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Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política - Página: Capa e A4 - Publicação: 01/05/20 URL Original: Bolsonaro fala em decisão 'política' do Supremo e leva contra-ataque de ministros Bolsonaro fala em decisão 'política' do Supremo e leva contra-ataque de ministros Um dia antes, Supremo anulou a nomeação do presidente para o comando da Polícia Federal O presidente Jair Bolsonaro chamou nesta quinta-feira de "política" e de "canetada" a decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF) que, um dia antes, anulou a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. "Eu respeito a Constituição e tudo tem um limite." Na saída do Palácio da Alvorada, antes de embarcar para Porto Alegre (RS), Bolsonaro argumentou que "não engoliu" a decisão de Moraes e que o ministro do STF quase gerou uma crise institucional. "Se [Ramagem] não pode estar na Polícia Federal, não pode estar na Abin [Agência Brasileira de Inteligência]. No meu entender, uma decisão política", declarou. À noite, Ramagem esteve no Palácio da Alvorada. O encontro não consta da agenda oficial de Bolsonaro, mas o escolhido do presidente foi flagrado por uma equipe da TV Globo quando deixava o local. Na quarta (29), após Ramagem ter sido barrado pelo Supremo, o presidente revogou a nomeação de seu indicado, que é amigo do clã Bolsonaro. O mandatário também anulou a exoneração de Ramagem da Abin, cargo ocupado por ele anteriormente. O presidente reiterou ainda que a AGU (Advocacia-Geral da União) vai recorrer da decisão judicial, mas disse que, diante da ação do Supremo, o governo busca um novo nome para o comando da PF. "Tenho outros nomes. Vou entrar em contato com pessoas que eu conheça para que apareça um nome, que a gente quer que a PF faça o seu trabalho sem interferência", declarou. "Eu pretendo o mais rápido possível, sem atropelos, indicar o diretor-geral [da PF]. Quero o mais rápido possível dar tranquilidade para a Polícia Federal trabalhar." Em outra investida contra Moraes, Bolsonaro cobrou "rapidez" do ministro para analisar eventuais recursos e para liberar o julgamento da ação no Plenário da Corte. "Não justifica a questão da impessoalidade [um dos argumentos usados pelo ministro na sua decisão]. Como o senhor Alexandre de Moraes foi parar o Supremo? Amizade com o senhor Michel Temer, ou não foi?", disse o presidente, em uma referência à indicação de Moraes ao STF pela então presidente da República. "Agora tirar numa canetada e desautorizar o presidente da República, com uma canetada, dizendo em [princípio da] impessoalidade? Ontem quase tivemos uma crise institucional, quase. Faltou pouco", disse Bolsonaro. "Eu não engoli ainda essa decisão do senhor Alexandre de Moraes." "Não engoli. Não é essa a forma de tratar o chefe do Executivo", queixou-se o mandatário. Na entrevista desta manhã, Bolsonaro se recusou a responder a qualquer pergunta que não fosse feita pela rede CNN Brasil. Repórteres de Folha, O Globo, O Estado de S. Paulo e portal G1 estavam no local e questionaram o mandatário, mas ele não respondeu e se referiu a um dos profissionais presentes como "fake news". A uma primeira pergunta de um repórter de O Globo, Bolsonaro rebateu: "Não vou te responder, não vou te responder. Tu é fake news, eu só vou atender essa senhora aqui [referindo-se à repórter da CNN Brasil]. Ponto final". Em seguida, após duas perguntas da Folha, o presidente respondeu: "Eu vou atender só essa senhora que está aqui", disse. "Rapaz, pode ficar quieto? Não atrapalha a entrevista. Já falei para você ficar quieto, só vou atender a senhora aqui". Amizade Em outra defesa da nomeação de Ramagem, Bolsonaro disse que relações de amizade não constam como "cláusulas impeditiva para alguém tomar posse" em cargo público. Ele repetiu que conheceu Ramagem após a eleição presidencial, quando o delegado da PF assumiu a coordenação da segurança do então presidente eleito. "Por que eu não posso prestigiar uma pessoa que, além do mais, eu conhecia com essa profundidade? Relação de confiança". Bolsonaro também criticou seu ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que na semana passada pediu demissão e acusou o mandatário de querer trocar o diretor-geral da PF para interferir politicamente na corporação e para ter acesso a relatórios de inteligências. Para Bolsonaro, Moro "deixou a desejar" como ministro.

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Page 1: Bolsonaro fala em decisão 'política' do Supremo e …Na saída do Palácio da Alvorada, antes de embarcar para Porto Alegre (RS), Bolsonaro argumentou que "não engoliu" a decisão

SemOpção

Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: Política -Página: Capa e A4 - Publicação: 01/05/20URL Original:

Bolsonaro fala em decisão 'política' do Supremo e levacontra-ataque de ministrosBolsonaro fala em decisão 'política' do Supremo e levacontra-ataque de ministrosUm dia antes, Supremo anulou a nomeação do presidente para o comandoda Polícia FederalO presidente Jair Bolsonaro chamou nesta quinta-feira de "política" e de "canetada" a decisão do ministro Alexandre de Moraes(STF) que, um dia antes, anulou a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. "Eu respeito aConstituição e tudo tem um limite."Na saída do Palácio da Alvorada, antes de embarcar para Porto Alegre (RS), Bolsonaro argumentou que "não engoliu" a decisãode Moraes e que o ministro do STF quase gerou uma crise institucional."Se [Ramagem] não pode estar na Polícia Federal, não pode estar na Abin [Agência Brasileira de Inteligência]. No meu entender,uma decisão política", declarou.À noite, Ramagem esteve no Palácio da Alvorada. O encontro não consta da agenda oficial de Bolsonaro, mas o escolhido dopresidente foi flagrado por uma equipe da TV Globo quando deixava o local.Na quarta (29), após Ramagem ter sido barrado pelo Supremo, o presidente revogou a nomeação de seu indicado, que é amigodo clã Bolsonaro. O mandatário também anulou a exoneração de Ramagem da Abin, cargo ocupado por ele anteriormente.O presidente reiterou ainda que a AGU (Advocacia-Geral da União) vai recorrer da decisão judicial, mas disse que, diante daação do Supremo, o governo busca um novo nome para o comando da PF."Tenho outros nomes. Vou entrar em contato com pessoas que eu conheça para que apareça um nome, que a gente quer que aPF faça o seu trabalho sem interferência", declarou. "Eu pretendo o mais rápido possível, sem atropelos, indicar o diretor-geral[da PF]. Quero o mais rápido possível dar tranquilidade para a Polícia Federal trabalhar."Em outra investida contra Moraes, Bolsonaro cobrou "rapidez" do ministro para analisar eventuais recursos e para liberar ojulgamento da ação no Plenário da Corte."Não justifica a questão da impessoalidade [um dos argumentos usados pelo ministro na sua decisão]. Como o senhor Alexandrede Moraes foi parar o Supremo? Amizade com o senhor Michel Temer, ou não foi?", disse o presidente, em uma referência àindicação de Moraes ao STF pela então presidente da República."Agora tirar numa canetada e desautorizar o presidente da República, com uma canetada, dizendo em [princípio da]impessoalidade? Ontem quase tivemos uma crise institucional, quase. Faltou pouco", disse Bolsonaro. "Eu não engoli ainda essadecisão do senhor Alexandre de Moraes." "Não engoli. Não é essa a forma de tratar o chefe do Executivo", queixou-se omandatário.Na entrevista desta manhã, Bolsonaro se recusou a responder a qualquer pergunta que não fosse feita pela rede CNN Brasil.Repórteres de Folha, O Globo, O Estado de S. Paulo e portal G1 estavam no local e questionaram o mandatário, mas ele nãorespondeu e se referiu a um dos profissionais presentes como "fake news".A uma primeira pergunta de um repórter de O Globo, Bolsonaro rebateu: "Não vou te responder, não vou te responder. Tu é fakenews, eu só vou atender essa senhora aqui [referindo-se à repórter da CNN Brasil]. Ponto final".Em seguida, após duas perguntas da Folha, o presidente respondeu: "Eu vou atender só essa senhora que está aqui", disse."Rapaz, pode ficar quieto? Não atrapalha a entrevista. Já falei para você ficar quieto, só vou atender a senhora aqui".AmizadeEm outra defesa da nomeação de Ramagem, Bolsonaro disse que relações de amizade não constam como "cláusulas impeditivapara alguém tomar posse" em cargo público.Ele repetiu que conheceu Ramagem após a eleição presidencial, quando o delegado da PF assumiu a coordenação da segurançado então presidente eleito. "Por que eu não posso prestigiar uma pessoa que, além do mais, eu conhecia com essaprofundidade? Relação de confiança".Bolsonaro também criticou seu ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que na semana passada pediu demissão e acusou omandatário de querer trocar o diretor-geral da PF para interferir politicamente na corporação e para ter acesso a relatórios deinteligências. Para Bolsonaro, Moro "deixou a desejar" como ministro.

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"O ônus da prova acaba a quem acusa. Nenhum superintendente [da PF] foi trocado, eu sugeri duas superintendências, ele nãoconcordou. [Moro] passou a ser o dono de tudo, e não aceitava qualquer sugestão. O ego falou mais alto a vida toda dele",disparou. "Ninguém nega o trabalho do Moro na Lava Jato, lá atrás. Um excelente juiz. Mas como ministro, lamentavelmente,deixou a desejar. Até privilegiando o pessoal que tava no Paraná, sem querer desmerecê-los. Mas só o pessoal do Paraná".Pouco depois, em entrevista à rádio Guaíba, Bolsonaro disparou novas críticas contra Moraes. "Não vou admitir eu ser umpresidente pato manco, refém de decisões monocráticas de quem quer que seja. Não é um recado, é uma constatação aosenhor Alexandre de Moraes".Na mesma entrevista, o mandatário disse não temer sofrer um processo de impeachment. "De jeito nenhum. O homem que vaià guerra e tem medo de morrer é um covarde. Que venha o impeachment um dia, mas um impeachment [baseado] em fatos. Enão... Um dos pedidos, ou vários pedidos têm [como justificativa] que eu não apresentei o meu exame de vírus. É um absurdo.Baseado no quê? Qual a materialidade? Não tem materialidade."A decisão de Moraes se baseia, principalmente, nas afirmações de Bolsonaro de que pretendia usar a PF, um órgão deinvestigação, como produtor de informações para suas tomadas de decisão.O ministro concedeu liminar (decisão provisória) a uma ação protocolada pelo oposicionista PDT, que alegou "abuso de poderpor desvio de finalidade" com a nomeação do delegado para a PF.Moraes destacou que sua decisão era cabível pois a PF não é um "órgão de inteligência da Presidência da República", mas sim"polícia judiciária da União, inclusive em diversas investigações sigilosas".Na decisão, o ministro afirmou haver "inobservância aos princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e dointeresse público", acrescentando que, "em um sistema republicano, não existe poder absoluto ou ilimitado, porque seria anegativa do próprio Estado de Direito".Ramagem chefiou a segurança de Bolsonaro durante a campanha de 2018, tornou-se amigo da família e virou diretor-geral daAbin (Agência Brasileira de Inteligência).No sábado (25), a Folha mostrou que uma apuração comandada pelo STF, com participação de equipes da PF, tem indícios deenvolvimento de Carlos em um esquema de disseminação de fake news. ?Para a maioria dos especialistas ouvidos pela Folha, foi correta a decisão de Moraes pela suspensão do ato. De acordo com eles,o poder de nomeação do presidente não é absoluto e deve respeitar as regras previstas pela Constituição, comoimpessoalidade, moralidade e legalidade.Não é a primeira vez que o Judiciário suspende nomeação discricionária da Presidência da República. Isso já ocorreu na ocasiãoda nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como ministro da Casa Civil pela então presidente Dilma Rousseff(PT) e também de Cristiane Brasil (PTB) como ministra do Trabalho durante a gestão de Michel Temer (MDB).Há quem afirme, no entanto, que seria preciso haver provas mais contundentes para que a nomeação fosse anulada nestemomento. O professor de direito constitucional da USP Elival da Silva Ramos vê ativismo judicial na decisão e afirma que ela criaum precedente ruim.Para ele ainda não há provas suficientes de que a nomeação de Ramagem seria abuso de poder, mas apenas indícios. Segundoele, apesar de a liminar (decisão provisória) poder ser concedida sem provas cabais, Ramos defende que, por se tratar dasuspensão de um ato discricionário, seria preciso haver provas mais maduras.Ainda na tarde de quarta-feira, Bolsonaro desautorizou a AGU e disse que vai recorrer da decisão do ministro do STF. Mais cedo,a AGU havia divulgado nota pública na qual afirmou que não recorreria da suspensão da posse."É dever dela [AGU] recorrer", disse Bolsonaro. "Quem manda sou eu e eu quero o Ramagem lá", disse Bolsonaro, quemomentos antes, em solenidade no Palácio do Planalto, havia afirmado que seu sonho era nomear brevemente o delegado parao cargo de diretor-geral.A decisão de Moraes entra para a série de reveses que a corte impôs ao governo federal nos últimos dois meses e mantémpressão do tribunal sobre Jair Bolsonaro. Desde que a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou pandemia do novocoronavírus, em 11 março, o STF contrariou os interesses do Executivo em ao menos 12 ações.O despacho de Moraes sobre a PF foi na mesma linha. Esse caso, porém, revelou um componente a mais na relação entre osPoderes, na avaliação de ministros de tribunais superiores.Ao suspender a nomeação do escolhido de Bolsonaro para comandar a corporação, eles avaliam nos bastidores que Moraes ummandou recado claro de que a corte não aceitará interferência na PF, sobretudo em dois inquéritos sob sigilo: os que investigama organização de atos pró-intervenção milita r e a disseminação de fake news, que tem um filho do presidente, o vereadorCarlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), na mira como suposto articulador de um esquema de disseminação notícias falsas.Carlos é o filho mais próximo de Ramagem. As duas investigações são caras para uma ala do STF.Desde que o ministro Dias Toffoli, presidente da corte, instaurou o inquérito sobre notícias falsas contra ministros do STF, emmarço de 2019, ele foi alvo de críticas de procuradores e investigadores ligados à Lava Jato.Toffoli, porém, sempre fez questão de defender a legalidade da medida para levá-la adiante. Na visão dele e de outros ministros,a investigação é importante para elucidar a rede de ataques que os atinge e conter esses disparos.Essa apuração foi muito criticada por juristas e pela militância bolsonarista, mas defendida pelo governo federal. As críticasapontavam que o STF não poderia ter agido de ofício, ou seja, ter determinado a abertura de inquérito sem que tivesse sidoprovocado pela Procuradoria-Geral da República, como é a regra do Judiciário.

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A Advocacia-Geral da União, porém, manifestou-se contra o arquivamento do caso. Nesta quarta, logo após a decisão de Moraes,a leitura de atores do Judiciário foi a de que o ministro traçou uma linha de até onde Bolsonaro pode ir.Houve inclusive a avaliação de que o STF poderá autorizar diligências da PF nos próximos dias contra integrantes do esquemade fake news, para mostrar que não recuará.Essa decisão não foi o primeiro recado do ministro ao Palácio do Planalto em relação à autonomia da PF. No mesmo dia em queMoro acusou Bolsonaro de interferir na corporação, na última sexta (24), Alexandre de Moraes determinou à PF que não troqueos delegados responsáveis pelas investigações dos atos pró-ditadura e a de notícias falsas na internet.Apesar de o presidente não ser oficialmente investigado, ele participou dos atos e, se houver indícios de que ele ajudou aorganizar os protestos, poderá virar alvo das apurações.ENTENDA A DECISÃO DO SUPREMO E RELEMBRE OUTROS CASOSNomeação para a PF

O ministro Alexandre de Moraes suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da PF após o PDTentrar com mandado de segurança alegando "abuso de poder por desvio de finalidade" no ato de Jair BolsonaroO magistrado baseou sua decisão no comportamento do chefe do Executivo. Segundo o ministro, há elementos queapontam o interesse de Bolsonaro em escolher para o comando da corporação alguém que pudesse fornecer acesso ainformações privilegiadas. O próprio presidente admitiu interesse pessoal em ações da PF, em pronunciamento após ademissão de Sergio MoroPara o ministro do STF, houve "inobservância aos princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e dointeresse público" na nomeação. "Em um sistema republicano, não existe poder absoluto ou ilimitado (...)", acrescentouAlexandre citou ainda acusações do ex-juiz contra o presidente. "[Moro] afirmou (...) que o presidente da Repúblicainformou-lhe da futura nomeação (...), para que pudesse ter 'interferência política' na instituição, no sentido de 'ter umapessoa do contato pessoal dele', 'que pudesse ligar, colher informações, colher relatórios de inteligência'"Ramagem é amigo dos filhos de Bolsonaro. Sobre essa relação, o ministro afirmou que o princípio da impessoalidade"exige do administrador público a prática do ato somente visando seu fim legal, de forma impessoal"

LulaDilma Rousseff (PT) tentou nomear Lula para ser ministro da Casa Civil, em março de 2016, antes do impeachment. GilmarMendes, do STF, impediu a posse, dizendo entender que havia um desvio de finalidade na nomeação. O magistrado concluiu naépoca que a intenção do ato era impedir a prisão de Lula. Mais tarde, conversas de Lula gravadas pela PF e reveladas pela Folhacolocaram em xeque essa teseCristiane BrasilEm janeiro de 2018, a ministra Cármen Lúcia, na época presidente do STF, suspendeu a posse da então deputada federalCristiane Brasil (PTB-RJ), filha do ex-deputado Roberto Jefferson, para o comando do Ministério do Trabalho. A ministra acolheu"parcialmente" reclamação de um grupo de advogados, que chamou de "grande imoralidade" a nomeação, porque Cristiane játinha sido condenada na Justiça do TrabalhoMoreira FrancoEm fevereiro de 2017, a nomeação de Moreira para a Secretaria-Geral da Presidência chegou a ser suspensa por juízes federais.O argumento era que a escolha de Michel Temer visava proteger o aliado, citado por executivos da Odebrecht em delaçãopremiada com a PGR. A AGU reverteu as decisões

STF impõe nova derrota a Bolsonaro e derruba restriçãoa informações públicasMatheus Teixeira3-4 minutos

O STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a validade da medida provisória editada pelo governo Jair Bolsonaro que restringia aLei de Acesso à Informação (LAI) durante a pandemia do novo coronavírus.Todos os ministros votaram para referendar a decisão liminar (provisória) que o ministro Alexandre de Moraes já tinha concedidonesse sentido.A MP suspendia prazos de pedidos de informações a órgãos públicos com base na LAI nos casos em que o setor demandadoestivesse “prioritariamente envolvido com as medidas de enfrentamento” à doença.A norma também determinava a suspensão dos prazos em situação que exigisse a presença dos servidores no local de trabalho.O relator, Alexandre de Moraes, afirmou que a medida viola o princípio da publicidade exigido pela administração pública eressaltou que a medida teria efeito para todos entes da federação.O magistrado lembrou que a MP foi editada em 23 de março e suspensa três dias depois. E argumentou que o fato de a decisãonão ter atrapalhado os gestores a enfrentar a pandemia é uma prova de que a decisão foi acertada.Ao decidir, Moraes entendeu que a MP afasta a plena incidência dos princípios constitucionais da publicidade e da transparência.

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"A participação política dos cidadãos em uma democracia representativa somente se fortalece em um ambiente de totalvisibilidade e possibilidade de exposição crítica das diversas opiniões sobre as políticas públicas adotadas pelos governantes",afirmou o ministro.Cármen Lúcia foi na mesma linha e ressaltou que a LAI tem que ser uma aliada do Estado no enfrentamento da doença. “Emtempos de crise, a informação é fonte de saúde para as pessoas, que não precisam saber apenas da administração financeira,mas também dos planos da educação e de todas as políticas públicas”, afirmou.O ministro Ricardo Lewandowski destacou que a informação é um direito do cidadão e não pode ser restringida. Disse, também,que instrumentos como a LAI são “necessários para que a cidadania, o povo brasileiro, possa controlar os governantes”.Gilmar Mendes declarou que o artigo invalidado “compromete a publicidade dos atos administrativos e a transparência,colocando em risco o direito à informação, à publicidade e à transparência”.?“Não há como considerar antecipadamente que, no período em que perdurar a pandemia, a publicidade deva ficarcondicionada a entraves meramente burocráticos”, disse o ministro.

Análise: Ataque de Bolsonaro isola movimento deacomodação no SupremoIgor Gielow4-6 minutos

O ataque ácido de Jair Bolsonaro a Alexandre de Moraes sustou uma articulação que se desenhava para tentar acomodar osânimos entre o Palácio do Planalto o Supremo Tribunal Federal.Integrantes da corte e ministros da ala militar do governo vinham trabalhando, desde o começo da semana, para baixar aaltíssima temperatura da crise que desembarcou no colo de Celso de Mello.O decano do Supremo é o condutor do embate entre Bolsonaro e Sergio Moro, ex-ministro que acusou o presidente de interferirpoliticamente na Polícia Federal.Se o debate parece infrutífero no mérito, dado que o próprio presidente admitiu a intenção, a definição se há ou não crimes écentral para o futuro da crise.A transferência da comarca do abacaxi do Congresso para o Supremo deu tempo para as tropas se rearranjarem.Do lado daqueles que querem ver Bolsonaro impedido, houve ganho de fôlego para o adensamento do caso Moro enquanto acrise da pandemia se agrava com a ação errática do governo.Já aqueles contrários ao impeachment buscam aproveitar negócios de ocasião ofertados pelo recém-reaberto balcão do Planalto,ao menos enquanto houver governo.Na segunda-feira, Bolsonaro foi advertido duramente pela ala militar que sua intenção de colocar Jorge Oliveira e AlexandreRamagem na Justiça e na PF, respectivamente, criaria um impasse institucional.Os fardados falaram em termos francos: o governo poderia ficar inviabilizado.O ideal seria um ministro com interlocução prévia com o Supremo, como o advogado-geral André Mendonça, e um diretor da PFchancelado pela corporação.Ainda assim, o presidente cumpriu metade da promessa de indicar amigos de sua família. Pior: no cargo mais sensível, a direçãoda polícia.Como brincou um general, ficou 2 a 1, dado que na AGU entrou um nome com ótimo trânsito no STF, José Levi, trazido a Brasíliapor Gilmar Mendes e que já foi sub de Alexandre de Moraes na pasta da Justiça.A decisão provisória de Moraes de barrar Ramagem na PF embaralhou a dinâmica da equação na quarta (29).Bolsonaro tem especial desapreço pelo ministro do STF. Já disse a interlocutores que ele age para derrubá-lo em conluio compolíticos, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governador João Doria (PSDB-SP).Ainda assim, a reação inicial do governo, baseada justamente na opinião do estreante Levi, foi de não recorrer.Tudo parecia sob controle e, como disseram ministros do Supremo, o diálogo seria mantido. Até que, no fim do dia, o presidentedesautorizou Levi e disse que haveria recurso à liminar.Pela manhã, após as usuais consultas noturnas com os filhos, Bolsonaro subiu o tom e fez acusações inauditas por parte de umpresidente contra um ministro do STF.O resultado foi o fechamento em copas da corte. O ato mais simbólico veio de Gilmar, um antagonista de Moro que já alertaracontra o uso do STF como palanque político pelo ex-ministro, sem nomeá-lo.Ele indeferiu o pedido do filho presidencial Eduardo para enterrar a CPI das Fake News, fonte de dor de cabeça para o clã daBarra da Tijuca.À tarde, houve várias declarações de apoio a Moraes e uma decisão contra o presidente dada pelo plenário, que vetou arestrição à Lei de Acesso à Informação prevista em medida provisória.Bolsonaro passou a quinta (30) cercado de seu núcleo militar, todos em visita à troca do comando do Exército no Sul.A avaliação corrente entre os fardados é que Moraes teria legislado, dando razão a Bolsonaro no conteúdo, mas não na forma dareação.

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Alguns integrantes da ala fardada são mais carbonários, como o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).Seja como for, Bolsonaro já provou mais de uma vez que pode ser restringido apenas parcialmente, dado seu DNA propenso aoconflito. Só que agora o campo de batalha não é nas redes sociais ou na porta do Alvorada.

STF feriu soberania popular ao barrar Ramagem, dizconstitucionalista ligado à esquerdaPedro Serrano afirma que Bolsonaro tinha o direito de nomear amigo parachefiar a Polícia FederalInsuspeito de bolsonarismo e declaradamente de esquerda, o professor de direito constitucional Pedro Serrano, 56, sente-seobrigado a dar razão ao presidente Jair Bolsonaro em sua reclamação de interferência do Supremo Tribunal Federal em razão doveto à nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal.Segundo ele, a decisão do ministro Alexandre de Moraes fere o princípio da soberania popular.“A Polícia Federal exerce funções de Estado, mas o diretor-geral tem uma função de governo. Ele leva ao órgão a política dopresidente eleito na área de segurança pública”, afirmou Serrano, que é próximo do PT.Para ele, advogado e professor da PUC-SP, as acusações feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro precisam sercomprovadas, e não justificam o veto à nomeação de Ramagem.Da mesma forma, o fato de o indicado ser amigo do presidente não deveria ser um impeditivo. "Você está acusando o cara doquê, de ser amigo do presidente? Tem jurisprudência do Supremo dizendo que você pode nomear ministro sendo teu filho."O que o sr. achou da decisão do ministro Alexandre de Moraes? Minha opinião é semelhante à que eu tive na época dadecisão do Lula, que o afastou do ministério [da Casa Civil, em 2016].São decisões equivocadas, que têm uma repercussão muito negativa no funcionamento do Estado constitucional de Direito. Onúcleo central da argumentação carece da demonstração dos fatos.Fala que existe uma agressão ao princípio da impessoalidade, porque Bolsonaro nomearia uma pessoa de confiança para fins decometer ilícitos na Polícia Federal e interferir indevidamente em inquéritos. Mas precisa haver alguma demonstração mais firmede que a intenção era realmente cometer crimes. O que você tem é uma argumentação do ministro que saiu do cargo [Moro],mas ele próprio não dá consistência às acusações.Houve interferência indevida do Judiciário? Essa medida significa, num sistema constitucional, interferir na soberaniapopular. O presidente foi eleito para levar o seu programa político aos vários rincões da administração pública. Ele tem comoinstrumento nomear pessoas de confiança exatamente para isso. A Polícia Federal exerce funções de Estado, mas o diretor-geraltem uma função de governo. Ele leva ao órgão a política do presidente eleito na área de segurança pública. Por isso a lei prevêque o presidente pode nomear livremente o diretor entre delegados.Por que o sr. diz que a acusação é genérica? Ela precisa ser investigada primeiro. É muito grave você afirmar que umpresidente da República está nomeando alguém para cometer crimes. O mandado de segurança, que é a via processualescolhida, é inadequado. Numa situação dessa, você tem de possibilitar ao presidente ampla possibilidade de se defender, maso mandado de segurança não permite debate sobre fatos. É um tipo de medida judicial em que o fato tem de ser líquido e certo,incontroverso. Nesse caso, não é incontroverso. O Bolsonaro, do jeito dele, nega que tivesse essa intenção [de interferência].É incontestável que o Alexandre Ramagem é próximo do presidente e amigo dos filhos. Isso não é suficiente parao afastamento? De forma nenhuma. Você está acusando o cara do quê, de ser amigo do presidente? Tem jurisprudência doSupremo dizendo que você pode nomear ministro sendo teu filho.Mas a PF está conduzindo inquéritos que investigam diretamente filhos do presidente. Isso em si não é sinal de nada.O fato de ele ser amigo não tem nada de mais.Ele não poderia interferir na investigação sobre um amigo dele? Poderia, mas precisaria interferir para falar que é crime.O delegado que toca a investigação é um profissional de carreira estável. O diretor não pode interferir no trabalho dele, sobpena de estar cometendo crime. Tem que ter ato, concretude.A palavra do Moro, que estava diretamente envolvido com a questão, não tem peso? Ela precisa ser reproduzida emjuízo. Claro que tem peso, mas no pronunciamento ele não deu os dados. A gente tem que perguntar para o Moro qual ainvestigação, por que ele fala isso. Tem que fazer as perguntas técnicas. O que ele falou no pronunciamento é só uma acusação.O sr. diria que há um excesso de interferência do Judiciário sobre outros Poderes? Em algumas decisões, sim. Essa éum exemplo. Há uma decisão atrás da outra produzindo uma jurisprudência equivocada.Deveria haver algum tipo de mecanismo constitucional que evitasse essa interferência? Ficar criando mais instituiçãopara controlar instituição é um erro. Num momento mais tranquilo, em que dê para debater as coisas, nós devemos mudarnossa estrutura. Temos um grande erro no Brasil, que é atribuir a um dos Poderes o poder de anular atos dos outros porinconstitucionalidade. Acaba criando um Judiciário ultraforte.Nós precisaríamos ter uma corte constitucional, que estivesse acima dos três Poderes, anulando atos, como é na Europa. E commandato. Outro ponto é criar uma cultura entre os juízes de autocontenção, adotar uma postura minimalista. Questões muitopolíticas o Judiciário deveria abrir mão de decidir.

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O fato de ter sido uma decisão monocrática agrava essa situação? Claro. Você está restringindo a soberania popular e aautonomia do Poder Executivo por decisão de um juiz. No Brasil, há um poder excessivo do relator. O Brasil é o único país emque o relator sozinho pode suspender a eficácia de uma emenda constitucional aprovada por três quintos do Parlamento. Olha odesequilíbrio.Outra decisão pendente é o mandado de segurança que está com Celso de Mello, que poderia afastar Bolsonarodo cargo. Como o sr. vê essa possibilidade? Do jeito que eu fico falando, parece que sou bolsonarista, e eu odeio essehomem. Mas está errado também. O presidente só pode ser afastado do cargo por impeachment, aceitação do processo decrime comum pela Câmara e renúncia. Fora desses casos, não pode. A lei federal normal não pode estipular mecanismos deretirada do presidente do poder. Só a Constituição pode estipular.Esse tipo de situação ajuda a vitimizar o presidente, a construir o discurso de que está sendo vítima de umaditadura judiciária? Acho que não, porque decisões judiciais são polêmicas sempre. O que a gente tem de fazer é entenderque estamos numa democracia. E numa democracia decisões de Suprema Corte você critica. Esse debate vai criando umconstrangimento, o Judiciário com o tempo acaba mudando, se aperfeiçoando. Agora, não dá para ele [Bolsonaro] falar que évítima, porque não foi só ele. Todos os presidentes passaram por isso, por coisa parecida.O sr., que assumidamente tem posturas de esquerda, como se vê nessa situação de estar do lado do Bolsonaronesse caso? Nenhum problema, já fiz isso várias vezes. Eu sou constitucionalista. O constitucionalista é o espalha-roda. Defendi[o ex-presidente Michel] Temer quando quiseram prendê-lo. Defendi o Aécio Neves quando equivocadamente pediram a prisãodele. Defendi o Eduardo Cunha, porque achei que era inconstitucional sua prisão. Sempre ações não simpáticas. Mas esse é opapel nosso como constitucionalista. Ser contramajoritário, contra a onda.E o que o sr. acha dos seus colegas de esquerda que aplaudiram a decisão do ministro? É um equívoco deles. Oproblema é que nós perdemos a capacidade de construir "common ground" [posições comuns]. E com isso perdemos acapacidade de entender a Constituição, seus princípios e seus direitos como universais. O discurso é: “eu quero que os direitosse apliquem a mim e aos meus companheiros, não aos outros”. Isso é seríssimo, porque estamos retirando a condição humanado adversário.Raio-XPedro Serrano, 56Advogado, é professor de direito constitucional da PUC-SP, mestre e doutor em direito do Estado pela mesma instituição, compós-doutorado pela Universidade de Lisboa

Lula critica decisão do Supremo que barrou escolha deBolsonaro para a PF1º.mai.2020 à 0h006-8 minutos

O ex-presidente Lula (PT) criticou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de barrar anomeação feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de Alexandre Ramagem para a chefia da Polícia Federal.Na opinião de Lula, a atitude do ministro só se justificaria caso ficasse provado que Ramagem cometeu algum ilícito que oimpedisse de ocupar o cargo. O ex-presidente afirmou em entrevista ao UOL nesta quinta-feira (30) que as indicações cabem aopresidente da República."Não pode um único juiz da Suprema Corte tomar atitude de evitar. Não podemos permitir que as instituições ajampoliticamente. [...] Que a pessoa prove que o delegado tem um ilicito, aí sim ele está correto [em barrá-lo]", disse.A decisão de Moraes se baseia, principalmente, nas afirmações de Bolsonaro de que pretendia usar a PF, um órgão deinvestigação, como produtor de informações para suas tomadas de decisão.A decisão de Bolsonaro de trocar a chefia da Polícia Federal provocou a saída do então ministro da Justiça Sergio Moro. O ex-juizda Lava Jato não concordava com a nomeação de Ramagem, amigo dos filhos de Bolsonaro, que, por sua vez, são alvos deinvestigações da PF. Moro deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir politicamente nas investigações da PF.No impasse entre Moro e Bolsonaro, Lula centrou as críticas ao ex-ministro e afirmou que "a troca do delegado não pode sernenhum absurdo"."O presidente da República tem mais autoridade para indicar o delegado do que o ministro, afinal de contas foi o presidente daRepública que foi eleito. O que é importante é tratar a instituição de forma republicana, ou seja, não é um instrumento dopresidente da República", disse."Eu não sei qual o crime que o delegado [Ramagem] cometeu. Se ele cometeu algum desvio, obviamente que não poderiamesmo assumir. Mas é preciso que a gente seja preciso, porque um dia você pode ser presidente e você pode querer indicaruma pessoa que você conheça para um cargo e alguém vai dizer que não pode indicar", afirmou Lula ao entrevistador, LeonardoSakamoto.Como de costume, Lula fez diversas críticas a Moro, que como juiz foi o responsável pela condenação do ex-presidente na LavaJato. A sentença foi confirmada em instâncias superiores e Lula acabou preso em abril de 2018.

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O ex-presidente deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba em novembro passado, após decisão do STF quedesautorizou a prisão após condenação em segunda instância. Ele ainda aguarda recursos contra a condenação em tribunaissuperiores.Lula afirmou na entrevista que Moro buscava ter protagonismo maior do que o de Bolsonaro —algo de que o próprio presidenteacusa seu ex-subordinado."O Moro achava que estando no ministério ele poderia ser mais importante que o presidente e não é. E foi por isso, na minhaopinião, que ele caiu. [...] O ministro não pode achar que é mais importante que o presidente da República", afirmou.Segundo Lula os elogios de Moro às gestões do PT, afirmando que elas não intervieram na PF como pretendeu fazer Bolsonaro,só demonstram "mau-caratismo" do ex-juiz. O petista afirmou que Moro deveria ter ido além e reconhecido que mentiu aocondená-lo.Lula afirmou que sempre teve relação institucional com a PF e se defendeu da suspeita de que a troca que promoveu no órgãoem 2007 teve intenção de obter informações para o governo. Segundo Lula, a troca ocorreu porque o então diretor-geral da PFera indicado por seu então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que estava de saída.O ex-presidente também chegou a dizer que seu problema com Bolsonaro, que faz com que ele e o PT defendam o "fora,Bolsonaro", não é a saída do Moro do governo —que acabou rachando a base de apoio do presidente e agravou a crise de seugoverno."Nunca vi a República falir por causa da troca de ministro. Presidente troca de ministro quando quiser [...] Esse não é o problemamaior. O problema maior do Bolsonaro é a falta de capacidade de governança que ele está demonstrando", disse Lula.O petista criticou a postura de Bolsonaro de minimizar a pandemia de coronavírus, de ir contra o isolamento social, de brigarcom governadores e afirmou que faltam medidas econômicas para sair da crise."Bolsonaro tem que ser o maestro da coordenação de evitar o crescimento da pandemia", disse Lula ao criticar o "e daí?" ditopelo presidente a respeito do número de mortos no Brasil ter passado de 5 mil."Ou a gente encontra um jeito de pegar os crimes de responsabilidade que Bolsonaro já cometeu e tira-se ele ou ele vai acabarcom esse país. Ele não tem condições de governar", completou.Lula afirmou que defende o processo de impeachment de Bolsonaro, ressaltou que o da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) teveum julgamento injusto, mas disse que o PT não apresentará pedido para não partidarizar o processo. "Nós achamos que ele[pedido de impeachment] deveria vir de uma entidade da sociedade civil e não de um partido político."Questionado sobre a hipótese de Moro concorrer à Presidência da República em 2022, Lula disse que "pode ser". Mas questionouo preparo do ex-juiz para enfrentar debates e a campanha de rua."Gostaria de enfrentar Moro no primeiro turno. Acho que ele não iria para o segundo turno em nenhuma eleição que tenhadebate", provocou o petista. Porém, nas condições em que se encontra hoje, Lula não poderia concorrer em 2022 devido à Leida Ficha Limpa.Em seguida, contudo, o próprio petista disse que não tem a intenção de concorrer em 2022 porque estará com 77 anos. "Se eutiver juízo, eu tenho que ajudar que o PT tenha outro candidato e que eu seja um bom cabo eleitoral. Já dei minha cota deconstribuição ao país?. Espero que o PT e o país não precisem de mim."

Pivô de crise, chefe da PF comanda estrutura autônomacom 13 mil servidores e 1.500 delegadosCabe a ele e a outros chefes da corporação autorizarem recursosfinanceiros, físicos e humanos para as investigaçõesNo centro de um imbróglio político e jurídico, o diretor-geral da Polícia Federal está no topo de uma estrutura com 13 milservidores, entre policiais e funcionários administrativos, voltada para investigação de crimes, controle da migração efiscalização de atividades como a segurança privada e a circulação de produtos químicos no país.Para 2020, o órgão tem um orçamento autorizado de R$ 5,3 bilhões —outros R$ 2,4 bilhões estão condicionados à aprovação deum projeto de lei que abre créditos suplementares para as despesas correntes.Sob o guarda-chuva do diretor-geral —ou DG, no jargão policial— estão cerca de 1.500 delegados, os quais, a exemplo do queocorre com os procuradores da República no MPF (Ministério Público Federal), têm autonomia para tocar apurações, solicitarmedidas judiciais e tirar suas conclusões em cada caso, com base nas provas reunidas.Embora não haja uma regra expressa a respeito, não é praxe, por exemplo, que esses investigadores encaminhem à cúpula daPF dados e relatórios de inquéritos em tramitação na ponta, exceto se houver uma justificativa para isso —a necessidade de semobilizar grande efetivo para uma operação policial, por exemplo.O diretor-geral não investiga. Sua funções são principalmente de representante institucional e de gestor da PF. Cabe a ele, emúltima instância, e a outros chefes de escalões mais baixos da corporação autorizarem recursos financeiros, físicos e humanospara as investigações.Segundo investigadores ouvidos pela Folha, essa prerrogativa é a que possibilita algum poder de interferência nos trabalhos.Para se deflagrar uma grande operação, por exemplo, com o cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão, é

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necessário mandar grande efetivo a campo e pagar diárias de viagens —o que, necessariamente, depende da caneta dos chefesde delegacias, superintendências e, em alguns casos, dos diretores em Brasília.Também é tarefa do DG, com demais dirigentes da corporação, definir as diretrizes da PF. Sendo assim, ele tem influência nasprioridades do órgão: pode retirar recursos do combate à corrupção e investir mais na repressão ao tráfico de drogas ou vice-versa, por exemplo.O diretor-geral tem ainda papel na definição dos principais cargos da corporação e, portanto, grande influência sobre o que seusocupantes fazem.Uma vez escolhido e nomeado pelo presidente da República, em geral é ele quem escala os outros dirigentes.A PF tem sete diretorias abaixo da Diretoria-Geral, entre elas a de Combate ao Crime Organizado, responsável pelasinvestigações criminais; a Técnico-Científica, que cuida dos trabalhos de perícia; e a de Inteligência, que municia a polícia deinformações consideradas estratégicas.A Casa Civil da Presidência da República é quem nomeia os chefes dessas áreas, mas a tradição é que eles sejam indicados peloDG.No caso dos superintendentes regionais nos estados, a designação é formalmente feita pelo Ministério da Justiça, ao qual a PFtem subordinação orçamentária. A escolha, em geral, também vem do gabinete máximo da polícia. A relativa autonomiainvestigativa é mais calcada na cultura institucional do que em regras escritas.O pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que acusou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de ingerênciana polícia, gerou desconfiança sobre se haverá independência para conduzir inquéritos com potencial de atingir o clã Bolsonaroe seus aliados. A crise requentou a discussão sobre como blindar a instituição de ingerência política.Em carta aberta, a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) pediu a Bolsonaro que envie urgentemente umprojeto ao Congresso prevendo mandato para o DG e que a escolha seja mediante relação previamente apresentada pelosdelegados ao presidente, com sabatina.Esse modelo era adotado para a definição do procurador-geral da República até a nomeação, por Bolsonaro, de Augusto Araspara a função. O chefe do Executivo ignorou lista tríplice com nomes sugeridos pela categoria."O projeto deve garantir ao diretor-geral escolhido pelo presidente a autonomia para nomear e exonerar todos os cargosinternos da PF, mediante a obediência a critérios mínimos objetivos para cada cargo, definidos em lei", propõe a entidade."A partir da nomeação e posse do DG, manda o interesse público que o presidente mantenha uma distância republicana, demodo a evitar que qualquer ato seu seja interpretado pela sociedade como tentativa de intervir politicamente nos trabalhos doórgão, que por sua natureza costuma realizar investigações que esbarram em detentores do mais alto poder político eeconômico, e tem como corolário de suas atribuições constitucionais exercer uma parcela do controle dos atos da administraçãopública federal, incluindo os da própria Presidência da República", afirma a ADPF na carta.Moro deixou o governo após Bolsonaro demitir o então diretor-geral, Maurício Valeixo. O ex-ministro acusou o presidente detentar obter informações de investigações e de estar preocupado com inquéritos que têm potencial de atingir seus filhos ealiados, em curso no STF (Supremo Tribunal Federal).Desde o ano passado, em declarações públicas, o mandatário demonstrava interesse em preencher com pessoas de suaconfiança cargos estratégicos da PF. Nesta quarta-feira (29), o ministro do Supremo Alexandre de Moraes suspendeu anomeação de Alexandre Ramagem, amigo do clã Bolsonaro, para a Diretoria-Geral.

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