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REBOCO CAÍDO # 13

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REBOCOCAÍDO# 13

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Pag.1

Contatos: [email protected] www.twitter.com/RebocoCaidowww.slideshare.net/ARITANA

EditorialREBOCO CAÍDO #13

1- Atualmente o blog Reboco Caídonão tem mais ligação com este traba-lho que venho realizando com zines.Meu blog saiu do ar e agora alguémvem usando o antigo endereço . 2- Os zines antigos estão com ende-reço de correspondência do RJ, masdesde que mudei para Porto Alegrenão recebo mais correspondênciasnesse endereço.

Xerocado, dobrado e grampeado. Eis quenasce mais um Reboco. Abri a edição como texto do irmão Eduardo Marinho e sigocom um que escrevi sobre o massacre quea rapaziada desprovida de grana vem so-frendo sob os olhos apáticos e alienadosde uma sociedade que se diz civilizada.Ofereço este zine a esses valentes guer-reiros que, embora vivam na pobreza ma-terial, possuem uma riqueza muito dife-rente da que se valoriza por aí. Força e re-sistência, galera.

Nas páginas seguintes temos entrevistascom o Goma (que fez a capa desta edi-ção), com Renata Guadagnin (essa é da-quelas pessoas que fazem a diferença) ecom a banda Nardones (som novo pin-tando na área). Entre as entrevistas, es-critos de uma turma da pesada.Fecho a edição com alguns temas quenão tem recebido a devida atenção e di-vulgação, mas que não podiam ficar defora. Se dependermos da mídia conven-cional para nos informar...

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REBOCO CAÍDO #13 Pag.2Ilusões plantadas

Por Eduardo MarinhoEstamos engatinhando na superação dasilusões, na busca de valores reais. No mo-mento a engrenagem social - sequestra-da pelos interesses econômicos de umacasta mínima de mega-empresários, apo-derados dos poderes políticos, das má-quinas estatais, com o controle das mí-dias - impõe valores, comportamentos efaz de tudo pra manter a superioridade daforma sobre o conteúdo. Um dos traba-lhos de libertação, senão o principal, é a-prender a pensar por si mesmo, sentir porsi mesmo, independente dessas pressõesabsurdas e predominantes. São nossos va-lores, objetivos e comportamentos o quesustenta esse sistema perverso, essa so-ciedade injusta. Porque não são nossosde verdade, mas implantados de todas asformas imagináveis e inimagináveis. Pre-cisamos criar nossos próprios valores. Ourecriar. Mudar nosso comportamento,nossa maneira de viver. Não é fácil a prin-cípio, mas depois que se começa, impos-sível parar sem o sentimento de rendição.A frustração é predominante nessa vidasem sentido que nos é imposta. E os pa-liativos não satisfazem aos que buscamalgum sentido na vida. A recomendação,sob ameaça, é óbvia - acomode-se ou so-fra. Submeter-se é jogar a vida no lixo e,talvez, só se tocar tarde demais. Comporcom o caminho da frustração é impossí-vel, é preciso mentir muito pra si mesmopra acreditar em tanta mentira. Que ve-nha a discriminação.Na recusa do aprender, a dor se faz mes-tra.

Matando os pobresPor Fabio da Silva BarbosaInfelizmente a música Kill the poor (Ma-tar os pobres), da banda californiana DeadKennedys, cabe perfeitamente no atualmomento brasileiro. Não que isso sejainédito em nosso país. O próprio “des-

cobrimento” (invasão seria o termo maisapropriado) do Brasil foi uma história de ex-termínio físico e cultural. Eliminar osindesejados sempre foi prática corriqueiraem sistemas covardes como o nosso. O queassusta é a máquina assassina cada vez maisse especializando no extermínio sem culpa.As justificativas mais bizarras são usadas.Os processos de exclusão jogam para longeos que sobrevivem. Exemplo disso são asremoções forçadas que estão acontecendopelo Brasil. No Rio de Janeiro, os grandeseventos e a especulação imobiliária fizeramesse processo ganhar um volume monstru-oso. As “pacificações” foram o anúncio deque o pior ainda estava por vir. Em São Pau-lo os incêndios estão dando um toquepiromaníaco à expulsão e ao extermínio dospobres. Falando em São Paulo, não pode-mos esquecer da brutalidade ocorrida emPinheirinho. Na Bahia, o Quilombo Rio dosMacacos está sendo expulso de suas terraspela Marinha. Milhares de pobres sãoentulhados nos presídios, favelas e lixões,da maneira mais insalubre possível. O ser-viço público é executado da pior maneira.Seriam inúmeros casos relatados e mesmoassim esqueceríamos algum, devido ao gran-de número de massacres físicos, psicológi-cos e culturais a que a grande massa estásujeita desde o seu nascimento. Toda formade opressão é usada. Por quantas chacinasainda passaremos? Você já ouviu falar dealguma execução em bairro de bacana? Di-fícil acontecer, né? Os canos estão aponta-dos para os pobres. Mesmo sendo necessá-rios para lavar, passar, cozinhar.... fazer ascoisas funcionarem, o número de pobres nãopode afetar a segurança dos patrões. E depreferência que morem bem longe para nãoincomodar o universo artificial criado paraos poucos que acumulam privilégios. E aclasse média, morrendo de medo da pobre-za e babando pela posição dos ricos, apoiatoda a crueldade, esperando por mais algu-mas migalhas do banquete.

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Pag.3 REBOCO CAÍDO #13

Esse é o Goma: Paulistano da safra de 88, atualmente começou uma série de ilustraçõescom o título Tempo Seco e vem conquistando espaço e mostrando cada vez mais suacara. Então, manda a goma aí:

Como nasceu Goma e quem era o Goma antes do Goma nascer?Tem muito Thiago Gomes nesse país - Putz! - e pensei que Goma teriam menos. Depoisvi que goma (entre outros significados) é a união de vários elementos, uma goma mesmo.E isso é uma coisa boa, porque gosto de misturar referências. E o aprendizado é umacoisa eterna. Então, estarei sempre buscando algo, misturando coisas, fazendo gomas.

Por que desenhar?Porque me sinto a vontade desenhando, é natural pra mim, tenho gana para aprendermais e me expresso melhor pelo desenho. Embora aprecie muito o audiovisual e a música,não seria o mesmo. São coisas que me cativam e motivam a desenhar, mas... Essas áreasestão em um eterno namoro, então pode ser que um dia role algo também. haha!

Colorido ou preto e branco?Haaa... Os dois têm seus prós... Tem momento pra tudo. Gosto dos dois!

Defina o ato de desenharPergunta difícil... Não sei responder... Talvez, assim como qualquer outro tipo de arte,trazer a tona o que tá dentro de você, o que você não aguenta segurar só pra ti!

Fale sobre Tempo SecoTempo Seco é o que não aguento segurar só pra mim sobre SP. O nome é uma referênciaa maioria dos dias em SP: Seco mesmo, poluído e sem umidade. Tá muito no começoainda e pretendo explorar mais essa série, que é um olhar sobre vários momentos navida das pessoas, no cotidiano da cidade, momentos de tensão, lazer, tristeza, lirismo,depressão, ódio e etc... sempre tendo como pano de fundo a minha visão da cidade, aminha SP!!

Solta os cachorrosOrganização é a base pra tudo no trabalho, na vida, na cena! Nos organizando, podemossempre construir coisas maiores!! E sejam bem vindos ao Tempo Seco: http://goma-blog.blogspot.com.br/. Valeu pelo espaço, Fabio. Abraço a todos ;)

Um papo com o Goma

Por Fabio da Silva Barbosa

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Pag.4REBOCO CAÍDO #13Mife

Por Alexandre MendesSólidas paredes emergem ao redor

A cidade tem um sobrenome...é caos!Hambúrguer, panelas, mulheres e homens

caminham rumo a trilhaum tanto imposta; um pouco escolhida,Gritos de solidão em murmúrios coleti-

vos...O frio da noite esquenta o que pode vir a

acontecerQuem está ao lado, vai ficar de lado

Corda, pescoço, pistola, peladoMata, correndo, chorando, deitado

Sol quente, cinzas, nuvens..._Nublado_

Garota OriginalPor Anna AlchuffiÉs tú dona do mais belo sorriso amareloE de todo meu afetoDo mais puro e humilde ciúmeDa dor, o mais singelo perfume

Adormecida ao meu lado entre os lençóisÉs mais bonita que a rebeldia jovem,És belo fruto do LésbioMais original que desenho de nuvem e modernismo brasileiro]

Ainda terás uma antiga fotografia nossaE dirás com nostalgia que eramos boasamigasTerás outras vidasE eu outras brigas.

Juntando as partesPor Wagner T.seeucom bastante atençãoreler tudodesde o inícioencontrareiEu?

Para o Malandro Vagabundo / Feito comCarinho

Por Fabio da Silva Barbosahoje eu canto para o belo malandroque não aceita os grilhões desta prisãoque sai por aí sem hora marcadasem se preocupar com a caminhada

hoje saúdo todas as pessoasque vivem sem prumo, rumo ou broasvagabundo iluminado iluminando a visãonão tem registro, raiz ou manual deinstrução

tantos julgam, falam ou explicampoucos percebem, entendem e abraçamquantos acusam, acusaram ou acusarãoalguns observam a lua, tocam viola equestionam a convenção

mas o bom vagabundomalandro iluminadoestará sempre a bailarpela terra, pelo mar e pelo ar

pela terra pelo mar e pelo ar

MentirasPor Fabio da Silva BarbosaDisseram pra estudar!Disseram pra trabalhar!Disseram pra casar!Disseram que isso é se realizar!

Disseram pra mentir!Disseram pra fingir!Disseram pra fugir!Disseram que um dia eu iria conseguir!

Disseram tanta merda!Disseram tanta porra!Disseram tanta zorra!Disseram “É assim mesmo” “Vá e morra”!

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Pag. 5 REBOCO CAÍDO #13

Em toda parte encontramos pessoas na luta,produzindo, acrescentando, modificando.Cada um utilizando seus meios. Cada qualseguindo seu caminho. São vários cami-nhos fazendo parte da mesma estrada.Estamos todos juntos, ao mesmo tempoque sozinhos. Encontros e desencontrosacontecem a todo momento. Uma figuraque esbarrei por essas andanças e que fazda sua vida um instrumento de transfor-mação é Renata Guadagnin.

Você possui um trabalho como ativistacultural e outro voltado para questõessociais. Onde esses trabalhos se encontrame onde se distanciam?São todos trabalhos autônomos e inde-pendentes. Para mim, parece ser neces-sário manter uma ligação entre o trabalhocom a cultura e as questões sociais. Oponto de encontro entre eles é justamenteacreditar que através da cultura possa serealizar uma real evolução social, autilização da cultura como um dos meiosde expressão das massas sociais,construção e respeito à cultura popular.Mas se distanciam quando preciso exporas questões sociais com as quais trabalhoe tenho vivência ao mundo acadêmico,tendo que falar “academêis” e teoriasabstratas que não dialogam com arealidade, o que me parece ser umainfundada falta de cultura quando tratamosde questões sociais com linguagem eexpressão que não são, via de regra,compreendidas pelas grandes massas ou sequer dialogam com elas. E aí acontece odistanciamento entre cultura, população e“sociedade acadêmica”. Há sistemasparalelos que não são enxergados pelosistema, não há o reconhecimento dacultura como meio de crescimento social,e aí a dificuldade de inserir cultura para

trabalhar com as questões sociais eexplanar isso dentro da ‘Universidade’.

O movimento quilombola em PortoAlegre.A resistência do povo quilombola no RS émuito forte. Em Porto Alegre acompanhei,desde 2003, a luta do Quilombo da FamíliaSilva, situado no bairro Três Figueiras,região nobre da cidade. Os descendentesde escravos residem nas terras desde 1941,quando a primeira geração da família veiofugida de São Francisco de Paula, ondeainda eram mantidos como se escravosfossem. Em veio a primeira conquista,depois de muito combate com a polícia eresistência à especulação imobiliária, oentão Presidente da República assinou umdecreto declarando o Quilombo da FamíliaSilva o primeiro Quilombo Urbano doBrasil e que as terras ocupadas pelaFamília Silva eram de interesse social ecultural do país, devendo assim seremgarantidos os direitos territoriais dacomunidade.

Como anda essa situação hoje?O Rio Grande do Sul é o último lugar queas pessoas pensam ter quilombos emfunção da colonização alemã e italiana.Mas há registros regionais que indicam aexistência de aproximadamente 130comunidades, a maioria em zona rural. Noentanto, boa parte dessas comunidadesainda aguardam a posse e titulação depropriedade da terra, embora seja umdireito garantido pela ConstituiçãoBrasileira, enfrentando diversas difi-culdades de acesso, inclusive à redepública de saúde e educação, já que nãopossuem endereço reconhecido. É comose as terras ainda fossem terras deninguém. Às vezes surge um ou outro sedizendo proprietário, iniciando diversos

“Não sou nada, se não uma gota d’água sedenta (como um infinito iPor Fabio da Silva Barbosa

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Pag. 6REBOCO CAÍDO #13

processos na tentativa de garantir a posseda terra para os descendentes de escravosque lá estão há séculos. O Quilombo da Fa-mília Silva vem, desde 2006, obtendo, va-garosamente, alguns avanços: agora possuisaneamento básico e desde 2010 estãotentando finalizar a construção de umapequena biblioteca com livros e compu-tadores dentro do território. Aos poucos orespeito à cultura e história dos diversospovos rio-grandenses está se consolidandoe o preconceito se desfazendo.

E seu trabalho com os presos?Moro nas proximidades do Presídio Centralde Porto Alegre desde os 6 anos, passandopor ali quase diariamente. Sempre mecausou certo incomodo e inquietação ver amesma situação degradante há tanto tempo.Mas a aproximação efetiva com os presossurgiu no meio deste ano, quando tivecontato com o Projeto Direito no Cárcere,realizado na Galeria E1 do PCPA, queutiliza a arte como forma de expressão einstrumento de resgate da autoestima dosintegrantes, já que todos são dependentesquímicos em tratamento. Depois, obtivecontato com um preso de outra galeria queescreve poesias, letras de músicas e já temeditado um livro e que encontrou assim umaforma de controlar os instintos maisagressivos, mesmo dentro de um ambientetotalmente insalubre e insuportável. A partirdisso realizei algumas entrevistas compessoas ligadas ao sistema carcerário,presos, familiares e funcionários doPresídio para tentar compreender os ecosque gritam atrás dos muros e que asociedade não escuta, ou não quer escutar(menos ainda ver).

Qual a importância deste tipo de trabalho? Trabalhos que dão voz a quem nunca éescutado são importantes porque mostram

o inclassificável neste mundo maluco).” Renata Guadagnin

a falência de todo o sistema. O sujeitoingressa em sistemas paralelos, como noPresídio Central, e quando retorna para a“sociedade” continua fora do controlesocial e sendo aquilo que a mediocridadeconsidera ameaça. No entanto, quando ‘ocara’ está lá dentro do sistema prisional,vivendo um verdadeiro inferno, semcondições mínimas de sobrevivência,dividindo o chão que dorme com ratos edoenças, ninguém se preocupa com o queestá acontecendo. Não tem como sair doinferno “regenerado” ou “ressocializado”.A importância da realização de trabalhosdentro do sistema prisional se dá para isso:demonstrar que o Estado-poder utiliza umdiscurso falacioso de ressocialização semhumanidade. Por detrás do discurso háapenas o interesse em ‘varrer para baixodo tapete (imundo)’ o lixo humano que éproduzido pelo próprio sistema.

Quais os principais problemas enfrentadosno cárcere?De modo geral, a estrutura arquitetônicadas casas prisionais no Brasil, devido àsuperlotação e o aumento gradativo nonúmero de presos, acaba sendo o principalproblema. Com prédios completamentedestruídos e sem infraestrutura, não hácondições mínimas de higiene. O esgotodos (pseudos) vasos sanitários escorrepelas paredes dos “quartos” dos andaresde baixo. Em um ambiente assim, não hácondições mínimas de sobreviver, o queacaba dificultando ou tornando prati-camente impossível a realização detrabalhos (educacionais e laborais, porexemplo) na grande parte das casasprisionais brasileiras e, em especial, merefiro aqui a situação do Presídio Centralde Porto Alegre, com o qual tenho tidoesse contato e que já foi considerado porautoridades o pior da América Latina.

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Pag 7 REBOCO CAÍDO #13Todos esses problemas na estrutura acabamrefletindo em tudo, por óbvio, com maisimpacto na saúde dos presos. A maior causade morte hoje no PCPA são as doençasinfecto-respiratórias (broncopneumonia,tuberculose, etc). Há apenas um médico paraatender uma população de 4 mil presos. É odescaso com a saúde de quem não pode pagarpor ela refletindo até mesmo nos que estãosob a guarda do Estado.

No meio disso tudo, ainda existe um blog. Aque se destina este espaço?Todo mundo já se perguntou o que é a vida.Para mim ela é um infinito inclassificávelque precisa ser respeitado. As pessoas sãoúnicas em suas diferenças, mas são todasparte da mesma humanidade. É a isso que oblog se destina, a escrita de rabiscos edevaneios sobre o que é a vida, esse infinitoinclassificável que tentamos classificar otempo todo. É um espaço de expressão, àsvezes com pessimismo, às vezes comotimismo e entusiasmo sobre da vida...

E a faculdade de Direito?Como todo “bom jovem”, ingressei nafaculdade e bá! Por incrível que pareça, eunão sei por que o Direito! As pessoas mediziam para fazer Relações Públicas,Comunicação, Jornalismo... Mas desdesempre queria fazer Direito. Talvez fosseaquela ingenuidade de criança que acreditaque fazendo Direito poderá fazer justiça.Mas aí cai a ficha e tu se dá conta que sãocoisas diferentes. É uma coisa semexplicação, mas eu sabia que tinha que fazerDireito.Ao longo do curso pude desconstruir toda avisão entre o SER e o DEVER SER tãodiscutindo no Direito. Vi que é tudo umagrande mentira. Ao longo da faculdade,percorri vários caminhos: tentei o comum –ser burro de carga em estágios da área (masnão deu). Fui ser pesquisadora de iniciação

científica (o menos pior), onde passei pordiversas áreas do Direito. Com essecontato com Grupos de Pesquisa eEstudo, me peguei pensando: o que essagente quer teorizando sobre algo que elesnão vivem? Quando é que o Direito vaisubir o morro? Ou melhor, vai ser feitopelo povo?Definitivamente o curso de Direito nãoé o que eu esperava e acho que nunca foi.Mas serve para reforçar a sociedade damediocridade.

Expandindo um pouco mais a conversa:Estamos passando por diversas questõesno país (como o extermínio de povosindígenas em diversas regiões, remoçõesforçadas de comunidades carentes, a usinade Belo Monte,o Código Florestal...) eum ponto em comum entre todas essasquestões é o poder de quem tem granasobre quem não tem. Mesmo com issotudo acontecendo de forma tão explícita,a grande maioria parece não ver e quandovê finge que não tem nada com isso.“Eu não tenho nada a ver com isso. Minhavida já tá resolvida. Por que vou mepreocupar com a dos outros?”. Asociedade está imersa em uma cegueirapromovida por quem detém o poder.Ninguém se preocupa com o outro.“Quanto menos pessoas concorrendocomigo no mercado de trabalho, melhor.”Há um sentimento de concorrênciamuito forte, o que causa sofrimento. Deoutra parte gera uma alienação e umegoísmo, individualismo... “Azar se aspessoas estão morrendo de fome.” Atendência é sempre a da acumulação. Porisso é necessário trabalhar contra essacegueira. Para fazer com que maispessoas se unam a favor de umacoletividade humana e não desumana.Tudo isso é humano, demasiadamentehumano. Mas é necessário despertar para

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Pag. 8REBOCO CAÍDO #13o bem e não para a destruição do próprioirmão humano.

Expandindo ainda mais: Em termos mun-diais a coisa não anda muito diferente.Você acredita que possa acontecer umamudança radical no cenário de dominaçãoe exploração em que vivemos?Não sou otimista, mas também não soupessimista. Acho que o movimento de mu-dança é inevitável. No interior de cada umdeve haver o sentimento de insatisfaçãocom toda a situação de dominação quereflete em ‘desigualdade’, o que já deveimpulsionar certa mudança de comporta-mento. Fortificando isso, acredito quepodemos ter grandes movimentos sociaisunidos com o interesse comum da cole-tividade. De outra parte, acho que hátambém uma tendência a acumulação,como referi antes. O poder dominante(dinheiro) e quem o detém não vai cedertão facilmente. Mas é possível uma mu-dança radical desde que consigamos en-xergar essa imposição materialista feitapelo poder e que causa tanta dominação,exploração e destruição. Por aí começauma mudança grande e que pode fortaleceressa contracorrente. Vamos dar “asas a

uma esperança equilibrista”.

Estranho sem pátriaPor Renata Guadagnin

estranho,cidadão do mundocidadão do nada

cidadão do tudo...ou sem nada,

anda por ai em temposdestemperados, controlados

Em temposem que o fogo arde

a chuva corróio sorriso congela

as mãos não mais se unem

SolidariedadePor Cecilia Fidelli

Criança carente,faz parte de uma corrente,que devemos arrebentar.

Poeta da luaPor Wild Garden

Somos poetas da luaque nos encontra na ruae a deixa todo iluminada

poetas de calçadaletras soltas, nosso tudopara os tolos, um nada.

IcePor Thina CurtisTenho estado estranhapor estes dias difíceis e friosme pego chorandolágrimas pelas perdas e desencantosme pego chorandopor coisas fúteise por aquelas que nunca vão acontecerme ponho a caminhar solitária e deturpadapelas noites gélidas e inconstantespelas ruas escuras e nebulosas ouço asvozes do silêncioecoando em minha mente, alimentando ofrioo vazio e a solidãoinvade o meu corpo insanoque caminha sem cessarsem rumo, com minhas preces(rogadas)sigo o meu destino assim, estranha e sozi-nhano escuro, congelo, iberno"por entre sombras"ninguém mais espera por mim.

Comendo gramaPor Anita Costa Prado

Miséria, fome,corrupção, besteirol...e a gente se consome

assistindo futebol.

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Pag 9 REBOCO CAÍDO #13Poesia Viva

Por Helena Ortizprecisou que te fosses

para que a poesiarenascesse em mim

enquanto estiveste ao meu ladoela existia

tinha um corpo que dançavaolhos que abraçavammãos que me erguiam

e chamava-se Alice

CONFIGURAÇÃOpOR dIEGO el kHOURIrrfefgkkkkkkkkkkkkkkkkkffv fvmfveffhdfasdjfsafhrfrfrrr

fffhjkDD,,,,,,,,,,,,,,,,,jkjkk,jk,,hmmrfrrrOPÕPOPPÇ

fffhjkDD,,,,,,,,,,,

SaberPor Winter Bastaos VOCÊ SABE O QUE ÉVOCÊ? VOCÊ SABE O QUE ÉSABER?VOCÊ SABE O QUE É QUE?VOCÊ SABE O QUE É SER?

VOCÊ SABE O QUÊ?O QUE VOCÊ SABE?VOCÊ SABE O QUÊ?O QUE VOCÊ SABE?

Por Fabio da Silva Barbosa

Contos de horror, clássicos B do cinema,histórias macabras e hipotéticas tocadas porveteranos. Esse é o horror punk da bandaNardones. Gravado em maio de 2012, o EP“Quase Indolor” vem com quatro canções -Quase Indolor, Possessão, Alma Gêmea e EuNão Sei Dizer Adeus. Quer saber mais? Eutambém. Buscando mais informações,troquei uma ideia com o vocalista VictorRocha (Victor Jack)

O que é Nardones?Nardones é uma banda de horrorpunk autoralque nasceu da vontade do Ricardo (Guitarra)em montar algo do estilo. Como eu semprequis ter uma banda com ele e meu estilopreferido é Horror, seja ele punk, metal ourock, o projeto acabou casando como umaluva. Queríamos uma banda nacional dehorrorpunk com temas nacionais, monstrosnacionais... O nome teria que seguir a mesmalinha. Optamos por este nome poracreditarmos que ele remete ao horror nosubconsciente das pessoas, por ser umareferência a um caso que chocou. Querodeixar claro que não somos a favor do crimeocorrido! Além do mais, existe um trocadilhoexcelente com RAMONES, que obviamenteé um influência.

E o horrorpunk? Como você definiria esseestilo?O horrorpunk, pra mim, é como aquelesfilmes de terror da década de 80 ( “A Horado Espanto”, “A Hora do Pesadelo”,“Necronomicon”). São músicas com atemática voltada 100% para histórias deTerror, com a pegada do punk. É aquele terror

DeparoPor Ivan Silvanão procurava e encontreia caminhar em meu coração desmatado,um sentimento sobrevivente,livre, incorruptível...desses que, sei lá,ou fogem ou atacam a gente.

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REBOCO CAÍDO #13 Pag 10

CensuradoPor Glauco MattosoSabendo que a censura não me trava,pediram-me um soneto sem calãop'ra pôr na anthologia de salãoque o tal do [censurado] organizava.

Queriam até tonica na oitava,mas nada de recurso ao palavrão.Usei o ingrediente mais à mão,porem sem [censurado] não passava.

Desisto. Quanto mais remendos metto,mais ropto vae ficando o [censurado].Poema não é texto de pamphleto

p'ra ter que se estampar todo truncado!Pois esta [censurado] de sonetoque va p'ra [censurado] [censurado]!

que você torce pelo monstro!Normalmente as letras estão semprehomenageando um clássico cinema-tográfico do gênero, ou criando seupróprio roteiro, alguma história quepoderia estar nas telas. É um gênerodescompromissado com o social ouqualquer outra coisa. A intenção é fazerTerror na música, assim como é feito emtodos os outros gêneros de arte(literatura, cinema, pintura...)

Qual é o lance da maquiagem?Se a banda se propõe a tocar históriasfictícias de Terror e envolver o especta-dor nesta atmosfera, nada mais justo queas músicas sejam interpretadas pormonstros cinematográficos, né? Além deser uma marca muito forte do gênero,ajuda as pessoas a perceberem o quãofantasia é aquilo e a se identificarem comaquele personagem “X” do Filme deTerror que você aprende a amar (Freddy,Jason, chucky, Pinhead... a lista é infinita).Tem também todo o lance da mística portraz do corpse paint.

Quais as principais influências da banda?Obviamente Misfits desponta não sócomo criador do gênero, mas por ser atéhoje uma das bandas que melhorconseguiram transcrever o universo doterror em música (na minha opnião). Masa banda tem 4 integrantes e cada um trazsua influência. O Misfits é apenas ainterseção de todos nós.O Ricardo Sá (Guitarra) veio do Bendis,uma banda de ska, e curte Black Sabbath,Slayer, Dead Kennedys... por aí... Eu(vocal) curto muito Trash oitentista,alguma coisa do new metal (os queremetem à terror) e punk oitentista. Naverdade, o que eu curto é TERROR. Temesse tema já me ganhou pela metade. ONed (baixista) é da praia do rock-a-billy,

psychobilly, country americano, folk, essascoisas... Nosso novo membro, RafaelLobato, veio do Unearthly, que era umabanda de Black Metal. Pode parecerestranho, mas todos estão ligados pelavontade de tocar o TERROR!

O que o pessoal pode esperar?Pode esperar muito terror, deboche, sangue,juras de amor maldito, zumbis, vampiros,demônios, H.P. Lovecraft... e um showcheio de energia do inicio ao fim, com todoo clima necessário para se fazer um bomfilme de horror! Digo, show deHorrorpunk... Letras em português e um somintenso, pesado e às vezes dançante, o queevidencia nosso sarcasmo no trato com amorte.http://br.myspace.com/bandanardonesh t t p : / / w w w. y o u t u b e . c o m / u s e r /bandanardones

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Coleções de InfânciaPor Elke Gibson

Caminhava descalço- ele e seu brinquedo

por vielas esburacadassacudindo sua pet,

o pivete,catava todas que via...

Zunia!"mais uma pra coleção",

o guri matutava...

SORRIA

Mas logo a mãe berrava"pra casa!

moleque de miolo molepensa que é de aço?

tiro não escolhe"E o moleque corria...

Sua garrafarecheada

das cápsulasque catava

ao redor do seuportão

Até quebelo dia

completoua coleção

CATOU A ESPECIALMãe gritou!

"ô moleque desobediente"já não ouvia!já não catava!

- já não sonhavapra nossa ruína

pra nossa humana desgraçaessa não guardou na pet

Essa ele levou noPEITO

Dessa não correu não.

*******************************

- O “Gang Gulabi” (ou o exército de sarirosa) é um grupo de mulheres, na empo-brecida região da cidade de Banda, no nor-te da Índia. O Gulabi intervém em casosde violência doméstica, atacando os mari-dos abusivos com "laathis" (varas de bam-bu). Atualmente, lutam para combater o ca-samento infantil, eliminar o sistema dedote e derrotar o analfabetismo feminino.

Recortes

- Por 274 votos a favor, foram aprovadasas alterações feitas pelo relator Paulo Piau(PMDB-MG) no texto do Código Flores-tal. Com isto, o Código libera benefíciose crédito agrícola para quem desmatou, tiraa proteção em torno de nascentes de riose aumenta a consolidação de áreasdesmatadas em topos de morro emanguezais.

- Um estudo, publicado na revista interna-cional Food and Chemical Toxicology, so-bre milho geneticamente modificado apon-ta para efeitos tóxicos alarmantes até ago-ra desconhecidos. Trata-se da primeira veza nível mundial que são investigados osefeitos de longo prazo dos transgênicos nasaúde. Os animais alimentados pelo milhotransgênico sofreram de morte prematu-ra, além de tumores e danos em múltiplosórgãos vitais.

- Um grupo de pesquisadores localizoumaterial radioativo procedente da usina nu-clear de Fukushima a 3.200 quilômetrosdo litoral do Japão.

- O Brasil está, desde 2009, em primeirolugar no ranking dos países que mais usamagrotóxicos. É como se cada brasileiroconsumisse cinco litros de veneno ao ano.

- A Ugra Press tem o prazer de informarque está aberta a convocatória para o 3ºAnuário de Fanzines, Zines e PublicaçõesAlternativas. Maiores informações pelosite www.ugrapress.wordpress.com