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ANAIS DO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PROCESSO CIVIL 891 ANAIS DO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PROCESSO CIVIL O CARÁTER SUBSIDIÁRIO DAS AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA E DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL NO CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE 1024 THE SUBSIDIARY CHARACTERISTIC OF THE INTERVENTIVE UNCONSTITUTIONALITY ACTION AND NONCOMPLIANCE OF FUNDAMENTAL PRECEPTS ACTION IN THE JUDICIAL REVIEW Diogo Lopes Cavalcante 1025 Julia Rizzo 1026 Resumo O Controle de Constitucionalidade é um conjunto de órgãos ou instrumentos, voltados a garantir a supremacia formal da Constituição Federal como a norma fundamental do Estado; um sistema que procura validar todas as normas do ordenamento a luz da Constituição. No Brasil, assim como a maioria dos países, o controle de constitucionalidade das normas é jurisdicional, é realizado pelo Poder Judiciário. Esse sistema jurisdicional repressivo, por sua vez, é tanto difuso como concentrado; diz-se difuso quando é feito por qualquer juiz de qualquer órgão do judiciário com base em um caso concreto, e diz-se concentrado quanto é realizado em abstrato no âmbito do Superior Tribunal Federal. Especificamente nesse sistema concentrado, o STF faz uso de três tipos de ações: ação direta de inconstitucionalidade (ADI), ação declaratória de constitucionalidade (ADC) e ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF). O presente trabalho aborda a importância da ADPF e ADI interventiva, 1024 Artigo recebido em 14/02/2017, pareceres de análise em 04/03/2017 e 07/03/2017, aprovação comunicada em 13/03/2017. 1025 Mestre em Processo Civil pela UNIPAR. Especialista em Direito Público pela UnB. Procurador da Fazenda Nacional. E-mail: [email protected] 1026 Mestre em Processo Civil pela UNIPAR. Especialista em Direito Tributário pela ABDConst. Advogada. E-mail: [email protected]

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ANAIS DO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PROCESSO CIVIL 891

ANAIS DO

SIMPÓSIO BRASILEIRO

DE PROCESSO

CIVIL

O CARÁTER SUBSIDIÁRIO DAS AÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA E DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL

NO CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE1024

THE SUBSIDIARY CHARACTERISTIC OF THE INTERVENTIVE UNCONSTITUTIONALITY ACTION AND NONCOMPLIANCE OF FUNDAMENTAL PRECEPTS ACTION IN THE

JUDICIAL REVIEW

Diogo Lopes Cavalcante1025

Julia Rizzo1026

Resumo

O Controle de Constitucionalidade é um conjunto de órgãos ou instrumentos, voltados a garantir a supremacia formal da Constituição Federal como a norma fundamental do Estado; um sistema que procura validar todas as normas do ordenamento a luz da Constituição. No Brasil, assim como a maioria dos países, o controle de constitucionalidade das normas é jurisdicional, é realizado pelo Poder Judiciário. Esse sistema jurisdicional repressivo, por sua vez, é tanto difuso como concentrado; diz-se difuso quando é feito por qualquer juiz de qualquer órgão do judiciário com base em um caso concreto, e diz-se concentrado quanto é realizado em abstrato no âmbito do Superior Tribunal Federal. Especificamente nesse sistema concentrado, o STF faz uso de três tipos de ações: ação direta de inconstitucionalidade (ADI), ação declaratória de constitucionalidade (ADC) e ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF). O presente trabalho aborda a importância da ADPF e ADI interventiva,

1024 Artigo recebido em 14/02/2017, pareceres de análise em 04/03/2017 e 07/03/2017, aprovação comunicada em 13/03/2017.

1025 Mestre em Processo Civil pela UNIPAR. Especialista em Direito Público pela UnB. Procurador da Fazenda Nacional. E-mail: [email protected]

1026 Mestre em Processo Civil pela UNIPAR. Especialista em Direito Tributário pela ABDConst. Advogada. E-mail: [email protected]

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justamente as duas menos usuais na prática, em função de seu caráter subsidiário.

Abstract

The Constitutionality Control is a set of organs or instruments designed to ensure the formal supremacy of the Constitution as the fundamental law of the state; a system that seeks to validate all the rules of planning the light of the Constitution. In Brazil, like most countries, the control of constitutionality of the rules is referring, is held in the Judicial Branch. Still, this repressive judicial system is both diffuse and concentrated; is said to diffuse is done by any judge of any body of the Judiciary based on a specific case, and is said to be concentrated as is done in the abstract in the Superior Court. Specifically in this concentrated system, the Supreme Court makes use of three types of actions: direct action of unconstitutionality (ADI), declaratory action of constitutionality (ADC) and fundamental precept of default action (ADPF). This paper discusses the importance of ADPF and ADI interventional, just two less common in practice, because of its subsidiary nature.

Palavras-chave: Controle de Constitucionalidade; Concentrado; ADI Interventiva; ADPF; Subsidiárias.

Keywords: Constitutionality Control; Focused; ADI Interventional; ADPF; Subsidiaries.

Sumário

Introdução; 1 - O controle concentrado de constitucionalidade; 2 - A ação de descumprimento de preceito fundamental; 3 - A ação direta de inconstitucionalidade interventiva; considerações finais; referências

Introdução

O presente trabalho tem por escopo demonstrar as peculiaridades das ações de inconstitucionalidade interventiva e de descumprimento de preceito fundamental, notadamente seu caráter subsidiário dentro do controle concentrado de constitucionalidade.

Ora, o controle de constitucionalidade pode ser feito com base em um caso concreto ou de forma abstrata. Neste caso, apenas o Supremo Tribunal Federal tem a prerrogativa de decisão, enquanto naquele, a prerrogativa de decisão é estendida a qualquer órgão do Poder Judiciário.

Para a ocorrência do controle de constitucionalidade concentrado, é necessário o uso de um destes instrumentos: Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), ou, Ação de Descumprimento

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de Preceito Fundamental (ADPF). As duas primeiras dizem respeito à declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade de determinada norma à luz da Constituição Federal. Em contrapartida, a terceira, refere-se a conceito muito mais amplo, pois, visa declarar a norma ou ato incompatível com um preceito fundamental da Magna Carta. Inclusive, essa ferramenta tem a amplitude de realizar o controle de constitucionalidade perante normas anteriores à própria Constituição.

Desta forma, a ADPF apresenta um caráter subsidiário em relação às demais ações de controle de constitucionalidade, por ser a única com esse caráter retroativo. De mais a mais o presente estudo pretende abordar a importância da ADPF em função de seu caráter subsidiário, notadamente pela possibilidade de se verificar a validade de normas anteriores à Constituição Federal, bem como as normas municipais.

Da mesma maneira, verifica-se uma proteção subsidiária da Constituição por meio da ADI Interventiva, a ADI Interventiva Federal, instituído pelos artigos 34 e 35 da Constituição de Federal de 1988, que permite a proteção de princípios sensíveis e estabelecidos.

1. O controle concentrado de constitucionalidade

O controle de constitucionalidade é um conjunto de órgãos e de instrumentos de filtragem das normas infraconstitucionais à luz da Constituição, que corporifica o chamado Estado de Direito. Quer dizer, sob o prisma da pirâmide de Hans Kelsen, trata-se o controle de constitucionalidade do sistema que evidencia que todas as normas do ordenamento jurídico têm como fundamento a Constituição Federal (BASTOS, 2002, p. 345). Eis o princípio da supremacia da constituição, que “revela a sua posição hierárquica mais elevada dentro do sistema, que se estrutura de forma escalonada em diferentes níveis” (LENZA, 2008, p. 117).

O controle de constitucionalidade é, pois, um mecanismo – ou um conjunto de órgãos e de instrumentos – para averiguar e aferir se as normas são compatíveis com a Constituição Federal, assegurando a supremacia formal desta. Sendo que, neste processo, verifica-se as normas do ordenamento jurídico do ponto de vista material (seu conteúdo) e formal (procedimento de sua criação), está dividida em subjetiva – em que se verifica eventual vício de iniciativa – e objetiva – em que se verifica eventual vício nas fases legislativas.

Nesse sentido, o controle de constitucionalidade resulta na máxima primazia da Constituição, consistente na vitória da teoria federalista dentro do constitucionalismo norte-americano, que negava supremacia do Parlamento tal como ocorria no Parlamento inglês (Câmera dos Lordes). Teoria federalista, que origina o controle de constitucionalidade tal como se conhece atualmente:

Não é de admitir-se que a Constituição tivesse pretendido habilitar os representantes do povo a sobreporem a própria vontade à de seus

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constituintes. É muito mais racional supor que as cortes foram destinadas a desempenhar o papel de órgão intermediário entre o povo e o Legislativo, a fim de, além de outras funções, manter este último dentro dos limites fixados para sua atuação. O campo próprio e peculiar das cortes se resume na interpretação das leis. Uma constituição é, de fato, a lei básica e como tal deve ser considerada pelos juízes. Em consequência cabe-lhes interpretar seus dispositivos, assim como o significado de quaisquer resoluções do Legislativo. (HAMILTON; MADISON; JAY, 1984, p. 78).

O controle de constitucionalidade, desta forma, está associado ao chamado constitucionalismo moderno, que passa a colocar a Constituição no centro do ordenamento jurídico e não mais a lei. Uma Constituição diretamente atrelada aos direitos fundamentais em sua fase mais moderna. Quer dizer, nessa nova fase, “todo ato do Congresso contrário à Constituição federal deveria ser tido por nulo, inválido e ineficaz (null and void ando f no effect).” (BONAVIDES, 2010, p. 311).

O controle de constitucionalidade adotado pelo Brasil é o controle jurisdicional – exercido pelo Poder Judiciário – de forma repressiva, que retira as normas a posteriori do ordenamento, em caso de dissonância com a Constituição. Este controle jurisdicional, entretanto, manifesta-se tanto na forma difusa como concentrada, este com relação às normas em abstrato realizado pela Suprema Corte e aquele realizado no caso concreto por qualquer juiz ou órgão do Judiciário. Eis o modelo da Constituição de 1988.

Antes, todavia, na Constituição de 1824, não havia menção ao controle de constitucionalidade. Sendo o controle, efetivamente, introduzido no Brasil na Constituição de 1891 (SILVA, 1999, p. 52) na modalidade difusa que, por sua vez, com a Constituição de 1967 – ou, na verdade, na emenda constitucional n. 16 de 1965 sobre a Constituição de 1946 – foi somada à modalidade de controle concentrado, criada por Hans Kelsen.

Note-se que apesar de se adotar o sistema de controle de constitucionalidade jurisdicional repressivo, o Brasil adota certas formas excepcionais de controle de constitucionalidade, seja modalidades de controle preventivo ou seja modalidades de controle repressivo realizada pelos outros dois poderes.

Preventivamente atua o Poder Legislativo por meio de suas comissões de constituição e justiça, para impedir a aprovação de normas inconstitucionais, da mesma forma que se permite ao chefe do Poder Executivo vetar normas aprovadas pelo Legislativo que apresentarem vício de inconstitucionalidade, em que se fala em veto jurídico. Atuação preventiva que também cabe ao Poder Judiciário por meio do julgamento de mandados de segurança impetrados exclusivamente por parlamentares em situações de afronta ao devido processo legislativo constitucional.

Repressivamente, atua também o Poder Executivo negando-se a cumprir normas flagrantemente inconstitucionais e, ainda, atua o Poder Legislativo no controle

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de medidas provisórias, na atuação de seus tribunais de contas e na sustação de atos do Executivo que usurparem o seu poder regulamentar.

Lembrando, sobre esse último ponto, que a inconstitucionalidade das normas pode se dar de forma direta com relação a normas primárias, que têm sua validade diretamente atrelada à Constituição, ou de forma indireta ou reflexa com relação a normas secundárias, que têm sua validade atrelada a normas primárias.

Não é demais lembrar, ainda, que o controle de constitucionalidade se apresenta por outros dois tipos de sistemas: político e misto. No chamado controle político o controle é feito pelo Poder Legislativo ou por um órgão “externo” criado especificamente para essa finalidade, como ocorre na França e seu Conselho Constitucional, diferentemente do controle jurisdicional, como ocorre no Brasil e nos Estado Unidos da América. E, por fim, no chamado controle misto, parte das normas são regidas por um controle político e parte por um controle jurisdicional, como ocorre na Suíça, em que leis locais são submetidas ao Judiciário e leis federais são submetidas pelo Legislativo.

Especificamente quanto ao chamado controle jurisdicional, ainda, o controle de constitucionalidade pode se apresentar como difuso ou concentrado.

Difuso relativo ao controle exercido por qualquer juiz ou órgão do Poder Judiciário à luz do caso concreto, à luz de um problema concreto submetido ao Poder Judiciário; um controle que surgiu nos EUA em 1803 no famoso caso Marbury versus Madison e que foi incorporado no Brasil na Constituição Federal de 1891.

Concentrado, por sua vez, é o controle exercido apenas pela corte constitucional, pelo órgão máximo do Poder Judiciário, em abstrato, que julga a validade das normas desvinculando-se de casos concretos; este controle que surgiu na Áustria como criação de Hans Kelsen em 1920 e foi incorporado pelo Brasil, cumulativamente ao controle difuso, em 1965, pela emenda 16 à Constituição de 1946.

O controle de constitucionalidade, dentre seus elementos mais importantes, apresenta como questionamento central a determinação de quais dispositivos servem de parâmetro para o carimbo positivo de validade das normas do ordenamento jurídico.

Trata-se de uma pergunta que requer uma resposta muito mais complexa de que a resposta de que a Constituição vigente, como um todo, determina quais são os dispositivos que servem de parâmetro para o controle de constitucionalidade.

Pode-se dizer, inicialmente, que todos os dispositivos da Constituição servem de parâmetro para o controle de constitucionalidade. Todavia, diferentemente das chamadas normas permanentes e do ato das disposições constitucionais transitórias (ADCT), o preâmbulo da Constituição, de acordo com o entendimento do Supremo

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Tribunal Federal, não serve de parâmetro para o controle de constitucionalidade, tendo em vista se tratar de mera diretriz hermenêutica, de diretriz interpretativa das demais normas.

Quer dizer, todas as normas formalmente constitucionais, toda a chamada Constituição formal – e não apenas as normas materialmente constitucionais –, apresentam-se como parâmetro para o controle de constitucionalidade. Nesse sentido:

A fiscalização da constitucionalidade pode ser definida pelo parâmetro utilizado. Neste caso, o controle levará em conta, para a verificação da compatibilidade do direito infraconstitucional: (I) toda a Constituição formal, incluindo aí os princípios e normas implícitos; (II) apenas alguns dispositivos da Constituição formal; ou (III) o bloco formado pela Constituição formal mais os princípios superiores definidos como direito supralegal (positivados ou não na Constituição). Em geral, os vários sistemas de fiscalização vinculam-se apenas à Constituição formal (normas expressas e implícitas das primeiras derivadas). É o caso do Brasil e dos Estados Unidos, por exemplo. (CLEVE, 2000, p. 71-72).

Observe-se, todavia, que dentro da concepção de Constituição Formal também estão inseridos os chamados princípios implícitos, a serem verificados pelo intérprete, como no caso do chamado princípio da proporcionalidade; princípio extraído do chamado devido processo legal substantivo, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal.

Se isso não bastasse, a Constituição Federal de 1988, por meio da Emenda Constitucional nº 45/2004, inaugurou a possibilidade de recepção de tratados de direitos humanos com o mesmo grau hierárquico das normas constitucionais.

Enfim, essa emenda permitiu que tratados internacionais se apresentem como parâmetro para o controle de constitucionalidade. Fato que, para muitos, significa a criação de um chamado bloco de constitucionalidade.

O controle concentrado de constitucionalidade está associado à doutrina austríaca de Hans KELSEN, que determina que o controle dos normativos deve ser realizado em abstrato e concentrado em um órgão único, muitas vezes em um órgão de hierarquia superior do Judiciário, nos países que adotam o sistema jurisdicional.

Um controle de constitucionalidade, em abstrato, dissociado do caso concreto, do qual emana uma decisão com efeitos gerais, erga omnes, e retroativa à data de vigência da norma atacada (ex tunc):

[...] a eficácia erga omnes advém da própria substituição processual em que se opera na pessoa ou ente titular da ação, o qual age em nome próprio, mas como substituto processual da coletividade; e também por força da titularidade passiva da ação, que se configura no próprio órgão público do qual emanou a lei ou ato inconstitucional. (GRINOVER, 1998, p. 23).

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Trata-se, pois, de um modelo de controle de constitucionalidade da Constituição austríaca de 1920, em que o controle das leis era atribuído a um tribunal constitucional com mecanismos processuais próprios, um processo objetivo como é citado atualmente. Um modelo de inspiração Kelnesiana que encontrava oposição na doutrina de Carl Schmitt, que falava que o modelo geraria uma instância política suprema, de uma aristocracia de toga (SCHMITT, 2007, p. 228); por outro lado, em linha contrária aos desígnios históricos trágicos, defendia o controle da constitucionalidade na pessoa do presidente alemão, eleito diretamente pelo povo. Mesmo fato histórico, da segunda guerra mundial, que fez com que a teoria kelnesiana ganhasse prestígio, entorno da ideia de uma corte constitucional independente.

Note-se, do ponto de vista histórico ainda, que o controle de constitucionalidade, após a segunda guerra mundial, advogou em prol de um Estado Social, um Estado prestacional, comprometido com a efetivação dos direitos fundamentais.

Esse chamado controle concentrado de constitucionalidade também é chamado de controle em abstrato, objetivo ou via de ação, em que a discussão acerca da constitucionalidade do normativo se trata do pedido (e não apenas da causa de pedir) do processo. Um controle, como dito, incorporado pelo Brasil em 1965, paralelamente ao controle difuso.

Uma relação processual objetiva, em que se mitigam institutos como intervenção de terceiro, ação rescisória e desistência processual, que se corporifica no ordenamento brasileiro com três tipos de ações: ADI (ação direta de inconstitucionalidade) – subdividida em genérica, por omissão e interventiva –, ADC (ação declaratória de constitucionalidade) e ADPF (ação de descumprimento de preceito fundamental). As duas primeiras ditas dúplices e a última delas posta como subsidiária, seja pela possibilidade de atingir normas anteriores à promulgação da Constituição ou seja pela forma de atingir leis municipais.

Desta forma, evidencia-se que a declaração de inconstitucionalidade é o objeto principal destas ações, assim como acontece nas Cortes Constitucionais européias, contrariamente ao preconizado pelo sistema norte americano. A ação direta de inconstitucionalidade genérica, também conhecida como via de ação, visa reconhecer a inconstitucionalidade de determinada lei (BONAVIDES, P. 2010). Porém, apresenta limitações: esse tipo de ação não tem respaldo para atacar atos normativos secundários, que são aqueles atos que não tem sua validade direta na Constituição, sendo sua validade preconizada à luz de normas infraconstitucionais. Sua esfera de abrangência limita-se a atos normativos federais e estaduais e, só pode ser aplicada a leis ou atos posteriores à Constituição Federal de 1988 (MORAES, A.; 2010; FERREIRA MENDES, G; GONET BRANCO, P. G.; 2013).

A finalidade da ação direta de inconstitucionalidade é retirar do ordenamento jurídico lei ou ato normativo incompatível com a ordem constitucional, constituindo-se, pois, uma finalidade de legislador negativo do Supremo

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Tribunal Federal, nunca de legislador positivo (RTJ 143/57. Conferir, ainda: STF – Pleno – MS nº 22.690-1/CE – Rel. Min. Celso de Mello, Diário da Justiça, Seção I, 7 dez. 2006, p. 36 apud MORAES, A., 2010, p. 751). Assim, não poderá a ação ultrapassar seus fins de exclusão, do ordenamento jurídico, dos atos incompatíveis com o texto da Constituição (grifos no original) (STF – Adin nº 732-RJ, Rel. Min. Celso de Mello apud MORAES, A, 2010, p. 751).

A ação direta de inconstitucionalidade por omissão tem por objetivo reconhecer a inconstitucionalidade de uma omissão do Poder Público. Neste caso, não há ato a ser atacado, existe a inexistência do ato regulamentador da Constituição Federal. Como exemplo dessa ausência, pode-se citar a direito à greve, expresso na Magna Carta, mas que, até o presente momento, não possui a regulamentação especial que reclama. Sua abrangência limita-se à falta de atos normativos da esfera federal e estadual, posteriores à vigência da Constituição de 1988 (MORAES, A.; 2010; FERREIRA MENDES, G; GONET BRANCO, P. G.; 2013).

Na conduta negativa consiste a inconstitucionalidade. A Constituição determinou que o Poder Público tivesse uma conduta positiva, com a finalidade de garantir a aplicabilidade e eficácia da norma constitucional. O Poder Público omitiu-se, tendo, pois, uma conduta negativa (MORAES, A., 2010, p. 775) [...] a incompatibilidade entre a conduta positiva exigida pela Constituição e a conduta negativa do Poder Público omisso configura-se na chamada inconstitucionalidade por omissão (grifos no original) (RAMOS, D. T., 1992 apud MORAES, A., 2010, p. 775).

A ação declaratória de constitucionalidade, por sua vez, é aquela que reconhece a constitucionalidade de determinada lei ou ato normativo. Este tipo de ação pode ser utilizado apenas para verificar a constitucionalidade de atos normativos federais primários, que são aqueles que prestam obediência direta à Constituição Federal, desde que sejam atos gerais e abstratos. Limita-se ao reconhecimento da constitucionalidade de atos normativos posteriores a 1993, visto que, essa ação foi criada pela emenda constitucional 3/93 (SILVA, J. A. 2013; FERREIRA MENDES, G; GONET BRANCO, P. G.; 2013).

[...] o objetivo primordial da ação declaratória de constitucionalidade é transferir ao STF a decisão sobre a constitucionalidade de um dispositivo legal que esteja sendo duramente atacado pelos juízes e tribunais inferiores, afastando-se o controle difuso da constitucionalidade. Uma vez declarada a constitucionalidade da norma, o Judiciário e também o Executivo ficam vinculados à decisão proferida (VIEIRA, O. V., 1994 apud MORAES, A., 2010, p. 779-780).

Ações em que se destacam três sujeito processuais: AGU (Advogado-Geral da União), PGR (Procurador-Geral da República) e amicus curiae (amigo da corte). PGR que atua como custus legis, opinando sobre a constitucionalidade dos noramtivos em todas as ações de controle concentrado; AGU que atua como defensor legis, defendendo a constitucionalidade dos normativos atacados; e amicus curiae que atua como um interventor qualificado fornecendo maiores fundamentos teóricos-técnicos ao Supremo Tribunal Federal.

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Ações cujos legitimados para propositura são apenas aqueles indicados no artigo 103 da Constituição Federal, tanto os chamados universais – Presidente da republica, mesa do Senado e da Câmera dos Deputados, Procurador-Geral da Republica, Conselho Federal da ordem dos advogados do Brasil e partido político com representação no congresso nacional) – como os especiais – governador de Estado, mesa de Assembléia Legislativa e confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

O controle de constitucionalidade, pois, está atrelado à supremacia da Constituição Federal sobre todo o ordenamento jurídico, assim como, a rigidez constitucional está intimamente ligada a proteção dos direitos fundamentais (MORAES, A., 2010). Este mecanismo tem a função de impedir que normas jurídicas contrárias à Constituição permaneçam no ordenamento jurídico, visto que, se permanecessem, teriam a presunção de legitimidade. Tem como princípio base dar um norte para que se mantenha a supremacia da Constituição escrita, que é a norma fundamental do Estado (MORAES, A., 2010; FERREIRA MENDES, G; GONET BRANCO, P. G., 2013).

Conforme Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco é inevitável a discussão sobre formas e modos de defesa da Constituição e sobre a necessidade de controle de constitucionalidade dos atos do Poder Público, especialmente das leis e atos normativos.

2. A ação de descumprimento de preceito fundamental

A ação de descumprimento de preceito fundamental tem por objetivo, não a declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade de determinada lei ou ato normativo, mas a declaração destes como sendo incompatíveis com algum preceito fundamental da Constituição Federal, sejam eles da autarquia federal, estadual ou municipal. O objeto desta ação é mais amplo que o das ações anteriores. Tal ferramenta do controle concentrado de constitucionalidade tem previsão no art. 102, § 1º da Constituição Federal e é regulamentada pela Lei nº 9.882 de 3 de dezembro de 1999 (FACHIN, Z., 2013).

A lei prevê a arguição de descumprimento de preceito fundamental em três hipóteses: para evitar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público; para reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público; e, quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição. Importante salientar que, a argüição de descumprimento de preceito fundamental só é possível enquanto controle repressivo de atos do Poder Público já concretizados, não tendo cabimento como controle preventivo de constitucionalidade. Igualmente, as Súmulas do Supremo Tribunal Federal, não podem ser concebidas como atos do Poder Público lesivos a preceito fundamental, portanto, a argüição de descumprimento de preceito fundamental não se amolda a esses casos (MORAES, A., 2010).

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ANAIS DO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PROCESSO CIVIL 900

A ADPF não cabe para evitar ou reparar lesão a qualquer preceito constitucional, mas tão somente a preceito fundamental. A lei não diz quais são os preceitos fundamentais, deixando a tarefa para a doutrina. Podem ser compreendidos como fundamentais, dentre outros, os preceitos relativos às seguintes matérias constitucionais: a) os princípios fundamentais (arts. 1º a 4º); b) as cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, incisos I a IV); c) os direitos fundamentais (arts. 5º a 17); d) os princípios sensíveis (art. 34, inciso VII); e) princípios de direito tributário (art. 150); f) os princípios de direito econômico (art. 170); g) os princípios da administração pública (art. 37); h) as garantias da magistratura (art. 95); i) os princípios institucionais do Ministério Público (art. 127, § 1º); j) as garantias do Ministério Público (art. 128, § 5º, inciso I); l) a garantia da Advocacia-Geral da União; m) a garantia constitucional da advocacia (art. 133); na Defensoria Pública (art. 134) (FACHIN, Z., 2013, p. 176).

A primeira ADPF admitida pelo STF foi a de n. 4, na qual se buscava evitar a lesão a preceito fundamental e dirimir controvérsia sobre ato normativo efetivado pelo Presidente da República quando da fixação do salário mínimo por meio da medida provisória (MP) n. 2.019, de 20 de abril de 2000 (DOU de 22-4-2000, seção 1 apud FERREIRA MENDES, G.; GONET BRANCO, P. G., 2013).

No caso de aborto de feto anencéfalo, na ADPF 54, foi concedida liminar no dia 2 de agosto de 2004, para determinar o sobrestamento dos processos e decisões não transitadas em julgado, além de reconhecer o direito constitucional da gestante de submeter-se à operação terapêutica de parto de fetos anencéfalos. Entretanto, em 20 de outubro de 2004, o Tribunal negou referendo à liminar concedida (ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio apud FERREIRA MENDES, G.; GONET BRANCO, P. G., 2013).

Mencione-se, ainda, o julgamento da ADPF 101 em que se questionou se as decisões judiciais que autorizavam a importação de pneus usados feriam os preceitos constitucionais garantidores da saúde e do meio ambiente.

[...] o Supremo Tribunal Federal, depois de deixar assentado o histórico de graves conseqüências para a saúde e para o meio ambiente advindas da reciclagem do material, assentou que, se muitos são os benefícios econômicos gerados pela atividade de aproveitamento ‘na produção do asfalto borracha ou na indústria cimenteira, haveria de se ter em conta que o preço industrial a menor não poderia se converter em preço social a maior, a ser pago com a saúde das pessoas e com a contaminação do meio ambiente’ (Informativo STF n. 538, 9 a 13-3-2009 [ADPF-101 Re. Min. Cármen Lúcia apud FERREIRA MENDES, G.; GONET BRANCO, P. G., 2013).

A arguição de descumprimento de preceito fundamental é vedada por lei, quando há qualquer outro meio eficaz para sanar a lesividade da Magna Carta (art. 4º, § 1º, Lei 9.882/99). Esse mecanismo de efetivação dos preceitos fundamentais não substitui as demais previsões constitucionais com finalidade semelhante, tais como, o habeas corpus, habeas data; mandado de segurança individual e coletivo; mandado de injunção; ação popular; ações diretas de inconstitucionalidade genérica, interventiva e por omissão e ação declaratória de constitucionalidade. A ADPF somente pode ser

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invocada quando da ineficiência de outro meio para sanar a lesividade. Em face do princípio da subsidiariedade é possível, desde que demonstrada a impossibilidade de utilização de qualquer outro meio para sanar a lesão ou ameaça de lesão a preceito fundamental, reclamar o uso da ADPF (MORAES, A., 2010; FERREIRA MENDES, G.; GONET BRANCO, P. G., 2013).

[...] em relação ao princípio da subsidiariedade, entendeu o Supremo Tribunal Federal a impossibilidade de ajuizamento de ADPF se possível o ajuizamento de ação direta de inconstitucionalidade no âmbito do Tribunal de Justiça local. Conforme salientado pelo Ministro Celso de Mello, ‘a possibilidade de instauração, no âmbito do Estado-membro, de processo objetivo de fiscalização normativa abstrata de leis municipais contestadas em face da Constituição Estadual (CF, art. 125, § 2º) torna inadmissível, por efeito da incidência do princípio da subsidiariedade (Lei nº 9.882/99, art. 4º, § 1º), o acesso imediato à argüição de descumprimento de preceito fundamental [...] (grifos no original) (STF – Pleno – ADPF 100/TO – medida cautelar – Rel. Min. Celso de Mello. Conferir, ainda, em relação ao mesmo princípio: STF – Pleno – ADPF 172 Referendo em MC/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, 10-6-2009 apud MORAES, A., 2010, p. 790).

Nas hipóteses relativas ao controle de legitimidade do direito pré-constitucional, do direito municipal em face da Constituição Federal, bem como, nas controvérsias sobre direito pós-constitucional já revogado e cujos efeitos já se exauriram, são casos em que não há possibilidade de ações diretas de constitucionalidade ou inconstitucionalidade, sendo, portanto, admissível a arguição de descumprimento de preceito fundamental (FERREIRA MENDES, G.; GONET BRANCO, P. G., 2013).

A própria aplicação do princípio da subsidiariedade está a indicar que a argüição de descumprimento há de ser aceita nos casos em que envolvam a aplicação direta da Constituição – alegação de contrariedade à Constituição decorrente de decisão judicial ou controvérsia sobre interpretação adotada pelo Judiciário que não cuide de simples aplicação de lei ou normativo infraconstitucional. [...] a possibilidade de incongruências hermenêuticas e confusões jurisprudenciais decorrentes dos pronunciamentos de múltiplos órgãos pode configurar uma ameaça a preceito fundamental (pelo menos, ao da segurança jurídica), o que também está a recomendar uma leitura compreensiva da exigência aposta à lei de arguição, de modo a admitir a propositura da ação especial toda vez que uma definição imediata da controvérsia mostrar-se necessária para afastar aplicações erráticas, tumultuárias ou incongruentes, que comprometam gravemente o princípio da segurança jurídica e a própria ideia de prestação judicial efetiva (FERREIRA MENDES, G.; GONET BRANCO, P. G., 2013, p. 1228).

3. A ação direta de inconstitucionalidade interventiva

A ADI interventiva foi introduzida no Direito Brasileiro na Constituição de 1934, art. 12 § 2º, quando a Corte Suprema, atual STF, era provocada “com o propósito de se obter a declaração de constitucionalidade da lei federal que havia decretado a intervenção em negócios peculiares dos Estados” (CARVALHO, 2008, 491). Ela foi

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suprimida na Constituição de 1937, retornou na de 1946, com a diferença em sua redação de que o decreto de intervenção era mediante a suposta inconstitucionalidade do ato sob os princípios constitucionais sensíveis, texto que orientação mantida na atual Constituição. Todavia:

Na Constituinte de 1891 já se esboçara tendência no sentido de judicializar os conflitos federativos para fins de intervenção [...] A reforma constitucional de 1926 consagrou expressamente os princípios constitucionais da União, outorgando ao Congresso Nacional competência privativa para decretar a intervenção. (MENDES, 1106, 2012).

A ADI interventiva é um caso sui generis no judiciário. O procedimento padrão de causas avaliadas no judiciário são as de casos concretos depois que ocorre o litígio, ou seja, ele não julga em abstrato. Contudo, como o próprio nome do sistema de verificação a qual está inserida a ADI interventiva nos expõe, esse é um caso de julgamento em abstrato de uma determinada norma. A parte que propõe a ADI interventiva está, resumidamente, provocando o Supremo Tribunal Federal ou os Tribunais de Justiça a declarar a inconstitucionalidade de uma norma antes de sua vigência, visto que sua aplicação pode ser prejudicial, ou até para que ela pare de ser aplicada.

A ação direta de inconstitucionalidade interventiva, pois, visa reconhecer a inconstitucionalidade da lei ou ato da esfera estadual que descumpra ou afronte a Constituição Federal. É a prerrogativa que a União tem para intervir nos estados-membros (BONAVIDES, P., 2010). Para que seja considerada violação à Magna Carta, o ato nem precisa ser normativo, basta que seja um ato do Poder Público Estadual que viole um princípio sensível da Constituição. Sua abrangência limita-se a atos estaduais posteriores à promulgação da Constituição de 1988 (MORAES, A.; 2010; FERREIRA MENDES, G; GONET BRANCO, P. G.; 2013).

A ação direta interventiva possui dupla finalidade, pois pretende a declaração de inconstitucionalidade formal ou material da lei ou ato normativo estadual (finalidade jurídica) e a decretação de intervenção federal no Estado-membro ou Distrito Federal (finalidade política), constituindo-se, pois, um controle direto, para fins concretos (CLÈVE, C. M., apud MORAES, 2010, p. 774), o que torna inviável l a concessão de liminar (grifos no original) (MORAES, 2010, p. 774).

A ação leva o nome interventiva devido outra atipicidade presente nesse instituto. Em regra geral, segundo o art. 18, caput, da CF/88, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, são autônomos. Contudo, segundo Lenza (2012), na mesma CF/88 nomeia situações em que pode haver essa intervenção, que estão descritos nos artigos 34 e 35, como manter a integridade nacional; assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis (34, VII, a – e); etc (arts. 34 e 35).

Muito embora a regra geral de aplicação da ADI Interventiva seja da União intervindo nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, sendo esta a ADI

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Interventiva Federal, também temos casos em que os Estados fazem a intervenção nos municípios, configurando a ADI Interventiva Estadual.

O conceito é o mesmo nos dois institutos, contudo, há diferenças técnicas, como o objeto da ação; a competência; entre outros, que serão tratadas a seguir.

Inicialmente, o objeto da ação se restringia aos atos normativos, ou seja, os comandos do executivo que visam o cumprimento de uma lei, como os decretos, que desobedecessem aos princípios sensíveis. Mas o entendimento deste item se expandiu, e atualmente é possível ser objeto de ação de uma ADI Interventiva os atos legislativo, normativo e administrativo, e até uma eventual omissão do estado, município ou Distrito Federal ao tentar assegurar o cumprimento dos princípios sensíveis.

Os princípios sensíveis estão versados no art. 34, VII, a - e da Constituição Federal, sendo seu texto:

A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,

compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

A diferença para o objeto da ação na ADI Interventiva federal e estadual, será

que, na primeira, o parâmetro será os princípios sensíveis versados na Constituição Federal, ao passo que na última o critério é a Constituição do estado em questão.

A ADI Interventiva federal dependerá de provimento do Superior Tribunal Federal, ao passo que a ADI Interventiva estadual será de competência do Tribunal de Justiça local.

A legitimidade ativa, ou seja, a parte do processo que propõe a ação, será exclusivamente do Procurador-Geral da República, que é o chefe do Ministério Público da União e do Ministério Público Federal. Ele conta com autonomia total para formar sua ação, no que tange a ADI Interventiva Federal. A disposição desse instituto e o seu legitimado ativo leva a crer que o Procurador-Geral da República seria um representante da União, o que é errôneo, visto que a ideia de Representação da União é vedada pelo art. 129, IX da Constituição Federal. Sendo assim, o Procurador-Geral da República é um servidor que visa o equilíbrio federativo, defendendo a ordem jurídica e os interesses sociais e individuais indisponíveis.

A legitimidade ativa, no que tange a ADI Interventiva estadual, será do Procurador-Geral de Justiça, o chefe do Ministério Público do estado em questão, tal

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qual dispõe ao art. 129, IV da Constituição.

Já o legitimado passivo, ou seja, o réu do processo analisado será o Ente Federativo, no caso da ADI Interventiva federal, um estado ou o Distrito Federal, e no caso da ADI Interventiva Estadual, o munícipio.

A ADI Interventiva tem seu procedimento e julgamento versado na lei 12.562/2011, que regulamente o inciso III do art. 36 da Constituição Federal.

A petição inicial proposta pelo Procurador-Geral da República, igualmente a petição inicial pelo Procurador-Geral de Justiça do estado em que ocorrerá o processo, deve conter, tal qual dispõe o art. 3º da lei 12.562/11:

I – indicação do princípio constitucional que se considera violado; II - a indicação do ato normativo, do ato administrativo, do ato concreto ou da

omissão questionados; III - a prova da violação do princípio constitucional ou da recusa de execução

de lei federal; IV - o pedido, com suas especificações.

Caso a ação não ter sido plausível de uma ADI Interventiva, faltar algum dos requisitos ou for inepta, ela será indeferida, com prazo para agravo de 5 dias, novamente sem diferenças para a ação federal ou estadual.

Sendo apta a ação proposta pelo Procurador, teremos uma pequena etapa extrajudicial, em que o relator tenta solucionar o problema descrito na petição inicial, através de atos administrativos.

Retornando ao processo, caso os atos administrativos anteriores não surtirem efeito, serão ouvidas as autoridades estaduais ou distritais além do próprio Procurador-Geral da República e o pedido será levado a julgamento, com a diferença da ação federal descrita anteriormente para a ação estadual de que o legitimado passivo será o município e o legitimado ativo o Procurador-Geral de Justiça.

O julgamento, em que se declarará a inconstitucionalidade ou constitucionalidade da norma, será efetuada se estiverem presentes na sessão no mínimo 8 ministros, devendo ter o manifesta favorável ou desfavorável de pelo 6 ministros, ou seja, exige-se maioria absoluta. “Não se declara a nulidade ou a ineficácia do ato questionado, limitando-se a afirmar a violação do texto constitucional no âmbito de um procedimento complexo que poderá levar à decretação da intervenção federal” (MENDES, 2012, 1119). Nota-se que o STF se restringe a declarar ou constatar a ofensa dos princípios sensíveis, ou seja, é uma sentença meramente declaratória, a Feststellungsurteil da doutrina alemã de direito constitucional. Em caso de ausência de um número considerável de Ministros sobre a decisão, ou seja, que impossibilite a requisitada maioria absoluta, o julgamento será suspenso, até o número ser atingido.

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Em caso de procedência do pedido da ADI Interventiva, o presidente do STF publica o acórdão, de maneira a informar o Presidente da República a cumprir o pedido, e esse pedido não pode ser descumprido, sob pena de cometimento de crime, configurando assim uma “requisição”, ressaltando que se nada disso fizesse parte do procedimento e o Presidente não tivesse a obrigação de cumprimento da ordem mandamental, seria apenas uma “solicitação”. A decisão de procedência ou improcedência tomada pelo STF é irrecorrível e insuscetível de impugnação por ação rescisória.

Não será imediatamente após a decisão em que haverá a intervenção federal. Primeiramente, através de um decreto, o Presidente da República se restringirá a suspender a execução do ato impugnado, ou seja, um ato administrativo inicial para constatar se é realmente imprescindível o oneroso procedimento de intervenção para tentar o restabelecimento da normalidade.

Caso o ato descrito anteriormente não surtir efeito, agora sim, o Presidente da República fará a nomeação de um interventor e, caso ter sido parte do pedido da Petição Inicial feita pelo Procurador-Geral da República, afastar as autoridades de seus cargos. Conforme o art. 36 § 4º, essas autoridades voltarão a seus cargos assim que cessar a intervenção, salvo por impedimento legal.

Pode-se ilustrar a aplicação da ADI interventiva em dois casos emblemáticos: a chacina de matupá e o caso de corrupção em Brasília.

A “Chacina de Matupá”, ocorrida no dia 22 de junho de 1990, na cidade de Matupá, no Mato Grosso é um dos casos mais emblemáticos de linchamento no Brasil. Nesse caso, três criminosos, Osvaldo Bachinan (32 anos), Ivacir Garcia dos Santos (31 anos) e seu irmão, Arci Garcia dos Santos (28 anos), invadiram a casa da família Mazzonetto, visando o roubo de joias. As pessoas presentes na casa, no caso, Heleni Mazzonnetto, uma amiga e quatro crianças, foram mantidas reféns por aproximadamente 15 horas. A negociação entre policiais e criminosos foi acompanhada de diversos populares. Após os criminosos se entregarem, eles foram algemados e entraram em um veículo que os conduziria para o aeroporto que os levaria para a cidade em que ficariam presos até serem julgados. Contudo, o que ocorreu foi que, ao chegarem a um lugar ermo, os policiais soltaram os presos e ordenassem que fugissem. Durante a fuga, foram atingidos pelos tiros dos policiais e, sem conseguir correr devido aos ferimentos, foram alcançados pelos populares que acompanharam anteriormente a negociação. Foram violentamente agredidos e, enquanto agonizavam, um dos agressores derramou gasolina sobre seus corpos e um terceiro ateou fogo, tudo isso sob aplausos da população.

O argumento usado pelo Procurador-Geral da República para propor uma ADI Interventiva nessa ocasião, foi a omissão e negligência do estado do Mato Grosso, negligência que foi interpretada como uma violação aos direitos da pessoa humana,

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que é um dos princípios sensíveis da CF que, como visto, é o principal requisito para a ação aqui estudada. Muito embora o pedido fora negado pelo STF, esse foi um caso de suma importância para o entendimento atual da ADI Interventiva, visto que a partir dela, passou-se a ser considerado um lado mais material do direito do que apenas tecnicista. Inclusive, Gilmar Mendes, um dos atuais ministros do STF citou em uma palestra proferida no II Congresso Internacional de Direito Constitucional em Cuiabá que “essa questão renovou o sentido da representação interventiva no país”. Segue jurisprudência:

Representação do Procurador -Geral da República pleiteando intervenção federal no Estado de Mato Grosso, para assegurar a observância dos ‘direitos da pessoa humana’, em face de fato criminoso praticado com extrema crueldade a indicar a inexistência de ‘condição mínima’, no Estado, ‘para assegurar o respeito ao primordial direito da pessoa humana, que é o direito à vida’. (...) Hipótese em que estão em causa ‘direitos da pessoa humana’, em sua compreensão mais ampla, revelando-se impotentes as autoridades policiais locais para manter a segurança de três presos que acabaram subtraídos de sua proteção, por populares revoltados pelo crime que lhes era imputado, sendo mortos com requintes de crueldade. Intervenção federal e restrição à autonomia do Estado-membro. Princípio federativo. Excepcionalidade da medida interventiva”. No tocante ao mérito do STF, contudo, embora a gravidade dos fatos, negou provimento ao pedido já que o Estado de Mato Grosso estaria procedendo a apuração do crime (IF 114, Rel. Min. Presidente Néri da Silveira, j. 13.03.1991).

Em 2010, o Procurador-Geral da República, na época, Roberto Gurgel, apresentou pedido ao STF de ADI Interventiva, com a intenção de resgate da normalidade institucional, a observância necessária do princípio constitucional republicano, da soberania popular e da democracia. A petição de Gurgel foi baseada em um possível esquema de corrupção, como desvio de verbas públicas e fraudes licitatórias, e formação de quadrilha, envolvendo o governador do Distrito Federal e alguns deputados. Constava o Procurador que a intervenção era necessária pois todas as outras medidas visando retomar a compostura da Câmara Legislativa do DF não surtiram efeito. O pedido foi julgado improcedente. Segue notícia do portal Notícias STF contendo o voto do ex-presidente do STF Ayres Britto:

O Distrito Federal padece de leucemia ética, democrática e cívica, pelas suas cúpulas no âmbito do Legislativo e do Executivo. O caso é de hecatombe institucional. E aí, serve como luva encomendada essa ferramenta chamada de intervenção’, disse Ayres Britto. Gurgel pediu a intervenção após ser deflagrada uma crise política na capital federal a partir de operação da Polícia Federal que investigou denúncias de corrupção, formação de quadrilha, desvio de verbas públicas e fraude em licitações no governo DF. Ayres Britto afirmou que a máquina administrativa distrital ainda padece de deficiências graves, mesmo após a eleição indireta do governador Rogério Rosso (PMDB) e que o poder Legislativo ainda se encontra em estado de letargia, de não funcionamento. ‘A mentalidade dos governantes nos dois poderes, Executivo e Legislativo, não mudou, permanece’, ponderou. ‘O caso é de cultura antirrepublicana de governo. Daí a necessidade da intervenção federal’. Ele acrescentou ainda que há ‘provas robustas’, com fitas e depoimentos que evidenciam a situação

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de corrupção na capital federal, mas ressaltou que essa situação é, na verdade, um sintoma. ‘A causa da corrupção, dos desvios administrativos, de tantos conluios espúrios está em uma cultura antirrepublicanaque se instalou no Distrito Federal de longa data. Uma cultura antirrepublicana de governo que não é de agora’, afirmou. Ele destacou a importância do Distrito Federal perante a nação, por ser a capital da República, como mais uma razão para a intervenção, e foi taxativo: ‘O bom exemplo republicano, representativo, democrático, ético tem que partir de Brasília. O bom exem-plo vem de cima’. ‘Acho que a oportunidade é excelente para se fazer uma profilaxia. Não para cassar o Distrito Federal. “Na verdade, se trata de libertar o Distrito Federal das garras de um perigosíssimo esquema de enquadrilhamento para assaltar o erário’, concluiu Ayres Britto

Considerações finais

A hipótese posta em discussão, de importância e subsidiariedade das ações direta de inconstitucionalidade interventiva e de descumprimento de preceito fundamental no controle de constitucionalidade, mostra-se confirmada.

Ora, as demais ações de reconhecimento de constitucionalidade ou inconstitucionalidade das leis e atos normativos não alcançam toda a infinidade de casos em que seja necessário declarar a nulidade.

A fim de suprir essa lacuna, surge na Constituição Federal de 1988 a argüição de descumprimento de preceito fundamental a qual é regulamentada pela Lei 9.882/99. Esse tipo de ação somente pode ser invocado após o esgotamento de todas as possibilidades de ação direta, devido ao princípio da subsidiariedade.

Os principais pontos diferenciadores da ADPF em relação às ADI e à ADC, primeiramente, é o fato de ser o único meio cabível para decretar a nulidade de ato da esfera municipal que afronte a Magna Carta. E, em segundo plano, mas não menos relevante, é seu caráter retroativo, ou seja, sua capacidade realizar o controle de constitucionalidade de leis nascidas antes mesmo da Constituição de 1988. Diferentemente do que ocorre com as ações diretas, que tem como limitação, a realização do controle de constitucionalidade de atos posteriores ao nascimento das próprias ações diretas.

Por sua vez, a ação direta de inconstitucionalidade interventiva hoje se consolida também como importante mecanismo de proteção de direitos fundamentais sensíveis da Constituição. Todavia, como exposto, foi preciso um caso de forte comoção social para se inaugurar o instrumento na posta ordem jurídica.

Importante considerar, entretanto, que antes de julgar o pedido da ação interventiva, o relator comunicará o réu no processo para tentar solucionar administrativamente o litígio. Não surtindo efeito, a ação vai a julgamento. Julgado procedente o pedido, a ação passa pela “intervenção branda”, em que o Presidente

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da República, através de um decreto, se restringirá a suspender a execução do ato impugnado, ou seja, uma espécie de ato administrativo inicial menos complexo, que pode encerrar o caso já surta efeito. Caso contrário, chegamos a “intervenção efetiva”, em que o Presidente decretará a intervenção federal, nomeando um interventor e afastando as autoridades responsáveis de seus cargos, que retornam após o término da intervenção, salvo casos de impedimento legal.

Pontos que demonstram também a excepcionalidade, subsidiariedade e importância desse instrumento de controle concentrado de constitucionalidade assim como a ADPF.

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