da inaplicabilidade do código de defesa do consumidor ao ato
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Revista do Direito Privado da UEL – Volume 2 – Número 3 – www.uel.br/revistas/direitoprivado
DA INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR AO ATO COOPERATIVO
Têmis Chenso da Silva Rabelo*
Vanderley Doin Pacheco**
RESUMO
O presente trabalho faz um breve estudo, separadamente, de três tipos de atos que podem ser
praticados pelas cooperativas: atos cooperativos; atos não cooperativos intrínsecos e atos não
cooperativos extrínsecos à atividade cooperativa e se nestes incidem ou não o Código de Defesa do
Consumidor. Para tanto, analisa os pontos decorrentes da relação de consumo, destacados pelo Código
de Defesa do Consumidor e seus sujeitos, assim definidos como fornecedor e consumidor, este último
como sendo aquele que adquire ou utiliza produtos ou serviços como destinatário final. Ainda, analisa
de maneira lacônica as sociedades empresárias, suas classificações e a distinção entre as sociedades
simples e empresárias, de pessoas e de capital, contratual e institucional e define em qual espécie
societária está inserida a cooperativa. Busca-se na doutrina e na jurisprudência predominante
diferenciar a relação de consumo do ato cooperativo, este regido pela Lei Federal n. º 5.764/1971, na
qual se deu tratamento destacado em seu artigo 79. Orienta-se através dos elementos de peculiaridade,
verificando quanto à possibilidade ou não da aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao ato
cooperativo e conclui pautando-se no entendimento predominante sobre o tema em destaque.
Palavras-chave: Consumidor. Fornecedor. Relação de consumo. Sociedade cooperativa. Ato
cooperativo.
ABSTRACT
The present work makes a briefing study, separately, of three types of acts that can be practised by the
cooperatives: cooperative acts; intrinsic non cooperative acts and extrinsic non cooperative acts to the
cooperative activity and if in these happen or not the Code of Defense of the Consumer. For in such a
way, it analyzes the decurrent points of the consumption relation, detached for the Code of Defense of
the Consumer and its citizens, thus defined as supplying and consuming, this last one as being that
acquire or use products or services as final addressee. Still, it analyzes in summarized way the
societies entrepreneurs, its classifications and the distinction between the simple societies and
entrepreneurs, of people and capital, contractual and institutional and defines in which species of
society is inserted the cooperative. One searches in the doctrine and the predominant jurisprudence to
differentiate the relation of consumption of the cooperative act, this conducted by Federal Law N. º
5,764/1971, in which it gave treatment detached in its article 79. It is oriented through the peculiarity
elements, verifying the possibility not the application of the Code of Defense of the Consumer to the
cooperative act concludes guiding itself through the predominant agreement on the subject in
prominence.
Keywords: Consumer. Supplier. Relation of consumption. Cooperative society. Cooperative act.
_____________ * Mestre em Direito Negocial, Especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil, Advogada e Professora
Universitária UEL e UNOPAR, ambas em Londrina – Paraná – Brasil. Contato pelo e-mail [email protected] ** Graduado em Direito pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR em Londrina – Paraná - Brasil. Contato
pelo e-mail [email protected].
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1 INTRODUÇÃO
Diante da disseminação dos direitos inerentes ao consumidor, parte frágil da
considerada relação de consumo e que necessita de intervenção estatal e especializada para a
garantia de seus interesses, houve mundo jurídico manifestações no sentido da aplicação da
legislação consumerista aos chamados atos cooperativos, que possui tratamento diferenciado
amparado por legislação especial.
O CDC, de uma maneira mais ampla, define e conceitua o consumidor, como sendo
toda a pessoa física ou jurídica que individual ou coletivamente adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final, ou ainda que apenas esteja exposta às práticas abusivas
praticadas pelos fornecedores.
Ainda, como elemento subjetivo da relação de consumo, estabelece como fornecedor
um conceito amplo do termo, tratando todo aquele que atua no lado oposto ao do consumidor
e que de alguma maneira atende as necessidades destes, atuando no desempenho de atividades
de oferta de bens ou serviços no mercado.
Logo, a relação de consumo está diretamente relacionada no que tange aos atos
praticados entre consumidor e fornecedor, e visa estabelecer o equilíbrio necessário a
qualquer harmonia econômica no relacionamento entre eles.
Os atos cooperativos, disciplinados pela Lei n. 5.764/71, em seu artigo 79, são
definidos como os praticados entre as cooperativas e cooperados e pelas cooperativas entre si
quando associadas, para a consecução dos objetivos sociais. Com isso, tem-se que os
elementos subjetivos do ato cooperativo é o cooperado e a cooperativa, diferentemente da
relação de consumo.
O ato cooperativo tem objetivos sociais na sociedade cooperativa, fundada e
solidificada no princípio da solidariedade, e não visa lucro, ao contrário da relação de
consumo que tem por fim uma necessidade do consumidor e uma aquisição pecuniária por
parte do fornecedor.
Sabe-se que ao tratar de cooperativismo, instituto que possui tratamento diferenciado
por legislação especial, nem todos os atos praticados por estas incidem o CDC.
O presente estudo não visa esclarecer todos estes atos, que serão chamados - Atos
não Cooperativos Intrínsecos e Atos não Cooperativos Extrínsecos à Atividade Cooperativa.
Todavia, faz uma breve abordagem a estes atos que devem ser analisados mediante
interpretação às peculiaridades de cada caso concreto.
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Necessário se faz, pois, distinguir detalhadamente as relações jurídicas e negociais
envolvendo o ente cooperativo e os seus cooperados, daquelas perpetradas entre cooperativa
para com terceiros, chamados clientes não cooperados, para chegar-se ao objetivo final da
relação que envolve o ato cooperativo propriamente dito.
Analisa sucintamente em qual classificação está inserida a sociedade cooperativa,
tornando-a um tipo de sociedade sui generis, totalmente diferenciada dos demais tipos
societários.
Tem, portanto, o presente estudo o objetivo de analisar os pontos decorrentes da
relação de consumo e diferenciá-los dos atos cooperativos, buscando na doutrina e na
jurisprudência predominante o conteúdo para a diferenciação dos elementos de peculiaridade,
verificando quanto à possibilidade ou não da incidência do CDC ao ato cooperativo.
2 CONSIDERAÇÕES AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Como acontece em todo ramo do Direito, as transformações sociais e econômicas
influenciam suas mudanças, a fim de não permitirem injustiças às partes menos
desfavorecidas.
A relação entre consumidor e fornecedor vem desde os tempos mais remotos, e
sempre decorreu da necessidade de adquirir algo para a satisfação pessoal ou coletiva das
partes envolvidas.
Todavia, o que antes era considerado uma situação de equilíbrio, nos dias atuais o
fornecedor, em seu conceito mais amplo, assumiu uma posição de força em relação àquele
que consome o produto final, ficando este último à mercê daquilo que lhe é oferecido, sem
qualquer condição de negociação.
Estas condições surgiram com as mudanças no modo de produção, que deram origem
à indústria moderna e ao processo de concentração econômica, durante o século XX, sob a
influência do liberalismo econômico e propagação da livre concorrência. Isto se deu devido
ao fenômeno chamado de sociedade de consumo, que trouxe como característica marcante o
número crescente de produtos e serviços no mercado.
Com isso, houve um aumento desenfreado da produção e através de mecanismos
utilizados pelos fabricantes para a entrada desses produtos no mercado, estimularam o
consumo exagerado. Indubitavelmente, os menos desfavorecidos ficaram à mercê das
alternativas criadas para facilitar o consumo, multiplicando na sociedade o número de
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contratos de adesão e assim, atingindo os direitos do consumidor.
O CDC foi instituído para amenizar a vulnerabilidade do consumidor, que possuía
inclusive dificuldades de acesso à justiça, frente ao fornecedor de produtos ou serviços, que
por sua vez possuía o domínio do crédito e do marketing (GRINOVER, 2007, p. 6).
Tendo em vista que o mercado não possui mecanismos próprios e eficientes para
superar tal vulnerabilidade do consumidor, fez-se necessária a intervenção do Estado nas suas
três esferas (Legislativo, Executivo e Judiciário) a fim de que se formulem normas jurídicas
de consumo (GRINOVER, 2007, p. 7).
A Constituição Federal de 1988 tratou sobre o assunto, inserindo-o entre os direitos
individuais, no artigo 5º, XXXII, “O Estado promoverá na forma da lei a defesa do
consumidor”. Ainda, com determinação expressa no artigo 48 dos Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias, que “o congresso Nacional, dentro de 120 dias da promulgação
da Constituição, elaborará o Código de Defesa do Consumidor.”
O reconhecimento de que o consumidor estava desprotegido em termos educacionais,
informativo, material e legislativo, determinou uma maior atenção para o problema e o
aparecimento da legislação protetiva em vários países (MARAN, 2004, p. 54).
Com isso, em 1990, foi promulgada a lei 8.078, que é tratada como Código, a qual
instituiu as relações de consumo e seus sujeitos, mudando de forma peculiar os atos praticados
entre estes, visando proteger a considerada parte fraca da relação de consumo aos chamados
dominadores de mercado (monopólios e oligopólios), impondo a estes uma melhor qualidade
nos produtos e serviços prestados e até uma melhora no atendimento das empresas
fornecedoras em geral.
Grinover (2007, p. 9) enfatiza o modelo intervencionista estatal adotado pelo Brasil,
como fez ênfase os autores do anteprojeto:
De um lado, há o exemplo, ainda majoritário, daqueles países que regram o mercado
de consumo mediante leis esparsas, específicas para cada uma das atividades
econômicas diretamente relacionadas com o consumidor (publicidade, crédito,
responsabilidade civil pelos acidentes de consumo, garantias etc). De outra parte,
existem aqueles ordenamentos que preferem tutelar o consumidor de modo
sistemático, optando por um „código‟, como conjunto de normas gerais, em
detrimento de leis esparsas. Esse modelo, pregado pelos maiores juristas da matéria
e em vias de se tornar realidade na França, Bélgica e Holanda, foi adotado no Brasil,
que surge como o pioneiro da codificação do Direito do Consumidor em todo o
mundo.
Tem-se a importância da codificação devido à coerência e à homogeneidade a um
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determinado ramo do Direito, possibilitando sua autonomia, o que por sua vez, simplifica e
clarifica o regramento legal da matéria, favorecendo, de uma maneira geral, os destinatários e
os aplicadores da norma.
Desta forma, com a entrada em vigência do CDC, as empresas fornecedoras de
produtos e serviços foram obrigadas a se adaptarem aos mecanismos da lei, e quando não
observam as determinações instituídas, ficam vulneráveis ao Poder Jurisdicional do Estado.
No entanto, tal caráter estará sempre relacionado ao que diz respeito à
vulnerabilidade do consumidor frente às relações de consumo, e acentua-se que “a pedra de
toque é a condição de destinatário final de produtos e serviços, ou desde que não visem a uso
profissional” (FILOMENO, 2007, p. 20).
Diante do exposto, o CDC equilibrou as partes envolvidas na relação de consumo,
impondo aos fornecedores de bens ou serviços a criarem mecanismos de melhoria em todos
os seguimentos do mercado econômico.
2.1 Relação de Consumo e seus Elementos
Diante do artigo 1º do CDC, revela-se que a parte anteriormente vulnerável à relação
de consumo, agora ganha considerada proteção do Estado.
A defesa e proteção inserida no dispositivo mencionado estão diretamente ligadas à
relação de consumo, ou seja, é imprescindível que estejam presentes os elementos:
consumidor e fornecedor.
Pereira (2003, p. 80), com maestria, trata o assunto dizendo que “consumo é o
processo pelo qual se derivam utilidades de um bem, ou de um serviço. De uma forma mais
generalizada, também se pode descrever o consumo como a atividade de adquirir bens ou
serviços com o intuito de auferir satisfações”.
Assim, a relação está ligada através da ação do sujeito elementar consumidor ao
outro sujeito elementar fornecedor, o qual fornece os bens para a satisfação final da relação,
ou seja, para o próprio consumo.
Neste contexto, Lisboa (2000, p. 296) afirma que:
A relação jurídica de consumo é espécie de relação jurídica com características
próprias, de vez que somente se estará diante de liame jurídico, sobre o qual incide o
CDC, se preenchidos os requisitos subjetivos e objetivos relativos ao vínculo em
tela. Como liame jurídico, envolve a existência de sujeitos do direito em pólos
opostos, que interagem para a transmissão de bens (objeto do direito) e a consecução
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dos fins que deram origem à formação da relação.
Seguindo o raciocínio, Tupinambá Miguel (apud BATISTI, 2001, p. 205) assevera:
[...] interpretra-se que há relação de consumo quando um consumidor adquire bem
para sua utilização final, embora nem sempre esteja clara a condição de fornecedor
daquele que vende, especialmente face à análise de profissionalidade, regularidade e
habitualidade.
Filomeno (2007, p. 32), ao expor sobre a relação de consumo, esclarece que:
Pode-se dessarte inferir que toda relação de consumo: a) envolve basicamente duas
partes bem definidas: de um lado, o adquirente de um produto ou serviço
(„consumidor‟), e, de outro, o fornecedor ou vendedor de um produto ou serviço
(„produtor/fornecedor‟); b) tal relação destina-se à satisfação de uma necessidade
privada do consumidor; c) o consumidor, não dispondo, por si só, de controle sobre
a produção de bens de consumo ou prestação de serviços que lhe são destinados,
arrisca-se a submeter-se ao poder e condições dos produtores daqueles mesmos bens
e serviços.
Neste contexto, assevera-se que não haverá relação de consumo quando inexistir em
um dos pólos o sujeito de direito, ou seja, o consumidor ou o fornecedor, e ainda, que estejam
ligados pelo produto ou serviço destinado ao consumo final, através da necessidade e
satisfação daquele que se considera a parte vulnerável da relação.
Lisboa (2000, p. 296-297) conclui o raciocínio alertando que ”ausente algum desses
requisitos, a relação jurídica em questão não será de consumo, porém de outra espécie”.
Portanto, a relação de consumo caracteriza-se através da aquisição de um
determinado produto ou serviço, colocado no mercado de consumo por um fornecedor, e
destinado ao seu fim e a satisfação daquele que necessita do objeto resultante dos esforços de
quem o produziu ou inseriu no mercado de consumo.
2.2 Consumidor
Assegura-se que o consumidor é a parte vulnerável da relação de consumo como dito
alhures.
Neste contexto, Filomeno (2007, p. 28) assegura que o legislador procurou afastar de
tal conceituação componente de natureza sociológica, psicológica, de ordem literária e
filosófica, entendendo desta maneira por consumidor “qualquer pessoa física ou jurídica que,
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isolada ou coletivamente, contrate para consumo final, em benefício próprio ou de outrem, a
aquisição ou a locação de bens, bem como a prestação de um serviço”.
Para Alvin (1991, p. 15), o conceito geral de consumidor, estabelecido no artigo 2º,
refere-se explicitamente à aquisição ou utilização em caráter final, in verbis, consumidor é
aquele:
Que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, não contemplando
como consumidores, genericamente, aqueles que adquirem o produto ou o serviço
em fase intermediária, como os revendedores, ou seja, aqueles que adquirem e
revendem o mesmo produto, ou apenas adquirem o produto para transformá-lo ou
mesmo implementá-lo em outro.
Sob a análise econômico-jurídica do termo, Othon Sidou (apud FILOMENO, 2007,
p. 29) acentua que consumidor é “qualquer pessoa, natural ou jurídica, que contrata, para
utilização, a aquisição de mercadoria ou a prestação de serviço, independentemente do modo
de manifestação da vontade, isto é, sem forma especial, salvo quando a lei expressamente a
exigir”.
No parágrafo único do mencionado artigo, o legislador equiparou ao consumidor a
coletividade de pessoas, ainda que de maneira indeterminável, que haja intervindo nas
relações de consumo.
Segundo o professor Waldírio Bulgarelli (apud FILOMENO, 2007, p. 42), o
consumidor pode ser considerado como:
Aquele que se encontra numa situação de usar ou consumir, estabelecendo-se, por
isso, uma relação atual ou potencial, fática sem dúvida, porém a que se deve dar uma
valoração jurídica, a fim de protegê-lo, quer evitando, quer reparando os danos
sofridos.
Desta forma, o legislador inseriu no conceito de consumidor a pessoa física
individual e também de maneira equiparada a coletividade, porém, desde que esteja
relacionada ao produto ou serviço contratado e seja seu destinatário final.
Sobre esse entendimento, Alvin (1991, p. 14) leciona:
[...] o industrial que adquire o produto para aplicá-lo como insumo em outro produto
de sua fabricação, como por exemplo: uma indústria de confecções que adquire certa
metragem de elásticos que serão utilizados na produção de peças de roupa, para este
caso específico, não realiza a compra na qualidade de consumidor, ou seja, como
destinatário final do objeto da relação de consumo, pois não atingiu aí, o produto, o
seu ciclo final, vez que passa a ser sucessivamente transformado ou implementado
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em outro produto, embora diferente daquele que já foi objeto não finalístico de
consumo.
Neste caso, conclui o autor dizendo que se socorre ao Código Cível e o Código
Comercial, no caso de vício do produto, tendo em vista a falta do elemento consumidor
caracterizado assim pelo destinatário final do produto adquirido e não pode se valer do CDC,
além do que existe ainda a falta da vulnerabilidade das partes contratantes, objeto de defesa e
proteção da lei 8.078/1990.
Vale ressaltar que, além da determinação contida no artigo 2º do CDC e seu
parágrafo único, o artigo 29 do mesmo codex estabelece que “para os fins deste capítulo e do
seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às
práticas nele previstas” (BENJAMIM, 2007, p. 263).
O legislador não limitou o consumidor como individual ou coletivo, que adquire
produtos ou serviços para o consumo final, mas equiparou-o àquelas pessoas que estão
expostas às práticas previstas no código.
Como no artigo 2º, aqui também podem ser caracterizadas de maneira individual ou
coletiva, tendo como único requisito a exposição à prática contida na legislação pertinente.
Sobre este entendimento, Alvin (1991, p. 16) ensina que:
[...] a exceção do artigo 29 esta relacionada com oferta, informação, publicidade
enganosa ou abusiva [...]; práticas comerciais e contratuais abusivas; cobrança de
dívidas e contratos de adesão, ou seja, valores que, à vista do sistema protetivo deste
código, merecem tratamento mais cuidadoso, no sentido de aumentar o âmbito da
proteção legislativa, em virtude de sua maior valoração e relevância em termos
sociais.
Diante disto, toda e qualquer pessoa legalmente constituída que adquire determinado
produto ou serviço, para si ou para outrem, individual ou coletivamente, ou ainda, que estejam
expostas às práticas abusivas, estará caracterizado o elemento consumidor nos termos do
CDC.
2.3 Fornecedor
Assim como a figura do consumidor foi intitulada como a parte vulnerável da relação
de consumo, é imprescindível a existência da figura do fornecedor, que é a parte mais forte da
referida relação, para que haja a verdadeira integração entre as partes contratantes.
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Para Plácido e Silva (apud FILOMENO, 2007, p. 47), “fornecedor, derivado do
francês „fournir, fornisseur‟, é todo comerciante ou estabelecimento que abastece, ou fornece,
habitualmente uma casa ou um outro estabelecimento dos gêneros e mercadorias necessários a
seu consumo”.
A respeito do artigo 3º, caput, do CDC, Lisboa (2000, p. 297) leciona que:
[...] não se limita à noção de fornecedor ao fabricante, ao produtor ou ao
comerciante. Fornecedor é o gênero, do qual são espécies, entre outros: o fabricante,
o produtor, o montador, o criador, construtor, o transformador, o importador, o
exportador, o distribuidor, o comerciante, enfim, todo aquele que, de qualquer
forma, mantém atividade de transmissão de produtos ou serviços no mercado de
consumo.
Ainda, segundo Alvin (1991, p. 17):
Neste artigo 3º, tenciona-se estabelecer a maior abrangência possível para o conceito
de „fornecedor‟, ou seja, o sujeito de direitos que atua no pólo oposto ao do
consumidor, ou, que integra o conjunto de pessoas que compõem ou podem compor
este pólo oposto.
Com o mesmo entendimento, para Filomeno (2007, p. 47), são considerados
fornecedores todos quantos propiciem a oferta de produtos e serviços no mercado de
consumo, de maneira a atender às necessidades dos consumidores, sendo “despiciendo
indargar-se a que título, sendo relevante, isto sim, a distinção que se deve fazer entre as várias
espécies de fornecedor nos casos de responsabilização por danos causados aos
consumidores.”
E conclui dizendo que a condição de fornecedor está intimamente ligada à atividade
de cada um e desde que coloquem aqueles produtos e serviços efetivamente no mercado,
nascendo daí, ipso facto, eventual responsabilidade por danos causados aos destinatários, ou
seja, pelo fato do produto.
Fala-se ainda que com referência ao fornecedor, enquadra-se como tal aquela pessoa
física ou jurídica que desenvolve atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
serviços. Isto é, que de alguma forma coloca à disposição de outras, determinados bens ou
serviços mediante uma contrapartida que, como regra geral, é representada pela remuneração.
Em resumo, pode-se dizer que fornecedor é qualquer pessoa física, ou seja, qualquer
um que, a título singular, mediante desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma
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habitual, ofereça no mercado produtos ou serviços, e a jurídica, da mesma forma, mas em
associações mercantil ou civil e de forma habitual.
Estabelece o parágrafo 1º do artigo 3º do CDC, que produto é qualquer bem móvel
ou imóvel, material ou imaterial. Tem-se, que qualquer pode ser o produto, desde que seja o
objeto da relação de consumo.
Já o parágrafo 2º do mesmo artigo, estabelece que serviço é qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária,
financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Assim, conclui-se que qualquer que seja o produto ou serviço, objeto da relação de
consumo, inserido no mercado por pessoa física ou jurídica, que atua de forma habitual,
oferecendo-os ao consumidor, destinatário final destes, está diretamente sujeito às normas do
CDC.
2.4 A Vulnerabilidade do Consumidor
Como é cediço, o consumidor é a parte mais fraca e vulnerável da relação de
consumo, e, muito embora a Constituição Federal vise o livre mercado e a livre concorrência,
no próprio artigo 170, a defesa do consumidor foi indiscutivelmente relacionada como um dos
principais objetivos do Estado Brasileiro.
Coelho (2008, p. 206) alerta que:
[...] nas relações de consumo, o consumidor encontra-se em situação de
vulnerabilidade, e esclarece que a lei presume que o consumidor é vulnerável
perante o fornecedor não só em termos socioeconômicos, mas também sob o ponto
de vista do acesso e controle das informações (vulnerabilidade técnica) e negocial
(vulnerabilidade jurídica).
Seguindo este raciocínio, o entendimento destacado por Almeida (2002, p. 22)
admite que:
[...] a vulnerabilidade do consumidor está diretamente relacionada à desinformação,
ao excesso de propaganda com orientação desqualificada, falta de garantia e
seriedade por parte do fornecedor, entre outros diversos motivos que colocam o
consumidor em uma posição inferior aquele que, em suma, dita as regras de
consumo.
Tal preocupação estatal visa a estabelecer o equilíbrio necessário a qualquer
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harmonia econômica no relacionamento consumidor-fornecedor.
Dentro das perspectivas da Política Nacional de Relação de Consumo, coube ao
Estado o desenvolvimento de mecanismos para concretizar o objetivo esposado na
Constituição Federal, mais especificamente a determinação contida no artigo 5º, XXXII. Tais
mecanismos foram instituídos a fim de que os produtos e serviços colocados no mercado
atendessem às expectativas do consumidor. Com isso, nasce a lei n.º 8.078/1990 que
estabelece normas de proteção e defesa ao consumidor e a igualdade de negociação entre as
partes contratantes.
3 AS SOCIEDADES
Nasce uma sociedade quando duas ou mais pessoas, que têm como objetivo auferir
renda, ou seja, ganhar dinheiro com isso, unem-se com o propósito econômico.
O artigo 981 do CC/02 (Brasil, 2008) estabelece que:
Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, dos resultados. § único. A atividade pode restringir-se à realização
de um ou mais negócios determinados.
No tocante à constituição das sociedades, Gagliano e Pamplona Filho (2007, p. 212)
mencionam que “a sociedade é espécie de corporação, dotada de personalidade jurídica
própria, e instituída por meio de um contrato social, com o precípuo escopo de exercer
atividade econômica e partilhar lucro”.
Com muita propriedade, Gladston Mamede (2007, p. 6) sustenta que:
A contratação de sociedade implica a definição de obrigações recíprocas, ou seja, a
assunção por cada uma das partes do dever de contribuir para os esforços comuns de
concretização das metas econômicas visadas. O contrato de sociedade mostra-se
aqui distinto do contrato de associação, embora em ambos os casos se tenha o
ajustamento, livre e consciente, como exigido pelo artigo 5º, XX, da Constituição da
República, de um grupo juridicamente regulamentado. Com efeito, como previsto no
artigo 53, parágrafo único, do Código Civil, „não há, entre os associados, direitos e
obrigações recíprocos‟.
O contrato de sociedade encontra-se conceituado conforme descrito no artigo acima,
e está composto, segundo Gladston Mamede (2007, p. 6) pelos seguintes elementos: “(1)
ajuste de vontade; (2) pluralidade de pessoas; (3) definição de obrigações recíprocas; (4)
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finalidade econômica; e (5) partilha dos resultados.”
Observa-se que sem a vontade livre e consciente da pessoa, não há constituição
válida das obrigações assumidas, embora possam ser considerados outros tipos de obrigações.
Com relação à finalidade econômica e a partilha dos resultados, tem-se que
necessariamente toda união de pessoas, que visa à atividade como lucrativa, não importando a
ordem auferida para que se atribua uma elevação à importância inicial integralizada (lucros
sobre o capital investido), dividindo o resultado final entre as partes contratantes como
satisfação dos fins realizados.
Portanto, celebram contrato de sociedade duas ou mais pessoas, com fins lucrativos,
que se obrigam reciprocamente, com bens ou serviços, ao exercício de certa finalidade e a
partilha dos resultados.
Duas são as espécies de sociedade no direito brasileiro, a simples e a empresária.
3.1 Sociedades Simples e Empresárias
Respeitados os elementos que compõem uma sociedade, como mencionado acima,
importante ressaltar os dois subtipos, como sendo a sociedade simples e a empresária, o que
caracteriza seu objeto social.
Diante dos ensinamentos de Arnoldo Wald (2005, p. 80), tem-se que:
Com a unificação do direito obrigacional pelo novo Código Civil, mudou-se o
enfoque do comerciante para o empresário. Em relação às sociedades, por
conseqüência, abandonou-se a classificação das sociedades em civil e comercial,
passando-se a diferenciá-las de acordo com a atividade desenvolvida, denominando-
as sociedades empresárias e sociedade não-empresárias ou simples, adotando a
solução do direito italiano. Neste sentido o artigo aqui analisado estabelece que
empresária é a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria do
empresário, nos termos do artigo 966. Já as sociedades simples são assim
classificadas de maneira negativa, isto é, são aquelas que não se caracterizam como
empresárias.
Esta classificação diz respeito à essencial diferença de que apenas a sociedade
empresária pratica atos de comércio com fins lucrativos, enquanto a sociedade simples,
embora almeje lucros, não pratica atos de comércio, e sim atua na qualidade de profissionais,
ou seja, é através de seus conhecimentos técnicos e específicos que objetiva os fins
econômicos.
Maria Helena Diniz (2007, p. 258), ao escrever sobre esta classificação, diz que:
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A sociedade simples, por sua vez, é a que visa fim econômico ou lucrativo, que deve
ser repartido entre os sócios, sendo alcançado pelo exercício de certas profissões ou
pela prestação de serviços técnicos. [...] Mesmo que uma sociedade simples venha a
praticar, eventualmente, atos peculiares ao exercício de uma empresa, tal fato não a
desnatura, pois o que importa para identificação da natureza da sociedade é a
atividade principal por ela exercida (RT, 462:81). [...] visam lucro, mediante
exercício de atividade mercantil (RT 468:207), assumindo as formas de: sociedade
em nome coletivo; sociedade em comandita simples; sociedade em comandita por
ações; sociedade limitada; sociedade anônima ou por ações (CC/02, arts. 1.039 a
1.092, Lei N.º 11.101/2005, art. 96, § 1º).
Portanto, para se saber se uma sociedade é simples ou empresarial, basta verificar a
natureza a que ela se destina, ou seja, é simples quando a atividade está voltada aos sócios,
depende fundamentalmente dos atributos individuais destes, e, empresarial quando os hábitos
da sociedade são plenamente mercantis, independentemente das características subjetivas dos
mesmos.
Seguindo o raciocínio, Miguel Reale (2008) preleciona:
Tanto a sociedade simples como a empresária podem se constituir para prestação de
serviço, mas, a meu ver, na primeira, a palavra “serviço” corresponde à profissão
exercida pelo sócio. Na sociedade empresária, ao contrário, os serviços são
organizados tendo em vista a sua produção ou circulação, dependendo da finalidade
visada. É o que se dá quando uma empresa é organizada para prestação de serviços,
como, por exemplo, os de transmissão ou distribuição de energia elétrica, ou de
transporte.
Já Gladston Mamede (2007, p. 9), com grande senso prático, assevera:
[...] Nesse sentido, o artigo 982 do Código Civil esclarece que as sociedades podem
ser (1) empresárias ou (2) simples; as empresárias são aquelas que têm por objeto o
exercício de atividade própria de empresário sujeito ao registro, conforme a previsão
anotada nos artigos 966 e 967 do Código Civil; as demais são consideradas
sociedades simples.
E conclui dizendo que esta divisão, tendo por referência a estrutura empresarial ou
não da atividade, encontra uma exceção no parágrafo único daquele artigo 982, tomada pelo
tipo societário, ou seja, as sociedades por ações são consideradas empresárias e a sociedade
cooperativa é considerada simples.
Neste contexto, importante dizer que as sociedades visam fim econômico ou
lucrativo e têm autonomia patrimonial, uma vez que atuam em nome próprio e suas
existências são totalmente distintas das dos sócios.
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3.2 Sociedades de Pessoas e de Capital
O primeiro critério de classificação das sociedades empresárias é o que leva em conta
o grau de dependência da sociedade em relação às qualidades subjetivas dos sócios.
Segundo este critério, as sociedades podem ser de pessoas ou de capital.
Notadamente, não existe sociedade sem que haja o elemento dos sujeitos (sócios),
em um mínimo de dois, ou seja, toda sociedade será de pessoas, todavia, esta distinção diz
respeito aos deveres e obrigações para com a sociedade.
Coelho (2008, p. 25) assim ensina a respeito desta classificação:
As sociedades de pessoas são aquelas em que a realização do objeto social depende
mais dos atributos individuais dos sócios que da contribuição material que eles dão.
As de capital são as sociedades em que essa contribuição material é mais importante
que as características subjetivas dos sócios. A natureza da sociedade importa
diferenças no tocante à alienação da participação societária (quotas ou ações), à sua
penhorabilidade por dívida particular do sócio e à questão da sucessão por morte.
Para Gladston Mamede (2007, p. 65), a distinção destes dois grandes grupos diz
respeito ao animus que orienta as pessoas que se unem, e assim pondera:
[...] de um lado, verificam-se grupos que são formados em função das pessoas, ou
seja, sociedades cuja identidade do membro é um elemento vital. [...] De outro lado,
verificam-se grupos que dão menos importância para a identidade do sócio, estando
mais preocupados com o aporte de capital a bem da sociedade; justamente por isso,
não fazem distinção de quem será o sócio, desde que o capital seja integralizado e as
cláusulas do contrato social sejam respeitadas. No primeiro caso, fala-se em
sociedade de pessoas ou sociedade „intuito personae‟ (em função das pessoas); no
segundo caso, sociedade de capital („intuito pecuniae‟).
Isto posto, entendidas as classificações que norteiam as sociedades empresárias, ou
seja, quanto ao objeto social são sociedades simples ou empresárias; sejam quanto aos deveres
e obrigações para com a sociedade são classificadas como as de pessoas ou de capital, passa-
se a analisar as sociedades contratuais e institucionais.
3.3 Sociedades Contratuais e Institucionais
O segundo critério de classificação das sociedades empresárias é o que diz respeito
ao regime de constituição e dissolução do vínculo societário.
Nas palavras de Coelho (2008, p. 26):
15
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As sociedades contratuais são constituídas por um contrato entre os sócios. Isto é,
nelas, o vínculo estabelecido entre os membros da pessoa jurídica tem natureza
contratual, e, em decorrência, os princípios do direito dos contratos explicam parte
das relações entre os sócios. As institucionais também se constituem por um ato de
manifestação de vontade dos sócios, mas não é este revestido de natureza contratual.
Em decorrência, os postulados da teoria dos contratos não contribuem para a
compreensão dos direitos e deveres dos membros da sociedade.
Gladston Mamede (2007, p. 64), ao lecionar sobre as sociedades contratuais,
esclarece que “estabelece-se um contrato de sociedade, ou seja, um contrato social entre os
sócios, nele sendo preenchidos consoante dispostos nos artigos 46 e 997 do CC/02, bem como
estipulando-se outras cláusulas que as partes livremente pactuarem e que regularão a
existência da sociedade”.
E, no que diz respeito às sociedades institucionais, crava a seguinte idéia:
Em contraste, há as chamadas sociedades estatutárias ou sociedades institucionais.
Seus elementos de identificação e as regras específicas por meio das quais existem e
são administradas estão definidas em estatutos e não em contratos. O estatuto,
embora reflita o conjunto das normas que orientam a existência e o funcionamento
da pessoa jurídica, não se apresenta como um contrato, não registrando obrigações
que tenham sido assumidas entre as partes nomeadas e qualificadas no instrumento.
[...] Os instituidores são aqueles que acolheram ao chamado para instituição da
pessoa jurídica, sendo aceitos para tanto, e que deliberam as regras que orientarão a
existência e o funcionamento da pessoa jurídica; o resultado dessa assembléia será
convertido em estatuto, sendo devidamente registrado.
E conclui que “embora devam estar ali nomeados e qualificados os fundadores, não
se faz necessário listar todos os associados (nas associações), cooperados (nas cooperativas)
ou acionistas (nas sociedades por ações)”.
Portanto, fica nítido entre as sociedades contratuais e as institucionais: naquelas as
partes estão reciprocamente obrigadas entre si, através de um contrato de sociedade estipulado
entre elas pela vontade livre e consciente; ao passo que nestas, não há contrato, e sim, um
estatuto social e as partes não estão interligadas reciprocamente, mais sim perante a sociedade
empresária.
4 SOCIEDADE COOPERATIVA
Instituída a partir do século XIX, na Inglaterra, onde trabalhadores que migraram
para as cidades viram a necessidade de unir-se para adquirirem alimentos mais baratos.
Cansados dos fartos trabalhos e má remuneração, agravados através dos efeitos causados pela
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revolução industrial, o cooperativismo ganhou notável importância entre os homens.
Para Waldírio Bulgarelli (1961, p. 55):
O cooperativismo surge como a realização de um movimento de revolta do mais
fraco econômica e socialmente contra o seu opressor; o consumidor cansado de ser
explorado pelo comerciante, resolveu, em uma revolta pacífica, substituir-se ao seu
algoz, e extinguir o lucro da operação.
Com essa finalidade, entende-se que cooperativismo é a união entre pessoas que
possuem os mesmos objetivos, e que almejam a satisfação de necessidades comuns.
Conforme Walmor Franke (1973, p. 11), no conceito de cooperativa, deve-se sempre
levar em “consideração a defesa e a melhoria da situação econômica dos cooperados, através
da obtenção dos mais baixos custos nos produtos ou serviços de que necessitam.”
Neste entendimento, Ademar Schardong (2003, p. 81) faz o seguinte comentário:
Diante do incontestável objetivo geral das sociedades cooperativas, o legislador
constitucional brasileiro, quando da elaboração da Constituição Federal de 1988,
assegurou, em diversos dispositivos (art. 5º, XVII, XVIII, XX, XXI; art. 174, § 2º -
CF/88) o direito à sociedade de se organizar em sociedades cooperativas, cabendo ao
Estado apoiá-las e incentivá-las.
A sociedade cooperativa tem como base o princípio da solidariedade, e firma-se
através da união de pessoas, com finalidade econômica, porém sem almejarem lucro. Neste
entendimento, Gladston Mamede (2007, p. 605) ensina que “nas sociedades cooperativas, em
fato, há uma finalidade econômica; mas, não há finalidade de lucro.”
Tendo sua posição ideológica fundada na solidariedade, desde os tempos mais
remotos, o professor Hanz-Jürgen Seraphim (apud FRANKE, 1973, p. 7), com maestria
ensina que:
O mais alto princípio ao qual se subordina, inalteravelmente, a ação cooperativa [...]
é o de que a cooperativa não existe para explorar serviços no seu próprio interesse,
mas para prestá-los desinteressadamente aos seus membros, os cooperados. Essa
atitude básica pressupõe um ideário socioeconômico, a que se tem chamado, com
muito acerto, de solidarismo, entendido como expressão de um comportamento
comum em que o interesse da cooperativa se identifique com o do cooperado. É
exatamente esse ideário que distingue as cooperativas, por forma inequívoca, de
outras orientações econômicas, tais como o individualismo lucrativista e o
coletivismo comunista, e, bem assim, do altruísmo econômico.
Solidificada neste princípio básico, entende-se como sociedade cooperativa a união
de pessoas que se obrigam entre elas, com o objetivo econômico, porém sem fins lucrativos.
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Muito embora o artigo 3º da Lei Cooperativista mencione que celebram contrato de
sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou
serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de
lucro, assevera-se que as cooperativas não são contratuais, e sim institucionais, pois, por força
do artigo 14 e seguintes do mesmo dispositivo legal, devem ser constituídas por deliberação
da Assembléia Geral dos fundadores, constantes da respectiva ata ou por instrumento público.
Com isso, tem-se que as cooperativas são sociedades de pessoas, com forma própria,
de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados,
distinguindo-se das demais sociedades, nos termos do artigo 4ª da Lei n.º 5.764/1971 e pelas
seguintes características: adesão voluntária; variabilidade de capital, representado por quotas-
partes; limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado; inacessibilidade
de quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; singularidade de voto; quorum
para o funcionamento e deliberação de assembléia geral baseado no número de associados e
não do capital; retorno das sobras do exercício proporcionalmente às operações realizadas
pelo associado; indivisibilidade do fundo de reserva e de assistência técnica educacional e
social; neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; prestação de
assistência aos associados; área de admissão de associados limitada às possibilidades de
reunião, controle, operações e prestação de serviços.
Do citado dispositivo legal instituem-se as características diferenciadoras das demais
sociedades mercantis.
Vergílio Frederico Périus (apud MEINEN, 2002) ensina que:
O associado é dono da cooperativa, não seu cliente, daí ser fácil entender que lhe
cabe cobrir os custos operacionais da cooperativa [...]. A cooperativa, portanto, é um
braço alongado do associado, de tal forma que sócios são a cooperativa e esta só tem
razão de existência se eles a querem manter.
As cooperativas são sociedades simples, independentemente de seu objeto, por força
do artigo 982, § único do CC/02, e justamente por isso não estão sujeitas a falência. Observa-
se a isso que as cooperativas são definidas por lei especial (lei n.º 5.764/1971) e
subsidiariamente aplicam-se os artigos 1.093 a 1.096 do CC/02, no qual admitem-se ainda, no
que a lei for omissa, as disposições referentes à sociedades simples (v.g. arts. 997 a 1.038 do
CC/02), respeitadas as características estabelecidas no art. 1094 do mesmo diploma legal.
Efetivamente, revestiu-se da maior importância a norma do artigo 5º, inciso XVIII da
Constituição Federal de 1988 que garantiu a independência do direito cooperativo.
18
Revista do Direito Privado da UEL – Volume 2 – Número 3 – www.uel.br/revistas/direitoprivado
Arnoldo Wald (2005, p. 603) assim leciona:
A cooperativa é, no Brasil, sociedade simples com características próprias, em que
assume especial realce o espírito da mutualidade, equivalente à reciprocidade das
prestações entre a cooperativa e o cooperado, em contraprestação ao cunho
eminentemente capitalista das demais sociedades comerciais.
Tem-se que a cooperativa é considerada sociedade simples, por força de lei, e trata-se
de pessoas que, diante dos fins comuns, unem-se para promover a defesa de suas economias.
Dá-se a sociedade cooperativa o seu caráter de sociedade de pessoas, devido à
contribuição pessoal máxima dos seus associados (cooperados), a qual é muito maior do que o
das demais sociedades.
Neste diapasão, Walmor Franke (1973, p. 13) assevera:
A cooperativa, porém, se distingue conceitualmente das demais organizações por um
traço altamente característico: enquanto nas empresas não-cooperativas a pessoa se
associa para participar dos lucros sociais na proporção do capital investido, já na
cooperativa a razão que conduz à filiação do associado não é a obtenção de um
dividendo de capital, mas a possibilidade de utilizar-se dos „serviços‟ da sociedade
para melhorar o seu próprio „status‟ econômico.
E conclui dizendo que para isso “impõe-se que o sócio da cooperativa seja, ao
mesmo tempo, o seu usuário ou cliente.”
Para Waldírio Bulgarelli (1961, p. 58):
O cooperativismo atua na ordem econômica, trazendo um sentido altamente social.
A alguns tratadistas mais atilados não passou despercebido esse aspecto tão
importante da atividade cooperativista, e na análise da sua natureza intrínseca,
ressaltaram-no, para indicar, principalmente, a predominância do fator social sobre o
econômico, fato esse que distancia o cooperativismo do capitalismo.
Diante de todo o exposto, apresentam-se as cooperativas como uma específica
categoria de sociedade, que enseja novos tipos de relações jurídicas com seus cooperados,
principalmente sua atuação e operacionalidade distinta das demais sociedades, com objetivos
e características próprias.
4.1 Ato Cooperativo
A cooperativa é uma sociedade de natureza simples, criada por Lei Federal n.º
19
Revista do Direito Privado da UEL – Volume 2 – Número 3 – www.uel.br/revistas/direitoprivado
5.764/1971, que define a política nacional do cooperativismo e institui o regime jurídico das
sociedades cooperativas, e possuem características próprias, distinta das demais sociedades.
Visto isto, destaca-se que o ato cooperativo está muito bem descrito no artigo 79 da
Lei 5.764/71, in verbis:
Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus
associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associadas,
para a consecução dos objetivos sociais. Parágrafo único. O ato cooperativo não
implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou
mercadoria.
Seguindo o raciocínio Gladston Mamede (2007, p. 613) assim define o ato
cooperativo:
[...] aquele praticado (1) entre a cooperativa e seu cooperado, (2) entre os
cooperados e a cooperativa e (3) entre as cooperativas entre si, quando associadas,
para a consecução dos objetivos sociais – não implica operação de mercado, nem
contrato de compra e venda de produto ou mercadoria. É o ato jurídico no âmbito
das empresas e, mesmo, das sociedades simples.
Tem-se que se trata de negócios específicos, vinculados e subordinados aos objetivos
sociais, praticados pelos sócios com as suas sociedades e que não constituem operação de
mercado nem compra e venda.
A respeito dos elementos essenciais do ato cooperativo, Bellini Júnior (1998, p. 5)
ressalta:
Primeiramente, cumpre ressaltar que, por ocasião do I Congresso Continental de
Direito Cooperativo (Venezuela, 1969), os participantes consolidaram, através da
Carta de Mérida, os elementos essenciais do ato cooperativo, que permitem sejam
estes distinguidos de outros atos jurídicos: a) sujeitos: associado e cooperativa,
constituída e funcionante de acordo com os princípios cooperativos universalmente
aceitos; b) objeto: de acordo com os fins de uma cooperativa; c) serviço: sem
intenção de lucro.
E conclui:
Assim, sob a influência desse Congresso, em 16 de Dezembro de 1971 foi
promulgada a Lei n.º 5.764/71, dispondo em seu art. 79 que os atos cooperativos são
unicamente os realizados entre a cooperativa e os associados ou entre as próprias
cooperativas, quando associadas. Assenta também a norma que o ato cooperativo
deve ser realizado na consecução dos objetivos sociais e não implica operação de
mercado, nem contrato de compra e venda de produtos e mercadoria.
20
Revista do Direito Privado da UEL – Volume 2 – Número 3 – www.uel.br/revistas/direitoprivado
Permite-se dizer que o ato cooperativo é aquele praticado entre os sujeitos
instituidores da sociedade cooperativa, com objetivos comuns e praticados sem a qualquer
estimativa de lucros.
Neste aspecto, Rose (2008, p. 49) assevera que:
O conjunto de ações que uma Cooperativa realiza, com seus associados, prestando a
eles o serviço que eles, associados, procuraram na Cooperativa quando se
associaram, serviço que não os diferencia da qualidade de associados, por serem
clientes, este serviço é o que a lei chama de ato cooperativo. Ato que não é lucrativo
e cuja realização não implica, por expressa disposição legal, operação de mercado
ou contrato de compra e venda do produto, serviço ou mercadoria.
Portanto, todo o ato praticado entre os mencionados sujeitos, sem intenção de lucros,
estará caracterizado o ato cooperativo nos termos da legislação em comento.
No entanto, alguns aspectos devem ser analisados, tendo em vista que existem atos
em que não aparecerá o sujeito cooperado, e sim aqueles chamados não-cooperados, distintos
da relação cooperativista.
4.1.1 Atos não cooperativos intrínsecos
Sabe-se que o ato cooperativo é aquele praticado entre os sujeitos incorporados na
relação – cooperado/cooperativa - e cooperativas entre si quando associadas. No entanto, a de
se ressaltarem os dois subtipos de atos para uma melhor compreensão sobre o tema.
Ao se referir aos atos não cooperativos intrínsecos, diz-se daqueles relacionados a
negócios em que são inerentes aos objetivos da sociedade, ou seja, fins comuns entre os
associados (cooperativa/cooperado).
Bellini Júnior (1998, p. 8) preleciona que são os atos que a cooperativa perfaz com
terceiros no “atendimento de seu objetivo social, sendo meio ou instrumento por intermédio
do qual a cooperativa se coloca na posição de poder realizar aquelas operações internas que
dizem respeito à prestação de serviços aos sócios”.
Os atos não cooperativos intrínsecos, como aqueles de contratar ou demitir
empregados e compra de equipamentos, são em busca de atender os fins sociais da sociedade
cooperativa e por sua vez não visam lucros, e, sim, beneficiar os seus associados
(cooperados).
4.1.2 Atos não cooperativos extrínsecos
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Os demais atos praticados pela sociedade cooperativa geram lucros, todavia não
podem ser distribuídos aos seus associados, pois estaria ferindo a própria finalidade atribuída
a ela.
Assim, têm-se na legislação especial cooperativista, nos seus artigos 85 a 88, as
operações com não associados.
Estes artigos estabelecem o seguinte – in verbis:
Art. 85. As cooperativas agropecuárias e de pesca poderão adquirir produtos de não
associados, agricultores, pecuaristas ou pescadores, para completar lotes destinados
ao cumprimento de contratos ou suprir capacidade ociosa de instalações industriais
das cooperativas que as possuem.
Art. 86. As cooperativas poderão fornecer bens e serviços a não associados, desde
que tal faculdade atenda aos objetivos sociais e estejam de conformidade com a
presente lei. Parágrafo único. No caso das cooperativas de crédito e das seções de
crédito das cooperativas agrícolas mistas, o disposto neste artigo só se aplicará com
base em regras a serem estabelecidas pelo órgão normativo.
Art. 87. Os resultados das operações das cooperativas com não associados,
mencionados nos artigos 85 e 86, serão levados à conta do "Fundo de Assistência
Técnica, Educacional e Social" e serão contabilizados em separado, de molde a
permitir cálculo para incidência de tributos.
Art. 88. Poderão as cooperativas participar de sociedades não cooperativas para
melhor atendimento dos próprios objetivos e de outros de caráter acessório ou
complementar.
Nota-se que os atos mencionados nos artigos acima citados, tratam-se daqueles
praticados a não associados, mas sempre em atendimento dos próprios objetivos sociais.
Deste modo, como assevera Waldírio Bulgarelli (1961, p. 11) “considerar algumas
das categorias de cooperativas existentes, ou todas, simplesmente como sociedades
comerciais (mercantis), é negar a própria instituição cooperativa”.
Para a instituição da cooperativa, calcada no princípio da solidariedade e objetivos
comuns entre os associados, sem a finalidade lucrativa, não há que se falar em atos praticados
que fujam destes conceitos.
A relação cooperativa com o mercado em geral está relacionada indiretamente ao que
estabelece a legislação, ou seja, os atos não cooperativos extrínsecos estão indiretamente
correlacionados com seus objetivos sociais.
Há uma diferenciação entre os objetivos sociais mencionados com a causa final da
relação, o que neste último está afastada qualquer menção. A causa final dos atos sempre será
analisada para o fim a que se destina, porém no caso em específico – atos cooperativos à luz
do artigo 79 da Lei Federal n.º 5.764/71 – não se argumenta para que serve o ato, e sim qual é
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o objetivo alcançado por ele.
Nas palavras de Walmor Franke (apud BELINI, 1998, p. 9):
O fim da cooperativa é a prestação de serviços aos associados, para a melhoria do
seu status econômico [...]. Objeto do empreendimento cooperativo é o ramo de sua
atividade empresarial; é o meio pelo qual, no caso singular, a cooperativa procura
alcançar o seu fim, ou seja, a defesa e melhoria da situação econômica do
cooperado. A tais atos, sob a óptica das sociedades cooperativas, denominamos atos
não-cooperativos extrínsecos. Porém, nada mais são do que atos comerciais ou civis,
dependendo, para seu enquadramento, de suas particularidades. (sic)
O referido autor, com muita clareza, ao mencionar sobre a natureza dúplice da
cooperativa; os atos cooperativos e as diversas espécies de negócios realizados pela
sociedade, preleciona:
Já se acentuou que o fim da cooperativa não se confunde com o seu objeto. O fim é a
promoção da defesa ou fomento da economia dos cooperados, mediante a prestação
dos serviços a que se referem os estatutos. O objeto é a atividade empresarial
desenvolvida pela cooperativa para a satisfação daquele fim, ou seja, a melhoria do
„status‟ econômico dos sócios.
E complementa alertando que o interesse do cooperado e o da cooperativa obedecem
à mesma causa final, ou seja, a cooperativa visa servir o associado (cooperado) e isso é
recíproco, sempre em busca de seus objetivos.
Diante disto repete-se a idéia de Pontes de Miranda (apud FRANKE, 1973) que, com
maestria diz “que nesse caso, o interesse em ser comum o fim, faz ser comum o interesse”.
Observa-se que mesmo os atos cooperativos praticados entre cooperados e
cooperativa necessitam de negócios relacionados com terceiros, por exemplo: um cooperado
produtor de soja que entrega sua produção para ser vendida pela cooperativa, necessita de
negócios com terceiros no mercado para a definitiva execução do ato (chamado atos não
cooperativos extrínsecos).
Muito embora estes atos dizem respeito a operações de mercado (mercantil), o lucro
almejado nestes negócios serão aplicados em benefício dos cooperados e da própria sociedade
cooperativa.
Portanto, os atos não cooperativos extrínsecos também têm por finalidade os
objetivos sociais da sociedade, e, embora haja a obtenção de algum lucro, devem ser aplicados
nas melhorias da própria sociedade e em benefício dos seus associados, dentro do que
estabelece a função social da empresa.
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5 DA INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR AO ATO
COOPERATIVO
Como já visto, entende-se que consumidor é “qualquer pessoa física ou jurídica que,
isolada ou coletivamente, contrate para consumo final, em benefício próprio ou de outrem, a
aquisição ou a locação de bens, bem como a prestação de um serviço”, e ainda “as pessoas
expostas a informações ou publicidades enganosas, sujeitas às cláusulas em formulários-
padrão de contratos de adesão, bem como as que já os firmaram” (FILOMENO, 2007, p. 32 e
46).
No tocante ao elemento fornecedor, diz-se que qualquer que seja o produto ou
serviço, objeto da relação de consumo, inserido no mercado por pessoa física ou jurídica, que
atua de forma habitual, oferecendo-os ao consumidor, destinatário final destes, está
diretamente sujeito às normas do CDC.
Para que esteja caracterizada a relação de consumo, é imprescindível a ligação
através da ação do sujeito elementar consumidor ao outro sujeito elementar fornecedor, o qual
fornece os bens para a satisfação final da relação, ou seja, o consumo.
Observa-se a tudo isto que a cooperativa não tem natureza mercantil, tão pouco é
fornecedora de produtos ou serviços aos seus associados (cooperados), conforme disciplina o
CDC.
Não obstante, o cooperado também não é consumidor nos termos do diploma legal, o
que de per si já afasta a aplicação do CDC ao ato cooperativo, pois não se trata de relação de
consumo.
No tocante à hipossuficiência das partes, vale ressaltar que o cooperado não está
fragilizado ou vulnerável aos atos praticados pela sociedade cooperativa, devido ao fato deste
ser o sócio e cliente ao mesmo tempo, amparado pelo estatuto social pelo qual aderiu.
Ademar Schardong, ao lecionar sobre Cooperativa de Crédito – Instrumento de
Organização Econômica da Sociedade, ressalta com veemência que “os atos cooperativos
decorrem da condição de proprietário e usuário que ostenta o cooperado”. E conclui da
seguinte forma: “Se o ato cooperativo é praticado pelo sócio, através da cooperativa,
utilizando-a como instrumento da sua atividade principal, é razão suficientemente forte para
afastar a incidência do CDC” (SCHARDONG, 2003, p. 95).
Assim entendem sobre o tema os doutrinadores Enio Meinen, Jefferson Nercolini
Domingues e Jane Aparecida Stefanes Domingues (2002, p. 90-91), nos seguintes termos:
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Portanto, a cooperativa não se confunde com as demais sociedades financeiras de
natureza mercantil. As sociedades são constituídas para „prestarem serviços aos
próprios associados‟, veiculando o aspecto da dupla qualidade pela qual o associado
exerce ao mesmo tempo o papel de dono e usuário das cooperativas, circunstância
exposta com clareza pelo Prof. Walmor Franke, In „Dicionário das Sociedades
Cooperativas‟, Editora Saraiva, 1973, p. 13 e 14, in verbis; „A cooperativa, porém,
se distingue conceitualmente das demais organizações por um traço altamente
característico: enquanto nas empresas não cooperativas a pessoa se associa para
participar dos lucros sociais na proporção do capital investido, já na cooperativa a
razão que conduz à filiação do associado não é a obtenção de um dividendo de
capital, mas a possibilidade de utilizar-se dos „serviços‟ da sociedade para melhorar
o seu próprio „status econômico‟‟ (pág. 13). Portanto, inexiste a possibilidade
jurídica para utilizar-se da aplicação do CDC na relação associado X cooperativa,
porque a cooperativa por ser de pessoas representa o interesse destes associados. Em
se tratando de cooperativismo, regido pela Lei 5.764/71, todos os cooperados são,
em verdade, os proprietários, os donos da cooperativa. É cediço que, o objetivo geral
do cooperativismo é o bem comum de todos os associados, que nesta sociedade não
há lucro, mas sim o rateio das sobras e prejuízos por todos. Tais aspectos, peculiares
ao cooperativismo, demonstram cabalmente que não se trata de relação de consumo
e sim mutualidade. A relação cooperativista é distinta das relações de consumo que
são provenientes dos atos de comércio, da intermediação do lucro.
Em complemento esclarecem que:
Deste modo, conclui-se que a principal característica da sociedade cooperativa é a
inexistência de um interesse próprio, distinto dos seus membros, o interesse é
coletivo, que vai ao encontro do próprio objetivo do Código de Defesa do
Consumidor, pois sua natureza societária visa a salvaguardar o interesse coletivo.
Não é por outra razão que a posição de sócio vem definida como uma posição
dúplice, de sócio e proprietário a um só tempo.
Sobre o referido tema, o entendimento esposado pela Relatora Desembargadora
Anny Mary Kuss (2000), do Tribunal de Alçada do Paraná, que mantém o posicionamento até
os dias de hoje, consolidou o não acolhimento do CDC ao ato cooperativo:
[...] Especialmente no que se refere ao § 1º do artigo 52, não há aplicabilidade ao
caso presente, uma vez que, por ser uma das partes cooperativa, a relação jurídica
daí decorrente refere-se à concessão de fomento à atividade agrícola do recorrente,
atividade esta que se encontra inserida em fase intermediária da cadeia de produção,
ou seja, não se trata de relação jurídica envolvendo em um de seus pólos o
consumidor final, não podendo ser considerado o apelante como consumidor, nos
termos do artigo 2º do CDC.
No que diz respeito aos atos não cooperativos extrínsecos, parece oportuno o
entendimento de que os objetivos sociais da cooperativa estão além das simples operações de
mercado, e tendo em vista a finalidade mútua do cooperativismo para com seus associados,
mesmo na relação cooperativa/terceiros, somente em alguns tipos de atos não cooperativos
que poderiam incidir o CDC, devido às peculiaridades deste tipo societário.
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Walmor Franke (1973, p. 24), ao mencionar sobre os negócios praticados pela
cooperativa em busca dos objetivos comuns, assevera:
[...] nas cooperativas de produtores, o negócio interno, isto é, a entrega dos produtos
pelo cooperado para serem vendidos pela cooperativa („in natura‟ ou transformados)
necessita, para a sua total execução, de outro negócio, o negócio-meio, consiste na
venda do produto pela cooperativa no mercado, com reversão do respectivo preço,
„minus‟ despesas, ao sócio.
Chega-se ao entendimento de que qualquer que seja o ato – ato cooperativo
propriamente dito, intrínseco ou extrínseco – e desde que praticado entre cooperados e
cooperativas entre si, na busca da finalidade mútua dos associados e da própria sociedade,
para que haja a aplicabilidade do CDC, será necessária a análise de cada caso concreto.
Na lição de Walmor Franke (1973, p. 26), depreende-se que os negócios internos
entre cooperados e cooperativa, com a finalidade comum, não participam da natureza
lucrativista das operações de mercado, já que são eles regidos pelo princípio de identidade ou
da unidade do fim e porque não existe mercado entre a cooperativa e o associado no que diz
respeito àqueles negócios.
Para a existência da relação de consumo em atos praticados pela sociedade, não
haverá entre um dos pólos da relação a cooperativa ou o cooperado (associado), e sim um
terceiro totalmente estranho à sociedade que adquire produtos ou serviços para o consumo
final. Ademais, necessário se faz a análise de cada caso concreto e suas peculiaridades.
Nas palavras de Walmor Franke (1973, p. 28):
Ainda que a prática de negócios com terceiros a cooperativa atingir, melhormente, o
seu fim, qual seja o de incrementar o „status‟ econômico dos sócios e se estes, por
outro lado, não se beneficiam dos lucros auferidos (ou porque os mesmos revertem
sob a forma de „bônus‟ aos terceiros contratantes ou porque se destinem a atividades
de interesse coletivo), apaga-se, inegavelmente, o caráter comercial daquelas
operações, que passam a conviver, sem contradição, dentro dos fins do
empreendimento cooperativo, com os princípios aludidos.
E complementa:
A distribuição, entre associados, do lucro auferido em operações especificamente
cooperativas (negócios internos ou negócios-fim) com estranhos, implicaria a
descaracterização da cooperativa, atribuindo-lhe finalidades capitalistas. Se esse
lucro, porém, não for partilhado entre os sócios, mas levado a fundo indivisível
destinado ao fomento da educação ou a fins de assistência social etc., isto é, a um
fundo cuja aplicação envolve interesses de utilidade coletiva, não há negar que a
cooperativa não só se despoja da missão fundamental que lhe cabe auxiliar as
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economias associadas, mas ainda se investe do exercício de funções que
normalmente incumbem ao poder público.
Ademais, a cooperativa, quando da relação jurídica com seus associados, não faz o
papel de fornecedora de produtos e serviços, e sim distribuidora de tais bens e sempre em
busca de melhorias econômicas e sociais comuns.
Guimarães e Cunha (apud DAL COL, 2008, p. 11) assim destaca o ato cooperativo:
Nas operações internas existe, apenas, a prestação de serviços, em suas inúmeras
modalidades, que a lei houve por bem denominar de „atos cooperativos‟. Muito
embora, na prática, seja comum ouvir-se que o associado „vendeu‟ sua produção à
cooperativa, ou dela „comprou‟ determinado bem, efetivamente ela não realizou
essas operações de compra e venda, mas, simplesmente, alguns „atos cooperativos‟,
de vez que, havendo apenas o propósito de prestação de serviços, inexistiu o fato
mercantil da transação.
Com isso, entende-se que não há aplicação da norma consumerista aos atos
cooperativos, tendo em vista que não se trata de contrato de compra e venda e nem operação
de mercado, por força de lei especial, e ainda estão afastados os elementos consumidor e
fornecedor da relação.
Ademais, nos ensinamentos de Enio Meinen, Jefferson Nercolini Domingues e Jane
Aparecida Stefanes Domingues (2002, p. 89):
[...] tais sociedade possuem disciplina própria e específica, inexistindo relação de
consumo, mas sim, uma sociedade com características diferenciadas das demais.
Deve-se obedecer ao disposto no Estatuto, onde estão catalogados todos os direitos e
obrigações do associado; vale dizer, o associado pode demitir-se da cooperativa
livremente, até porque „ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado‟ (Constituição Federal, art. 5º, XX), mas, a sua retirada se dá
nos termos previamente estabelecidos.
O Desembargador Relator Fernando Vidal de Oliveira (2002), ao fundamentar sua
decisão, assim conclui o tema:
O CDC somente se aplica, como é evidente, aos contratos de consumo, em que haja
a caracterização tanto da figura do fornecedor quanto da do consumidor. No caso
dos autos, está diante de típico contrato empresarial, em que inexiste a relação de
consumo, não se podendo presumir a hipossuficiência de qualquer das partes. Neste
contexto, a força vinculante dos contratos deve ser atendida, como mecanismo de
manutenção de segurança nas relações negociais. [...] o dinheiro obtido com a
operação discutida nos Embargos à Execução foi destinado à atividade agrícola, de
forma que não está caracterizada uma relação de consumo por ausência de
consumidor.
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Diante disto, para que haja relação de consumo nos atos praticados entre cooperados
e cooperativas e entre estas em si, é necessária a figura dos elementos constitutivos da relação
(fornecedor e consumidor), além de uma premissa maior, qual seja, a existência de uma
efetiva relação de consumo.
Ademais, via de regra, os cooperados não podem ser equiparados aos consumidores
perante a sua própria cooperativa, uma vez que atuam como sócios e clientes ao mesmo
tempo, nem esta última como fornecedora, pois é mero instrumento para chegar-se aos fins
comuns da própria sociedade, afastados das tipificações do CDC.
6 CONCLUSÃO
Houve, no mundo jurídico, muita discussão sobre a incidência ou não do CDC aos
atos praticados pelas sociedades cooperativas e seus cooperados (associados), chamados de
ato cooperativo.
Nota-se com o presente estudo que a norma consumerista pode ser aplicada quando
há efetivamente a existência de uma relação final (consumo) entre os sujeitos elementares
destacados no CDC, em seu amplo conceito e ainda, todos aqueles que estão de alguma forma
vulneráveis aos atos praticados pelos fornecedores de bens ou serviços estão sujeitos às suas
determinações.
A hipossuficiência na relação de consumo é entendida devido à vulnerabilidade do
consumidor e está diretamente relacionada à desinformação, ao excesso de propaganda com
orientação desqualificada, falta de garantia e seriedade por parte do fornecedor, entre outros
diversos motivos que colocam o consumidor em uma posição inferior aquele que dita às
regras de consumo, e através da incidência da norma consumerista as partes se tornam
equilibradas.
Por conta disso, verifica-se que o cooperado não está fragilizado ou vulnerável aos
atos praticados pela sociedade cooperativa, devido ao fato deste ser sócio e cliente ao mesmo
tempo, amparado pelo estatuto social pelo qual aderiu.
Ao estudar a sociedade cooperativa, observa-se a existência de particularidades que a
destaca dos demais tipos societários, tornando-a um tipo societário sui generis e que merece
atendimento sob uma visão da ordem especial.
Dá-se a sociedade cooperativa o seu caráter de sociedade de pessoas, devido à
contribuição pessoal máxima dos seus associados (cooperados), a qual é muito maior do que o
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das demais sociedades mercantis.
Além do disposto no § único do artigo 982 do CC/02, a atividade da sociedade
cooperativa é considerada sociedade simples, pois está voltada para os sócios, sendo
fundamentais a dedicação e os conhecimentos técnicos de cada um para o desenvolvimento da
atividade.
As sociedades cooperativas são constituídas por deliberação da Assembléia Geral
dos fundadores, constantes da respectiva ata ou por instrumento público e considerada de
natureza institucional e não contratual, conforme disciplina o artigo 3º da Lei 5.764/71. Os
cooperados estão interligados através do Estatuto Social, onde estão relacionados todos os
direitos e obrigações do associado (cooperado).
Além do mais, diante do princípio norteador cooperativo, ou seja, o da solidariedade,
todos os associados estão obrigados uns com os outros, sempre em busca da finalidade social,
cultural e em defesa de suas economias e não diretamente a sociedade cooperativa, pois esta
atua em benefício e interesse coletivo.
No tocante ao ato cooperativo e a incidência ou não do CDC, deve-se levar em
consideração cada caso concreto e suas peculiaridades.
Logo, os atos não cooperativos intrínsecos são os atos praticados pela cooperativa
com terceiros em atendimento aos seus objetivos sociais. Estes tipos de atos não geram
qualquer tipo de lucro para a sociedade, caso contrário, não estariam atendendo as finalidades
sociais da cooperativa, como por exemplo, a contratação de funcionários e colaboradores.
Os atos não cooperativos extrínsecos, como é certo, têm natureza comercial ou civil,
e possui, em essência, finalidade econômica de lucro. Todavia, tais lucros surgidos destes
tipos de atos não podem ser distribuídos aos cooperados, nem direta ou indiretamente, por
determinação expressa do artigo 24, § 3º e artigos 85, 86 e 88, todos da Lei 5.764/1971.
Sendo assim, os resultados oriundos da prática destes atos não cooperativos
pertencem à cooperativa e não ao cooperado, assim, apenas a estes tipos de atos não
cooperativos é que poderiam incidir o CDC.
Ressalte-se que o cooperado não é consumidor, a cooperativa não é fornecedora de
bens ou serviços, tão pouco são hipossuficientes uns aos outros, pois, como visto, o cooperado
faz o papel de sócio e cliente ao mesmo tempo, e a cooperativa é distribuidora dos bens e
serviços em busca da finalidade comum da sociedade, qual seja, a melhoria sócio-econômica
de seus associados.
Portanto, tem-se que não há que se falar em aplicabilidade do CDC ao ato
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cooperativo stricto sensu, pois, além de socorrer-se a finalidades recíprocas da sociedade, não
está caracterizada a relação final de consumidor, mas sim o vínculo societário entre cooperado
e cooperativa, ao passo que neste caso aplica-se a legislação especial cooperativista.
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