david beat e reboco caído - versão digital

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Viagens de Fabio da Silva Barbosa e David Beat

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Viagens deFabio da SilvaBarbosa eDavid Beat

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David Beat

é um artista underground. Sua arte é ummesclar de subconsciente e surrealismo,submergindo algumas vezes nofantástico. Um olhar mais atentoperceberá uma linguagem imagética/simbólica sendo transmitida em cadailustração.Entre suas influências estão: M.C.Escher, Jean Giraud, Salvador Dalí,cultura japonesa, literatura e simbologia.O autor distribui suas ilustrações atravésdo zine de nome homônimo e tambémresponde pelos zines: Artistas doUnderground, Grito Marginal (apenas online), Imagine.

Fabio da Silva Barbosa

é escritor, jornalista, educador social,zineiro... entre outras coisas. Criou o zineReboco Caído em outubro de 2010, épocado lançamento do primeiro número. O zinefará 5 anos, mas Fabio está nessa estradafaz tempo. Anteriormente já tinha marca-do sua passagem por outros veículos, co-mo o zine O Berro, criado por ele e os ami-gos de infância Winter Bastos e Alexan-dre Mendes, e o jornal Impresso das Co-munidades, criado por ele e o mesmo Ale-xandre Mendes citado antes. Foi membroe responsável pela parte de divulgação ejornalismo da Associação de Moradorese Amigos da Rua Laurindo e Entorno. Sualista de atuação na cultura undegroundconta com a participação no programa derádio Hora Macabra, criação do eventoTarde Multicultural Sem Fronteiras, lan-çamento de livros como Um Ano de Berro- 365 dias de fúria e e-books como o Escri-tos malditos de uma realidade insana.

Projeto David Beat e Reboco Caído

A ideia surgiu quando David Beat man-dou um desenho para sair no próximonúmero do Reboco. Daí fiquei viajandono desenho e me veio aquela voz dizen-do: E se vocês fizessem um número unin-do os dois trabalhos? E se esse projetonão tivesse número, mas fosse simples-mente uma edição especial de ambos ostrabalhos? Sugeri ao David e começa-mos a selecionar alguns dos nossos es-critos. No meio do caminho, ele aindamandou mais dois desenhos. Bem... Deuno que deu e espero que gostem do re-sultado. Mas se não gostarem, tudo bem.Aposto como gostamos bastante dessaexperiência. FSB

Na Internet:

David Beat

www.facebook.com/davidbeatzines

www.davidbeat-fan.tumblr.com

www.poesiapopediversa.blogspot.com

Fabio da Silva Barbosa

www.rebococaidozine.blogspot.com.br

www.rebococaido.tumblr.com

www.fabiodasilvabarbosa.tumblr.com

http://pt.slideshare.net/ARITANA

www.twitter.com/RebocoCaido

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PapoulaDavid Beat

Quero beber chá de papoulaCheirar a Papoula no campoTocar o pólen da flor no arDesregrar todos os sentidos!

Quero sentir a fina pele da PapoulaSentir o teu olor invadindo minhas nari-nasDeitar no imenso campo de papoulaDormir sonhos dentro do céu azul!

Quero pintar Papoulas em teus lábiosE flutuar em noites de estrelas a cintilarPairar no ar como uma pluma lenta

Me deleitar nos cabelos da PapoulaSentir orgasmo com o teu cheiro no arE mergulhar em tua fragância, infinito!

Para o Malandro Vagabundo / Feito comCarinhoFabio da Silva Barbosa

hoje eu canto para o belo malandroque não aceita os grilhões desta prisãoque sai por aí sem hora marcadasem se preocupar com a caminhada

hoje saúdo todas as pessoasque vivem sem prumo, rumo ou broasvagabundo iluminado iluminando a visãonão tem registro, raiz ou manual deinstrução

tantos julgam, falam ou explicampoucos percebem, entendem e abraçamquantos acusam, acusaram ou acusarãoalguns observam a lua, tocam viola equestionam a convenção

mas o bom vagabundo

malandro iluminadoestará sempre a bailarpela terra, pelo mar e pelo ar

pela terra pelo mar e pelo ar

AnoxiaDavid Beat

Seja um subversivo vivo!Uma metralhadora de versosUse a palavra como navalhaCorte a cegueira da visão alheia

Respire enquanto há oxigênioDê uns passos em alguma direçãoA tua língua é pra ser usadaNão pra ficar na boca como enfeite!

Não sou muito dado a conselhos

Vi visões

David Beat

Vi Shakespeare em um dilema

Vi Goethe falar sobre suicídio

Vi A personagem de Proust com ciumes

Vi Dorian em um Retrato

Vi Augusto dos Anjos atormentado

Vi Cruz e Sousa tuberculoso

Vi Álvares de Azevedo morrer cedo

Vi Roberto Piva Cuspindo/escarrando

Vi E.Merson falar de Minas

Vi Fernando Pessoal falar de Portugal

Vi Drummond Tropeçando em uma pedra

Vi Baudelaire Blasfemando

Vi Rimbaud Traficando sentidos

Vi visões ultrapoéticas!

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Para quando ela partirFabio da Silva Barbosa

era uma criançabebêidosajovemmeninameninonegraíndiabrancaorientalcafusamamelucacaboclaocidentalemaisbeleza sem igualquando perguntavam sua raçarespondia entre o deboche e a seriedadevira-latasmeiga como poucas e rarasmesmo quando a revolta explodia de seupeitoa raiva pela bocaainda assim um ódio encantadorautênticoa beleza nunca a abandonavaseu choro enchia o ambiente de tristezaum som aterradorseu sorriso magníficoenchia tudo de luzsua presençao inferno para unse a alegria para outrospassou na minha vidae sumiu no horizontefoi rumo a incertezacom aqueles olhosque expressavam todos os sentimentosque sentia no momentocom aquela faceque expelia o que sentiaespero um dia te reencontrarnesse turbilhão loucochamado vida Para quando ela partir II

Fabio da Silva Barbosa

Encantadora,agora só me restam as lembranças e asaudadeseu jeito rebelde e insanoinocente amiga da vida loucadepravadamente inocenteou inocentemente depravada?sempre tudo por acasoe o acaso contribuindopara o fluir insano dessa vidavida feridavida bandidatotalmarginalforças da natureza se chocando ao acasotentando sobreviversem se curvaré preciso liberdadeé preciso arfazendo o que deve ser feitopedaços desencontradoslançados ao azarcriatura aladaque impedem de voarolho para os céustentando te encontrarquerem te abaterquerem te pararquerem adestraras palmas não vão contentaré preciso maisé preciso muito maissempree o que há de mais não cabe nos bolsosnão se pode carregarcriatura sagradaabençoa ao amaldiçoarcriatura bizarratenha força

tente suportar Mas, faça-se um favor amigoSeja um subversivo vivo!

Abra a boca use os dentesAté quando o teu sangue vai rolarPra alimentar os vermes desse país?

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Pss... SilêncioDavid Beat

Silêncio confuso em mimSilêncio na noite, lua pálida!Silêncio nos espaços baldiosSilêncio eternal neste momento

Silêncio vagaroso pela noite aforaSilêncio diurno, de manhã bem cedoSilêncio em mim gritando no íntimoSilêncio tumular nas ruas e becos

Pss... Silêncio! Com sono letargoSilêncio cheio de barulho-mudoSiêncio em qualquer parte de mim

Silêncio é apenas silêncio enfim!Silêncio de amor na boca alheiaPss... Silêncio! Silêncio assim...

Uma navalhaDavid Beat

Meu amigo tens uma navalha?É que preciso cortar os cabelos da vidaJá estão longos e caducosBeijos senis beijam meus pulmões

Juventude! O tempo te violentouSangrou e manchou teu corpoNarciso agonizando "castrofóbico"No último delírio de algum ópio

Meu amigo, os verdadeiros criminososAinda perambulam soltos por aí como ci-garrosVestido na mais alta moda, cercados de pu-tas!

Meu amigo, vidas miseráveis em todos oscantosA fedentina da cidade em céu abertoMeus olhos queimam, o corpo dói, nava-lhas!

lâmina

seu rosto derretianum constante agonizaro sofrimento trancadona caixa do seu corposei bem o gosto cortantedessas lágrimas ácidas caídas como anjosque viraram demôniosestar completamente sósem ninguém pra dar a mãosem carinho ou proteçãocontra esse mundo toscoquando não há lugarpara onde irnão há nadapara sentiras escolhas parecem mortasfolhas secascaindopovoando o soloe indo pra baixoprovavelmente você também não vaientendernão sabem o que é perderno labirinto da dorsentindo a lâmina cortandosó para aliviaressa existênciaessa penitênciaa raiva e a mágoao flagelo infinitoda desumanização contínuadesses corpos e mentes que se vão

Fabio da Silva Barbosa

CarrosFabio da Silva Barbosa

Carros, Carros, CarrosMotos, Motos, MotosÔnibus, Ônibus, ÔnibusPor onde quer que olhe

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só carros a passarO sinal diz que posso passarMas onde quer que olhe,só carros a passarSigo apressado entre carros,caminhões e autofalantesAtinjo o outro ladopara só carros passarCarros, Carros, CarrosMotos, Motos, MotosÔnibus, Ônibus, ÔnibusPor onde quer que olhesó carros a passar

Amor AntropofágicoDavid Beat

Nosso amor era antropofágicoEu te mordia os seios comLíngua, dente, boca, saliva!Eu amava teu corpo nu de orgasmo

Eu amava o teu gemidoCheio de cio, delírio, vertigemEu amava teu sexo exalando suor

E você me mordia a pele, arranhava!

Nosso amor era antropofágico.Nos alimentávamos de nossos lábiosE agora só sobrou a fala e meu falo...

E agora só lembrançasPedaços de nossos corpos comidosSim! Nosso Amor era antropofágico!

Espaços baldiosDavid Beat

Os espaços baldios do meu serPreenchidos por um vácuo enormeUm vazio disforme e inefávelUm redemoinho de vertigens

Os espaços baldios de meu ser

Gritam silêncios; vozes mudasEu estou inconsciente em sonhosDe uma eternidade secular

Eu choro chuvas infinitasEu beijo o ar da manhãEu canto sombrias palavras

E nada preenche os espaçosEsses infinitos espaçosQue jorram dentro de mim

olhos furiososFabio da Silva Barbosa

conheci uma meninaque apesar da pouca idadenão conseguia mais dormirnão tinha onde ir

olhos furiosospra onde você vaiolhos furiososnão entendem o que você fazolhos furiososnão me deixe sem vocêolhos furiososo que podemos fazer

a vida é o calvárioamargura e sofrimentoquerem te prendernuma parede de cimento

olhos furiososvão nos afastarolhos furiososnão deixe que te matemolhos furiosospor que tudo tem de ser assimolhos furiososnão vá acabar

sei que vai sumirmas nunca esquecerei

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sempre vocêsempre torcerei

olhos furiososnão pare de lutarolhos furiososnão vá se entregarolhos furiososnão vá me esquecerolhos furiososnão aguento mais sofrer

Olhos tristonhosFabio da Silva Barbosa

conheci outrasoutros olhos e olharescada um de sua maneiraa me interessar

mas foram seus olhos tristonhostoda raivatoda iraque conseguiram me pegar .olhos tristonhosem desequilíbrio a balançaolhos tristonhossó há ódio e vingança

suas lágrimas negrascomo nanquim vai pintarnão pensa em existirquando isso vai acabar

já não sofro tanto maisa dor vai endurecendoo coração já pouco humanoa maldade desesperando

olhos tristonhosnão escondem sua belezaolhos tristonhosdesconhece a própria natureza

olhos tristonhosolhos em desesperoa vida sem sentidoa vida sem tempero

Ser ConvulsoDavid Beat

Magérrimo Ser convulso e devastadoContorcendo-se em monólogos corporaisNenhum remédio, nem substânciaintravenosaApenas o grito da dor que se alastra

Uma labareda febril, calafrios mudosVozes surdas querendo destaqueO suor escorre na face sôfregaLábios secos! As nuances da desnutrição

Inquietação! Vontade de se arrebentarPegar cada pedaço de neurônio e cuspir,Expulsar como um vômito a vida

Pois que a dor é tanta nas reentrânciasDor Ser que definha na morbidezVejo na escassez o prenúncio da minhamorte

Enfim reencontrando gente

Agradecimentos ao grande CaioDiSouza e a Comunidade da Cruzeiro

Muito bemesse lugar tem gente humanagente sofridagente vivagente felizSimGENTEno sentido da palavragente sem dentegente com dente

Por Fabio da Silva Barbosa e LisianeDa Silva Caparroz

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gente sambandogente que acreditagente que se importagente que não tá nem aígente caindogente levantandoGENTE.todo tipo de gentemas todos do tipo que sofree que é feliznão essa felicidade superficial e eterna quenão existegente oprimidaroubadasurrupiada nos seus direitos mais básicosenganadaexploradagente que não desiste da caminhadamesmo com os caminhos trancadoscom o futuro furtadodias negadosexistência assombradae assombrando os que fingem

Sem razão – Mundo insanoFabio da Silva Barbosa

RepressãoNão razãoAgressãoNão razãoAlienaçãoNão razão

Sangue coaguladoGrades a cercarGritos pela noiteQuerem nos agarrar

OpressãoNão razãoViolaçãoNão razãoRegressãoNão razão

Pânico orquestradoCanos a dispararFacas afiadasQuerem nos parar

RepressãoNão razãoOpressãoNão razãoAgressãoNão razão

oxidado corpoDavid Beat

Laivo pútrido, nenufar murcho,Necrópoles inteiras de floral alvacentosExalam o fétido cheiro decomposto;Ali brincam milhões de vermes.

Cuspo a náusea que me sobe pela larin-ge,Gosto aziago, revoltas de meu intestinomagro!Vede este cancro ignoto, incólume, mor-daz?!Sucumbiu o corpo inerme e inerte ficou

Parasitado por tormentas mil, torturas!Estou ébrio de consciência neste vago.Infinitos seres de vozes mordazes clamam

Sem cerimônia! discutem palidez,Qualificam o aspecto senil intrísecoDeste corpo que apodrece oxidado peloar.

Mal da vidaPor David Beat

A vida é uma acidezUm amargor estúpidoentranhado no espíritoAh! Vida! descabida

Pag 8

Em lençóis brancosMancho a virgindadeDe fôlego macio e jovemO tempo passa, mancha!

Sou secular em pleno verãoQual campina me engendrouA morte a mim incocebida

transmuta em solidão e tédioO vazio me espanca, faca, corteLascivo corte pungente em mim…

A cozinha do velho ChinêsFabio da Silva Barbosa

o espírito sai do corpo quando a gentemenos esperaé aí que a mente se desespera

o corpo sai de cima quando acaba degozaresperar, parar, pensar

a vida segue em frente quanto nadaparece bomsuco gástrico homicida faz aquele belosom

miudezas gentilezas vai tudo pelo ar

Lembranças

lembro das luzes ao longe, iluminando osubir do morroe daquela casa que ficava depois daúltima luzonde a eletricidade ainda não tinhachegadodo esgoto a céu aberto que o meninosempre pulavapara jogar bola no campinho esburacado

Fabio da Silva Barbosa

e do choro de Dona Berenicequando viu o filho tombarao ser atingido por uma bala de não seiqual calibree quando o sobrinho apanhou nadelegaciafalaram que confundiram com traficante

das casas empilhadas umas sobre asoutrasbarracos sobre barracosmoradias sobre moradiasmorando pessoas espremidas, gentesofridamordida por misérias, fomes e apatias

lembro também dos barulhos de tirosouvidos na hora da novelados apartamentosque assistem de bem longese convencendo que não tem nada com avida dos mortos

No KarmaDavid Beat

Diariamente o mesmo déjà vuOs traços irregulares insistemPercorro algo indefinidoTentando alcançar nada!

E a dor latente e angustiaUm karma pertinenteEscravo de uma realidade insípidaCenas gritantes de suicídio

Desgosto de tudo, ainda respiroSem nenhuma vontade do presenteEstou secular em plena juventude

Até quando prisioneiro deste corpo?É tão violento e sinistro o despertarMomentos efêmeros em ciclo constante...

Pag 9

caindo

muitos anos de usodrogas lícitas e ilícitaso cérebro morrendoo corpo morrendoinsiste em continuar a viver enquantopudermesmo querendo que tudo acabe logobrumas tapando a visãobombardeio químiconão consegue mais pensartá difícil andarrespirardepressão profundadominado por angústiasdesintegrando pouco a poucoinvisívelo buraco vai crescendoa escuridão vencendoagora já não faz mais diferençaviver ou morrermatar ou morrergrunhir e gemer

Fabio da Silva Barbosa

Findo/DesapercebidoFabio da Silva Barbosa

Cansaço físico e mentalFadigaDesânimoNão consegue mais pensarNão consegue caminharArrastando pelo deserto do nadaArrastado pelo nadaNada a declararArrasado pelo nadaNada a declarar

No chãoFabio da Silva Barbosa

deitado na sarjeta

sentia o vômito na gargantapareciam gorgulhos epiléticoschicoteando meu espírito

a úlcera se contorcianum bailar de merda e sanguepareciam agulhas e facasmoendo minha carne

o cheiro da podridãojá invadia minhas narinasnão podia mais reagira minha própria chacina

mesmo assim queriamais uma dose assassinasentir os neurônios falecendonão continuar existindo ou sendo

CracolândiaDisneylândia

fuma garoto a pedrasonha sonhos de menino

a garota do mais tempo no vícionão pode mais sonhar

amigo palavra distantetalvez só mesmo o cachimbo

a toda hora chega gentea toda hora gente vai

para onde estamos indopara onde a gente vai

Fabio da Silva Barbosa

“Essas palavras que escrevo meprotegem da completa loucura.”Charles Bukowski

Pag 10

Escritos: David Beat e Fabio da Silva Barbosa. Todos devidamente nomeadosIlusrações: David Beat

Diagramação, edição e afins: Fabio da Silva BarbosaVersão digital e impressa