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89 Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 3, p. 89-113, jul./dez. 2016 De volta para o futuro: a personalidade autoritária e a contemporaneidade da teoria crítica 1 Roberto LARA 2 Mirlene Fátima Simões Wexell SEVERO 3 Resumo: O presente artigo busca demonstrar a atualidade da Teoria Crítica. Fundamenta-se nos discursos de Theodor Adorno e Walter Benjamin sobre o fascismo e sobre a reescrita da História, e na sua relação com o pensamento de e Hannah Arendt. Faz uma reflexão sobre o cenário político brasileiro contemporâ- neo, tendo como contraponto artigos, notícias, e outras manifestações expressas na mídia tradicional e internet. Diante dessa análise, conclui que o pensamento Teoria Crítica permanece atual e se constitui em um dos dispositivos de resistên- cia às tendências autoritárias. Palavras-chave: Teoria Crítica. Personalidade Autoritária. Reescrita da História. 1 Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Estácio de Sá como requisito do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Sociologia. 2 Roberto Lara. Especialista em Sociologia pela Universidade Estácio de Sá. Especialista em História e Cultura do Brasil pela Faculdade de Educação da Universidade Gama Filho (UGF). Licenciado em História pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 3 Mirlene Fátima Simões Wexell Severo. Doutora e Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Araraquara (SP). Licenciada em Ciências Sociais pela mesma instituição. E-mail: <[email protected]>.

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Ling. Acadêmica, Batatais, v. 6, n. 3, p. 89-113, jul./dez. 2016

De volta para o futuro: a personalidade autoritária e a contemporaneidade da teoria crítica1

Roberto LARA2

Mirlene Fátima Simões Wexell SEVERO3

Resumo: O presente artigo busca demonstrar a atualidade da Teoria Crítica. Fundamenta-se nos discursos de Theodor Adorno e Walter Benjamin sobre o fascismo e sobre a reescrita da História, e na sua relação com o pensamento de e Hannah Arendt. Faz uma reflexão sobre o cenário político brasileiro contemporâ-neo, tendo como contraponto artigos, notícias, e outras manifestações expressas na mídia tradicional e internet. Diante dessa análise, conclui que o pensamento Teoria Crítica permanece atual e se constitui em um dos dispositivos de resistên-cia às tendências autoritárias.

Palavras-chave: Teoria Crítica. Personalidade Autoritária. Reescrita da História.

1 Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Universidade Estácio de Sá como requisito do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Sociologia.2 Roberto Lara. Especialista em Sociologia pela Universidade Estácio de Sá. Especialista em História e Cultura do Brasil pela Faculdade de Educação da Universidade Gama Filho (UGF). Licenciado em História pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 3 Mirlene Fátima Simões Wexell Severo. Doutora e Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Araraquara (SP). Licenciada em Ciências Sociais pela mesma instituição. E-mail: <[email protected]>.

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Back to the future: authoritarian personality and the contemporaneity of critical theory

Roberto LARAMirlene Fátima Simões Wexell SEVERO

Abstract: This article seeks to demonstrate the relevance of Critical Theory. It is based on the speeches of Theodor Adorno and Walter Benjamin on fascism and the rewriting of history, and its relationship with the thought of Hannah Arendt. Reflects on the contemporary brazilian political scene, with the counterpoint of articles, news, and events expressed in traditional media and internet. Given this analysis we conclude that the thinking of Critical Theory remains relevant and constitutes one of the means of resistance to authoritarian tendencies.

Keywords: Critical Theory. Authoritarian Personality. Rewriting History.

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1. INTRODUÇÃO

Uma das restrições feitas ao pensamento da Teoria Crítica da chamada Escola de Frankfurt4 é que a sua fixação no registro da crítica negativa, decorrente da experiência vivida com os estados totalitários – URSS de Stalin e Alemanha de Hitler –, com a guerra e com o holocausto, estaria superada e fora do contexto históri-co (ALVES, 2015). Em oposição a essa crítica, o presente artigo buscará demonstrar que a linha de pensamento refletida na Teoria Crítica, com ênfase na recorrência da personalidade autoritária e na reescrita da história, ainda permanece atual neste século XXI.

Acerca da Personalidade Autoritária, os discursos de Theodor Adorno – Personalidade Autoritária e a Educação após Auschwitz –, sem dúvida, inspiram e se constituem na linha mestra do tema sem, no entanto, restringir a contribuição de outros pensadores. A narrativa de Hannah Arendt sobre o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém, apesar de não compor o conjunto de obras da Teoria Crítica, foi incluída por interagir com a questão do preconceito e instrumentalidade tratada nos discursos de Adorno.

Acerca da reescrita da História, os referenciais teóricos serão as Teses de filosofia da História, também conhecidas como Sobre o conceito de História, de Walter Benjamin, escritas em 1939 e publi-cadas postumamente em 1942, em um número especial da Revista do Instituto de Pesquisa Social.

Apesar dos avanços sociais ocorridos principalmente a partir da onda mundial de contestação de 1968 e refletidos nas relações de gênero, de etnia e origem, nos direitos humanos, na liberdade de pensamento e expressão, a mentalidade conservadora, latente no pensamento da sociedade industrial do Ocidente, ganhou terreno principalmente após o fim do comunismo no Leste Europeu.

Os fatos recentes presenciados pela sociedade brasileira que redundaram na crise político-partidária e no afastamento da pre-4 No presente artigo, o termo Escola de Frankfurt será utilizado com o sentido que lhe atribui Bárbara Freitag: “[...] refere-se simultaneamente a um grupo de intelectuais e a uma teoria social [...] procura-se designar a institucionalização dos trabalhos de um grupo de intelectuais marxistas não ortodoxos, que na década de 20 permaneceram à margem de um marxismo-leninismo clássico” (FREITAG, 1994, p. 9-10).

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sidente eleita em 2014 demonstram que a estabilidade das insti-tuições que garantem esses avanços sociais pode ceder diante de um sentimento conservador, nos moldes daquele conceituado por Adorno em A Personalidade Autoritária. Com uma herança histó-rica de dominação colonialista, escravidão e a República marcada por atos de exceção e ditaduras, os traços autoritários da socieda-de brasileira são fáceis de reconhecer. Na medida em que já estão presentes os potenciais antidemocráticos que consentiram com a exploração humana, as torturas e degolas, impedir que essa bar-bárie se repita deveria ser objetivo primeiro de qualquer política emancipadora e humanista.

Mapeando a rota para o futuro

A rota para nossa jornada será determinada a partir de quatro discursos, que, como marcos referenciais, buscarão situar o pensa-mento da Teoria Crítica diante do espaço ideológico contemporâ-neo.

Os discursos dos autores de Frankfurt, Theodor Adorno e Walter Benjamin, abordam respectivamente a latência das dispo-sições fascistas, a educação emancipadora e o conceito de Histó-ria do ponto de vista do materialismo histórico. São exemplos do pensamento da Teoria Crítica, concentrados na Dialética da Razão Iluminista, tema-chave em toda produção da Escola de Frankfurt. Os trabalhos selecionados ilustram a produção frankfurtiana entre 1939 e 19655.

A obra de Hanna Arendt Eichmann em Jerusalém – Um rela-to sobre a banalidade do mal dialoga intimamente com o discurso de Adorno, na medida em que trata da banalidade do mal, fenôme-no recorrente nos regimes totalitários. Segundo Maria Rita Kehl, Arendt “sugere que a banalidade do mal tem a ver com a paixão da instrumentalidade”6, fazendo eco à Dialética da Razão.5 Freitag (1994, p. 10-30) considera a evolução da Teoria Crítica em 4 momentos: a criação Instituto de Pesquisa Social vinculado à Universidade de Frankfurt em 1923 até o seu fechamento por determinação do governo nazista em 1933; a migração e os trabalhos produzidos no EUA até 1950; a recriação do Instituto novamente na cidade de Frankfurt em 1950 e o renascimento da Teoria Crítica a partir de 1970.6 Banalidade do Mal na Atualidade. Debate ocorrido dia 23/05/2015 na Livraria da Vila – Unidade Higienópolis com Marcia Tiburi e Maria Rita Kehl.

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A Banalidade do Mal – Hannah Arendt, 1963

Em 1961, a convite da revista semanal The New Yorker, Hannah Arendt viajou para Israel para cobrir, em Jerusalém, o julgamento de Adolf Eichmann.

É inegável o caráter simbólico da escolha da revista, convi-dando uma prestigiada filósofa, com passagens por várias univer-sidades do EUA, alemã de origem judia e emigrada em 1941 por conta da política racista na Europa ocupada pelos nazistas. Também simbólico foi o julgamento de um criminoso de guerra, não pelas autoridades aliadas vencedoras do conflito, mas por Israel, um jo-vem Estado fundado em 1948 por aquele grupo etno-religioso que o nazismo discriminou, prendeu e matou de forma sistemática e avassaladora. A importância do julgamento para a nova nação pode ser avaliada pela decisão oficial de filmar todo o julgamento, distri-buindo as sessões diariamente para 38 estações de TV do mundo7.

A participação do Obersturmbannführer (tenente coronel) Otto Adolf Eichmann, nos planos e nas ações de extermínio de ju-deus na Europa ocupada, foi constatada durante os processos de Nuremberg, em que seu nome aparece como chefe do Escritório para Questões Judaicas IV-B-4 (Office for Jewish Questions IV-B-4) das SS (Schutzstaffel of the NSDAP and Reich police and securi-ty services)8, no período 1938-1945.

Foragido na Europa desde 1946 após escapar de um campo de prisioneiros, Eichmann emigrou para a Argentina em 1950 com um passaporte falso fornecido pela Cruz Vermelha. Localizado e identificado pelo serviço secreto de Israel, o Mossad, em 1960 foi sequestrado em Buenos Aires e conduzido a Israel para ser julgado. O julgamento iniciou-se em 11 de abril de 1961 e o veredito foi pronunciado em 11 de dezembro de 1961, com Eichmann sendo considerado culpado por crimes contra o povo judeu, crimes contra a humanidade e sentenciado à morte por enforcamento. A pena foi executada em 31 de maio de 1962, na prisão de Ramla em Israel.7 The Eichmann Trial On East German Television. As gravações produzidas estão disponíveis num canal do YouTube, disponível em <https://www.youtube.com/user/EichmannTrialEN/featured>. A história da produção dos programas é narrada no filme The Eichmann Show (2015).8 Who Was Who in Nazi Germany. Harvard Law School Library. Nuremberg Trial Project.

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A narrativa de Hannah Arendt sobre o julgamento de Eichmann foi publicada na The New Yorker9 em cinco artigos a partir da edição de 16 de fevereiro de 1963. Uma versão ampliada dessa narrativa deu origem ao livro Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal, também publicado em 1963.

Contrastando com o espetáculo histórico encenado pelo tri-bunal10, tendo como objeto do libelo acusatório a barbárie perpe-trada contra 6 milhões de pessoas, numa escala nunca vista antes, o réu frustrou todas as expectativas. Em vez de uma figura raivosa, manifestando explícito ódio aos judeus, a verdadeira presença do mal absoluto, o que se viu foi um homem comum. Igual aos milha-res de outros que viveram na Alemanha durante o 3º Reich e que, nas suas próprias palavras, tinha sido um bom cidadão que apenas cumpriu com dedicação o trabalho que lhe havia sido designado pelo Estado. Em oposição ao mal absoluto – “absoluto, porque já não pode ser atribuído a motivos humanamente compreensíveis” (ARENDT, 2013, p. 6) –, a expressão utilizada por Arendt foi ba-nalidade do mal:

[...] algo bastante factual, o fenômeno dos atos maus, co-metidos em proporções gigantescas – atos cuja raiz não iremos encontrar em uma especial maldade, patologia ou convicção ideológica do agente; sua personalidade desta-cava-se unicamente por uma extraordinária superficialida-de” (ARENDT, 1993, p. 145 apud ANDRADE, 2010, p. 111).

O SS Obersturmbannführer Adolf Eichmann, Chefe da Subseção IV-B-4, Questões Judaicas do RSHA (Reichssicherheitshauptamt – em português, Escritório Central de Segurança do Reich), perito em questões judaicas que estava sendo julgado, nunca havia comandado um campo de concentração ou de extermínio, não havia participado de combates, nem dos Einsatzgruppen, comandos de execução da SS para a guerra no front Leste. Enfim, era um mero burocrata empoderado pela máquina estatal que dirigia as operações administrativas e de logística das 9 EICHMANN IN JERUSALEM. The New Yorker Magazine.10 De acordo com Arendt (2013, p. 10, destaque da autora): “Dessa forma, o julgamento nunca se transformou numa peça, mas o espetáculo que Ben-Gurion tinha em mente desde o começo efetivamente aconteceu, ou melhor, aconteceram as ‘lições’ que ele achou que devia ensinar aos judeus e aos gentios, aos israelenses e aos árabes, em resumo, ao mundo inteiro”.

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deportações de judeus da Alemanha e dos países ocupados, do seu transporte para os campos de concentração e finalmente, a partir de 1941, para a Solução Final, i.é, os campos de extermínio. Nas suas palavras ao Tribunal “[...] ele sempre fora um cidadão respeitador das leis, porque as ordens de Hitler, que sem dúvida executou o melhor que pôde, possuíam ‘força de lei’ no Terceiro Reich” (ARENDT, 2013, p. 20, grifo da autora), e “[...] Ele cumpria o seu dever, [...]; ele não só obedecia ordens, ele também obedecia à lei” (ARENDT, 2013, p. 93).

A superficialidade do comportamento do acusado em relação aos crimes que lhe eram atribuídos levou Hannah Arendt a formu-lar a expressão banalidade do mal. O mal representado pelos atos de Eichmann no cumprimento da lei não é radical, mas é extremo. Apesar de não radical, constituído de meros atos burocráticos que parecem desprovidos de essência, no conjunto leva a consequên-cias desastrosas. É um mal banal porque não tem motivação, ideo-logia, patologia, mística. Ocorre simplesmente pela ausência de jul-gamento – ausência de pensamento – do agente que se escuda nas convenções e nas engrenagens do sistema para apoiar suas ações.

O problema com Eichmann era exatamente que muitos eram como ele, e muitos não eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais. Do ponto de vista de nossas instituições e de nos-sos padrões morais de julgamento, essa normalidade era muito mais apavorante do que todas as atrocidades juntas, pois implicava que – como foi dito insistentemente em Nu-remberg pelos acusados e seus advogados – esse era um tipo novo de criminoso, efetivamente hostis generis huma-ni, que comete seus crimes em circunstâncias que tornam praticamente impossível para ele saber ou sentir que está agindo de modo errado (ARENDT, 2013, p. 186, grifo do autor).

Segundo Andrade (2010, p. 115, itálicos nossos) Arendt, em As Origens do Totalitarismo, postula duas características da socie-dade de massas que contribuem para a banalidade do mal: a su-perficialidade e a superfluidade. De forma geral, o mal se torna banal porque os agentes são superficiais e suas vítimas são consi-deradas supérfluas. Arendt afirma ainda que superfluidade tem sido

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um fenômeno decorrente do sentido extremamente utilitário das sociedades de massa: “Grandes massas de pessoas constantemen-te se tornam supérfluas se continuamos a pensar em nosso mundo em termos utilitários” (ARENDT, 1989, p. 510 apud ANDRADE, 2010, p. 115).

Apesar disso, a banalidade do mal não é uma justificativa para os crimes cometidos. A banalidade não significa algo sem im-portância ou que seja normal. Significa algo que ocupa indevida-mente o espaço do cotidiano. O mal torna-se banal não por ser comum, mas por ser vivenciado como se fosse comum.

A Personalidade Autoritária – Theodor Adorno, R. Nevitt Sanford et al., 1950

A Personalidade Autoritária foi publicada em 1950 por Harper & Brothers, NY, e apresenta os resultados e as conclusões obtidas a partir da pesquisa conduzida conjuntamente pela Universidade da Califórnia no âmbito do Berkeley Public Opinion Study e pelo Institute of Social Research da Universidade de Columbia sobre as predisposições psicossociais para o fascismo. Conforme o prefácio da obra, escrito por Max Horkheimer, na ocasião diretor do Instituto of Social Research:

O presente trabalho, esperamos, encontrará um lugar nesta história de dependência mútua entre ciência e clima cul-tural. Seu objetivo último é abrir novos caminhos numa área de pesquisa que pode se tornar de significado prático imediato. Ele procura desenvolver e promover o entendi-mento dos fatores sociopsicológicos que tornam possível ao tipo autoritário ameaçar substituir o tipo democrático e individualista dominante em nossa civilização no último século e meio, assim como os fatores por meio dos quais essa ameaça pode ser contida. A análise progressista desse novo tipo antropológico, bem como de suas condições de crescimento, por meio de sua permanente diferenciação científica, fortalecerão as chances de um contra-ataque genuinamente educativo (ADORNO et al., 1950, p. 10, tra-dução nossa).

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A pesquisa de campo que deu origem aos estudos publicados em A Personalidade Autoritária foi conduzida entre 1944 e 1947 com grupos de indivíduos selecionados entre classes de universitários (Universidade da Califórnia), população carcerária (San Quentin Prison State), associações comunitárias e religiosas (Lions, Rotary Clubs, Parent-Teachers’ Association, League of Women Voters, Suburban Church Group), associações de classe de trabalhadores etc. A amostra foi composta por 2099 indivíduos adultos, entre 20 e 35 anos, não participantes de partidos ou milícias políticas, incluindo 110 presos cumprindo pena de reclusão em San Quentin e 121 pacientes da Clínica Psiquiátrica da Universidade da Califórnia.

A fim de qualificar o potencial antidemocrático individual, foram utilizadas as seguintes técnicas de coleta de dados:

a) questionários em que se destacam as escalas opinião-ati-tude (opinion-attitude scales) utilizadas para a obtenção de uma estimativa das seguintes tendências ideológicas11 superficiais do entrevistado: antissemitismo (AS scale), etnocentrismo (E scale) e conservadorismo político e econômico (PEC scale). Posteriormente foi incluída uma nova escala opinião-atitude para apuração de tendências antidemocráticas. A F scale, como foi denominada, foi elaborada com duplo objetivo: avaliação indireta do pre-conceito etnocêntrico, sem referência a grupos minoritá-rios, e avaliação das disposições latentes na personalidade que tornam o indivíduo inclinado a concepção fascista de vida.

[…] a escala para medir as tendências potencialmente an-tidemocráticas na personalidade representou uma nova abordagem ao conteúdo da pesquisa. A solução foi reunir em uma escala itens que, por hipótese e pela experiência clínica, poderiam ser considerados como “gatilhos” de tendências que atuam relativamente fundo na personali-dade, e constituem numa disposição do indivíduo para ser influenciado por, ou para expressar de forma espontânea (em uma ocasião apropriada), ideias fascistas.

11 Conforme os autores no capítulo I – Introdução: “O termo ideologia é usado neste livro do modo que é comum na literatura corrente, para dar conta de uma organização de opiniões, atitudes e valores um modo de pensamento do homem e da sociedade” (ADORNO et al., 1950, p. 10).

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As declarações dessa escala não eram diferentes, na forma, daquelas que compunham as escalas das tendências ideo-lógicas superficiais; eram expressões diretas de opinião, de atitudes ou de valor sobre vários temas do convívio so-cial – mas normalmente não abordados nas manifestações dos pontos de vista político ou socioeconômico. Sempre intercaladas com declarações de outras escalas, que trans-mitiam pouco ou nada quanto à natureza da real questão avaliada. Elas foram concebidas para servir como raciona-lizações de tendências irracionais (ADORNO et al., 1950, p. 15, grifo do autor; tradução nossa).

O conteúdo básico da F Scale foi constituído por nove variáveis, cada uma considerada como uma disposição latente no indivíduo, a saber: 1. Conventionalism (convencionalismo); 2. Authoritarian submission (submissão acrítica); 3. Authoritarian aggression (agressividade autoritária); 4. Destrunction and cynicism (destruição e cinismo); 5. Powers and toughness (poder e rudeza); 6. Superstition and stereotipy (superstição e estereotipia); 7. Anti-intraception (exteriorização); 8. Projectivity (projeção); 9. Sex (sexo) (TEIXEIRA; POLLO, 1975, p. 51-53).

b) Entrevistas de modelo clínico, aplicadas aos indivíduos que apresentaram muito altas ou muito baixas pontuações nas escalas opinião-atitude AS e E e Testes de Apercepção Temática – TAT, para corroboração e complementação dos dados obtidos.

Esse conjunto de disposições encontradas no indivíduo preconceituoso denominou-se personalidade autoritária ou síndrome autoritária. Essas características são adquiri-das durante o processo de socialização do indivíduo,

[...] e atuam na formação e sustentação das representações psicológicas e no comportamento etnocêntrico do sujeito. Uma vez formada, a síndrome autoritária funciona como uma estrutura de personalidade, mais ou menos perma-nente, que atua no modo do sujeito selecionar os estímu-los ideológicos que o clima cultural de sua época propicia, assim como nas suas opções e comportamentos políticos (CARONE, 2012, p. 15, grifos do autor).

Para os autores da pesquisa, a personalidade é um conjun-to de forças organizadas no interior do indivíduo que contribuem

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com resposta comportamental às situações a que é submetido. É na personalidade autoritária que se encontra a consistência verbal ou física do comportamento discriminatório.12

Com A Personalidade Autoritária, os estudos sobre o precon-ceito concentraram-se sobre o indivíduo e sobre o processo social e familiar da sua formação. Trouxeram novos conhecimentos sobre o tema e demonstraram que o objeto do preconceito (judeus, negros, ciganos, homossexuais etc.) é interpermutável, i.é, somente atende à necessidade psicológica da personalidade do indivíduo potencial-mente fascista, um tipo recorrente na sociedade.

Educação após Auschwitz – Theodor Adorno, 1965

Educação após Auschwitz foi o tema de uma palestra pro-ferida na rádio de Hessen, por Theodor Adorno, em 18 de abril de 1965. Foi publicada originalmente em Zum Bildungsbegriff der Gegenwart13, uma coletânea de artigos de diversos autores sobre educação, em Frankfurt, no ano de 1967. Nela Adorno chama aten-ção para a pouca consciência em relação ao reconhecimento da barbárie nas ações promovidas pelos nazistas na Europa na primei-ra metade do século XX e que culminaram com o Holocausto14.

Segundo Adorno, essa pouca consciência é prova de que ain-da persistem as condições que permitiram a barbárie de Auschwitz. Chama atenção para o fato de que, no mundo contemporâneo, as forças políticas e econômicas, em um processo civilizatório extre-mamente tecnocrático e instrumental, só permitem a modificação desse contexto por meios subjetivos. Assim, considera que a prin-cipal força subjetiva para impedir a repetição do Holocausto é a educação que, no seu entendimento, tem como objetivos essenciais

12 Para Carone (2012, p. 20, grifo do autor): “[...] não há dúvida, no entanto, que o combustível do comportamento discriminatório é o preconceito; uma vez formado, o preconceito faz parte da estrutura psíquica e pode ser “acionado” pelo comando psicológico do fascismo ou permanecer num estado latente, quando o sujeito vive numa sociedade que censura, condena e pune a discriminação”.13 Zum Bildungsbegriff der Gegenwart. Beiträge von Theodor W. Adorno, Wilhelm R. Gaede, Heinz- -Joachim Heydorn, Gernot Koneffke, Hans Rauschenberger, Ernst Schütte. Verlag Moritz Diesterweg, Frankfurt/M. - Berlin - München, 1967.14 O texto utilizado no presente artigo foi o publicado em Alves (2015, p. 22-30).

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promover o domínio pleno do conhecimento e recuperar a capaci-dade de reflexão individual.

Retoma as considerações de A Personalidade Autoritária ao postular que as raízes da barbárie têm que ser buscadas nas mar-cas do caráter dos perseguidores e não nas vítimas. Dessa forma, fazem-se necessários o reconhecimento e a revelação dos meca-nismos que disparam o preconceito, racionalizam a discriminação e conduzem a atitudes desprovidas de consciência. Para Adorno, a educação na primeira infância e, posteriormente, a educação com o esclarecimento têm como meta principal promover a autorreflexão crítica, a fim de produzir um clima social que inibe a personalidade autoritária e o preconceito.

Adorno destaca que atitudes aparentemente ingênuas como o comportamento dos espectadores em eventos esportivos, ritos de passagem ou de iniciação, como os trotes universitários, podem as-sumir feições de caráter agressivo e brutal, revelando disposições latentes para dominação. A própria educação, quando baseada na severidade e disciplina, em detrimento da reflexão e da crítica, con-tribui para inculcar “gatilhos” de tendências autoritárias que condu-zem ao preconceito e racionalizam a crença de que o “duro”, resis-tente aos rigores físico e psicológico, é superior e deve dominar o outro, indiferente à sua dor. Assim, após Auschwitz “[...] se impõe a promoção de uma educação que não premia a dor e capacidade de suportá-la [...]” (ADORNO, 1995, p. 119-138 apud ALVES, 2015, p. 26).

Ainda com relação à reflexão e à consciência, Adorno (apud ALVES, 2015, p. 27) destaca o poder dos coletivos, cuja pressão dominante e civilizatória dissolve a individualidade e o particular. A fé cega no coletivo cria o tipo social definido na Personalidade Autoritária como de “caráter manipulador” com disposição para tratar o outro como massa amorfa. Distingue-se pela fúria organi-zativa, pela ausência de emoção, por um realismo exagerado, pela vontade de “fazer” – doing things – a qualquer preço, indiferente ao conteúdo moral da ação, em nome da eficiência. Respaldado por uma consciência coisificada que reconhece o outro como um objeto sobre o qual pode impor a sua razão, não existe motivo para

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remorso pelos seus atos. A coisificação das relações e, consequen-temente, da consciência é a marca de uma sociedade que passa a considerar a técnica como um fim em si mesmo, em detrimento da sua função social e de extensão do indivíduo. Nessas condições, o processo civilizatório pauta-se exclusivamente pela razão instru-mental e inibe o esclarecimento e a emancipação do indivíduo, re-quisitos primeiros para impedir a repetição da barbárie.

Toda educação deve ter como objetivo impedir que o Holo-causto se repita. É preciso que se estude e esclareça as forças mais profundas que conduzem as formas políticas. Sobretudo,

Será preciso tratar criticamente um conceito tão respei-tável como o da razão do Estado, para citar apenas um modelo: na medida em que colocamos o direito do Estado acima do de seus integrantes, o terror já passa a estar po-tencialmente presente (ADORNO, 1995, p. 119-138 apud ALVES, 2015, p. 30).

Tese 7 sobre o conceito da História – Walter Benjamin, 1940

O texto de Walter Benjamin, transcrito a seguir, apresenta uma crítica ao historicismo positivista cujo método parte da empa-tia e “[...] compraz-se no sentir, ou consentir, com os dominantes do passado” (FUNARI, 1996, p. 49). O texto, por si, ilustra a contra-partida do materialismo histórico que duvida dos vencedores e que norteará a questão da reescrita da História abordada na conclusão.

Fustel de Coulanges recomenda ao historiador interessa-do em ressuscitar uma época que esqueça tudo o que sabe sobre fases posteriores da história. Impossível caracterizar melhor o método com o qual rompeu o materialismo histó-rico. Esse método é o da empatia. Sua origem é a inércia do coração, a acedia, que desespera de apropriar-se da verda-deira imagem histórica, em seu relampejar fugaz. Para os teólogos medievais, a acedia era o primeiro fundamento da tristeza. Flaubert, que a conhecia, escreveu: “Peu de gens devineront combien il a fallu être triste pour ressusciter Carthage”. A natureza dessa tristeza se tomará mais clara se nos perguntarmos com quem o investigador historicista estabelece uma relação de empatia. A resposta é inequí-voca: com o vencedor. Ora, os que num momento dado

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dominam são os herdeiros de todos os que venceram antes. A empatia com o vencedor beneficia sempre, portanto, es-ses dominadores. Isso diz tudo para o materialista históri-co. Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais. O materialista histórico os contempla com distanciamento. Pois todos os bens cultu-rais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode refletir sem horror. Devem sua existência não somente ao esforço dos grandes gênios que os criaram, como à corvéia anônima dos seus contemporâneos. Nunca houve um mo-numento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbá-rie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultu-ra. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo (BENJAMIN, 1986, p. 225 apud ALVES, 2015, p. 20, grifo nosso).

2. DE VOLTA PARA O FUTURO

Infelizmente acabou com a morte desse menor, mas na verdade o policial só tava fazendo o trabalho dele. A gente tá aqui pra apoiar o trabalho da polícia e dizer que esta-mos a favor da ação deste policial. Não porque mataram o menino, mas porque acreditamos que foi só um desfecho infeliz. Ele tava fazendo o trabalho dele. A polícia tá aqui pra defender a gente15.

Episódio 1 – o mal como cotidiano

Um adolescente de 15 anos foi encontrado preso a um poste por uma trava de bicicleta, no Aterro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro (LUCCIOLA, 2015). O menor foi espancado, teve as roupas arrancadas e apresentava um ferimento na orelha decor-15 Entrevista concedida por moradora da Zona Sul de São Paulo, presente na manifestação de apoio aos PMs envolvidos na morte com um tiro na cabeça de um garoto de 10 anos em perseguição e alegado confronto com a polícia. A manifestação ocorreu em 19/06/16 durante a reconstituição do crime e foi veiculada pela mídia (jornais e TV). Grupo faz protesto em apoio aos PMs envolvidos na morte de menino (SOARES, 2016).

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rente de um golpe de faca. Foi libertado pelo Corpo de Bombeiros, chamado por moradores que presenciaram a cena. O fato foi co-mentado pela apresentadora do Jornal do SBT, Rachel Sheherazade na edição do dia 4 de fevereiro de 2014 com as seguintes palavras:

O marginalzinho amarrado ao poste era tão inocente que em vez de prestar queixa contra seus agressores, ele pre-feriu fugir antes que ele mesmo acabasse preso. É que a ficha do sujeito está mais suja do que pau de galinheiro. No país que ostenta incríveis 26 assassinatos a cada 100 mil habitantes, que arquiva mais de 80% dos inquéritos de homicídio e sofre de violência endêmica, a atitude dos vin-gadores é até compreensível. O Estado é omisso, a polícia desmoralizada, a justiça é falha. O que resta ao cidadão de bem que ainda por cima foi desarmado? Se defender, é claro. O ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite. E aos defensores dos direi-tos humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha, faça um favor ao Brasil, adote um bandido!

Episódio 2 – o democrático voto autoritário

Na sessão da Câmara dos Deputados em 17 de abril de 2016 que autorizou o Senado da República a julgar, por crime de res-ponsabilidade, a presidente Dilma Rousseff, eleita para o mandato 2015 – 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro, militar reformado do Exército Brasileiro, assim justificou o seu voto:

Perderam em 1964, perderam agora em 2016. Pela famí-lia e pela inocência das crianças em sala de aula, o que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Car-los Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim (SILVEIRA, 2016, n.p.).

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Episódio 3 – abuso da liberdade de ensinar

O Texto a seguir está disponível no site do Programa Escola Sem Partido, informando sobre os seus objetivos, acessado em 20 de julho de 2016:

A doutrinação política e ideológica em sala de aula ofende a liberdade de consciência do estudante; afronta o princípio da neutralidade política e ideológica do Estado; e ameaça o próprio regime democrático, na medida em que instru-mentaliza o sistema de ensino com o objetivo de desequi-librar o jogo político em favor de um dos competidores.

Por outro lado, a exposição, em disciplina obrigatória, de conteúdos que possam estar em conflito com as convic-ções morais dos estudantes ou de seus pais, viola o art. 12 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, segun-do o qual “os pais têm direito a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções”.

Essas práticas, todavia, apesar de sua manifesta inconsti-tucionalidade e ilegalidade, tomaram conta do sistema de ensino. A pretexto de “construir uma sociedade mais jus-ta” ou de “combater o preconceito”, professores de todos os níveis vêm utilizando o tempo precioso de suas aulas para “fazer a cabeça” dos alunos sobre questões de natu-reza político-partidária, ideológica e moral (PROGRAMA ESCOLA SEM PARTIDO.ORG, 2016).

Os três episódios mencionados foram selecionados como amostras da mentalidade autoritária que vem se fazendo explícita, cada vez com maior intensidade. Apesar de, na sua individualidade, representarem comportamentos ou ideias particulares, em conjunto com outras atitudes, refletem o crescimento da reação conservado-ra nos últimos 15 anos frente aos avanços registrados no contexto social e político. Os episódios dialogam diretamente com os con-ceitos expostos no capítulo anterior e demonstram que a mentalida-de que materializou Auschwitz na primeira metade do século XX permanece recorrente.

Optou-se por iniciar, a exemplo do capítulo anterior, pelo mal no cotidiano, isto é, a banalidade do mal. No episódio 1, a instru-

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mentalidade da justificativa postulada pela apresentadora do Jornal do SBT, Rachel Sheherazade, ao ato consumado pelos “justiceiros” com o adolescente preso ao poste, soa como os argumentos apre-sentados por Eichmann em Jerusalém. Expressa a extrema super-ficialidade em relação às violações de direitos consumadas contra o adolescente ao considerá-las “uma atitude até compreensível” e escuda-se em um pensamento utilitário para defendê-las: “O que resta ao cidadão de bem que ainda por cima foi desarmado? Se de-fender, é claro. O ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade”. Mas, sobretudo, não se trata de uma opinião isolada. Na epígrafe que encabeça o presente capítulo, encontramos a mesma superficialidade nas palavras da moradora da Zona Sul de São Paulo, dois anos depois, para justificar a letali-dade da ação da PM contra um garoto de 10 anos: “[...] acreditamos que foi só um desfecho infeliz. Ele tava fazendo o trabalho dele. A polícia tá aqui pra defender a gente”. Com esse raciocínio, o julga-mento – ou a ausência dele – considera o ato como mera fatalidade ocorrida no cumprimento da lei por agente do Estado. A crença no coletivo torna a vítima, uma criança com 10 anos, supérflua diante das razões do Estado.

Os fatos referidos fazem parte de um contexto abrangente e de extrema influência sobre a formação da opinião da sociedade: os programas de rádio e TV centrados no relato de ocorrências poli-ciais. Pesquisa realizada pela ANDI – Comunicação e Direitos, no âmbito do seu programa de monitoramento de violações de direi-tos no campo da comunicação midiática, verificou e analisou essas ocorrências em um universo composto por 10 programas de rádio e 20 programas de TV, em emissoras diferentes. A pesquisa contem-plou 10 capitais brasileiras num período de 30 dias, de 2 de março de 2015 a 31 de março de 201516. O referencial para identificação e análise das violações verificadas foi a legislação vigente, brasileira e multilateral. Pautadas nesse referencial foram constatadas nesse universo as seguintes ocorrências por tipo de violação: 1.704 “Ex-posições indevidas de pessoas”, 1.580 “Desrespeitos à presunção 16 Baseada na análise de conteúdo, a metodologia reúne um conjunto de técnicas capazes de identificar, quantificar e interpretar características específicas do conteúdo midiático, e de, com base nelas, fazer inferências a respeito de mensagens e significados presentes nas narrativas monitoradas. As capitais selecionadas para o estudo foram: Brasília; São Paulo; Belém; Curitiba; Rio de Janeiro; Campo Grande; Belo Horizonte; Salvador; Recife; Fortaleza (VARJÃO, 2015, p. 63-64).

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de inocência”, 614 “Violações do direito ao silêncio”, 295 “Expo-sições indevidas de famílias”, 151 “Incitações à desobediência às leis ou às decisões judiciárias”, 127 “Incitações ao crime e à violên-cia”, 39 “Identificações de adolescentes em conflito com a lei”, 17 ”Discursos de ódio ou Preconceito” e 09 “Torturas psicológicas ou Tratamentos desumanos ou degradantes”.

O discurso que acompanhou o voto do deputado federal Jair Bolsonaro na sessão de 17 de abril de 2016 na Câmara dos Depu-tados encerra a evidência da latência das disposições fascistas na sociedade brasileira, mesmo em um contexto político que se pre-tende democrático, como o Congresso Nacional da 6ª. República. Transcrito no episódio 2, foi além da simples exposição de ideias ao invocar o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra como o pavor de Dilma Rousseff, numa alusão ao papel do torturador, instrumento do Estado totalitário e ao preso, outro, mero objeto do interroga-tório, numa relação coisificada pela obtenção de informações. O curto discurso de um minuto conseguiu a façanha de cotejar qua-se todas as variáveis da F Scale da Personalidade Autoritária, de-monstrando a atualidade da pesquisa de Adorno. Particularmente, a insinuação da tortura sofrida pela Sra. Presidenta, quando presa (igualmente a outros tantos brasileiros, resistentes à ditadura, que passaram pelas prisões do Estado nesse período) e a admiração ex-plicitada ao coronel trazem os traços do caráter sadomasoquista da sociedade brasileira, formado nos tempos da colônia e já analisado por Gilberto Freyre no clássico Casa Grande & Senzala:

Mas esse sadismo de senhor e o correspondente masoquis-mo de escravo, excedendo a esfera da vida sexual e do-méstica, tem-se feito sentir através da nossa formação, em campo mais largo: social e político. Cremos surpreendê--los em nossa vida política, onde o mandonismo tem sem-pre encontrado vítimas em quem exercer-se com requintes às vezes sádicos; certas vezes deixando até nostalgias logo transformadas em cultos cívicos, como o do chamado ma-rechal-de-ferro. A nossa tradição revolucionária, liberal, demagógica, é antes aparente e limitada a focos de fácil profilaxia política: no íntimo, o que o grosso do que se pode chamar povo brasileiro ainda goza é a pressão sobre ele de um governo másculo e corajosamente autocrático (FREYRE, 2003, p. 114, grifo do autor).

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Não se pode negligenciar o fato de que o deputado Bolsonaro integra a bancada BBB – boi, bíblia e bala –, frente parlamentar conservadora que defende interesses ruralistas, evangélicos e maior rigor nos temas relacionados à segurança pública, diminuição da maioridade penal, além da revogação do estatuto do desarmamen-to. A composição da bancada BBB, com 206 parlamentares (109 ruralistas, 75 evangélicos e 22 da bala) e que detém pelo menos 40% da Câmara (MARTINS, 2015), dá uma indicação da influên-cia do pensamento conservador e autoritário nas decisões políticas da República. Mais que isso, a sua presença massiva nesse cenário político demonstra a disposição de um grande contingente de elei-tores influenciado pela personalidade autoritária.

O Programa Escola Sem Partido atua em todas as frentes – Federal, Estadual e Municipal. Para além do destaque midiático que vem obtendo, legislação congênere já foi aprovada em 4 mu-nicípios e no estado de Alagoas. Notícia veiculada em 10 de julho de 2016 informa que tramitam, com conteúdo similar, 4 projetos na Câmara dos Deputados, um no Senado da República, 7 em Assem-bleias Legislativas e 12 em Câmaras Municipais (DE CASTRO, PALHARES, 2016). O manifesto transcrito no episódio 3 integra o conjunto de ideias veiculadas pelo Escola Sem Partido e que bus-cam se fazer impor por meio da aprovação de projetos de lei em curso no Legislativo.

O Programa Escola sem Partido é o mais contundente dis-positivo reacionário para estimular a recorrência e garantir a manu-tenção a longo prazo da mentalidade conservadora em todos os sen-tidos que possa ser entendida: econômico, social, político, cultural etc. Assumido nos seus postulados, trata-se de banir a formação da consciência crítica dos alunos por conta de uma alegada doutrina-ção ideológica empreendida pelos professores, notadamente aque-les de orientação socialista – “esquerda” (PROGRAMA ESCOLA SEM PARTIDO.ORG, 2016). Sintomaticamente situa os principais focos de doutrinação nas áreas de educação, ciências humanas e ciências sociais, aquelas que desenvolvem a reflexão, a dialética e o pensamento crítico – sem dúvida, substituindo essas práticas pela fé no processo civilizatório e na razão instrumental, conforme postula o primeiro princípio da agenda do programa:

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Descontaminação e desmonopolização política e ideológi-ca das escolas – Sabemos que o conhecimento é vulnerável à contaminação ideológica e que o ideal da perfeita neutra-lidade e objetividade é inatingível. Mas sabemos também que, como todo ideal, ele pode ser perseguido. Por isso, sustentamos que todo professor tem o dever ético e profis-sional de se esforçar para alcançar esse ideal (PROGRA-MA ESCOLA SEM PARTIDO.ORG, 2016, n.p.).

O programa Escola Sem Partido é o contraponto à educação emancipadora proposta por Adorno em Educação após Auschwitz. Trata de extirpar, como numa lobotomia, a principal força subjeti-va capaz de impedir o pensamento autoritário e preconceituoso: a educação. Com isso garantirá a formação das próximas gerações em compasso com a sociedade industrial, afluente e meritocrática, em que o culto da eficiência supera qualquer conteúdo moral, des-cartada a necessidade de reflexão e sobretudo de julgamento, em benefício do coletivo.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os três episódios discutidos anteriormente, esperamos ter reunido evidências de que o pensamento da Escola de Frankfurt, notadamente aquele concentrado nos regimes totalitários, longe de estar superado, permanece atual por conta da presença recorrente dos fatores que conduziram ao cenário do Holocausto na primeira metade do século XX. Além disso, entendemos que esse discurso pode contribuir para uma reflexão acerca da reescrita da História, tema proposto por Walter Benjamin em Sobre o Conceito de Histó-ria e que será explorado na presente conclusão.

Se a primeira metade do século XX presenciou o nascimen-to e a maturidade do fascismo e do nazismo, a segunda metade, principalmente a partir da década de 1960, passou a conviver com as mudanças emancipadoras invocadas pela revolução dos costu-mes, pelo feminismo, pela contracultura, pela conquista dos direi-tos das minorias, pelo reconhecimento dos direitos humanos etc. Em contrapartida, a reorganização política decorrente do fim do comunismo no Leste Europeu a partir do final dos anos 1980, a

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globalização e a hegemonia do liberalismo econômico que se se-guiram até o final do século XX eclipsaram o pensamento socialista e instrumentalizaram as tendências conservadoras, na oposição aos avanços decorrentes das mudanças emancipadoras.

O Brasil, a exemplo de outras repúblicas da América Latina, com o golpe de 64 passou por um período ditatorial que durou 21 anos. O processo de distensão, iniciado em 1974, conduzido rigo-rosamente pelo Estado, permitiu a escrita da História e a conclusão desse ciclo ditatorial a gosto dos vencedores de 64. Desde 1985, a volta do estado de direito e o processo político pluripartidário reuniram em torno de novas legendas programas temáticos enfati-camente voltados para as questões sociais e dos trabalhadores, con-duzidos por banidos e outsiders no ciclo anterior.

A (re)presença dessa mentalidade nos cenários político e cul-tural trouxe consigo o repensar da História recente e a busca da revisão oficial dos atos da ditadura. A fim de reparar moral e eco-nomicamente as vítimas de atos de exceção, arbítrio e violações aos direitos humanos cometidos entre 1964 e 1988 foi instituída a Comissão de Anistia, pela Lei 10.559, de 13 de novembro de 2002. A ela seguiu-se a criação, pela Lei 12.528/2011, da Comissão Na-cional da Verdade – CNV, instituída em 16 de maio de 2012, que teve por finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas no mesmo período. A CNV cumpriu o seu objetivo com a entrega do Relatório da Comissão Nacional da Verdade em 10 de dezembro de 2014. Trata-se, portanto, da História reescrita a con-trapelo, pelos vencidos de 64, em oposição àquela imposta pelos vencedores na transição outorgada.

Os últimos quinze anos presenciaram a reescrita da História nas duas dimensões do materialismo histórico: na estrutura econô-mica, por meio da política de inclusão social promovida oficial-mente pelo Estado, e na superestrutura, por conta da revisão dos atos da ditadura, da maior participação dos trabalhadores na políti-ca e nas discussões sociais nos círculos educacionais e culturais. Se os programas sociais, voltados para inclusão econômica, não cons-tituíram ameaça à mentalidade burguesa dominante (ao contrário, alavancaram a economia de mercado da era neoliberal), as ações

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no âmbito político e cultural insinuaram a construção de uma nova consciência social capaz de fazer-lhe frente. A preocupação com esse processo de reescrita é notadamente verificada na sistemática e continuada campanha conduzida pelos setores conservadores, por meio da mídia e das redes sociais, contra os perigos do “marxismo cultural”, do pensamento Gramscista, das políticas de direitos hu-manos e de diversidade, do chamado aparelhamento do Estado.

A falta de sensibilidade para as tendências fascistas exterio-rizadas pelo mal cotidiano retratado na mídia, a incapacidade de reconhecer o alcance da reação conservadora em explorar os “gati-lhos” das tendências latentes da personalidade autoritária e mobi-lizar as massas, propiciou a construção da crise político-partidária que culminou no processo de impeachment da presidente eleita17. Este é somente um ato de uma peça mais ampla e complexa, cujo desfecho é bloquear o processo emancipatório na construção de uma nova consciência social, devolver a caneta aos vencedores de 64 e interromper a reescrita da História.

Em uma sociedade em que o emblema da caveira, o Totenkopf das SS, se constitui em símbolo da Polícia Militar, as favelas são delimitadas como guetos e ocupadas por Unidades de Polícia Pacificadora, o Holocausto está presente e a Teoria Crítica, longe de superada, permanece atual.

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17 Tema abordado por Mauro Santayana em “O que fazer com o fascismo”. Revista Brasil, maio, 2016.

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