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560 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO

A TEORIA ADMINISTRATIVA ESTÁ ATRAVESSANDO

um período de intensa e profunda revisão e crítica.

Desde os tempos da teoria estruturalista não se via

tamanha onda de revisionismo. O mundo mudou e

também a teoria administrativa está mudando. Mas,

para onde? Quais os caminhos? Algumas dicas po­

dem ser oferecidas pelo que está acontecendo com a

ciência moderna que também está passando por

uma forte revisão em seus conceitos. Afinal, a teoria

administrativa não fica incólume ou distante desse

movimento de crítica e renovação.

Na verdade, a teoria administrativa passou por

três períodos em sua trajetória:

1. O período cartesiano e newtoniano da Admi­

nistração. Foi a criação das bases teóricas da

Administração iniciada por Taylor e Fayol en­

volvendo principalmente a Administração Ci­

entífica, a Teoria Clássica e a Neoclássica. A in­

fluência predominante foi a física tradicional

de Isaac Newton e a metodologia científica de

René Descartes. Foi um período que se iniciou

no começo do século XX até a década de 1960,

aproximadamente, e no qual o pensamento li­

near e lógico predominou na teoria adminis­

trativa. Foi um período de calmaria e de relati­

va permanência no munQo das organizações.

2. O período sistêmico da Administração. Aconte­

ceu com a influência da Teoria de Sistemas que

substituiu o reducionismo, o pensamento analí­

tico e o mecanicismo pelo expansionismo, pen­

samento sintético e teleologia, respectivamente

a partir da década de 1960. A abordagem sistê­

mica trouxe uma nova concepção da Adminis­

tração e a busca do equilíbrio na dinâmica orga­

nizacional em sua interação com o ambiente ex­

terno. Teve sua maior influência no movimento

do DO e na Teoria da Contingência. Foi um pe­

ríodo de mudanças e de busca da adaptabilidade

no mundo das organizações.

3. O período atual da Administração. Está acon­

tecendo graças à profunda influência das teo­

rias do caos e da complexidade na teoria ad­

ministrativa. A ~udança chegou para valer no

mundo organizacional.

Os Paradoxos das Clêf.êias

As ciências sempre guardaram um íntimo relaciona­

mento entre si. Principalmente depois da revolução

sistêmica e cibernética: o que ocorre em uma área

científica logo permeia nas demais provocando um

desenvolvimento científico que, se não é homogê­

neo, pelo menos se torna relativamente concomi­

tante ou se faz com relativo atraso. Um aconteci­

mento na biologia no século XIX e cinco outros

acontecimentos na física no início do século XX es­

tão produzindo intensa influência na teoria admi­

nistrativa no início do século XXI.

1. O darwinismo organizacional

No século XIX, após coletar uma enorme massa de

informações, Charles Darwin (1809-1882) escre­

veu seu famoso livro, As Origens das Espécies, no

qual apresenta a sua teoria da evolução das espécies.

Concluiu que todo organismo vivo - seja planta ou

animal- é resultado, não de um ato criador isolado

ou de um evento estático no tempo, mas de um pro­

cesso natural que vem se desenrolando há bilhões

de anos. Tudo evolui gradativamente desde os siste­

mas simples até os mais complexos. A complexida­

de organizada dos seres vivos ocorre sem necessidade

da intervenção de qualquer força não-natural. Em

outras palavras, a vida vem se transformando conti­

nuamente através dos tempos. A evolução é orienta­

da por um mecanismo incrível chamado seleção na­

tural das espécies. Esse mecanismo seleciona os or­

ganismos mais aptos a sobreviver e elimina automa­

ticamente os demais. Não são os mais fortes da es­

pécie os que sobrevivem, nem os mais inteligentes,

mas os que se adaptam melhor às mudanças ambi­

entais. I O raciocínio de Darwin é o seguinte: se em

uma espécie existem variações nas características

que os indivíduos herdam de uma geração para ou­

tra, e se algumas dessas características são mais úteis

do que outras, então, essas últimas vão dissemi­

nar-se mais amplamente na população e, com o

tempo, vão acabar predominando. O conjunto da

população acabará tendo essas características mais

eficientes na arte da reprodução, e essa espécie

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pode tornar-se completamente diferente daquilo

que já foi. 2 Para que esse mecanismo seletivo possa

atuar, são necessárias três condições:

1. Deve haver variação, ou seja, as criaturas não

podem ser idênticas.

2. Deve haver um meio ambiente em que nem

todas as criaturas possam sobreviver e no qual

algumas se darão melhor que outras.

3. Deve haver algum mecanismo por meio do

qual a cria herda características dos pais.

A evolução pela seleção natural das espécies ex­

plica o mundo vivo. O ser humano é o último passo

da caminhada evolutiva de um determinado tipo de

chimpanzé. Passados quase duzentos anos de sua di­

vulgação, a idéia da evolução também está sendo

aplicada às organizações como organismos vivos.

2. Teoria dos quanta

No ano de 1900, o cientista alemão Max Planck

(1858-1947) apresentou a sua teoria dos quanta

que iria operar uma completa revolução na física

tradicional. Planck descobriu que no mundo das

partículas subatômicas, as leis de Newton não fun­

cionam. Até então, a física clássica de Isaac Newton

estabelecia uma exata correspondência entre causa

e efeito. O mundo newtoniano e previsível como

um mecanismo de relojoaria passou a ser entendido

~ DICAS

Acorrida pela evoluçãoParodiando os seres vivos, não são mais as organi­

zações grandes que engolem as pequenas. Hoje, ta­

manho não é documento. São as organizações mais

ágeis - de qualquer tamanho - que quebram as per­

nas das organizações lerdas - de qualquer tama­

nho. Importa o dinamismo da organização, não o

seu tamanho. Nessa corrida sem fim, ocorre uma

verdadeira seleção darwiniana. Adaptação, aprendi­

z~gern e mudança são os ingredientes básicos das

~pécies organizacionais bem-sucedidas.

PARTE X· Novas Abordagens da Administração 561

como aleatório tanto quanto um jogo de dados. Era

como se Deus fosse um excelente jogador. A física

quântica deixou de ser determinística para ser pro­

babilística.

Ao estudar os problemas que envolviam trocas

de energia e emissão de radiações térmicas, Planck

chegou à conclusão de que a quantidade de energia

emitida ou absorvida é igual a um múltiplo inteiro

de uma certa quantidade mínima, a que denominou

quantum (significa uma quantidade de alguma coi­

sa) elementar de ação. Essa quantidade é represen­

tada pela letra h e as medidas efetuadas fixaram seu

valor em 6,625 x 10-27 ergs por segundo (erg é a uni­

dade de energia no sistema cegesimal). Para a teoria

quântica, a energia é algo descontínuo e discreto,

ou seja, o seu crescimento se faz por acréscimos

constantes, tais como um muro feito de tijolos que

só pode aumentar segundo múltiplos inteiros de um

tijolo. Em outras palavras, a energia é transmitida

em pequenos pacotes - os quanta - e não de modo

contínuo. Um quantum de energia é dado pela ex­pressão hv onde v é a freqüência da radiação emitida

ou absorvida.

A física quântica mostra que no nível subatômico

não há partículas estáveis e nem blocos de constru­

ção de matéria, mas apenas ondas de energia em

contínuo movimento que podem, em certas condi­

ções, formar partículas. Todos os fenômenos suba­

tômicos podem atuar como onda (vibrações) ou

como partículas (com posição localizada no espaço

e no tempo). É a energia - e não a matéria - a subs-

~ DICAS

Os reflexos na teoria administrativa

A moderna teoria administrativa passou a descre­

ver as mudanças organizacionais em termos de

quantum. A mudança quântica significa uma mu­

dança de vários elementos ao mesmo tempo, em

contraposição à tradicional mudança gradativa ­

um elemento por vez, como na estratégia e depois

estrutura e nos processos. A mudança quântica

é<:úmiPIE~xa, imprevisível, intangível, dinâmica e

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PERSPECTIVA NEWTONIANA PERSPECTIVA QUÃNTICA

6. Afetado por aquilo que escapa aos olhos. As coisas acontecemapartir de certa distância.

7. Pleno de energia. Aenergia é intrínseca à vida eaos seussistemas.

do-o fóton, a que está ligada uma energia proporcio­

nal a respectiva freqüência. Assim, a luz tem um cará­

ter dual: ela é onda e é partícula ao mesmo tempo, o

que confundia totalmente os cientistas. Daí surgiu a

Teoria da Relatividade, vinculada às noções de espa­

ço e de tempo e aos métodos de medida dessas duas

grandezas. Einstein demonstrou que:

a. A massa é uma forma de energia variante em

função da velocidade (e = mc2). Isso liquidou

a noção de objetos sólidos. Segundo essa fór-

1. Mundo intangível, invisivel eabstrato.

2. Dinãmico, vibratório, em contínua mudança.

3. Imprevisivel, indeterminado.

dac

2. Dinâmicas, em contrnua mudança.

3./mprevisiveis. Funciona do com padrões cíclicos deinformações (laços de Retr as são causadas pelainteração de vários fatores interve

4. Auto-organizadoras. Aordem é criada internamente eépermitida ampla autonomia.

5. São melhor entendidas quando se observa otodo; o todOdetermina as partes. Sfntese.

6. Sistemas abertos. Interagem continuamente1:OfTl oambiente;evoluem em direção anfveis c elevadOs dede complexidade; renova

1. Organismos vivos, nos Quais não há partes idênticas; portanto,são orientadas com base

4. Externamente controladas por meio de estreita observação.

5. Uma máquina: as coisas são mreduzidas em suas partes mais simdeterminam otodo.

6. Localmente controlado. Causa eefeho são claramentediscemfveis

7. Dependente de fontes externas de energia. Sem aforça externatudo se desagrega.

1. Mundo material, visivel econcreto.

2. EStático, estável, preciso, inerte.

3. Previsfvel, controláveL

4. Não afetado pela observação. Arealidade é objetiva.

5. São melhor entendidas se forem reduzidas às suas partesmais simples; as partes determinam otodo. Análise.

6. Sistemas fechados. Procedem em direção àentropia;obedecem àsegunda lei da termodinâmica.

1. Semelhantes auma máquina. Máquinas são construídascom partes padronizadas; portanto, são orientadas com base naestrutura. no processo.

2. Estáticas, estáveis, passivas, inertes.

3. Previsíveis. Funcionam de acordo com uma cadeia linearde causa eefeito. Rupturas são facilmente identificáveis.

VISÃO MECANíSTICA VISÃO SISTÊMICAAS ORGANIZAÇÕES SÃO: AS ORGANIZAÇÕES SÃO:

QUADRO X.2. As duas diferentes visões organizacionais4

QUADRO X.1. As duas visões do mundo: a clássica e a quântica 3

3. Teoria da Relatividade

Em 1905, Albert Einstein (1879-1955) aplicou a hi­

pótese quântica ao efeito fotoelétrico para obter uma

explicação para o fenômeno. Admitiu que cada elé­

tron é liberado por um quantum de luz, denominan-

tância fundamental do universo. Mas, os efeitos do

mundo quântico não se limitam apenas ao pequeno.

Einstein apontou seus efeitos macroscópicos no uni­

verso.

562 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO

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PARTE X • Novas Abordagens da Administração 563

aparente dos ac<mtlecilmentcls

movimento do observador. Da

os corpos do universo estão se,nOlré

uns em relação

cia entre eles varia cons1tantern~tlt~I.$~~>

lar da distância entre dois I.iUIIIJUl>,

nar o momento em que essa riiCltA",,..,i,,, tfA\tA!itArr-rIAC'li4

da. Como diferentes observadores

a respeito do que seja o mesmo instar\te. ~11t~)t.~!~l1'+

de-se também que a idéia de distância (feIPet.ldé

movimento. Em resumo, as

distâncias são relativas. A rell:ltiv'idélldé

mundo. Nos sistemas físicos

o universo, a atmosfera ou

ou regularidades por

rio. No espaço intElrglalá1:ico

4. Princípio da incerteza

Em 1927, Werner Heisenberg (1901-1976) propôs

o seu princípio da incerteza: não é possível determi­

nar precisamente em um mesmo experimento, a po­

sição e a velocidade de uma partícula, pois a medida

precisa de uma dessas quantidades leva à indetermi­

nação da outra. Aqui se enterra o velho determinis­

mo clássico. Em 1932, Heisenberg ganhou o Prê­

mio Nobel de Física pela criação da mecânica quân­

tica em substituição à mecânica clássica de Newton,

para melhor interpretar o fenômeno das partículas

atômicas, cujas quantidades de movimento são pe­

quenas se comparadas com o produto da velocidade

da luz no vácuo pelas respectivas massas. A mecâni­

ca (estudo do movimento) quântica constitui o estu­

do das partículas subatômicas em movimento. Essas

partículas subatômicas não são coisas materiais, mas

tendências probabilísticas a respeito de energia com

potencialidade. A energia, como implica a palavra

mecânica, nunca é estática. Está sempre em contínuo

movimento, mudando incessantemente de onda

para partícula e de partícula para onda, formando

o. Nada é absolutoein partiu da relação existente entre nossas idéi­

de espaço e de tempo e o caráter de nos­

cias. Os acontecimentos isolados que re­

recem ordenados de acordo com o cri-

r-posterior", que não é submetido a ne­

. Existe, para cada pessoa, um tempo

bjetivo, que não pode ser medido em si.

enumerar cada evento de tal forma que ao

responda o maior número; porém, a manei­

pode ser inteiramente arbitrária. Essa

rentemente trivial de simultaneidade,

minada com cuidado, não se apresenta

Dois acontecimentos ocorridos em luga-

es entre si poderão parecer simultâneos

ervador, sucessivos para outro e inverti­

terceiro. Embora possa parecer absur­

adores estarão certos, pois a ordem

mula, a energia (força) contida na matéria é

equivalente à massa dessa matéria multipli­

cada pela velocidade da luz ao quadrado.

Portanto, até mesmo a menor partícula de

matéria contém um imenso potencial de ener­

gia concentrada. O espaço assemelha-se a um

oceano invisível fervilhante de atividade,

uma teia ou rede de campos de energia suba­

tômicos.

b. O espaço e o tempo estão em permanente in­

teração, ou seja, são relativos e não absolutos,

são dependentes do observador e constituem

partes integrantes de um continuum quadridi­

mensional - o espaço-tempo. Na medida em

que a velocidade das partículas se aproxima

da velocidade da luz, a descrição até então tri­

dimensional precisa incorporar o tempo co­

mo uma quarta coordenada determinada rela­

tivamente ao observador. Ocorre então uma

espacialização do tempo.

C. A força da gravidade tem o efeito de curvar o

espaço-tempo. Isso derrubou a geometria eu­

clidiana e o conceito de espaço vazio.

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564 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDAlBERTO CHIAVENATO

os átomos e as moléculas que, subseqüentemente,

criam o mundo material. É assombroso que todas as

coisas estáveis e estacionárias que observamos no

mundo material sejam compostas exclusivamente

de ondas de energia em movimento incessante.

Enquanto os físicos clássicos estudam objetosmateriais no mundo tridimensional, os físicos quân­

ticos estudam o comportamento dos elétrons, dos

prótons, dos nêutrons e de centenas de partículas

ainda menores denominadas quarks. As leis que re­

gem o domínio clássico estão em oposição direta

com a maneira como as coisas funcionam no nível

subatômico do universo. A lei do movimento contí­

nuo de Newton (todo universo é constante, exato e

previsível) é questionada: no nível subatômico, as

partículas não se movem de maneira contínua, mas

em inesperados e inexplicáveis saltos quânticos.

Além disso, no nível subatômico, as partes não de­

terminam o comportamento do todo, mas é o todo

que determina o comportamento das partes. Devi­

do à causação não-local, as partículas subatômicas

são capazes de interagir ao longo de grandes distân­

cias no espaço-tempo e jamais podem ser conheci­

das com precisão. Assim, os processos reducionistas

não podem explicar o comportamento das partícu­

las subatômicas. Também a previsibilidade da se­

gunda lei de Newton, segundo a qual toda ação é

acompanhada por uma reação igual e oposta, está

sendo substituída pela concepção mais indetermi­

nada de probabilidade estatística. Além disso, a ob­

jetividade newtoniana é substituída pela subjetivi­

dade quântica. A velha visão mecanicista, determi­

nista e reducionista do mundo cai por terra. Assim,

a substância fundamental do universo é a energia enão a matéria.

5. Teoria do caos

Na década de 1960, Edward Lorenz do Instituto de

Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu

um modelo que simulava no computador a evolu­

ção das condições climáticas. Dados os valores ini­

ciais de ventos e temperaturas, o computador fazia

uma simulação da previsão do tempo. Lorenz ima­

ginava que pequenas modificações nas condições

iniciais provocariam alterações igualmente peque-

~ DICAS

Avisão do mundoo prihcípi.o dá Í)"lcerteza signifícaquearealidade

depende daquilo que escolhemos para medi-Ia.

Mais especificamente, depende do conjunto de len­

tes que escolhemos para olhar através delas. Se o

mundo externo é visualizado através de uma lente

cultural de paradigmas aprendidos, poderá apre­

sentar uma realidade tridimensional concreta: um

mundo de partículas que é composto de objetos

naturais. Se o mundo externo é visualizado sem as

distorções de nossa lente cultural, ele apresentará

apenas ondas de possibilidades energéticas. Vive­

mos em um universo subjetivo, isto é, em um uni­

verso de que somos co-autores por meio de nossas

escolhas perceptivas. Fomos condicionados pela

visão newtoniana do mundo a acreditar em uma re­

alidade exterior objetiva. Essa crença tinha vanta­

gens, como a abdicação da responsabilidade: vive­

mos em um mundo fixado, objetivo e somos vítimas

de circunstâncias externas que estão além de nos­

so controle. Se o mundo tridimensional é subjetivo,

então desempenhamos como seres perceptivos

um importante papel como criadores de tudo isso

que vemos e que vivenciamos.5 Como dizia Prigo­

gine, "o que quer que chamemos de realidade, el~

só nos é revelada por intermédio de uma constr\J~

ção ativa na qual participamos".6

nas na evolução do quadro como um todo. A sur­

presa: mudanças infinitesimais nas entradas podem

ocasionar alterações drásticas nas condições futuras

do tempo. Como dizia Lorenz: uma leve brisa em

Nevada, a queda de 1 grau em Massachusetts, o ba­

ter de asas de uma borboleta na Califórnia podem

causar um furacão na Flórida um mês depois. 7 Uma

estrambólica variação em cadeia do chamado efeito

dominó. Da previsão do tempo ao mercado de

ações, das colônias de cupins à Internet, a constata­

ção de que mudanças diminutas podem acarretar

desvios radicais no comportamento de um sistema

veio reforçar a nova visão probabilística da física. O

comportamento dos sistemas físicos, mesmo os re­

lativamente simples, é imprevisível. 8 O estado final

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....--

de um sistema não é um ponto qualquer; certos per­

cursos parecem ter mais sentido do que outros ou

ocorrem com maior freqüência. Os chamados atra­

tores estranhos (strange attractors) permitem que os

cientistas prevejam o estado mais provável de um

sistema, embora não quando precisamente ele vai

ocorrer. É o que acontece com a previsão do tempo

ou de um maremoto, por exemplo.

A palavra caos tem sido tradicionalmente associa­

da à desordem. Nas mitologias e cosmogonias anti­

gas, caos era o vazio escuro e ilimitado que precede à

criação do mundo. * Desde tempos imemoriais, o ser

humano se defronta com o desconhecido e o percebe

como caótico e atemorizante. Desde os tempos de

Descartes, a lógica e a racionalidade da ciência cons­

tituíram uma luta constante contra o caos: tornar omundo conhecido e reduzir a incerteza. >, >,

Contudo, na ciência moderna, caos significa uma

ordem mascarada de aleatoriedade. O que parece

caótico é, na verdade, o produto de uma ordem su­

bliminar, na qual pequenas perturbações podem ca­

usar grandes efeitos devido à não-linearidade douniverso. >, *~. Para a ciência moderna, os fenômenos

deterministas - que obedecem ao princípio da linea­

ridade de causa e efeito - constituem uma pequena

minoria nos eventos naturais. Tudo na natureza

muda e evolui continuamente. Nada no universo é

passivo ou estável. A noção de equilíbrio - tão cara

à Teoria de Sistemas - constitui um caso particular e

* A herança da cultura grega é muito forte. Para os antigosgregos, o estado primitivo do mundo era o caos, a matéria queexistia desde toda a eternidade sob uma forma vaga, indefiní­vel, indescritível, em que os princípios de todos os seres parti­culares estavam confundidos. Para a mitologia grega, o caosera uma divindade rudimentar, que só pode procriar pela in­tervenção de uma força divina e eterna como os elementos dopróprio caos: Eros, ou o amor. Eros é o deus da união e da afi­nidade, e nenhum ser pode escapar de sua influência. No en­tanto, ele tem um oposto, ou adversário: Anteros, isto é, a apa­tia, a aversão, que separa e desune. A tensão entre Eros e Ante­ros era o que garantia a evolução do mundo e o impedia devoltar aos caos. Desde o início dos tempos, o ser humano sedefronta com o desconhecido que, como tal, é percebidocomo escuro, atemorizante, caótico. O medo do desconheci­do - como o medo da morte - tem movido a humanidade naciência, na arte e na filosofia. A busca tem sido sempre por tor­nar o mundo cada vez mais amplo, embora convivamos sem­pre com a noção de que o que conhecemos é infinitamentemenor do que o que desconhecemos do mundo e da vida.

PARTE X· Novas Abordagens da Administração 565

pouco freqüente. Na verdade, não existem mudan­

ças no universo. O que existe é mudança. O estado

de equilíbrio, o determinismo e a causalidade linear

são casos muito singulares em um universo primor­

dialmente evolutivo, onde tudo é fluxo, transfor­

mação e mudança. No decorrer do século XX, a

ciência passou da visão clássica de uma realidade em

permanente estado de equilíbrio para uma visão de

uma realidade sujeita a perturbações e ruídos, mas

que tendia naturalmente a retornar ao equilíbrio,

graças à abordagem sistêmica.

Para a teoria do caos, a desordem, a instabilidade

e o acaso no campo científico constituem a norma, a

regra, a lei. A influência dessas idéias na teoria ad­

ministrativa é marcante. Afinal, estamos ainda bus­

cando a ordem e a certeza em um mundo carregado

de incertezas e instabilidade. Os modelos de gestão

baseados na velha visão do equilíbrio e da ordem es­

tão caducos. Além do mais, quando se faz um esfor­

ço para integrar a administração com outras ciênci­

as, os resultados caminham em uma direção com­

pletamente diferente. 10 A ciência moderna mostra

que o sistema vivo é, para si, o centro do universo e

sua finalidade é a produção de sua identidade. O sis­

tema procura interagir com o ambiente externo

sempre de acordo com uma lógica.

*'f A metodologia de Descartes consistia em princípios geraissimples: aceitar somente aquilo que seja tão claro em nossamente que exclua qualquer dúvida, dividir os grandes proble­mas em problemas menores, argumentar partindo do simplespara o complexo e verificar o resultado final. Ao longo dostempos, essa abordagem lógica e racional foi utilizada na ciên­cia, principalmente ciências exatas e experimentais, com enor­me êxito. Já nas ciências sociais e nos negócios, esse métododemonstrou sérias limitações. Na teoria administrativa, o mé­todo cartesiano de análise foi intensamente utilizado. Esse tipode abordagem (do mais geral para o mais específico) levou àsestruturas hierarquizadas, modulares e departamentalizadas,tão comuns nas organizações tradicionais. Todavia, tem-sepercebido a importância das relações entre os componentes daempresa, as mútuas influências nos processos de trabalho, anecessidade de visão integrada e a importância do lado emo­cionaI, afetivo, e não somente racional, no processo decisório.É a velha abordagem reducionista do passado.<-»*0 que parece caótico à primeira vista é produto de umaordem subliminar, na qual pequenas perturbações podem cau­sar grandes efeitos devido à não-linearidade do universo. Umaborboleta voando na Califórnia pode provocar um tufão naFlórida. Para os defensores da Teoria do Caos, todos os resul­tados têm uma causa. Essa precisa ser estudada pela Teoria dasProbabilidades e não pelo determinismo causal.

I"!li;

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çóes não sãoe. no inicio de sua história, a teoria

a concebeu as organizações para funcio­

narem como máquinas orientadas para a minimi­

zação da incerteza e do ruído. Ordem, controle,

estabilidade, permanência, previsibilidade e regu­

laridade eram fundamentais. Mais recentemente,

as organizações passam a ser vistas como siste­

mas sujeitos a pressões externas e oscilações que

precisam ser amortecidas para que os sistemas

possam retornar ao equilíbrio: o modelo universal

é um sistema auto-regulado, na qual os desvios

são identificados por sinalizações de retroação e

então compensados, corrigidos, atenuados ou neu­

tralizados, sempre por meio de mudanças incre­

mentais. A ciência estava orientàda para a

certezas e a desordem sempre foi

rônios, considerar seres humanos reunidos em redes

cooperativas, verifica-se que essa descoberta científi­

ca ingressou na teoria administrativa com muito

atraso, indicando que as organizações são sistemas

complexos, adaptativos e que se auto-organizam até

alcançarem um estado de aparente estabilidade.

• Sujeito oobjeto são indissociáveis.

• Conhecer, conhecido econhecimento são indis~,ociáveis.

'a, vida einformaçãosistemas físicos

submetidos às leis de energia.

• Recursividade efeito-causa. Acausalidade.

• Otodo contém as partes eestá contido nelas.

• Universo écomposto por energia. Particulas e luz têm amesma natureza

• Otodo contém as partes.

• Oconhecimento independe da mente do sujeito.

• Matéria, vida einformação são distintas.

• Causalidade linear.

• Dualidade sujeito-objeto

composto por particulas sólidas edlstintas da luz

Figura XX.1. Os Paradigmas Cartesiano-Newtoniana e Holístico. 9

6. Teoria da complexidade

Em 1977, Ilya Prigogine ganhou o Prêmio Nobel de

Química ao aplicar a segunda lei da termodinâmica

aos sistemas complexos, incluindo organismos vivos.

A segunda lei estabelece que os sistemas físicos ten­

dem espontânea e irreversivelmente a um estado de

desordem ou de entropia crescente. Contudo, ela

não explica como os sistemas complexos emergem

espontaneamente de estados de menor ordem desa­

fiando a tendência à entropia. Prigogine verificou

que alguns sistemas quando levados a condições dis­

tantes do equilíbrio - à beira do caos - iniciam pro­

cessos de auto-organização, que são períodos de ins­

tabilidade e de inovação dos quais resultam sistemas

mais complexos e adaptativos. Exemplos desses sis­

temas adaptativos e auto-organizantes são os ecossis­

temas de uma floresta tropical, formigueiros, cére­

bro humano e a Internet. São sistemas complexos

que se adaptam em redes (networks) de agentes indi­

viduais que interagem para criar um comportamento

autogerenciado, mas extremamente organizado e co­

operativo. Esses agentes respondem à retroação (feed­

back) que recebem do ambiente e, em função dela,

ajustam seu comportamento. Aprendem com a expe­

riência e introduzem o aprendizado na própria estru­

tura do sistema. Em outras palavras, aproveitam as

vantagens da especialização sem cair na rigidez bu­

rocrática. Se, ao invés de formigas, abelhas ou neu-

PARADIGMA CARTESIANO-NEWTONIANO PARADIGMA HOLíSTICO

5&& Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO

Page 9: das Clêf.êias - iaufabc.files.wordpress.com · 560 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO A TEORIAADMINISTRATIVA ESTÁ ATRAVESSANDO um período de

Prigogine elaborou a teoria das estruturas dissi­pativas - também conhecida como teoria do não­

equilíbrio - para explicar a ordem por meio das per­turbações que governam o fenômeno da evolução.A evolução é, basicamente, um processo de criaçãode complexidade por meio do qual os sistemas setornam progressivamente capazes de utilizar maio­

res quantidades de energia do ambiente para ampli­ação de suas atividades.

A palavra complexidade tem sido utilizada pararepresentar aquilo que temos dificuldade de com­preender e dominar. A complexidade constituiuma nova visão das ciências. A velha Cibernética

despertou a curiosidade dos cientistas. O emara­nhado das ciências interdisciplinares levou àconstatação de que a realidade que nos cercaapresenta segredos ainda não totalmente desven­dados para a inteligência humana. 12 As fronteiras

do conhecimento exploradas pelas teorias da com­plexidade - principalmente pela teoria do caos eteoria das estruturas dissipativas - levam a con­clusões impressionantes.

A Teoria da Complexidade é a parte da ciência quetrata do emergente, da física quântica, da biologia, dainteligência artificial e de como os organismos vivosaprendem e se adaptam. Ela é um subproduto da teo-

PARTE X • Novas Abordagens da Administração

ria do caos. No estudo do comportamento das partí­

culas fundamentais que constituem todas as coisas domundo, a física quântica proporciona conclusões am­bíguas e indeterminadas: como pode a realidade se re­velar ao ser humano por meio de um mundo de coisas

concretas e determinadas se ela é constituída de aspec­tos indeterminados?13 O mundo quântico tem as suas

esquisitices. A lógica da ciência da complexidadesubstitui o determinismo pelo indeterminismo e a cer­teza pela incerteza. Os físicos tiveram de reconstruir

as bases sobre as quais a ciência vinha se desenvolven­do desde o mundo mecânico, previsível e linear deIsaac Newton. 14 Há autores que pregam um paralelo

entre o mundo da ciência e o mundo dos negócios,mostrando que, da mesma forma, também a teoriaadministrativa terá de se estabelecer sobre bases novas

que definam a nova lógica para a atuação das organi­zações.15 Para abordar os movimentos ondulatóriosdos negócios seria necessária uma total recauchuta­gem da teoria administrativa?

Todas essas contribuições - o darwinismo organi­zacional, a teoria dos quanta, a teoria da relativida­de, o princípio da incerteza, a teoria do caos e a teo­

ria da complexidade - vieram trazer uma nova con­ceituação da ciência e da realidade em que vivemos.Em resumo, a ciência moderna não está apenas des­cobrindo novos campos científicos, mas está redefi­nindo o próprio sentido do que seja ciência, como: 16

a. A ciência abandona o determinismo e aceita oindeterminismo e a incerteza, inerentes ao ho­mem e às suas sociedades.

b. A ciência abandona a idéia de uma simplicida­de inerente aos fenômenos do mundo naturale abraça a complexidade também inerente aohomem e suas sociedades.

C. A ciência abandona o ideal de objetividadecomo única forma válida de conhecimento,

assumindo enfim a subjetividade, marca maiorda condição humana.

A complexidade significa a impossibilidade de se

chegar ao conhecimento completo a respeito da na­tureza. A complexidade não pode trazer certeza so­bre o que é incerto. Ela pode apenas reconhecer aincerteza e tentar dialogar com ela. 17

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Figura X.1. O crescente ritmo de inovação: as sucessivas ondas de Schumpeter.

568 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO

A Quinta Onda

A Era Industrial predominou em quase todo o sé­

culo XX e cedeu lugar à Era da Informação. Nessa

nova era, as mudanças e transformações passam a

ser gradativamente mais rápidas e intensas. Sobre­

tudo, descontínuas. A descontinuidade significa

que as mudanças não são mais lineares ou seqüen­

ciais e nem seguem uma relação causal (cau­

sa-e-efeito). Elas são totalmente diversas e alcan­

çam patamares diferentes do passado. A simples

projeção do passado ou do presente não funciona

mais, pois as mudanças não guardam nenhuma si­

milaridade com o que se foi. Como dizia Joseph

Schumpeter: a economia saudável é aquela que

rompe o equilíbrio por meio da inovação tecnoló­

gica. 19 Ao invés de tentar otimizar o que já existe, a

atitude produtiva é a de inovar por meio daquilo

que ele chamou de destruição criativa. Destruir o

velho para criar o novo. Na visão de Schumpeter,

os ciclos em que o mundo viveu no passado foram

todos eles determinados por atividades econômi­

cas diferentes. Cada ciclo - como qualquer ciclo de

vida de produto - tem as suas fases. Só que essas

ondas estão ficando cada vez mais curtas fazendo

com que a economia renove a si mesma mais rapi­

damente para que um novo ciclo possa começar.

O primeiro elemento central da quinta onda é a

Internet. A world wide web - www - a rede mundial

Redes digitaisSoftwareNovas mídias

Petroquímica

Eletricidade Aeronáutica

QuímicaEletrônica

VaporEnergia Estrada Motor a

hidráulica de Ferro combustão

Têxteis AçoFerro

1ª Onda 2ªOnda 3-ª-Onda 4ll Onda 5ªOnda

1785 1845 1900 1950 1990 2020

o( 60 ) o( 55 ) o( 50 )0( 40 ) o( 30 )anos anos anos anos anos

OJipâl"~(j~Ô$)daatllalitfade

Ma.s, opê,raclo)(Óé quê, ao mesrno tempo em que

sedlscutêOiindeterminismo, a complexidade e·a

subjetividade, .a Administração está recebendo

uma preciosa ajuda dos sistemas inteligentes ba­

seadoS em computadores. Os fabricantes de solu­

ções estão desenvolvendo ferramentas de apoio à

tomada de decisão. O desenvolvimento tecnológi­

co dos sistemas de gestão e a utilização da inteli­

gência artificial estão proporcionando programas

que imitam o processo de raciocínio usado pelas

pessoas na solução de problemas e que são com-

, postos de bancos de dados e de regras que os es­

pecialistas usam para fazer inferências sobre um

problema e determinar o que precisa ser feito.

Essas regras constituem o centro do sistema inteli­

gente que funciona como base de apoio às deci­

sões administrativas. 18 E, convenhamos, regras

sempre constituem abordagens prescritivas e nor­

mativas típicas das antigas teorias administrativas.

Isso significaria o retorno da TGA por meio de no­

vos enfoques tradicionais proporcionados pela

moderna tecnologia? Como dizia Giuseppe Lam­

peduza no seu livro 11 Gattopardo: é preciso sem­

pre mudar as coisas para que elas permaneçam

como estão. Há muito em jogo. A evolução da TGA

promete ser profunda e inarredável.

~ DICAS

Page 11: das Clêf.êias - iaufabc.files.wordpress.com · 560 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO A TEORIAADMINISTRATIVA ESTÁ ATRAVESSANDO um período de

-.=

que interliga centenas de milhões de computadores

de pessoas, equipes e organizações." E a inquebran­

távellógica dessa nova onda é de que não há mais lu­

gar para se fazer as mesmas coisas do passado. Claro

que precisamos conhecer o que foi feito no passado

como base elementar para nosso conhecimento e

para poder criar e inovar. Todavia, o que aprende­

mos no passado passa a ter pouco valor prático para

o futuro que se aproxima cada vez mais rapidamen­

te. Trata-se de uma nova dimensão de tempo e de es­

paço à qual ainda não estamos acostumados.

O segundo elemento central da quinta onda é a

globalização dos negócios. Ela é um processo de mu­

dança que combina um número crescentemente

maior de atividades por meio das fronteiras e da tec­

nologia da informação, permitindo a comunicação

praticamente instantânea com o mundo. E, de lam­

buja, promete dar a todas as pessoas em todos os can­

tos o acesso ao melhor do mundo. A globalização

constitui uma das mais poderosas e difusas influênci­

as sobre nações, organizações, ambientes de traba­lho, comunidades e vidas. Para Kanter,20 quatro pro­

cessos abrangentes estão associados à globalização:

a. Mobilidade de capital, pessoas e idéias. Os

principais ingredientes de um negócio - capi­

tal, pessoas e idéias - estão adquirindo cada

vez mais mobilidade. Estão migrando de um

lugar para o outro com incrível rapidez e faci­

lidade. A transferência de informações em alta

velocidade torna o lugar irrelevante.

* Tudo foi muito rápido. Em 1989, um físico nuclear inglês,Tim-Berners Lee criou um programa que permitia que textos efiguras fossem transferidos e captados por qualquer computa­dor ligado à rede: o hipertexto (nome abreviado como http ­hyper text transfer protocol). Tim abre mão do lucro e tornasua criação domínio público. Em 1991, surge a invenção daworld wide web (www ou Web, que em português significateia), o avanço tecnológico a partir do qual a Internet se torna­ria rapidamente um fenômeno mundial. Logo mais, em 1992,surge o primeiro browser - o Mosaic - que permite acesso àrede por meio do mouse e eliminando os códigos de progra­mação. A partir de então, a Web passou a proporcionar umarede mundial cuja avalanche de dados provoca uma formidá­vel explosão de informações. A chamada super-rodovia de in­formação virou as comunicações e o mundo dos negócios depernas para o ar. Com isso, surgiu uma rede interativa chama­da de ciberespaço (cyberspace, termo criado por William Gib­son em seu livro Neuromancer, em 1984).

PARTE X • Novas Abordagens da Administração 569

b. Simultaneidade - em todos os lugares ao mes­mo tempo. O processo de globalização signifi­

ca uma disponibilidade cada vez maior de

bens e serviços em muitos lugares ao mesmo

tempo. O intervalo de tempo entre o lança­

mento de um produto ou serviço em um lugar

e sua adoção em outros lugares está caindo

vertiginosamente, em especial no que se refe­

re às novas tecnologias.

c. Desvio - múltiplas escolhas. A globalização

é ajudada pela competição além das frontei­

ras apoiada por um trânsito internacional

mais fácil, desregulamentação e privatiza­

ção de monopólios governamentais, que au­

mentam as alternativas. O desvio significa

inúmeras rotas alternativas para atingir e

servir os clientes. O surgimento de serviços

de entrega de encomendas em 24 horas em

qualquer lugar do mundo substitui os servi­

ços postais governamentais. O mesmo ocor­

re com o fax. Transferências eletrônicas de

fundos substituem os bancos centrais. Os

novos canais são mais universais, menos es­

pecíficos ao local e podem ser explorados

em qualquer lugar.

d. Pluralismo - o centro não pode dominar. No

mundo inteiro, os centros monopolistas estão

se dispersando e sofrendo um processo de

descentralização. O pluralismo se reflete na

dissolução e dispersão de funções para todo o

mundo, independentemente do lugar.

Esses quatro processos juntos - mobilidade, si­

multaneidade, desvio e pluralismo - ajudam a colo­

car um número maior de opções nas mãos do con­

sumidor individual e dos clientes organizacionais

que, em contrapartida, geram uma "cascata de glo­

balização", reforçando mutuamente os ciclos de re­

troação que fortalecem e aceleram as forças globali­

zantes. Pensar como o cliente está se tornando a ló­

gica global de negócios. Além disso, dois fenôme­

nos ocorrem simultaneamente: o regulamentado

está se tornando desregulamentado (o que reduz o

controle político), enquanto o desorganizado está

ficando organizado (o que aumenta a coordenaçãodos setores).

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570 Introdução à Teoria Geral da Administração' IDALBERTO CHIAVENATO

Estâmc3syí'vel1<:fo emum.~

cada vez íWii!I c0rn­

O .núcleo básico da sociedade

a organização administrada A institui­

constitui a maneira pela qual a socieda-

de consegue que as coisas sejam inventadas, cria­

das, desenvolvidas, projetadas e feitas. E a admi­

nistração é a ferramenta específica para tomar as

organizações capazes de gerar resultados e satis­

fazer necessidades. Como diz Drucker,22 a organi­

zação não existe apenas dentro da sociedade. Ela

existe para produzir resultados dentro da socieda­

de e principalmente para modificá-Ia continuamen­

te. E o sucesso das organizações depende de ad­

ministradores competentes. Em decorrência, avulta

o papel do administrador. Ele não só faz as organi-

funcionarem bem, como também faz com

prcldulzalm resultados e agreguem valor.

ele muda continuamente

proprietárias e uma habilidade de compartilhar

com os parceiros. E seus principais ativos são os três

Cs: conceitos, competência e conexões, que elas es­

timulam e repõem continuamente. Dessa maneira,

as organizações bem-sucedidas estão criando o

shopping center global do futuro. E, no processo de

globalização, elas se tornam classe mundial: focali­

zadas externamente e não internamente, basean­

do-se no conhecimento mais recente e operando

através das fronteiras de funções, setores, empresas,

comunidades ou países em complexas redes de par­

cerias estratégicas.

a. As organizações organizam-se em torno da ló­gica do cliente. Atendem rapidamente às ne­

cessidades e desejos dos clientes em novos

conceitos de produtos e serviços e transfor­

mam o conceito geral do negócio quando as

tecnologias e mercados mudam.

b. Estabelecem metas elevadas. Tentam definir os

padrões mundiais nos nichos almejados e bus­

cam redefinir a categoria a cada nova oferta.

c. Selecionam pensadores criativos com uma vi­são abrangente. Definem seus cargos de forma

abrangente e não de forma limitada, estimu­

lam seus funcionários a adquirir múltiplas ha­

bilidades, trabalhando em vários territórios e

dão a eles as melhores ferramentas para exe­

cutar suas tarefas.

d. Encorajam o empreendimento. Investem em

equipes de empowerment para que elas pos­

sam buscar novos conceitos de produtos e

serviços, deixam que elas coloquem em práti­

ca suas idéias e reconhecem fortemente a ini­ciativa.

e. Sustentam o aprendizado constante. Promo­

vem a ampla circulação de informações, ob­

servam os concorrentes e inovadores no mun­

do inteiro, medem seu próprio desempenho

com base em padrões mundiais de qualidade e

oferecem treinamento contínuo para manter

atualizado o conhecimento das pessoas.

f. Colaboram com os parceiros. Combinam o

melhor de sua especialização e da de seus par­ceiros, desenvolvendo aplicações customiza­

das para os clientes.

Para vencer em mercados globais e altamente

competitivos, as organizações bem-sucedidas

compartilham uma forte ênfase em inovação,

aprendizado e colaboração por meio das seguin­

tes ações: 21

Daí outros paradoxos: as organizações bem-su­

cedidas apresentam uma cultura que combina ca­

racterísticas aparentemente opostas: padrões rígi­

dos e interesse pelas pessoas; ênfase em inovações

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PARTE X • Novas Abordagens da Administração 571

QUADRO X.3. Cronologia dos principais eventos

ANO AUTORES LIVROS

of Action Perspective

ns Manage What

IWealthand Measuring Knowledge-Based Assets

1978

1982

1983

1984

1986

1987

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

C. Argyris & 11Scoon

I.Peters &R.Waterman

Ralph H. Killmann

Paul Davies

Karl E. SveibyDavid leece

K.E.Sveiby &Uom

Peter 5enge

lhomas Stewart

W.Davidoy & M.Malone

W.J.HudsonHernan .Bryant Mayard Jr.&Susan E. MehrtensOdd Norhaug

lhamas StewartPeter SengeKevin KellyRobert W. Jacobs

Oorothy Leonard-BartonI.Nonaka & H.lakeuchiDaniel OennettRGrenier & G.MetesCharles HandyJ.Porras &J.CollinsD. Leonard-Barton

A. BrookíngLeif Edvinsson & M.Malone

Art KleinerJoe JaworskiJ. Upnack &J. StampsRS.Kaplan &O.P.NortonRalph D. Stacey

Clayton Christensenlhamas StewartKarl E. SveibyArie de GeusI. Koulopoulos, R.Spinello &I. Wayne

Patrick SullivanNicholas Negropontelhomas Davenport& Laurence Prusak

Organiz

In Search of

Producing UseM Knowledge for Organizations

God and the New Physics

lhe Know-How CompanyProfiting from lechnologlcallnnovation

Managing Knowhow

lhe Invisible Balance Sheetlhe Age of Unreasonlhe Selflsh Gene

lhe Fifht Discipline

Brainpower

lhe Virtual Corporation

Intellectual Capital: How to Built It, Enhance lt, Use itlhe Fourth Wave: Business in the 21 st Century

Human Capital in Organizations

Intellectual Capitallhe Fifth Discipline FieldbookOut Df Control: lhe New Biology Df Machines, Social Systems, and the Economic Worldlhe Real lime Strategic Change: How to Involve an Entire Organization in Fast andFar-Reaching Change

Wellspring of Knowledge - Building and Sustaining the Sources of Innovationlhe Knowledge-Creating CompanyDarwin's Dangerous IdeaGoing VirtualBeyond CertaintyBumto LastWellsprings of Innovation

Intellectual Capital: Core Asset for the lhird MilleniumIntellectual Capital: Realizing your Company lme Value by Finding its HiddenBrainpowerlhe Age Df HereticsSynchronicitylhe Age Df the Networklhe Balanced ScorecardComplexity and Creativity in Organizations

lhe Innovator's Dilemmalntellectual Capital: lhe New Organilhe New Organizational Wealth: Malhe Uving CompanyCorporate Instinet: Building aKnowing Enterprise forthe 21stCentury

Profiting from IntellectDigital UfeWorking Knowledge: HowIheyKnow

(Continua)

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ANO AUTORES LIVROS

..

The Tuming Point: Soienoe, Society and the Rising Culture

Chaos: Making aNew ScienceThe Quantum Universe

ABriei History of Time: From the Big Bang to Black Hofes

Turbufent Mirrar: An IIlustrated Guide to Chaos 177eory and the Seience of WholenessTaking the Quantum Leap: The New Physios for Nonscientists

Flow: The Psychofogy for the Third MillenniumThe Quantum Self: Human Nature and Gonsciousness Defined by lhe

177e Hundredth Monkey

The Tao of PhysicsGod and the New PhysicsThe Celestine Prophecy

Order Out of Chaos: Man's New Dialogue with NatureIn Search of Schroedinger's Cat: Quantum Physics and RealityThe Quantum Worfd

Dar:win's DanTheEndofAtHomeinSeeing Systems:

177e Great Game of Business

Elementa/ Mind: Human ConsoiousnessThe Soul ofaBusiness: ManagingfonPr;Thinking: The New Soience ofFuzzy LogicThe Cefestine Prophecy

FuzzyLogicTheQuantum

The Web ofUfe: ANew Soientific UnderstandínfJ ofExpanding our Know: The Story of Open Space Teohn%gy

lhe Danoe of Change: lhe ChallenOrganizations

on The Strategy·Pocused Organi.ra:Digitaf Capital

I.Prigogine & I.StengersJohn GribbinJ-C.Polkinghome

Fritjof Capra

James GleickT.Hey & P-Walters

S.W.Hawklng

JohnBriggs & F.David PeatFred Alan Wolf

Ken Keyes, Jr.

Frijjof CapraPaul DaviesJames Redfield

M.CsikszentmihalyiDanah ZoharNew Physles

Jaek Stack

Nlek HerbertTom ChappellBart KoskoJames Redfield

D.MeNeill & P. FreibergerDanah Zohar

Daniel DennetJ.HorganStuart KauttmanBarry Oshry

Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO

1984

ANO AUTORES LIVROS

1988

1989

1986

1987

1992

1993

1990

1994

1995

1996

1997

QUADRO X.3. Cronologia dos principais eventos (continuação)

QUADRO X.4. Cronologia dos principais eventos recentes na física

572

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The lnvisible Balance SheetThe Age of lJoreason

The Rfth DisciplineThe Boroerless World

8raínpowerThe Age Df Paradox

lnte//ectual Capítal: How to Buílt ít, Enhance ít, Use ítReengineering CorporatiOn

InteJ/ectual CapítalThe Fífth DíscipNne Fie/dbaokThe Rise and Fali afStrategic PlanníngCompetíng for lhe FutureBuílt To LastOrganízatian Desígns

Wellspríng DfKnowledge - Building and Sustaíning the $ources oflnnovatíonThe Knowledge-Creatíng Company

lntelleclual Capítal: Core Asset for the

CRONOLOGIA DAS NOVAS ABORDAGENS (CONTINUAÇÃO)

PARTE X • Novas Abordagens da Administração 573

ArtKleínerJoo Jaworski

Karl E. SveibyCharles Handy

PeterõengeKenichi Ohmae

lhamas StewartCharles Handy

W.J.HudsonM. Hammer & J. Champy

lhomas 8tewartPeter 8engeHenry MintzbergG. Hamel & C. K. PrahaladJ. Collins & J. PorrasDavid Nadler

Dorothy Leonard-Barton

Ikujlro Nonaka & Hlrotaka lakeuchi

A. BrookingLaif Edvínsson & M.Malone

1991

1994

1989

1996

1990

1993

1995

_ao>

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574 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO

IReferências Bibliográficas

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6. Carlos Siffert, "O Maremoto", Negócios Exame,Edição 731, Janeiro 2001, p. 44-47

7. Edward N. Lorenz, The Essence of Chaos, Seattle,University ofWashington Press, 1993, p. 181-184

8. Ilya Prigogine & Isabelle Stengers, Order Out ofChaos: Man's New Dialogue With Nature, Boul­der, Shambhala, 1984, p. 38

9. Adaptado de: Pierre Weil, "Axiomática Transdis­ciplinar para um novo Paradigma Holístico", in:Pierre Weil, U. D'Ambrosio, R. Crema, Rumo à

Nova Transdisciplinariedade: Sistemas Abertos deConhecimento, São Paulo, Sumus, 1993, p. 45-47.

10. Charles Perrings, Biodiversity Loss: Economicaland Ecological Issues, Cambridge, Mass., Cam­bridge University Press, 1997

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13. Kevin Kelly, Out of Contrai: The New Biology ofMachines, Social Systems, and the Economic World,Addison-Wesley, 1994

14. David Lindley, Where Does the Weirdness Go?,Nova York, Basic Books, 1996

15. Clemente Nóbrega, Em Busca da Empresa Quânti­ca, Rio de Janeiro, Ediouro, 1996

16. Ruben Bauer, Gestão da Mudança: Caos e Complexi­

dade nas Organizações, São Paulo, Atlas, 1999, p. 23317. Ruben Bauer, Gestão da Mudança, op. cit., p. 1918. Paul Harmon & David King, Expert Systems: Arti­

ficial Intelligence in Business, Nova York,John Wi­ley & Sons, 1985

19. J.A Schumpeter, "The Creative Response in Eco­nomic History",journal ofEconomic History, No­vember 1947, p. 149-159

20. Rosabeth Moss Kanter, Classe Mundial: UmaAgenda para Gerenciar os desafios Globais em Be­nefício das Empresas e das Comunidades, Rio deJaneiro, Editora Campus, 1996, p. 32-46

21. Rosabeth Moss Kanter, Classe Mundial, op. cit., p.55-56

22. Peter F. Drucker, Management, Nova York, Har­per & Row, 1974