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Depois dos cinquenta

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Depois dos cinquenta

Crônicas e mais Sandices.

Ademir de Freitas

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Índice

Vai vendo...

O lençol 1 – Mui amigo ................................................... 10

O correio elegante.......................................................... 13

O Pirata Perna de Pau .................................................... 16

O lençol 2 – Minha Avatar .............................................. 19

Dormindo na Rodoviária ................................................ 22

O Traíra .......................................................................... 25

Ele sempre vem .............................................................. 28

Eu, tocando no Olodum .................................................. 30

Alô mãe! Tô em Porto de Galinhas ................................. 32

O meu Dia dos Namorados ............................................. 35

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Vai se entender...

Apenas um click ............................................................. 40

Mais um dia na praia ...................................................... 42

Elvis dançando frevo? .................................................... 45

Voz de comando ............................................................. 47

Tá sem água mãe! .......................................................... 50

De quem é esse ovo de Páscoa? .................................... 53

Como é bom ser andreense ............................................ 56

Não precisa ter medo ..................................................... 59

Sempre aprendendo ....................................................... 62

Causos de família...

Susto no laboratório ...................................................... 66

O dia do Biel ................................................................... 70

A roda gigante ................................................................ 72

Guerra de espirrador ...................................................... 76

Chegando em casa ......................................................... 79

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Dodô & Miro Band .......................................................... 81

O celular da Tia .............................................................. 83

O gosto da vitória ........................................................... 86

Um lobishomem no caminho .......................................... 89

Dá pra cantar calado? .................................................... 92

Sentada no caixão .......................................................... 95

Quantos anos você tem? ................................................ 98

Eu não quero mais abóbora! ........................................ 102

O sabor da memória ..................................................... 105

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Vai vendo...

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O lençol 1 – Mui amigo

Um amigo acabara de comprar sua casa nova e andava

sem grana pra montá-la. Num bate papo informal, na hora do café, as meninas do escritório resolveram fazer uma surpresa pra ele. Combinaram uma visita e, também, sem que ele soubesse, levar algumas coisas para sua nova casa. Claro que tudo seria surpresa. Inclusive as “lembrancinhas”. Foi então que resolveram fazer o "Amigo Solidário". Relacionaram uma série de coisas que ele iria precisar e cada colega sorteou o que compraria pra levar. Eu... Tirei um jogo de lençol. Bem, imaginei que não haveria problemas e no dia seguinte, depois de sair da empresa, fui às compras. Dez minutos. É o que o homem leva pra comprar tudo e ainda sobra um tempo pra cervejinha. Entrei em uma loja, olhei os jogos e li na embalagem, muito bonita por sinal, cor: amarelo com estampas vermelhas. Achei o ideal para ele e comprei.

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Simples, prático e rápido. Amarelo é uma cor neutra, então não poderia ter sido mais fácil. No horário combinado, estávamos todos lá. Realmente, foi uma surpresa e tanto para o colega. O encontramos com o irmão de sua noiva, arrumando os móveis da sala. Fomos chegando e entrando. Como ele que não esperava ninguém, ficou sem saber o que fazer ou dizer. Mas as meninas pensaram em tudo. Cada uma trouxe algo pra comer e beber, então as coisas se ajeitou e logo começou a entrega dos presentes. Então chegou a minha vez... Poderia simplesmente ter entregado e só, mas não... Resolvi dizer umas palavras: - Ao meu amigo, um presente pra você descansar seu corpo quando voltar pra casa. Pronto. Começaram as gozações. Mas, enfim... Ele abriu o presente. Quando viram a embalagem bonita, começou aquela brincadeira do "Abre, abre, abre...". Foi então que a coisa desandou. Quando ele abriu a embalagem... O lençol realmente era amarelo, mas com estampas delicadas de rosas vermelhas. Novamente, começaram as gozações... - Humm... Que estampa sugestiva... Sei não... O colega me olhou meio de lado e eu sorri mais amarelo que o lençol. Calma... Não terminou. Infelizmente ainda tem mais. Quando ele tirou o jogo da caixa, o forro do jogo de lençol, aquele com elásticos, imaginem... Era rosa! Só o que eu consegui ouvir foi o "xiiiiiiii". Eu, que estava tomando minha cervejinha, já meio sem graça, engasguei e comecei a tossir...

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Pronto... Começou a gozação novamente. E o pior de tudo era o irmão da noiva dele, que chorava de tanto rir, dizendo que a irmã dele havia "dançado”. - Cunhado, não sei não. Vai vendo... Mas que culpa, tenho eu? Na embalagem estava escrito amarelo. Tudo bem, talvez eu devesse ter lido com mais atenção à embalagem, sem tanta pressa, ou consultado uma vendedora. O duro agora é aguentar a “tiração” de sarro na empresa.

Caracas! Foi mal.

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O correio elegante

Sou ciumento... Não muito, mas sou.

Porém... Não mexa com minha namorada, senão... Tinha festa no bairro, na saudosa Vila Guarani em Santo André. Naquele ano, alguns moradores resolveram fazer a festa junina ali mesmo, na rua de entrada do bairro. Era um evento muito esperado por todos, mas para mim, era mais ainda. Sabia que lá encontraria “A Menina”, aquela com quem eu sonhava todas as noites. Não... Não escreverei o nome dela, ainda que relutando contra meus dedos tagarelas. Ela era irmã de um amigo muito próximo. Sempre que possível, tinha uma ótima desculpa para estar em sua casa, apenas para vê-la. Uma princesa. Até acho que todos sabiam desta paixão, mas na minha cabeça, era um segredo só meu. Se ela gostava de mim também, nunca soube, mas acho que não. Enfim... Estava muito ansioso esperando aquele sábado. Juntei meus trocados, mas diferente de todo moleque daquela época, não era para a pescaria ou pra comer os doces

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maravilhosos, e sim, para enviar bilhetes no Correio Elegante. Somente a ela. O Correio Elegante funcionava assim: uma menina com trajes juninos típicos, geralmente com a figura de um coração fixada no peito, andava pela festa vendendo bilhetes para que você escrevesse uma declaração de amor ou elogio à outra pessoa. Então, ela entregava ao destinatário sem denunciar o autor. Se o pretendente assim o quisesse. Logo a vi quando cheguei à festa. Estava linda demais, com seu vestido rosa rodado e com detalhes em amarelo. Na cabeça, trazia um laço também cor de rosa. Eu estava muito nervoso. Com um copo plástico de vinho quente a mão, tentava relaxar. Claro, que escondido de mamãe e do Mano véio. Apesar de ser muito fraco na substância que lhe dava o nome, para um garoto como eu, fazia efeito. O quentão então, nem se diga. Busquei desesperadamente com os olhos, a garota do Correio Elegante. Quando a localizei, virei o restante do vinho na garganta e fui em sua direção, rapidamente. Com tanta gente pelo caminho, chegou junto comigo ao Correio Elegante, outro garoto que já vira por ali, apesar de ser de outro bairro. Estava com mais dois amigos e todos, eram maiores do que eu. O garoto logo tomou minha frente, pedindo para que a “Correio” entregasse um recadinho de amor. Acompanhei seu indicador que mostrava para qual menina e quase cai. Era para minha amada. O garoto estava mandando um bilhete pra minha amada, vê se pode? Disfarçadamente me afastei dali e encostei-me a um canto, só observando a entrega.

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Quando ela abriu o bilhete, sorriu e buscou com os olhos o autor que o Correio mostrou. Ele todo cheio, comentava com seus colegas e se sentia o tal. Pela primeira vez, achei horrível o sorriso dela. Percebi que tinha que fazer algo rápido. Pensei e imediatamente saí da rua, deixando a festa pra trás. Dei a volta no quarteirão para ganhar um tempo pra pensar. Voltando a festa, vi o garoto e fui ao encontro dele. Ainda tinha a seu lado os dois amigos. Parei na sua frente e percebi que, realmente, eram bem maiores que eu. Então disse, firmemente: - Cara, se manda daqui que o namorado daquela menina, ficou sabendo que você enviou um bilhete pra ela. Tá furioso e está reunindo uns moleques pra pegar vocês. Como eles eram de outro bairro e estavam sozinhos, o “borra botas” e seus amigos acreditaram e desapareceram da festa. Acho que ficaram tão assustados que nunca mais os vi por perto. Está certo... Não foi legal. Mas graças a essa artimanha, consegui gastar todas as minhas economias com bilhetes declarando-me anonimamente ao meu amor. Cada sorriso que ela soltava, eu caprichava mais nos escritos. Acho que foi daí que surgiu o interesse pela escrita. Nunca namoramos, até porque, jamais me declarei. Sempre a acompanhei com os olhos, mas naquela noite, me senti "O cara". Cada guerra exige sua farda e sua arma. Naquela noite, eu só tinha aquela. Funcionou.