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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DA NÃO PRESTAÇÃO DE DIREITOS BÁSICOS: A INEFICÁCIA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E FALÊNCIA RESSOCIALIZADORA MELL MOTA CARDOSO ITAJAÍ (SC), NOVEMBRO DE 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DA NÃO PRESTAÇÃO DE DIREITOS BÁSICOS: A

INEFICÁCIA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E FALÊNCIA RESSOCIALIZADORA

MELL MOTA CARDOSO

ITAJAÍ (SC), NOVEMBRO DE 2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DA NÃO PRESTAÇÃO DE DIREITOS BÁSICOS: A

INEFICÁCIA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E FALÊNCIA RESSOCIALIZADORA

MELL MOTA CARDOSO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professora Esp. Débora Cristina Freytag Scheinkmann

ITAJAÍ (SC), NOVEMBRO DE 2009.

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AGRADECIMENTOS

A Odim e as Deusas, seres de luz que me aproximam do Cosmo, agradeço todos os dias

pela graça desta conquista e pelo impulso de prosseguir sempre com Fé nos caminhos da vida,

que estou aprendendo a engatinhar.

A minha “pequena grande família”:minha mãe, Salete, e aos meus irmãos João e Rayza vocês

são a aminha base, a minha estrutura, vocês dão sentido a vida e fazem com que eu veja alegria e

beleza no mundo. A vocês o meu eterno amor.

Ao meu namorado Julyo, que torna minha vida mais bonita com o seu sorriso. Espero que com

muito amor, juntos possamos alcançar e realizar todos os nossos sonhos.

A professora Débora Cristina Freytag Scheinkmann, pela atenciosa orientação na

elaboração deste trabalho. Vejo em você o amor pelo Direito, o entusiasmo e a ética profissional

que sigo como modelo.

Aos Mestres que encontrei neste curso, que para não cometer injustiças não citarei nomes. Foi

através de vocês que descobri o sentido da palavra Acadêmico e como é valiosa a busca pelo

conhecimento. Se hoje sou uma pessoa melhor, agradeço a vocês.

Aos queridos amigos e colegas de trabalho do Presídio Regional de Itajaí, com vocês aprendi o

real sentido da palavra determinação e companheirismo.

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DEDICATÓRIA

A minha Mãe, a quem tudo devo por sua renúncia, sacrifício e amor. Amo-te com toda a

minha intensidade e agradeço todos os dias por ter você na minha vida.

Você é o meu melhor exemplo, sempre me ensinado a ter Fé e acreditar que os nossos sonhos são possíveis.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, novembro de 2009.

Mell Mota Cardoso Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Mell Mota Cardoso, sob o título

Da Violação de Princípios Constitucionais e da não Prestação de direitos Básicos:

a ineficácia da Lei de Execução Penal e a falência ressocializadora foi submetida

em 18 de novembro de 2009 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores:

Itajaí (SC), novembro de 2009.

Prof. Esp. Débora Cristina Freytag Scheinkmann Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Fa biano Oldoni Examinador

Prof. MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo CP Código Penal CPP Código de Processo Penal LEP Lei de Execução Penal RDD Regime Disciplinar Diferenciado

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias1 a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2.

Direitos e Garantias Fundamentais

“[...] os direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional,

enquanto as garantias são os instrumentos através dos quais se assegura o

exercício dos aludidos direitos (preventivamente) ou prontamente os repara

caso violados3.”

Estado

“É a organização da Nação em uma unidade de poder, afim de que a aplicação

das sanções se verifique segundo uma proporção objetiva e transpessoal. Para

tal fim o Estado detém o monopólio da coação no que se refere à

administração da justiça4.”

Execução Penal

“O objetivo da execução penal da pena é realizar o cumprimento do

mandamento contido na sentença. O Estado, ao realizar concretamente o jus

puniendi, diante da violação do direito material, prolata uma sentença e estipula

uma pena, dentro do que process of wal. Ainda visa estabelecer as condições

para a adaptação ‘harmônica’ do condenado (sentenciado) e do internado.

1 “palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia". PASOLD,

Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . 8 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2003. p.229

2 “definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . 8 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2003. p.229

3 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado . 10.ed. ver. Atual e ampl. São Paulo: Método, 2006, p.527

4 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito . 27.ed. ajustada ao novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. p.76.

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Para tanto, conta com regras previstas principalmente na Lei de Execução

Penal (Lei nº 7.210/84), mas também no CPP e no CP5.”

Pena

“Pena é a imposição da perda ou diminuição de um bem jurídico, prevista em

lei e aplicada, pelo órgão judiciário, a quem praticou ilícito penal. Ela tem a

finalidade retributiva e preventiva. Retributiva, pois impõe um mal (privação de

bem jurídico) ao violar da norma penal. E preventivo, porque visa a evitar a

prática de crimes, seja intimando a todos, em geral, com o exemplo de sua

aplicação, seja em especial, privando da liberdade o autor do crime e obstando

que ele volte a delinqüir6”

Princípios Constitucionais

“[...] são o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus

postulados básicos e seus fins. Dito de forma sumária, os princípios

constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte como fundamento ou

qualificação essenciais da ordem jurídica que institui.7”

5 ISHIDA, Válter Kenji. Prática jurídica penal . São Paulo: Atlas, 2007, p.269. 6 DELMANTO, Celso et al. Código penal comentado . 5.ed. atualizada e ampliada. Rio de

Janeiro: Ronovar, 2000, p.64. 7 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição : fundamentos de uma

dogmática constitucional transformadora. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1999.p.147.

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SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................... 11

INTRODUÇÃO .................................................................................. 12

CAPÍTULO 1

BREVE ESTUDO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

1.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS ........................................................................ 14 1.2 BREVE HISTÓRICO DA PENA ...................................................................... 14 1.2.1. Vingança P rivada ............................................ .....................................................15 1.2.3 Vingança Divina ............................. .......................................................................16 1.2.4 Vingança Pública ............................ ......................................................................17 1.2.5 Período Humanitário ......................... ....................................................................18 1.3 CONCEITO ................................................................................................................20 1.4 CARACTERISTICAS DA PENA ....................... ............................................. 21 1.5 CLASSIFICAÇÃO ..................................... ..................................................... 22 1.6 FINALIDADE .................................... .............................................................. 24 1.6.1Teoria Absoluta ou Retributiva da Pena ........................................................ 24 1.6.2 Teoria Relativa ou Preventiva da Pena ......................................................... 25 1.6.3 Teoria Unificadora da Pena (Mista) .......... ............................................................26 1.7 DOS REGIMES PRISIONAIS ....................................................................................27 1.7.1 Regime Fechado .............................. .....................................................................28 1.7.2 Regime Semi-aberto .......................... ...................................................................29 1.7.3Regime Aberto ................................ .......................................................................31 1.7.4 Regime Especial ............................. ......................................................................33 1.7.5 Regime Disciplinar Diferenciado ............. ............................................................35

CAPÍTULO 2

DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E A NÃO PRESTAÇÃO DOS DIREITOS PREVISTOS NA LEI DE

EXECUÇÃO PENAL

2.1 DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS...... ........................... 38 2.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana .... ...................................................39 2.1.2 Princípio da Humanização da Pena ............ .........................................................39 2.1.3 Princípio da Individualização da Pena........ .........................................................41 2.1.4 Princípio da Igualdade ..................... ....................................................................41 2.1.5 Princípio da Legalidade .................... ...................................................................42 2.1.6 Princípio da Proibição de Tortura .......... .............................................................43

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2.2 VIOLAÇÃO DE DIREITOS DOS DETENTOS ............. .................................. 44 2.2.1 Assistência Material ....................... ......................................................................46 2.2.2 Assistência à Saúde ........................ ....................................................................48 2.2.3 Assistência Jurídica ........................ .....................................................................50 2.2.4 Assistência Educacional .................... .................................................................51 2.2.5 Assistência Social ......................... ......................................................................52 2.2.6 Assistência Religiosa ...................... ....................................................................54 2.2.7 Direito ao Trabalho ........................ ......................................................................55

CAPÍTULO 3

DA FALÊNCIA DO SISTEMA PRISIONAL: A DIFICULDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO FRENTE À REALIDADE CARCERÁRIA

3.1 DA FALÊNCIA PRISIONAL ........................ .................................................. 60 3.1.1 Superlotação ................................ .........................................................................61 3.1.2 Precária Infra-estrutura .................... ....................................................................62 3.1.3 falta de Profissionais ...................... ......................................................................64 3.2 DA REINCIDÊNCIA E A ILUSÃO DE RECUPERAR ....... .........................................66 3.2.1 Dificuldade de Inserção Profissional ............................................................. 67 3.2.2 O Retorno a Criminalidade ........................................................................... 68 3.3 DO PRECONCEITO ..................................................................................................70 3.3.1 Da Família e da Sociedade ................... ................................................................70 3.4.2 O DESCASO DO ESTADO ......................... ...........................................................73 3.4.1 Desrespeito a Constituição .................. ................................................................75 3.4.2 Da não Prestação dos Direitos ............... .............................................................76 3.5 INEFICÁCIA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL .......... ...............................................77 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ................................ 81

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..................... ...................... 84

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RESUMO A presente Monografia, tem como objeto de estudo a ineficácia da Lei de Execução Penal, a violação de Princípios Constitucionais, destacando a conseqüência desta ineficácia no processo de ressocialização. A Monografia é composta por três capítulos, sendo abordado no primeiro, a pena de prisão e sua origem, conceitos e classificação, bem como os regimes prisionais. No segundo capítulo são apresentados os princípios Constitucionais e direitos inerentes ao encarcerado. Após embasamento apresentado nos dois primeiros capítulos da Monografia, essenciais à confecção do terceiro capítulo, apresenta-se, a crise do sistema prisional, a inércia do Estado e o preconceito da sociedade frente à não prestação dos direitos do encarcerado, sendo que as conseqüência dificultam a sua possível ressocialização.O tema é relevante por ampliar a área de conhecimento dos leitores em relação a real situação do sistema prisional e suas conseqüências no encarcerado que deverá retornar a sociedade em que vivemos. Palavras-chave: Execução Penal, Estado, Ressocialização.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a ineficácia da

Lei de Execução Penal, a infração de Princípios Constitucionais e a as

conseqüência desta ineficácia n e infração no processo de ressocialização.

O tema é relevante por ampliar a área de conhecimento

dos leitores em relação a real situação do sistema prisional e suas

conseqüências no encarcerado que deverá retornar a sociedade em que

vivemos.

O objetivo institucional é o de produzir a presente

Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade

do Vale do Itajaí.

O objetivo geral é pesquisar com base na legislação,

doutrina e dados coletados o atual sistema prisional, a conseqüência do não

oferecimento dos direitos inerentes ao apenado e suas conseqüências na

falência da ressocialização .

Como objetivos específicos é provocar o debate em

relação ao descaso do Estado e da Sociedade em relação à situação dos

encarcerados, a dificuldade de ressocialização e todos preconceitos a serem

enfrentados.

Para tanto, principia-se, no Capítulo 1, tratando da

historicidade da pena, desde o inicio da civilização até os dias atuais,

observando-se os eu conceito e origem, e por fim apresentando os regimes

prisionais como forma de materialização do cumprimento das penas.

No Capítulo 2, tratar-se-á dos Princípios Constitucionais

relativos à Execução Penal bem como a infração dos mesmos, apresentando

também, os direitos dos encarcerados contidos na LEP, que não são

prestados de forma efetiva.

No Capítulo 3, abordar-se-á de forma crítica a sobre o

descaso do Estado, o preconceito enfrentado em relação a família e a

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Sociedade, o retorno a criminalidade, a infração dos Princípios Constitucionais,

a não prestação dos direitos contidos na LEP e falência do sistema prisional de

forma a dificultar a ressocialização do encarcerado. Desta-se que neste

Capítulo serão apresentados dados relativos a realidade carcerária do Presídio

Regional de Itajaí.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais.

Para a presente Monografia foram levantadas os

seguintes problemas e hipóteses:

Primeiro Problema: A LEP apresenta-se como uma

legislação eficaz que proporciona aos presos todos os preceitos nela contidos:

Hipótese: Com efeito, na prática, é visível a grosseira

antinomia entre o desejo do legislador e a realidade evidenciada.O

encarcerado não possui de forma efetiva a assistência expressa na LEP,

tornando-se a mesma ineficaz.

Segundo Problema: O Estado possui alguma

responsabilidade em prover os direitos inerentes aos presos?

Hipótese: Sendo o Estado o único detentor do poder de

punir, transfere-se a ele a responsabilidade de prover as necessidades básicas

do cidadão encarcerado, sendo que o mesmo tem os seus atos ceceados pelo

Estado que o colocou em cárcere.

Terceiro Problema: O atual sistema prisional proporciona

ao encarcerado a possibilidade de ressocializar-se e estar apto a retornar o

convívio em Sociedade?

Hipótese: Frente o atual sistema e as condições sub-

humanas a que está inserido o preso, impossível é sua ressocialização ,

sendo que o mesmo está posto a margem da Sociedade, de forma a ficar

impossibilitado de retornar ao convívio social.

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Além das palavras, expressões e respectivos conceitos

constantes no Rol de categorias, existem outros conceitos e definições no

decorrer dos Capítulos desta Monografia.

Quanto a Metodologia empregada, registra-se que, na

Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, e na Fase de Tratamento

de Dados o Método utilizado foi o Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados

expressso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categorias, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica e Pesquisa de Campo.

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CAPÍTULO 1

BREVE ESTUDO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

1.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

A Pena como sanção penal, sempre foi assunto de

relevante polêmica no mundo jurídico. Inúmeros são os trabalhos que

discorrem sobre este tema.

Para obter-se um entendimento específico sobre o

assunto, faz-se necessário um estudo mais aprofundado, que transcorre por

cada fase que a compõe.

Desta forma, inicia-se o estudo pelo breve histórico da

pena, o seu conceito, aprofundando-se em suas características, classificação,

e finalidades.

Contemplando o estudo da pena, é pertinente averiguar

os regimes prisionais, sendo eles a materialização do cumprimento da pena.

1.2 BREVE HISTÓRICO DA PENA

A Pena surge com a história do Direito Penal, que por sua

vez, acompanha a história da humanidade. Desde os primórdios, o homem

vivendo em “bando”, sentiu a necessidade de regras que organizassem a vida

de forma comunitária.

Neste sentido, a pena vem a surgir como uma ação de

defesa, um ato de correção ao infrator das normas determinadas para o

convívio no bando.

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TELES8 enfatiza que a pena surge como necessária

reação de defesa dos interesses dos indivíduos, e, mais tarde, também, do

grupo, do clã, da tribo, que precisam ser protegidos de ataques.

No decorrer dos séculos, a pena ganha características

próprias do período histórico em que à humanidade está inserida. Conforme

vão se modificando os conceitos de sociedade, governo, direitos e deveres, as

limitações vão sendo impostas e a pena vai evoluindo de forma gradativa.

1.2.1 Vingança Privada

A Vingança Privada representa a inexistência de um

Estado como detentor do poder de punir. Nesta fase, não existiam regras, tão

pouco normas que determinassem à punição adequada para o crime cometido.

TELES9 preleciona:

As primeiras penas eram manifestações de vinganças individuais, extremamente severas e absolutamente desproporcionais, arbitrárias e excessivas. O próprio ofendido ou alguém por ele, geralmente um seu parente de sangue, exercia o direito de punir, impingindo ao agressor do interesse a pena que bem entendesse, em qualidade e quantidade.

Não havia individualidade da pena, qualquer ente familiar,

ou próximo do suposto agressor, poderia estar sujeito a uma sanção. As

medidas aplicadas eram exageras e cruéis. Qualquer pessoa que se achasse

ofendido, era detentora do direito de “vingar-se”.

FALCONI10 destaca as seguintes características para esta

fase da história da pena.

a) Não havia proporcionalidade entre a conduta criminosa e a retorsão desencadeada. Assim, uma bofetada poderia ter como revide um homicídio, ou a morte de um filho representar a

8TELES. Ney Moura. Direito penal: parte geral, arts. 1º a 120. v.1. 2.ed. São Paulo: Atlas,

2006.p.315 9 TELES. Ney Moura. Direito pena l: parte geral, arts. 1º a 120. p.314. 10 FALCONI, Romeu. Lineamentos de Direito Penal . 3.ed, rev., ampl. e atual. São Paulo:

Ícone, 2002. p. 33-34.

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morte do chefe da família do agressor, que nada teve a ver com a conduta criminosa anterior.

b) A legitimidade se fazia na razão direta da própria reação. Quer dizer, qualquer pessoa que se julgasse ofendia por outrem podia providenciar a “vendetta”, como meio próprio e admissível daquela fase do Direito Penal. Não se conhecia, como já foi dito, a tutela do Estado;o jus puniendi era particular.

c) A ação retorsiva ultrapassava a pessoa do criminoso. Assim, qualquer membro da família do ofendido podia mover a justiça, bem como esta poderia recair sobre qualquer membro da família do criminoso.

Esta fase representa o sentimento humano desprovido do

censo de justiça ou equidade. A humanidade estava afastada de Leis e

princípios que pudessem regular o comportamento em sociedade, o que

transformava, rapidamente, o agressor em vitima.

1.2.3 Vingança Divina

A fase da Vingança Divina é marcada pela crença em

uma santidade, em uma divindade superior que ditava como deveria ser a

conduta de determinados povos.

FARIAS JUNIOR11 enfatiza:

Determinados povos da antiguidade cultivavam a crença de que a violação da boa convivência ofendia a divindade e que sua cólera fazia recair a desgraça sobre todos, todavia, se houvesse uma reação, uma vingança contra o ofensor, equivalente à ofensa, a divindade depunha a sua ira, voltada a ser propícia e a dispensar de novo a sua proteção a todos.

Os sacerdotes possuíam a ligação com o divino, e

estipulavam qual pena deveria ser aplicada, de forma a satisfazer a divindade.

A pena era imposta como uma “penitência”, uma forma de satisfazer as

divindades.

Conforme exposição:

11 FARIAS JUNIOR, João. Manual de Criminologia . Curitiba: Juruá, 1993. p. 23.

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Já existe um poder social capaz de impor aos homens normas de conduta e castigo. O princípio que domina a repressão é a satisfação da divindade, ofendida pelo crime. Pune-se com rigor, antes com notória crueldade, pois o castigo deve estar em relação com a grandeza do deus ofendido.12

Nesta fase, quem violasse as regras determinadas,

estaria colocando em risco a segurança de várias pessoas. Acreditava-se que

se não fossem punidos, com severidade, os que da divindade desrespeita-se,

todos os demais deveriam ser punidos por igual.

Desta forma, a pena era aplicada com crueldade, de

forma a satisfazer a divindade e coibir quem ousasse desrespeitar as suas

regras.

1.2.4 Vingança Pública

Na fase da Vingança Pública, a pena não é mais imposta

como uma forma de agradar os Deuses. Procura-se centralizar o poder no

Estado, na forma de seus representantes, que na época eram os Soberanos e

os Príncipes.

O Estado torna-se o legitimo responsável pelas sanções a

serem aplicadas por quem violasse o direito de outrem. Contudo as penas

continuam cruéis e repressoras.

As penas continuam corporais e severas, utiliza-se a

forca, a fogueira, o esquartejamento como formas de aplicação da pena. Não

existia respeito à integridade do criminoso, o Soberano ditava, a Igreja como

representante da Divindade abençoava e as penas eram aplicadas sem

piedade e contestação.

FALCONI13 ressalta:

Visava essa modalidade de aplicação do Direito Penal antigo, garantir a integridade e autoridade dos príncipes e dos soberanos. Era entendimento da época que, quanto maior e

12 NORONHA, E. Magalhães.Direito Penal, introdução a parte geral . 37.ed. Atualizado

Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva 2003.p.20. 13 FALCONI, Romeu. Lineamentos de Direito Penal. p. 34.

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mais cruel fosse à pena, melhor e mais eficiente seria a emenda do criminoso. Como sanção era sempre a pena capital ou o desterro, chega-se a conclusão de que, na realidade, a pena tinha conotação de prevenção geral.

O Direito e a Religião se afastam, contudo é difícil

provocar uma ruptura, desta forma, o Soberano governa amparado pela graça

e proteção divina. É uma forma de evitar maiores conflitos entre o Estado e a

Religião, que não pretendiam medir poderes.

Nesta época surgem grandes povos, que contribuíram

notoriamente para a construção do Direito Penal. Cita-se como exemplo a

contribuição deixada pelo Direito Romano.

MIRABETE14 explica:

Contribuiu o Direito Romano decisivamente pra a evolução do Direito Penal com a criação de princípios penais sobre o erro, culpa (leve e lata), dolo (bônus e malus), imputabilidade, coação irresistível, agravantes, atenuantes, legítima defesa etc.

Por mais que seja reconhecida uma grande evolução no

Direito penal, nítida é discrepância na aplicação da pena, que continua sendo

aplicada sem nenhuma apuração dos fatos, tão pouco sem um devido

processo.

1.2.5 Período Humanitário

O Período Humanitário inicia-se no final do século XVII,

junto ao período Iluminista, que prega uma nova forma de administrar a justiça,

provocando uma revolução na aplicação das Leis, onde evidencia-se a

impossibilidade da aplicação de forma cruel e desigual.

Junto ao período Iluminista que marca a saída do homem

de uma suposta “treva” ou “escuridão”, propaga-se uma nova visão do homem

como sujeito de deveres, provocando assim uma revolução na sociedade.

BITTENCOURT15 salienta:

14 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal . 23.ed. São Paulo: Atlas, 2006.p.18

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Esse movimento de idéias, definido como Iluminismo, atingiu seu apogeu na Revolução Francesa, com considerável influência e uma série de pessoas com um sentimento comum: a reforma do sistema punitivo. O Iluminismo, aliás, foi uma concepção filosófica que se caracterizou por ampliar o domínio da razão a todas as áreas do conhecimento humano. O Iluminismo representou uma tomada de posição cultural e espiritual de parte significativa da sociedade da época, que tinha como objetivo a difusão do uso da razão na orientação do progresso da vida em todos os seus aspectos.

Junto ao Iluminismo temos o grande marco da Revolução

Francesa, que traz consigo novos ideais como o de igualdade, liberdade e

fraternidade entre os homens, fazendo assim ser impossível à aplicação da

pena através de castigos corporais.

Vários são os autores que desempenham fundamental

papel nesta fase histórica da humanidade, contudo enfatiza-se os

ensinamentos de César Bonesana, Marquês de Beccaria, filósofo que seguia

vários pensamentos deixados por Rousseau e Montesquieu.

BECCARIA16, contrariava todas as idéias e formas de

sanções até então impostas, sendo até hoje invocados os seus ensinamentos

em relação à aplicação da pena.

Veja-se um trecho da obra Dos Delitos e das Penas:

[...] Se as luzes de nosso século já conseguiram alguns resultados, ainda estão muito distantes de ter dissipado todos os preconceitos que alimentavamos. Não houve um que se erguesse, senão francamente, contra a barbárie das penas que estão em uso em nossos tribunais. Não houve quem se ocupasse em reformar a irregularidade dos processos criminais, essa parte da legislação tão importante quanto descurada em toda a Europa. Raramente se procurou desraigar, em seus fundamentos, as séries de erros acumulados desde há séculos; e muito poucas pessoas procuram reprimir, pela força das verdades imutáveis, os abusos de um poder ilimitado, e extirpar os exemplos bem comuns dessa fria atrocidade que os homens poderosos julgam um de seus direitos.

15 BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal : parte geral. 10.ed. São Paulo:

Saraiva. p. 48. 16 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas . Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo:

Martin Claret, 2004.p.16

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Conforme todos os seus pensamentos e ensinamentos,

vislumbra-se em Beccaria um nova fase do Direito Penal, um direito mais

igualitário e contrário a as penas corporais e cruéis, surge então as raízes de

um Direito Penal liberal.

1.3 CONCEITO

A pena sempre apresentou-se como forma eficaz de

punição ao indivíduo que comete um crime em desfavor de outrem, ou contra a

sociedade em que estamos inseridos. DELMANTO17 conceitua pena como a

imposição da perda ou diminuição de um bem jurídico, prevista em lei e

aplicada, pelo órgão judiciário, a quem praticou ilícito penal.

Para evitar que a aplicação da pena seja baseada em

meras hipóteses e senso comum, averigua-se apenas ao Estado, por meio de

seus representantes (Ministério Público e Juízo competente), a capacidade de

apurar e aplicar a sanção específica ao caso concreto.

Segundo JESUS18, a pena é a sanção imposta pelo

Estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração (penal), como

retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e

cujo fim é evitar novos delitos.

A pena deve ser compreendida como um retorno ao fato

praticado, ou seja, um castigo, uma reprimenda pelo ato antijurídico cometido.

O autor deste ato jurídico culpável deve sofrer limitações, deve sentir-se

prejudicando, só assim, compreendera a pena como um retorno da sua

conduta reprovável.

Consoante LEAL19:

17 DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado . 5.ed. Atualizada e ampliada. Rio de

Janeiro: Renovar, 2000.p.64. 18 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal : parte geral. v..1. 28.ed. São Paulo:

Saraiva,2005.p.519. 19 LEAL, João José. Direito Penal Geral . 3.ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2004.p.379.

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Em seu sentido filosófico, a pena tem sido definida como um castigo a ser suportado pelo indivíduo de um mal ao seu próximo ou à sociedade. Do ponto de vista jurídico-penal, a acepção é a mesma: pena é o castigo, é reprimenda ao indivíduo que agiu com culpa, violando uma norma de conduta estabelecida pela Estado, representante dos interesses da coletiva ou de suas classes sociais.

Podemos defini-la como uma medida de caráter repreensivo, consistente na privação de determinado nem jurídico, aplicado pelo Estado ao autor de uma infração.

Em que pese, deve-se compreender a pena, como uma

sanção imposta pelo Estado, como meio repressor da conduta delituosa do

autor. Destaca-se que a pena imposta, deve ser compreendida como um

retorno do mal cometido, descartando assim, o ar de impunidade perante a

ocorrência de um fato antijurídico.

1.4 CARACTERÍSTICAS DA PENA

Para a sua aplicação e individualização, a pena possui

características próprias, que devem ser observadas para que exista uma

aplicação correta e eficaz.

Nos ensinamentos de ROSA20, destaca-se as seguintes

características da pena:

1) A pena deve ser proporcional ao crime: Acabaram-se aquelas crueldades inomináveis e absurdas de condenações a morte por delitos insignificantes; a falta de critérios que existia para estabelecer qualquer tipo ou espécie de castigo, bem como o tempo de duração da pena.

2) Deve ser pessoal: A individualização da pena representou mais importante avanço em sua concepção científica. Ao fixar a pena o juiz deverá examinar as condições pessoais de cada criminoso.

3) Deve ser legal: Só tem valor a pena quando decorrente de uma sentença proferida por juiz competente, através de processo regular,obedecidas as formalidades legais.

20 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Direito Penal. 1 . São Paulo: RT, 1995.p.421-422.

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4) Deve ser igual para todos: [...] os condenados devem receber o mesmo tratamento, sujeitando-se aos mesmos regulamentos a mesma disciplina carcerária [...].

5) Deve ser, o máximo possível, correcional: [...] Cumpre ao Estado exercer todos os esforços para tentar corrigir o criminoso, criando-lhe novos hábitos e vocação para o trabalho.

Porquanto, para que exista a pena como forma de sanção

penal, a mesma deve apresentar: [1] a proporcionalidade, em relação ao crime;

[2] a pessoalidade, deve atingir apenas o infrator da norma; [3] necessita ser

legal, deve ser oriunda de uma sentença que percorreu todos os estágios de

um devido processo; [4] os apenados devem receber igual tratamento, desde

que condizente com o seu regime prisional; [5] deve possuir o papel

ressocializador, como forma de correção a conduta do criminoso.

1.5 CLASSIFICAÇÃO

O Código Penal, em seu Artigo 32, faz referência a 03

espécies de pena, quais sejam: I - privativas de liberdade; II - restritivas de

direitos; III - de multa.

Nas penas Privativas de Liberdade o objetivo é a punição

através da restrição, ou seja, o autor do fato delituoso é isolado do convívio em

sociedade.

LEAL21 destaca que o declínio das penas corporais fez

que se buscasse uma alternativa penal, que foi encontrada na privação da

liberdade física do condenado que fica sujeito ao isolamento do meio social

(encarceramento).

Para a efetivação desta modalidade de pena, existem 03

formas de aplicação, sendo elas: a Reclusão e a Detenção e a Prisão Simples.

A Reclusão e a Detenção possuem previsão legal no

Artigo 33 do CP, conforme a seguinte redação:

21 LEAL, João José. Direito Penal Geral . p.388.

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Art. 33 . A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade da transferência a regime fechado.

Já a prisão simples, possui previsão no 6º da Lei de

Contravenções Penais:

Art. 6º. A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto. § 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena de reclusão ou detenção.

Nas penas Restritivas de Direito podem ser visualizadas

no do Artigo 43 do CP, ou seja:

I- prestação pecuniária

II- perda dos bens ou valores

III- Vetado

IV – prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas

V- interdição temporária de direitos

VI- limitação de fins de semana

As penas restritivas de direito são autônomas e só

substituem as privativas de liberdade quando ocorrer às hipóteses previstas no

Artigo 44 do CP, quais sejam:

I- aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;

II – o réu não for reincidente em crime doloso;

III – a culpabilidade, os antecedentes,a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias incidirem que essa substituição seja suficiente.

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A Pena de Multa possui características diferentes da

Restritivas de Direito e Privativas de Liberdade, nesta modalidade o autor da

infração deve sentir uma coação de ordem pecuniária, ou seja, deve pagar o

valor correspondente em dinheiro.

MIRABETE22 complementa que a pena de multa consiste,

nos termos da lei, no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na

sentença e calculada em dias-multa, sendo, no mínimo, de 10 e, no máximo,

de 360 dias-multa.

O Artigo 49 § 1 do CP dispõe que o valor do dia-multa

será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário

mensal vigente ao tempo do fato,nem superior a cinco vezes esse salário.

Destaca-se que a pena de Multa pode ser aplicada em

conjunto com a pena Restritiva de Direito ou Privativa de Liberdade.

1.6 FINALIDADE DA PENA

Várias são as finalidades direcionadas a pena, contudo, o

seu fim maior é prevenir a prática da conduta delituosa. Doutrinariamente,

empregam-se 05 teorias para a finalidade da pena, o que será apresentado de

forma particular.

1.6.1 Teoria Absoluta ou Retributiva da Pena

A Teoria Retributiva, possui suas raízes na forma mais

primitiva de aplicação da pena, ou seja, a vingança. Nesta modalidade,

pretende-se apenas retribuir o mal cometido, punindo o autor do delito.

Conforme TELES23:

Na verdade, as teorias absolutas, chamadas retribuitivas, traduzem-se na necessidade de retribuir o mal causado (o crime) por outro mal, a pena, e sustentam-se, por isso, no

22 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal . p.289 23 TELES. Ney Moura. Direito pena l: parte geral, arts. 1º a 120.p.287

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velho espírito de vingança, que se situa na origem da pena, o que já não é aceitável nos dias modernos.

Desta forma, a Teoria Retributiva, não possui

fundamentação aceitável nos dias de hoje, visto que a punição aplicada sob o

angulo da vingança não possui resguardo em um Estado Democrático de

Direito, que defende a garantia dos Direitos Humanos.

1.6.2 Teoria Relativa ou Preventiva da Pena

A Teoria Preventiva possui a finalidade de punir o infrator,

objetivando apenas prevenir novas práticas delituosas.

CAPEZ 24preleciona:

A pena tem um fim prático e imediato de prevenção geral ou especial do crime (punitur ne peccetur). A prevenção é especial porque a pena objetiva a readaptação e a segregação social do criminoso como meio de impedi-lo de voltar a delinqüir.

Nesta Teoria evidencia-se a inexistência da preocupação

com a ressocialização do infrator. Acredita-se que apenas o castigo imposto

pela pena é suficiente para prevenir novas condutas delituosas.

Para alguns doutrinadores a Teoria Relativa ou Preventiva

da Pena, divide-se em Teoria da Prevenção Geral e Teoria da Prevenção

Especial.

Na Teoria da Prevenção Geral, a pena vem a ser uma

intimidação para o infrator não voltar a delinqüir.

Para TELES25 :

Essa teoria compreende a pena como instrumento de intimidação geral, dos indivíduos, que, diante da ameaça abstrata e concreta da imposição da pena, ficariam motivados a não transgredir a norma penal.

24 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal : parte geral. 11. ed. ver. E atual. São Paulo:

Saraiva,2007.p.359. 25 TELES. Ney Moura. Direito penal : parte geral, arts. 1º a 120. p.288

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Desta forma, a intimidação gerada com a ameaça da

imposição da pena é o motivo fundamental para não existir novos delitos.

Destarte, na Teoria da Prevenção Especial a pena é o

meio que impedirá o infrator de voltar a delinqüir.

Continuando com os ensinamentos de TELES26:

A teoria da prevenção especial apresentam a pena com a finalidade de evitar quem o homem que delinqüiu volte a delinqüir.[...] demonstra que o agente do crime ficará, para sempre ou por tempo determinado, inofensivo e, experimentando a pena, terá conhecido as conseqüências do crime.

Nesta Teoria, prevalece a interpretação de que a pena é

suficiente para coibir a prática de novos delitos. A experiência proporcionada

com a aplicação da pena gera no infrator o medo de cometer novamente o ato

antijurídico.

1.6.3 Teoria Unificadora da Pena (Teoria Mista)

A Teoria Unificadora da Pena, mais conhecida como a

Teoria Mista, unifica em seu conceito os objetivos de punir, prevenir e

ressocializar.

BITTENCOURT27 discorre sobre o assunto:

A principal finalidade, pois a que deve dirigir-se a pena é a prevenção geral – em seus sentidos intimidatórios e limitadores – sem deixar de lado as necessidades de prevenção especial, no tocante a ressocialização do delinqüente.

Esta foi a Teoria adotada pelo CP, que visualiza na pena,

a punição pela prática do fato antijurídico culpável, objetivando a anulação do

sentimento de impunidade. A prevenção que só será alcançada através da

ressocialização do infrator, busca recuperar esta pessoa para que compreenda

o mal praticado e não queira voltar a delinqüir.

26 TELES. Ney Moura. Direito penal : parte geral, arts. 1º a 120.p.289 27 BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal : parte geral p.140.

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1.7 DOS REGIMES PRISIONAIS

Para que o apenado possa cumprir a sua pena de forma

justa e visando a ressocialição do mesmo, o CP adotou a divisão dos Regimes

Prisionais.

Na determinação do regime inicial para o cumprimento de

pena, será observado se esta sendo aplicado penas Restritivas de Direitos ou

Privativas de Liberdade, bem como, o tempo de pena e exame Criminológico .

O Exame Criminológio vai determinar a classificação do

condenado, observando qual regime compete a sua pena, evidenciando-se

assim o caráter pedagógico.

Conforme MESQUITA JUNIOR28:

O exame criminológico, ou seja, a observação científica do condenado é obrigatório para a classificação do preso e elaboração do programa de tratamento, quando se tratar de condenado a cumprimento de pena privativa de liberdade em regime fechado, sendo facultativo para o cumprimento de pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.

O Artigo 34 caput do CP Brasileiro em seu conteúdo prevê

a necessidade do exame Criminológico, tipificando que o condenado será

submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de

classificação para individualização da execução.

De acordo com o Artigo 8º da Lei 7.210/84 – LEP

demonstra-se o caráter obrigatório para o exame Crimonológico aos apenados

em regime Fechado, contudo evidência-se o caráter facultativo para o regime

Semi-aberto.

Observa-se o conteúdo da norma:

Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a

28 MESQUITA JUNIOR, Sidio Rosa de. Manual de Execução Penal: teoria e pratica, de acordo

com a Lei 9.714/98. São Paulo: Atlas, 1999.p.75-76.

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uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução.

Parágrafo único . Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.

O exame Criminológico vem sendo assunto de grandes

debates entre doutrinadores que, em determinada corrente acreditam que

observando o caráter do exame, tanto os apenados em regime Fechado quanto

os em regime Semi-aberto deveriam ser submetidos ao exame. Todavia, os

defensores da outra corrente, afirmam que a Lei de Execução Penal é clara em

seu Artigo 8º, parágrafo único sobre a faculdade do exame aos apenados em

regime Semi-aberto.

Doravante, conforme previsão legal será abordado os

seguintes regimes prisionais: [1] Regime Fechado, [2] Regime Semi-aberto, [3]

Regime Aberto, [4] Regime Especial, [5] Regime Disciplinar.

1.7.1 Regime Fechado

No regime fechado, em virtude do crime praticado pelo

apenado, o mesmo fica isolado da sociedade, e recluso em estabelecimento

penal competente.

O artigo 33, §1º, alínea “a” do CP prevê:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.

§ 1º - Considera-se:

regime fechado à execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média.

O estabelecimento deve impossibilitar que o apenado

possa cometer fuga, observado que o mesmo não esta apto a viver em

sociedade, a sua liberdade acarretará em riscos a sociedade.

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Conforme o Artigo 87 da Lei 7.210/84 – LEP o

estabelecimento de segurança máxima ou média, recebe o nome de

Penitenciária, destinados aos condenados à pena em regime Fechado.

É pertinente destacar, que o apenado em regime Fechado

poderá vir a progredir de Regime, o que pode acontecer observando os

requisitos de ordem objetiva e subjetiva.

O requisito de ordem objetiva esta relacionado ao

cumprimento da pena, ou seja, 1/6 da pena para crimes comuns, ou 2/5 da

pena, para crimes hediondos ou equiparados. Caso o apenado for reincidente

em crimes hediondos ou equiparados, deverá cumprir 3/5 da pena.

O requisito de ordem subjetiva, esta relacionado ao

mérito, ao bom comportamento do apenado, que cumpre de forma correta a

pena imposta, não cometendo faltas e desabonos.

1.7.2 Regime Semi-aberto

No regime Semi-aberto o apenado não apresenta

necessidade de ficar em estabelecimento de segurança máxima, deve ficar

isolado da sociedade, contudo não apresenta periculosidade igual ao apenado

em regime Fechado.

O Artigo 33, § 1º, alínea b do Código Penal Brasileiro

tipifica:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.

§ 1º - Considera-se:

a) [...]

regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.

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A Lei 7.210/84 – LEP, em seus artigos 91 e 92, prevê de

forma expressa a forma adequada para o local de cumprimento da pena em

regime Semi-aberto:

Art. 91 . A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento da pena em regime semi-aberto.

Art. 92 . O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo, observados os requisitos da letra a, do parágrafo único, do artigo 88, desta Lei.

Parágrafo único . São também requisitos básicos das dependências coletivas:

a) a seleção adequada dos presos;

b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da pena.

Destarte, pode-se observar que o local para o

cumprimento da pena em regime Semi-aberto, possui menor rigor o que condiz

com a pena aplicada.

O apenado que encontra-se no regime Semi-berto possui

a possibilidade de ter concedido o benefício da Saída Temporária, que de

forma gradativa insere o apenado no convívio familiar e contexto social,

possibilitando assim a sua ressocialização.

Da mesma forma que o apenado em regime Fechado é

facultado a possibilidade de progredir de regime, o apenado em regime Semi-

aberto também possui este direito, o que lhe concederá a progressão para o

regime Aberto.

Deverá da mesma forma, atender os requisitos de ordem

objetiva e subjetiva, sendo eles de ordem objetiva, o cumprimento de 1/6 da

pena (crimes comuns), 2/5 da pena (crimes hediondos ou equiparados), ou

3/5 da pena se reincidente em crimes hediondos ou equiparados,

Caso o apenado for condenado diretamente ao regime

Semi-aberto, o cálculo da progressão deverá ser efetuado do total da pena. Se

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o apenado já progrediu do regime Fechado para o Semi-aberto, o cálculo será

efetuado do restante da pena.

1.7.3 Regime Aberto

O regime Aberto é um regime mais brando, sendo o

apenado não é isolado totalmente do convívio social. Existe a possibilidade

deste regime ser aplicado no inicio da pena ou em caráter progressivo.

COSTA JUNIO29 expõe:

O regime aberto poderá ser aplicado tanto no inicio da execução da pena, como em meio a seu decurso. Na primeira hipótese,além das circunstâncias apontadas (primariedade e pena não superior a quatro anos), o legislador, exigiu outros requisitos: demonstrar o condenado que esta trabalhando, ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente; apresentar,pelos seus antecedentes ou pelos resultados dos exames a que foi submetido,fundados indícios de que irá ajustar-se ao regime

O Artigo 33, § 1º, alínea “c” do CP, especifica o local para

o cumprimento da pena em regime Aberto:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.

§ 1º - Considera-se:

a) [...]

b) [...]

c) regime aberto à execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.

A Lei 7.210/84 – LEP , em seu artigo 93, vai ao encontro

do estipulado no Código Penal Brasileiro e determina que a Casa do

Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em

regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.

29 COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Direito penal objetivo: comentários atualizados. 4.ed. Rio

de Janeiro: Forense Universitária, 2006.p. 89

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Sendo o regime Aberto um regime flexível, baseia-se o

mesmo na conduta do apenado, na sua autodisciplina e sendo de

responsabilidade. O apenado necessita modificar seus costumes e praticar

atos que demonstre a sua conduta licita, deve trabalhar, aperfeiçoar-se e

freqüentar cursos.

O Artigo 36, § 1º , do Código Penal Brasileiro prevê:

Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado.

§ 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.

Caso seja estipulado desde inicio que o apenado cumpra

sua pena em regime Aberto, o mesmo deve preencher os requisitos previstos

no Artigo 114 da A Lei 7.210/84 – Lei de Execução Penal, quais sejam

Art. 114 . Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que:

I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;

II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime.

Parágrafo único . Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117 desta Lei.

Destarte, não se exausta no artigo 114 os requisitos

exigidos, no Artigo 115 da Lei 7.210/84 – Lei de Execução Penal, também

estão expressos requisitos fundamentais, sendo eles:

Art. 115 . O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:

I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;

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II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;

III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;

IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.

Destaca-se que o Juiz possui competência para estipular

outros requisitos que entender serem pertinentes para determinados casos,

sendo que o apenado devera cumprir com a mesma obrigatoriedade.

Conforme exposto, o regime Aberto possui local

determinado para o seu cumprimento, contudo existem algumas causas que a

legislação prevê a residência como o local adequado para o cumprimento do

regime.

Nestes casos, aplicar-se-á o exposto no Artigo 117 da Lei

7.210/84 – Lei de Execução Penal, sendo eles:

Art. 117 . Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:

I - condenado maior de 70 (setenta) anos;

II - condenado acometido de doença grave;

III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;

IV - condenada gestante.

É pertinente destacar que estas causas devem ser

comprovadas perante o Juiz, que fundamentará sua decisão, seguindo a norma

penal cabível, aplicando desta forma, a lei mais benéfica ao apenado.

1.7.4 Regime Especial

O regime Especial é destinado à diferenciação dos

estabelecimentos de mulheres e homens. Cabendo a mulher estabelecimento

próprio, separado do estabelecimento que abrigar homens.

O Artigo 37 do CP estipula tal determinação:

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Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Capítulo.

A própria Carta Magna em seu Artigo 5º, inciso XLVII

tipifica a necessidade da diferenciação dos estabelecimentos, observando o

sexo dos apenados. Observa-se:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado.

De acordo com a doutrina predominante faz-se

necessária tal diferenciação para evitar situações de promiscuidade, que

provoquem nos apenados a necessidade (vontade) de manterem entre sí

relações sexuais.

Contudo, destaca-se que a determinação expressa na Lei

de condições distintas para os estabelecimentos de homens e mulheres, vem

somente minimizar uma suposta desigualdade.

COSTA JUNIOR30 esclarece:

As mulheres haverão de cumprir a pena em estabelecimento próprios, vale dizer, em seção adequada ao sexo, em estabelecimento próprio da mulher. Suas condições diversas, de natureza fisiológica ou psicológica, impõe a especialidade do regime. Somente assim poderão ser observados os deveres inerentes à sua condição pessoal, como determina a norma.

30 COSTA JUNIOR, Paulo José da. Direito Penal : curso completo. p.136.

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36

Porquanto, face necessária tal diferenciação para evitar

uma desigualdade “declarada”, e respeitar as condições pessoais de nada

gênero.

1.7.5 Regime Disciplinar Diferenciado

O Regime Disciplinar Diferenciado - RDD não se constitui

como uma modalidade de regime, que deva ser classificado assim como o

regime Fechado, Semi-aberto, Aberto. Pelo contrario, constitui-se tal dispositivo

como uma sanção disciplinar que gera no mundo jurídico relevante

repercussão, devido a sua forma de aplicação.

O artigo 52 da Lei 7.210/84 – LEP relaciona as hipóteses

da ocorrência do fato gerador do regime disciplinar:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características:

I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada;

II - recolhimento em cela individual;

III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas;

IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.

§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.

§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando

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Foi introduzido em nossa legislação, a partir da criação da

Lei10. 792/2003, que alterou o Artigo 53 da Lei 7.210/84 – LEP, inserindo em

seu inciso V o RDD - Regime Disciplinar Diferenciado como sanção disciplinar.

MIRABETE31 preleciona:

O regime disciplinar diferenciado, criado pela Lei nº 10.792/2003, que alterou a Lei de Execução Penal, não é um novo regime de cumprimento de pena, em acréscimo aos regimes fechado, semi-aberto e aberto. Constitui-se em um regime de disciplina carcerária especial, caracterizado por maior grau de isolamento do preso e de restrições ao contato com o mundo exterior, ao qual poderão ser submetidos os condenados ou presos provisórios, por deliberação judicial ´, como sanção disciplinar prazo máximo 360 dias, ou como medida preventiva e acautelatória nas hipóteses de presos sobre os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação em organização criminosa ou que representam alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou para sociedade.

Desta forma, tal dispositivo torna-se como uma sanção,

um castigo ao apenado que cometa alguma falta grave, por outro lado, deve

ser aplicado de forma preventiva ao apenado que represente uma ameaça a

sociedade, ou até mesmo ao próprio estabelecimento penal que estiver

inserido.

O RDD – Regime Disciplinar Diferenciado, deve ser

imposto ao apenado através de despacho fundamentado pelo Juiz, não se

tratando desta forma de decisão expressamente administrativa.

CAPEZ32 discorre sobre o tema:

A autorização para inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra autoridade administrativa, (art. 54, § 1º, de acordo com a redação da Lei 10.792/ 2003). Essa sanção disciplinar somente poderá ser aplicada por prévio e fundamentado despacho do Juiz competente (art.54, caput, com redação determinada pela Lei 10.792/ 2003). Não se trata, portanto, de decisão meramente administrativa. Exige-se, finalmente, que o ato judicial de inclusão nesse regime seja precedido de manifestação do Ministério Público e da defesa,

31 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal . p. 257. 32 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal : parte geral. p.375.

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devendo a decisão ser prolatada no prazo máximo de 15 dias (art. 54, § 2º, de acordo com a Lei 10.792/ 2003).

A aplicação deste procedimento, demonstra o seu caráter

disciplinar e cunho de legalidade, tornando plenamente eficaz a imposição

deste dispositivo, que almeja a proteção da sociedade, bem como a redução da

violência no sistema carcerário.

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CAPÍTULO 2

DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E A NÃO PRESTAÇÃO DOS DIREITOS PREVISTOS NA LEI DE

EXECUÇÃO PENAL 2.1 DA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Ao analisar os Princípios Constitucionais, é pertinente

destacar que em nosso país a legislação suprema é a Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 e toda norma deve sujeitar-se aos

preceitos nela contidos. Desta forma, em relação à execução penal, não

poderia ser diferente.

Enfatiza NEBETI33:

A execução penal deve respeitar os direitos fundamentais que, em decorrência da Constituição Federal, são assegurados aos presos. Nesse rol de direitos, há direitos próprios do preso e direitos comuns dos cidadãos, como os quais também o preso se protege, quer dizer, direitos não próprios do preso, mas que o amparam, em decorrência da enumeração básica do Art. 5º da Constituição Federal.

As determinações contidas na Constituição, estão

expressas em seus artigos, compilando assim inúmeros princípios que

priorizam o respeito e a dignidade do homem, sendo este o direito maior a ser

respeitado.

Contudo, inúmeros são os casos de desrespeito a

Constituição, e centralizando-se no assunto em tela, verifica-se que estas

violações estão presentes no processo de execução penal. Desta forma,

verifica-se como necessário a observância de alguns princípios Constitucionais

empregados na Execução Penal.

33 BENETI, Sidnei Agostinho. Execução penal . São Paulo: Saraiva, 1996.p.59.

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2.1.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

O princípio a ser abordado, apresenta-se como um dos

pilares do direito mundial, configurando-se presente no ordenamento jurídico

pátrio , resguardado em nossa Constituição.

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, conserva

inúmeros direitos que são inerentes a condições mínimas de dignidade ao

homem. O cerceamento da liberdade do cidadão encarcerado, não atinge os

direitos que são inerentes a todos os homens, fazendo assim necessário a

observância dos mesmos.

Na execução penal, de forma específica, pode-se

visualizar o respeito a esse princípio, quando se é proibido que o preso fique

recluso em situações degradantes e humilhantes, que vão interferir em sua

dignidade.

LUISI34 esclarece:

A nossa Constituição Federal de 1988 consagrou em diversos dispositivos o principio da humanidade. No inciso XLIX do art. 5º está disposto que é ‘ assegurado aos presos o respeito, à integridade física e moral’; E no inciso seguinte está previsto que ‘às presidiárias serão asseguradas as condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período da amamentação’.

Verifica-se que a norma está presente, contudo no atual

cenário do sistema prisional, inúmeras são as situações que configuram uma

verdadeira afronta a dignidade humana. É só observar as instalações

prisionais, a superlotação e o acesso limitado à justiça que contemplará a

infração a este princípio.

2.1.2 Princípio da Humanização da Pena

O princípio da Humanização da Pena apresenta-se como

uma forma de evitar o retrocesso na aplicação da pena. Procura-se afastar a

34 LUISI, Luiz. Os Princípios Constitucionais Penais . 2.ed. ver. e aum. Porto Alegre, Pena:

2003. p.47-48.

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forma primitiva de punir, evitando a visão inadequada da pena como forma de

vingança.

A determinação deste princípio encontra-se presente no

Artigo 5º, inciso LVII:

Art. 5º

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

A presença deste princípio na Constituição, afasta

qualquer possibilidade de aplicar a pena em seu caráter perpetuo e

degradante, contemplando assim preceitos mundiais que respeitam a visão

pejorativa da aplicação da pena.

Sobre o Princípio em tela, discorre MESQUITA JUNIOR35:

Pelo principio da humanização da pena, a execução penal deve obedecer aos parâmetros modernos de humanidade, consagrados internacionalmente, mantendo-se a dignidade humana do condenado.

Destarte, procura-se afastar o caráter cruel da pena,

eliminando o castigo corporal e humilhante, contemplando assim os preceitos

do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ora espelhado.

35 MESQUITA JUNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal : teoria e prática; de acordo com alei nº 9.714/98.. p.29

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2.1.3 Princípio da Individualização da Pena

No Art. 5º, inciso XLVI da Constituição, verifica-se a

menção do caráter individual da pena, buscando-se assim, uma maior

igualdade entre os apenados, e a forma de executar a pena.

É preciso manter uma isonomia na forma de tratamento

empregada ao cidadão encarcerado, individualizar sua pena, seria empregar

tão somente ao apenado as sanções impostas pena Lei, e não transmitir aos

outros apenados a sua sanção.

MIRABETE36 compreende que:

Individualizar a pena, na execução, consiste em dar a cada preso as oportunidades e elementos necessários para lograr a sua reinserção social, posto que é pessoa, ser distinto. A individualização, portanto, deve aflorar técnica e cientifica, nunca improvisada, iniciando-se com a indispensável classificação dos condenados a fim de serem destinados aos programas de execução mais adequados, conforme as condições pessoais de cada um.

É pertinente destacar que individualizar a pena,

compreende também, em não transmitir o ônus da sanção para os familiares

do cidadão encarcerado. O que se torna cada vez mais difícil na sociedade

atual, que é repleta de hipocrisias e preconceitos.

2.1.4 Princípio da Igualdade

Na aplicação deste princípio busca-se a equidade de

tratamento entre os cidadãos encarcerados, de forma a aplicar o preceito

contido na Constituição, em seu Artigo 5º, caput, que contempla a afirmação

de que todos são iguais

MESQUITA JUNIOR37 ensina:

36 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal : comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-84. 8. ed.

Revista e atualizada. São Paulo: Atlas, 1997. p.50-51. 37 MESQUITA JUNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal : teoria e prática; de

acordo com alei nº 9.714/98. p.24-25.

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O princípio da igualdade determina a inexistência de discriminação dos condenados por causa de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas, pois todos gozam dos mesmos direitos.

É certo que todos devem receber o mesmo tratamento,

todavia respeitando as peculiaridades de cada gênero. O homem e a mulher se

diferem em inúmeras características, existindo assim, necessidades distintas

entre ambos.

O princípio objetiva a igualdade de tratamento na

aplicação da Lei, impossibilitando o magistrado de efetuar qualquer distinção

entre os apenados. Enfatiza-se apenas, que deve existir um bom senso na

execução da pena, o que difere o tratamento apenas para dirimir as

desigualdades.

Tal igualdade é apenas ilusão, pois no cenário atual de

precária estrutura prisional, as peculiaridades que deveriam ser respeitadas em

cada gênero, tornam-se impossíveis e inaplicáveis, gerando assim a

descriminação de tratamento.

2.1.5 Princípio da Legalidade

O princípio da Legalidade norteia qualquer procedimento,

seja ele administrativo, seja ele processual. A sua finalidade é única, procura

evitar qualquer abuso e ilegalidade, de forma a determinar que só seja exigido

o que está na Lei, conforme estipula o Art. 5º, inciso II da Constituição.

No âmbito da execução penal, este princípio vem a evitar

qualquer excesso na execução propriamente dita da sanção imposta ao

apenado, limitando assim a interferência do Estado.

Conforme TOLEDO38:

O princípio da legalidade, segundo o qual nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada, sem que antes desse momento fato tenham sido instituído por lei o tipo delitivo e a pena respectiva, constitui

38 TOLEDO, Francsico de Assis. Princípios de direito penal : de acordo com a Lei 7.209, de 11-7-1984 e com a Constituição Federal de 1988. 5.ed. São paulo: Saraiva, 1994. p. 21.

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uma real limitação ao poder estatal de interferir na esfera das liberdades individuais. Daí sua inclusão na Constituição, entre os direitos e garantias fundamentais, no art. 5º, inciso XXXIX e XL.

A legalidade deve estar presente em todos os momentos

da execução penal, estendendo a todos os que deste processo participarem as

suas possíveis sanções, caso seja constatado a infração ao que se esta

estipulado por esse principio.

MESQUITA JUNIOR39 conclui:

Busca-se a aplicação de medidas não-privativas de liberdade, as quais, também, deverão ser formuladas dentro dos limites da legalidade. Ante o exposto, o princípio da legalidade norteia a execução penal em todos o seus momentos, dirigindo-se a todas autoridades que participam da mesma, seja ela administrativa ou judicial.

É certo que no âmbito da execução penal, inúmeras são

as vezes que o princípio da Legalidade é infringido, tornando inacessível o

disposto na Constituição. Destaca-se que a Legalidade também está envolvida

a procedimentos, e de acordo com a falência prisional, vários são os

procedimentos, salienta-se que desde a abordagem ao apenado, estão

indevidos, tornando imensa a discrepância da realidade e a Norma.

2.1.6 Princípio da Proibição da Tortura

Em nossa Constituição, a previsão para a Proibição da

Tortura, está expressa no Art. 5º, inciso III, descrevendo que ninguém será

submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Desta forma,

se faz impossível a aplicação da sanção penal de forma tortuosa.

A Lei 9.455/97 contempla o princípio em tela, e de forma

específica trata da matéria e proíbe a prática da tortura em todas as suas

formas. Assim, veja-se o Art. 1º, inciso I, alíneas a, b e c e inciso II da referida

Lei.

39 MESQUITA JUNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal : teoria e prática; de

acordo com alei nº 9.714/98. p.24.

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Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Apresentando-se a tortura de várias maneiras, identifica-

se que várias são as práticas tortuosas que levam a infração deste princípio

Constitucional. Compreende-se que na execução penal, a tortura esta presente

na forma de tratamento, na aplicação da agressão física e na falta de direitos

básicos que deveriam ser garantidos aos apenados.

2.2 VIOLAÇÃO DE DIREITOS DOS DETENTOS

Ao descortinar o tema, de forma sucinta, apresentar-se-á

alguns dos principais direitos do apenado, e apresentando-os ficará evidente

que inúmeras vezes os mesmos não são proporcionados de forma efetiva aos

apenados.

Em tempos não muito distantes, a condenação trazia ao

apenado a perda de todos os seus direitos, bem como o seu afastamento do

âmbito familiar. Hoje, teoricamente, impossível se dá esta sanção, averiguando

que o apenado é igual a qualquer pessoa.

Sobre o tema, discorre ROSA40 :

Em outros tempos a mera condição de preso importava na perda de todos os direitos. O preso perdia todos os seus bens, sua família, toda e qualquer proteção da lei, e, como condenado, passava a não ter direito algum. Hoje o preso

40 ROSA, Antonio José Miguel Feu. Execução Penal . p.83.

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deixou de ser objeto do Direito Penal para ser pessoa do Direito, num sentido amplo.

O condenado continua a ter os mesmos direitos e deveres frente às pessoas privadas, e passa a ter direitos e deveres frente ao Estado. Daí o preceito taxativo do Código Pena: O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral (art. 38)

Sabe-se que a assistência ao apenado é obrigação do

Estado que, por meio de seu poder de sanção limita e por vezes cerceia o

direito de liberdade do apenado. Desta forma, estando o mesmo impossibilitado

de sanar suas necessidades básicas, torna-se obrigação do Estado provê-las.

A obrigação do Estado de prover os recursos necessários

ao apenado, está contida no Art. 10 da LEP,.estipulando que assistência ao

preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar

o retorno à convivência em sociedade.

Neste diasapão ROSA41 afirma:

O Estado, que se arroga no direito de impor a pena ao condenado, investe-se, por outro lado, no dever de fazer com que no cumprimento dessa pena sejam respeitados direitos humanos e a dignidade pessoal do condenado.

Sabendo-se que é o Estado o responsável em prover as

necessidades do apenado, respeitando desta forma a sua integridade física e

moral, apresenta-se no Artigo 11 da LEP a assistência devida:

Art. 11 . A assistência será:

I - material;

II - à saúde;

III -jurídica;

IV - educacional;

V - social;

41 ROSA, Antonio José Miguel Feu. Execução Penal . p.89.

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VI - religiosa.

A assistência deve ser oferecida de forma conjunta, sendo

impossível a sua divisão, tão pouco sua inobservância, sendo reprovável o seu

não fornecimento. Contudo diante da realidade do sistema prisional, verifica-se

que de forma falha é o oferecimento de tais direitos, sendo que por vezes

inexistente o seu oferecimento.

2.2.1 Assistência Material

Em observância a prestação dos direitos ao apenado, a

LEP contempla inúmeras garantias que devem ser prestadas. Desta forma,

mister se faz a verificação de quais direitos são apontados pela Lei como

integrantes da Assistência Material

Conforme o exposto no Artigo 12 da LEP, constituirá

Assistência material ao preso e ao internado o fornecimento de alimentação,

vestuário e instalações higiênicas. Tal previsão contempla o rol dos direitos

previstos em nossa Constituição como garantias fundamentais.

Como salienta MiIRANETE42:

A assistência material, segundo a lei, consiste no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas aos presos e internados. Um dos direitos do preso, aliás, é a alimentação suficiente e vestuário, que corre a cargo do Estado (art. 41, I, da LEP), ainda que se permita às vezes, o envio de pacotes de comida do exterior, principalmente em ocasiões especiais ou nos dias reservados às visitas.

De acordo com os horários usuais, deverá ser fornecido

ao apenado alimentação adequada e de acordo com as necessidades básicas

humanas. Salienta-se que o apenado não possui a capacidade de prover a sua

própria alimentação, observado o estado de cárcere, desta forma, nada mais

correto que o Estado que é responsável pelo apenado , se encarregue de

prover a sua alimentação.

MATTOS43 ressalta:

42 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal : comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-84.. p. 68.

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Todo preso deverá receber da Administração, nas horas usuais, uma alimentação de boa qualidade, bem preparada e servida, cujo valor seja suficiente para a manutenção de sua saúde e de suas forças. O tema de alimentação nas prisões é de grande importância, não só porque o interno tem direito a uma alimentação sã e suficiente para sua subsistência normal, podendo ressentir-se sua saúde de sua insuficiência ou baixa qualidade, mas porque é esse um poderoso fator que pode incidir positiva ou negativamente, no regime disciplinar do estabelecimento.

Doravante, em observância recíproca a alimentação, deve

ser verificado a prestação de vestuário adequado, inclusive, de acordo com as

estações do ano.

Fator natural é a existência de períodos de calor e

períodos de frio, não podendo assim o apenado estar sujeito a ter sua saúde

prejudicada em relação à falta de vestuário pertinente a temperatura em que se

encontra o período do ano.

Para provocar um estado de equidade, certo se faz, a

utilização de uniformes que padronizam o vestuário e evitam a discriminação

entre os apenados, que por vezes não possuem condições de prover o

vestuário adequado.

A boa alimentação e o adequado vestuário, devem ser

prestados em conjunto com condições de higiene nas celas dos apenados.

Para um ambiente ser sadio é necessário que o mesmo esteja limpo,

apresentando as condições básicas de permanência.

MESQUITA JUNIOR44 preleciona:

A higiene da cela ou alojamento, por sua vez, é dever do condenado, o qual deverá, também, conservar os objetos de uso pessoal. No entanto, o Estado deve fornecer os meios adequado para sua higiene pessoal e de local em que estiver recolhido

43 MATTOS, Renata Soares Bonavides. Direitos dos presidiários e suas violações . São

Paulo: Método, 2001.p.54. 44 MESQUITA JUNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal : teoria e prática; de acordo

com alei nº 9.714/98. p.79.

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Contudo é visível a falência do sistema prisional, sendo

constatada a inexistência do fornecimento de alimentação adequada, estando

sujeito o apenado a alimentar-se com mantimentos insuficientes e mal

manipulados.

Tão pouco é a capacidade do fornecimento de vestuário,

sendo o mesmo insuficiente ou inexistente, estando o apenado sujeito a prover

pelos seus próprios meios as roupas que deve vestir. Como forma de solução

os apenados utilizam em conjunto as mesmas roupas, que não condizem

com o ambiente que estão vivendo.

A higiene que deveria permear o ambiente prisional é

quase que nula, sendo precária a situação das celas, tornando-se um castigo

aos apenados conviver em um ambiente mal cheiroso, sujo, e por que não

dizer insalubre.

2.2.2 Assistência à Saúde

A saúde é direito e garantia Constitucional, assegurado

para todas as pessoas, e ao apenado também deve ser aplicado tal previsão.

Conforme o Artigo 14 da LEP é assegurado ao preso o atendimento medico,

farmacêutico e odontológico.

Estando cumprindo uma sanção, e tendo o seu direito de

ir e vir cerceado, ao preso deve ser preservado os direitos mínimos que

embasam a dignidade humana. Desta forma, o acesso à saúde constituem

uma obrigação e não faculdade do Estado.

Para que a manutenção da saúde e atendimentos

emergenciais sejam prestados, é necessário que o estabelecimento penal

esteja equipado com os instrumentos devidos, bem como a medicação

necessária.

Como bem diz MIRABETE45:

45 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal : comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-84.p. 72.

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50

Para a prestação da assistência à saúde é evidentemente indispensável que os estabelecimentos penitenciários estejam providos de convenientes instalações médico-sanitárias a fim de que os médicos e demais profissionais executem os seus serviços preventivos e curativos, vigiando o cumprimento das normas sanitárias e de higiene nas prisões, bem como mantenham um corpo de pessoal adequado para o desenvolvimento desses serviços.

Enfatiza-se a questão da necessidade do atendimento

especializado, sendo que por vezes o apenado precisa de um cardiologista ou

a apenada de um ginecologista, tornando a assistência oferecida por um clinico

insuficiente.

Por sua vez, ROSA46 esclarece:

O serviço médico também não pode compreender apenas clínicos gerais, mas deve contar também com especialistas – psiquiatras, oftalmologista, cardiologista, otorrinolaringologista, dentista. São previstos, aliás, exames específicos a doenças pulmonares, cardíacas e venéreas ( AIDS, em especial). Os condenados podem ser submetidos a tratamento de desintoxicação alcoólica.

A questão do oferecimento da saúde, que por vezes é

necessária de forma especializada, não deve ser vislumbrada como um

privilégio, mas como direito básico inerente a todas as pessoas, sendo que

neste caso é uma pessoa reclusa que esta cumprindo a sua sanção imposta

pelo Estado.

Entretanto, a carência do sistema de saúde vai muito

além dos hospitais e postos de atendimento, estende-se aos estabelecimentos

penais, sendo raros os ambulatórios que estão devidamente equipados e

seguindo os preceitos mínimos de higiene.

Inexistem recursos como aparelhos e medicamentos, tão

pouco é a existência suficiente de profissionais, sendo que o apenado esta

sujeito a qualquer medida que coloque fim a sua dor.

46 ROSA, Antonio José Miguel Feu. Execução Penal .. p.93-94.

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Inúmeros são os casos de apenados que merecem

tratamento especifico e isolado, com por exemplo os tuberculosos, que por

característica contagiosa da doença merecem atenção no decorrer de seu

tratamento.

Como exposto, observa-se que a saúde também é um

problema nos estabelecimentos penais, a única diferença é que as pessoas

que não estão enclausuradas possuem outras alternativas na busca de um

tratamento, sendo que o apenado esta sujeito as existentes no estabelecimento

em que esta recolhido.

2.2.3 Assistência Jurídica

Caracteriza-se como direito fundamental no acesso a

Justiça, sendo a Assistência Jurídica uma forma de atendimento primordial

para os presos que estão aguardado ansiosos o seu retorno a sociedade.

ROSA47 nos ensina:

O acusado terá, obrigatoriamente, por injunção constitucional, de possuir um defensor – indicado por ele, ou nomeado pelo Juiz – em todas as fases do processo, e em todas as instâncias e graus de jurisdição. Só se exclui esse direito inviolável de defesa na fase policial. Durante o inquérito, na Polícia Judiciária, não há obrigatoriedade da presença do defensor, porque ali ainda não se estabeleceu o contraditório. O inquérito policial é um processo unilateral.

Sendo um dos pilares da execução penal a Assistência

Jurídica esta prevista conforme os preceitos contidos no Artigo 15 da LEP,

enfatizando que a mesma é destinada aos presos e aos internados sem

recursos financeiros para constituir advogado.

Constitui na materialização do direito que o apenado

possui de cumprir a sua pena de forma progressiva, usufruindo dos benefícios

contidos em cada regime prisional.

47 ROSA, Antonio José Miguel Feu. Execução Penal . p.97.

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Doravante, falida é a Assistência Jurídica em nosso país,

sendo que o embasamento desta afirmação pode ser comprovado na

vislumbração da superlotação dos estabelecimentos penais, com presos que

poderiam estar em gozo da liberdade.

Constata-se a quase inexistência de profissionais

qualificados que atuem no setor jurídico dos estabelecimentos penais, sendo

que é garantido ao preso inúmeros recursos como o Livramento Condicional, a

própria progressão de regime, saída temporária, entre outros direitos que

estariam atendendo o seu reingresso a sociedade.

Esta inércia na Assistência Jurídica gera entre os

encarcerados o sentimento de injustiça e esquecimento, o que afeta no

comportamento do preso e provoca o atraso na sua ressocialização.

2.2.4 Assistência Educacional

Muitos dos presos que comentem um ilícito penal,

justificam que este desvio de conduta foi impulsionado pela falta de

oportunidades de emprego e grau de instrução. Desta forma a LEP em seu

Artigo 17, tipifica que a assistência educacional compreenderá a instrução

escolar e a formação profissional do preso e do internado.

Sabe-se que a educação é um dos únicos meios eficazes

de proporcionar a evolução de uma pessoa, bem como impulsionar o

desenvolvimento da própria sociedade.

A maioria dos apenados não possui a conclusão do

Ensino Fundamental, muitos inclusive são os chamados Analfabetos

Funcionais. Esta observação impulsionou os legisladores a contemplar no

Artigo 18 da LEP o caráter obrigatório da conclusão do ensino fundamental.

Neste diasapão, MESQUITA JUNIOR48 afirma que a

expressão assistência educativa, inserta na LEP, deve ser interpretada em seu sentido

48 MESQUITA JUNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal : teoria e prática; de acordo com alei nº 9.714/98. p.87.

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lato, compreendendo o caráter acadêmico e profissional, os aspectos social, ético e

artístico, o que certamente refletirá no comportamento do apenado.

Consoante ALBEGARIA49:

A educação do preso deverá constituir no pleno desenvolvimento da personalidade e formação do cidadão, para sua convivência solidária numa sociedade livre. O objetivo da reeducação é desenvolver a pessoa do recluso, segundo sua vocação de crescer, para sua reinserção na comunidade humana e contribuição na promoção do bem comum.

Outra vez, o que se é vislumbrado na realidade do

sistema prisional é a omissão das autoridades frente à inexistência da

Assistência Educacional ao preso, que sem formas de aprendizagem fica a

margem da ociosidade e possibilidade de evoluir educacionalmente.

Destarte, essa é apenas a verificação do descaso do

Estado, observando que a educação em nosso país, possui políticas falhas que

tornan-se cada vez mais ineficazes, não proporcionando a criança e ao

adolescente a possibilidade de ter uma educação de qualidade e tão pouco ao

apenado que é a cada vez mais a parte da população excluída pela sociedade.

2.2.5 Assistência Social

A Assistência Social possui relevante valor na execução

penal, materializando-se como uma forma de “ponte” entre o apenado e a

sociedade. Deve inclusive, orientar a família para o retorno e convívio com o

apenado.

A previsão da Assistência Social esta disciplinada na LEP

que dispõe:

Art. 22 . A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade.

Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames

49 ALBEGARIA, Jason. Comentários à lei de execução penal. Rio de janeiro: AIDE, 1987.p.44

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II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas temporárias;

IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;

VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.

O Serviço Social torna-se indispensável para o

acompanhamento do apenado, que deve ter a assistência de profissionais

qualificados que estão aptos a demonstrar a realidade dos fatos , destorcendo

conceitos que até então eram empregados como certos .

MIRABETE50 ensina:

O Serviço Social, como arte, consiste na aplicação dos conhecimentos, teorias e doutrinas que, subordinados a princípios, constituem a Ciência do Serviço Social, para alcançar, como resultado, a solução dos problemas humanos que acarretam infelicidade e, assim, obter bem-estar. Esse serviço não é, apesar da denominação, mera assistência, que consiste em diminuir ou, quando muito, eliminar os efeitos dos problemas ou das situações do assistido, mas constitui-se de tarefas e atribuições que convergem para ajudar aquele que está em dificuldades a fim de que as resolvam, proporcionando-lhes meios para a eliminação das causas desse desajuste.

Mas assim como os demais direitos do apenado que não

são proporcionados, a Assistência Social está longe de ser empregada no

sistema prisional. Não existem profissionais aptos a desempenhar este trabalho

e o apenado fica sem a assistência necessária para a compreensão da

realidade e auxilio na sua reinserção a sociedade. 50 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal : comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-84. p. 80.

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Sem o acompanhamento devido, fica difícil para o

apenado compreender a realidade que nos cerca, e quais são os padrões que

devemos seguir para viver em sociedade.

O auxilio do Assistente social é indispensável para o

apenado lidar com as questões relativas à rejeição social, e com a própria

família que assim como o apenado deverá passar por um novo processo de

reestrutura.

2.2.6 Assistência Religiosa

A Assistência Religiosa está relacionada à condição do

apenado ter o direito de exercer a livre manifestação de seus cultos religiosos.

Acredita-se que o respeito ao exercício da religião traz forte influência para a

ressocialização do apenado.

A possibilidade de o apenado ter o acompanhamento

religioso está expresso na LEP, conforme dispões o Artigo a seguir:

Art. 24 . A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.

§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.

§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa.

Importante destacar que a livre escolha religiosa possui

embasamento em nossa Constituição, sendo assim direito adquirido e

resguardado. Contudo deve-se observar que é facultado ao apenado participar

das manifestações religiosas oferecidas pelas entidades cadastradas aos

estabelecimentos a penais.

ROSA51 esclarece:

51 ROSA, Antonio José Miguel Feu. Execução Penal . p.116.

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No nosso país, por garantia constitucional, é livre o exercício e a manifestação de cultos religiosos. A Divisão Assistencial aprecia os pedidos formulados para os cultos a serem ministrados.O regulamento das prisões exige apenas que o calendário religioso seja submetido previamente à Divisão assistencial, a fim de ser providenciada sua compatibilização com outras datas.

Não existe, aqui, religião obrigatória. Prevalece o principio da liberdade de religião e culto, bem como é conferido ao recluso o direito de não se filiar a nenhuma religião, nem freqüentar nenhum culto.

Ter em algo superior a acreditar e perceber que a

inexistência de explicações lógicas também fazem parte do contexto da Fé,

possibilitam o apenado a acreditar em sua reinserção social e familiar.

Como bem salienta NOGUEIRA52:

Todos os autores são unânimes em afirmar que a religião é necessária e imprescindível no tratamento reeducativo do condenado e do internado, pois é o melhor instrumento da moral, e sem ela não é possível a reforma interior do condenado. A assistência religiosa, além de ser um dos direitos fundamentais do homem, é também um dos fatores mais decisivos na ressocialização do condenado.

Porém, no atual cenário prisional evidenciam-se a

inexistência de espaço bem como organização dos estabelecimentos penais de

proporcionar esta manifestação por parte dos apenados. Constata-se também,

o preconceito das instituições religiosas de procurar os apenados e ajudá-los a

vislumbrar algo em que acreditar e descobrir uma nova forma de acreditar que

a melhora do homem é gradativa e possível ser conquistada por todos.

2.2.7 Direito ao Trabalho

A prática de atividades laborais sempre ganhou amparo

em nosso ordenamento jurídico, possuindo previsão em nossa Constituição,

bem como no Código Penal, sendo que em todos estes diplomas legais o

trabalho recebeu o caráter de um direito social também condicionado ao

apenado.

52 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Comentários à Lei de Execução Penal . 3. ed. São Paulo:

Saraiva, 1996.p. 32.

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Sendo a LEP a Lei específica que disciplina a Execução

Penal, traz à mesma no bojo de seus Artigos a previsão para o trabalho, o que

podemos vislumbrar no Artigo 28, que dispõe o trabalho do condenado, como

dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e

produtiva.

Conforme a Norma, o trabalho para o preso possui os

mesmos aspectos dignificantes de qualquer atividade laboral, sendo uma forma

de estar se disciplinando em bons hábitos, e gerando a sanção de

produtividade e utilidade.

Nos ensinamentos de MIRABETE53:

O trabalho tem seu sentido ético, como condição da dignidade humana, e assim assume um caráter educativo. Se o condenado já tinha o hábito do trabalho, depois de recolhido ao estabelecimento penal o seu labor irá manter aquele hábito, impedindo que degenere; se não o tinha, o exercício regular do trabalho contribuirá para ir gradativamente disciplinando-lhe a conduta, instalando-se na sua personalidade o hábito de atividade disciplinadora. Para a consecução dessa finalidade educativa, porém, o trabalho prisional deve ser organizado de forma tão aproximadamente quanto possível ao trabalho em sociedade.

O trabalho possui várias funções dentro de um

estabelecimento penal, combate o ócio, proporciona meios de qualificação

profissional, prepara o apenado para retornar ao mercado de trabalho e exalta

o preso no que tange a sua dignidade.

Para ROSA54:

Não resta dúvida de que o trabalho, um trabalho útil e tanto quanto possível produtivo, é absolutamente necessário para os reclusos, qualquer que seja o regime penitenciário a que hajam sido submetidos. Cada região examinará, segundo suas circunstâncias especiais, de que modo poderá o trabalho ser praticamente fornecido e dirigido, de maneira a corresponder às regras e necessidades diversas da instituição penitenciária, e isto quer pelo sistema da administração, quer pelo sistema empreitada.

53 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal : comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-84. p. 93. 54 ROSA, Antonio José Miguel Feu. Execução Penal . p.129.

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Existem duas possibilidades do apenado desempenhar

atividades laborais enquanto recluso , sendo ela dividida em Trabalho Interno e

Trabalho Externo. Verifica-se que a primeira possibilidade esta sujeita às

regras do estabelecimento penal em que o apenado esta enclausurado, e

sendo a segunda determinada pelo Juízo da Comarca (em especifico da Vara

de Execução Penal), e empresa cadastrada, que admita o apenado como

funcionário.

A previsão expressa para o Trabalho Interno, está contida

no teor do Artigo 31 da LEP, o qual vejamos:

Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade.

Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no interior do estabelecimento.

Evidencia-se que o trabalho do apenado vai muito além

de um benefício, mas sim, torna-se uma obrigação para os presos que

cumprem pena em regime Fechado ou Semi-aberto. Destaca-se que para os

presos em regime Provisório, o trabalho não possui caráter obrigatório e só

pode ser concedido de forma interna.

Para que o preso desempenhe atividades laborais

internas, basta bom comportamento, oferecimento de atividades pelo

estabelecimento penal e o mais importante, determinação e vontade do próprio

preso.

Entretanto, para que o apenado possa praticar atividades

externas, é necessário o cumprimento de requisitos obrigatórios , que estão

vinculados ao próprio comportamento do apenado, no que tange a disciplina,

requisitos vinculados ao cumprimento de pena, autorização da direção do

estabelecimento e Judicial.

Verificam-se as determinações contidas no Artigo 37 da

LEP, que seguem:

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Art. 37 . A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.

Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo.

É pertinente destacar que o Artigo 35, § 2º do CP,

vislumbra o possibilidade do Trabalho Externo também ser facultado ao

apenado que esteja cumprindo a sua pena em regime Fechado, desde que

atendidos os requisitos exigidos pela Lei.

Como bem salienta MESQUITA JUNIOR55:

A LEP preceitua que o trabalho externo é admissível para o condenado que se encontra no regime fechado, enquanto o CP estabelece que o trabalho externo é admissível aos condenados que se encontrarem nos regimes fechado e semi-aberto. A noção de trabalho externo, ou atividade externa, não importa unicamente no trabalho no meio social em obras privadas, mas apenas a atividade laboral extramuros, ou seja, a mesma poderá ocorrer em estabelecimentos públicos.

Prevê, ainda, a LEP, no que se refere às atividades

laborais, a possibilidade do apenado diminuir a sua pena através da Remição.

Tal previsão esta contida no Artigo 126 da legislação referida.

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.

§ 1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho.

§ 2º O preso impossibilitado de prosseguir no trabalho, por acidente, continuará a beneficiar-se com a remição.

§ 3º A remição será declarada pelo Juiz da execução, ouvido o Ministério Público.

55 MESQUITA JUNIOR, Sidio Rosa de. Manual de execução penal : teoria e prática; de

acordo com alei nº 9.714/98. p.101.

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A remição deve estar sempre monitora pelo

estabelecimento penal ou pela empresa em que o apenado estiver trabalhando,

de forma a evitar qualquer tipo de infração da Lei e a manipulação de dados.

Cabe ao Juízo da Execução a função de verificar o bom andamento das

atividades desempenhadas pelo preso.

Desta forma, a remição apresenta-se como uma forma de

incentivo e apreciação do trabalho do preso, que combatendo o ócio,

possibilita a diminuição da sua pena, e apresenta-se como mais uma forma

gradativa de estar se preparando para o retorno a sociedade.

Verifica-se também, que o trabalho do preso deve ser

remunerado e garantido os direitos da Previdência Social, seguindo assim os

parâmetros contidos no CP, bem como da LEP.

Destarte, apesar do trabalho do preso trazer inúmeras

vantagens tanto para o apenado, quanto para a sociedade, verifica-se que

poucos são os estabelecimentos penais que proporcionam este benefício e

como prevê a Lei, obrigação do apenado.

Ademais, os próprios estabelecimentos não possuem a

infra-estrutura necessária para desempenhar atividades laborais, profissionais

que possam estar qualificando os presos e variedade nas atividades a serem

oferecidas. Outro requisito a ser lembrando, é o próprio preconceito da

sociedade, que não aceita dar a oportunidade de trabalho para um preso.

Consoante aos fatos, por mais uma vez observa-se que o

apenado tem seus direitos infringidos, oportunidades negadas, e é lançado

para a parcela excluída da sociedade.

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CAPÍTULO 3

DA FALÊNCIA DO SISTEMA PRISIONAL: A DIFICULDADE DA RESSOCIALIZAÇÃO FRENTE À REALIDADE CARCERÁRIA

3.1 DA FALÊNCIA PRISIONAL

Inúmeras são as causas que embasam as afirmações de

que o atual Sistema Prisional está falido. Verifica-se a constatação da infração

dos direitos do apenado, o descaso do Estado e da sociedade, bem como a

inaplicabilidade da LEP.

Pode-se verificar, em uma realidade não muito distante,

que a falência prisional começa pelos próprios estabelecimentos, observando a

existência de presos que estão cumprindo as suas penas em locais

inadequados, que deveriam comportar apenas presos Provisórios.

Em relação ao assunto em tela RIBEIRO DE SÁ56

acrescenta:

A cadeia pública, conforme a LEP, destina-se ao recolhimento de presos provisórios e não sentenciados, condenados ou internados. Porém, pelas razões já mencionadas, no que diz respeito à ação do Estado, a cadeia pública guarda maior número de detentos do que os estabelecimentos a esta fim destinados.

Evidenciando-se a questão da superlotação, torna-se

obrigatório a permanência dos apenados em Cadeias Públicas, ou como são

popularmente chamados, os Presídios. Não havendo então, os benefícios

oriundos do sistema progressivo, sendo que os regimes Semi-aberto e Aberto

possuem características específicas de cada regime.

Consoante ao assunto discorre OLIVEIRA57:

56 SÁ, Geraldo Ribeiro de. A Prisão dos Excluídos : origens e reflexões sobre a pena privativa

de liberdade.Rio de Janeiro: Diadorim, 1996.p.119. 57 OLIVEIRA, João Bosco. A execução penal : uma realidade jurídica social e humana. São

Paulo: Atlas, 1990.p.30.

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Em primeiro lugar, é mínimo o número de estabelecimentos penais, tanto penitenciárias ou colônias e similares, para abrigar os condenados, de acordo com sua destinação. Os estabelecimentos estão superlotados, com os presos em condições, muitas vezes, sub-humanas. Poucas são as colônias ou similares na fase do regime semi-aberto, para devida progressão do cumprimento da pena. As casas de albergados existem em poucas comarcas, ainda com problemas graves, com raras exceções, não se podendo, assim, cumprir a fase do regime aberto ou da pena de limitação de fim de semana.

Procurando-se demonstrar a realidade do sistema

penitenciário, buscou-se dados relativos ao Presídio Regional de Itajaí, que

encontra-se em situação emergencial, pois está com sua infra-estrutura

complemente prejudicada, convive com a superlotação, falta de profissionais e

não bastante, mantém presos Provisórios e de regime Fechado, Semi-aberto e

Aberto.

Os dados utilizados são todos atuais, sendo retirados do

Formulário de Inspeção do Conselho Nacional de Justiça, datado em

31.08.2009, bem como dados relativos à quantidade de presos e lotação

prisional , respectivos dos dias 26 e 27 de outubro de 2009 (informação colida

em entrevista como gerente do presídio)

3.1.1 Superlotação

A superlotação é um problema enfrentado em todo o

sistema prisional. Inúmeros são os estabelecimentos penais que convivem em

constante lotação, possuindo capacidade inferior aos presos que estão

mantendo enclausurados.

A superlotação trás consigo inúmeros problemas, alguns

relacionados aos direitos do preso, e outros relacionados à própria segurança

da Sociedade. A lotação de presos apresenta-se como um “estopim” para a

explosão de problemas que são os estabelecimentos penais.

Vejamos alguns dados relativos à superlotação do

Presídio Regional de Itajaí:

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Capacidade

Projetada

- Masculino-

Excesso

Total

- Masculino-

166 382 548

Capacidade

Projetada

- Feminino-

Excesso

Total

- Feminino-

32 96 128

É visível a discrepância constatada através dos números,

a capacidade projetada, tanto para homens quanto para mulheres, corresponde

ao total de 198 presos, e conforme os dados acima expostos, verifica-se que o

Presídio possui 676 presos, ou seja 478 a mais do que o suportável.

Verifica-se que dos 548 presos masculinos reclusos, 185

são presos que estão cumprindo pena, e do público feminino são o total de

128, sendo que 64 são presas em regime de cumprimento de pena.

Os apenados, tanto homens e mulheres que estão

cumprindo pena dividem-se entre os regimes Fechado e Semi-aberto, sendo

que de acordo coma a LEP os mesmos deveriam estar em estabelecimentos

penais específicos, conforme as características de cada regime.

Destarte, impossível não haver rebeliões ou revolta dos

encarcerados em relação à superlotação, verificando que os mesmos estão

sujeitos a situações sub-humanas e intoleráveis. Constata-se o desrespeito

com a dignidade do preso, que não a perdeu em razão do cárcere, sendo que

continuam sujeitos a proteção dos direitos inerentes a qualquer pessoa.

3.1.2 Precária Infra – estrutura

Outro problema constatado no sistema prisional é a

precária infra-estrutura que é correlata da superlotação. Os estabelecimentos

não possuem estrutura física adequada para comportar todos os presos, sendo

que falta espaço para celas, local para banho de sol, lazer, ambulatório,

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consultório odontológico e local para desempenhar as funções administrativas

e jurídicas.

Conforme a exposição de LEAL58, pode-se vislumbrar a

realidade e as condições em que se encontra o Sistema Penitenciário:

De fato, como falar em respeito à integridade física e moral em prisões onde convivem pessoas sadias e doentes; onde o lixo e os dejetos humanos se acumulam a olho, sendo as celas individuais desprovidas por vezes se instalações sanitárias; onde os alojamentos coletivos chegam a abrigar 20, 30 homens, onde permanecem sendo utilizadas a arrepio da Lei 7.210/84; onde a alimentação, o tratamento médico e odontológico são precários e a violência sexual atinge níveis desastrosos? Como falar, insistimos, em integridade física e moral em prisões onde a oferta de trabalho inexiste ou é absolutamente insuficiente, onde presos são obrigados a assumiram a paternidade de crimes que não cometeram por imposição dos mais fortes[...]

O Presídio Regional de Itajaí, divide-se em galerias,

sendo elas: Triagem, 08 cubículos, Seguro, 21 cubículos, galeria D, 24

cubículos, galeria B, 17 cubículos, galeria C, 18 cubículos, o feminino dividindo-

se em 02 galerias, uma com 26 cubículos e outra com 06 cubículos. Comporta

ainda, a galeria Intra-muros com capacidade para 07 cubículos e o Berçário

com capacidade para 04 cubículos.

O Presídio possui 02 cozinhas, sendo uma para os

funcionários e outra para preparar as alimentações dos presos, 01 ambulatório

que também comporta a sala do dentista, 01 sala para a psicóloga, o 03 salas

que se dividem entre os funcionários da administração e a gerencia do

presídio.

Ainda em relação à estrutura, o Presídio possui a Casa de

Revista, a Carceragem, que divide os espaço dos Agentes Prisionais ( 02

quartos e 02 banheiros), e o Parlatório com espaço para 03 atendimentos.

O Berçário existente no Presídio, não está afastado dos

presos, estando apenas localizado na Ala Intramuros. Nos meses de setembro

58 LEAL, César Barros. Prisão : crepúsculo de uma era. Belo Horizonte: Del Rey.1998.p.87-88.

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e outubro registraram a presença de 05 crianças, todas com idade entre 0

anos e 02 anos e 06 meses.

As criança de 02 anos estão começando a andar, e

inocentes não compreendem o local em que seus paços estão sendo dados,

brincam em meio a um ambiente “bárbaro” e possuem a sua segurança

ameaçada, sendo que a qualquer momento uma rebelião pode acontecer.

Para muitas crianças, o único local que podem estar é no

Presídio, sendo que ambos os pais estão reclusos, e o restante da família é

ignorada. Comovidos com a situação as autoridades ignoram o fato, pensando

que um maior dano possa estar sendo evitado.

Doravante, conforme o exposto pode-se vislumbrar a

precária infra-estrutura do Presídio Regional de Itajaí, que com espaço

insuficiente deve atender os 676 presos que mantém encarcerados.

Impossível se faz controlar as rebeliões bem como o mau

comportamento dos presos em relação à falta de espaço. A superlotação e a

precária infra-estrutura, juntas, provocam o caos e a problemática que é o

Presídio de Itajaí, nos dias atuais.

3.1.3 Falta de Profissionais

Fator que se apresenta preocupante no atual sistema

prisional é o número insuficiente de profissionais que o Estado disponibiliza

para atuar nos estabelecimentos penais. Esta insuficiência de profissionais

gera a sensação de insegurança no próprio ambiente prisional, bem como na

sociedade.

Os profissionais, em específico, que atuam no ambiente

prisional, são os chamados Agentes Prisionais, estes devem manter a

manutenção de todos os atos praticados pelos encarcerados, desde o controle

da segurança nos estabelecimentos, evitando a violência entre os presos, até a

escolta dos mesmos quando se fizer necessário.

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Em conjunto com os Agentes Prisionais existe a

necessidade de profissionais específicos como médicos, enfermeiros,

psicólogos, assistentes sociais, educadores, advogados e funcionários que

atuem nas questões administrativas dos estabelecimentos.

Entretanto, raros são os estabelecimentos que

apresentam o quadro completo de funcionários, estando à segurança dos

próprios Agentes Prisionais e da sociedade comprometida pela inobservância

Estatal das necessidades contidas nos estabelecimentos penais.

THOMPSON59 preleciona:

O fracasso de um estabelecimento carcerário, quanto ao alvo reeducação, seja no Brasil, nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na Noruega, é atribuído, indefectivelmente, em sua maior parte, ao número deficiente de profissionais de tratamento (médicos, psicólogos, educadores, assistentes sociais) e à imperfeita instrução da guarda, no sentido de se preocupar mais em ajudar o preso a se reabilitar do que em cuidar da segurança e disciplina do estabelecimento.

Em específico, no Presídio Regional de Itajaí, pode-se

verificar a insuficiência explicita de funcionários que possam suprir todas as

necessidades dos presos. Vejamos a tabele de funcionários.

Agentes

Prisionais

Médicos

Enfermeiros

Dentistas

Psicólogos

Vigilantes

(contratados)

Administração

(contratados)

34 01 01 01 01 10 03

É pertinente destacar que entre os 34 Agentes Prisionais

estão o gerente do Presídio, o Chefe de Segurança, e o gerente que cuida das

questões relacionadas à distribuição dos alimentos, dos produtos essenciais a

limpeza e higiene dos presos, entre outras atividades relacionadas à

manutenção das atividades essenciais do Presídio.

No mês de novembro do ano corrente, uma greve está

sendo preparada por todos os Agentes Prisionais do Estado, que cansados de 59 THOMPSON, Augusto. A Questão Penitenciária . Rio de Janeiro: Forense, 2000.p.17.

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trabalhar em meio a insegurança e péssimos salários, resolveram expor o

problema e levar a ameaça também a sociedade.

Os 03 funcionários da administração são terceirizados,

sendo que dois desempenham atividades relacionadas à Remição dos

apenados, agendamento das escoltas, cadastro dos presos bem como todos

os atos de expediente da administração. Destaca-se que 01 dos funcionários

contratados trabalha em conjunto com outro Agente Prisional nas questões

relacionadas à assistência jurídica direcionada aos presos.

No Setor Penal, o Presídio conta com o auxilio do Projeto

de Execução Penal, desempenhado pela Universidade do Vale do Itajaí em

parceria com o Conselho Nacional de Justiça. Neste projeto acadêmicos,

supervisionados verificam possíveis benefícios aos apenados que estão na

fase de execução penal.

Porquanto, insuficiente é o número de funcionários

necessários no que tange a segurança do Presídio, em especifico os Agentes

Prisionais, e inexistem os profissionais qualificados que deveriam prestar a

assistência prevista na LEP, como assistentes sociais, educadores, advogados,

entre outros funcionários.

3.2 DA REINCIDÊNCIA E A ILUSÃO DE RECUPERAR

No atual sistema prisional, pode-se verificar que a

reincidência é constatada em grandes números. Vários são os fatores que

contribuem para esse desastroso índice.

Sabe-se que o atual sistema prisional ineficaz como se

apresenta, torna-se cenário para o desrespeito com a dignidade dos presos a

infração de vários Princípios Constitucionais garantidos, corroborando assim,

para a falência da ressocialização carcerária.

É uma ilusão acreditar que o atual sistema é passível de

recuperar alguma pessoa, em meio a tanta agressão, o apenado sabe e sente

que esta posto a margem da sociedade, onde pouco importa a prestação de

seus direitos básicos.

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Newton e Valter Fernandes60 quando verificam a pena

privativa de liberdade e o atual sistema prisional, asseveram que a conclusão a

que se chega é de lógica irretorquível: esse tipo de clausura funciona como

forte fator de reincidência criminal, contribuindo vigorosamente para o aumento

da criminalidade.

O Estado pouco se preocupa em efetivar as diretrizes

contidas na LEP, os estabelecimentos penais, tornam-se apenas “depósitos de

pessoas”, que ao invés de recuperar, “lançam”, ainda mais o apenado para o

mundo do crime. Sendo assim, retornar a delinqüir torna-se uma conseqüência

comum.

3.2.1 Dificuldade de Inserção Social

A inserção social corresponde ao retorno do apenado em

convívio na sociedade. Este retorno deve ocorrer de forma gradativa, como por

exemplo, o apenado que encontra-se no regime Semi-aberto e adquiri as

saídas temporárias como forma de retorno gradativo a sociedade e porque não

dizer ao convívio familiar.

Vários fatores estão interligados e dificultam o retorno do

apenado à sociedade, o medo e voltar a delinqüir, o receio de ser sempre

tratado como um criminoso, a dificuldade de se portar em grupo, observando o

grande tempo enclausurado, entre outros temores que conciliados a falta de

orientação nos estabelecimentos penais, acarretam na dificuldade de inserção

social.

Assim, corrobora Romeu FALCONI61:

Inquestionável que se vive, nesta quadra do tempo, uma situação ímpar, onde homens julgam homens, olvidando entretanto, que, apesar dos crimes que estes hajam praticado, são pessoas humanas. Se quisermos a reinserção social desse contingente humano, ou pelo menos de parte dele, teremos que, como primeira e principal providência, devolver-lhe o

60 FERNANDES, Newton, FERNANDES, Valter. Criminologia integrada . 2.ed. ver., atual São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 429. 61 FALCONI, Romeu. Sistema prisidial : reisenção social? São Paulo: Ícone, 1998.p.105.

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respeito que lhe tem sido subtraído.Falta-se-lhe com o respeito sob todas as formas e de todos os matrizes.

As dificuldades não partem tão somente dos apenados,

mas sim das instituições prisionais que não oferecem (grande maioria), a

assistência e o acompanhamento necessário com os profissionais qualificados

como assistente social, o acesso à educação de forma básica e qualificadora, o

oferecimento de atividades laborais de cunho profissionalizantes, entre outros

recursos que estão previstos na LEP.

Todo esse acompanhamento prepara o apenado ao seu

retorno social, de forma a lhe proporcionar oportunidades de ter uma vida

honesta, longe das facilidades apresentadas pelo mundo do crime.

3.2.2 O Retorno a Criminalidade

Fator presente em todo sistema prisional é o retorno à

criminalidade. Exorbitante se faz a parcela da população carcerária que retorna

a delinqüir, tornando assim o número de reincidentes muito maior do que o

desejável.

Vários são os fatores que impulsionam a reincidência,

como por exemplo, a dificuldade de inserção na sociedade, a falta de estrutura

familiar, o descaso em toda a execução penal, todos estes problemas são

como impulsos a volta da pratica delituosa.

Observa-se que o próprio Estado possui relevante parcela

de culpa no que tange a reincidência criminal. Quando se é colocado presos

provisórios, junto com apenados de regimes Fechado e Semi-aberto, não

havendo nenhuma distinção entre os apenados e as suas práticas criminosas,

provoca-se um contato desabonador com a aprendizagem delituosa.

Newton Fernandes e Valter Fernandes62 constatam a

difícil realidade da inexistência da separação dos apenados pelos crimes

cometidos.

62 FERNANDES, Newton, FERNANDES Valter. Criminologia integrada p. 82.

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Apenas servem, essas prisões, para que novos crimes sejam ali aprendidos, planejados para o futuro e arquitetados, quase á perfeição, face ás experiências trocadas pelos colégio de marginais, dos mais diferentes crimes, que sem nenhuma racionalização são agrupados em expiação a seus delitos. A cadeia, então, ao invés de instrumento de custódia para recuperação de presos, passa a ser verdadeira escola de graduação e, não raro, pós-graduação, para o cometimento de toda espécie de delituosidade.

Em observância a realidade, verifica-se que os

estabelecimentos penais, proporcionam mais chances do preso se inserir ao

mundo do crime, do que possibilidades de recuperar-se.

Conferindo os dados apurados no Presídio Regional de

Itajaí, pode-se verificar, mesmo que superficialmente, que 55% dos presos são

reincidentes, havendo mais de uma passagem no próprio estabelecimento.

Verificou-se que os crimes mais praticados entre os

presos são: crime de tóxico (Artigo 33 da Lei 11.343/06), furto simples (Artigo

155 do CP), e roubo (Artigo 157 do CP). Em escala crescente, observou-se que

nos dois últimos meses (setembro e outubro de 2009), a pratica delituosa que

vem crescendo são os crimes de homicídio (Artigo 121 do CP), contra a

liberdade sexual (Artigo 214 do CP) e o próprio crime de tóxico (Artigo 33 e 35

da Lei 11.343/06).

Porquanto, os próprios números levam a verificar que o

retorno à prática delituosa acontece em grande escala o vem a culminar com

outro fator de importante relevância. Dos presos reclusos no Presídio de Itajaí,

verificou-se que a segunda passagem está entre a prática da mesma conduta,

que anteriormente já foi conferida como reprovável, principalmente nos crimes

de tóxico e furto, contudo grande parcela volta a delinqüir em um crime mais

gravoso, como por exemplo, a primeira passagem foi furto, e passa a segunda

ser roubo.

Se o sistema não procurar soluções, com resultados de

curto a longo prazo, manter o preso em cárcere será apenas um tempo para

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que o mesmo possa voltar a delinqüir, visto que, o mesmo está inserido em um

meio completamente falido que o impossibilita de ressocializar-se.

3.3 DO PRECONCEITO

No atual sistema e na atual sociedade, o preconceito e a

discriminação se fazem presentes em todas as etapas da Execução Penal. O

apenado é discriminado dentro dos estabelecimentos penais e posteriormente

fora deles.

A sociedade possui um pensamento errôneo e infeliz, e

por vezes alimenta um sentimento da época do período em que a pena tinha o

cunho de vingança e não como apresenta-se hoje, com a finalidade

ressocializadora.

Como bem salienta COSTA JUNIOR63, o preso não se

reduz a simples objeto de um processo administrativo-penal. Deve ser

considerado como titular de direitos e faculdades e não mais como mero

detentor de obrigações.

O preconceito que é lançado ao apenado, não é apenas

oriundo da sociedade, mas também das famílias, que por vezes,

desestruturadas, excluem o apenado de ter a oportunidade de retornar ao

convívio familiar.

3.3.1 Da Família e da Sociedade

A família é o primeiro grupo que se aprende a viver em

sociedade, desta forma, apresenta grande influência no caráter e nossas

atitudes. É preciso que os familiares transmitam ao apenado a segurança

necessária para que o mesmo não volte a cometer nenhum ilícito.

63 COSTA JUNIOR. Paulo José da. Direito Pena Objetivo : comentários atualizados..92.

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Todavia, muitos são os casos em que a família não

proporciona ao apenado condições de ter uma oportunidade de seguir o

caminho correto, o que nem sempre se apresenta como o mais fácil.

Várias famílias almejam apenas que o apenado

providencie os recursos necessários para sanar com todas as despesas, sendo

que por vezes não importa o meio pelo qual se obtém o dinheiro, porque os

valores estão distorcidos aos extremos, e o que vai importar é o valor

arrecadado.

É necessário que o apenado sinta-se integrante de algo, e

tenha motivos para evoluir a afastar-se de praticas que distorçam o seu

comportamento e o levem a pratica delituosa.

Por vezes para família é difícil aceitar que um ente tão

próximo possa ter cometido tamanha barbaridade, contudo, se os próprios

familiares não poderem dar uma oportunidade do apenado demonstrar que se

regenerou tão pouco, pessoas entranhas poderão proporcionar tal

oportunidade.

A família, sendo a base da sociedade, deve romper as

barreiras do preconceito, da hipocrisia e da desigualdade, sendo que

sentimentos como o amor, amizade, respeito, compreensão e diálogo devem

estar sempre presentes, para assim, constituir uma família estruturada que

proporcione meios de recuperação ao apenado.

A sociedade apresenta duas fortes interferências no que

se refere ao preconceito contra o apenado. A primeira corresponde à idéia de

que preso esta em melhor situação do que as pessoas que vivem livres. A

segunda, que o apenado sempre vai ser um criminoso, é impossível acreditar

na sua recuperação.

O primeiro preconceito apresentado é inaceitável, como

uma pessoa pode acreditar que o apenado que encontra-se em cárcere está

em uma situação melhor do que um homem livre? Impossível de se responder.

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Só pensam assim pessoas que não conhecem a realidade

do sistema prisional, pessoas que estão alheias às informações que são

diariamente transmitidas. O sistema prisional na atualidade apresenta-se como

um cenário típico da infração dos direitos do apenado e do desrespeito a

dignidade humana.

O apenado por vezes está desprovido de recursos que

são básicos a sobrevivência humana, e não raro são obrigados a conviver com

a dor por falta de assistência qualificada.

É muito melhor viver livre e desprovido de alguns recursos

que a entendimento próprio possam ser excluídos, do que viver recluso e não

ter direito algum de escolha e estar sujeito a condições severas que levem

apenas a sobrevivência.

O segundo preconceito, está relacionado à indiferença da

sociedade com os apenados que saem dos estabelecimentos penais em busca

de novas oportunidades de vida. Que procuram condições que não os levem

ao caminho da criminalidade.

Porém, fácil de vislumbrar é o comportamento hostil das

pessoas com os apenados, muitas se sentem incomodadas e a simples

presença torna-se uma ameaça, uma situação difícil de ser vivenciada.

Em relação ao comportamento da sociedade,

FURTADO64, assegura:

Na medida em que, como sociedade, estamos a fabricar criminosos, jogando homens mal formados( homens metade, pessoas abandonadas por um pacto social falido) dentro de um sistema penitenciário completamente abandonado pelo Executivo e desprezado pelo Judiciário, e de lá retiramos feras, estamos também, a ofender e atacar a nós mesmos[...]

O preconceito leva a prática de atitudes discriminadoras e

cruéis, a pena ultrapassa a figura do apenado e toda uma família é exposta a

64 FURTADO, Renato de Oliveira. Nós e eles : sitema penitenciário. Texto disponível em

http://www.direitocriminal.com.br. Acessado em 07.10.2009.p.02.

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discriminação e a rejeição social. Torna-se impossível encontrar um emprego,

os olhares discriminadores e reprováveis são freqüentes e implícitos.

Em consonância ao assunto, assevera MIRABETE65:

O mais grave inconveniente que, tradicionalmente, tem levado a pena privativa de liberdade é a marginalização do preso. Não obstante tenha ele alguma ou todas as condições pessoais para se reintegrar ao convívio comunitário a que esteve afastado. E apesar dos esforços que possam ser feitos para o processo de reajustamento é inevitável que o egresso encontre uma comunidade fechada, refratária e que ela mesma o acabe impulsionando para delinqüir.

Um exemplo típico do preconceito gerado na sociedade é

o pedido de antecedentes criminais na concorrência de um emprego. A maioria

da sociedade diz que não possui preconceitos contra pessoas que

permaneceram reclusas, contudo não são capazes de ofertar um emprego para

alguém que já foi preso.

E a problemática envolvida com o local da instalação dos

estabelecimentos penais, ninguém deseja um presídio perto de casa. Como se

fosse possível esquecer os encarcerados, de forma a “jogá-los” em celas e

fazer do estabelecimentos vendeiros depósitos.

Se o apenado cumpriu com suas obrigações, atingindo o

tempo suficiente para a progressão de regime, ou então, tenha cumprido

integralmente a sua pena, não possui o mesmo, nenhuma divida com o Estado,

tão pouco com a sociedade. Não devendo assim, ser submetido a situações de

constrangimento e discriminação.

3.4 O DESCASO DO ESTADO

Em toda Execução Penal, pode-se observar várias

situações que levam a afirmação de que o Estado trata com descaso todo o

processo executório penal. Impossível não se visualizar o caos em que se

65 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal : comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-84. 8. ed.

rev e atual.p.88-89.

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encontra os estabelecimentos penais, falidos e com estruturas ultrapassadas,

parecendo mais “calabouços” do que celas.

A inobservância com a falta da prestação dos direitos

básicos inerente aos presos, a situações negligentes a que estão submetidos,

levam a um total esquecimento por parte dos governantes e legisladores.

Ao analisar esta questão FALCONI66 ressalta:

Entre nós, ninguém está verdadeiramente preocupado com a reeducação, ou com qualquer outra atividade que diga respeito à reinserção do condenado. Apenas estão preocupado, ou dizem que estão, em aumentar o número de prisões, na elaboração de leis cada vez mais virulentas e arrestos humanos cada vez maiores.

Uma vez que é retido do preso o direito de ir e vir, sendo

que o mesmo fica impossibilitado para suprir sozinho com as suas

necessidades básicas, o Estado passa a ser o seu tutor, sendo o mesmo o

único detentor da capacidade sancionadora.

Deve então cumprir com as suas próprias determinações,

fazendo valer os preceitos contidos em nossa Constituição e em legislação

específica, como neste caso a LEP. Se o Estado através de seus

representantes elabora as Leis, deve o mesmo ser o guardião delas, e fazer

valer todo o seu conteúdo.

A crítica mais severa direcionada aos governantes que

são efetivamente os representantes do Estado, está na questão da

impossibilidade do preso votar. Após o trânsito em julgado de uma sentença

condenatória, o preso perde, mesmo que momentaneamente, o seu direito ao

voto.

Desta forma, não fazem os presos parte do público alvo

dos governantes que, efetivam o desinteresse em propor soluções e

alternativas ao caos que é o sistema prisional. Os estabelecimentos penais

tornam-se “depósitos” de pessoas, que são visivelmente esquecidas pelo

Estado. 66 FALCONI, Romeu. Lineamentos de Direito Penal . p. 111.

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O único interesse demonstrado é o de construir mais

estabelecimentos, para que comportem mais presos, sendo que o problema

seria resolvido apenas momentaneamente, pois sem a aplicação efetiva da Lei

não há que se falar em ressocialização, tão pouco em solução para as

demandas da Execução Penal.

Acerca do assunto TELES67 enfatiza:

A história de nosso sistema penitenciário é essa, avançada na legislação, atrasada na prática. Cresce o país, a população, desenvolvem-se as cidades, a economia galga estágios de desenvolvimento, as péssimas condições de vida da maior parte do povo se agravam, aumentam a miséria e a fome, com elas a criminalidade, constroem-se penitenciárias e quantidade e qualidade insuficientes para atender à demanda, não restando ao legislador senão apresentar novas e modernas soluções, especialmente diante do descaso do Poder Executivo em todos os níveis.

Como exigir da sociedade comportamentos não

discriminadores em relação aos apenados, se os próprios legisladores ignoram

a situação do sistema prisional, empurrando os problemas visíveis e não

oferendo nenhuma situação.

Doravante, com o descaso do Estado, o apenado, assim

como o preso em todo o sentido lato, não possui apenas a sua pena a cumprir

ou o tempo necessário a ficar recluso, mas deve o mesmo enfrentar situações

sub-humanas e ao invés de recuperar-se e estar habilitado para retornar ao

convívio em sociedade, nutre o mesmo sentimentos como ódio, raiva e revolta

que o impulsionam cada vez mais ao mundo do crime.

3.4.1 O Desrespeito à Constituição

Em relação a todos os princípios basilares contidos em

nossa Constituição, no que se refere à Execução Penal, verifica-se o

desrespeito com praticamente todos os princípios nela contidos, sendo que o

preso é lançado a condições degradantes e sub-humanas, infringindo assim

inúmeros direitos e garantias constitucionais inerentes a qualquer pessoa.

67 TELES, Ney Moura. Direito penal: parte geral, arts. 1º a 120. p.298

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Nesse sentido diz LEAL68:

Diante dos direitos e garantias constitucionais asseguradas a todo cidadão, o dispositivo pode parecer desnecessário. Porém, num país, onde a pessoa do preso não tem merecido a menor consideração, parece-nos que a disposição legal acima transcrita é de todo recomendável e útil. É preciso respeitar o preso, assegurando-lhe o cumprimento da pena dentro dos limites impostos pela própria lei.

A sanção imposta ao apenado ultrapassa os limites da

pena, o cárcere é muito mais severo do que o próprio tempo de pena a cumprir,

a falta de direitos basilares e a situação degradante a que estão inseridos torna

a realidade o oposto das condições expressas na Constituição.

O próprio Estado que deveria resguardar os preceitos

contidos na Constituição, é que com mais veracidade, desrespeita, infringe e

não faz valer o valor contido na norma.

Não há que se falar apenas na ineficácia da Execução

Penal, mas também na ineficácia da própria Constituição, que não deve ser

vislumbrada como apenas uma carta de recomendações, com princípios

utópicos. Se o legislador contemplou na Lei garantias fundamentais a todos os

homens, deve o mesmo criar meios de executar todos estes preceitos e fazer

valer o conteúdo de nossa Lei magna.

3.4.2 Da não Prestação dos Direitos

Constatando-se a infração de princípios Constitucionais e

direitos expressamente garantidos na LEP, evidencia-se a não prestação de

direitos oriundos ao encarcerado, sendo ele apenado, em regime de

cumprimento de pena, seja ele provisório.

Os direitos que são negados aos apenados então

inseridos em todos os estágios, desde os básicos, como alimentação,

vestuário, saúde, educação, até os mais elevados como auto-estima e possível

auto-realização.

68 LEAL, João José. Direito Penal Geral . p.409.

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THOMPSON69 acentua:

Rejeitados pela sociedade, confinados à força, obrigados a uma coabitação não escolhida, privados de autonomia, de recursos, de bens e serviços de caráter pessoal, de iniciativa, de segurança, separados da família, submetidos a um regime asfixiante de regras abstrusas, obtêm, não adequado à condições artificiais de vida que lhes são impostas.

O próprio sistema agride o preso, como então ele poderá

acreditar na sua ressocialização se o próprio órgão responsável em corrigir o

seu desfio de conduta, o cola a margem da sociedade e o estigmatiza,

incentivando toda a sociedade a pratica de atos preconceituosos.

Exigem do preso o seu retorno eficaz a sociedade,

contudo não verificam a falência do sistema em que ele esta inserido, não

sendo prestados os direitos básicos inerentes a qualquer pessoa.

Relevante é o entendimento de que parte da pessoa a

intenção de mudar, todavia se não for proporcionado o meio de provocar esta

mudança, de nada adiantará a ilusão utópica que o sistema prisional

conseguirá recuperar algum dos seus milhares de encarcerados.

3.5 INEFICÁCIA DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

A palavra ineficácia em sentido stricto sensu está

vinculada ao conceito de deficiência, ou seja, a carência, a falha na execução

de algo.

Em relação à ineficácia da Lei de Execução Penal, afirma-

se que a legislação referida possui defeitos e não está sendo aplicada de

acordo com os seus preceitos, sendo impossível atingir os seus objetivos

maiores, que são, a execução da sanção imposta pelo Estado, empregando em

seus meios o respeito à dignidade do preso, e a ressocialização do

encarcerado.

Os objetivos da Execução Penal, ora mencionados, estão

inseridos no conteúdo do Artigo 1º da LEP, o qual vejamos:

69 THOMPSON, A Questão Penitenciária . p.82.

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Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

Estando postos os objetivos, devem ser apontados os

meios pelo qual deve se percorrer para atingir o resultado final. É o que ocorre

no decorrer dos 204 artigos da LEP.

Por várias vezes verifica-se elogios a LEP, entretanto lodo

seguem as críticas direcionadas a sua inaplicabilidade. A Lei se distância da

realidade que esta contida no sistema prisional e torna-se utópica frente à

falência do Estado.

OLIVEIRA70 entafiza:

A Lei de Execução Penal é, de uma maneira geral, inexeqüível. Suas disposições consubstanciam, sem duvida, o resultado dos estudos mais avançados sobre a matéria, mas não houve a preocupação de se alevantarem as estruturas existentes e necessárias para a sua efetivação, constituindo-se mais, em uma lei de caráter utópico, sem o devido embasamento na realidade social do nosso país.

A não prestação de direitos previstos na LEP acarreta na

revolta dos presos, que estão expostos a superlotação, a falta de profissionais,

a falta de infra-estrutura, e todos os demais problemas que concebem a

falência prisional.

Impossível ressocializar alguém, em um ambiente

inadequado e cenário para o cometimento de tantas ilegalidades. Não se pode

repreender o encarcerado se o próprio Estado a quem estamos todos

subordinados é o principal infrator das Leis que ele mesmo, cria e deve

executar.

Em consonância aos dados apresentados, certa é a

afirmação de BITTENCOURT71:

70 OLIVEIRA, João Bosco. A Execução Penal : uma realidade jurídica, social e humana. São

Paulo: Atlas, 1990.p.85 71 BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal : parte geral. p.1993.

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80

A superlotação das prisões, a alimentação deficiente, o mau estado das instalações, pessoal técnico despreparado, falta de orçamento, todos esses fatores convertem a prisão em um castigo desumano.

Bem verdade, que todo o sistema está falho, possuindo

políticas que não atingem o público alvo, como por exemplo, a saúde, a

educação e a segurança, entre outros. Todavia o que se deve entender é que o

encarcerado está em situação de desvantagem, de fragilidade, não podendo

suprir por si as suas necessidades.

Deve-se planejar uma política de divulgação da

humanização da execução penal, de forma a transmitir não somente aos

operadores do direito, mas a toda sociedade a necessidade de ver o preso

como ele realmente é, ou seja, uma pessoa igual a todas as demais.

Segundo ALBERGARIA72 a política penitenciária terá que

enfatizar a humanização da execução penal, privilegiando as medidas

alternativas e a colaboração da comunidade.

Não somente as autoridades ou a o preso e sua família

devem apontar a ineficácia da LEP, mas toda a sociedade deve priorizar os

direitos humanos e exigir que o encarcerado tenha o tratamento adequado para

estar apto ao retorno da sociedade, que é inevitável, observando que não

existe pena de morte ou prisão perpétua em nossa legislação.

As péssimas condições do sistema prisional, o descaso

do Estado, a inércia da sociedade apenas contribuem a falência do sistema e a

revolta do encarcerado, que quando ganhar a liberdade não se sentira inserido

em meio algum, e marginalizado não respeitara contrato social algum, e

provavelmente voltara a interferir no bem comum, ou seja, a paz social.

Ao se falar em ineficácia, aponta-se as falhas da LEP, que

são visíveis a qualquer pessoa, não sendo necessário a presença a opinião de

um especialista, haja vista que a realidade esta posta.

72 ALBERGARIA, Jason. Comentários à lei de execução penal ..p.94.

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Sobre o assunto discorre ALBERGARIA73:

Entre as dificuldades da política criminal inclui-se a deficiente informação estatística, ao lado da crônica escassez de recursos, ineficácia e burocratização dos programas sociais, enfoque setorial, ausência de participação da comunidade, crônica escassez de recursos e outros fatores negativos.

Precisa-se ter a certeza ora afirmada, de que uma coisa é

certa, o preso retornará a sociedade, e de acordo com o seu tratamento,

sentirá a necessidade de retribuir as situações que foi exposto. Será um

espelho de todas as desigualdades vivenciadas.

Sendo assim, as péssimas condições do sistema

prisional, o descaso do Estado, a inércia da sociedade apenas contribuem a

falência do sistema e a revolta do encarcerado, que ao ganhar a liberdade não

se sentira inserido em meio algum, e marginalizado não respeitara contrato

social algum, e provavelmente voltará a interferir no bem comum, ou seja, a

paz social.

A ineficácia da LEP está explicita na realidade do sistema

prisional, falida, inalcançável e inaplicável. Se não houver modificações em

relação a exigibilidade do cumprimento do conteúdo exposto na Lei, continuar-

se-á a mesma como uma carta de intenção.

73 ALBERGARIA, Jason.Comentários à lei d e Execução Penal .p. 106.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Monografia teve como objeto a ineficácia da

Lei de Execução Penal, a infração de Princípios Constitucionais e a as

conseqüência desta ineficácia n e infração no processo de ressocialização.

A pena como forma de sanção imposta a uma pessoa que

por um desvio de conduta cometeu um ato previsto como ilícito, sempre

provocou várias discussões em relação a sua aplicabilidade.

Os Regimes Prisionais surgem como forma de efetivar a

sanção ora imposta pelo Estado, sendo o mesmo através de seus

representante o único detentor da imposição de uma sanção.

Contudo, no processo de execução da sanção penal,

verifica-se a inobservância de princípios e direitos basilares a Dignidade

Humana.

A prisão no atual sistema carcerário, apresenta-se como

ambiente inadequado a reeducação de uma pessoa, todavia é único meio

existente para enclausurar pessoas que infringiram o contrato social que dita as

regras comportamento para a paz social.

Para melhor compreensão do assunto em tela, faz-se

necessário analisar a forma que procede a execução de pena no atual cenário

em que estamos inseridos. Desta forma será apresentado o resultado desta

pesquisa de forma sintetizada em cada um dos capítulos abaixo.

No primeiro Capítulo, apresentou-se um apanhado

histórico da pena, com ênfase a sua origem e desenvolvimento desde o inicio

da civilização até a atualidade. Além disso, discorreu-se sobre as teorias para

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sua finalidade e sobre os Regimes Prisionais, que são a forma do cumprimento

da sanção imposta pelo Estado,

No segundo capítulo, explanou-se, sobre os Princípios

Constitucionais direcionados a Execução Penal, sendo que os mesmo não são

cumpridos de forma efetiva, provocando assim a infração de nossa Lei

maior.Culminando com o assunto, verificou-se quais são os direitos inerentes

ao apenado contidos na LEP, sendo que os mesmos não são proporcionados,

acarretando assim na marginalização dos presos, violando a sua dignidade e

inserindo os mesmos a condições degradantes e intoleráveis.

No terceiro Capítulo, foi direcionado o assunto a Ineficácia

propriamente dita da LEP, sendo apontado como responsável para a falecia

prisional, o Estado, que deveria exigir e fiscalizar o cumprimento da Lei, de

forma a resguardar a integridade física e moral dos presos. No decorrer da

pesquisa, foi abordado a importância da família e da Sociedade no que tange a

recuperação do encarcerado. Para finalizar evidencio-se que, da forma que

esta sendo direcionada a execução penal, impossível se faz a ressocialização

do encarcerado.

No tocante a hipóteses levantadas no início da pesquisa e

que serviram de base para o desenvolvimento do trabalho, restaram

confirmadas, como se verá a seguir:

Hipótese 1 : Com efeito, na prática, é visível a grosseira

antinomia entre o desejo do legislador e a realidade evidenciada.O

encarcerado não possui de forma efetiva a assistência expressa na LEP,

tornando-se a mesma ineficaz.

Hipótese 2 : Sendo o Estado o único detentor do poder de

punir, transfere-se a ele a responsabilidade de prover as necessidades básicas

do cidadão encarcerado, sendo que o mesmo tem seus atos ceceados pelo

Estado que o colocou em cárcere.

Hipótese 3 : Frente o atual sistema e as condições sub-

humanas a que esta inserido o preso, impossível é sua ressocialização ,

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sendo que o mesmo esta posto a margem da Sociedade, de forma a ficar

impossibilitado de retornar ao convívio social.

Para que a pena deixe de ser apenas o retorno do ato

praticado, será necessário que sejam cumpridos os princípios Constitucionais

básicos, bem como os preceitos contidos na LEP. O apenado deve ser visto

como um sujeito portador de direitos e não somente de deveres. O Estado e a

Sociedade devem proporcionar, cada um dentro de suas obrigações, condições

do encarcerado estar retornando ao convívio social, sendo que o mesmo

também é produto deste meio e não pode ser esquecido dentro dos

estabelecimentos penais. Para que a Lei cumpra a sua função social, é

necessário compreender a sociedade como um todo e não parti-la em camadas

que só nos levam a a desigualdade e injustiça.

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