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ANOJ POR TUDO E POR TODOS EDITOR: J osé Luís de Pina - LORIGA . Loriga - Dezembro de 1949 11 D!RECTOR E PROPRJET ÁRIO: Dr. Carlos Leitão Bastos R. do Frontelrcr, 84-1. 0 - Lisboa li N. 0 10 A BEM DE LORIGA E DA - REGIAO REDACJ'OR: 'Eng. Emílio Leitão :Paulo LORIGA ADMINISTRADOR: Atmanào Leitão - LORJGA COMP. E tMPRESSO: •União Grál.lca• - R. Senta Marta, 48 - Lisboa * Dia Santo en t re os mais Santos! Encerram-se as aulas, e o aluno regresso à cosa paterna. A fábrica e a ofi cina fecha as sua:s portas, e o operário recolhe-se, alegre, nessa oficina de almas, iluminada por um sol mais .brilhante e aquecida por um fogo mais ardente - a família. · O t rabalh ador simples e rude do campo trouxe de véspera, sobra os ombros castigados por duro e ingrato labor, um cepo mais pesado de velha árvore que morreu, uma ac.'la a mais para aquela Santa Noite, pois Iode a casa está na cozinha ... Em volla da l areira se reune toda a família: a mul her ded icada que deita e vol- ta a mossa de trigo no azelle que ferve o can· tar no serlã de barro; os filhinhos à espera da filhó e aguardando que o Deus-Menino baixe do Céu, a colocar a prendo no : sapato PQslo na chaminé ... Até se interromp em as Grandes Assembla!os Internacionais; e sess es dias não se pronuncia- rão tantas palavras de mentira, vomitadas pelo ódio e pelo ambição ... O mrmdo suspende a sua marcha por um mom-ento. e a T erra inteira comemora esta data fe stiva e solene, o Grande Dia da História da Humanidade: Natal! Natal! Nasceu Jesus, Filho de Deus e da Virgem, e Nosso Irmão! Haverá alguém, por ventura, que não re- corde o Natal?! O sem-Deus!. .. O sem-Famíl ia! ... O pagão · que adora todos os ídolos, mas , ceguinho, não conhece o Verdadeiro Deus .. _ não tem Natal! . . . , t O materialista, que nega o esp1n!o, a alma, q Fé e a Crença no Redentor do Mundo ... não tem Natal!._. O homem anirn al - «anirilalis hommo>, o bruto que merqulha no lodo, que le m carne e não tem alma, que proclama o amor livre, para satisfaz er t odos os instintos, e que não con hece o casa, a mulher e os filh os ... o tem, não podia ter Nato li ... • • A. meia-no.i!e daquela noite foi meio -dia pa- ra todo o Mundo! E não ninguém, mesmo o sem-Deus e o sem-Família que não ouça a ferir-lhe o ouvido e a bater-lhe no cor ação a pal avra que diz tudo, que resume todo o Livro da História do Mundo: Natal ! Natal! Ouem é capaz de suprimir es ta data do calendário? Nem t odo s os -perseguidores de todos os tem- pos, porque Crislo a escreveu no coraç?o êe cada crente( Natal! Cristianismo! Igreja! Palavras e rea- lidades divinas, com sabor ·a Ete rnidade! . . Natal! Festa de Família! Nesse dia, mil vezes· bendilo, parece que a caso é pequenina para a todos conter: vêm de longe e de per to, os que podem. Os qu erídos ausentes marcam a sua presença enviando cumprimentos, que nesse dia nunca esquecem. Até os mortos são mais. lembrados ... A os pobrezinhos sen tem menos frio e mais calor... sempre qu em encontre uma peça de rou pa nova ou usada que vai agasalha r membros re- gel ados ... é rnais abundan te, mais quente, mais saborosa a sopa que se reparte com o necessi- tado que nos bate e porla ... • * ., ó homem! Porque não vives em cada dia da tua vida o Natal?! Não ouves o cantar dos Anjos anunciando a Grande Aleg:ia. prome- iendo a Paz, a Felicidade, a todos os homens de boa vontade?! · Se Iodas as ideias más se esquecem nesse dia, se todos os ódios aos pés se calcam. se todos nos sentimos mais felizes, porque mais Irmãos, porque não viver o Natal em cada dia desta tr iste vida?! * • • Eu compreendo, m<IS os Grandes Respon sá- veis teimam em querer ignorar. Não pode haver Família, nem Paz e Feli- cidade. no Lar, se m Cristo; não podem os Povos, a grande Família Humana, viver em harmonia, sem Cristo: Ele é a Verdade, a Justiça, o Amor! Natal - nãó é uma palavra vazia da senti- do. Cristianismo - não é somente uma doutri- na, a mais sublime embora; é Vidol E o ho- mem de hoje procura a morte_ .. *' * - Não esqueças: Cristo, o Grande Revolucio- nário, veio remir o homem todo e t odos os ho- mens. Veio curar: as chagas do corpo e as cha-. gas da cima; trouxe a Justiça e o Amor à Ter- ra, e se não vivermos em Justi ça e Amor para com Deus e para oom os noss os irmã.os, a Re- denção não se -operará, e o Mundo será um inferno de desordem, um mar de sangue ... O filho de Deus não deixou o seio do Pai para vir pas$ear à Terra ... Revestiu-se de ncrtu- reza humana e fez-se nosso Irmão para e levar o homem, aiudando-o a escal ar as alturas! Veio rasgar as tr evas e ressuscitar o Mundo, que estava morto! «Mas as trevas não compreen- deram a Luz e o Mundo não O conheceu e os seus não O receberam»! Se nos procl amamos discípulos, se somos Filhos da Luz, porque ·fe chamos os olhos e dei- xamos apodrecer o coracão?I Temos de «dar testemunho do Luz• para que todos os olh os se abram à. Verdade e as trevas se dissipem; temos de salgar a Terra para que toda a carne se não co rrompa ... LUZ E SOL! ... Anda o ódio a pegar o fogo à terra, porque nós. crist ãos que não somos, não abrazamos o Mundo em labaredas de Amor! Levantou-se no horizonte tenebroso do orien - te uma estrela... cadenle, mos o seu brilho mo- mentâneo, com revérberos de clarões infernais, cegou mu itos olhos desejam ver a Luz ... ( Con t1n uo na pó9. 3)

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Page 1: DE POR '~ ');;,:)i;;~J!! E DAgentesdeloriga.wdfiles.com/local--files/jornal-a-neve/ANeve-1949.12-[0010].pdf · quena igreja de Loriga, já múito velhinha, construí da e reconstruída

ANOJ

POR TUDO

E POR

TODOS

EDITOR: José Luís de Pina - LORIGA

. '.\:~~~ll\}11~~

'~ ');;,:)i;;~J!!

Loriga - Dezembro de 1949

11 D!RECTOR E PROPRJET ÁRIO: Dr. Carlos Leitão Bastos

R. Morqu~s do Frontelrcr, 84-1.0 - Lisboa li

N.0 10

A BEM DE

LORIGA E DA -REGIAO

REDACJ'OR: 'Eng. Emílio Leitão :Paulo LORIGA

ADMINISTRADOR: Atmanào Leitão - LORJGA COMP. E tMPRESSO: •União Grál.lca• - R. Senta Marta, 48 - Lisboa

*

Dia Santo entre os mais Santos! Encerram-se as aulas, e o aluno regresso à

cosa paterna. A fábrica e a oficina fecha as sua:s portas, e o operário recolhe-se, alegre, nessa oficina de almas, iluminada por um sol mais .brilhante e aquecida por um fogo mais ardente - a família. ·

O trabalhador simples e rude do campo trouxe de véspera, sobra os ombros castigados por duro e ingrato labor, um cepo mais pesado de velha árvore que morreu, uma ac.'la a mais para aquela Santa Noite, pois Iode a casa está na cozinha ... Em volla da lareira se reune toda a família: a mulher dedicada que deita e vol­ta a mossa de trigo no azelle que ferve o can· tar no serlã de barro; os filhinhos à espera da filhó e aguardando que o Deus-Menino baixe do Céu, a colocar a prendo no :sapato PQslo na chaminé ...

Até se interrompem as Grandes Assembla!os Internacionais; e sesses dias não se pronuncia­rão tantas palavras de mentira, vomitadas pelo ódio e pelo ambição ...

O mrmdo suspende a sua marcha por um mom-ento. e a Terra inteira comemora esta data festiva e solene, o Grande Dia da História da Humanidade:

Natal! Natal! Nasceu Jesus,

Filho de Deus e da Virgem, e Nosso Irmão!

• • • Haverá alguém, por ventura, que não re­

corde o Natal?! O sem-Deus!. .. O sem-Família! ...

O pagão · que adora todos os ídolos, mas, ceguinho, não conhece o Verdadeiro Deus .. _ não tem Natal! . . . , t

O materialista, que nega o esp1n!o, a alma, q Fé e a Crença no Redentor do Mundo ... não tem Natal!._.

O homem anirnal - «anirilalis hommo>, o bruto que merqulha no lodo, que só lem carne

e não tem alma, que proclama o amor livre, para satisfazer todos os instintos, e que não conhece o casa, a mulher e os filhos ... não tem, não podia ter Nato li ...

• • • A. meia-no.i!e daquela noite foi meio-dia pa­

ra todo o Mundo! E não há ninguém, mesmo o sem-Deus e o sem-Família que não ouça a ferir-lhe o ouvido e a bater-lhe no coração a palavra que diz tudo, que resume todo o Livro da História do Mundo:

Natal ! Natal! Ouem é capaz de suprimir esta data do

calendário? Nem todos os -perseguidores de todos os tem­

pos, porque Crislo a escreveu no coraç?o êe cada crente(

Natal! Cristianismo! Igreja! Palavras e rea­lidades divinas, com sabor ·a Eternidade! . . ~

Natal! Festa de Família! Nesse dia, mil vezes · bendilo, parece que a

caso é pequenina para a todos conter: vêm de longe e de perto, os que podem. Os querídos ausentes marcam a sua presença enviando cumprimentos, que nesse dia nunca esquecem.

Até os mortos são mais. lembrados ... Até os pobrezinhos sentem menos frio e mais calor ... Há sempre quem encontre uma peça de roupa nova ou usada que vai agasalhar membros re­gelados ... é rnais abundante, mais quente, mais saborosa a sopa que se reparte com o necessi­tado que nos bate e porla ...

• * ., ó homem! Porque não vives em cada dia

da tua vida o Natal?! Não ouves o cantar dos Anjos anunciando a Grande Aleg:ia. prome­iendo a Paz, a Felicidade, a todos os homens de boa vontade?! ·

Se Iodas as ideias más se esquecem nesse dia, se todos os ódios aos pés se calcam. se todos nos sentimos mais felizes, porque mais

Irmãos, porque não viver o Natal em cada dia desta triste vida?!

* • • Eu compreendo, m<IS os Grandes Responsá­

veis teimam em querer ignorar. Não pode haver Família, nem Paz e Feli­

cidade. no Lar, sem Cristo; não podem os Povos, a grande Família Humana, viver em harmonia, sem Cristo: Ele é a Verdade, a Justiça, o Amor!

Natal - nãó é uma palavra vazia da senti­do. Cristianismo - não é somente uma doutri­na, a mais sublime embora; é Vidol E o ho­mem de hoje procura a morte_ ..

*' * -Não esqueças: Cristo, o Grande Revolucio-

nário, veio remir o homem todo e todos os ho­mens. Veio curar: as chagas do corpo e as cha-. gas da cima; trouxe a Justiça e o Amor à Ter­ra, e se não vivermos em Justiça e Amor para com Deus e para oom os nossos irmã.os, a Re­denção não se -operará, e o Mundo será um inferno de desordem, um mar de sangue ...

O filho de Deus não deixou o seio do Pai para vir pas$ear à Terra ... Revestiu-se de ncrtu­reza humana e fez-se nosso Irmão para elevar o homem, aiudando-o a escalar as alturas! Veio rasgar as trevas e ressuscitar o Mundo, que estava morto! «Mas as trevas não compreen­deram a Luz e o Mundo não O conheceu e os seus não O receberam»!

Se nos proclamamos discípulos, se somos Filhos da Luz, porque ·fechamos os olhos e dei­xamos apodrecer o coracão?I

Temos de «dar testemunho do Luz• para que todos os olhos se abram à. Verdade e as trevas se dissipem; temos de salgar a Terra para que toda a carne se não corrompa ...

LUZ E SOL! .. . Anda o ódio a pegar o fogo à terra , porque

nós. cristãos que já não somos, não abrazamos o Mundo em labaredas de Amor!

Levantou-se no horizonte tenebroso do orien­te uma estrela ... cadenle, mos o seu brilho mo­mentâneo, com revérberos de clarões infernais, cegou muitos olhos qu~ desejam ver a Luz ...

(Cont1nuo na pó9. 3)

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2 A· NEVE

DEFENDENDO O CULTO DE

NOSSA SENHORA DA. 6UIA

Sabei-lo Vós, conterrâneos da velha G1:1arda, de· quanto prestígio gozou a N.• Sr.• da Guia pela· nos• s:Í querida Beira e, não ignorais, também, que e:s.e prestígio não fora conquistado à sombra de arra1a1s - como o Sr. Gonçalves da Silva pretende-: mas sim; à custa do abnegado esforço cristão quase he· tóico, dos loriguenses nosso Avós!

Impõe a justiça que demonstra aos leitores de (<A Neve» que, quanto ao que aqui escrevi., foi o amor pelo divino, sempre a bem da minha terra que me obrigou a acentuar a necessidade de ver restaurado aquilo que contribuirá para o seu engrandecimento.

A crítica, quase imparcial e sincera, é sempre ad­missível porque visa esclarecer, corrigir, mas, quan• do feita a nosso bom modo. cai-se por vezes no erro. por só vermos aquilo que muito bem nos parece.

O Sr . .Gonçalves da Silva errou o alvo ao conce· ber que fora necessár.io ·.imprimir à sua romaria o espírito cristão que se perdera .no andar dos t~m­pos. Perder-se-há, sim, se não se enveredar por outro caminho ...

.· Após comentários históricos vistos _parcialmente. exemplifica que as romarias de «A e 'B>i acabavam

· sempre _com ,vítimas ·a· caminho dos cemitérios, das -cadeias, dos hospitais. etc . . Mas permita-se-me. uma .análise: Se as r~marias ao tempo •. na V. terra., eram um bacanal ·de inferno e se se pratica tudo quanto de mais ignóbil pode existir, teremos de deduzir, !Ogicamente, que por muito grande que fosse a cam­panha da Acção Católica contra esse estado de coi­sas. seria impossível recristianizar tantos e tantos ... Estou certo de que. ontem como hó"je. o Nlinho foi sempre o expoente máximo do catolicismo portu­guês. Se é necessário vermos os factos à luz da his· tória, a fim de não cairmos nos mesmos erros, não é menos verdade que a religião é acompanhada pelo todo de uma civilização e nunca no seu pormenor.

Quando afirmei que o loriguense antigo não era

menos crente do que o actual. estava vendo a pe­quena igreja de Loriga, já múito velhinha, construí­da e reconstruída pelos muitos poucos de ontem mas que é aindã: a única .de que dispomos para os muitos de hoje; v ira também o coreto da sua ermida, a criação da nossa Band.i, uma cruz de prata para a Paróquia e ainda a construção de quatro chafarizes dos quais muito Loriga beneficiou. Tudo isto foi possível. com.o? À luz d.a v~r~dcira , .f§. ci:\~~~: Os arraia1s de então não os inibiram de bem-fazer.

Os loriguenses de outrora foram possuidores de uma fé que nos legaram e, a n6s - homens de hoje - impõe~se•nos o dever de não os olvidar. de lh~ seguir .o exemplo.

~orque diz o apóstolo S. T iago que «a fé sem obras•.esfá .rnprta ·em· si mesma» eis porque desejo ver rêstáurada uma tradição que s~ i~põe . a olhos vistos:

· Vós· não tendes ·saudades · pelas i:omarias doutros temp,os,- dizeis.· Pelo; .có'.ntrário ... n~s · ten:ios saudades das .. nossas romarias, porque vimos nelas sempre. e acima de tudo 0 verdadeiro espírito cristão e admi­tirriqs a· teoria que a A. C. prega no Século xx· que para-' se ser bom católico não é· necessario anda.r com os olhos fixos ·no chão. . -

. Assim como OS · arquitcctos dos nossos dias con­

cebe~ o estilo ccà antiga pórtugu~a» adoptando-o ao 'coiµorto e requisitos modernos. dando-lhe. po rém. ·o . carácter e· a riquéza do seu primitivismo também às entidades religiosas pod~rão permitir se efed:uem as romarias, · imprimindo-lhes. a disciplil).à e

. e

a. ordem que mandam ' as r~ras da mciral. .. . Uma festa horâeita e digna com a verdadeira

fé. é · pelo que -todos ambic~onainos. Não sou apôlo­gist.a absolutp dos folguedos mas também não con cebo <iue se .iniba ao nosso simples e bom povo d exteriorizar a sua alegria nas romarias.

António Gonçalves da Cruz

................ _ ............. - .... ----·-..... --··-·---~ ..... --10.: ..... ----------..

COlééio DR. SIMÕES PEREIRA SEIA

e urso 6eral · dos Liceus Estão abertas as matrículas.

Dá inlormnções : DR. JOSÉ NENBS PEREIRA - Telel 39 e 47 - SEIA Resultados obtidos pelos alunos propostos a exame no

corrente ano: 2.º . ANO DO LICEU

1 - Edite da Silva N.eves - S. Romão . . . . .. 2- Fernando Mota Veiga-·- Seia .. . 3 - Horácio Miranda - Seia . .. . . .. . . 4 - João Luís Frade Sousa Gomes - Lisboa . ..

. 5 - Maria Emília Frias de Oliveira Martins - Seia 6 - Maria Fernanda Gonçalves do$ Santos - Seia 7 - Maria Marques da Cruz - Sabugl;leiro ... 8-Sisnândo Conceicão Oliveira da Silva- S.

Romão .. ..... .. ~- ............. . .. · ....... . .

5.0 ANO

1 -António da Motâ Veiga Casal Simões de

13 valores 11 )) 16 (distinto) 10 valores 13 )) 15 » \ 1 Yl

1 1 ))

Pina - Sandomil .. . .. . . .. . .. . . . .. . . . . . . . 11 valores 2 - António Pedro Baptista. Ribeiro é:la· Si lva -

$ . Romão . .. . . . . . . .. . . . . . . . 11 » 3 - Isabel .Maria Mendes Saraiva - Seia . . . . . . 13· » 4 - João Melo Dias Mota Veiga - Seia . .. . .. . .. 13 » 5 - Jorge Cardoso Marques dos Santos - Seia 12 »

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"

1

1

DEZEMBR0 -194!

A . .

•,

3.º ALMOÇO DE tONFRATERNIZA~ÃO

F DA

AMÍLIA LORI6~ENSE no

À semelbança dos anos anteriores, realiza-se próximo mês de Março, em dia a fixar opor·

namente, em Lisboa, mais uma reunião da mília loriguense. que se propõe dar contini.Ú· de àquele estreitamento de relações, en:i· a~' ente e fraternidade e união, em boa hora in1'

ado .

tu fa da bi . CI

fe ta d se su ra

Ninguém pode negar o alto significado di:sta sta familiar, em q ue aqueles que dispersos ries·

cidade enorme em luta pela Vida, e afasta· os por esse motivo do lar que os viu nasce!•

unem, para ao menos num dia Teviyerern ª a i~ânc~a junto daqueles que com eles pri"a· m no altar da. Terra que os viu nascer.

Neste "dia ;...... .verdadeiro Natal da f~mília lo· guense - todos ·~omos irmãos e estamos ali , ara· nos .'sentkm~s mais perto da nossa Terra• ara afirmarmos que somos uma força. consti·

uída em bloco uno, indivisível e indestrutível. oro quem Loriga pode contar para tudo que en· olva progresso e bem estar dos nossos conter· âneos.

n p p t c V

r E porque assim é, quiz a Comissão deste lll­

moço que a sua data coincidisse com a do 1.º Aniversário do nos~o jornal, à volta do qual to·

os nos devíamos unir. para assim marcharmos d (( A CAMINHO DE NOVOS RUi\·105. RAS· GANDO NOVOS HORlZONTESn uTUDO PA· RA BEM DE LORlGA11 .

Os tempos que correm não permitirão por cer:. t

t

o que se assodem à nossa festa. muitos JoS conterrâneos. que vivem em Loriga, ou meihor antos quanto seria nosso desejo vê-los cá, rna.s

estamos certos que no próximo mês de Março• veremos co.nfraternÍzar Utn maior número de }o­riguenses, do que aqueles que se têm associado a reuniões passadas, que com tanto brilho têm decorrido.

Fazemos o aviso e o apelo, a tempo, para que todos, e em especial a nossa colónia de Sa­cavém. se possam ir preparando, para o dia que ansiosamen.te aguardamos. Esperamos que to'dos estejam dispostos a fazer este pequeno sacrifício. para que bem alto se erga, em Lisboa, a uniãô · que deveria militar na nossa Terra.

· As inscrições aceitam-se desde já, ·na nossa Administração.

Estão entre nós os neos António Lemos Leitão. ·

,., nossos amigos e conterra-Leitão e António Cabral

O último número de • A NEVE. caiu tão bern no co' ração dos loriguenses. que reina l\eles granàe ansiedade pe' las p róximas férias de Verão • .a fim de irem até aí, para ver ·e crer· como S. Tomé. .. •

Está de parabéns a direcção de "A Neve» que e;:: reali<bde a uma das velhas aspirações de Loriga: a 5

sistência. . .. e A nova geração está marcando posição de destaqll

t 6 - Maria Lucinda Costa Ferreira - Folhadosa 12 » 7 - Manuel dos Reis Fonseca - S. Romão li » 8 - Jorge da Costa Santos - Quintela . . . . . . . . . 12 » 9 - Maria Zelia Sena Mendes Liz - Seia . .. . . . · l O »

e ox:!lá não desfaleça nos seus elevados propósitos e <!~: ­todos saibam compreender - neste munào por vezes retrógradas - o grande ;olcance social desta Obra. .

Daqui felié.tamos também a big."'• Junta de Fregue~1ª; por t.star dando solução ao problema d01i esgotos e, b. fim, ampliamos os no.sso votos para que. o Ex.mo Sr. f• ·

António Melo, Dig.mo Presidente do nosso Concelho - : qual depositamos a maior confiança, quanto :i.os d~!nos af2 nossa Terra - conceda a Loriga a verba necessana P . .

N. B. - Não ficou reprovado nenhum dos alunos propos!o5 a exame.

.. , ........ .., ........ ·----..---------------.....-------------....... '""""--- - o calcetamento da rua principal.

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DEZEMBRO - 1949 AN~ 3

Sonho e Sauddde

Eu tive outrora tão lindos sonhos!. .. Sonhos tão belos de criancinha Que nasce e cresce n'aldeiazinha De aves ouvindo cantos risonhos.

Crescem os frutos na Primavera, A vida muda e eu a brincar ... Olhando o mundo, sempre a cant.-ir, Doces esperanças minh 'alma gera.

De Julho o C<1lor, quase sufocante, Excita em mim o virus ela. idade, Vindo tninh'alma dormente acordar.

. ' E desse sonho, que é já tão distante Sinto, sômeote, a grande saudade De não mais poder dormir e sonhar ...

MA GRELO

Criança Ouando te veio sorrir. p 'ra mim, criança ... Fujo à carícia do leu olhar de arconiÓ, Em que matei, p 'ra sempre, toda a esperança E em tormentos louco~ me confranjo.

Teus olhos magoados .. . p equenina . .. já me fiíaram um dia c-0m fervor, Mas eu apaguei neles , o brilho, a cor, Toda a lua candura de menina .

E quando veio teus lábios vlrginais, Em que ninguém, ninguém deixou jamais Um sopro de amor, uma lembrança ...

Tenho remorsos dos beijos que te dei, De tanto, ianto amor que te Jurei Porque me chamas agora lu criançol

OLGA

UM <CONTO?aaa ·Um conto lhe chamo eu, para não dar nas vistas.

Mas tu, lci~or. 2tenta no caso veridico que vou con­.tar. Peço não ·me interrompas, não vá perder o fio à meada.

Lernbras-te de ·Maria das Dores? Não te recordas? Eu digo quem era.

Alta, magr:i, cabelo preto, olhos de luz mortiça que um mar de lágrimas a -pouco e pouco extinguiu, sempre enrbrulhada no chaile preto . para ocultar a blusa' rota. Assim se :i.presentava eTl'l pt'1btrco. cada vez -que necessitava de. de.~aba<fa:r com 1Deus, ou aque­cer o túmulo do seu querido Luís, levado por mãos .angelicais -0ito dias após o nascimento.

Não sabias que havia sido mãe? 011ve que é in­teressante, podendo servir de exemplo par,1 casos Í11-

- t11ro5. Maria das Dores ti'n1ha dezoito anos. Obediente a

sua mãe, cresceu com a alegria nos lábios, até que a morte Lhe levou a autora de seus dias. Sem ninguém nem fortuna., pediu emprego .numa .fábrica. O pa­trão condocu-se qa po'bre orfã dando-lhe algo que fa, zer. Assim passou tres anos, de casa para a ,fábrica -e da fábrica para -casa.

Chegou o verão, e com de uma fam ília que to­dos os anos •vinha matar <!audades à terra <1ue a viu nascer. Servia-lhe de criada a menina Glóriâ. Como se modificou num ano passado na capital! .. . O rolo do cabe.lo desapareceu para dilr lugar a uma perma· nente. Ao vestido de lã sucedeu um de cllita. Os tôlcões dos sapatos suqiram. A cor t;igueira desapa• receu.

A capital começou a su.'l~ir à cabeça das rapari­gas. Então, com as belezas e prodígios que a Glori­nha contava, maior era a loucura.

Maria das Dores, entusiasmada com Lisboa, pas­sava as .noites .a ·sonh ar. ·Na farbricà o harulho das máqunas lembrava-Johe o ruído dos taxís. A vida da nos.sa terra não passava de um cativeiro.

Sem dizer adeus :foi-se embora, a caminho da qpitaL A viagem acidentada e longa, não a descre, vo, .não vão . duvidar da veracidade desta história. Oculto também as diversas imp~essõcs pelas quais Maria das Dores :foi assediad\l.

·Passado bastante te'mpo, ·vamos encontrá-la de­bruçada, alvando o sobradq dum es<ritório. Quantas lágrimas lhe ajudaram a lavar aquelas :negras tá­bu2s?... Quanta 1fome não passou para arranjar tão negro calvário? .. . .Lisboa ter-se-ia transformado num jnferno vivo. se não fora a corte que um r.ipaz Jhe dispensou. Tão simpático, tão belo, tão elegante!. .. Pedia-lhe namoro, acedeu. Era o despontar de sua primeira paixão.

IDe início. não .passavam de ·beijos trocados às ocul tas, os sentimentos daquele amor carnal para um. ·Platónico para outro. Combinaram passeios, aguarda­dos sempre com viva impaciência.

Após um desses passeios, •Maria das O-Ores reto­mou o caminho de <:asa, um pouco apressada. Dei­tou-se na cama a 'Chorar sua desventura. Mil pen~a­

. tnentos lhe acometeram o céreibr'o, mas todos eles çonvergiam pa·ra a saudosa memória de sua mãe.

E assim decorreram horas e horas, desfiando o

rosário .lacrimogéneo. Já de madrugada uma ideia sal­vadora lhe secou as .fontes orbitárias. Um pouco re­conciliada com a negra sorte, ·foi para a janela, ver .sepultar no oceano, aquela noite, a primeira em sua vida.

À hora marcada, não ·faltou ao encontro, para co· municar a ídcia salvadora que sua mágoa profunda descortinara.

Depois ae relatada a noite angustiosa que lhe gravou .no rosto tão :profundas ol1heíras, acrescentou :

- Uma ·única solução viável se nos depara: Tra­tar dos papéis quanto antes a fim de legalizarmos nossa situação,

- Que importa - retorquiu ele ---' viver à mar­.gem de todas as leis se apenas uma nos convém -a dos nossos corações?

-iMas essa não satisfaz minha consciência re­ligiosa, nem tão pouco seria suficiente para impedir olhares de repulsa que a 5<><:Íedade deitaria sobre nós. Além disso, se cm mim se desenvolver o protesto de nos!os amores. queres ve-lo cabisbaixo, por culpas que só nós cometemos?

Anda, fala. Repugna-te a nossa união? . -Maria das Dores, impossível pensar cm casar.

Pa;xâo maior e mais antiga é a que dedico a outra mulher, mãe de meus :fi}hos.

!Maria das !Dores não conseguiu articular palavra. Apertou-se-1-he um nó na gargan ta, e as lágrima'S nul'I4t correria doida, 'Pareciam querer transformar em oceano, a pequen~ distância que os separava-. .Sem quJllquer gesto de de.spedida, afastou-se daque· le monstro entregue à satisfação animalesca que a lanÇou··na desgraça.

·Foi a. 1casa, n1etcu a roupa :na mala e .partiu a caminho da terra que lhe serviu de her~o. 'Só então icompreendeu que permanentes, meias de seda. sa­patos de salto alto, vestidos de chita, etc .. eram lu­.:xos que lhe podiam servir, mas não pelo preço que vulgarmente custam.

Assim que chegou, tomou a direcção de casa, onde · foi encontrar maior tristeza que dantes. Definhava

a cada moment<>. Ainda tentou reagir quando perce­beu que suas entranhas geravam -um novo iser. Em­.penhou as q uatro paredes, mas a tísica que a consu­mia, ia dev<>rando a pouco e pouco sua .presa, que jorrava sangue quando a tosse convulsa e pertur~ bav;i.. Chegou o ardente Julho e com ele mais uma boca naquela casa. Mas. infeliz bambino, morreu oito dias após o nascimento. '

A dor daquela que o infeliz destino propuzera .para sofrer. era tão intensa que 'bem poucas mães podem avaliar. Oh! negra sorte! Seres tanto infeliz! Deixa-os sonhar suas poucas ielicidades . ..

As pouos vezes que saiu, er:i.m someo~e para ·de­.sa.<bafar com Deus ou para visitar o iseu querido fi­lhito.

Caíu na o.ma, para .nunca mais se levantar. Mo­mentos antes de expirar :iinda balbuciou:

.-Se foras viva ... iMãe, ·perdoa tua filha ... Per ... do . .. a •

MANUEL 1.EMOS LEITÃO

Natal! Natal! (Conlin;.1oçôo do J .• pó9ino)

B::rsta o Sangue e a Morte de Cristo-Deus paro r.asgcctar todos os homens e salvar mil lv1undos!

. .. E. nós continuamos a ensanguentar a Te r­ra, escraviscndo o homem derramando sangue . . l inocente ....

Há prenúncios de aurora, claridades divinas para as bandas do Oriente.

Em Belém nasceu Jesus! Sobre a mangedoira em que Sua Mãe O re­

clinou, - porque os homens O nõo recebe­ram -, incidem raios brilhantes do Estrela que cintila no firmamento e ncs aponta o Presépio.

Simples e de a lma lavada como os pastores, fiéis, decididos e generosos como os magos, le- · vanlemo-nos, vamos a Caminho!

Só aquela Luz pode iluminar de verdade todas as veredas tortuosas dçr vida ... Só aquele Amor pode ainda aquecer o coração gelado do homem e salvar a Terra, trazendo ao mundo o reinado da Justiça e da Caridade.

Vamos 'ºdos cantor Natal! Vamos todos vi­ver o Natal!

(Conf!nuaçõo da p6qin a 6/

O «Inteligente)) manda tocar novo sinal e do cu~ro saem 6 ou 7 cabrestos. Estes conhece-os ele bem. Sabe que dali não v.em mal nenhum e não se admira por o touro os seguir, com docilidade, sob ª. orientação de dois campinos que, de pampilho em nste, .os lança para dentro do curro.

O borborinho na praça torna-se mais sereno e o nosso Zé aprovc~ta para ouvir o velho de grandes barba~, que, pac1i:ntemente. responde às perguntas do rn1udo que agita o lcn)o. em repetidos Olés.

- A líde, Necas, agora é de outr;i m;meira. Vão entrar os matadores que todo o Mundo C'onhec:e por <cespaàasi).

O Zé deixa de ouvir o velho para só ver o tal homem de trages de oiro que lança o <a.pote com gra.ciosidade desenhando no ar vistosas combinações em que se envolve touro e to11reiro. Esbogalha os o~hos porque o toureiro lanç.'! a capa pelas costas e fica mesmo em frente d? touro. O coração bate-lhe apressado e quando o touro investe, a capa abre-se long~mente como cobrindo o animal. Enraivecido. o animal volta-se e a capa, suavemente, vai atraindo os cornos do bicho, permitindo que o toureiro rode sobre si mesmo, pera~te um formidável uOlé», gri­tado por aquela multidão desvairada.

O Z~ do Av.enal sente fugir-lhe o s.-ingue das faces. Nao acredita no q\le vê. O tal homem dos trag7s ~ue luzem, v.ira as costas ao touro, olha para o publico, com o bicho muito quieto a duas braças do homem. Pensa ·no enorme poder que terá aquele homem. pa.ra fazer assim parar uma rez brava.

As 1de1as acotovelam-se no espírito do Zé. . O espada pega em dois ferros - os tais paus

pmtados. Lança o desafio ao touro e, em correria louca, touro e toureiro encontram-se para que 0 ani­mal receba os fe~ros, - as bandarilhas - pregados s~m que ~ Zé saiba como aquilo foi. Nasce nele um vivo. ~eseJo de fazer o mesmo com um bezerro do Joaqmm da Horta.

A multid~o aplaude. O Zé não sabe que fazer'. Pensa .no T otno do T eixeiro, no Xico da Ermida e no Abílio da Regada que se ufanam de :valentões:

Qu~ndo chegar ao Casal vai contar•Jhes aquilo q.u~ viu e apos~rá três copos d a «rija)) que ele, so~1nho, será capaz de alll.lnsar o toiro do Zé La, pe1ro que já partiu as costelas de todos eles . ..

ARMANDO LElT ÁO

COMUNICAÇÃO JOSÉ MENDES LOPES, proprietário do BAR

LIDO - Çoimbra, comunica aos seus estimados clientes e amigos que encerrméc o seu estabe­lecimnto, durante os meses de Dezembro, Janei­ro e Fevereiro. próximos, reabrindo-o no dia I de Março. Durante aquele período residirá em Valezim.

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DEZEMBRO'-· 1949 A NEVE

A MúSIC)\. E A· POESIA NA ALMA DO POVO

Quando Deus criou o homem e a este foi da­do contemplar o seu Criador com toda a sua. ma.­jestade e omnipotência; outra coisa rião podia ter 'feito, pois nada nlais possuía ou estava ao seu alcance, senão elevar o seu espírito e. em êxta­se, cantar as glória de Deus no maior preito de humilde gratidão.

A poesia, sendo a elevação do espírito para o mais alto, 11asceu portanto com o homem na­quele momento sublime .da criação; e com ela a música . será irmã gemea, que entre si se comple­tam. Portanto, o homem que não encerra dentro de si música e poesia, é um se.r incompleto. anor­mal. Oiçamos o que nos diz: a propósito, Sha­kespeare; uO homem· que em si não tein música, ou que · não · for comovido pela· harmonia dos sons; ·está apto para as traições; para· os estrata-gemas e párâ ós latrdcínios. . . ; .

Os movimentos do seu espírito são surdos co­mo a noi'te' as suas afeições 'tenebrosas como o Erobo. Não vos deveis confiar nunca a· un1 tal homemn.

Incutamos à juventude o amor pela, ia a di­zer divina arte dos sons e da poesia, certos que· a encaminharemos pelo rumo do mais alto, ·do mais belo. A paixão pelas artes celestes, cultiva e afina a nossa sensibilidade, torna-nos ' mais in­dependentes da matéria ·neste mundo cada vez mais envilecido, e aproxima-nos mais do apo­geu das grandezas do espírito.

Já Platão. exigia que os mancebos da sua re­pública fossem educados ppr bons poetas e ar­tistas, para que entre músícá e poesia tudo os le­vas~e desde a infância a imitar e a arriar o beio. Se 'quere~os ter uma sociedade de amanhã ine­nos perver;sa do que a actUal, .menos ·a:ganada a questiúnculas . terrenas, ensinernos aos . jovens . a viverem a arte e a amar o que é ver'dadeira­~entc belo, a admirar ti.ido o q~e a rodeia, des­de ·O rumorejar das fontes até ao estrondo do trovão. ' '

O homem só é verdadeiramente rico, quando sabe amar toda a obra do Criador.

Senão dizei-me: A quem dá maior felicidade aquela formosa colina ou aquele vale cheio de beleza, povoado de .árvores altaneiras sacudindo 0 .S séUS ramos com a brisa .matÍnal numa manhã primaveril, onde as avezinhas dão ~aças a Deus com os seus gorgeios? Aos seus a~aros propríe­tários, cuja única, const~nte e aflitiva preocupa­ção é fazer cre.scer o' monte. do · seu vil metal mesmo que · para )sso seja ne.cessário recorrer à

desonra e ao crime. ou ao pintor que, em êxtase, conternpi'a as maravilhas da natureza e na tela cria a obra que o imortaliza, ao poeta 9U músico que por ent.re a folhagem espreita o luar lindo duma noite calma. escutam o que lhes diz o re­galo de águas cristalinas no seu murmúrio, as avezinhas . no seu chilreio em busca de inspira­ção, ou ainda ao pobre v.iandante ·que, · com a paz na conscíência. descansa das suas fadigas e se .deleita com a i;ombra duma . árvore?.

São. estes sem dúvida os seus verdadeiros pos­suidores.

* * * Loriga é uma terra das mais ricas e.m recor­

dações folclóricas. Pena é que se vá deixando morr~r·. o que de mais belo têm os povos: A. sua poesia~ as suas canções, 0 s seus costumes .. cris-· tãos, as suas· lendas, .. t.udo, enfim ,' o que de es­piritual eles possuem. Já vai longe o tempo em que todos os Domingos era dia de festa, em que a mocidade e até os mai$ idosos se refaziam das lides da sen1ana cantando, bailando. dando lar­gas à sua sã vivacidade juvenil que os cara·cte­nzava.

As romarias. eram .esperadas com ansiedade. porque elas eram o fulcro das suas alegrias. ·

Alastra pelo país uma onda para o reaportu­guesamento da raça, isto é, pa.ra restituir ao po­vo o que era seu e vai deixando perder; O seu folclore, e tudo aqt:1ilo que ó torna realmente portugu~s. (\.1as... Porque te deixas e~vilecer ó povo? Pelas · dificulclades sempre c~escentes da hora que passa? 'l\1as não será na pobreza que reside a verdadeira poesia? Não viveste oul-rora horas tambêm amargas? Não haverá poesia tam­l;>ém para exprimir a' dor que nos vai na álma?

A vida só ' tem sentido quando se vive e ·não se vegeta, isto é, quando há poesia. .

Foi inspirados nestes sentimentos poéticos que os nossos antepassados criaram a sociedade musical que na nossa terra existe, ~a· qual pu­seram todo o seu amor com v.erdadeira com­preensão do seu valor para o engrandecimento da sua terra natal. ·

Saibamos nós também seguir o seu exemplo, ser os briosos continuadores dessa obra que eles tanto estremeceram para aue continue a honrar lá longe, cada vez mais, ~ nome de Loriga, e

· s~ja viveiro de amante da arte das artes para . bem e!>piritual da nossa terra.

A. P ,. Ascensão

Ouunto.muis conhe~o os boJDens mais gosto dos ~ues Este ditado embora muito ,deprimente para

OS homens' tem mesmo entre eJes grandes e Cj'l•

tusiastas defensores: Todos. aqueles que dos Seus semelhantes têm recebido ' ingratidões que nunca nenhum cão sé atreveria a praticar. Vem isto a propósito de U'l'Tl ' cão que existia em certa casa da nossa 'Beira; em casa onde havia um morgado tratado. com todo o mimo e tinha a sua graça quaiido um e outro se entretinham em brincadeiras inocentes. Raro era o dia em que

:o ·-·T ónecas Môrgado, simpático traquinas, nã9 se sentasse à soleii:a · da: porta; em brincadeira com o Tejo, carp'ulento cão, como todos os da raça que abunda na i:iossa Serra ·da Estreia. O T onecas e o Tejo tornàram-se amigos ins'epará­veis, e tanto assim que depois da entrada na idade escola~· ainda o Tejo acompanh~va dià­tiamente à· escola: E tão afeiçoado era o cão ao filho do seu dono, que enxotado da escola, aguar~ dava cá fora o encenamento das aulas tão cal-. .. . . .... . . . . . mamente e com tanta pac1enc1a como se estives-se de' castigo. E a não ~er atraído pel~· olfato. ou t:>elo instinto, coisa alguma o faria arredar dali. Te~minadas as aulas o Tonecas e 10 · Tejo, ·lá vinham pela rua fora em direcção à quint~. E~­ta . amiZa.de durou, ·e toda . a gente os conhecia a ambos. Um dia, porém, o seu amigo. Tone­cas adoec~u e 0 cão que não queria ~b~ndonar o leito dele, tinha de ser cor.rido pelos pais de l' oneca. De tal maneira a doença se · agravou q?~ dentro em pouco a mórte chamou a si o sim­'Pahco T onecas. Pois no dia do' funeral de tão saudoso traquinas toda a gente viu. o Tejo ao

' . . lado da peq~ena urna, e admir~do ficou o dono

quando disso teve conhecimento, por estar con­vencido que o tinha bem fechado em casa pró­pria, pelo movirq.ento que a sua casa registavEJ. nesse dia. Fechado e bem, mas o instinto do animal, anunciou-lhe a morte do seu grande ami~o . . e então, .depois de grandes esforces. ~on­seguiu soltar-se . da prisão indo akan.çar ~ enterro antes da chegada ao cemitério. E é que não hou­ve ameaças para . o escorraçar não largando ia-

. mai·s aquele lugar sagrado, descobrindo sempre forma de saltar os muros se lhe fechavam a por• ta, num e'sforço violento · e inacreditável. Procu­rava a sepUltura do que ·foi em vida seu grande ami·go e ali fica.va sem comer nem beber latindo de espaços a espaços como que soltando, gemi­dos, num coagir de sentimentos e ·de dor. Aque-

. les tristes e · comoventes uivos, até pareciam pre­ver outra morte. E de facto. Era tão grande. a sua dor que o pobre animal não p6de resistir e o cov'eiro foi dar com ele morto sobre a campa daquele· que tanto o· estimara em vida. Não po­dendo so,breviver à· sua 'morte, quiz ·morrer junto

. do coval do seu bom .e sincero. an:iigo, ' ao holo­causto ·ao afecto, jamais destruído. Impressionan­te com efeito, e fact'O digno de maior brilho e narrativa. O exempio, porém, é o que mais in­teressa; porque· veio· uma· vez mais confirmar as palavras e o concc;ito dui:n grande escritor:

Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos · cães.

Fernando B. Adrega

s

Pela Vila MELHORAMENTOS LOCAIS - Consta-nos que a

Junta da Freguesia recebeu da Câmara Municipal do nosso Concelho. lim projccto riar~ o alargamento da nossa rua prinópa\. .

Para obra de tão largo alcance, esperamos que se Ct\·

viciem os melhores esforços destas duas emidades para que cm breve Loriga possa d ispor ·pelo menos de um~ obra, entre tantas a qcc tem jus.

- Continuamos o insistir e pugn~r pela mudança da praç;i p~ra lotai mais. apropriadd.

Estão cm jogo a saúde ,públiéa pelo mais anti-higiéni­co local utilizado, e ainda o Ínlercssc da terra para que a sua rua· orincioal não seja por vezes tão <\Cà~tigada» com t.Jo infecto~ r.eskl uos de imundície.

- Continuam as ohras da co.nstruç5o ·do bairro. Que em breve e vejamos conduído, são os nossos votos since­ros, visto tr•tar-se· ·dum problema do máximo interesse para Loriga.

- Foi dado o orimeiro -oasso oara ocrm1t1r sanear as várias mo(adias da Õrindo;il "arréria· da Vila. Lembra;.,os a necessidade Ímcdiatá !Ío. cak~tamento . da CU<t 1 pata QUC

não se agrnve o estado já por si tão 'de.piorável d!l sua. pavimentação.

BAPTIZADOS - Na lgrnja Paroqu i:i.) rc<:cbcram o Sacrnmcnto do baotismo: Mari.1 F.ernanda, filh:i do sr . António Mendes Âsccnçlio e de D. Filomcn;i .Nurics de Brito; António José, Ellho do Sr. Abílio Elias Correia e dé D. Maria do Carmo Gomes Figueiredo: Armando, fí, !ho do Sr, Plácido Pinto Luís dos Satuos e de D. Maria José Nunes de Pina; Maria Auror.a, fi1ha do Sr. José Moura S~ntos e de D. Laurinda de Jcsu.s de Molira: Laurinda da Con·cciÇão, filha do Sr. An:ónio Alves Pereira e (!e D. Aurora Alves Pina e José, filho do Sr. Joaquim Alves Pe· reira e de D. Maria dos Anjos de Moura.

Aos pais apresentamos as nossas felicitações.

ÓBITOS - Foleceram aoui: - No dia 15 de Novembro findo, Mário Man:icl dos

Samos, de z anos .de id:idc, filho de Serafim AJvcs Luís e de. Mor.ia Moura Santos.

- No dia z7, Maria dos Anjos Brito Fernandes, de 26 meses de idade, filha de José Fernandes -Urrigueíra e de Maria dos Anjos Brito de Jesus. · .

- No dia 28, o nosso pretado amigo e assinante Sr. João Mendes Cabral de 52 anos <le. idJdc. filho do Sr. José Mendes Gouveia Júnior e da Sr.~ D. María Teresa Nunes, ambos já falecidos, deixando viúva a Sr.~ D. M~ri~· Hckna Lcitiío Cobrai. Muito conhecido e conside, r'ado como era pela sua popufaridade e convívio f.nnili:ir, não só no nosso meio, mas também no Congo Belga, onde foi comeráante, a sua morte éausou :iqui profunda cons• ternação.

- No dia 3 do cmren.te mês de Dezembro, a Sr.' D. Teresa Gomes Luís, de 87 anos de idade, viúva do Sr. José Luís Duarte Pina.

Mãe de. 1 o filhos e deixando 43 netos e 36 bisnetos, a Sr.• .D. Teresa Gomes não foi uma mulher vulgar, pois soube, pelo seu es:forço e petsistê:1cia, conquistar de­safogados proventos para a sua numerosa prole, dando assÍm um nobre excmolo às mães. O seu funeral foi muito concorrido. . . -

Às famílias enJ.utadas, as nossas senridas condolências.

lNCru-..1DlO - No dia 19 de Novembro. por volta das 19,30 hotas, originado por um curio-c.ircui10, manifestou-se um· incêndio num armazém de matérias p rimas da fábric:i dos Srs. Moura Cabral &- e.~. Ld.n, o qual, graças à in­tervenção imediata dos operários que àquela hora ali tra• balhavam 'e do povo <JcUe, ao toque de ;;larme, ali acor~eu em 'mass;r, foi .prontamente extinto, evir:mdo assim pre­juízos de mais graves consequências.

VALORES SELAOOS - No modelar est:ibclécimento do noss.o prezado amigo e assinante Sr. António Nunes de Brito, encontram-se à venda, entre vários artigos de pa· pelaria e outros de consumo corrente·, papêl selado e estam. pilhas fiscais de diversas taxas.

- Encontra-se já em franc:a convalescença duma oneu­tnonia Que dur'1nle algum tempo o retivera no )eito, ,; nos• so prezado amigo e assinante. Sr. Amónio Nunes Ri­beiro. O seu rápido restabelcimento, são os nossos sinceros votos.

Bibliografia •D. José .Pinte de MendonÇ.a Arrais

Grande Prelado e grande Português»

O festejado escritor, P.• Jo~ Quelhas Blgotte, mui. digno R~itor de Seia, publicou há pouco um. estudo consciencioso sobre a disc.Utida figura do ouc foi Prelado ilustre de P i­nhel e Guarda, D . José Antón"io Pinto de , Mendonça· Arrais.

O autor, há já muito conhecido e com nome. feito no campo das Letras, reyela~se sob.retudo com<;> um his­toriador de garra e critico objecúvo e imparciàl. Os t~"' balhos já publicados, Monografia da Vila de Seia», uma das melhores monografias 'que temos lido, e «0 Culto óe . Nos­sa Senhora na Diocese da Guarda,, impõem, de per si, o investigador' apaixonado pela verdade. ·

Para : conhecermos e julgannos, com são critério e prudente justiça, uma figura da História, devemos, como preceitua a Hermenêutica, cololá-lo no «seu» tem\'JO. As circunstâncias, tantas vezes bem dolorosas e críti~as, de determinada época, ajudar-nos-ão a melhor compreender certas atfrudes, que ao primeiro golpe le vista nos forem, ou que parecem envolver ·aparentes comradi~õ.es. ·

O autor, à J,uz de documentos autênti<:<is, e anali:i:ando a figura de D. José Arrais à face dos acontecimentos his; tórkos 'da sua época; pôde afirmar que o biog,...fado foi «Grande Prelado e Grande Patriota,.,

O melhor voto que. formulamos é este: aguardamos o próximo t rabalho do autor.

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6

POR TUDO

E POR

TODOS

Entre duas Minha boa Amiga:

As vossas cartas, que logo de começo me encan­taram pela ideia de vos ver atacar a fundo os pon• derados Outones, estão a transformar-se. agora, num manancial riquíssimo, que me servirá para melhor compreender, através dos anseios prementes da ju­ventude acrual, daquela' juventude que $abe conser­var-se livre e generosa como vós o sois, o inconfor~ mismo da minha já distant~ mocidade. Não vos sintais mal por" assim acontecer, porquanto é a. pro­va evidente de que vos conduzis na luta com vigor e i~teligência. Bem hajas, por isso.

Não poderiam esses jovens arranjar melhor intér­prete para apresentar o seu inquietisrno do que vós, Primavera inconfomiista, com o vosso espírito poético, a crepitar chamas de emotividade perante o grande problema da Vida. A vossa franqueza é tão clara, as queixas que apresenrais são tão reais, que me sinto tentado a ;i.brir a minha alma ao sol vivificante da li­berdade. para vos aplaudir com calor em vez de com• bater com afinco, como queria. Mas não solteis já o grito de triuf!fo porque, nesse caso, teria de atacar a fundo até vos provar que a vossa ânsia de liberdade e de independência, que tão nobremente defendeis, não são próprias da época actual, embora a: força cria­dora do progresso as projectem com entusiasmo. Tal­vez, quem sabe, ainda um dia possais compreender o que significam estas minhas bruxuleantes palavras.

E agora, depois desta tirada (qúe me saiu quase. sem a desejar, apenas impelida pda minha maneira de ser), deixai esclarecer 11m ponto da vossa carta, que me está a ferir como se uin bisturi cortasse a minha própria carne. ·

Em tudo .eu posso transigir, menos em assumit a ' defe.sa de actos que briguem com a minha consciên­cia de homem livre, Por isso, quando resolvi bater-me pela minha época foi pensando em opor os princípios da tolerância e liberdade - que eram , o orgulho, na minha juventude, de todas as pessoas que não queriam regressar às cavernas - aos da vossa época, tão opos­tos aos da minha. Era pata vos dizer que os Outonós, no tempo da minha juventude, é claro, aqueles que e11 me sinto bem a defender, embora nos aconselhas., s_em ponderação e método, mostrando-nos os incon­venientes de ceder a impulsos irreflecidos, se sentiam felizes quando a moeidade se sabia bater com galhar­dia, frente a frente, a favor do que ela julgava, às vezes até erradamente, ·representar o Direito e a Jus­tiça.

Para esses Outonos, o que interessava, acima de tudo, era não atrofia( o sentimento da independen­cia e da dignfdade que eles julgavam indispensá, veis para se viver numa sociedade justa, perfeita e . livre.

Postas as coisas neste pé. e arredadas quaisquer dúvidas que vos pudessem rest;ir sobre o que eu entendo . que seja o meu Outono, vou entrar na análise da Felicidade e explic.ar-vos a forma como eu conquisto a minha, que julgo não ser pequena. Porém. antes que me sirva dos m eus argumentos, deixai que o Cardeal Saraiva, grande figura da lgre.­Í·'' e das Letras, diga de sua justiça.

Referindo-se a Afortuna:do-Ditoso-Fdit., que an• datn muito confundidos com.o sinónimos pe~feitos de felicidade, diz o seguinte:. · <cAfortunado é o qu~ é fa:vorecido da Fortuna1>.

«Ditoso é, segundo a força etimológ:ica do vocá· bulo, aquele que goza de muitos bens e rique:zas>i.

"Feliz é 0 que goza de Felicidade, e nós dizemos que goza de felicidade o homem que vive tranquilo e satisfeito na pacífica fruição dos bens que bastam aos seus deséjos».

Como síntese da Felicidade. não seria preciso dizer mais; mas eu quero demonstrar que desde que se saiba querer. se pode ser feliz, mesmo quando não renunciamos ·a viver a vida com inquietismo e com a ânsia de mais e m'ethor.

BOAS FESTAS ((A N eve11 apresenta a todos os seus presados leitores

e colaboradores os votos de um N;ital feliz e um no,·o ano repleto de felicidades.

A NEVE

A BEM OE

LORIGA E OA

REGIÃO

gerações Vejamos: Sendo a felicidade um.a coisa subjcc­

tiva, tão variável como as leis que a criam, depende aquela, não de um tipo comum, mas de um tipo que tem de corresponder ao sistema idiossincrático de ada indivíduo. ao .rnei;mo tempo que necessita de se harmonizar com o meio ambiente pata não transfç,r.màr em luta aberta o que por vezes não pas­s1 de simples divergênc.ia de palavras. No encontro da justa medida para conciliarmos o nosso inq:uie­tismo intelectual com a quietude ou agitação exage• rada dos sentidos, é que reside a chave da felicidade.

Não vos aconselho a atitude resignada dos vários Budas, porqµe isso seria a elimin;ição total da vida, nem a agitação febril de Nietzsche, porque isso pode l~v~ à ioucura. Se a vossa alma de poetisa se puder ltrn1tar, no referente à falicidade, à seguir o processo deste vosso Outono, talvez o que vos vou dizer vos cohvenp de que tenho razão.

. Ouvi:, A primeira condição para se ser o mais fe~lZ poss1_v~l.- uma vez que se desconhece o que seja a fehctdade completa-. é arranjar um estado de alma que nos permita eliminar, conforme as ne­cessidades dessa felicidade, os estados de espírito que ª. ela se op~nham. Este trabalho é uma consequên­cia da :maneira de ser de cada um e, por isso, como est.ais a ver,_ só da vossa vontade depende. Para evtt:.1.r compltcações desnecessárias, parece-me que o melhor processQ é est~dar os recursos de que dispo­.mos para serm?s felizes e conquistar aqueles que nos fal tem •. ~_:e1tando como boa, porque boa me pa­re_ce, . a optmao do 4rdeal . Saraiva, vemos que a tnlogia Afortunado-Ditoso-Feliz. é um.1 base segura para conseguir a felicidade.

Como_ estas coisas têm de ser analisadas indivi­dualmente, vede a:s que já. possuis, e, quanto àS ou­tras. isto no caso de não as terdes já, Jutai para as conseguir. Não podei negar, a não ser que queira1s resvalar para o pessimismo, que já nascente afortu­nada. porque,. felizmente, não vos foltam recursos materiais. Ditosa também o sois porque, além de terdes mais do que o suficiente em bens materiais, possuís uma irheligência que vai muito além do nor­mal, e se entrarm9s no aspecto exterior .. ., que mais podereis pedir aos Deuses?. .. .

E agora, para terminar ( «A Neve» não é só para nós), aconselho-vos a que procureis dentro de vós a felicidade que duvidais possuir e tende a cer­teza de que, se seguirdes os meus conselhos e eJi, minardes todas as preocupações que não são indis­pensáveis e só servem para transtornar a felicidade dedicando-vos a fundo à conquista .do que vos fal~ para -completar a vos~ personalidade, entremostrada já nas cartas que com tanto brilho tendes escrito. jamais a felicidade deixará de vos sorrir.

Experim~ntai .. E. se daqui a alguns !"'nos .não fordes o mais feliz possível, então ficais autorizada a procla~r bem ~lto que até este Outono, que se pro· dama hvre, positivo e progressivo, vos iludiu a vossa boa fé. Porém, como o tempo para :vós ainda não con:e com ª. rapidez. com q.ue já passa para :mim. f1catS prevenida de que só quando o calendário mar­car o ano de r970 é que vós podereis manifestar com segurança. Até lá, iremos combatendo, se os ventos do Inverno me não derrubarem antes disso.

Oxalá que não.. . · _ Aceitai saudações amigas deste Outono que, pe­

las esperanças que tem, julga, U para 1970, receber de vós ·plena aprovação.

Adeus. Outono, Vulgo José da Ponte

Atradecimento A família de João Mendes Cábral, vem por

este meio testemunhar, a todas as pessoas que se in­te.ressaram pela sua saúde, a exptessão viva do seu eterno reconhecimento.

Reconhecida e sensibilizada, agrade<:e també.m as provas de sincera amizade, de que foi alvo, na hora do triste desénlace. ·

--------~-------~--'--­VISADO PELA COMISSÃO DE CENSURA

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DEZEMBRO - 19'9

O Zé do Avenal foi de longada à Figueira <ll Foz. Os miudos precisavam de banhos e ele estimava muito a t< rica saúdei• da prole. Passava o temPo na tendinha do Zé Francisco que e.ra cunh2do do. 'M~, nuel da Eira. velho amigo do Casal do Rei. Ah ctl' ticava aquelas desavergonhadas que andavam pela praia a desafiar a decência e indiganava~se com aquer b g.ente que ia aos casinos ver coisas de esca.ndalítJJ' um santo.

Farto de lhe . ouvir a ladainha. o Zé FranciscO aconselhou-p a ir à Tourada tanto mais que o Zé .do Avenal fora caseiro de profissão e era entendido de vacas ....

1 •

Comprou um bilhete que lhe cUstou os 1<0~ da cara» e ocupou o seu Jugar Ji no alto da gal~

S_urpreendia-o _as di~ussões e a agitação daquel~ mt1lt1da~ que fazra mais «la.mbançaJ• do que .tõdfe' 03 romeiros da Senhora do Monte Alto em no1~ · arraial. .

Não percebia as conversas, todas em volu doS nomes dos toureiros, nom~s esquisitos que não er.iJ1l do uso lá do Casal. •

Meio atordoado por aquela confusão, que nao entendia, chega-lhe ao.s ouvidos, a voz de um anb' trião, talvez avô, que explica ao seu miúdo.

- A tourada começa pelas cortezias. ê a entrad; so~ene dos matadores -. - aqueles dos trages que ~: b:1lh_am .- dos cavaleiros, com os seus chapéus ui , corn1os e e.asa.os de seda, dos bandarílheiros; e dt» moços de forcado - os de barrete verde.

-Faz-me lembrar, Avôzinho aqueles contos de que a Avó falava nas noites de 1nverno ...

- Agora, filho, os cavaleiros. que se revesam Íf!l' pecàvelmente nos cumprimentos ao público, rnon~· dos E<ID cavalos de alta-escola. vêm emprest.i.r à c:erY mónia a solenidade grandiosa que é de respeito i

uma tradição e. à nobreza da lide que o •dnteligente» vai ordenar.

- O que é o ulnteligtntelJ, Avô, pergunta o miúdo, com a curiosidade dos verdes anos.

- Chama-se cdnteligente>i ao Director da corrids• Instala-se um pouco acima da trincheira, aéomp«' nhado de um corneteiro que marca as fases da cor' · rida e agora dá o sirial para que se abram as por!lt5 do curro por onde investe éxpavorido .esse nob!e animal que é o Toiro.

O Zé do Avenal não sabe se deve ouvir a corJie' cedera informação daquele velhinho, se olhar, cofll olhos .bem abertos, para o que se passa lá no fund~ naquele enorme círculo onde se encontram . os tréS figurantes da lide: Cavaleiro; Touro e Cavalo.

Um touro assim é que o Zé nunca tinha vist~· Tinha pegado ao colo muito bezerro, mas como aqui' lo, só talvez o touro do Senhor Quintela que se «esfeijoou» no prado.

O cavaleiro exibe as sortes, vai cravando paUS enfeitados, com aplausos da multidão.

O Zé emociona-se. Pressente a colhida a cada momento e aflige-se · em cada ferro porque jul~ cavalo e cavaleiro espetados nas hastes duras do aJll' mal. Respira aliviado quando o cavalo, já longe, tro~ com a graça triunfante: de quem venceu.

O «Inteligente»n1 anda tocar no cornetim um sinal que lhe ~z lembrar tempos antigos do 9uartel·

E, per<1nte os olhos estonteados que .ve? V~ homem - o tal de barrete verde -:-- à frente de uma bicha deles, desafiando o touro com o maior descaramento •.

Nesta altura. o velhinho responde à pergunta do miúdo e explica paternalm.ente.

- Aquilo. Necas, é a pega à unha, por valente:S forcados do Ribatejo. · · .

O nosso Zé houve o Anfitrião e sente-se huJPl' lhado porque se recorda dos tempos em que era. caseiro e tratava das vacas que não dominava, ape sar de ter músculos de aço, qua.ndo ao animal Jhe dava a mosca... ~

E o valente que está na frente do touro, até poe as mãos ao fundo das costas como a querê-lo ~rai: com um golpe de barriga que ergue e alevanta. p1J!l pão e atrevido. .

O Touro arran~. Ilias o Zé não pode mais· Fic:a arrasado. Não' quere assistir à cena cn;el. à luta des;'

. tQi gual que vai passar-se. Estremece e quando aco . daquela emoção, surge~lhe o animal. sacudindo llU: vulto que se agarra, unhas bem fincadas ao pe5 coço do . touro. .

, A:odem os co~panheiro~ e. es~ntado, o no~ Ze ve o touro quieto, dominado. nao sabe ~e I? é força se pelos segredos que aquele grupo foi dii mesmo ao ouvido do novilho. . 3)

(continua. na paO- ·