................................................................................................

31

4.3 Descentralização das ações da PCT para Unidades Básicas de

Saúde...............................................................................................................................................

33

4.4 Associação entre as taxas de abandono ao tratamento de tuberculose e

o grau de descentralização do Programa para as unidades básicas de saúde

de 1996 a 2005.........................................................................................................

37

4.5 Correlação entre cobertura do programa e taxas de abandono ao

tratamento de tuberculose, para o ano de 2005.............................................................

41

5 DISCUSSÃO.............................................................................................................................. 42

6 RECOMENDAÇÕES FINAIS 48

REFERÊNCIAS 49

11

1 INTRODUÇÃO

A tuberculose vem sendo considerada pela Organização Mundial de Saúde

(OMS) uma doença de emergência global desde 1993, devido ao recrudescimento

da enfermidade nos países desenvolvidos e o aumento de sua ocorrência nos

países em desenvolvimento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006). A OMS

estima que cerca de 2 bilhões de indivíduos em todo o mundo estejam infectados,

correspondendo a 30% da população mundial e ocorram anualmente três milhões de

óbito pela doença (BLANC; MARTINEZ, 2006; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE

SAÚDE, 2006). Nas Américas, Brasil e Peru contribuem com 50% dos casos

estimados (HIJJAR et al., 2005).

No Brasil, a tuberculose é endêmica e apresenta níveis de incidência

considerados elevados que variaram entre 48,5 e 66,8 casos por 100.000 hab, entre

os anos 1977 e 2004. (HIJJAR et al., 2005; RUFFINO-NETTO,1999; RUFFINO-

NETTO, 2002). O país encontra-se atualmente entre os 22 países que respondem

por 80% dos casos absolutos de tuberculose no mundo, precisamente em 15º lugar

(HIJJAR et al., 2005). No país, as taxas de abandono são igualmente elevadas,

tendo atingido um percentual de 12%, em 2004, mais do dobro da taxa máxima

admitida pela OMS, que é de 5% (BRASIL, 2006; HIJJAR et al., 2005).

Em Pernambuco, os coeficientes de incidência e de mortalidade por

tuberculose são semelhantes à média nacional. Em 2004, o coeficiente de incidência

da doença no estado foi de 51,8/100000 hab, ocupando o terceiro lugar em

incidência da doença, após os estados do Amazonas e Rio de Janeiro. Quanto às

taxas de abandono do tratamento no estado, em 2004, foi de 10%, semelhante a

média nacional (BRASIL, 2006; RECIFE, 2005 a).

O município do Recife apresenta coeficientes de incidência e mortalidade por

tuberculose e percentual de abandono ao tratamento da doença mais elevado do

que a média estadual e nacional, demonstrando a gravidade da doença na cidade.

Em 2004, foram notificados 1714 casos novos de tuberculose no município,

correspondendo a 34% dos casos do estado, que representa um coeficiente de

incidência de 113,95 por 100.000 habitantes. Neste mesmo ano, o coeficiente de

mortalidade pela doença foi de 9,91 óbitos por 100.000 habitantes e a taxa de

abandono do tratamento foi cerca de 15 % (BRASIL, 2006; RECIFE, 2005 a).

12

Frente à alta incidência de tuberculose no país, o Ministério da Saúde lançou,

em 1998, o Plano Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) que estabeleceu

como meta curar pelo menos 85% dos casos diagnosticados e diagnosticar pelo

menos 70% dos casos esperados (VILLA et al., 2006 a). Uma outra meta do PNCT é

a expansão das ações de controle da TB para 100% dos municípios brasileiros, pelo

âmbito da atenção básica, nessa perspectiva o Plano de Controle da Tuberculose

reconhece a importância de horizontalizar o controle da doença para todos os níveis

do sistema de saúde incluindo a atuação das equipes de Programa de Agente

Comunitário de Saúde (PACS) e Programa Saúde da Família (PSF) com ênfase na

identificação dos casos, através de busca ativa do sintomático respiratório e o

acompanhamento dos pacientes em tratamento para evitar o abandono

(BRASIL,2002; BRASIL,2006).

Foi ainda formalmente oficializada, em 1999, a implantação da Estratégia do

Tratamento Supervisionado (DOTS), com o objetivo de atingir as metas propostas e

reduzir as taxas de abandono para no máximo 5% (BRASIL, 2002; BRASIL, 2006).

Porém, as taxas de abandono do tratamento de tuberculose se mantiveram elevadas

mesmo após a implantação do PNCT, tendo variado de 14 a 12%, entre 2000 e

2004, acima do percentual máximo proposto pelo Ministério da Saúde (VILLA et al.,

2006 a).

O abandono ao tratamento da tuberculose constitui um dos principais desafios

para os Programas de controle da doença e um das importantes determinantes da

manutenção da endemia em todo o mundo (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE,

1999). Altas taxas de não aderência ao tratamento diminuem a eficácia dos

programas nacionais, permitem a persistência da fonte de infecção na população

aumentando o risco de transmissão do bacilo, incrementa a probabilidade de

resistência bacteriana aos antibióticos e predispõe a uma piora do prognóstico com

maior freqüência de falências e recidivas, além de elevar os custos do tratamento

(FERREIRA; SILVA; BOTELHO, 2004; ORGANIZAÇÂO MUNDIAL DE SAÚDE,

1999; PINEIDA; PEREIRA; BARRETO, 2005).

Pacientes que abandonam o tratamento tem um elevado risco de recaída da

doença além de apresentar sintomas graves e maiores chances de falência, óbito e

de abandono, após o início de um segundo tratamento. (COKER, 2000; FERREIRA;

SILVA; BOTELHO, 2005; SANTHA et al., 2002).

13

Os tratamentos irregulares, interrompidos antes da cura completa ou

realizados com doses inadequadas, também condicionam o surgimento de cepas

resistentes aos medicamentos, denominada “resistência adquirida”, que consiste na

seleção de mutantes do Mycobacterium tuberculosis resistentes a uma ou mais

drogas, bacilos assim selecionados podem ser transmitidas a outros indivíduos que

apresentarão, por sua vez, infecções farmaco-resistentes, mesmo sem ter sido

submetido a tratamento anterior, que é chamada de resistência primária. Desta

forma, casos bacilíferos diagnosticados e com tratamento inadequado contribuem

com grande parte do resíduo decorrente do insucesso do tratamento, se constituindo

em um grande risco de proliferação de novos doentes resistentes aos

quimioterápicos e agravando a situação epidemiológica com danosas

conseqüências sociais e econômicas (FIUZA DE MELO; AFIUNE, 1993; JARDIM et

al., 2001).

Segundo Campos (1996), em regiões com altas taxas de abandono do

tratamento é preferível não se iniciar o tratamento, pois o curso natural da doença

atinge resultados melhores e não aumenta o risco de desenvolvimento de bacilos

resistentes.

Um levantamento da prevalência de resistência ao tratamento da tuberculose

realizado entre 1994 e 1997, em 35 países que participam da OMS - União

Internacional contra a Tuberculose e Doenças Pulmonares - mostrou que a

resistência às drogas foi encontrada em todos os países, sugerindo que este é um

problema mundial e foi muito mais freqüente em casos de retratamento que em

relação aos casos novos (PABLOS-MENDEZ et al.,1998). Trabalhos realizados no

Brasil também constataram uma forte associação entre resistência bacteriana e

abandono do tratamento anterior (FIUZA DE MELO et al., 2003).

Nos países desenvolvidos tem ocorrido, atualmente, uma rápida redução nas

taxas de abandono do tratamento de tuberculose. No início dos anos 90 estimava-se

que cerca de 20% dos pacientes com tuberculose em países industrializados não

concluíam o tratamento (TANGÜIS et al., 2000). Já na coorte de 2004, divulgada

pela OMS, o tratamento de casos de tuberculose oriundos de 212 países, as taxas

de abandono dos países desenvolvidos atingiram percentuais entre 0 e 6% nos

casos novos pulmonares com baciloscopia positiva. Essa redução acentuada do

abandono ao tratamento deve-se, em grande parte, à crescente utilização da

estratégia DOTS nestes países (ORGANIZAÇÂO MUNDIAL DE SAÚDE, 2007).

14

Ao contrário, nos países em desenvolvimento as taxas de abandono do

tratamento da tuberculose são variadas (0 a 39%) entre os casos novos com

baciloscopia positiva, segundo a coorte de 2004, como também é variado o grau de

implantação da estratégia DOTS nestes países (ORGANIZAÇÂO MUNDIAL DE

SAÚDE, 2007).

Nos países em desenvolvimento, os fatores que levam o paciente a

abandonar o tratamento estão relacionados, segundo alguns autores, às condições

socioeconômicas e culturais do doente, precárias condições de moradia,

desemprego, baixo nível educacional, história anterior de abandono ao tratamento,

alcoolismo, tabagismo e uso de drogas, (ALBUQUERQUE et al., 2004; BERGUEL;

GOUVEIA, 2005; BRASIL, 2002; GONÇALVES et al., 1999; LIMA et al., 2001;

RIBEIRO, 1993). Além disso, destacam-se fatores relacionados à qualidade dos

serviços ofertados, tais como demora do atendimento, dificuldade do acesso aos

serviços (GONÇALVES et al., 1999; RIBEIRO, 1993). Nos países industrializados

os principais fatores associados ao abandono do tratamento são o alcoolismo,

imigrantes da America Latina, Caribe, África e Ásia, ser da raça negra, não possuir

moradia e estar preso (ANIBARRO et al. 2004; BURMAM et al., 2006; RUBEL;

GARRO, 1992; TANGÜIS et al., 2000), além de ter sorologia positiva para HIV

(CATOR; BRASSARD; DUCIC, 2002).

Segundo Gonçalves et al. (1999), o longo curso do tratamento, de no mínimo

seis meses, que dificulta o acompanhamento pelo serviço de saúde e o

desaparecimento dos sintomas logo no início da terapia levaria alguns indivíduos a

acreditar que a doença acabou e a abandonar o tratamento. Ademais, por

mecanismos de associação, para alguns pacientes, tomar os medicamentos seria

reviver a doença e as limitações ao cotidiano que ela impõe e que desejam

esquecer.

Constata-se também que os índices de abandono são maiores no sexo

masculino do que no sexo feminino (FERREIRA; SILVA; BOTELHO, 2004;

FERREIRA; SILVA; BOTELHO, 2005; PINEIDA; PEREIRA; BARRETO, 2005;

RIBEIRO et al., 2000). Esses autores supõem que o fato se deva ao maior descuido

com a saúde que os homens têm em relação às mulheres.

Outro fator que contribui para a não adesão ao tratamento de tuberculose é a

ocorrência de efeitos colaterais aos medicamentos, principalmente náuseas, vômitos

e reações na pele, que são de difícil controle e os sintomas são indesejados, muitas

15

vezes intoleráveis pelos pacientes, o que os leva a suspenderem a medicação

(CATOR; BRASSARD; DUCIC, 2002). Um estudo feito por Cantalice Filho, Bóia e

Sant’ Anna (2007), mostrou que nos idosos, acima de 60 anos, as reações adversas

são ainda mais graves e nesta faixa etária há uma maior associação com doenças

pulmonares, cardiovasculares, tabagismo, alcoolismo e diabettes mellitus. Este

estudo não mostrou diferença significativa nas taxas de abandono entre adultos e

idosos, mas como na faixa etária acima de 60 anos ocorreu maiores complicações,

estes pacientes devem ser acompanhados com cuidado pelo serviço de saúde.

A aids é talvez a patologia que mais se destaca na associação com histórico

de abandono (CONNOLLY; DAVIES; WILKINSON, 1998; CATOR; BRASSARD;

DUCIC, 2002; OLIVEIRA; MOREIRA FILHO, 2000). Para estes autores numerosos

fatores podem ser obstáculos ao paciente com tuberculose e aids, como problemas

físicos, estigmatização social (preconceito da família, comunidade e profissionais de

saúde) e os efeitos secundários que às vezes afetam a adesão dos pacientes com

tuberculose parecem ser exacerbado neste grupo.

Foi constatado por vários estudos (FERREIRA; SILVA; BOTELHO, 2004;

FERREIRA; SILVA; BOTELHO, 2005; LIMA et al., 2001) que o abandono ocorre

normalmente entre o segundo e o terceiro mês de tratamento, período que há uma

melhora dos sintomas, situação que leva o paciente a acreditar na cura da doença

ocasionando a interrupção da terapia.

A literatura mostra ainda que pacientes que fazem uso do tratamento auto-

administrado apresentam mais riscos de abandonarem a terapia que os submetidos

ao tratamento supervisionado. (BURMAN et al., 2006; MORRONE et al., 1999; WEIS

et al.,1994).

Um estudo realizado por Pineida, Pereira e Barreto (2005) apresentou como

fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose: a dificuldade de

acesso do paciente à unidade de saúde; a deficiência organizacional do serviço e

uma má atenção recebida dos profissionais de saúde durante o tratamento. Sucupira

et al. (2005) expõem em suas pesquisas a importância da boa relação equipe de

saúde-paciente e da certeza diagnóstica que aumentam a credibilidade de médicos

e pacientes quanto ao problema a ser enfrentado. Esses fatores mencionados são

de grande relevância, pois a insatisfação do paciente sobre a qualidade da atenção

recebida pelo serviço ou profissional de saúde pode reduzir o interesse do mesmo

em cumprir o tratamento, além de dificultar o seu retorno.

16

Assim, a disponibilidade de fornecimento de medicação gratuita para o

tratamento; o bom nível de organização do serviço de saúde, com consultas

regulares previamente agendadas e controle de pacientes faltosos; a possibilidade

de realização de visitas domiciliares e o menor tempo de tratamento contribuem para

a redução do abandono ao tratamento (FOX, 1993).

Vários estudos comprovaram que a implantação da estratégia DOTS também

se constitui numa medida efetiva para aumentar a aderência do paciente ao

tratamento de tuberculose e mostram experiências bem-sucedidas em vários países

e regiões do mundo que elevaram os índices de cura e reduziram o percentual de

abandono do tratamento da tuberculose com a utilização do DOTS (GAZETTA et al.,

2007; SÁ et al., 2006; SANTHA et al., 2002; SILVA; BARBOSA, 2004).

Uma pesquisa realizada por Domingos (2007) comparando dois períodos do

controle da tuberculose na cidade do Recife: pré e pós a implantação da estratégia

DOTS, mostrou que pacientes que foram incluídos em tratamento supervisionado

tiveram uma redução em cerca de 70% na chance de abandonar o tratamento.

Para Cator, Brassard e Ducic (2002), o diagnóstico precoce da doença é

importante para o aumento da aderência ao tratamento da tuberculose, pois a

ausência de sintomas e o diagnóstico em nível ambulatorial diminuem o risco do

paciente abandonar o tratamento, pois o medo reside no desconhecido, na presença

de sintomas e complicações no desenvolvimento da doença e no estigma social que

a enfermidade provoca.

Para obter um eficaz controle das endemias no Brasil, o Sistema Único de

Saúde (SUS), vem aprimorando desde do final dos anos 90, uma formulação de

programas por parte do Ministério da Saúde que procuram atuar na perspectiva da

promoção da saúde e não mais apenas de tratamento de doenças. Assim, a NOAS

01/2001 (Norma Operacional de Assistência à Saúde do SUS) definiu o controle da

Tuberculose como parte do elenco de atribuições mínimas da atenção básica a

serem assumidas pelos municípios brasileiros. Como conseqüência, a Secretaria de

Saúde do Recife instituiu a partir de 2001, uma política de controle da Tuberculose

que tem como uma das principais diretrizes a descentralização das ações do

Programa e estabelecendo as unidades básicas de saúde do Programa de Saúde da

Família (PSF) e Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) como porta

de entrada do sistema de saúde e reorientando a rede de serviços de referência

para dar suporte à rede básica em cada Distrito Sanitário (RECIFE, 2004).

17

Visando o pleno desenvolvimento das ações do Programa no município,

promoveu-se inicialmente a capacitação das equipes de saúde do PSF e do PACS

para a realização das ações de vigilância epidemiológica, prevenção e tratamento da

tuberculose. Com relação ao tratamento, foi dada ênfase à questão do medicamento

(garantia do fornecimento regular e ininterrupto do medicamento), a dose

supervisionada e a importância da integralidade na atenção ao doente. No campo do

diagnóstico foi explorado o papel do laboratório no apoio diagnóstico. Na vigilância,

foi abordado o controle de faltosos e contatos, o adequado preenchimento dos

instrumentos alimentadores do Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN), o fluxo desses entre as unidades de saúde, Distritos Sanitários e Diretoria

de Epidemiologia e Vigilância à Saúde (SASSAKI et al., 2006)

Em 2002, foi iniciada a estruturação das unidades de referência (policlínicas)

em cada Distrito Sanitário. Em cada policlínica há um especialista (pneumologista) e

uma equipe multidisciplinar que tem o objetivo de oferecer suporte e educação

continuada para as equipes da atenção básica. As policlínicas são responsáveis

pelo acompanhamento dos casos do esquema III e diagnóstico das tuberculoses

extrapulmonar e pulmonar negativa (RECIFE, 2004).

Na assistência farmacêutica, foi implantada planilha para facilitar a

programação mensal de medicamentos, assim como tornado obrigatório à

vinculação da notificação à liberação dos medicamentos, tornando este setor um

importante produtor de dados para o gerenciamento e distribuição dos

medicamentos do programa (SASSAKI et al., 2006).

Também foi estabelecido parceria entre o grupo de pesquisadores do Centro

de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ (Rede de Pesquisa em Tuberculose –PE),

num processo de integração Ensino-Pesquisa-Serviço, onde a coordenação esteve

presente, facilitando a relação entre as Unidade de Saúde e o grupo, por entender a

importância dos resultados da pesquisa na reorientação e planejamento das ações

de controle. (RECIFE, 2004).

Todo esse processo de transformação promoveu melhorias no controle da

Tuberculose, principalmente no que se refere à descentralização das ações e na

detecção dos casos. Entre 1995 e 2001 o percentual de detecção dos casos que

estava em declínio no município, a partir de 2002, aumentou rapidamente, sugerindo

que havia uma grande quantidade de casos não detectados pelo sistema de saúde

(SASSAKI et al., 2006).

18

A descentralização das ações do PCT colaborou significativamente para a

redução da taxa de abandono ao tratamento da tuberculose em algumas cidades

brasileiras (GAZETTA et al., 2007; NORA; PATROCO, 2002; SÁ et al., 2006).

Entretanto o estudo de Ignotti et al. (2006) mostrou, que para a cidade Cáceres/MT,

este processo não contribuiu para aderência do paciente ao tratamento. Passados

sete anos após o início do fortalecimento no processo de descentralização do

Programa de Controle de Tuberculose no município do Recife ainda não há estudos

que verifiquem a eficácia desta medida para adesão do paciente à terapia de

tuberculose.

Assim este estudo teve por objetivo analisar o impacto das ações de

descentralização do PCT sobre as taxas de abandono ao tratamento de tuberculose

na cidade do Recife, no período de 1996 a 2005.

19

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar a evolução das taxas de abandono de tratamento de tuberculose na

cidade do Recife e sua relação com o processo de descentralização das ações do

Programa de Controle da Tuberculose na rede de saúde no município do Recife, no

período de 1996 a 2005.

2.2 Objetivos Específicos

a) Analisar a tendência das taxas de abandono anual do tratamento de tuberculose

no município e por Distritos Sanitários, no período de estudo;

b) Analisar a relação entre as taxas de abandono ao tratamento e proporção de

unidades de saúde com PCT implantado

c) Analisar a relação entre a população residente/números de unidades de saúde

com PCT implantado e a taxa de abandono do tratamento de tuberculose para o

Recife e Distritos Sanitários no ano de 2005.

20

3 METODOLOGIA

3.1 Delineamento do Estudo

O estudo foi do tipo ecológico, observacional, de série histórica, no qual as

taxas de abandono ao tratamento da tuberculose e percentuais de cobertura do

programa foram descritos e analisados.

3.2 Área de Estudo

O município do Recife, capital do Estado de Pernambuco, possui uma

extensão territorial de 209 Km2, e no ano de 2005 a população residente da cidade

era de 1.501.010 habitantes. A cidade possui uma população predominantemente

jovem, com mais de 38% do total incluída na faixa etária de 10 a 29 anos e apenas

9% habitantes encontram-se acima de 60 anos; e 53,5% dos moradores são do

sexo feminino (RECIFE, 2005a).

O município de Recife está dividido em seis Regiões Político-Administrativas

(RPA), que na área de Saúde corresponde aos seis Distritos Sanitários (figura 1). O

Quadro 1 apresenta a população estimada e porcentagem da população residente,

por Distritos Sanitários em 2005 (RECIFE, 2005a).

21

Figura 1 - Divisão do Recife em Regiões Político-Administrativas Fonte: Plano Municipal de Saúde, Recife 2006-2009 (RECIFE, 2005a).

Distrito

Sanitário

População

Estimada

para 2005

Porcentagem da

população por

Distrito Sanitário,

2005

I 82.385

5,49

II 217.293 14,48

III 299.208 19,93

IV 266.903 17,78

V 262.123 17,46

VI 373.218 24,86

Total 1.501.010 100

Quadro 1 - População Residente e porcentagem da população residente, por Distritos Sanitários em 2005.

Fonte: Plano Municipal de Saúde, Recife 2006-2009 (RECIFE, 2005a).

A assistência à tuberculose vem sendo organizada com ênfase na atenção

básica através das equipes de PSF (em 2005, 50% da população da cidade

encontrava - se assistida por Equipes de Saúde da Família) e unidades de saúde

tradicionais.

A rede de referência conta com nove policlínicas presentes em todos os

distritos. O município apresenta ainda um serviço de referência para internação, o

22

Hospital Otávio de Freitas, onde parte dos casos de tuberculose do Recife é

notificada. Cada Distrito possui suas unidades de referência para o controle da

Tuberculose no Recife, conforme mostram os quadros 2 e 3.

REDE DE SERVIÇOS

UST existente

UST c/PCT

% PCT nas UST

USF existente

USF c/PCT

% USF

c/ PCT

Referência média

complexidade

DS I 1 0 0% 8 8 100% 2 DS II 2 2 100% 17 15 88% 1 DS III 7 0 0% 20 19 95% 2 DS IV 4 1 25% 17 12 71% 1 DS V 6 1 17% 12 12 100% 1 DS VI 8 1 13% 22 22 100% 2 Total 28 5 18% 96 88 92% 9 Quadro 2 - Rede de Serviços de Saúde do Programa de Controle da Tuberculose no

Recife, 2005. Fonte: Dados colhidos na Gerência de Atenção Básica (GAB), Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Nota: DS: Distrito Sanitário; UST: Unidades de Saúde Tradicionais; USF: Unidades de Saúde da Família; PCT: Programa de Controle da Tuberculose.

Distrito Sanitário UNIDADES DE REFERÊNCIA DO PCT

Distrito Sanitário I Policlínica Waldemar de Oliveira

Policlínica Gouveia de Barros Distrito Sanitário II Policlínica Amaury Coutinho

Distrito Sanitário III Policlínica Albert Sabin Policlínica Clementino Fraga

Distrito Sanitário IV Policlínica Lessa de Andrade

Distrito sanitário V Policlínica Agamenon Magalhães

Distrito Sanitário VI Policlínica Arnaldo Marques Policlínica do Pina

Quadro 3 - Unidades de referência do Programa de Controle da Tuberculose do Recife, por Distrito Sanitário, 2005.

Fonte: Dados colhidos na Gerência de Atenção Básica (GAB), Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

23

3.3 População de Estudo

A população de estudo foi composta por pacientes com tuberculose,

residentes no município do Recife, que iniciaram o tratamento no período

correspondente à série histórica.

Segundo o Departamento de Vigilância à Saúde da Prefeitura da Cidade do

Recife (DVS/PCR) para Tuberculose, compõe a coorte de pacientes (casos novos

ou retratamento) com início de tratamento (de duração de 6 meses) num

determinado período (abril do ano anterior a março do ano em curso).

3.4 Critérios de Exclusão

Foram excluídos do estudo os casos encerrados por mudança de diagnóstico.

3.5 Período de Referência

Foi escolhida uma série histórica englobando as coortes da data do início de

tratamento entre os anos de 1996 a 2005, portanto um período de 10 anos.

3.6 Definição e Categorização das variáveis

3.6.1 Variáveis Dependentes

Taxa de abandono da terapia de tuberculose.

24

Expressa pela seguinte fórmula:

Taxa de abandono = N° de casos de TB que interrompem o tratamento por mais de 30 dias x 100 Todos os casos que iniciaram o tratamento

3.6.2 Variável Independente

a) Relacionadas ao tempo: ano de inclusão do caso na coorte .

b) Relacionadas ao lugar: Distrito Sanitário categorizado em I, II, III, IV, V, VI.

c) Relacionadas à qualidade da assistência:

Cobertura do programa. Proporção de unidades de saúde com PCT implantado em

relação ao total de unidades de saúde existentes no município e segundo Distrito

Sanitário.

Cobertura (%) = N° de unidades com PCT implantado x 100 Total de unidades de saúde Razão do número de habitantes por unidade de saúde (número de habitantes por

número de unidades com PCT implantado na área de cobertura).

Formula = População residente e Nº de unidades de saúde com PCT implantado

3.7 Fonte de Dados

As informações sobre o número de casos de tuberculose foram oriundas do

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) fornecidos pelo

Departamento de Vigilância à Saúde da Prefeitura da Cidade do Recife (DVS/PCR).

Dados sobre as Unidades Básicas de Saúde e de Referência para o tratamento de

tuberculose foram obtidos na Coordenação Municipal do Controle de Tuberculose –

Gerência de Atenção Básica (GAB/PCR).

25

3.8 Plano de Análise dos dados

A evolução das taxas anuais de abandono ao tratamento e os percentuais

anuais de cobertura do PCT no município foi descrita por município e Distritos

Sanitários. A análise das tendências temporais foi realizada utilizando-se gráficos de

linha e testes estatísticos, como o coeficiente de correlação de Pearson e o modelo

de regressão linear. A partir deste último foram estimados, o coeficiente angular (b)

e o coeficiente de determinação (R2). A relação entre os percentuais de cobertura e

taxas de abandono foi testada utilizando o coeficiente de correlação de Pearson

As diferenças entre as curvas das taxas de abandono por Distrito Sanitário e

por município foram testadas utilizando regressão linear. Por fim, testou-se a

associação entre a razão “população residente por números de unidades de saúde

com PCT implantado” e as taxas de abandono de abandono por Distrito Sanitário, no

ano de 2005 estimando-se o coeficiente de correlação de Pearson.

Os dados foram tabulados na planilha eletrônica Microsoft Excel no qual

também foram feitas as figuras e gráficos necessários. Para análise estatística foram

utilizados os softwares R versão 2.2.1 e EPI6. Para todas as decisões foi

considerado o nível de significância de 5%.

3.9 Limitações da pesquisa

As limitações apresentadas por esta pesquisa são inerentes ao desenho de

estudo utilizado, estudo ecológico, no qual os resultados se referem aos agregados

populacionais, não podendo, portanto, serem individualizados (ALMEIDA FILHO;

ROUQUAYROL, 1999). Portanto, possíveis diferenças no perfil dos casos, por

Distrito, quanto a características associadas ao abandono ao tratamento, como

pobreza, retratamento e outros fatores, podem também ter influenciado as taxas de

abandono independentemente da cobertura do programa.

Outras limitações possíveis poderiam ser decorrentes da utilização de dados

do SINAN, que estão sujeitos a sub-notificações, duplas notificações, erros ou

ausências nos preenchimentos dos campos da Ficha Individual de Notificação

26

principalmente os que referem a endereços do paciente, tipo de encerramento, data

de inicio de tratamento, que podem ter alterado as análises taxas de abandonos de

tratamento no Recife e Distritos Sanitários.

Outras informações como diferentes perfis de casos, disponibilidade de

recursos humanos e infra-estrutura e facilidade de acesso aos serviços de saúde

entre os Distritos Sanitários e anos em estudo, não foram considerados.

3.10 Questões éticas

A pesquisa não envolveu problemas éticos porque utilizou bases de dados

secundários, cuja identidade dos indivíduos não esteve acessível ao pesquisador.

Os dados foram disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde do Recife. O

projeto foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Pesquisa

Aggeu Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz - registro número 02/07.

27

4 RESULTADOS

4.1 Análise descritiva, taxas de abandono ao tratamento de tuberculose e

análise de Regressão entre as coorte de 1996 a 2005

A tabela 1 apresenta o número absoluto de casos de abandono e o total de

indivíduos que iniciaram o tratamento da tuberculose no Recife e nos Distritos

Sanitários entre as coortes de inicio de tratamento, dos anos de 1996 a 2005.

Também são apresentadas as taxas de abandono do tratamento de tuberculose,

para os mesmos locais e anos. Considerando-se a totalidade do município, observa-

se uma redução das taxas de abandono, que eram de 20,6% no início do período e

atingiram o percentual de 14,8% ao final do período de observação. Verificou-se que

esta redução foi significativa (p-valor < 0,001) e de valor moderado (b = -0,65). A

análise da tendência por Distrito Sanitário mostrou que, com exceção dos Distritos

Sanitários II e V, as taxas de abandono sofreram redução significativa. Essa redução

foi mais acentuada no Distrito I (r = -0,821; coeficiente angular -1,45; p=0,004),

seguido pelo Distrito IV onde também se observou uma redução acentuada dessas

taxas. Neste Distrito, a taxa de abandono ao final do período de observação (2005)

atingiu um percentual próximo à taxa máxima preconizada pelo Ministério da Saúde,

de 5%. No Distrito Sanitário VI os percentuais de abandono se mostraram bastante

elevados, acima de 20%, durante todos os anos do período em estudo, foi também

este Distrito que apresentou a menor queda deste percentual (b= - 0,36), mas com

tendência de redução significativa (p-valor= 0,031)

No gráfico 1 e figura 2 encontram-se a representação gráfica dos modelos

de regressão apresentados na tabela 1, permitindo uma melhor visualização do

comportamento das séries em estudo.

28

Tabela 1 - Número absoluto de abandono ao tratamento de TB, total de casos que iniciaram tratamento de TB, taxa de abandono ao tratamento de TB e análise de tendência da taxa de abandono, entre as coortes de 1996 e 2005, no Recife e Distritos sanitários

Região Casos de abandono ao tratamento (nº, total de casos que iniciou tratamento e taxa de abandono)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Correlação de Pearson

Coeficiente Angular(b)

p-valor R²

Nº de abandono 10 34 41 26 33 31 21 19 31 27 Total de casos 32 144 165 148 148 162 122 153 182 157 DSI Taxa abandono 31,3 23,6 24,9 17,6 22,3 19,1 17,2 12,4 17,0 17,2

-0,821² -1,45 0,004 0,67

Nº de abandono 15 54 57 58 46 44 42 58 46 52 Total de casos 82 243 243 245 234 231 230 280 276 317 DSII Taxa abandono 18,3 22,2 23,5 23,7 19,7 19,1 18,3 20,7 16,7 16,4

-0,606³ -0,52 0,063 0,37

Nº de abandono 11 65 55 53 37 36 38 42 40 53 Total de casos 71 347 323 305 258 235 250 307 287 356 DSIII Taxa abandono 15,5 18,7 17,0 17,4 14,3 15,3 15,2 13,7 13,9 14,9

-0,691² -0,37 0,027 0,48

Nº de abandono 10 44 25 18 30 17 23 18 29 20 Total de casos 49 228 203 158 167 162 197 189 256 275 DSIV Taxa abandono 20,4 19,3 12,3 11,4 18,0 10,5 11,7 9,5 11,3 7,3

-0,804² -1,18 0,005 0,65

Nº de abandono 12 77 64 61 55 59 48 46 47 48 Total de casos 75 374 283 307 304 229 237 241 346 409 DSV Taxa abandono 16,0 20,6 22,6 19,9 18,1 25,8 20,3 19,1 13,6 11,7

-0,425³ -0,58 0,220 0,18

Nº de abandono 22 94 72 74 63 61 66 77 86 81 Total de casos 82 392 302 313 260 283 282 325 361 388 DSVI Taxa abandono 26,8 24,0 23,8 23,6 24,2 21,6 23,4 23,7 23,8 20,9

-0,679² -0,36 0,031 0,46

Nº de abandono 81 369 316 290 266 248 239 260 279 282 Total de casos 394 1740 1525 1478 1374 1303 1321 1496 1710 1904 RECIFE Taxa abandono 20,6 21,2 20,7 19,6 19,4 19,0 18,1 17,4 16,3 14,8

-0,959² -0,65 <0,001 0,92

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Departamento de Vigilância à Saúde- Secretaria de Saúde do Recife Nota: ¹P-valor do teste do teste t. Se p-valor<0,05 b é significativo, ²Correlação significativa a 5% de significância., ³Correlação não significativa ao nível de 5% de significância

29

Gráfico 1 - Regressão da evolução das taxas de abandono de tratamento de tuberculose na cidade do Recife, de 1996 a 2005. Fonte: Dados do próprio autor

30

Figura 2 - Regressão da evolução das taxas de abandono de tratamento de tuberculose nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005. Fonte: Dados do próprio autor

Ano x Taxa de abandono no DSI

y = -1,45x + 28,22

R2 = 0,67

p-valor = 0,004

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSIEstimação

Ano x Taxa de abandono no DSII

y = -0,52x + 22,72

R2 = 0,37

p-valor = 0,063

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSIIEstimação

Ano x Taxa de abandono no DSIII

y = -0,37x + 17,64

R2 = 0,48p-valor = 0,027

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSIIIEstimação

Ano x Taxa de abandono no DSIV

y = -1,18x + 19,66

R2 = 0,65p-valor = 0,005

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSIVEstimação

Ano x Taxa de abandono no DSV

y = -0,58x + 21,96R2 = 0,18

p-valor = 0,220

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSVEstimação

Ano x Taxa de abandono no DSVI

y = -0,36x + 25,55R2 = 0,46

p-valor = 0,031

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSVIEstimação

31

4.2 Comparação entre os modelos de regressão da taxa de abandono.

Na figura 3 são apresentados os resultados da análise de regressão

comparando a tendência das taxas de abandono ao tratamento nos Distritos

Sanitários em relação à tendência das taxas de abandono para o município.

Observa-se que a tendência das linhas de regressão referentes às taxas de

abandono nos Distritos III e IV e VI diferiram estatisticamente da tendência

encontrada no município como um todo (p-valor<0,001). Nos Distritos sanitários III

(coeficiente de comparação= 0,002) e IV (coeficiente de comparação= 0,003)

observou-se valores médios das taxas de abandono menores que à média

municipal. No Distrito VI, além das taxas de abandono terem sido mais elevadas

do que a média municipal (coeficiente de comparação = - 0,002), ao longo do

período de observação, a tendência de queda foi menos acentuada.

32

Ano x Taxa de abandono - (Recife x DSI)

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) RECIFEDSI

Coeficiente = -0,001p-valor da comparação = 0,197

Ano x Taxa de abandono - (Recife x DSII)

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) RECIFEDSII

Coeficiente = -0,001p-valor da comparação = 0,129

Ano x Taxa de abandono - (Recife x DSIII)

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) RECIFEDSIII

Coeficiente = 0,002p-valor da comparação < 0,001

Ano x Taxa de abandono - (Recife x DSIV)

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) RECIFEDSIV

Coeficiente = 0,003p-valor da comparação < 0,001

Ano x Taxa de abandono – (Recife x DSV)

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) RECIFEDSV

Coeficiente < 0,001p-valor da comparação = 0,969

Ano x Taxa de abandono - (Recife x DSVI)

0

5

10

15

20

25

30

35

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) RECIFEDSVI

Coeficiente = -0,002p-valor da comparação < 0,001

Figura 3 - Regressão do percentual de unidades com PCT versus a taxa de abandono nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005. Fonte: Dados do próprio autor

33

4.3 Descentralização das ações da PCT para Unidades Básicas de Saúde

A partir de 2001, a Secretaria de Saúde do Recife promoveu uma maior

descentralização das ações do Programa de Controle de Tuberculose para

Unidades Básicas de Saúde, aumentando assim o número e percentual de

Unidades de Saúde que desenvolvem ações de controle da doença no Recife e

nos Distritos Sanitários. A tabela 2 apresenta estes dados entre os anos de 1996

a 2005.

Na tabela 2, gráfico 2 e figura 4 observam-se que no Recife e em todos os

Distritos Sanitários da cidade, houve um aumento estatisticamente significante (p-

valor < 0,05) no percentual de Unidades Básicas de Saúde aptas a desenvolver

ações do Programa de Controle de Tuberculose entre os anos de 1996 e 2005. A

maior velocidade de crescimento deste percentual, no entanto, ocorreu no DS II (b

= 11,79) e a menor no DS IV (b= 4,71). Ao se observar os percentuais de

unidades com PCT implantado para o município com um todo, nota-se que o

incremento no processo de descentralização se deu mais fortemente a partir do

ano de 2002, quando o percentual de unidades de saúde com PCT implantado

que era de 24,0%, em 2001, passou a 40,4%, em 2002.

Os Distritos I e II foram os que apresentaram, no final do período (2005),

os maiores percentuais de cobertura do programa: cerca de 90%. O Distrito IV,

ao contrário, foi onde se observou o menor percentual de unidades

descentralizadas no mesmo período: 63,6%.

34

Tabela 2 – Número absoluto de unidades de saúde com PCT, número total de unidades de saúde, percentual de unidades de saúde com PCT e análise de tendência da taxa de unidades com PCT implantado, entre as coortes de 1996 e 2005, no Recife e Distritos sanitários

Região Descentralização (nº de US com PCT, nº total de US e % US com PCT)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Correlação de Pearson

Coeficiente Angular(b)

p-valor R²

Nº de US com PCT 1 1 3 3 3 4 5 6 10 10 Número de unidades de saúde 6 6 6 6 4 9 9 11 11 11 DSI (%) US com PCT 16,7 16,7 50,0 50,0 75,0 44,4 55,6 54,5 90,9 90,9

0,845² 7,25 0,002 0,71

Nº de US com PCT 1 1 2 2 3 5 17 18 19 18 Número de unidades de saúde 9 9 9 9 12 15 18 18 19 20 DSII (%) US com PCT 11,1 11,1 22,2 22,2 25,0 33,3 94,4 100,0 100,0 90,0

0,904² 11,79 <0,001 0,82

Nº de US com PCT 1 1 4 4 4 5 10 12 17 21 Número de unidades de saúde 16 16 19 19 16 25 28 27 28 29 DSIII (%) US com PCT 6,3 6,3 21,1 21,1 25,0 20,0 35,7 44,4 60,7 72,4

0,942² 6,86 <0,001 0,89

Nº de US com PCT 1 1 2 2 1 2 5 9 10 14 Número de unidades de saúde 7 7 8 8 8 17 20 20 21 22 DSIV (%) US com PCT 14,3 14,3 25,0 25,0 12,5 11,8 25,0 45,0 47,6 63,6

0,801² 4,71 0,005 0,64

Nº de US com PCT 1 1 3 3 4 5 4 9 10 14 Número de unidades de saúde 7 7 10 10 10 15 15 15 19 19 DSV (%) US com PCT 14,3 14,3 30,0 30,0 40,0 33,3 26,7 60,0 52,6 73,7

0,887² 5,67 0,001 0,79

Nº de US com PCT 0 0 4 4 3 4 5 16 18 25 Número de unidades de saúde 16 16 20 20 18 23 24 26 29 31 DSVI (%) US com PCT 0,0 0,0 20,0 20,0 16,7 17,4 20,8 61,5 62,1 80,6

0,902² 8,31 <0,001 0,81

Nº de US com PCT 5 5 18 18 18 25 46 70 84 102 Número de unidades de saúde 61 61 72 72 79 104 114 117 127 133 RECIFE (%) US com PCT 8,2 8,2 25,0 25,0 22,8 24,0 40,4 59,8 66,1 76,7

0,944² 7,54 <0,001 0,89

Fonte: Dados colhidos na Gerência de Atenção Básica (GAB), Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Recife. Nota: ¹P-valor do teste do teste t. Se p-valor<0,05 b é significativo, ²Correlação significativa a 5% de significância. ³Correlação não significativa ao nível de 5% de significância.

35

Gráfico 2 - Regressão da evolução do percentual de unidades com PCT implantado na cidade do Recife, de 1996 a 2005. Fonte: Dados do próprio autor.

36

Figura 4 - Regressão da evolução do percentual de unidades com PCT implantado nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005. Fonte: Dados do próprio autor.

Ano x Percentual de PCT Implantado DSI

y = 7,25x + 14,58

R2 = 0,71

p-valor = 0,002

010

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Ano

(%) DSI

Estimação

Ano x Percentual de PCT Implantado DSII

y = 11,79x - 13,93

R2 = 0,82

p-valor < 0,001

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSIIEstimação

Ano x Percentual de PCT Implantado DSIII

y = 6,86x - 6,47R2 = 0,89

p-valor < 0,001

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%)DSIII

Estimação

Ano x Percentual de PCT Implantado DSIV

y = 4,71x + 2,52R2 = 0,64

p-valor = 0,005

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%)DSIV

Estimação

Ano x Percentual de PCT Implantado DSV

y = 5,67x + 6,28R2 = 0,79

p-valor = 0,001

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%)DSV

Estimação

Ano x Percentual de PCT Implantado DSVI

y = 8,31x - 15,79R2 = 0,81

p-valor < 0,001

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005Ano

(%) DSVI

Estimação

37

4.4 Associação entre as taxas de abandono ao tratamento de tuberculose e o

grau de descentralização do Programa para as unidades básicas de saúde de

1996 a 2005

A tabela 3 apresenta os resultados da análise entre o nível de

descentralização do PCT e o comportamento das taxas de abandono no período.

Verifica-se que a evolução dos percentuais de unidades de saúde com PCT

implantado se correlacionou forte e negativamente com as taxas de abandono do

tratamento (r = -0,962), ou seja, as taxas de abandono ao tratamento de tuberculose

tenderam a diminuir com o aumento do percentual de unidades com o PCT

implantado no Recife, embora a intensidade dessa queda, expressa pelo coeficiente

angular, tenha sido de fraca intensidade (Coeficiente angular= -0,08). Ao se analisar

a correlação entre o percentual de unidades com o PCT implantado e as taxas de

abandono por Distrito Sanitário, constatou-se que apenas no Distrito Sanitário IV

houve correlação negativa moderada e estatisticamente significante entre as duas

variáveis (b = -0,18; p-valor = 0, 020). Observa-se ainda na tabela que mesmo antes

do incremento do processo de descentralização do PCT que ocorreu a partir de

2001, as taxa de abandono de tratamento de TB no Recife como um todo e nos

distritos I, III, IV e VI já apresentavam redução no percentual de abandono ao

tratamento de tuberculose.

No gráfico 3 e figura 5 visualizam-se os gráficos de regressão do percentual

de unidades com PCT versus a taxa de abandono de tratamento de tuberculose nos

Distritos Sanitários e na cidade do Recife.

38

Tabela 3 – Associação entre o percentual de unidade com PCT implantado e taxas de abandono ao tratamento de tuberculose na cidade do Recife e seus Distritos Sanitários, de 1996 a 2005

Região % US com PCT versus % taxa de abandono do tratamento 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Correlação

de Pearson Coeficiente Angular(b) p-valor R²

(%) US com PCT 16,7 16,7 50,0 50,0 75,0 44,4 55,6 54,5 90,9 90,9 DSI (%) abandono do tratamento TB 31,3 23,6 24,9 17,6 22,3 19,1 17,2 12,4 17,0 17,2 -0,585³ -0,12 0,075 0,34

(%) US com PCT 11,1 11,1 22,2 22,2 25,0 33,3 94,4 100,0 100,0 90,0 DSII (%) abandono do tratamento TB 18,3 22,2 23,5 23,7 19,7 19,1 18,3 20,7 16,7 16,4

-0,585³ -0,04 0,075 0,34

(%) US com PCT 6,3 6,3 21,1 21,1 25,0 20,0 35,7 44,4 60,7 72,4 DSIII (%) abandono do tratamento TB 15,5 18,7 17,0 17,4 14,3 15,3 15,2 13,7 13,9 14,9

-0,627³ -0,05 0,052 0,39

(%) US com PCT 14,3 14,3 25,0 25,0 12,5 11,8 25,0 45,0 47,6 63,6 DSIV (%) abandono do tratamento TB 20,4 19,3 12,3 11,4 18,0 10,5 11,7 9,5 11,3 7,3

-0,717² -0,18 0,020¹ 0,51

(%) US com PCT 14,3 14,3 30,0 30,0 40,0 33,3 26,7 60,0 52,6 73,7 DSV (%) abandono do tratamento TB 16,0 20,6 22,6 19,9 18,1 25,8 20,3 19,1 13,6 11,7

-0,536³ -0,11 0,110 0,29

(%) US com PCT 0,0 0,0 20,0 20,0 16,7 17,4 20,8 61,5 62,1 80,6 DSVI (%) abandono do tratamento TB 26,8 24,0 23,8 23,6 24,2 21,6 23,4 23,7 23,8 20,9

-0,550³ -0,03 0,099 0,30

(%) US com PCT 8,2 8,2 25,0 25,0 22,8 24,0 40,4 59,8 66,1 76,7 RECIFE (%) abandono do tratamento TB 20,6 21,2 20,7 19,6 19,4 19,0 18,1 17,4 16,3 14,8

-0,962² -0,08 <0,001¹ 0,93

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Departamento de Vigilância à Saúde- Secretaria de Saúde do Recife e dados colhidos na Gerência de Atenção Básica (GAB), Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Recife. Nota: ¹P-valor do teste do teste t. Se p-valor<0,05 b é significativo, ²Correlação significativa a 5% de significância e ³Correlação não significativa ao nível de 5% de significância

39

Gráfico 3 - Regressão do percentual de unidades com PCT versus a taxa de abandono na cidade do Recife, de 1996 a 2005. Fonte: Dados do próprio autor.

40

Percentual de PCT Implantado x Taxa de abandono

DSI

y = -0,12x + 26,81

R2 = 0,34

p-valor = 0,075

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100Percentual de unidades com PCT implantado (%)

Ta

xa

ab

an

do

no

(%

)

Percentual de PCT Implantado x Taxa de abandono

DSII

y = -0,04x + 21,81

R2 = 0,34p-valor = 0,075

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100Percentual de unidades com PCT implantado (%)

Ta

xa

ab

an

do

no

(%

)

Percentual de PCT Implantado x Taxa de abandono

DSIII

y = -0,05x + 17,05

R2 = 0,39p-valor = 0,052

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100Percentual de unidades com PCT implantado (%)

Ta

xa

ab

an

do

no

(%

)

Percentual de PCT Implantado x Taxa de abandono DSIV

y = -0,18x + 18,25R2 = 0,51

p-valor = 0,020

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100Percentual de unidades com PCT implantado (%)

Ta

xa

ab

an

do

no

(%

)

Percentual de PCT Implantado x Taxa de abandono DSV

y = -0,11x + 23,06

R2 = 0,29p-valor = 0,110

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100Percentual de unidades com PCT implantado (%)

Ta

xa

ab

an

do

no

(%

)

Percentual de PCT Implantado x Taxa de abandono DSVI

y = -0,03x + 24,52

R2 = 0,30

p-valor = 0,099

0

5

10

15

20

25

30

35

0 20 40 60 80 100Percentual de unidades com PCT implantado (%)

Taxa a

ban

do

no

(%

)

Figura 5 - Regressão do percentual de unidades com PCT versus a taxa de abandono nos Distritos Sanitários da cidade do Recife, de 1996 a 2005. Fonte: Dados do próprio autor.

41

4.5 Correlação entre cobertura do programa e taxas de abandono ao tratamento de tuberculose, para o ano de 2005. Na tabela 4, observa-se que o Recife apresentava, em 2005, em média uma

Unidade Básica de Saúde (UBS) apta a realizar ações do PCT para cada 14.716

habitantes, variando entre 8.239 habitantes no DS I e 19.065 habitantes no DSIV. O

coeficiente de correlação de Pearson, da relação entre índice população

residente/Unidades de Saúde com PCT implantado e taxa de abandono do ano de

2005, nos Distritos Sanitários, apresentou uma correlação moderada (r=-0,658),

porém, não significativa (p-valor =0,156). Chama a atenção o fato de o Distrito IV,

que possuía a menor cobertura do programa, com uma relação de 19.064,5 hab por

unidade de saúde com PCT implantado, foi o que apresentou as menores taxas de

abandono, em 2005.

Tabela 4 – População residente, número de Unidades de Saúde com PCT, relação entre população residente e unidades com PCT, taxa de abandono do tratamento de tuberculose e p- valor da associação entre população residente por unidade com PCT e taxa de abandono na cidade do Recife e seus Distrito Sanitário, no ano de 2005

Distrito Sanitári

o

População Estimada para

2005

Número de Unidades

Saúde com PCT

Relação entre a População residente e

Unidades de Saúde com PCT (hab/Unidades)

Taxa de Abandono p valor

I 82.385 10 8238,5 17,2 II 217.293 18 12071,8 16,4 III 299.208 21 14248 14,9 IV 266.903 14 19064,5 7,3 V 262.123 14 18723,1 11,7 VI 373.218 25 14928,72 20,9

0,156

Recife 1.501.010 102 14715,8 14,8 - Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), Departamento de Vigilância à Saúde- Secretaria de Saúde do Recife e dados colhidos na Gerência de Atenção Básica (GAB),

Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Recife.

42

5 DISCUSSÃO

Este estudo mostrou uma tendência de redução das taxas de abandono ao

tratamento de tuberculose no Recife e na quase a totalidade dos Distritos Sanitários

no período estudado, de 1996 a 2005. No entanto, mesmo apresentando tendência

de declínio nas taxas de abandono, os percentuais médios da cidade atingiram,

durante todo o período, valores sempre maiores de 14%, percentual bem acima da

meta máxima preconizada pelo Ministério da Saúde que é de 5%.

Levantamentos realizados em várias cidades brasileiras, em período

semelhante, apresentaram reduções bem mais importantes das taxas de abandono

quando comparadas ao Recife. No município de Ribeirão Preto, em São Paulo, onde

a taxa de abandono, que era de 19%, em 1993, foi reduzida a 3,8%, em 2003. O

município de São José do Rio Preto, São Paulo, onde as taxas de abandono foram

reduzidas de 18,7%, em 1998, para 1,5%, em 2003; Jacareí, no mesmo estado, que

apresentava uma taxa de 8,6%, em 1998, e que atingiu 0%, em 2003 (VILLA et al.,

2006 b). No estado da Paraíba, seis municípios considerados prioritários para o

controle da tuberculose experimentaram uma redução das taxas de abandono de

14,8% para 5,8%, entre 1995 e 2003 (SÁ et al., 2006). Em todas estas cidades, a

implantação do tratamento supervisionado (DOTS) foi primordial para estas

reduções.

Analisando a tendência de queda do percentual de abandono por Distrito

Sanitário, observou-se que os Distritos I e IV foram os que experimentaram as

reduções mais acentuadas. Também se constatou que a evolução das taxas de

abandono ao tratamento nos Distritos I, II e V apresentou comportamento

semelhante à observada no município como um todo, enquanto que os DS III e IV

mostraram ao longo do período valores médios, desta taxa, mais baixos. O DS VI,

ao contrário, apresentou valores maiores que a média municipal.

Com relação ao processo de descentralização das ações do programa, houve

um aumento acentuado do percentual de unidades de saúde aptas a realizar o

tratamento e acompanhamento dos casos de tuberculose em todos os Distritos

Sanitários, principalmente a partir de 2002, quando se observou uma expansão

importante do programa. Destacam-se os DS I e II que apresentaram os maiores

43

crescimentos no percentual de cobertura do programa e o DS IV onde houve o

menor aumento dessa cobertura.

Este acréscimo no percentual de unidades com PCT implantado esteve

associado à redução das taxas de abandono quando se considerou todo o município

do Recife. Estratificando por Distritos Sanitários, apenas no DS IV observou-se

correlação do aumento de oferta de serviços com PCT implantado com a redução

das taxas de abandono.

Verificou-se também não ter havido relação entre o número de habitantes por

unidades de saúde com o PCT implantado e menores taxas de abandono do

tratamento. Considerando o período de estudo, observou-se que a menor taxa de

abandono do tratamento de tuberculose ocorreu no DS IV, paradoxalmente foi

também o Distrito que apresentou a menor oferta de serviços com PCT em relação

ao tamanho de sua população.

Algumas limitações foram apresentadas por este estudo, pois foi analisada

uma base de dados sujeita a algumas inconsistências como o preenchimento

inadequado das fichas de notificação e de acompanhamento dos casos

identificados, duplicidade de registro e sub-notificação (RECIFE, 2004), além da

possibilidade de existir diferenças nos perfis sócio-culturais dos casos, que não

foram investigados, e podem ter influenciado no comportamento das taxas de

abandono, independentemente do grau de descentralização do programa.

Entretanto este estudo pode ser de grande validade para o PCT municipal, pois as

limitações apresentadas não devem ter sofrido grandes variações, numa mesma

região durante os anos em estudo, permitindo assim verificar se a utilização da

descentralização do programa causou impacto para a adesão ao tratamento da

tuberculose nos Distritos Sanitários e em todo Recife.

Este estudo mostrou que a taxa de abandono ao tratamento de tuberculose

na cidade do Recife, permaneceu elevada em toda série temporal. Entre os fatores

que podem ter contribuído para esta situação estão o grande número de

diagnósticos na rede hospitalar, por demanda espontânea causando a demora no

início do tratamento (RECIFE, 2004). Há no município dificuldade na realização do

diagnóstico precoce por deficiências na busca ativa dos sintomáticos respiratórios

pela equipes das unidades básicas de saúde (SASSAKI et al., 2006). Segundo

Cator, Brassard e Ducic (2002) o diagnóstico precoce e em nível ambulatorial

44

reduzem o risco da não aderência ao tratamento, devido ao medo do agravamento

dos sintomas da doença pelo paciente.

Nesse estudo se observou ainda que ocorreram tendências distintas de

queda das taxas de abandono por distrito sanitário, tanto entre os DSs, quanto em

relação à média municipal. Estas diferenças na redução das taxas de abandono

podem ser explicadas pelos distintos Índices de Desenvolvimento Humano Municipal

(IDHM) observados entre as regiões no ano 2000, os Distritos que apresentavam os

menores valores deste índice eram o V, II e I respectivamente (RECIFE, 2005 b), e

foram nos Distritos II e V onde as tendências de redução da taxa de abandono não

se mostraram significativas ao longo do período em estudo. O Distrito I apresentou a

maior velocidade na redução do percentual de abandono, mas este fato pode ter

ocorrido porque esta região, em 1996, apresentava a mais alta taxa de abandono

entre todas as RPAs no período em estudo 31,3%, que foi reduzida para 17,2% em

2005, uma taxa muito elevada se considerada isoladamente, mais até que os

percentuais de abandono do Distritos II e V neste ano. Alguns autores confirmam

que regiões com precárias condições socioeconômicas tendem a apresentar

maiores percentuais de abandono ao tratamento de tuberculose (BERGUEL;

GOUVEIA, 2005; CATOR; BRASSARD; DUCIC, 2002; FERREIRA; SILVA;

BOTELHO, 2004).

Tal explicação não pode ser usada para análise da taxa de abandono do

Distrito Sanitário VI, pois esta região tinha, em 2000, o maior IDHM do Recife e

durante todo o período do estudo apresentou valores muito elevados dos

percentuais de abandono, sempre maiores que o município como um todo. As altas

taxas de abandono deste Distrito podem estar relacionadas com a possibilidade de

existirem elevados números de casos oriundos do município vizinho (Jaboatão dos

Guararapes) e a grande quantidade de unidades de saúde presentes na região que

dificulta o monitoramento e avaliação do programa pela coordenação distrital. O

Distrito IV que possuía, em 2000, o segundo maior IDHM do município apresentou

uma acentuada queda no percentual de abandono ao tratamento de TB, entretanto

este distrito tem uma população bem menor e número inferior de unidades de saúde

que o DSVI que podem ser monitoradas mais freqüentemente pela coordenação do

DS.

A possibilidade de existirem distintos graus de implantação da estratégia

DOTS, entre os Distritos Sanitários, pode ter influenciado estas diferenças

45

encontradas. Segundo Domingos (2007), pacientes que foram submetidos ao

tratamento supervisionado no município do Recife reduziram a chance de abandonar

o tratamento em mais de 70%, a autora aponta para a necessidade da ampliação e

inclusão de algumas categorias de pacientes no tratamento supervisionado na

cidade. Outros fatores que pode ter colaborado nestas diferenças são a forma de

organização do programa e o grau de envolvimento dos profissionais das equipes de

saúde com o PCT em cada região. Não foram abordadas associações destes fatores

com a redução da taxa de abandono de tuberculose neste estudo, sugere-se novas

pesquisas que possam analisar estas associações.

A gradual expansão das ações do PCT para as unidades básicas de saúde

ocorrida no município e em todos os Distritos Sanitários do Recife, a partir de 2001,

com ênfase para a estratégia do PSF, seguiu as recomendações do PNCT como

forma de ampliação do acesso dos pacientes aos serviços de saúde, visando à

melhoria da adesão terapêutica (BRASIL, 2002).

Entretanto apesar da relevante ampliação do número de unidades de PSF

que ocorreu no município, até 2005 apenas 50% dos habitantes da cidade residiam

em área coberta pelo programa (RECIFE, 2005 a). Tal situação indica que pode

haver dificuldade de acesso ao serviço de saúde para um grande número de

pacientes em tratamento para tuberculose do município, que necessitam se deslocar

para unidades tradicionais ou de referência quando precisam realizar o

acompanhamento da terapia, além do tempo gasto para este deslocamento, muitas

vezes é necessário que o paciente tenha arcar com o custo do transporte e

alimentação. Alguns autores alegam que a dificuldade de acesso ao serviço de

saúde e o gasto com o transporte são alguns dos principais motivos que levam a

não adesão ao tratamento da doença (FERREIRA; SILVA; BOTELHO, 2004;

PINEIDA; PEREIRA; BARRETO, 2005).

Outro resultado mostrado neste estudo foi uma tendência de redução das

taxa de abandono ao tratamento da tuberculose, de fraca intensidade, com o

aumento da descentralização do PCT para as unidades básicas de saúde na cidade

do Recife, entretanto esta tendência aparentemente já existia no município como um

todo e nos DS I, III, IV e VI, mesmo antes do incremento no processo da

descentralização do PCT que ocorreu em 2001. Um estudo realizado por Nora e

Patroco (2002) no município de Mendes, Rio de Janeiro, também encontrou

associação entre a redução do percentual de abandono ao tratamento de TB e a

46

descentralização do programa. O mesmo também foi observado em São José de

Rio Preto, São Paulo, mas nesta cidade a redução foi mais bem acentuada que no

Recife (GAZETTA et al., 2007).

Outro estudo demonstrou uma situação contrária, que horizontalização do

PCT para Unidades Básicas de Saúde, dificultou o acompanhamento dos casos, no

município de Cáceres/MT, onde os pacientes acompanhados na unidade de

referência para o programa apresentaram menores riscos de abandonar o

tratamento (IGNOTTI et al., 2006).

O Distrito Sanitário IV foi a única RPA, do município, que apresentou uma

tendência de redução no percentual de abandono do tratamento de TB com a

descentralização das ações do PCT para as unidades básicas de saúde, ao longo

da série temporal, no entanto foi esta região que apresentou o menor crescimento

no percentual de cobertura do programa durante o período em estudo e ainda assim

atingiu, em 2005, o menor percentual da taxa de abandono ao tratamento de TB da

cidade. Os distritos I e II apresentaram elevados crescimentos no percentual de

cobertura do programa, ao longo do estudo, mas este crescimento não representou

uma tendência de redução na taxa de abandono ao tratamento de TB nestas

regiões. Tal situação sugere que isoladamente a descentralização do programa não

é capaz de aumentar a adesão ao tratamento da tuberculose.

Alguns autores alertam que o processo de descentralização das ações do

PCT para as unidades básicas de saúde, deve ser realizado com cuidado,

ressaltando-se sempre a responsabilidade e o compromisso de cada ator no

processo. Devido à possibilidade que a descentralização cause estagnação ou

mesmo aumento da taxa de abandono ao tratamento, se não for realizada com a

devida cautela (IGNOTTI et al., 2006; SASSAKI et al., 2006).

O fato de apresentar uma menor relação de população residente por unidades

de saúde aptas a desenvolver ações do PCT, entre os Distritos Sanitários, não teve

correlação com menor taxas de abandono ao tratamento de TB, no ano de 2005,

pois o distrito I que tinha a menor relação habitante por unidade de saúde (hab/US)

apresentou a segunda maior taxa de abandono no ano e o DSIV que mostrava a

maior proporção (hab/US) atingiu o menor percentual de abandono. Este resultado

difere de algumas pesquisas as quais mostraram que regiões com baixa cobertura

populacional de serviços de saúde apresentaram as maiores taxas de abandono ao

tratamento de TB (COMOLET; RAKOTOMALALA; RAJAONARIOA, 1998;

47

FERREIRA; SILVA; BOTELHO, 2004; PINEIDA; PEREIRA; BARRETO, 2005). Esta

situação ratifica a sugestão de que se usada como medida isolada a ampliação da

cobertura dos serviços de saúde, não é suficiente para reduzir o percentual de

abandono ao tratamento de tuberculose.

Alguns autores identificaram certas limitações no PCT do município do Recife,

como: dificuldade de incorporação por profissionais de equipes básicas de saúde da

sua responsabilidade para o controle da endemia; a falta de apoio político; o número

reduzido de recursos humanos na coordenação municipal e nos distritos; recursos

financeiros escassos; pouca disponibilidade de transporte para acompanhamento da

rede e deficiência no apoio diagnóstico (RECIFE, 2004; SASSAKI et al., 2006).

Estas limitações contribuem para a manutenção das altas taxas de abandono ao

tratamento de tuberculose no município, por isto, faz-se mister, que o controle da

tuberculose, seja de fato priorizado entre as políticas públicas de saúde municipal,

para que se atinja realmente uma melhoria significativa na aderência do paciente à

terapia da doença na cidade do Recife.

Diante do resultado apresentado por este trabalho, que mostrou a

permanência dos elevados percentuais de abandono ao tratamento de tuberculose,

durante todo período em estudo, mesmo ocorrendo um gradual e intenso aumento

da cobertura do PCT em todos os Distritos Sanitários do município do Recife,

constata-se que apenas a descentralização das ações do PCT para as unidades

básicas de saúde, sem uma mudança concreta no processo de trabalho que

conduza a um maior envolvimento de todos os atores responsáveis pelo programa,

não leva a uma impactante redução do percentual de abandono ao tratamento de

tuberculose.

48

6 RECOMENDAÇÕES FINAIS

Para redução impactante da taxa de abandono ao tratamento de tuberculose

da cidade do Recife, sugere-se as seguintes recomendações para a gestão de

saúde do Recife e a coordenação do PCT do município:

a) Contratação de pessoal para compor equipe de coordenação de controle da

endemia no nível municipal e em cada distrito;

b) Garantia de apoio político e de toda infra-estrutura necessária para o programa;

Constante avaliação e monitoramento dos profissionais de saúde nas ações de

controle da doença;

c) Ampliação do tratamento supervisionado para todos os pacientes que apresentem

perfil de risco para o abandono;

d) Conscientização dos profissionais das equipes básicas de saúde sobre a sua

responsabilidade para o controle do programa (realizar busca ativa de caso, início

precoce do tratamento, adequado acolhimento e acompanhamento do paciente até a

cura);

e) Apoio a pesquisas de universidades e centro de pesquisas que possam apontar

novos caminhos para enfrentar o problema e ampliar os estudos epidemiológicos

para melhor entender a dinâmica da doença na comunidade;

f) Articulação dos serviços de saúde com a sociedade civil organizada, ONGs,

igrejas, associação comunitárias que possam contribuir na adesão do paciente ao

tratamento;

g) Troca constante de informações com PCT de outras regiões e estudo de

experiências exitosas com a possibilidade de adequá-las ao nível local.

49

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, M. F. M. et al. Fatores prognósticos para o desfecho do tratamento da tuberculose pulmonar em Recife, Pernambuco, Brasil. Revista panamericana de salud pública, Washington, v. 9, n. 6, p. 368-74, 2001. Disponível em :<http// www.ingentaconnect.com/content/paho/pajph/2001/00000009/ 00000006/art00003;jsessionid=89q3oo4ng4i1f.alice?format=print>. Acesso em: 25 out. 2006. ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Elementos de Metodologia Epidemiológica. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & Saúde. 5. ed. Rio de Janeiro: MEDSI,1999. p. 149-177. ANIBARRO, L. et al. Factores sociales de riesgo para la falta de cumplimiento terapéutico en pacientes con tuberculosis en Pontevedra. Gaceta sanitaria, Barcelona, v. 18, n. 1, p. 38-44, jan./feb. 2004. Disponível em: <http//www.scielosp.org/pdf/gs /v18n1/original5.pdf> . Acesso em: 22 maio 2007. BERGEL, F. S.; GOUVEIA, N. Retornos freqüentes como nova estratégia para adesão ao tratamento de tuberculose. Revista de saúde pública, São Paulo, v.39, n.6, dez. 2005. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0034-89102005000600005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 15 set. 2006. BLANC, L.; MARTINEZ, L. Reaching the targets for TB control: call of papers. Bulletin of the world health organization, Geneva, v. 84, n. 9, p.685-764, set. 2006. Disponível em: <http://www.who.int/bulletin/volumes/84/9/06-035709/en/index.html >. Acesso em: 5 set. 2007. BRASIL. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual técnico para o controle da tuberculose: cadernos de atenção básica. 6. ed. rev. e ampl. Brasília,DF, Ministério da Saúde, 2002. BRASIL. Secretaria de Vigilância Epidemiológica. Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/svs/visualizar_texto.cfm?idtxt=21446>. Acesso em: 3 set. 2006. BURMAM, W. J. et al. Noncompliance With Directly Observed Therapy for Tuberculosis: Epidemiology and Effect on the Outcome of Treatment. CHEST, p. 1168-1173, maio 1997. Disponível em:< http://www.chestjournal.org>. Acesso em: 11 set. 2006.

50

CAMPOS, H. S. Tuberculose um perigo real e crescente, Jornal brasileiro de medicina, Rio de Janeiro, v. 70, n.5, p. 73-104, maio 1996. CANTALICE FILHO, J. P.; BÓIA, M. N.; SANT’ ANNA, C. C. Análise do tratamento da tuberculose pulmonar em idosos de um hospital universitário do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo, v. 33, p. 691-698, nov./dez. 2007. COMOLET, T.M.; RAKOTOMALALA, R.; RAJAONARIOA, H. Factors determining compliance with tuberculosis an urban environment, Tamatave, Madagascar. International journal of tuberculosis lung disease, Paris, v. 2, n. 11, p. 891-897, nov. 1998. CATOR, M.; BRASSARD, P.; DUCIC, S. Facteurs associes à Ia non-bservance du traitement de la tuberculose active, de Montreal 1992-1995, Revue canadienne de santé publique, Ottawa, v. 93, n. 2, mar./abr. 2002. CONNOLY, C.; DAVIES, G. R.; WILKINSON, G. Impact of the human immunodeficiency virus epidemic on mortality among adultswith tuberculosis in rural South Africa, 1991-1995. International journal of tuberculosis lung disease, Paris, v.2, n.11, p. 919-925, nov. 1998. COKER, R. Tuberculosis, non-compliance and detention for the public health. Journal of medical Éthics, London, n. 26, p.157-159, jun. 2000. DOMINGOS, M. P. Tuberculose em Recife, PE: O efeito da estratégia DOTS (Directly Observed Treatment Short-course) e fatores associados ao óbito e ao abandono de tratamento 1996 a 2005. Tese (Doutorado em Saúde Pública)- Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007 DOMINGUEZ, B. C; A cura está nas políticas públicas. RADIS: Comunicação em Saúde, Rio de Janeiro, n. 48, p. 14-15, ago. 2006. FERREIRA, S. M. B; SILVA, A. M. C; BOTELHO, C. J. Abandono do tratamento da tuberculose pulmonar em Cuiabá – MT. Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo, v. 31, n. 5, p.427-35, set./out. 2005. ______ Tratamento da tuberculose pulmonar em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil (1998-2000): Distribuição espacial. Epidemiologia e serviços de saúde, Brasília, DF, v. 13, n. 3, p. 175-184, jul./ set. 2004.

51

FIUZA DE MELO, F. M.; AFIUNE, J. B. Quimioterapia da tuberculose: bases, condutas e procedimentos. Jornal de pneumologia, São Paulo, v. 19, p. 42-49, mar.1993. FIUZA DE MELO, F. M. et al. Aspecto epidemiológicos da tuberculose multirresistente em serviço de referência na cidade de São Paulo. Revista da sociedade brasileira de medicina tropical, Uberaba, v. 36, n.1, p. 27-34, jan./fev. 2003 GAZETTA, C. E. et al. Estudo descritivo sobre a implantação da estratégia de tratamento de curta duração diretamente observado no controle da tuberculose em São José do Rio Preto e seus impactos (1998-2003). Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 192-198. 2007 GONÇALVES, H. et al. Adesão à terapêutica da tuberculose em Pelotas, Rio Grande do Sul: na perspectiva do paciente. Cadernos de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 15, n.4, p.777-87, out./dez. 1999. HIJJAR, M. A. et al. Epidemiologia da tuberculose: importância no mundo, no Brasil e no Rio de Janeiro. Pulmão RJ, Rio de Janeiro, v.14, n.4, p. 310-314. 2005. Disponível em: <http://www.sopterj.com.br/Revista/2005/vol_14_4/ curso_tuberculose1-epidemiol.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2007. IGNOTTI, E. et al. Analysis of the Tuberculosis Control Program in the City of Cáceres, Brazil, prior to and after the implementation of a Family Health Program. Jornal brasileiro de pneumologia, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 287- 294, maio/ jun. 2007. JARDIM, P. C. R. et al. Resistência do Mycobacterium tuberculosis às drogas no município de São Vicente. Revista do Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, v. 60, n. 2, p.119-123, 2001. Disponível em: <http://www.ial.sp.gov.br/publicacao/revista /2001/n2/902.pdf >. Acesso em: 12 maio 2007. LIMA, M. B. et al. Estudo de casos sobre abandono do tratamento da tuberculose: avaliação do atendimento, percepção e conhecimentos sobre a doença na perspectiva dos clientes (Fortaleza, Ceará, Brasil). Cadernos de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 17, n. 4, p. 877-885, jul./ago. 2001. MORRONE, N. et al. Tuberculose: tratamento supervisionado “VS.” tratamento auto-administrado. Jornal de pneumologia, São Paulo, v. 25, n. 4, p. 198-202, jul./ago. 1999

52

NORA, L. S.; PATROCO, M. A. A. Avaliação de intervenção no programa de controle de tuberculose do município de Mendes/RJ. Boletim de pneumologia sanitária, Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p. 41-48, dez. 2002. OLIVEIRA, H. B. de; MOREIRA FILHO, D. C. Abandono de tratamento e recidiva da tuberculose: aspectos de episódios prévios, Campinas, SP, Brasil, 1993-1994. Revista de saúde pública, São Paulo, v. 34, n. 5, p. 437-43, abr. 2000. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. What is DOTS? A guide to understanding the WHO recommended TB control Strategy Known as DOTS. WHO-CDS-CPC-TB, Geneva, 1999. 270p. Disponível em: http://whqlibdoc.who.int/ hq/1999/WHO_CDS_CPC_TB_99.270.pdf>. Acesso em: 8 out. 2007. ______The Stop TB Strategy. Building on and enhancing DOTS to meet the TB-related Millennium Development Goals. 2006. Disponível em: <http://www.who.int/tb/publications/2006/ who_htm_tb_2006_368.pdf>. Acesso em: 10 set. 2006. _______ Global tuberculosis control - surveillance, planning, financing. WHO Report 2007. Geneva, 2007. Disponível em: <http://www.who.int/tb>. Acesso em: 20 out. 2007 PINEDA, N. I. S.; PEREIRA, S. M.; BARRETO, M. L. Dropout from tuberculosis treatment in Nicaragua: the results of a comparative study, Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, v. 17, n. 4, p. 271-278, abr. 2005. PLABO-MENDES, A. et al. Global surveillance for antiturculosis-drug resistance, 1994-1997. The new England journal of medicine, Boston, v. 338, n. 23, p. 1641-1649, jun. 1998. RECIFE. Secretaria Municipal de Saúde. Política de controle da Tuberculose. Plano de Ação 2004/2005, Recife 2004. ______. Plano municipal de saúde 2006-2009, Recife, 2005a. RECIFE. Secretária de Planejamento. Atlas de Desenvolvimento Humano no Recife. 2005b. Disponível em: < http://www.recife.pe.gov.br/pr/ ecplanejamento/pnud2006 />. Acesso em: 1 Jan. 2008.

53

RIBEIRO, S. A. et al. Estudo caso-controle de indicadores de abandono em doentes com tuberculose. Jornal de pneumologia, São Paulo, v. 26, n. 6, p. 291-296, nov./dez. 2000. RUBEL, A. J.; GARRO, L. C. Social and Cultural in the Successful Control of Tuberculosis. Public health reports, Washington, v. 107, n. 6, p. 626-636, nov./dez. 1992 RUFFINO-NETO, A. Tuberculose: a calamidade negligenciada. Revista da sociedade brasileira de medicina tropical. Uberaba, v. 35, n. 1, p. 51-58, jan./fev. 2002. ______. Impacto da reforma do setor saúde sobre os serviços de tuberculose no Brasil. Boletim de pneumologia sanitária, Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 1-22, jun. 1999. SÁ, L. D. et al. A Experiência da Implantação do DOTS em Seis Municípios Paraibanos. In: RUFFINO-NETTO, A; VILLA,T. C. S. (Org.). Implantação do DOTS em algumas regiões do Brasil: Histórico e peculiaridades regionais. Ribeirão Preto,SP: Editor: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2006, p.142-265. SANTHA, T. et al. Risk factors associated with defaut, failure and death among tuberculosis patients treated in a DOTS programme in Tiruvallur District, South India, 2000. International journal of tuberculosis lung disease, Paris, v. 6, n. 9, p. 780-788, 2002. SASSAKI, C. M. et al. A experiência de implantação do DOTS na cidade de Recife. In: RUFFINO-NETTO, A; VILLA,T.C.S. (Org.). Implantação do DOTS em algumas regiões do Brasil: Histórico e peculiaridades regionais. Ribeirão Preto,SP: Editor: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2006, p.168-179. SILVA, A. C. A.; BARBOSA, E. C. Ampliação da Equipe do Programa de Controle da Tuberculose e Implantação do Tratamento Supervisionado - Município de Jacareí/SP. Boletim epidemiológico paulista, São Paulo, v. 1, n.10, out. 2004. Disponível em: < www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/bepa10_tb.htm>. Acesso em : 10 out. 2007. SUCUPIRA, E. D. et al. Teria a confirmação diagnóstica algum efeito protetor no abandono do tratamento da tuberculose? Pulmão RJ, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 11-15, 2005. Disponível em: < HTTP://www.sopterj.com.br/Revista/2005/ vol_14_1/ artigo-Confirma %C3%A7%C3%A3o%20TB%20e%20abandono.pdf.>. Acesso em : 10 abr. 2007.

54

TANGÜIS, H. G. et al. Factors predicting non-completion of tuberculosis treatment among HIV-infected patients in Barcelona (1987-1996). International journal of tuberculosis lung disease, Paris , v.4, n.1, p.55-60, Jan. 2000. VILLA, T. C. S. et al. As Políticas de Controle da Tuberculose no Sistema de Saúde no Brasil e a Implantação da estratégia DOTS (1980 2005). In: RUFFINO-NETTO, A; VILLA, T. C. S. (Org.). Implantação do DOTS em algumas regiões do Brasil: Histórico e peculiaridades regionais. Ribeirão Preto,SP: Editor: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2006, p.30-47.(a) ______.A experiência da implantação da estratégia DOTS no estado de São Paulo (1998 2005). In: RUFFINO-NETTO, A; VILLA, T. C. S. (Org.). Implantação do DOTS em algumas regiões do Brasil. Histórico e peculiaridades regionais. Ribeirão Preto,SP: Editor: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2006, p. 76-140. (b) FOX, W. Compliance of patients and physicians: experience and lessons from tuberculosis . British medical journal, London, v. 287, n. 6384, p. 33-35, jul. 1993. Disponível em :< http://www.pubmedcentral.nih.gov /articlerender.fcgi?artid=1548153> . Acesso em 10 jul. 2007 WEIS, S.E., et al. The effect of directly observed therapy on the rates of drug resistance and relapse in tuberculosis. The new England journal of medicine, Boston , v. 330, n. 17, p. 1179-94. abr. 1994. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8139628>. Acesso em: 7 jun. 2007