departamento da polÍcia civil do estado do … · amarante razera argumentou sobre a necessidade...

9
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO PARANÁ CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL PROTOCOlO N° 1969/09 - CGPC DOUT A CORREGEDORA GERAL: I - DA SITUAÇÃO FÁTICA: Na data de 08/01/09, o Delegado de Polícia de Matelândia/PR, Dr. Altino Remy Gubert Júnior, que substituía a Delegada Titular em período de férias, através do Oficio n° 012/09, informou o Juiz de Direito da Vara Criminal daquela Comarca que no dia imediatamente anterior efetuou a remoção de três presos para a sede da 153 Subdivisão de Cascavel, haja vista que corriam riscos de morte pelos demais detentos que os estavam hostilizando em razão da natureza dos crimes por eles cometidos, arts. 213 e 214 do Código Penal. Ao analisar o conteúdo do ofício, o Juiz de Direito despachou nos autos referentes à Execução de Pena nO.2009.105-7 no sentido de que o Delegado de Polícia não observou as Portarias nOs 02 e 03/2008 daquele Juízo, especialmente a determinação contida no artigo 1 ° da Portaria nO 02/08, que estabelece: Art. 1° Todas as remoções, transferências e permutas de presos provisórios ou condenados para as Delegacias de Municípios desta Com arca. e destas para outros estabelecimentos penais, deverão ser precedidas de autorização do Juiz de Direito desta Comarca ou quem estiver ocupando seu cargo. Ponderou, ainda, a possibilidade de que a Autoridade Policial tivesse feito a transferência para uma das cinco Delegacias da Comarca. Determinou em 19/02/08 que fosse oficiado à Autoridade Policial requisitando explicações. Em 06.07.09 a então Delegada de Polícia de Matelândia, Dra. Tany do Amarante Razera, em resposta ao questionado pelo Judiciário local, através de ofício n° 478/2009 informou que um preso sentenciado foi transferido para o CDR em data de 21.01.09, por determinação judicial da VEP, obtida através do oficio nO515/09 datado de 19.0 1.09, (cópia não enviada com o protocolado). Ocorre que aJuíza subscritora das Portarias constatou que a remoção do sentenciado se deu em 07.01.09, antes mesmo de ser obtida a autorização da VEP como citado no parágrafo anterior. r,

Upload: vuthu

Post on 09-Dec-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

• DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DOPARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL

PROTOCOlO N° 1969/09 - CGPC

DOUTA CORREGEDORA GERAL:

I - DA SITUAÇÃO FÁTICA:

Na data de 08/01/09, o Delegado de Polícia de Matelândia/PR,Dr. Altino Remy Gubert Júnior, que substituía a Delegada Titular em período deférias, através do Oficio n° 012/09, informou o Juiz de Direito da Vara Criminaldaquela Comarca que no dia imediatamente anterior efetuou a remoção de trêspresos para a sede da 153 Subdivisão de Cascavel, haja vista que corriam riscos demorte pelos demais detentos que os estavam hostilizando em razão da natureza doscrimes por eles cometidos, arts. 213 e 214 do Código Penal.

Ao analisar o conteúdo do ofício, o Juiz de Direito despachounos autos referentes à Execução de Pena nO.2009.105-7 no sentido de que oDelegado de Polícia não observou as Portarias nOs 02 e 03/2008 daquele Juízo,especialmente a determinação contida no artigo 1° da Portaria nO 02/08, queestabelece:

Art. 1° Todas as remoções, transferências e permutas de presos provisóriosou condenados para as Delegacias de Municípios desta Com arca. e destaspara outros estabelecimentos penais, deverão ser precedidas de autorização

do Juiz de Direito desta Comarca ou quem estiver ocupando seu cargo.

Ponderou, ainda, a possibilidade de que a Autoridade Policialtivesse feito a transferência para uma das cinco Delegacias da Comarca.Determinou em 19/02/08 que fosse oficiado à Autoridade Policial requisitandoexplicações.

Em 06.07.09 a então Delegada de Polícia de Matelândia, Dra.Tany do Amarante Razera, em resposta ao questionado pelo Judiciário local,através de ofício n° 478/2009 informou que um preso sentenciado foi transferidopara o CDR em data de 21.01.09, por determinação judicial da VEP, obtida atravésdo oficio nO515/09 datado de 19.0 1.09, (cópia não enviada com o protocolado).

Ocorre que aJuíza subscritora das Portarias constatou que aremoção do sentenciado se deu em 07.01.09, antesmesmo de ser obtida a autorização da VEP como citado no parágrafo anterior. r,

Diante da incongruência das informações, requisitou novamenteinformações da Autoridade Policial sobre o descumprimento da portaria.

Em resposta, a Delegada Titular de Matelândia, Ora. Tany doAmarante Razera argumentou sobre a necessidade de remoção urgente dos presospor motivos de segurança e integridade fisica dos mesmos.

Em manifestação nos autos, o representante do MinistérioPúblico local, de forma sensata e imparcial, entendeu que a causa da remoçãoconsistiu na preocupação com a segurança e integridade fisica do preso. Quanto àpossibilidade de ter o Delegado de Polícia transferido o preso a um das Delegaciasda Comarca pronunciou-se pelo saneamento do vício cometido, haja vista que opreso já se encontra implantado no sistema penitenciário há mais de meio ano. Peladesatenção ao disposto na Portaria Judicial, recomendou que fosse averiguada aresponsabilidade da Autoridade Policial junto a esta Corregedoria Geral, o que foiaceito pelo Juiz de Direito daquela Comarca.

Observando a sequência de numeração de páginas, na origem,constata-se que várias não foram incluídas na remessa as quais, se presentes,poderiam melhor instruir a presente análise.

11- DA FUNDAMENTAÇÃO:

Do conteúdo analisado não há como se imputar irregularidadefuncional aos Delegados de Polícia que atuaram na transferência dos presos e arespectiva informação ao Judiciário local. Totalmente plausível a justificativa deperigo iminente para os presos transferidos, a vida humana em toda a legislaçãopenal é considerada o bem superior a todos os demais bens protegidos. É de amploconhecimento no plano institucional da Polícia Civil as crescentes ações dosDelegados de Polícia no sentido de debelar a possibilidade de revoltas, motins ousituações específicas que demandam atitudes urgentes para se evitar problemas eaté mesmo, como no caso em pauta, de perigo de vida de alguns detentosespecíficos.

O próprio Decreto Estadual n° 4.884/78, Regulamento eEstrutura da Polícia Civil, ao disciplinar os deveres e atribuições do Delegado dePolícia preconiza:

Art. 10_ São deveres e atribuições dos Delegados de Polícia:XIV - Vistoriar pessoalmente as dependências carcerárias diariamente. bemcomo ser cientificado, ao princípio e ao final do expediente diário, dascustódias ou detenções efetuadas, coibindo eventuais abusos eprovidenciando para que os serviços carcerários se mantenham em perfeitaordem;LX - Decidir sobre a custódia de pessoas na carceragem da unidade policial;

Como se depreende do Decreto acima citado, em nenhummomento há previsão legal de ser a guarda de presos atribuição da PolíciaJudiciária ou de ser o Delegado de Polícia, Autoridade de Polícia Judiciária, oresponsável pela custódia dos presos. A competência institucional das PolíciasJudiciárias, quadro composto pelas Polícias Civis Estaduais e Polícia Federal, tem

a delimitação de suas funções prevista no art. 144, I e IV, §§ ]O e 4° daConstituição da República Federativa do Brasil:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade detodos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade daspessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

11- .

111- .

IV - polícias civis;

V - .

§ 1° A polícia federal, instituída por leicomo órgão pennanente, organizado e mantido pela União e estruturado emcarreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordempolítica e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União oude suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outrasinfrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exijarepressão unifonne, segundo se dispuser em lei;

11 - prevenir e reprimir o tráfico ilícito deentorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo daação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas decompetência;

III - exercer as funções de políciamarítima, aeroportuária e de fronteiras;

IV - exercer, com exclusividade, asfunções de polícia judiciária da União.

§ 2° - .

§ 3° - .

§ 4° - às polícias civis, dirigidas pordelegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência daUnião, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,exceto as militares. (grifo nosso)

§ 5° - .

Portanto, tem a Polícia Judiciária constitucionalmente previstasua função de apurar as infrações penais e suas autorias por meio do inquéritopolicial, procedimento administrativo de caráter inquisitivo que, em regra, forneceelementos para futura ação penal, de titularidade do Ministério Público, consoanteart. 129, I da Constituição Federal. No âmbito estadual também a Constitu)fãp do

,~ 3.\ )~ ..:

Estado do Paraná em seu art. 47 não inclui entre as suas atribuições o exercício daguarda de presos. Vejamos:

Art. 47 . A Polícia Civil, dirigida por Delegado de Polícia, preferencialmenteda classe mais elevada da carreira, é instituição permanente e essencial à

função da Segurança Pública, com incumbência de exercer as funções dePollcia Judiciária e as apurações das infrações penais, exceto as militares,(grifo nosso).

o Código de Processo Penal, em seu art. 4° dispõe sobre asAutoridades Policiais:

Art. 4° A polícia judiciária será exerci da pelas autoridades policiais noterritório de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração dasinfrações penais e da sua autoria. (grifo nosso)

Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a deautoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

A Polícia Judiciária é um corpo institucionalmente hierarquizadoe, ao nível do Estado do Paraná, em conformidade ao disposto nos arts. }O e 7~ Ido Anexo ao Decreto Estadual n° 3.700/77, Regulamento e Estrutura daSecretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná.

Art. 1° - A Secretaria de Estado de Segurança Públ ica, SESP, é o primeiroórgão de nível hierárquico, de natureza substantiva e constitui a organizaçãobase da administração estadual para planejamento, direção, execução,coordenação, fiscalização e controle das atividades do setor de segurançapública. (grifo nosso)

Art. 7° - A estrutura organizacional básica da Secretaria de Estado deSegurança Pública compreende: I - Nível de Direção Superior - Secretáriode Estado da Segurança Pública. (grifo nosso)

A Lei de Execução Penal não prevê a Polícia Judiciária comoórgão de execução penal. Contrariamente, impõe ao Juízo da Execução, órgãolegalmente previsto como de execução penal, a competência de execução penal aoJuízo indicado na Lei de Organização Judiciária ou ao da sentença.

Art. 61. São órgãos da execução penal:

I - o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;

11- o Juizo da Execução; (grifos nossos)

111- o Ministério Público;

4

~."'+

IV - o Conselho Penitenciário;

V - os Departamentos Penitenciários;

VI - o Patronato;

VII - o Conselho da Comunidade.

Art. 65. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei local deorganização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença.

De fundamental importância a previsão da Lei n° 7.210/84 queem seu art. 75 dispõe sobre as condições exigidas para o cargo de diretor deestabelecimento penal, que flagrantemente conflita com as atribuições legais doDelegado de Polícia anteriormente comentadas, principalmente no tocante àimposição de tempo integral para o exercício dafunção:

Art. 75 - O ocupante do cargo de diretor de estabelecimento deverá satisfazeros seguintes requisitos:

I - ser portador de diploma de nível superior de Direito, ou Psicologia, ouCiências Sociais, ou Pedagogia, ou Serviços Sociais;

II - possuir experiência administrativa na área;

11I - ter idoneidade moral e reconhecida aptidão para o desempenho dafunção.

Parágrafo único. O diretor deverá residir no estabelecimento, ou nasproximidades, e dedicará tempo integral à sua função (grifo nosso).

A cada modalidade de pena implica o correspondente tipo deestabelecimento penal para seu cumprimento; em nenhum momento foi constatadona Lei de Execução Penal ou qualquer outra previsão legal, que as penas deveriamser cumpridas nas Cadeias Públicas, cuja destinação relaciona-se exclusivamente à

guarda de presos provisórios, arts. 102 usque 104 da Lei de Execuções Penais:

Art. 102 - A cadeia pública destina-se ao recolhimento dos presos provisórios.

Art. 103 - Cada Com arca terá, pelo menos I (uma) cadeia pública a fim deresguardar o interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanênciado preso em local próximo ao seu meio social e familiar.

Art. 104 - O estabelecimento de que trata este Capítulo será instalado próximode centro urbano, observando-se na construção as exigências mínimas referidasno art. 88 e seu parágrafo único desta Lei.

Na prática, em grande maioria das cidades do Paraná, a cadeia éinstalada dentro do próprio prédio da Delegacia de Polícia ou, quando muito, anexoa ela que, além de não proporcionar segurança aos policiais, também não aproporciona aos cidadãos que necessitam dos serviços da Polícia Judiciária, nemaos próprios presos. Adentrar ao assunto extrapolaria os limites deste estudo.Contudo, há que se comentar que a cadeia, nessas condições, não dispõe de locaisadequados aos diversos tipos de penalidades, não há trabalho disponível,possibilidade de oferta de cursos, dependências de lazer, etc, haja vista que o localseria destinado apenas a presos provisórios, como local de passagem, onde não sedeve cumprir pena. Não se pode deixar de aludir ao grande problema, que vemultrapassando as fronteiras da Segurança Pública, para atingir áreas como a SaúdePública e de Direitos Humanos, qual seja a superlotação nas cadeias.

Quer parecer que o Poder Judiciário, na figura de alguns de seusJuízes, vem utilizando a expedição de Portarias na tentativa de solucionar osproblemas relacionados ao Juízo de Execução; vem igualando as cadeias públicasaos estabelecimentos penais legalmente previstos para o cumprimento de pena. Paratanto, parece haver uma equiparação da figura do Delegado de Polícia ao Diretorde Presidio, art. 75 LEPI84 citado anteriormente. Todavia, considerando asfunções legalmente previstas ao Delegado de Polícia, comentadas anteriormente !!funcão de Diretor de Presídio não é atribuicão do Deleflado de Polícia,consubstanciando-se em flagrante desvio de função. Aparentemente, utiliza-se omagistrado de analogia para expedição de portaria. Porém, ao Delegado de Políciaassemelha-se a uma analogia in malam parten, pois lhe atribui funções que não sãoprevistas em lei. Entendeu o legislador em consignar na Lei de Introdução aoCódigo Civil diretrizes sobre o preenchimento das lacunas legais. Dispõe o art. 4°CCB: "Quando a lei for omissa, o juiz decidirá de acordo com a analogia, oscostumes e os princípios gerais do direito". Como define João José Caldeira Bastos,"a analogia é o processo lógico que autoriza a criação de uma regra jurídica,derivada da lei, aplicável a um fato omisso. Situa-se, pois, no setor de aplicação dodireito, onde opera como elemento supletivo da lei (grifo nosso)". A Portariaencontra-se dentro de umas das prerrogativas do Poder Regulamentar daAdministração, contudo é necessário que tenha uma Lei como fundamento devalidade. Não se admite que uma Portaria seja inovadora a ponto de exigir mais doque exige a Lei que trata do assunto.

Entretanto, acirradas discussões vêm movimentando o debatesobre a inconstitucionalidade da custódia de presos pela Polícia Judiciária. Umdos argumentos amplamente utilizados para demonstrar essa inconstitucionalidadevincula-se ao art. 5°, II da Constituição Federal, a saber:

Art. 5°, 11- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisasenão em virtude de lei.

Em respeito ao Princípio da Legalidade, a Administração Públicapossui limites, podendo atuar somente em obediência à lei. Como acentua MariaSílvia Zanella di Pietro, a Administração Pública não pode, por simples atoadministrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor

.\:-j-

vedações aos administrados, vara tanto ela devende de lei. Como não existe leiatribuindo a custódia de presos à Polícia Civil dela não se pode exigir estaobrigação, assim argumentou o Desembargador Hamilton Carli integrante doTribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul.

Neste raciocínio, a custódia de presos pela Polícia Judiciáriaesbarra no Princípio da Legalidade, constituindo-se em inconstitucionalidade vezque não há previsão legal de a Autoridade Policial ser diretora de presídio ou que aCadeia Pública seja local adequado para o cumprimento de pena. Não se podeobrigar a guarda de presos à Polícia Civil uma vez que a Delegacia de Polícia nãoé Cadeia Pública, não é Penitenciária, Colônia Agrícola ou Industrial ou Casado Albergado. Delegacia de Polícia é um órgão afeto à Polícia Judiciária, atuandocomo sede na prestação de serviços à comunidade no sentido de se obter elementospara investigar o cometimento de crimes, para que através do inquérito policialforneça elementos ao Ministério Público para futura propositura de ação penal.Frise-se que Delegacia de Polícia é chefiada por Delegado de Polícia, que porsuas funções legalmente instituídas não pode ser equiparado a Diretor dePresídio.

Em 2008 a Deputada Federal Marina Magessi ingressou com oProjeto de Lei nO4051/2008 o qual confere nova redação ao artigo 82, § 3° daLEP/84. Este PL recentemente, dia 05/11/2009, foi aprovado em primeiro turno naCâmara dos Deputados, com grandes possibilidades de obter aprovação final,convertendo-se definitivamente em Lei. Inicialmente prevê a vedação do uso dasdependências da Polícia Civil para custodiar presos, mesmo que a prisão se dê emcaráter temporário. O relator da matéria, Deputado Francisco Tenório, apresentouemenda ao projeto, também aprovada pela comissão, definindo "que o preso ficarána cadeia só até a lavratura do auto de prisão em flagrante e a assinatura da nota deculpa pela autoridade Policial e sua entrega ao preso, sendo então imediatamentetransferido para o sistema prisional".

Não se pode olvidar que o próprio Estatuto Penitenciário doParaná induz ao entendimento que o Delegado de Polícia não podesimultaneamente administrar a Delegacia de Polícia e o estabelecimento penal. Ostribunais, em recentes decisões, têm entendido pelo não cumprimento de pena emCadeias Públicas.

Com a venia devida, examinando o teor das Portarias nOs O 1 e02/2008 da lavra da Excelentíssima da Juíza de Direito da Comarca de Matelândia

à época, entende-se que as determinações contidas nas respectivas Portarias são deinviável cumprimento por qualquer Autoridade Policial responsável por umaDelegacia de Polícia. Analisando os atos normativos referidos, por toda aargumentação sucintamente trazida ao estudo, eis que o assunto renderia ensejo apáginas e páginas de discussão ancoradas em doutos pareceres e bases legais,questiona-se a coercibilidade e aplicabilidade dessas Portarias pelo Delegado dePolícia.

Analisando individualmente os artigos das Portarias do Juízo deDireito da Comarca de Matelândia constata-se:

Art. 1° Portaria 01/08 - Todas as remoções, transferências e permutas depresos provisórios ou condenados para as Delegacias de Polícia dos Municípiosdesta Comarca, e desta para outros estabelecimentos penais, deverão ser

":L=j

precedidas de autorização do Juiz de Direito desta Comarca ou quem estiverocupando este cargo. (grifo nosso)

A obrigatoriedade de a transferência ser precedida de autorizaçãojudicial conflita com as obrigações básicas do Delegado de Polícia determinadaspelo Decreto Estadual nO4.884/78, art. 1°, XIV e LX como inicialmente analisado;a titulo a sugestão a redação poderia impor a obrigação de forma condicionada,"sempre que possível serão precedidas", justificando posteriormente os motivosque determinaram a remoção de imediato does) preso(s). Isso decorre de umacaracterística fundamental no exercício de qualquer função policial é a capacidadede tirocínio, aqui definida como a capacidade de tomar rápidas decisões,escolhendo o melhor caminho para obtenção de um resultado positivo, diante deuma situação fática que demande sua atuação. Assim, quanto à escolha do destinoda remoção do preso, quando em urgência, considerando a hierarquia funcional,recomenda-se sempre que possível que a escolha do destino seja realizada peloDelegado Divisional ou quem o substitua.

Art. 2° parágrafo único - Deverá ser observado o art. 33 daLei n° 721/84, nas fichas de controle individual, referente aos serviçosprestados pelos presos na carceragem das Delegacias de Polícia dos Municípiosdesta Comarca.

Quanto ao disposto nos artigos 3°, 4° e 5° da Portaria nO01108conforme Parecer da lavra do D. Corregedor Geral Adjunto, Dr. Sérgio Taborda, "acustódia de presos condenados quer em regime fechado, quer em regime semi­aberto, nas unidades carcerárias, anexas ou não às Delegacias de Polícia, não estáinserida no ordenamento jurídico como atribuição dos Delegados de Polícia, nemde seus agentes ou auxiliares, não lhes cabendo, portanto, a custódia nem afiscalização da execução de suas penas".

Quanto à previsão contida no artigo 8° da Portaria sob comento,no que tange à previsão de que determina que a Autoridade Policial deverá darespecial atenção ao disposto no artigo 82, § 1° da LEP/84:

LEP - Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao

submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso.§ 10 A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos aestabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal.

De amplo conhecimento de todos os setores governamentais, eda população em geral, a falta de celas, a precariedade das instalações das cadeias ea superpopulação carcerária (ainda crescente), de modo a se tornar inexeqüível orecolhimento da mulher e do maior de sessenta anos em estabelecimento

adequados à sua condição pessoal.

Relativamente ao preconizado na Portaria n° 03/2008, a qualacresce o artigo 11 à Portaria anterior, data venia, poderia ter sua redaçãomelhorada, à vista da confusão que poderia suscitar na sua interpretação. Da formacomo redigida, sugere que as prisões efetuadas nesta Comarca, ainda que oriundasde outros Juízos, deverão ser comunicadas no prazo de vinte e quatro horas. Narealidade o que se comunica ao Juiz da Comarca é o recebimento de outros presosprovenientes de outras comarcas e não a sua prisão que deverá ser comunicada ao

\"8'---i.~'1

j\\, I

, r

Juízo do local onde a prisão foi efetivada, art 50, LXII da Constituição daRepública Federativa do Brasil:

Art. 5°, LXII- CF - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontreserão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ouà pessoa por ele indicada;

I - DA CONCLUSÃO:

Por toda argumentação e embasamentos legais trazidos a baila,corroborando a manifestação do Ministério Público nos autos, não se constatandodolo nas condutas dos Delegados de Polícia, em não sendo evidenciados indíciosde prática de qualquer infração disciplinar prevista na Lei Complementar EstadualnO14/82 a ser atribuída às Autoridades Policiais envolvidas neste evento, sugere-seo ARQUIV AMENTO deste Protocolado, tudo em conformidade à diligenterevisão a ser operada por Vossa Excelência.

Curitiba, 12 de novembro de 2.009.

12--'-'----(--~~~'!

_--.- c_~..\'- _\\,--~j

Soraya Maria Mendes da SilvaCorregedora A uxi/iar

9