degustação "amores mínimos" pólen

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Confira dois contos de “Amores mínimos”, em Pólen ® , o papel do livro e oficial da Flip 2012.

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A Suzano oferece a degustação do livro "Amores mínimos", em lançamento na Flip 2012. Confira dois contos dessa obra em Pólen®, o papel do livro, que por sua cor proporciona mais conforto visual e faz você ler mais e melhor.

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Confira dois contos de “Amores mínimos”, em Pólen®,o papel do livro e oficial da Flip 2012.

A Suzano oferece uma degustação do livro Amores mínimos para que você confira dois contos dessa obracom o conforto de leitura do Papel Pólen®.

Pólen® é o papel do livro.

Sua cor reflete menos luz e deixa a leitura muito mais confortável.

Quanto mais confortável a leitura, mais livros você consegue ler.

Quanto mais livros, mais conhecimento.

Quanto mais conhecimento, melhor para você e todo mundo.

Que seja o início de uma grande história.

Papel Pólen®.Você pode ler mais.

DeguStAção FLIP 2012

o que você tem a ganhar

com a cor do papel de um livro?

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Amores mínimos

A seguir, dois contos do livroAmores mínimosde João Anzanello Carrascoza

Ler estes contos é como receber uma saraivadade pequenas jóias. Trata-se de obras-primasminimalistas, construídas com imagens intri-gantes, que metaforizam o cotidiano numasucessão frenética de transfigurações.

João Silvério Trevisan(trecho da orelha do livro)

CERÂMICA

Ela estava no gramado, aguando as plantas, em frenteà casa que dava diretamente na estrada por onde eu vinha.O sol da tarde fi gurava em seu rosto como se neleencontrasse a moldura perfeita, e a euforia dos pássaros,pressentindo a noite iminente, me bicava a consciência.Seria como das outras vezes, eu apenas passaria por alie a fi taria e, enquanto estivesse sob a minha mira, ela meocuparia toda a mente como uma pedra cortante, mas nomomento em que fi casse para trás, substituída nos meusolhos pela fi leira de eucaliptos, eis que o desejo de me enfiar, pleno, na sua sombra cairia como uma árvore — tãoafi ada é a resignação quanto um machado! Mas a trava,que em mim vivia fechada, de repente se abriu, minhaspernas me moveram para outro rumo, e, se antes eu avia pelos vãos de uma cerca de arame farpado, agora avia entre o vazio dos moirões, à espera de alguém que osultrapassasse. Se calculava errado ou não, só me restavaavançar; ao contrário de Átila, e longe de ser uno, já mesentia mesmo dividido entre o que eu fora a vida toda e opasso que dava àquela hora; me cumpria então ser o homema pisar no seu gramado, e eu fl oresceria a seus pés,embora não soubesse nada dela senão que a via todas astardes, ao voltar da olaria, sempre ali, como um sinal deque a máquina do mundo girava suas pás, indiferente àminha existência. Quando me aproximei, a relva que elaregara me molhou a barra da calça, o verde ondulou emmeus olhos, e, tendo-a, tão fresca, ao alcance dos lábios,

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eu nada lhe disse, apenas a olhei como se olha uma vida,inteira, e, seguindo para a porta da casa que me chamavapara cruzá-la, ouvi o rumor de suas sandálias atrás demim, sabendo que se movia com o vento dos meus moinhos.Como um ulisses, meu corpo sabia mais daquelacasa do que minha mente, e fui me levando pela escada àplanta de cima, e encontrei o quarto eleito, onde o sol seinfi ltrava pela janela com displicência. Deitei na cama e aesperei e, se ela entrou logo em seguida, pela primeira eúnica vez, sei que nela me entrei para sempre.

vinha pela estrada de terra, a mesma que margeiao gramado de casa e segue pela linha de eucaliptos, e apesarde ignorar tudo de sua vida, eu sabia, como todo dianasce do ventre de uma noite, que ele vinha da olaria. Nãoporque tivesse as mãos e o rosto sujos, mas porque eu podiaver, a cada tarde, quando por aqui ele passava, quetinha barro no jeito de se mover, e era essa humanidadeque me atraía. Eu molhava o gramado, e não estranhei asua mudança de passo, era como uma planta que esperaa sua água — e eis que, de repente, a cortina de chuva sedeslocava em minha direção! Ao redor, o silêncio se escoava,em gotas, engolido pelo canto dos pássaros, àquelahora de volta ao ninho, excitados pela escuridão que embreve se instalaria. Continuei a rega, fi ngindo que nãopercebera sua alteração de rota, mas, como uma árvore àbrisa, apesar do tronco rijo e inerte, todo meu ser se agitava,o que era galho em mim ondulava, e subia e desciaà superfície o meu desejo mudo de sereia. Então ele saiuda estrada e se acercou de minha relva úmida, e eu pudecaptar o que a terra sentia a cada um de seus passos, a

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sua coragem resoluta, porque se o instante era de areiamovediça para nós dois, foi ele quem o pisou primeiro,e me pareceu, ou foi meu olhar que depois ele atravessouseguindo para a porta de casa, que o sol ainda vivoe rastejante tentava morder seus pés no calcanhar, mascomo a sombra de Aquiles a barra da calça o protegia.Sem saber se havia alguém comigo, ou lá dentro, e, antesde subir as escadas à minha frente e deitar-se na cama,parou e me olhou de forma tão intensa com a sua vistaverde, esculpindo-me de uma vez, como se tivesse avida toda se habituado à minha argila. Fui no seu encalço,as sandálias seguindo o mapa que ele desenhava no meupróprio terreno. E quando me deitei sobre ele, saí de mim,totalmente, como quem sai de dentro da pele, e atirei-mede lado feito uma roupa, para nunca mais deixar de ser aoutra em que me transformei.

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TRAÇOS

As evidências não enganam, não. Aquele ali? Não, orosto é de menino, não me diz nada. Olha o nariz, perfeitodemais… Vai agradar gregas e troianas, veja a vizinhaali, do guarda-sol vermelho, até mudou de posição, masnão dou a ele um grão dessa areia. Sabe aqueles búziosespiralados, no meio dos rochedos? Aqueles brancos, queenchem a ponta da praia? Exato! São lindos, mas quebramcomo unhas. Pois é, servem só pra gente ver, e delonge! Olha, nada que é divino me interessa. Só os defeitosme atraem. Gosto de Júpiter pelos seus deslizes. Não avitória sobre os titãs, mas a fraqueza pelas mortais. Qual?O musculoso, de calção preto, saindo da água? Concordo,um rochedo, a gente vai descobrindo aos poucos, não dápra ver tudo de uma vez. As pernas são de Mercúrio, eudiria, uma massa bem torneada. Bíceps de Hércules, reparecomo brilham… Mas é um falso tubarão. Vem vindopra cá, vai passar, preste atenção. O que tá errado? Ora,você não percebeu? É só a casca, valva dura. Os olhos desmentemo corpo, os olhos só têm dunas, não têm marnenhum. O quê? Ah, aquele lá no fundo, nadando? Percebi,sim, quem é que não nota um barco à deriva? Pelequeimada de sol, caiçara. E, como todo caiçara, vive de seexibir pra turistas, não arreda o pé dessa paisagem. Se fosseum argonauta, que abandona tudo por um ideal... Mas,não, é igualzinho àquelas conchas rosadas, a gente se encantaà primeira vista, depois deixa de lado. O meu tipo?Eu prefi ro o de traços fortes. Traços, não. Sulcos. Gostodaquele ali, tá vendo? Não, o de tatuagem, não, tatuagemé coisa de garoto. Aquele, o da cicatriz no rosto. Faca oucaco de vidro, o que você acha?

João Anzanello Carrascoza nasceu emCravinhos, São Paulo, em 1962. É autor de

, e, entre outros. Algumas de suas

histórias foram traduzidas para o inglês, francês,italiano, sueco e espanhol. Dos prêmios querecebeu, destacam-se o Guimarães Rosa/RadioFrance Internationale e o Jabuti.

Dias

raros O volume do silêncio Espinhos e

alfinetes

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