a inaplicabilidade da lei de execução penal e seus

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9 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Gustavo Portela Barata de Almeida A inaplicabilidade da Lei de Execução Penal e seus reflexos nos reclusos e egressos do cárcere em Sorocaba. DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Gustavo Portela Barata de Almeida

A inaplicabilidade da Lei de Execução Penal e seus reflexos

nos reclusos e egressos do cárcere em Sorocaba.

DOUTORADO EM DIREITO

SÃO PAULO 2008

10

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Gustavo Portela Barata de Almeida

A inaplicabilidade da Lei de Execução Penal e seus reflexos nos reclusos e

egressos do cárcere em Sorocaba.

DOUTORADO EM DIREITO

Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência

parcial para obtenção do título de Doutor em Direito

Processual Penal Pela Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo sob a orientação do Professor Catedrático

Hermínio Alberto Marques Porto.

SÃO PAULO

2008

11

Banca Examinadora

______________________________

______________________________

______________________________

______________________________

______________________________

12

Dedico à minha esposa Roberta e

aos meus filhos Luiz Gustavo

(sempre em meu pensamento) e a

Nathália.

13

AGRADECIMENTOS

Primeiro à Deus pela vida.

À minha esposa Roberta e minha filha Nathália que representam a paz e amor da

minha vida. Desculpas pelos momentos de ausência durante a elaboração da Tese.

Ao meu Orientador o Professor Hermínio Alberto Marques Porto pelo apoio e

auxilio durante a elaboração do presente trabalho e, acima de tudo pela lição de vida

e pelos ensinamentos de Processo Penal proferido no desenvolver de suas aulas.

À Professora Marleine Paula por estar sempre presente quando mais preciso.

Ao Professor Daniel Pontes por sua amizade e lealdade de sempre.

À José Eduardo Marcondes Machado, grande amigo e juiz da Vara de Execuções

Criminais da Comarca de Sorocaba pela autorização para realização da pesquisa e

sobretudo pelos ensinamentos durante as viagens para a PUC-SP quando juntos,

fizemos alguns créditos.

Ao gerente da FUNAP de Sorocaba, Sr. Adão, pelo apoio na realização da pesquisa.

Aos Diretores dos Presídios por possibilitarem à realização da Pesquisa, Sr Bonan,

Sr. Reginaldo, Sr. Cássio, Sr. Daniel e Sr. Márcio Coutinho.

14

RESUMO

O presente estudo originou-se com objetivo de se verificar a

aplicabilidade ou não das regras contidas na Lei de Execução Penal e os reflexos

desta inaplicabilidade - ou aplicabilidade parcial - na vida do recluso e egresso do

cárcere. O trabalho foi alicerçado em pesquisa de campo realizado junto ao Juízo

das Execuções Criminais de Sorocaba, diretores de presídios locais, reclusos e

egressos destes mesmos estabelecimentos prisionais. No primeiro capítulo traçamos

a evolução da pena e sua finalidade. Posteriormente no segundo capítulo analisamos

as principais regras contidas na LEP acerca da assistência de direitos assegurados

aos presos, bem como analisamos as atribuições destinadas aos órgãos da execução.

No capitulo terceiro apresentamos a efetiva pesquisa e, por fim no ultimo capitulo

traçamos um paralelo entre o estabelecido pela Lei e a realidade vivenciada no

cotidiano dos estabelecimentos prisionais. São aqui trazidos à colação diferentes

meios de confrontamento e prova donde podemos concluir haver uma diminuição

da finalidade e alcance das normas preceituadas na Lei de Execuções Penais, posto

a sua não-aplicabilidade por meio dos órgãos governamentais, de modo a ter-se

tornado “letra morta” dentro do ordenamento jurídico vigente.

Palavra chave: ressocialização, recluso, egresso.

15

ABSTRACT

The present research has been originated with the objective of verifying

the applicability or not of the rules contained in the Law of Penal Execution and the

reflexes of this inapplicability – or partial applicability – in the life of the cloistered

and the prison egress. The work was based on field researches done at Sorocaba’s

Criminal Execution’s Trial Court and with the local prison directors and the

cloistered and egresses of these prisons. In the first chapter we have outlined the

evolution of the penalty and its finality. In the second chapter we have analyzed the

main rules contained at the LEP (Law of Penal Execution) regarding the assistance

of the rights assured to the imprisoned, as well as analyzed the attributions destined

to the execution organs. On chapter three we presented the actual research and in

the last chapter we have outlined a parallel between what is established by law and

the reality experienced in prison quotidian. Different means of confrontation and

prove are brought to quote where we can conclude to be a reduction of the finality

and reach the norms asserted in the Law of Penal Execution, despite its non

applicability by means of the governmental organs in a way to become a “dead

letter” inside the current legal injunction.

Key words: resocialization, cloistered, egress.

16

RESUMEN

El presente estudio se originó con objetivo de se verificar a aplicabilidad

o no de las reglas contenidas en Ley de Ejecución Penal y los reflejos de esta

inaplicabilidad - o aplicabilidad parcial - en la vida del recluso y egreso de la

cárcel. El trabajo fue fundamentado en una investigación de campo realizado junto

al Juicio de las Ejecuciones Criminales de Sorocaba, directores de presidios locales,

reclusos y egresos de estos mismos establecimientos de presidiarios. En el primer

capítulo trazamos la evolución de la pena y su finalidad. Posteriormente en el

segundo capítulo analizamos las principales reglas contenidas en la LEP acerca de

la asistencia de derechos asegurados a los presos, bien como analizamos las

atribuciones destinadas a los órganos de la ejecución. En el capitulo tercero

presentamos a efectiva investigación y, por fin en el ultimo capitulo trazamos un

paralelo entre establecido por la Ley y la realidad vivenciada en el cotidiano de los

establecimientos de presidiarios. Son aquí traídos à colación diferentes medios de

confrontación y prueba donde podemos concluir haber una disminución de la

finalidad y alcance de las normas preceptuadas en la Ley de Ejecuciones Penales,

puesto a su no-aplicabilidad por medio de los órganos gubernamentales, de modo a

tornado “letra muerta” dentro de ordenamiento jurídico vigente.

Palabra clave: reinserción, recluso, egreso.

17

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1. A FUNÇÃO DA PENA.......................................................................................14

1.1.1 Escola Clássica....................................................................................14 1.1. 2 Escola Positivista Naturalista...............................................................20 1.1.3 Escola Normativa – Jurídica.................................................................24 1.1.4. O Finalismo..........................................................................................28 1.1.5 Pós-Finalismo........................................................................................31 1.2 Sistemas Penais........................................................................................37

1.2.1 Pensilvânico ou celular ..............................................................37 1.2.2 Auburniano.................................................................................37 1.2.3 Progressivo ................................................................................38

1.3. A Evolução das Sanções Penais .............................................................38 1.3.1 A idade antiga.............................................................................39 1.3.2 Idade media ...............................................................................40 1.3.3 As Penas no Direito Brasileiro...................................................41

2. A TEORIA ESTABELECIDA PELA EXECUÇÃO PENAL .............................42 2.1.Introdução................................................................................................42 2.2. Disposição Legal.....................................................................................43 2.3. Histórico da Legislação de Execução Penal............................................45 2.4. A Lei 7210/84 ........................................................................................46

2.4.1 Objetivo......................................................................................47 2.5. A Função das Prisões..............................................................................49 2.6. Estabelecimentos Penais.........................................................................50 2.7. Direitos Estabelecidos na Lei de Execução Penal...................................52 2.7.1 Assistência.............................................................................................53

2.7.2 A Assistência Material...............................................................53 2.7.3 Assistência Médica.....................................................................54 2.7.4 Assistência Jurídica....................................................................55 2.7.5 Assistência Educacional.............................................................56 2.7,6 Assistência Social.......................................................................57

2.8. Órgãos de Controle do Sistema Prisional................................................57 2.8.1 Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária...........57 2.8.2 Conselho Estadual de Política Criminal e Penitenciária............59 2.8.3 Juízo da Execução.....................................................................60 2.8.4 Ministério Público.....................................................................61 2.8.5. Conselho Penitenciário do Estado de São Paulo.......................62 2.8.6. Departamento Penitenciário Nacional.......................................63 2.8.7. Patronato....................................................................................64 2.8.8 Conselho da Comunidade...........................................................64

2.9. Comissão Técnica de Classificação........................................................69 2.10. Servidores do Sistema Penitenciário ...................................................65

2.10.1 Diretor .....................................................................................65 2.10.2 Agente Penitenciário................................................................65

3. O SISTEMA PENITENCIÁRIO DE SOROCABA ............................................67

18

3.1 Perguntas aos Detentos............................................................................70 3.2 Perguntas aos

Egresso.............................................................................100 3.3 Perguntas aos Diretores..........................................................................112 3.4 Perguntas ao Juiz da Execução..............................................................120

4. A INAPLICABILIDADE DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E SEUS REFLEXOS NOS RECLUSOS E EGRESSOS DO CÁRCERE EM SOROCABA...........................................................................................................122 4.1. A realidade.......................................................................................................122 4.1.1 Realidade do sistema paulista........................................................................123

4.2. A Função das Prisões............................................................................126 4.3. Estabelecimentos Penitenciários: características básicas......................127 4.4. O fracasso na Progressão das Penas......................................................130 4.5.

Assistência..............................................................................................................131 4.5.1 Assistência Material.................................................................131 4.5.2 Assistência Médica...................................................................132 4.5.3 Assistência Jurídica..................................................................134 4.5.4 Assistência Educacional...........................................................135 4.5.5 Assistência Social.....................................................................135

4.6. Ausência de Classificação.....................................................................136 4.7. Abusos...................................................................................................139 4.8. Órgãos de Controle do Sistema Prisional..............................................139

4.8.1. Juízo da Execução...................................................................140 4.8.2. Ministério Público...................................................................141 4.8.3. Patronato..................................................................................142 4.8.4. Conselho da Comunidade........................................................142 4.8.5. Comissão Técnica de Classificação........................................144 4.9. Servidores do Sistema Penitenciário..........................................144 4.9.1. Diretor.....................................................................................144 4.9.2. Agente

Penitenciário...............................................................146 4.10. Condições de vida e o impacto da superlotação.................................149 4.11. As Organizações Criminosas..............................................................150 4.12. Conseqüências da inaplicabilidade Lei de Execução Penal................154

CONCLUSÃO........................................................................................................161 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................167 ANEXO I– Estatuto do terceiro comando da capital (TCC) ..................................178 ANEXO II - Estatuto do primeiro comando da capital (PCC) ...............................181 ANEXO III - Estatuto do comando revolucionário brasileiro para a criminalidade. (CRBC) ..................................................................................................................183

19

INTRODUÇÃO

Vivenciamos hodiernamente a crise da Execução Penal, de um lado os

presos do sistema penitenciário que à cada dia se rebelam, seja por melhores

condições no cumprimento da pena, seja em represália às atitudes dos agentes

penitenciários ou pela luta à implementação dos direitos estabelecidos pela Lei de

Execução Penal que é omitido pelo Estado e, de outro lado temos a sociedade que,

vítima do alto índice de criminalidade crescente no Brasil, luta por maior segurança,

razão pela qual, o Estado, cedendo ao clamor popular e, sem responsabilidade

alguma para com os detentos objetivando tão somente solucionar o problema de

modo célere e desprovido de maiores comprometimentos com os princípios ínsitos

na Lei de Execuções Penais, como solução ao problema determina a continuidade

de prisões nos mesmos moldes dos presídios já existentes.

A polêmica assim suscitada em torno desta questão teve seu nascedouro

nas críticas dos estudiosos da Execução Penal, no sentido de que, a almejada

ressocialização do preso, pelo cárcere, jamais ocorrerá.

Por conseqüência, imprescindível é a realização de um estudo das normas

estabelecidas pela Lei de e Execução Penal e a verificação de seu cumprimento

chegando assim a conclusões acerca de meios e formas que vise à solução, ou ainda

que visem aclarar esta situação que ainda é vivenciada de modo tão dramático nos

dias atuais.

Para tentar alcançar tais soluções, necessário se faz que iniciemos nosso

estudo com a evolução dogmática da pena, partindo da Escola Clássica até

chegarmos ao pós-finalismo. Ainda nesta direção, analisaremos também a evolução

da pena no direito brasileiro.

Oportunamente, no segundo capítulo, partindo de uma evolução da Lei de

Execução Penal no Brasil chegaremos a atual Lei 7.210/84 onde, estudaremos os

20

principais o objetivo da nova lei.

Ainda em análise, serão examinados os principais direitos estabelecidos

na Lei de Execução como forma de atingir a ressocialização do preso e por

conseqüência seu retorno à sociedade. Estudaremos também os estabelecimentos

penais e a que se destinam, bem como, os órgãos de controle da execução penal e os

funcionários do sistema penitenciário.

Partindo-se desta premissa, iniciamos uma pesquisa de campo onde

foram ouvidos reclusos, egressos, diretores do sistema penitenciário e por fim, o

juiz da execução penal que, em seis pontos apresenta, a nosso ver, os principais

problemas atinentes à Execução da Pena. No capitulo em comento são entrevistados

em média 15% dos detentos dos presídios vinculados à Vara de Execução Criminal

de Sorocaba onde, nos termos das normas garantidas na lei de execução se

constatará acerca a possibilidade da ressocialização do detento por meio do cárcere.

Para tanto, os presos e diretores responderam, em média, trinta perguntas.

Neste momento descortinou-se para nós os principais problemas

enfrentados pelos detentos e egressos, bem como, sua vida dentro do sistema penal.

Analisamos a questão da super lotação e a individualização preconizada pelos

artigos sexto e oitavo da LEP. Contamos por quais unidades prisionais passaram os

detentos recolhidos nas unidades prisionais de Sorocaba e, por fim o impacto que a

prisão gera na sociedade.

Por derradeiro, no quarto e último capitulo restará explicitado o estudo

comparativo face o direito estabelecido no segundo capitulo deste estudo, e a

verdade apontada no capitulo terceiro do mesmo, apontando de forma material se as

normas asseguradas pela LEP estão sendo cumpridas e, frente ao demonstrado

apontamos o porquê de tal acontecimento. Em tempo, a verdadeira situação do

cárcere paulista e a atual função da prisão ficarão relatadas de forma integral, bem

como, as condições de vidas dos reclusos e sua conseqüência junto ao egresso.

21

Oportunamente analisaremos a efetiva participação dos órgãos da execução penal

no processo de execução da pena.

Em continuidade, abordaremos o crescimento e a atuação das

organizações criminosas nas unidades prisionais e, concluindo nosso trabalho,

apontaremos a conseqüência da efetiva participação no processo de ressocialização

do preso.

22

1. A FUNÇÃO DA PENA

1.1.1. Escola Clássica

A escola clássica teve como seus maiores percussores Carrara e

Beccaria1, e originou-se da filosofia grega antiga, do jusnaturalismo e do

contratualismo, tendo em sua característica elementar o racionalismo iluminista

antropocêntrico. Na realidade, não se tratou de um movimento organizado - a

denominação “Clássica” foi dada posteriormente pelos positivistas naturalistas -

mas foi a primeira tentativa de sistematização do direito penal.

Por conta destas características, o crime foi definido por Carrara2 como

um ente jurídico, uma contradição entre o fato humano e a lei, cometido

racionalmente, dentro do pressuposto do livre arbítrio humano – dentro do

pensamento iluminista, que encarava o homem como um ser livre e dotado de

inteligência, a liberdade de praticar o bem ou o mal funcionava como um axioma

fundamental.

Além disso, o delito era simplesmente uma modificação externa da

natureza, produzida por uma ação antijurídica e culpável, sendo o dolo e a culpa

componentes desta culpabilidade. Não havia qualquer necessidade de comprovação

da intenção do agente, o resultado era suficiente para a determinação do dolo, a

vontade humana de modificar a natureza. Assim, por exemplo, quando uma pessoa

subtrai algo pertencente a outra, não há espaço para nenhuma discussão: trata-se de

crime de furto, já que, pela lógica iluminista, é evidente que o agente optou - dentro

de seu livre arbítrio – por desrespeitar a norma, caso contrário não teria subtraído.

Tudo era analisado a partir da relação de causa e efeito: se houve uma conduta

humana, traduzida em um movimento muscular, que produziu um resultado típico,

houve o cometimento de um crime.

1 CARRARA Francesco. Programa do Curso de Direito Criminal – Parte Geral. Vol. I. Campinas: LZN, 2002 e BECCARIA Cesare. Dos delitos e das penas. 2ª edição. São Paulo: RT, 1997. 2 idem, p. 59 e seguintes.

23

Essa conceituação, muito embora bem simples e de fácil aplicação

prática, não é a mais adequada. Isso porque desrespeita senso comum, desprezando

totalmente a intenção do agente, concentrando toda a atenção no resultado

naturalístico, que não obstante a sua importância, certamente não é o único aspecto

a ser considerado. Também não podemos nos esquecer que tais princípios são muito

mais adequados às ciências exatas do que às humanas, uma vez que obstam

qualquer análise mais detida do caso concreto, transformando o juiz em um mero

aplicador das leis, trabalho que poderia ser facilmente realizado por um

computador3.

No que diz respeito à função da pena, considerando que para esta escola

as normas eram tidas como absolutas e eternas tendo, total ingerência sobre as leis

positivas e o autor do ilícito sabia haver praticado voluntariamente e

conscientemente uma conduta tida como criminosa, parece natural encarar a pena

como uma forma de se restabelecer a ordem quebrada na sociedade

Por esta razão, em um primeiro momento, a pena era encarada como

meramente retributiva, como maneira de retribuição para o autor do ilícito. tal

teoria tinha como principal objetivo restabelecer a ordem jurídica violada, sendo

assim, despida de qualquer efeito social4. Portanto, neste sistema, a pena não teria

finalidade, além da justa retribuição do mal causado. É por esta razão que esta teoria

também recebe a denominação de absoluta, palavra derivada do latim absolutus,

que significa desvinculado, ou seja: a pena seria desvinculada do seu efeito social5.

Nos dizeres de Roxin6, estaríamos, segundo este sistema, aplicando a

regra de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Em outras palavras dever-se-ia,

quando da fixação da sanção, estabelecer uma relação entre esta e a gravidade do

3PONTES Daniel Pacheco. Direito Penal, Sanções Penais e Política Criminal na Sociedade Contemporânea. Tese de doutorado defendida na faculdade de direito da USP em maio de 2007, p. 14. 4 Claus Roxin. Strafrecht Allgemeiner Teil. 3ª ed., Munique: C. H. Beck, 1997, p. 41. 5 idem, p. 41. 6 Ibidem, p. 41.

24

delito, desta maneira, quanto mais grave o ilícito, maior a sanção. Tal entendimento

fica mais fácil, se lembrarmos da origem histórica das penas privativas de liberdade,

surgidas a partir da punição dos clérigos7, de onde vieram as idéias de retribuição e

proporcionalidade da pena ao mal praticado, pois eram essas as características da

penitência dos religiosos: quanto maior o pecado praticado, maior deveria ser a

penitência, maior o tempo de permanência na cela para expiar os pecados. Por isso

que a teoria retributiva também é conhecida na língua alemã como Sühnetheorie8, o

que pode significar tanto teoria da reparação quanto da expiação.

Tal teoria foi por demais criticada. Nos dizeres de Pontes, a pena não tem

aproveitamento “nem para o apenado, nem para a sociedade, perdendo,

conseqüentemente, todo o seu sentido9”, justifica o autor, no dizeres de Bustos

Ramirez10 entendendo que não parece racional nem apropriado à natureza humana

que a pena seja apenas um mal, ausente quaisquer outras finalidades. Em outras

palavras, não se pode conceber que a pena tenha apenas por finalidade a retribuição

sem, em nenhum momento, preocupar-se em trazer o delinqüente de volta à

sociedade11. Se optarmos pela mera retribuição, a pena teria com fim apenas fazer

justiça e não efetivamente realizá-la12. Roxin13 também concorda com tais críticas

acrescentando que o grande inconveniente desta teoria é que ela não só não se

preocupa em reinserir o condenado à sociedade, como também não é um modo de

se lutar contra a criminalidade, pois a pena seria um fim em si mesma, não há

qualquer vinculação desta com a missão do direito penal14.

Tendo todas essas críticas em vista, podemos fazer o seguinte

questionamento: Para que punir então? Não parece ser deste modo a pena

proveitosa nem para o apenado, nem para a sociedade, perdendo,

7 LUZ, Orandyr Teixeira. Aplicação de Penas Alternativas. Goiânia: AB, 2000, p. 1. 8 POMTES. Direito Penal.... p. 15. 9 Idem, p. 15. 10 RAMIREZ, Juan Bustos. Introducción al Derecho Penal. Bogotá: Editorial Temis, 1986, p. 74. 11 Claus Roxin. Strafrecht..., cit., p. 44. 12 .BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. São Paulo : Saraiva, 1999. p. 99; 13 Claus Roxin. Strafrecht..., cit., p. 44. 14 Por esta razão, a teoria retributiva também é conhecida como teoria absoluta, uma derivação do termo latino absolutus, que pode significar “desvinculado”. idem, p. 44.

25

conseqüentemente, todo o seu sentido.

Por conta destas críticas, ainda dentro do pensamento clássico, foi

desenvolvida por Feuerbach uma nova teoria que preconiza a advertência, a

primeira teoria preventiva. Segundo este pensamento, a pena teria por objetivo

advertir a todos de uma sociedade por meio do mal por ela causado. Seu objetivo

encontra-se pautado na prevenção geral, preocupando-se com a influência que a

pena gera na sociedade, desta maneira a pena imposta ao autor do ilícito teria

conseqüência em toda a sociedade. Assim, tal teoria não pode ser considerada uma

teoria absoluta, mas sim relativa, uma vez que sua finalidade refere-se à prevenção

de delitos e “relativo” é derivado do latim referre, que significa “referir-se a”15. Ao

analisarmos essa ideologia, é possível notar o fundamento iluminista, pois é

pressuposto fundamental para que ela funcione que o homem tenha liberdade de

escolher entre o bem e o mal, para que a punição de outrem sirva de estímulo para

que ele escolha o bem.

Tais idéias exerceram bastante influência durante muito tempo, pois

parece fazer sentido do ponto de vista psicológico. O próprio Freud16 entende que,

quando o indivíduo consegue satisfazer um desejo reprimido - que aqui seria a

prática delitiva - deve ser privado do fruto do seu atrevimento, uma vez que

possivelmente tal desejo é sentido por outros membros da sociedade, de modo que a

punição manteria a tentação apaziguada.

Além disso, há um certo fundamento prático, facilmente observável no

trânsito17: quando há fiscalização e punição, os motoristas tendem a respeitar mais

as normas. Assim, por exemplo, caso haja uma norma que prescreva a

obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e ocorra uma forte fiscalização nesse

sentido, a tendência é que todos passem a utilizá-lo, como realmente aconteceu na

cidade de São Paulo a partir de 1995.

15 ROXIN Claus. Strafrecht..., cit., p. 47. 16 FREUD, Sigmund. Totem e Tabu. Rio de Janeiro: Imago, 1999. 17 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Pena... p. 16.

26

No entanto, não podemos ser seduzidos por essa idéia. Primeiro porque

tal teoria, assim como a retributiva, por conta de ter sido influenciada pelo

iluminismo, olvida uma questão essencial, a do livre arbítrio. Segundo tal

pensamento este estaria presente em todos aqueles convivem em uma sociedade o

que sabemos não acontecer pois, nesta verificamos a presença de doentes mentais e

criança que, como é sabido, não o possuem18. Além disso, se analisarmos a questão

de uma maneira mais ampla, notaremos que mesmo as pessoas absolutamente

normais do ponto de vista psíquico, nem sempre tem o livre arbítrio na acepção

clássica. Muitas vezes, fatores solicitantes muito poderosos acabam fazendo com

que uma pessoa até então sem qualquer envolvimento com o crime pratique alguma

conduta delitiva19.

Outra questão, também objeto de critica desta teoria, é que ela vê no

direito penal uma maneira de controle da criminalidade. O direito penal funcionaria

como forma de controle da sociedade o que, certamente não ocorre, mormente

porque esta deve ser utilizado em ultima razão e não, em momento algum como

regra sustentáculo de uma sociedade20. Há meios muito mais eficazes e adequados

do que o direito penal para o controle da criminalidade, como, por exemplo, os

sugeridos pela Criminologia21.

Além disso, a impressão de que o direito penal serviria como meio muito

eficaz para o controle da criminalidade não é verdadeira. Na realidade, um direito

penal mais contundente, com penas mais altas e rigorosas não é mais eficaz para o

controle da criminalidade, pois o pressuposto fundamental de tal função preventiva

é a fiscalização eficaz e não o rigor da punição. Em outras palavras: mais

importante do que a duração da pena é a certeza da punição. Desta maneira, o

pensamento preventivo geral pode fundamentar um aumento da contundência do

18 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Pena... p. 16. 19 MARANHÃO, Odon Ramos. Psicologia do crime. 2ª Edição. São Paulo: Malheiros, 19, p. 28 e seguintes. 20 NAUCKE Wolfgang e outros. Principales Problemas de la prevención general. Buenos Aires: B de f, 2004. 21 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: RT, 2004.

27

direito penal - ou até mesmo um certo terror estatal22 – que dificilmente se traduzirá

em um efetivo decréscimo da criminalidade, como, por sinal, vem ocorrendo

atualmente com o direito penal brasileiro. Também vale lembrar que não parece ser

condizente com a realidade que as pessoas que praticam crimes realizem um cálculo

tão preciso a ponto de fundamentar esta idéia da intimidação.

Apesar de todas essas críticas, vale lembrar que a escola clássica também

trouxe contribuições ao estudo da pena, uma vez que fundamenta a

proporcionalidade entre a gravidade do delito cometido e a pena aplicada –

pressuposto fundamental tanto da teoria retributiva quanto da teoria da prevenção

geral. Tal proporção é importante não apenas por constituir uma medida de justiça,

mas também pela sua importância prática: em sistemas jurídicos anteriores, não

havia tal proporcionalidade, muitas vezes, a única pena prevista era a de morte23, o

que trazia uma grave conseqüência prática: os criminosos tornavam-se ainda mais

violentos, simplesmente porque não tinham nada a perder, uma vez que sabiam que,

se fossem pegos, seriam mortos. Assim, neste contexto, é mais vantajoso para o

estuprador matar a sua vítima do que deixá-la viva, pois a sua morte dificultará a

dilação probatória e a pena do agente, em caso de condenação, será sempre a de

morte, independentemente da quantidade de delitos cometidos24.

Além desta contribuição específica à teoria da pena, a escola clássica

também auxiliou na construção da atual teoria do delito, pois pela primeira vez

sistematizou do direito penal, o que não existia até então. Não nos esqueçamos de

que foi neste contexto que, pela primeira vez, o fato delituoso foi dividido em partes

(ação antijurídica e culpável), técnica que é utilizada até hoje, apesar de a divisão

não ser exatamente a mesma.

Também foi esta escola que ajudou a construir o conceito de

22 ROXIN, Claus. Strafrecht..., cit., p. 53. 23 SHECAIRA, Sérgio Salomão e Alceu Corrêa Júnior. Teoria da Pena: finalidades direito positivo, jurisprudência e outros estudos de ciência criminal. São Paulo: RT, 2002, p. 23 e seguintes. 24 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal.... p. 18.

28

imputabilidade que utilizamos atualmente, pois ao definir o homem como livre para

escolher entre o bem e o mal, em outras palavras está definindo o que hoje

chamamos de imputável25, a pessoa que tem consciência da ilicitude, e tem

condições de se comportar de acordo com esse entendimento. Evidentemente, é

necessário lembrar que esta teoria partia do falso axioma de que todos são

imputáveis.

1.1.2 Escola Positivista Naturalista

Teoria baseada fundamentalmente no empirismo do final do século

XIX26, sustentando ser método experimental o único modo de se adquirir

conhecimento27. Von Lizst definiu como o direito pode servir-se do empirismo,

dizendo que várias ciências podem influenciar o direito penal, e que a realidade

pode ser verificada e mensurada de modo empírico, de sorte determinar o delito

naturalisticamente, do geral para o particular28.

Em um primeiro momento, tal teoria teve um forte viés antropológico,

fase em que teve como seu maior expoente César Lombroso29, que baseou todo o

seu pensamento em pesquisas empíricas realizadas junto a criminosos, das quais

observou que o homem delinqüente sempre teria certas características físicas

(assimetria craniana, barba rala, cabelos abundantes...), o que o levou a concluir que

é a natureza que determina se uma pessoa vai tornar-se um delinqüente ou não.

É interessante notar que a teoria de Lombroso refuta o axioma básico do

pensamento clássico, pois nega a liberdade do homem, entende que ele é

determinado por forças inatas e que o crime seria um determinismo biológico, e não

um ente jurídico. É justamente neste ponto que reside uma das maiores

contribuições de Lombroso, uma vez que, ao negar a liberdade de escolha do

25 Tal conceito vem expresso, a contrário senso, no código penal em seu artigo 26. 26 LISZT, Franz Von. Tratado de Derecho Penal. tomo II 4ª Ed. Madrid: Réus, 1999, p. 5 e seguintes. 27 RAMIREZ, Juan Bustos. Introducción al Derecho Penal. Bogotá: Editorial Temis, 1986, p. 135. 28 LISZT, Franz Von. Tratado, p. 5 e seguintes. 29 LOMBROSO, César. O homem delinqüente. Porto Alegre: Ricardo Lenz, 2001.

29

homem entre o bem e o mal, abriu a discussão acerca da validade da tese, até então

absoluta, do total livre arbítrio, fazendo surgir o conceito de periculosidade, a

admissão da existência de indivíduos que são perigosos, por não conseguirem

controlar seus instintos.

Ainda hoje, há estudos30 sobre o papel da genética na determinação do

comportamento criminoso. Todavia, é fundamental lembrar que tais estudos não

podem ser encarados sob a perspectiva de Lombroso, uma vez que não há como

falarmos em uma predisposição genética para o cometimento de crimes,

simplesmente porque o crime é uma construção lingüística: o que é considerado

crime em um determinado grupo social pode não ser considerado em outro, além de

que as leis penais são criadas e revogadas diariamente. Nesse sentido, a teoria

criminológica do labelling approach31 defende que nenhuma conduta teria uma

essência criminosa, o sistema apenas escolheria quais comportamentos receberiam o

rótulo de “crime”. Por essas razões, é mais correto afirmar que tais estudos referem-

se a como a genética poderia influenciar os comportamentos humanos, sem entrar

no mérito destes serem ou não definidos como crime.

Como o determinismo puramente biológico mostrou-se insatisfatório, foi

natural o desenvolvimento de outras teorias. Nesta fase, Enrico Ferri32 desenvolveu

outros estudos empíricos, e concluiu que Lombroso não estava errado, apenas

incompleto, pois não o indivíduo não se tornaria criminoso apenas por fatores

biológicos, haveria outros fatores determinantes, como o meio social em que ele

vive. O livre arbítrio - assim como foi feito por Lombroso - foi negado, mas de

forma diferente: o homem era visto como um ser irresponsável, influenciável, não

só pela natureza, mas também pela sociedade.

30 SOUZA, Paulo Vinicius Sporle de. A Criminalidade Genética. São Paulo: RT, 2003. 31 Conferir para uma visão mais voltada para o direito penal: HASSEMER Winfried. Fundamentos Del Derecho Penal. Barcelona: Bosch, 1984, p. 81. Para uma visão mais próxima da criminologia: Sérgio SHECAIRA Salomão. Criminologia. São Paulo: RT, 2004, e MOLINA, Antonio García-Pablos de e GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. São Paulo: RT, 2000, p. 307, 319 e seguintes. 32 FERRI, Enrico. Princípio de Direito Criminal. Campinas: Bookseller, 1996.

30

Seguindo essa linha, Ferri33 classificou os criminosos em natos, loucos, ocasionais,

habituais e passionais. Isto foi feito através de sua “lei da saturação criminal”, uma

teoria quase matemática, que afirmava que, em dadas condições sociais, sempre

ocorre um número determinado de crimes.

Tudo isso repercutiu na questão da finalidade da pena, pois, além de

todas as críticas que já haviam sido feitas à teoria retributiva, surgiu um outro

ponto: de que adianta apenar um indivíduo que não tem livre arbítrio, capacidade de

escolher entre o bem e o mal? Foi por isso que Von Liszt34 desenvolveu a idéia

originária da Grécia antiga35 de que a pena teria uma outra função: a de prevenção

especial. Isso ocorreu, em primeiro lugar, a partir da negação da teoria retributiva,

por entender que é um equívoco qualificar o homem como livre por natureza, o que

seria falso, uma vez que ele seria determinado por fatores biológicos e sociais,

sendo, portanto, ilógico retribuir o mal. Além disso, também é refutada a teoria da

prevenção geral, porque foi entendido que impor o medo é totalmente ineficaz para

o delinqüente que tem a sua conduta criminosa determinada por fatores biológicos e

sociais.

Deste modo, segundo esta teoria e, contrariamente às anteriores, a pena

teria uma prevenção especial, qual seja, a reabilitação do criminoso, pois, o que se

pretende não é pura e simplesmente a punição ao autor do fato criminoso e sim a

defesa da sociedade36, de maneira que o melhor seriam medidas, e não penas, pois o

objetivo não é um castigo para culpa moral, e sim a defesa social frente a

delinqüentes, através da reabilitação.

Do ponto de vista teórico, tal teoria executa muito bem a missão do

direito penal, já que ajuda o agente, de modo não expulsá-lo ou marcá-lo, visando

integrá-lo à sociedade. Todavia, na prática, pelo menos até o momento, não obteve

33 FERRI, Enrico. Princípio..., p. 243 e seguintes. 34 LISZT, Franz von. Tratado..., cit.,. p. 10. 35 ROXIN, Claus. Strafrecht..., cit., p. 45. 36 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal.....

31

qualquer êxito. É importante observar que esse fracasso prático não guarda qualquer

relação com as dificuldades econômicas brasileiras, já que isso ocorreu no mundo

inteiro, inclusive em paises abastados, como é o caso da Alemanha37.

Além disso, tal teoria foi por demais criticada porque equipara a pena à

medida de segurança, uma vez que atribuía a mesma função para as duas, e deixou

sem resposta algumas indagações, como: o que fazer nos casos em que é impossível

a ressocialização? Como ressocializar uma pessoa paradoxalmente afastando-a da

sociedade38? Zaffaroni39 coloca muito bem essa questão afirmando que querer

ensinar alguém a viver em sociedade segregando-o desta é o mesmo que querer

ensinar alguém a jogar futebol dentro de um elevador.

Também são possíveis críticas do ponto de vista ético, pois tratar o

indivíduo do modo proposto seria coisificá-lo, fazê-lo perder a sua dignidade, que

por sinal é um dos pilares do Estado Democrático de Direito, pois, de onde vem o

direito de reeducar que é imposto por essa teoria? Na realidade, seria mais adequado

entender que o estado teria o dever de oferecer ao condenado todas as condições

para que este possa se tratar, mas nunca que haveria um direito de imposição de

qualquer tratamento, uma vez que isso iria de encontro com os fundamentos do

Estado Democrático de Direito40.

De qualquer forma, vale lembrar que tal escola trouxe várias

contribuições, que vão além da prevenção especial, como: o nascimento da

Criminologia, a individualização das penas – ambas fundamentais para o direito

penal e principalmente para a execução penal - e a admissão de um sistema jurídico

penal que pode ser auxiliado por outros ramos do conhecimento, apesar de ainda

não podermos falar em um sistema aberto na acepção atual.

37 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal...., p. 22. 38 ROXIN, Claus. Problemas atuais da política criminal in Revista Ibero-Americana de Ciências Penais. Porto Alegre, ano 2, número 4, p. 13. 39 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. La filosofia Del sistema penitenciário em el mundo contemporáneo. in Cuadernos de la Cárcel, edição especial de No hay Derecho. Buenos Aires, 1991, p. 65. 40 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal...., p. 22.

32

1.1.3 Escola Normativa – Jurídica

Contrariamente às regras do empirirsmo esta teoria defende a não

utilização das demais ciências pelo direito penal41, que deveria ser uma ciência

“pura”42, não podendo servir-se destes métodos, reconhecidamente profícuos no

ramo das ciências exatas, porque, além de ser uma ciência cultural, o “dever-ser”

não derivaria do “ser”. Os principais representantes desta corrente foram: Gustav

Radbruch, Max Ernest Mayer e Edmund Mezger43.

Ao tentar separar a ciência jurídica das demais, também houve o

entendimento de que o direito penal seria um sistema fechado, isto é: não seria

possível a utilização de outras ciências para auxiliar na sua interpretação e

aplicação44. Isso acabou sendo muito prejudicial à ciência penal, uma vez que a

tendência atual e no sentido da interdisciplinaridade, o que não seria possível dentro

desta visão exageradamente positivista.

Para que a solução prévia de caráter geral dada pela lei se aproximasse da

realidade, seria utilizada a jurisprudência. Entretanto, tal idéia carece de eficácia

prática, pois a jurisprudência é incapaz de criar uma fórmula geral eficaz em todos

os casos concretos. Pontes45 dá um exemplo utilizando a revogada lei 6.368/76, mas

ainda cabível se utilizarmos a legislação atual: suponhamos que a jurisprudência

entenda que a pessoa que portar até dez gramas de cocaína seja um usuário e não

um traficante, estando, portanto, sujeito às penas previstas para as hipóteses de porte

41RAMIREZ, Juan Bustos. Introducción al Derecho Penal. Bogotá: Temis, 1986, p. 162. 42 CAMARGO, Antonio Luís Chaves Camargo. Imputação Objetiva e Direito Penal Brasileiro. São Paulo: Cultural Paulista, 2001, p. 123. 43 RADBRUCH Gustav. Introducción a la filisofia del derecho. México: Fondo de Cultura Econômica, 1955, p. 120 e seguintes; RAMIREZJuan Bustos. Introducción........, p. 162 e CAMARGO, Antonio Luís.. Imputação Objetiva ...., p. 26. 44 CAMARGO, Antonio Luís Chaves. Imputação..., cit., p. 123. Talvez um dos maiores defensores do sistema fechado seja Hans Kelsen, para quem o Direito seria uma ciência “pura”, de modo que a validade das normas deveria ser analisada apenas sob a óptica dos fundamentos jurídicos, isto é: se a norma fosse produzida de acordo com a norma fundamental, ela valeria, independentemente do seu conteúdo. Em outras palavras: o Direito deveria ser analisado independentemente de qualquer aspecto valorativo. Conferir: KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução de João Baptista Machado. 5ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 45 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal....,, p. 27.

33

de drogas, e que quem portar quantidade maior do que esta ficaria sujeito às penas

previstas para o crime de tráfico. Na prática, o que impede que um usuário carregue

doze gramas no caso concreto? Ou, o que impediria um traficante de portar apenas

nove gramas de cada vez? Podemos até concordar que normalmente o usuário não

carrega mais do que dez gramas e o traficante uma quantidade maior, mas nada

impede que ocorra o contrário, e nesses casos a solução jurisprudencial mostra-se

totalmente falha.

Pontes46 também lembra que a forma de interpretação sugerida pelos

positivistas defensores do sistema fechado reduz o trabalho do aplicado do direito a

uma tarefa que poderia ser realizada por um computador, pois, ao simplesmente

ignorar a existência de outros ramos do conhecimento capazes de auxiliar na

aplicação do direito penal, a aplicação da norma jurídica ao caso concreto passa a

ser nada mais do que um mero exercício matemático de lógica formal.

Aliás, dentro do contexto atual, em que muito se discute a questão do

controle da criminalidade, é oportuno lembrar o pensamento de Carlos Alberto de

Salles, que ressalta que a presença de tipos penais fechados é um dos fatores que

deixam o direito penal brasileiro ineficaz diante da realidade criminal47.

Essa era uma teoria causalista, uma vez que definia a ação como uma

causa voluntária ou impeditiva que modifica o mundo, tendo conteúdo valorativo.

Em outras palavras, deve ser analisado o que causou o resultado para concluir qual é

o delito cuja prática deve ser imputada ao agente: o injusto foi tido como um

encadeamento causal externo48. Se seguirmos esse raciocínio, por exemplo, se uma

pessoa recolhe para si uma caneta de outrem, facilmente concluiríamos que tal

indivíduo cometeu o delito de furto, sem preocupar-se com a razão que fez com que

a pessoa recolhesse tal caneta - ela poderia estar agindo em erro, por exemplo - pois

46 idem , p. 27. 47 SALLES, Carlos Alberto de. Reforma Penal e Nova Criminalidade in Revista Brasileira de Ciências Criminais, número 12, p. 105. 48 MEZGER, Edmund. Modernas orientaciones de la Dogmática jurídico-penal. Valencia: Tirant lo blanch, 2000, p. 17 e seguintes.

34

a conduta praticada é exatamente a tipificada pelo artigo 155 do Código Penal:

“subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Não havia preocupação com

a finalidade buscada pelo agente, bastava haver a conduta voluntária, o resultado

típico e o nexo de causalidade para configurar o delito.

O grande problema que ocorre aqui é referente aos delitos que não

apresentam resultado naturalístico: caso apliquemos este entendimento, não haverá

como responsabilizar o agente, uma vez que ele pressupõe esse tipo de resultado.

Assim, seguindo essa linha de raciocínio, teríamos sérios problemas para

responsabilizar o agente que comete o crime de desacato, por exemplo, uma vez que

neste inexiste resultado naturalístico, havendo apenas resultado jurídico49.

No tocante à teoria do delito, a tipicidade era tida como possuidora de

uma linguagem própria, fazendo, no que interessar ao direito penal, a valoração da

realidade, através dos valores constitucionais contidos no tipo e a antijuridicidade

como um comportamento socialmente danoso. Já a culpabilidade, por sua vez,

continuou tendo o dolo e a culpa como partes integrantes, e era tida como sendo o

conjunto dos elementos subjetivos (anímicos). No entanto, houve um

desenvolvimento muito importante: esta passou a ser encarada como

reprovabilidade, surgindo assim a possibilidade da inexigibilidade de conduta

diversa para excluí-la. Entretanto, é importante notar que, ao analisar a

culpabilidade, os positivistas serviam-se do conceito de homem médio, o que é

muito vago, e pode dar margem a arbitrariedades50.

Já que no que diz respeito à função da pena, a escola normativa – juridica

valeu-se de uma síntese das escolas anteriores51. A primeira teoria desenvolvida a

esse respeito pretendia unir os pensamentos da teoria retributiva com os da

prevenção especial, propondo a retribuição do mal e a medida de segurança para o

49 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal....,, p. 24. 50 Sobre a idéia de homem médio, conferir:CAMARGO, Antonio Luís Chaves. Imputação..., cit., p. 28. 51 Conferir sobre estas teorias: RAMIREZ, Juan Bustos. Introducción al Derecho Penal. Bogotá: Editorial Temis, 1986, p. 87 e seguintes.

35

tratamento. Foi uma teoria que causou grande reflexo nas legislações, uma vez que

atualmente quase todos os códigos trazem, além das penas, as medidas de

segurança52. Contudo, há uma enorme contradição na base desta teoria, pois é muito

difícil conciliar estas duas idéias. Como seria possível tratar e castigar ao mesmo

tempo? A antiga parte geral do código penal pátrio, ao instituir o sistema duplo-

binário53, tentou conciliar essas idéias, prevendo que, em alguns casos, o agente

deveria cumprir pena, depois de ser submetido à medida de segurança. Justamente

por causa das críticas aqui apresentadas, essa regulamentação foi revogada em 1984

pela nova parte geral com a instituição do sistema vicariante, que prevê a aplicação

de pena ou de medida de segurança, nunca das duas simultaneamente.

Por conta de tal contradição, foi desenvolvida por Merkel a segunda

teoria mista, a que pretendia unir os preceitos da teoria retributiva com os da

prevenção geral. Assim, entendeu-se que a pena é um mal que tem por objetivo

fortalecer os preceitos e as obrigações violados. Apesar de menos contraditória, tal

teoria ainda podia ser alvo tanto das críticas feitas à teoria retributiva, quanto das

feitas à da prevenção geral.

Por derradeiro trouxe-se a união da prevenção geral com a especial que

tendo-se por objetivo a proteção do bem jurídico e a reinserção do delinqüente sem

entretanto, fazer qualquer distinção entre medidas de segurança e pena54.

A melhor conclusão a ser tirada de todas estas teorias é a de Roxin, no

sentido de que ao unir as teorias, os defeitos de uma não compensam os da outra e

sim os multiplicam55, afinal, assim como ocorre em qualquer ciência, um erro nunca

compensa o outro, estes são sempre somados.

52 Este também é o caso do nosso código penal, de acordo com os artigos 32 e seguintes e 96 a 99. 53 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. vol. 1, tomo II. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1958, p. 192, 438 e 468; e outros manuais editados antes de 1984 quando ocorreu a mudança legislativa. 54PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal....,. 55 ROXIN, Claus. Sinn und Grenzen staatlicher Strafe“. in Problemas fundamentais de Direito Penal. Lisboa: Vega, 1998, p. 11.

36

É muito importante lembrar que a parte especial do código penal em

vigor foi elaborada sob a égide do positivismo jurídico, adotando o tecnicismo

jurídico de Rocco56 como sua base, e a atual parte geral foi elaborada

posteriormente, mas ainda, infelizmente, com muitos resquícios do causalismo,

como é, por exemplo, o caso da impossibilidade de punição do crime impossível57 .

1.1.4. O Finalismo

Hans Welzel revolucionou o direito penal moderno ao propor a sua teoria

finalista da ação. Tal teoria partia de uma premissa muito simples, que na realidade

era uma crítica ao positivismo: ele entendia que não seria função do direito penal

proibir meros processos causais - como era defendido pelos positivistas - mas sim

ações finalisticamente orientadas – de onde vem o nome finalismo - com o objetivo

de realizar a proteção subsidiária de bens jurídicos58, que seria, como se entende até

hoje, a função primordial do direito penal.

Para Welzel59, toda ação humana corresponde ao exercício de uma

atividade final, ou seja: sempre que qualquer pessoa empreende qualquer ação há

uma finalidade, uma vez que o homem, com base no seu conhecimento causal – o

que afasta a idéia de homem médio defendida pelos positivistas60 - pode prever

quais serão aproximadamente as conseqüências dos seus atos. Por essa razão,

devem ser deixados de lado os acontecimentos provenientes do mero acaso ou de

forças da natureza. Nesse sentido, não seria missão do direito penal proibir as

mulheres de terem abortos, uma vez que muitas vezes os mesmos ocorrem de forma

espontânea, mas sim apenas impedi-las de provocá-los intencionalmente61. Desta

maneira, podemos dizer que para o finalismo, a ação seria humana, voluntária e

56 CAMARGO, Antonio Luís Chaves. Imputação..., cit., p. 117 e seguintes; e ROCCO, Arturo. Cinco Estudos sobre Derecho Penal. Buenos Aires: B de f, 2003. 57 artigo 17 do Código Penal. 58 WELSEL, Hans. O novo sistema jurídico-penal. São Paulo: RT, 2001, p. 14; e Hans Welzel. Derecho Penal Aleman. 4ª Ed. Santiago: Jurídica de Chile, 1997, p. 44. 59 idem, p. 39 e seguintes. 60 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Pena, p. 31. 61WELSEL, Hans. O novo..., cit., p. 14.

37

conscientemente dirigida a um fim.

Assim, diferentemente do causalismo, o finalismo encara o direito penal

como uma ciência prática62, com grande valorização do ontologismo. Para Welzel,

haveria aspectos do mundo do ser que forçosamente deveriam ser considerados

pelos operadores do direito. Por exemplo: não há como punir alguém por um aborto

praticado durante o 11º mês de gestação, uma vez que o mundo do ser nos traz que a

gravidez humana dura nove meses apenas.

Em harmonia com o conceito finalista de ação, Welzel entendeu que o

dolo e a culpa fariam parte da ação, e não mais na culpabilidade, como ocorria até

então. Tal deslocamento do dolo o despe de qualquer conteúdo valorativo. Em

outras palavras: dentro da doutrina finalista, o dolo é apenas a vontade do agente,

sem qualquer juízo de valor. Isso significa que não é tecnicamente correto dizer, por

exemplo, que o agente foi movido por “dolo intenso”, uma vez que não cabe dizer

se a vontade é intensa ou não, pois este não é o momento indicado para juízos

valorativos.

No que diz respeito à antijuridicidade, o finalismo a defendia como

sendo um juízo negativo de valor feito pelo ordenamento jurídico63, ou seja, a

antijuridicidade seria integrada pelo desvalor da ação e pelo desvalor do resultado.

Do ponto de vista prático, isso significa que a tipicidade funciona como um indício

de antijuridicidade, isto é, se uma ação é típica, provavelmente - ou pelo menos em

princípio - também é antijurídica, salvo quando incidir alguma excludente de

antijuridicidade.

Muito embora o dolo e a culpa tenham sido retirados da culpabilidade

por Welzel, ela não foi esvaziada - na realidade, este elemento do delito vem tendo

cada vez mais importância na dogmática jurídico-penal. Não houve uma perda da

62 WELSEL, Hans. Derecho..., cit., p. 1. 63 É importante ressaltar que esse juízo negativo é realizado pelo ordenamento e não pela pessoa do juiz. Mais detalhes em: idem, WELSEL Derecho. p. 60.

38

importância de tal instituto, uma vez que continuou trazendo consigo a questão da

reprovabilidade64, da reprovação do processo volitivo, significando a possibilidade

de responsabilização por ações antijurídicas. Aqui, a culpabilidade era composta

pela imputabilidade, pelo potencial conhecimento da ilicitude e pela exigibilidade

de conduta diversa, de modo que, poderia ser sucintamente definida como sendo a

“reprovação pessoal contra o autor que poderia não ter agido antijuridicamente”65.

No tocante às penas, Welzel66 critica as teorias absolutas, por apenas

discutirem o sentido destas, não dando maior importância para a sua realidade, pois,

ao simplesmente impor um mal ao condenado, está se dificultando ainda mais a sua

ressocialização e regeneração, afinal a sua maldade é aumentada. No entanto,

ressalva que a sua grande contribuição foi trazer um princípio para a sua medida,

uma vez que graduava a pena de acordo com a gravidade do delito cometido.

É por esta razão que Welzel defende que o máximo e o mínimo de pena

aplicáveis sejam determinados com base na gravidade do delito, deixando que a

dosimetria entre estes dois limites seja efetuada de acordo com a culpabilidade do

agente, pois não fazê-lo, seria eliminar todas as diferenças existentes entre a pena e

a medida de segurança.

Além disso, também foi ele que começou a questionar a função da pena,

dizendo, por exemplo, que quando não há perigo de reincidência, a pena aplicada

deve ser mínima, pois a sua única função será a prevenção geral, afinal não há

necessidade de nenhum tratamento ressocializador para o agente67.

A parte geral em vigor de nosso código penal foi elaborada em 1984 já

sob a égide do finalismo, tendo adotado o princípio da culpabilidade em toda sua

extensão, o que certamente significou um grande avanço68.

64 idem, 1997, p. 160. 65 idem, p. 160. 66 WELSEL, Hans. Derecho... cit., p. 283 e seguintes. 67 Idem, p. 332. 68 Exposição de Motivos do Código Penal de 1984, itens 17 e 18.

39

1.1.5 Pós-Finalismo

Pós-finalismo é um nome genérico dado a todos os movimentos penais

situados cronologicamente depois da teoria finalista da ação. Aqui, analisaremos

apenas – e de maneira bastante breve - o funcionalismo alemão. Muito embora todas

as teorias funcionalistas tenham alguns elementos em comum, como defenderem a

necessidade de superação do positivismo jurídico e de sua dogmática fechada, e

todas partirem do finalismo, não é possível generalizá-las, uma vez que vários

foram os autores que se destacaram defendendo teorias bastante distintas69. Como

nosso objetivo aqui não é o de discutir todas essas teorias, optamos por trazer à

colação apenas o posicionamento de Claus Roxin. Roxin embasa sua

teoria na política criminal, fazendo uma proposta de adequação da dogmática

penal à realidade70, ressaltando a importância fundamental da política criminal no

momento da aplicação da pena. O ponto de partida de sua crítica é a célebre frase de

Von Liszt: “O direito penal é a barreira intransponível da política criminal”71, que

ilustra um pensamento típico do positivismo jurídico, uma vez que defende um

sistema totalmente fechado, no qual, apesar de a política criminal ter a sua

existência reconhecida, fica sempre irremediavelmente limitada pelo direito penal,

que, dentro desta concepção, não pode ser auxiliado por outras ciências.

Desta forma, no sistema proposto por Von Liszt, de um lado ficaria o

direito penal como ciência jurídica, utilizando-se apenas de métodos jurídicos, e de

outro, a política criminal como ciência social, utilizando-se do empirismo, sem a

ocorrência de qualquer interação entre as duas ciências, de forma proteger o

delinqüente de quaisquer arbitrariedades. Esta relação de tensão ainda está muito

69Segundo PONTES Pos-finalismo é conhecido por uma fase de estudiosos do direito penal que se originou após Welsel. Ver também Luigi Ferrajoli. Direito e razão – teoria do garantismo penal. São Paulo: RT, 2002; Günther Jakobs. Estudios de Derecho Penal. Madri: Civitas, 1997. . 70 Conferir a respeito dos diversos conceitos de política criminal: D’URSO, Luiz Flávio Borges. Proposta de uma nova política criminal para o Brasil in Revista do Instituto de pesquisas e estudos. Bauru, edição especial, p. 281. 71 ROXIN Claus. Política Criminal e Sistema Jurídico Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 1.

40

viva atualmente, uma vez que tal entendimento é compartilhado por Welzel72 e

Jescheck, que entendem que não fazê-lo, seria deixar o sistema inseguro e

subordinado ao sentimento73.

Todavia, Roxin entende que tal concepção estaria ultrapassada,

questionando a utilidade de se solucionar um problema de forma juridicamente

perfeita, mas errada do ponto de vista da política criminal. Para solucionar esta

questão, ele propõe uma síntese: a adoção de um sistema aberto sem abrir mão da

proteção ao delinqüente. Neste sentido, o próprio Jescheck74 entende ser mais

importante solucionar o problema, e não atender às exigências sistemáticas que em

nada contribuem à prática.

Vale lembrar que, dentro do pensamento de Roxin, com o objetivo de

garantir a necessária segurança jurídica, a teoria do delito continua sendo de suma

importância, uma vez que a sua proposta não pretende criticar a sistematização, mas

sim algumas premissas equivocadas que seriam herança do positivismo jurídico.

Na prática, isto significa que o único caminho seria deixar que as

decisões valorativas político-criminais sejam introduzidas no sistema, mas sempre

com a devida fundamentação legal, clareza e previsibilidade. Isto deixa bem claro

que, em momento algum, é defendida a adoção dos métodos do direito alternativo,

que constituem, na realidade, uma verdadeira anarquia jurídica, que deixa o réu

totalmente dependente do bom senso do juiz, sendo eliminada toda a segurança

jurídica. Assim, em suma, a sua proposta é no sentido da construção de uma teoria

normativa do delito – refutando o ontologismo exacerbado de Welzel, mas sem

adotar o funcionalismo radical de Jakobs – com a participação fundamental da

política criminal.

72 WELSEL, Hans, Derecho penal aleman..., cit., p. 1. 73 JESCHECK Hans Heinrich. Tratado de derecho penal: parte general. 4ª edição. Granada : Comares, 1993, p. 136. 74 Idem, p. 136.

41

Seguindo este raciocínio, entende que um sistema só pode ser frutífero se

tiver ordem e clareza conceitual, for próximo da realidade e tiver fins político

criminais. Neste sentido, ele entende ser um importante ponto de partida a

concepção da idéia de reprovabilidade no âmbito da culpabilidade pelos causalistas

e elogia o finalismo, apesar de ainda entendê-lo insuficiente, uma vez que não

conseguiu superar a tensão gerada pelo referido pensamento de Von Liszt.

Por isso, faz uma proposta de reconstrução da teoria do delito, analisando

cada uma de suas categorias (tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade) à luz da

política criminal. A tipicidade75, como todos os conceitos básicos do direito penal,

possui mais de um significado. Assim, a tipicidade teria não só mais de um

significado, como também mais de uma tarefa, dentre elas: a função sistemática a

função político-criminal.

Do ponto de vista sistemático, o tipo traz os elementos que permitem a

identificação do delito em questão, isto é, a descrição da conduta tipificada, como,

por exemplo: “matar alguém”, “subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel”.

Até aqui, não há nenhuma novidade, pois apenas foi reafirmado o

princípio da legalidade. Porém, para Roxin, além deste, haveria um significado

político-criminal, a sua função garantidora, imprescindível em qualquer Estado

Democrático de Direito. Isso ocorre porque nesse tipo de estado existe a finalidade

de cumprir o princípio nullum crimen sine lege e este só é atendido quando o direito

penal traz a descrição precisa da conduta proibida nos seus tipos. Isso significa que

o direito penal deve ser estruturado dogmaticamente a partir deste princípio,

atendendo ao requisito da determinação legal76, afinal o que se defende aqui é um

sistema normativo

No que diz respeito à antijuridicidade, Roxin parte da mesma idéia

75 ROXIN, Claus.. Strafrecht..., cit., p. 227. 76 ROXIN, Claus. Política Criminal e Sistema Jurídico Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 29.

42

defendida por Welzel, entendendo que, em princípio, “uma conduta típica é

antijurídica quando uma causa de justificação (ou excludente de ilicitude) não

afastar a sua antijuricidade”77. A inovação trazida neste categoria se dá em uma

importante diferenciação: haveria duas espécies de antijuridicidade, a formal e a

material. Formalmente antijurídica seria a ação que transgride uma proibição ou

mandamento legal, enquanto que materialmente antijurídica é a ação que lesiona

bens jurídicos de maneira muito nociva à sociedade, a ponto de não poder ser

suficientemente combatida por meios extra-penais78.

Dessa maneira, não basta que a ação seja formalmente antijurídica, é

necessário verificar se a mesma também é materialmente antijurídica, isso é: deve

ser considerada toda a ordem jurídica ao se verificar se uma determinada conduta

agride ou não ao ordenamento jurídico, de modo a promover uma solução social dos

conflitos, permitindo que a dinâmica das modificações sociais adentre na teoria do

delito79.

Na prática, isto significa fazer em cada caso concreto um juízo sobre a

licitude e lesividade do comportamento, respeitando a autonomia da personalidade

do agente, verificando-se qual bem jurídico é mais valioso.

Como seria de se esperar em um sistema aberto, esta concepção de

antijuridicidade possibilita que uma mesma conduta típica seja antijurídica em uma

sociedade e perfeitamente lícita em outra. Mas, isto não significa que haja

insegurança jurídica, uma vez que não pode haver a revogação de um princípio

legal de regulação através de simples interpretação, ou a extensão da punibilidade

apenas por meio da política criminal, trata-se apenas de uma adequação do sistema

penal à realidade social.

Por fim, deparamo-nos com a categoria da culpabilidade, na qual Roxin

77 RONIN, Claus. Strafrecht..., cit., p. 501 78 Idem, p. 503 79 Idem, p. 49.

43

desenvolve boa parte da sua teoria e aprofunda o estudo da problemática da

função da pena. Para ele, a culpabilidade é mais do que a simples reprovabilidade.

Além disto, seria o dever do aplicador da norma penal questionar nesta fase até que

ponto faz se necessária a aplicação da pena dentro dos preceitos das teorias dos fins

da pena da prevenção geral e especial, uma análise teleológico-funcional.

É por isso que Roxin afirma que a culpabilidade e a necessidade

preventiva de sanção penal seriam pressupostos para a responsabilização criminal80,

de maneira que o conceito finalista de culpabilidade – isto é, a reprovabilidade

pessoal do agente – seria necessário, porém insuficiente para a responsabilização

criminal, sendo necessário considerar outros aspectos da política criminal.

O fundamento desta teoria está na política criminal, pois, durante a sua

elaboração, foi considerado que a condenação criminal traz conseqüências bastante

gravosas para o réu – comparadas por Pontes81 às de um tratamento quimioterápico

- o que permitiria estender as hipóteses de exclusão da culpabilidade a situações nas

quais isso não seria possível sob a óptica finalista, desde que recomendável do

ponto de vista político-criminal no caso concreto.

Dessa maneira, podemos dizer que a maior inovação desta teoria é

possibilidade de discussões político-criminais antes da aplicação da pena, de modo

a não impor sanções a fatos irrelevantes ou aos quais não se recomenda a punição,

diferentemente da concepção mais tradicional, que é no sentido de se analisar a

política criminal apenas após a condenação.

É importante ressaltar que tais idéias foram concebidas apenas para

preencher certas lacunas do sistema jurídico-penal, sendo que nenhuma delas

contraria o princípio do nullum crimen, primeiro porque não criam novos delitos,

mas apenas viabilizam que réu não seja responsabilizado quando não houver

80 ROXIN, Claus. Strafrecht..., cit., p. 59. 81 PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal, Sanções Penais e Política Criminal na Sociedade Contemporânea. Tese de doutorado defendida na faculdade de direito da USP em maio de 2007, p. 48.

44

necessidade preventiva e, além disso, não impedem nem mesmo a criação de novas

excludentes de ilicitude82.

Feitas essas considerações preliminares, fica claro como Roxin valoriza a

questão dos fins da pena, razão pela qual também desenvolveu bastante tal estudo.

A primeira observação que cabe aqui é referente à necessidade preventiva da pena,

já que a mesma seria um dos pressupostos para a responsabilização criminal.

Coerente com a sua idéia de necessidade preventiva, o autor entende que o fim da

pena seria a prevenção, tanto geral quanto especial, também defendendo que a geral

seria uma prevenção integradora positiva, sendo, portanto, o direito penal um fator

de integração social83.

Do seu ponto de vista, essa prevenção integradora positiva traria

conflitos entre a prevenção geral e especial apenas quando cada uma deles

recomendar uma dosimetria diferente da pena. Assim, por exemplo, quando alguém

provoca uma lesão corporal seguida de morte durante uma briga, sob a óptica da

prevenção geral, a pena adequada poderia ser a de três anos de reclusão, enquanto

que do ponto de vista da prevenção especial, seria admitido somente no máximo um

ano, uma vez que uma pena mais grave influiria negativamente no autor, o que

poderia propiciar até mesmo uma eventual reincidência. Para resolver esse conflito,

temos que observar que a prevenção especial tem preferência até certo ponto, desde

que a pena não seja reduzida até o ponto em que não seja mais aflitiva e, portanto,

não seja levada a sério pela comunidade84.

Isto evidencia o caráter misto da pena dentro da visão de Roxin,

colocando mais uma vez em evidência a valorização da política criminal,

principalmente pelo reconhecimento da primazia – ainda que dentro de certos

limites – da função de prevenção especial85. Cumpre ressaltar que, segundo este

82 ROXIN, Claus. Política Criminal e Sistema Jurídico Penal. Rio de Janeiro. Renovar, 2000, p. 81. 83 ROXIN, Claus. Strafrecht..., cit., p. 58. 84Idem, p. 44. 85 ROXIN, Claus. Política..., cit., p. 82.

45

autor, a pena não deve ter caráter retributivo, pois este não se encontra em harmonia

com as regras da política criminal, cuja união com o direito penal seria

imprescindível86.

1.2. Sistemas Penais

Os sistemas penitenciários tiveram inicio nos Estados Unidos e,

certamente forneceram elementos para os sistemas penais na atualidade. Sua

evolução ocorreu basicamente com em três fases, quais sejam o pensilvânico, o

auburniano e o progressivo.

1.2.1 Pensilvânico ou celular

Em tal sistema, o cumprimento da sanção é realizado efetivamente dentro

da cela, permitindo-se, em raríssimas exceções à saída do sentenciado. Segundo tal

regra o recolhimento era absoluto não se admitindo, inclusive, a possibilidade de

visitas ou trabalho87.

1.2.2 Auburniano

Contrariamente do sistema celular, no sistema auburniano era permitido o

trabalho, desde que durante o dia e tendo como marca exclusiva o silencio absoluto

(silent sistent) , não se permitia a conversa entre os presos. Neste sistema, o

isolamento ocorria no repouso noturno. Característica também patente no sistema

auburniano era a disciplina, pois, segundo se preconizava era imprescindível para

organização88.

86 ROXIN, Claus. Política..., cit., p. 82. 87BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. São Paulo : Saraiva, 2003. p. 93. 88BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. São Paulo : Saraiva, 2003. p. 96.

46

1.2.3 Progressivo

Surgido na Inglaterra no final do século XIX, o sistema progressivo

consolidou à pena privativa de liberdade e da necessidade da reabilitação do recluso.

Sua característica principal consiste em dividir o tempo da prisão em períodos,

levando-se me consideração o comportamento e desempenho do preso e, em

conseqüência e de acordo com sua evolução a possibilidade da concessão de

benefícios. O sistema progressivo estabelecia três períodos de cumprimento da

pena, quais sejam, em um primeiro momento com isolamento absoluto, um segundo

momento, a permissão para o trabalho e por fim a possibilidade para o livramento

condicional.

O sistema progressivo tinha também, como característica inovadora, a

reabilitação do preso para sua reinserção na sociedade além é claro, de perquirir sua

boa conduta. Tal sistema diminuía o rigor latente nos sistemas que o antecederam.

A evolução e aperfeiçoamento do sistema progressivo surgiu em vários

locais da Europa, que apesar de essencialmente iguais tenderam a uma evolução.

Tal evolução teve como referência o sistema de Montesinos que, como um dos

aspectos talvez mais interessantes, era a obrigatoriedade da legalidade, não se

atribuindo ao preso qualquer sanção que atingisse sua dignidade. Segundo o

Coronel Manoel Montesinos e Molina era imprescindível ao preso sua

autoconsciência, amealhada por sentimento de confiança e por meios de estímulos.

Ele acreditava esperançosamente na correção do detento 89.

1.3. A Evolução das Sanções Penais

Inicialmente instituída de forma privada a pena era tida como meio de

vingança, quer como uma reação singular quer coletiva.90.

89BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. São Paulo : Saraiva, 2003. p. 102. 90 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. 2. ed. São Paulo : Ed. RT, 1998. p. 31.

47

Posteriormente com o aparecimento do Estado e o desenvolvimento

político da comunidade, a pena começa a alcançar proporcionalidade, iniciando-se

por meio da Lei de Talião passando por Beccaria e Carrara.

,

1.3.1 A idade antiga

Conhecida como período da vingança privada91, geralmente, a sanção era

imposta pela vítima ou seu representante legal. Nesta fase não subsistia qualquer

vínculo da sanção com o delito, mormente porque a pena existente para o delito era

a de morte.

Outra problemática à época era a desproporcionalidade entre o delito e a

pena, pois, tal desproporcionalidade trazia injustiças e fomentava a pratica de outros

delitos, como, v. g. a hipótese em que o autor do delito após a pratica de um

determinado crime praticava outro no sentido de acorbetá-los92.

Não podemos nos olvidar que, além da pena de caráter eminentemente

privado existiam outras como, por exemplo, a perda da paz93, que consistia na

proteção ao indivíduo pelo seu grupo, além da chamada vingança de sangue

(Blutrache) 94, que consistia na lesão retributiva entre grupos divergentes95. Em

síntese, nos dizeres de Pontes, o que se restava ausente era a inexistência do Estado

na aplicação da sanção96.

Tal inobservância por parte do Estado trazia abuso de poder, pois,

preponderava a valorização do mais forte em prejuízo da justiça, bem como, levava

91 SHECAIRA, Sérgio Salomão; Alceu Corrêa Júnior. Teoria da Pena – Finalidades, direito positivo, jurisprudência e outros estudos de ciência criminal. São Paulo: RT, 2002, p. 24. 92 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: RT, 2. Edição, 1997, p. 43. 93 DOTTI, René Ariel. Bases... cit., p. 31. 94 Para melhor entender ler MARQUES, Oswaldo Henrique Duek. Fundamentos da pena. São Paulo : Juarez de Oliveira, 2000. p. 2. 95 PRADO, Luiz Régis Prado. Curso... cit., p. 52. 96PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal...cit..

48

a sanção além do condenado, chegando inclusive ä sua família97.

Noutro momento, com o desenvolvimento do direito romano, a

possibilidade de sanção passou a ser atribuída pelo rei98, oportunidade em que a esta

foi conferida o caráter sacral99. A pena era pautada na concepção religiosa e tinha

por objetivo a satisfação divina quebrada pelo crime100 que, era exercida pelos

sacerdotes, titulares do direito de punir e, por conseqüência representavam a

vontade divina.

Para Platão, citado por Marques, ‘a lei possuía uma origem divina e a

justiça seria a força da harmonia entre as diversas virtudes da alma. Para ele que

acreditava na imortalidade da alma, a justiça terrena tinha como único fim o

respeito à lei” 101. Neste moldes, teríamos na pena uma espécie de “medicina da

alma, para os demais somente restaria a pena de morte.

Com esta evolução, retirada a sanção da esfera privada para a pública,

que se desenvolveu a teoria retributiva, cujo principal beneficio foi a fixação da

dosimetria da pena e o impacto psicológico exercido na coletividade102.

1.3.2 Idade media

Período marcado pelo poder absoluto da igreja, tentou-se uma

humanização das penas que, por muitas vezes restou infrutífera. Nota-se que nesta

época a figura do homem era tida como semelhança de Deus e, por conseqüência,

segundo Marques, “a pena, eterna ou temporal, consistia na vingança pública,

exercida como espécie de represália pela violação divina, tinha como objetivo a

expiação como forma de salvação da alma para a vida eterna”.103

97PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal...cit.. 98 SHECAIRA Sérgio Salomão. Teoria… cit, p. 29. 99 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Teoria… cit., p. 25. 100 MARQUES, Oswaldo Henrique Duek. Fundamentos da pena. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000. p.11. 101 MARQUES, Oswaldo Henrique Duek. Fundamentos da pena.. cit..p. 21. 102PONTES, Daniel Pacheco. Direito Penal...cit 103 MARQUES, Oswaldo Henrique Duek. Fundamentos da pena. São Paulo:Juarez de Oliveira, 2000. p. 29.

49

Nesta oportunidade desenvolveu-se uma maior preocupação ao caráter

retributivo da pena e sua proporcionalidade, obviamente que pautada no caráter

divino, pois, povo eminentemente cristão via a pena como expiação.

1.3.3. As Penas no Direito Brasileiro

As penas no Brasil tiveram inicio em 1500 sob a égide do ordenamento

Português, permanecendo desta maneira até 1830 com o surgimento do código

criminal do império. Nosso primeiro presídio foi denominado de a “casa de

correção do império”104. Noutro momento tivemos os códigos de 1890, seguido do

atual Código que data de 1940 e, sus ultima reforma ocorreu em 1984.

104 LEIMIG, Deane S. F. Lins et alli. As Penas Alternativas: Análise Crítica à Luz de um Enfoque Psicossocial. Recife: UFPE, 2000. (Mimeo) p. 41.

50

2- A TEORIA ESTABELECIDA PELA EXECUÇÃO PENAL

2.1 – Introdução

No Estado Democrático de Direito, de extrema relevância é a relação

entre as políticas públicas e a legislação. Conforme se observará pela análise do

presente trabalho, a discrepância entre ambos é latente, principalmente quando nos

referimos ao sistema prisional.

Como se observa pelos órgãos de atuação e fiscalização do sistema

penitenciário, a taxa de encarceramento no Brasil encontra-se a cada dia em

crescimento e, em função de tais fatos e ante a inércia do Estado, os detentos

vivenciam os estertores do Sistema Prisional e, por conseqüência, a sociedade como

um todo, que infelizmente permanecem inerte, presencia o não cumprimento de

regras mínimas estabelecidas por nossa legislação e convenções internacionais.

Cumpre acrescentar que o Brasil é signatário da tratados internacionais

com disposição ao tratamento e direitos de presos, além de possuir uma lei que

disciplina todo o sistema prisional regulamentando, inclusive o sistema

penitenciário estadual. Contudo, com o auxílio dos dados apresentados – no que se

vislumbra a situação em que vivem os detentos na cidade de Sorocaba – é possível

constatar-se que, a realidade aqui vivenciada pelos reclusos fica muito aquém do

ideal imposto pela legislação e os direitos estabelecidos pelos Pactos.

No Estado de São Paulo contamos hoje com aproximadamente 145.000

presos, dos quais cerca de 3400 presos encontram-se vinculados à Vara de

Execuções Criminais da Comarca de Sorocaba. Importante consignar que para

recolhimento destes detentos temos aproximadamente 2490 vagas, das quais,

aproximadamente 950 estão sendo reformadas. É notória a vida promiscua e

desumana vivida pelos detentos, a falta de amparo estatal, sendo evidente que a

51

superlotação é a regra, chegando em Sorocaba à margem de 50 %. Outro problema

de extrema relevância é a ociosidade, a despeito da obrigação imposta pelo ar. 31 da

Lei de Execução Penal, apenas parte105 dos detentos trabalham ou estudam, os

demais se dedicam ao nada fazer, ou o que é pior, ao vício do jogo.

Como conseqüência de tais fatos, verificamos a total e completa

resistência e desobediência por parte dos presos em relação às regras constantes na

LEP e, atualmente ao Estado Democrático de Direito, cumpre observar que a inércia

do Estado provoca um sentimento de união e rebeldia por parte dos presos que,

paulatinamente vem provocando rebeliões, ataques ao sistema de segurança como

um todo causando, destarte prejuízo ao patrimônio público e, por conseqüência

trazendo a insegurança e medo na população brasileira e principalmente nos grandes

estados como São Paulo e Rio de Janeiro106.

O sistema Prisional Brasileiro tem sido visto pelos governantes107 como

um eterno problema, entretanto conforme se observará, as políticas públicas

voltadas à solução do problema são poucas e, em sua grande maioria sem

aplicabilidade e conseqüência prática; a inércia dos órgãos vinculados à execução é

quase que absoluta, ou por melhor das hipóteses precária por falta de estrutura.

2.2 Disposição Legal

Com o advento da Constituição de 1988, a execução penal adquiriu a

condição de garantia constitucional, conforme se observa da interpretação dos

incisos XXXIX, XLVI, XLVII, XLVIII, do seu art. 5º, que preconiza o princípio da

105Em relação ao tema ver PASTANA, Débora Regina. Cultura do Medo: Reflexões sobre violência criminal, controle e cidadania no Brasil. São Paulo. IBCCrim, 2003. v. 27. 106O numero maior de presos trabalhando encontra-se na Penitenciária II de Sorocaba que atinge mais de 50%, nos demais estabelecimentos o número não chega a 30% dos detentos. Ver Capítulo III. 107Conforme dito pelo ex-governador do Estado de São Paulo Mario Covas “A prisão é como reduzir o Cidadão à condição de um nada”. Discurso na posse do Secretario de Negócios Penitenciário do Estado de São Paulo Dr. João Benedito de Azevedo Marques.

52

legalidade, da individualização e da humanidade108 além de dispor também que as

penas serão cumpridas em estabelecimentos distintos, considerando a natureza do

delito, a idade e o sexo do apenado109.

Neste enquadramento, encontra-se também incerto no inc. XLIX do

referido artigo que, "é assegurado aos presos o respeito à integridade física e

moral". No mesmo sentido o Código Penal determina que “o preso conserva todos

os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades

o respeito à sua integridade física e moral”, no mesmo sentido a LEP em seu art. 3º,

reafirma a regra contida do Código Penal, de sorte que, tais dispositivos

seguramente impõem a todos os envolvidos com a execução penal à garantia a

integridade física e moral dos detentos.

Na mesma esteira encontramos a Constituição do Estado de São Paulo

que verbi gratia, leciona que "a legislação penitenciária estadual assegurará o

respeito às regras mínimas da Organização das Nações Unidas para o tratamento de

reclusos, a defesa técnica nas infrações disciplinares(...)"

Importante consignar que as principais disposições legais referentes às

regras acerca do sistema de execução penal encontram-se insertas na LEP que,

segundo HUMAN “é uma obra extremamente moderna de legislação; reconhece um

respeito saudável aos direitos humanos dos presos e contém várias provisões

ordenando tratamento individualizado, protegendo os direitos substantivos e

processuais dos presos e garantindo assistência médica, jurídica, educacional,

social, religiosa e material. Vista como um todo, o foco dessa lei não é a punição

mas, ao invés disso, a ressocialização (grifo nosso) das pessoas condenadas". (...)

Além de sua preocupação com a humanização do sistema prisional, também incita

juizes a fazerem uso de penas alternativas como fianças, serviços comunitários e

108O principio da humanidade impõe a necessidade de todas as relações humanas no processo de recuperação do condenado.GOMES. Luiz Flavio. Penas e medidas alternativas à prisão. São Paulo, RT, 1999. p. 67. 109 BÁRTOLI, Márcio Orlando. Definição de papéis na execução da pena. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.4, p. 01, maio 1993.

53

suspensão condicional” 110.

Outro dispositivo de extrema importância que delimita normas acerca

do sistema carcerário são as Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil,

realizada nos parâmetros das Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros das

Nações Unidas e que se encontram inseridas em nosso ordenamento pela Resolução

n o. 14 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária em 11 de

novembro de 1994. Tais regras são distribuídas em 65 artigos que, em outras

normas, referem-se à alimentação, disciplina, classificação.

2.3 Histórico da Legislação de Execução Penal

Em nosso ordenamento brasileiro, a primeira tentativa de codificação

das regras de execução penal surgiu em 1933, anteprojeto do Código Penitenciário

da República, este que foi elaborado por Cândido Mendes, Lemos de Brito e Heitor

Carrilho, e que veio a ser publicado em 1937111, trazendo em suas exposições a

previsão de regeneração dos detentos. Tal projeto não prosperou ante sua

contradição com a promulgação do código Penal de 1940112 .

Posteriormente, em 02/10/1957 foi publicada a Lei 3.274, primeira

legislação a tratar especificamente de matéria de execução penal, porém

constatadamente precária e ineficaz o que, mais adiante, culminaria em sua

revogação já que não trazia consigo normas aptas a dar aplicabilidade às sanções113.

Oportunamente, em 1963 Roberto Lyra apresenta um novo anteprojeto

que, apesar do excelente tecnicismo, não prosperou frente ao conturbado momento

que se encontrava o país qual seja o regime militar. Diante do quadro político

110 HUMAN RIGHTS WATCH, O Brasil atrás das grades [1997/1998]. In: [Internet] http://www.hrw.org/portuguese/reports/presos p. 11. 111 MIRABETE, Julio Fabrini. Execução Penal. São Paulo: Atlas. 2004, p. 23. 112 GOULART, José Eduardo. Principio informadores do direito da execução penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p. 65. 113 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execuções Criminais: comentários a Lei 7.210, de 11-7-1984. 11 ed. ver. atual. São Paulo: Atlas, 2004, p. 23.

54

incompatível com a realidade vivenciada a época, o projeto não foi apresentado ao

congresso a pedido do próprio autor114.

2.4 A Lei 7210/84

Em 1981, o ministro da justiça em exercício, Ibrahim Abi-Ackel,

designou uma comissão para redigir o anteprojeto de Lei de Execução Penal.

A comissão era integrada por René Ariel Dotti, Benjamin Moraes Filho,

Miguel Reale Júnior, Rogério Lauria Tucci, Ricardo Antunes Andreucci, Sérgio

Marcos de Moraes Pitombo e Nogi Calixto..

Nos dizeres de um de membros, a Lei de Execução possuía “um

realismo humanista, que vê a pena como reprimenda; que busca harmonizar o

Direito Penal recorrendo às novas medidas que não o encarceramento: que pretende

fazer da execução da pena a oportunidade para sugerir e suscitar valores, facilitando

a resolução de conflitos pessoais do condenado, mas sem a presunção de

transformar cientificamente sua personalidade”115.

O anteprojeto foi apresentado em 1982, sofrendo minuciosa revisão,

sendo enviado em 29.06.1983, pelo Presidente da República, ao Congresso

Nacional, onde foi aprovado e remetido ao executivo para sanção.

Foi assim sancionada e Lei de Execução Penal em 11/07/1984, com a

Lei 7.210 entrando em vigor seis meses após sua publicação, conjuntamente com a

lei de reforma da Parte Geral do Código Penal (Lei 7.209/84) que, entre outro

objetivos vinha como forma dar aplicabilidade à lei de execução.

114 GOULART, José Eduardo. Principio informadores do direito da execução penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, n. 5, p. 68. 115 REALE JUNIOR, Miguel. Novos Rumos do sistema criminal. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 48 in: GOULART, José Eduardo. Principio....cit. n. p. 75.

55

A Lei de Execução Penal possui nove títulos e 204 artigos, se apresenta

regulando as formas de execução das penas privativas de liberdade, restritivas de

direitos, multa e medida de segurança. De caráter jurisdicional, desenvolve-se

respeitando os princípios e garantias constitucionais do devido processo legal.

Regula, ainda os direitos e deveres do condenado, os eventuais excessos ou desvios

na execução da pena, os incidentes de execução, além de oferecer lista dos órgãos

de execução penal com respectiva definição e atribuições.

2.4.1 Objetivo

Antes de apontar os principais aspectos da Lei de Execução Penal e de

dar ênfase aos tópicos de maior relevância na prática das execuções das penas e

medidas de segurança, sobretudo naquelas que tocam diretamente ao recluso e ao

egresso116, figuras centrais desta pesquisa, é preciso identificar o objeto da Lei de

Execução Penal.

Quanto ao objeto, vai-se buscá-lo ao artigo 1° da Lei 7.210:

“A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença

ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social

do condenado e do internado.”

Pode-se deduzir assim que a execução penal tem dois objetivos

basilares, o primeiro que consiste em efetivar as disposições de sentença ou decisão

criminal, que significa o efetivo cumprimento no disposto da sentença penal

condenatória ou absolutória imprópria, buscando conseguir a ressocialização do

indivíduo e a prevenção de delitos.

O segundo é o de proporcionar condições para a harmônica integração

116Nos termos do art. 26 da Lei de execução penal, considera-se egresso o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento e o liberado condicional, durante o período de prova..

56

social do condenado e do internado, ofertando meios necessários para a

ressocialização e a reintegração na sociedade dos condenados e dos submetidos à

medida de segurança.

Entretanto, conforme estudos apontados pela doutrina e institutos de

pesquisa outra é a realidade que se apresenta, bem distante da formalmente aclarada

nos textos legais, donde conclui-se a grande problemática existente no sistema

carcerário nacional que de maneira contundente recai sobre a vida do egresso do

cárcere117.

Em contrapartida, convive-se com a sociedade ameaçada em seus

valores por uma insegurança latente e com o Estado que, graças a formas

desumanas e muito aquém do preconizado nos Pactos Internacionais dos quais

somos signatários, continua a seguir e praticar modelos de ressocialização em

franco desrespeito pela dignidade humana, limite constitucional que sempre deveria

estar presente, já que, apresenta, ele próprio, o sentido da reinserção social.

Ora, o que não se deve deixar de salientar é que há, ainda nos dia atuais

há uma total discrepância entre o número de vagas e o de detentos Estado de São

Paulo: aproximadamente 144.420118. Não se precisando quantos efetivamente

trabalham, sabendo-se de certo que o índice é ínfimo, o que de fato impossibilita a

reeducação, o que diretamente recai na vida futura do egresso, quer pela

inexperiência, quer pela inabilitação profissional. Não se considera aqui, por óbvio,

sua futura condição como ex-detento.

Neste sentido, manifestou-se o ex-secretário de Estado da

Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, junto ao Instituto Ethos quando do

lançamento do Manual elaborado para auxiliar empresas na colaboração de

ressocialização dos detentos. Afirmou o secretário que "Temos que buscar formas

117Sobre o tema ver TORRES, Andréa. Egresso prisional: oportunidades versus preconceitos. Revista de Estudos Criminais. Porto Alegre, v.5, n.178, p. 127-135, 2005. 118Último senso de 2006, disponível em http://www.sap.sp.gov.br/common/dti/estatisticas/populacao.htm..

57

alternativas de sancionar quem comete delitos e de diminuir os índices de

reincidência", neste sentido, este aponta a falência do sistema carcerário que,

certamente tem uma função ao egresso, qual seja, voltar a delinqüir.

O sistema prisional, deve fazer cumprir a finalidade preventiva

específica da pena, que pode ser definida como sendo aquela que tem como objetivo

afastar o criminoso do convívio social e buscar sua readaptação. Para que este

objetivo possa ser atingido são impostas determinadas privações ao condenado,

exemplificativamente: o afastamento do mundo exterior, bem como de sua família,

retirada de seu ambiente de trabalho, bem como de seu bairro, e da sociedade em

geral.

2.5 A Função das Prisões

Conforme já constante do primeiro capítulo, contra aqueles que

praticaram algum tipo de conduta contraria ao ordenamento vigente, se impõe

algum tipo de sanção. Conforme se observou, a mais antiga forma de sanção

consistia na vingança pessoal que, infelizmente, ainda que contraria a ordem

vigente, continua prevalecendo119.

Nos dizeres de Foucalt uma das principais causas da prática da conduta

delitiva consiste na ociosidade do agente, segundo o autor o afastamento do

delinqüente da sociedade, serviria, não só para a prevenção e punição dos delitos,

como também para transformar o detento, pelo trabalho e pelo estudo em um ser

humano apto ao convívio e útil à sociedade120,

Desta maneira, nos termos do expendido por Cabral “a prisão moderna

traz consigo o ideal cristão de penitência e redenção, onde o sofrimento é parte do

processo de expiação da pena. O isolamento o trabalho e a reflexão garantiriam, em

119 FERNANDES, Newton, A falencia do sistema prisional brasileiro. São Paulo. RG editores, 2000.. 120 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 24. ed. Petropólis: Vozes, 2001.

58

tese, a transformação de indivíduos inadequados ao convívio social em novos

cidadãos, viabilizando sua melhora. As penas e prisões possuiriam, assim, um

caráter reformador, curador, recuperador e, sobretudo, individualizado tal qual o

médico que recupera um doente de uma enfermidade” 121.

Neste diapasão, conforme já explicitado anteriormente, a prisão, como

meio de aplicação da pena, deverá garantir primeiramente a retribuição, privando o

delinqüente de sua liberdade como forma de retribuição pelo mal causado pela

pratica do delito. Noutro momento a prisão do criminoso, deverá impedir a prática

de outros delitos, mostrando a sociedade em geral as conseqüências de seu

cometimento e, por fim, ao nosso ver, na atualidade a prisão deverá ter como

principal objetivo à reeducação, obviamente que, por meio de um acompanhamento

individual e, analisando o perfil e o crime praticado por cada detento122,.

2.6 Os Estabelecimentos Penais

O Brasil, consoante se verifica na lei de execução penal, preconiza o

sistema progressivo onde o detento inicia o cumprimento da sanção em um regime

mais rigoroso para um menos rigoroso, desde que preencha os requisitos objetivos e

subjetivos estabelecidos pela lei123. O cárcere brasileiro é constituído de vários

estabelecimentos penais e, de diferentes espécies, incluindo penitenciárias, cadeias

públicas, presídios, delegacias policiais e casas de detenção. Conforme se verifica, a

lei de execução cria várias categorias de estabelecimentos penais reconhecidos por

características próprias, quais sejam:

a) Penitenciaria- estabelecimento destinado ao condenado à pena de

reclusão, em regime fechado124.

121 CABRAL, Sandro. “Além das Grades”: Uma análise comparada das modalidades de gestão do sistema prisional. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia. 2006. p. 117. 122 Neste sentido, Sandro Cabral afirma que a prevenção a outros crimes certamente ocorre, segundo o autor “o confinamento do individuo poderia impedir a ocorrência de novos delitos, ao menos extramuros. idem p. 117.. 123 Ver, art. 112 da LEP. 124 Art. 87da LEP.

59

b) Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao cumprimento

da pena em regime semi-aberto125.

c) Casa do Albergado com destinação para presos que estiverem

cumprindo pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de

fim de semana126.

d) Cadeia pública- estabelecimento destinado ao recolhimento de presos

provisórios127

Conforme-se se observa pelos dispositivos supra mencionados a lei

destina claramente vários estabelecimentos penais para o cumprimento de cada fase

da sanção e. teoricamente a rota de prisão inicia-se pelo Flagrante levado a inicio no

Distrito Policial onde então, logo após sua lavratura, o detento deverá ser levado à

Cadeia Publica ou os chamados Centro de Detenção Provisória. Neste local o preso

aguardará a prolação da sentença.

Oportunamente, se procedente a ação penal, os referidos detentos

deverão ser transferidos para três estabelecimentos penais distintos, quais sejam,

presídios, para os condenados em regime fechado; colônias agrícolas e industriais,

destinados aqueles no regime semi-aberto e a casa do albergado especifico a preso

no regime aberto, de qualquer sorte, deve-se observar o preconizado pelo art. 5º da

Lei de Execução Penal que estabelece a obrigatoriedade de classificação dos

condenados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a

individualização da execução pena.

Apesar da distribuição carcerária ao longo do Pais, São Paulo, sem

duvida representa a maior concentração, possui hoje cerca de 40% dos presos do

125 PEREIRA, Tarlei Lemos. Sistema carcerário. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.57, p. 07, ago. 1997. 126 Art. 93da LEP. 127 Art. 102da LEP.

60

país, chegando inclusive a receber presos de outros Estados, como por exemplo,

Luiz Fernando da Costa, o “Fernandinho Beiramar” que esteve preso em Presidente

Prudente.

Ainda neste desiderato, apesar do grande número de estabelecimentos

penais distribuídos ao longo do Estado, outra questão que deve ser observada é a

alocação do preso às proximidades de sua família pois, imprescindível ao bom

andamento da execução penal128.

Conforme se observará, o sistema penitenciário de São Paulo, e

principalmente o de Sorocaba, passa muito distante desta realidade. Inicialmente,

constata-se a falta de estrutura que, ante a inexistência de política pública ou,

conforme por muitos justificados, pelo excesso exacerbado de preso, levam os

detentos, na maioria das vezes, a cumprir parte da pena em estabelecimento diverso

daquele determinado e, por muitas vezes de maior rigor.

2.7 Direitos Estabelecidos na Lei de Execução Penal

A Lei de Execução Penal, dentre outros, estabelece, logo no

artigo terceiro, que os detentos terão assegurados todos os direitos não atingidos

pela sentença ou pela lei e, explicitamente declara no art. 40 que as autoridades

deverão respeitar sua à integridade física e moral129. Em continuidade, no art. 41,

determina um rol de direito que, apesar de extenso, não é exaustivo.

Abordaremos, como forma de posteriormente traçar a realidade entre a

teoria estabelecida pela Lei de Execução Penal e a pratica vivenciada pelos detentos

do sistema prisional a questão das assistências130.

128JORGE, Wilson Edson. Penitenciárias : a questão da localização. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.10, n.120, p. 6-7, nov. 2002. 129NASCIMENTO, Maria José Maciel. Princípios básicos que regem a execução da pena. Revista do Curso de Direito. Brasília, v.3, n.2,, jun./dez. 2002. p. 121. 130 Tratando das assistências ver também RODRIGUES, Anabela Maria Pinto de Miranda. A posição jurídica do recluso na execução da pena privativa de liberdade. São Paulo. IBCCrim, 2000. V. 11, p.59.

61

2.7.1 Assistência

A Lei de Execução em seu artigo primeiro assegura ao condenado e

internado condições harmônicas para sua integração. Em seguida, como regra geral,

em seu artigo décimo, obriga o Estado a prestar assistência aos condenados e

internados. Segundo o dispositivo, a referida assistência tem por objetivo a

prevenção ao crime e orientação do preso para seu retorno à convivência em

sociedade, ou seja, seu objetivo reside na tão almejada reabilitação e

ressocialização.

Posteriormente passa a Lei de Execução a garantir que os presos

tenham acesso a outros tipos de assistência, tais como jurídica, médica e serviços

sociais.

A legislação de execução penal, assegura também assistência ao

egresso, estabelece no art. 25 que o Estado deverá prestar orientação para reintegrá-

lo à vida em liberdade e, de fornecê-lo alojamento e alimentação pelo prazo de 2

(dois) meses, podendo ser prorrogado por uma vez.

2.7.2 A Assistência Material

A assistência material consiste no fornecimento de alimentação,

vestuário e instalações higiênicas. O estabelecimento disporá de instalações e

serviços que atendam aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais

destinados à venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela

Administração.

Enfatizado no art. 41, I a alimentação ficará a cargo do Estado. Tema de

extrema relevância encontra guarida nos itens 20.1 e 20. 2 das Regras Mínimas para

o Tratamento dos Reclusos da ONU. Segundo tal dispositivo o estado deverá

62

fornecer ao recluso alimentação de valor nutritivo adequado à saúde e à robustez

física, de qualidade e bem preparada e servida alem do preso ter a possibilidade de

se prover com água potável sempre que necessário.

Em relação ao vestuário também é garantido pelas regras mínimas da

ONU que no item 17 prevê que o vestuário do detento deve estar garantido pelo

Estado e de acordo com as condições climáticas de onde vive, bem como deverá ser

mantido limpo e em bom estado e não poderá ser degradante e humilhante.

Estabelece-se ademais, que quando autorizado a sair do sistema prisional lhe é

permitido utilizar sua próprias roupas desde que estas não chamem a atenção.

Estabelece-se ainda o item 19 que deverá ser-lhes fornecido roupa de

cama suficiente limpa e trocada com freqüência para garantir sua limpeza.

A higiene pessoal segundo a Lei de Execução é de obrigação do preso,

bem como, a conservação de seus objetos de uso pessoal. Neste sentido, o item 15

das Regras Mínimas da ONU, estabelece que aos detentos deverão ser fornecidos

objetos necessários à manutenção de sua saúde e limpeza. Preocupa-se também a

ONU com o aspecto dos presos, que deverão estar garantidos por meio do corte de

cabelo e barbear habitual.

2.7.3 Assistência Médica

A assistência à saúde do preso e do internado encontra-se estabelecida

pelo art. 14 da LEP e é prevista de forma preventiva e curativa, compreendida de

atendimento médico, farmacêutico e odontológico.

Hoje, em todo o sistema prisional do Estado de São Paulo há apenas

cinco hospitais, dos quais três são para tratamentos psiquiátrico. Encontram-se

localizados em São Paulo (dois), Franco da Rocha (dois) e o último em Taubaté.

Nota-se que nas demais regiões do Estado os presos devem ser conduzidos ao

63

Sistema Único de Saúde (SUS).

Cumpre acrescentar que, as Regras Mínimas para o Tratamento dos

Reclusos que prevêem dos itens 22 ao 26 normas acerca dos serviços Médicos, que

tem, entre outras obrigações preconiza o dever do Estado de examinar cada recluso

quando de sua admissão no estabelecimento penitenciário, bem como, separar

reclusos suspeitos de serem portadores de doenças infecciosas ou contagiosas além

de ter que detectar qualquer tipo de doença que possa constituir obstáculos à

reinserção e a capacidade para o trabalho.

2.7.5 Assistência Jurídica

Hoje, a maioria dos detentos não possuem condições de arcar com o

ônus de um advogado131 e, conhecendo tal realidade a Constituição Federal em seu

art. 5º. Inc. LXXIV e a Lei de Execução Penal, em seu art. 15, previram a

assistência jurídica destinada a presos e internos sem recursos financeiros.

A assistência jurídica consiste na defesa dos direitos do preso e do

internado no andamento do processo penal e, em caso de execução, resguardando os

direitos do preso durante o cumprimento de sua pena e, dando a eles a sensação de

estar sendo assistido o que, por mais das vezes traz tranqüilidade no sistema

prisional. Neste é manifesto o pensamento de Pimentel:

“Nenhum preso se conforma com o fato de estar preso e, mesmo quando conformado esteja, anseia pela liberdade. Por isto, a falta de perspectiva ou a sufocante sensação de indefinida duração da pena são motivos de inquietação, de intranqüilidade, que sempre se refletem,de algum modo na disciplina. É importante que o preso sinta ao seu alcance a possibilidade de lançar mão das medidas judiciais capazes de corrigir eventual excesso de pena, ou que possa abreviar os dias de prisão. Para isso, deve o Estado - tendo em vista que a maior da população carcerária não dispõe de recursos para contratar advogados- propiciar a defesa dos presos” 132.

131 MIRABETE, Julio Fabrini. Execução Penall. São Paulo: Atlas. 2004, p. 72. 132PIMENTEL, Manoel Pedro. Prisões fechadas e prisões abertas. Serie estudos penitenciários. Cortez e Moraes,1978. p. 188..

64

2.7.5 Assistência Educacional

Segundo estabelecido pela LEP, a assistência educacional

compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do

internado. Será obrigatório o ensino médio e, o ensino profissional se dará em nível

de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.

Estabelece-se ainda a possibilidade de convênio com entidades

particulares ou públicas para a realização das atividades educacionais.

Impõe ainda a Lei de Execução a obrigatoriedade de, em cada

estabelecimento a instalação de uma biblioteca que deverá estar provida de livros

instrutivos, recreativos e didáticos.

Em consonância com o supracitado temos a Declaração Universal dos

Direitos Humanos que, em seu art 26 estabelece que à instrução e obrigatória e

direito de todos, que deverá ser gratuita nos graus elementares e fundamentais e que

terá objetivo o desenvolvimento da personalidade humana, fortalecimento do

respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais133.

Também em relação á educação o art 77 das Regras Mínimas para o

Tratamento dos Reclusos preconiza a obrigatoriedade da educação do recluso.

Vale ressaltar que a educação possui ótima influência na disciplina do

estabelecimento penal além é claro, de oferecer condições à ressocialização do

detento de maneira que lhe prepara para o retorno à sociedade134.

133 Sobre o tema direitos humanos interessante ver ESPINOZA. Olga. A mulher encarcerada em face do poder punitivo. São Paulo. IBCCrim, 2004. v. 31 p.32 e LIMONGI, Celso Luiz. Direitos humanos e execução penal. p. 115-121, 2001. Em: Direitos humanos: visões contemporâneas. São Paulo : Associação Juízes para a Democracia, 2001.. 134MARCAO, Renato. Curso de Execução Penal. São Paulo. Saraiva. 2007. p. 23.

65

2.7.6 A Assistência Social

Tendo finalidade, nos termos dos artigos 21 e 22 de LEP, de amparar e

preparar o preso e o internado para o retorno à liberdade, a assistência social tem

como obrigação conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames; relatar, por

escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentadas

pelo assistido; acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas

temporárias; promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;

promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena, e do

liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade; providenciar a obtenção de

documentos, dos benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente no

trabalho; orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e

da vítima.

Tarefa imprescindível ao processo de execução, a assistência social nos

termos do supracitado, deve atuar em busca de condições para possibilitar ao preso,

seus familiares e a vitima, meios para o tratamento e reinserção no convívio da

sociedade.

2.8 Órgãos de Controle do Sistema Prisional

2.8.1 Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

Instalado em junho de 1980, tem sede na Capital da República, o

Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária é o primeiro dos órgãos da

Execução Penal e sus composição será integrado por 13 membros escolhidos entre

membros da comunidade, professores e profissionais da área do Direito Penal,

Processual Penal, Penitenciário e ciências correlatas, sua nomeação é feita por ato

do Ministério da Justiça para o exercício de uma mandato pelo período de 2 (dois)

anos, renovado 1/3 (um terço) em cada ano135.

135 A emenda 6 da Comissão de Justiça reduziu de 4 para 2 anos o mandato de seus membros.

66

Francisco de Assis Toledo, Coordenador das comissões da reforma das

leis penais, manifestou-se em relação ao conselho junto a CCJ nos seguintes termos:

“Previu-se a criação do conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciaria . esse órgão, deverá se integrado, segundo se espera, por especialistas de notável saber e experiência, nomeados pelo Ministro de Estado da Justiça, terá a incumbência de elaborar as diretrizes de uma política criminal e penitenciária a ser observada em todo o pais, guardadas as peculiaridades regionais. Será um órgão normativo e de fiscalização, cabendo-lhe ainda, contribuir, de modo direto e efetivo, para implementação das determinações e recomendações que fizer, com vistas na realização dos fins da reforma penal e penitenciaria. Pretende-se, com a criação deste Conselho, retirar do empirismo em que se encontra, no Brasil, a formulação de critérios diretivos no âmbito da prevenção e repressão do crime e na esfera de organização da organização penitenciaria, evitando-se soluções de continuidade, contradições e os conhecidos altos e baixos. Preservou-se, contudo, a autonomia das unidades federativas, atuando o conselho precipuamente na faixa reservada à esfera de atribuições dos órgãos da União. Em suma, o referido Conselho, irá contribuir, como tarefa fundamental, para a elaboração, por parte do Governo, de um plano amplo e bem coordenado no controle do fenômeno da criminalidade”136.

Neste sentido, tem-se o referido conselho, por obrigação, propor

diretrizes da política criminal quanto à prevenção do delito, administração da

Justiça Criminal e execução das penas e das medidas de segurança; contribuir na

elaboração de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e

prioridades da política criminal e penitenciária; promover a avaliação periódica do

sistema criminal para a sua adequação às necessidades do País; estimular e

promover a pesquisa criminológica; elaborar programa nacional penitenciário de

formação e aperfeiçoamento do servidor; estabelecer regras sobre a arquitetura e

construção de estabelecimentos penais e casas de albergados; estabelecer os

critérios para a elaboração da estatística criminal; inspecionar e fiscalizar os

estabelecimentos penais, bem assim informar-se, mediante relatórios do Conselho

Penitenciário, requisições, visitas ou outros meios, acerca do desenvolvimento da

execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo às autoridades

dela incumbida as medidas necessárias ao seu aprimoramento; representar ao Juiz 136 Publicação da Câmara dos Deputados Projeto de Lei n 1.637-A de 1983 p. 33 apud MIRABETE, Julio Fabrini. Execução Penal. São Paulo: Atlas. 2004. P. 171.

67

da execução ou à autoridade administrativa para instauração de sindicância ou

procedimento administrativo, em caso de violação das normas referentes à execução

penal; representar à autoridade competente para a interdição, no todo ou em parte,

de estabelecimento penal.

O Conselho Nacional exerce suas atividades em âmbito federal ou

estadual.

2.8.2. Conselho Estadual de Política Criminal e Penitenciária

Instituído pelo Decreto nº 26.981, de 13 de maio de 1987, seus

membros são designados pelo Governador do Estado e de subordinação ao

Secretário da Justiça. Com Decreto nº 33.134, de 15 de março de 1991, passou a

integrar a Secretaria da Segurança Pública e posteriormente, em razão da Lei nº

8.209, de 4 de janeiro de 1993 que criou a Secretaria da Administração

Penitenciária, esta foi para lá transferida.

Sua composição atual é regulada pela Lei nº 7.634/91 e possui: 1 (um)

membro, que será o Presidente, indicado pelo Secretário da Segurança Pública; o

Coordenador da Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários; 1(um)

representante do Conselho Penitenciário do Estado; 1 (um) representante da

Fundação Estadual de Amparo ao Trabalhador Preso - FUNAP; 1 (um)

representante da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania; 1 (um) representante

do Ministério Público; 1 (um) representante da Assistência Judiciária da

Procuradoria Geral do Estado; 1 (um) representante da OAB - Seção de São Paulo;

2 (dois) professores universitários das áreas de Direito Penal, Direito Processual

Penal, Penitenciário e Ciências Correlatas, indicados pelo Secretário da Justiça e 4

(quatro) membros representativos da comunidade, indicados por entidades

reconhecidamente dedicadas à proteção dos direitos humanos e aos estudos na área

criminal e penitenciária, com mandato de 2 (dois) anos, sendo permitido a

recondução, por uma única vez.

68

Tam como obrigação cumprir e fazer cumprir as diretrizes do Conselho

Nacional de Política Criminal e Penitenciária, assessorar o Secretário da Segurança

Pública na execução da política criminal e penitenciária do Estado e na

harmonização das atividades dos vários órgãos nela envolvidos; propor as diretrizes

da política estadual quanto à prevenção do delito, administração da justiça criminal

e execução das penas e das medidas de segurança; cooperar na elaboração dos

planos estaduais de desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades da política

criminal e penitenciária; promover a avaliação periódica dos sistemas criminal e

penitenciário para a sua adequação às necessidades do Estado; estimular e apoiar a

pesquisa criminológica; sugerir regras sobre a arquitetura e a construção de

estabelecimentos penais; promover inspeções nos estabelecimentos penais e

informar-se, mediante relatórios do Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou

outros meios, sobre o desenvolvimento da execução penal, propondo às autoridades

dela incumbidas, as medidas necessárias ao aprimoramento da execução penal, a

instauração de sindicância ou procedimento administrativo, em caso de violação das

normas relativas à execução penal e a interdição, no todo ou em parte, de

estabelecimento penal; colaborar com o Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciária, mantendo-o informado de suas atividades; propor à autoridade

competente a celebração de convênios para a consecução de seus objetivos e zelar

pelo respeito aos direitos e garantias individuais do preso.

2.8.3 Juízo da Execução

A execução penal ficará a cargo de juízo especifico consoante

prescrever a lei local de organização judiciária de cada Estado e, na sua ausência, ao

da sentença. No Estado de São Paulo, a execução ficará a cargo do juiz corregedor

dos presídios e da polícia judiciária que é competente para aplicar aos casos

julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado; declarar extinta

a punibilidade; decidir sobre soma ou unificação de penas, progressão ou regressão

nos regimes, detração e remição da pena, suspensão condicional da pena,

69

livramento condicional e incidentes da execução. Caberá ainda a este autorizar

saídas temporárias; determinar a forma de cumprimento da pena restritiva de

direitos e fiscalizar sua execução; a conversão da pena restritiva de direitos e de

multa em privativa de liberdade; a conversão da pena privativa de liberdade em

restritiva de direitos; a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição

da pena por medida de segurança; a revogação da medida de segurança; a

desinternação e o restabelecimento da situação anterior; o cumprimento de pena ou

medida de segurança em outra comarca; a remoção do condenado na hipótese

prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei.

Determinou-se também ao magistrado que este deve zelar pelo correto

cumprimento da pena e da medida de segurança; inspecionar, mensalmente, os

estabelecimentos penais, tomando providências para o adequado funcionamento e

promovendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade; interditar, no todo

ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em condições

inadequadas ou com infringência aos dispositivos da Lei de Execução, compor e

instalar o Conselho da Comunidade e, conforme redação dada pela lei 10.713/2000

deverá ainda, emitir anualmente atestado de pena a cumprir pelo detento137.

2.8.2 Ministério Público

Conforme preconizado pelo art 127 da Constituição Federal “o

Ministério Público é essencial à função jurisdicional do Estado, cuja atribuição

consiste na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais

e individuais indisponíveis”.

Inserido na LEP pelos artigos 67 e 68 tem a obrigatoriedade de visita

mensal aos estabelecimentos penais e com a incumbência fiscalizar a execução da

pena, podendo para tanto recorrer das decisões proferidas pelo juízo da execução e

137 Sobre o papel do juiz da na execução ver também FRANCO, Alberto Silva. Os figurantes no sistema prisional. Revista do Ilanud. São Paulo, n.17, p. 9-21, 2001.

70

requerer providencias para seu efetivo desenvolvimento.

Caberá ainda ao Parquet, entre outras, o pedido de instauração dos

incidentes de excesso ou desvio de execução. Sua atuação é imprescindível ao bom

e correto desenvolvimento do processo de execução legitimando para postular em

favor do recluso. Neste sentido proclamaram-se os professores da Universidade de

São Paulo que, em suas “Mesas de Processo Penal” editaram a súmula 80 que

preconiza que “no processo de execução, o Ministério Público tem poder de

impulso para solicitar provimentos jurisdicionais em prol do sentenciado”138.

2.8.5 Conselho Penitenciário do Estado de São Paulo

Órgão consultivo e fiscalizador da execução penal foi instituído nos

termos dos Decretos nº 26.372, de 4 de dezembro de 1986 e 28.532, de 30 de junho

de 1988, possui sede na Capital do Estado de São Paulo. Sua designação será de

competência do Governador para um mandato de 4 (quatro) anos, permitida a

recondução Sua composição é formada 20 membros efetivos e de 10 membros

suplentes. São efetivos: 6 (seis) Médicos Psiquiatras, de livre escolha do

Governador do Estado; 4 (quatro) Procuradores de Justiça, indicados pelo

Procurador Geral da Justiça do Estado, 2 (dois) Procuradores da República,

indicados pelo Procurador Geral da República; 4 (quatro) Advogados, indicados

pela Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de São Paulo, 2 (dois) deles na

qualidade de representantes da comunidade, 2 (dois) Procuradores do Estado, da

Procuradoria de Assistência Judiciária, indicados pelo Procurador Geral do Estado;

e 2 (dois) Psicólogos, de livre escolha do Governador. São suplentes: 3 (três)

Médicos Psiquiatras; 2 (dois) Procuradores de Justiça; 1 (um) Procurador da

República; 2 (dois) Advogados; 1 (um) Procurador do Estado; e 1 (um) Psicólogo.

Compõem ainda o referido conselho na condição de membro

conselheiro e sem direito a voto os dirigentes dos seguintes órgãos:

138 apud MARCAO, Renato .Curso de Execução Penal. São Paulo. Saraiva. 2007. p. 80.

71

Estabelecimentos Penais do Estado; Instituto de Medicina Social e de Criminologia

de São Paulo - IMESC; Fundação "Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel" - FUNAP e a

Secretaria da Segurança Pública, representada por 1 (um) Delegado de Polícia.

São atribuições do Conselho Penitenciário, conforme art 70 da LEP:

emitir parecer sobre indulto e comutação de pena, excetuada a hipótese de pedido

de indulto com base no estado de saúde do preso, inspecionar os estabelecimentos e

serviços penais, apresentar, no 1º (primeiro) trimestre de cada ano, ao Conselho

Nacional de Política Criminal e Penitenciária, relatório dos trabalhos efetuados no

exercício anterior, supervisionar os patronatos, bem como a assistência aos

egressos.

2.8.6 Departamento Penitenciário Nacional

Órgão executivo da Política Penitenciaria Nacional e de apoio

administrativo e financeiro do Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciária é subordinado ao Ministério da Justiça tem como atribuições:

acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo o Território

Nacional, inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços

penais, assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação dos

princípios e regras estabelecidos nesta Lei, colaborar com as Unidades Federativas

mediante convênios, na implantação de estabelecimentos e serviços penais,

colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cursos de formação de

pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do condenado e do internado,

estabelecer, mediante convênios com as unidades federativas, o cadastro nacional

das vagas existentes em estabelecimentos locais destinadas ao cumprimento de

penas privativas de liberdade aplicadas pela justiça de outra unidade federativa, em

especial para presos sujeitos a regime disciplinar. Caberá ainda ao Departamento a

coordenação e supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento federais.

2.8.7. Patronato

72

Também denominado de patronagem, foi criado com objetivo da

prestação de assistência aos albergados e aos egressos139, tem como obrigação

orientar os condenados à pena restritiva de direitos, fiscalizar o cumprimento das

penas de prestação de serviço à comunidade e de limitação de fim de semana, bem

como, colaborar na fiscalização do cumprimento das condições da suspensão e do

livramento condicional140.

2.8.8 Conselho da Comunidade

Forma de participação da sociedade no acompanhamento da execução e

cumprimento das regras estabelecidas no art. 1º da Lei de Execução, tem por

obrigação visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos penais existentes

na comarca, entrevistar presos, apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução e

ao Conselho Penitenciário, diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos

para melhor assistência ao preso ou internado, em harmonia com a direção do

estabelecimento141.

2.9 Comissão Técnica de Classificação

Com objetivo de elaborar programa individualizador adequado ao

condenado ou preso provisório, a Comissão Técnica de Classificação, que deverá

existir em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo,

por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um)

assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade.

139Vale salientar que, nos termos do art. 26 da LEP, será considerado egresso o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento e o liberado condicional, durante o período de prova. 140 Ver também GARCIA, Consuelo da Rosa e. O conselho da comunidade : apontamentos sobre sociedade e execução penal. Revista Transdisciplinar de Ciências Penitenciárias. Pelotas, v.1, n.1, p. 179-219, jan./dez. 2002.. 141 VALENTE NETO, José. Os egressos do cárcere: o que fazer. Revista do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Brasília, n.15, jan./jun. 2001. p.99.

73

À comissão, no intuito de obter dados à realização do programa,

realizará exame criminológico e dentro da ética profissional, poderá entrevistar

pessoas, requisitar a repartições dados e informações a respeito do condenado.

2.10 Servidores do Sistema Penitenciário

A Lei de Execução Penal entre os artigos 75 usque 77 estabelece as

regras para organização e nomeação da Direção e do Pessoal dos Estabelecimentos

Penais.

2.10.1 Diretor

Segundo o art. 75 da LEP para ser diretor exige-se ter idoneidade moral

e reconhecida aptidão para o desempenho da função. O ocupante do cargo de diretor

de estabelecimento deverá satisfazer os seguintes requisitos, deve possuir

experiência administrativa na área e ser portador de nível superior de Direito, ou

Psicologia, ou Ciências Sociais, ou Pedagogia, ou Serviços Sociais;

Estabelece também as regras mínimas da ONU, no item 50.1 que o

diretor do estabelecimento prisional deve possuir qualificação para a função

estabelecida pelo seu caráter e pelas suas competências administrativas, formação e

experiência.

2.10.2 Agente Penitenciário

Com relação ao Quadro do Pessoal Penitenciário sua escolha atenderá a

vocação, preparação profissional e antecedentes pessoais do candidato.

Nos Estado de São Paulo, o agente penitenciário ingressa na carreira

por meio de prova e submetido ao curso de formação com carga horária total de 350

horas/aulas.

74

As regras mínimas para o tratamento do recluso da ONU de maneira

mais ampla, estabelece que a boa gestão dos estabelecimentos penitenciários

depende da integridade, humanidade, aptidões pessoais de seus agentes e para tanto

a seleção pela administração penitenciária deve ser cautelosa.

Compete ainda a administração, segundo as Regras Mínimas, a

manutenção do espírito do pessoal e, da opinião pública a convicção de que esta

missão de ressocializar representa um serviço social de grande importância.

Estabelece as normas da ONU que os profissionais do sistema

penitenciário que, em função da conduta penosa do trabalho deve ser assegurado

aos agentes boa remuneração, garantia de emprego e boas condições de trabalho.

O pessoal deve possuir um nível intelectual adequado, se submeter a um

com curso de formação antes de seu ingresso, bem como, deve por meios de cursos

de aperfeiçoamento conservar e melhorar os seus conhecimentos e competências

profissionais.

Preconiza o item 48 das referidas regras que para uma boa influência e

respeito dos presos para com os agentes, é imprescindível que estes tenham bom

comportamento e bom desempenho em suas funções.

75

3. O SISTEMA PENITENCIÁRIO DE SOROCABA

Com o objetivo de conhecer a realidade do sistema carcerário vinculado

à Vara de Execuções Criminais da Comarca de Sorocaba e principalmente constatar

a existência ou não do cumprimento das regras estabelecidas na LEP quanto à

individualização, assistência, e por conseqüência a tão almejada ressocialização,

elaborou-se a presente pesquisa. Para chegar a tais conclusões realizou-se perguntas

junto aos presos, os diretores dos estabelecimentos penais, ao juiz da execução e

egressos do cárcere.

No presídio Dr. Danilo Pinheiro – Penitenciária I de Sorocaba,

aproximadamente 15% dos detentos foram entrevistados. A capacidade de ocupação

do presídio é de 280 detentos no regime fechado e 260 no regime semi-aberto.

Importante ressaltar que a atual população carcerária é de 629 detentos no regime

fechado e 261 no semi-aberto.

Na Penitenciaria Dr. Antônio de Souza Neto – Penitenciária II de

Sorocaba, por se tratar de presídio específico para crimes contra os costumes

entrevistou-se aproximadamente 7% dos reeducandos. A capacidade de ocupação

do presídio é de 750 detentos e possui atualmente 1350, dos quais, 293 estão em

regime semi – aberto. Vale lembrar que está penitenciaria apesar de possuir presos

em regime semi–aberto, foi elaborada exclusivamente para o regime fechado.

Em Iperó, entrevistou-se aproximadamente 20% dos presos em regime

fechado. Quanto ao regime semi-aberto, deixou-se de entrevistar tendo em vista ã

época não contar com detentos. O presídio possui 1240 vagas no regime fechado e

108 no regime semi-0aberto. Conta atualmente com 469 presos no fechado e 167 no

semi-aberto. Vale informar que o presídio está sendo reformado, por tal razão

possui número de detentos inferior ao de sua capacidade.

Em relação á Cadeia Publica de Sorocaba, por ser destinada apenas aos

76

presos provisórios, entrevistou-se apenas o Diretor. Sua capacidade e de 576 vagas

e conta com aproximadamente 1000 presos.

Para inicio e realização da pesquisa solicitou-se autorização ao Juiz da

Vara de Execuções que, após explicações acerca do objetivo da Pesquisa,

prontamente nos permitiu o ingresso nos referidos presídios.

Posteriormente nos dirigimos aos presídios Dr. Danilo Pinheiro

(Penitenciária I) e Iperó onde conversamos com seus diretores e também sem

demais delongas nos autorizaram à realização da pesquisa.

Noutro momento nos dirigimos à Dr.Antonio de Souza Neto

(Penitenciária II) e, após aproximadamente dois meses e muita insistência, contando

com o apoio do Gerente da FUNAP de Sorocaba, obtivemos autorização para

pesquisa.

Em todos os presídios, a pesquisa foi realizada nos mesmo dia da

autorização dos diretores, pois, tinha-se por objetivo evitar um conhecimento das

questões e, por conseqüência uma resposta idêntica e em massa.

Contamos ainda com o apoio da Gerencia da FUNAP, regional

Sorocaba, que se encarregou de nos fornecer as copias dos questionários, bem

como, nos acompanhar até os referidos presídios e a apresentação aos diretores.

Posteriormente para dar continuidade à pesquisa e obtermos um

resultado que representasse a verdade, no presídio de Iperó, fomos argüidos por

cerca de 30 minutos pelos representantes da facção Primeiro Comando da Capital

(PCC) onde, dentre varias perguntas, nos foi questionado o objetivo do questionário

e o principal, de que maneira esta pesquisa ajudaria os detentos. Após a argüição

nos foi autorizado o inicio da pesquisa onde os presos respondiam às perguntas e

devolviam imediatamente, evitando, destarte, comentários e respostas direcionadas.

77

O mesmo ocorreu no regime semi-aberto da Penitenciaria Dr. Danilo

Pinheiro de Sorocaba onde fomos abordados por um preso pertencente ao Comando

Revolucionário Brasileiro da Criminalidade ( CRBC) que nos argüiu porque que a

pesquisa contava com o Brasão do Estado se se tratava de uma pesquisa para

Doutorado. Após informá-lo que, para a impressão da pesquisa contamos com o

apoio da FUNAP, deu-se inicio às respostas.

Entrevistou-se também 35 egressos dos aproximadamente 500

existentes na Vara de Execuções de Sorocaba. Vale consignar que o número foi

inferior aos demais porque parte deles eram analfabetos e outros, a grande maioria,

apresentavam-se apressados e alegavam a inexistência de tempo para as respostas.

Apresentou-se também um questionamento ao juízo da execução acerca

dos principais problemas na execução penal por ele vislumbrado.

Noutro momento, apresentou-se ao diretores do sistema prisional 25

perguntas.

78

3.1. AS PERGUNTAS AOS DETENTOS

Realizou-se 23 perguntas aos detentos do sistema prisional vinculado à

Vara de Execuções Criminais da Comarca de Sorocaba. Exceto, as três ultimas

questões que somente seriam respondidas pelo detento que, de alguma maneira

alguma vez saiu da prisão, seja de forma definitiva ou em saídas temporárias, as

demais deveriam ser respondidas por todos os detentos.

Passamos então às perguntas:

A primeira questão referia-se ao número da execução do detento e seu

objetivo era identificar o preso, entretanto, no momento da explicação fomos

questionados acerca de sua obrigatoriedade e, em função do receio por eles

apresentados, afirmamos que a identificação era facultativa, destarte não foram

respondidas.

A questão de numero 02 buscava-se perquirir por qual crime o

pesquisando foi condenado e para facilitar as perguntas inserimos os crimes mais

comuns como o roubo, latrocínio, homicídio, furto, estelionato, estupro e por fim o

espaço outros permitindo a inserção do ilícito. Segue-se resposta conforme

estabelecimento prisional iniciando sempre pela Penitenciária Dr. Danilo Pinheiro

(Penitenciária I) Regime Semi-aberto e Fechado, seguindo-se da Penitenciaria de

Iperó e Penitenciária Dr. Antônio de Souza Neto (Penitenciária II).

Por qual crime foi condenado?

Crime Quantidade Percentagem Roubo 30 51,72% Latrocínio 4 6,90% Homicídio 9 15,52% Furto 6 10,34% Estelionato 0 0,00% Estupro 0 0,00% Seqüestro 0 0,00% Outros 9 15,52%

79

Total resp. 58 Crime Quantidade Percentagem Roubo 55 43,31% Latrocínio 17 13,39% Homicídio 22 17,32% Furto 13 10,24% Estelionato 5 3,94% Estupro 0 0,00% Seqüestro 1 0,79% Outros 14 11,02% Total resp. 127 Crime Quantidade Percentagem Roubo 32 40,51% Latrocínio 13 16,46% Homicídio 14 17,72% Furto 8 10,13% Estelionato 1 1,27% Estupro 0 0,00% Seqüestro 0 0,00% Outros 11 13,92% Total resp. 79 Crime Quantidade Percentagem Roubo 24 17,78% Latrocínio 5 3,70% Homicídio 13 9,63% Furto 11 8,15% Estelionato 2 1,48% Estupro 42 31,11% Seqüestro 0 0,00% Outros 38 28,15% Total resp. 135 Observa-se que dá análise temos uma variação de ilícitos o que,

necessariamente ensejaria uma individualização no cumprimento da sanção. Nota-se

que apesar da variedade de crimes praticados, o roubo encontra-se em alta escala,

percebe-se que, mesmo no presídio determinado especificamente para o

recolhimento de presos que praticaram crimes contra os costumes, como é o caso da

Penitenciária II de Sorocaba, os autores de roubo chegam à margem de 17,78%.

80

A terceira pergunta questionava ao detento acerca da reincidência,

atribuindo alternativas mesma maneira que a questão 02. O objetivo desta questão

era o conhecimento da existência da pratica de outros crimes por parte dos detentos,

pouco importando se ocorrido ou não a sentença condenatória. Segue-se das

respostas.

Se você é reincidente, quais outros crimes praticou?

Crime Quantidade Percentagem Roubo 22 73,33%

Latrocínio 0 0,00% Homicídio 0 0,00% Furto 5 16,67% Estelionato 0 0,00% Estupro 0 0,00% Seqüestro 0 0,00% Outros 3 10,00% Total resp. 30 Quantidade de Reincidentes 25

Percentagem de reincidência em relação ao total de participantes 58,14%

Crime Quantidade Percentagem Roubo 42 56,76%

Latrocínio 3 4,05% Homicídio 3 4,05% Furto 15 20,27% Estelionato 3 4,05% Estupro 0 0,00% Seqüestro 1 1,35% Outros 7 9,46% Total resp. 74 Quantidade de Reincidentes 60

Percentagem de reincidência em relação ao total de participantes 65,22%

Crime Quantidade Percentagem Roubo 18 47,37%

81

Latrocínio 4 10,53% Homicídio 1 2,63% Furto 4 10,53% Estelionato 1 2,63% Estupro 0 0,00% Seqüestro 0 0,00% Outros 10 26,32% Total resp. 38 Quantidade de Reincidentes 32

Percentagem de reincidência em relação ao total de participantes 50,00%

Crime Quantidade Percentagem Roubo 14 31,82%

Latrocínio 1 2,27% Homicídio 3 6,82% Furto 15 34,09% Estelionato 2 4,55% Estupro 0 0,00% Seqüestro 4 9,09% Outros 5 11,36% Total resp. 44 Quantidade de Reincidentes 30

Percentagem de reincidência em relação ao total de participantes 30,30%

Observa-se que o índice de reincidência é muito alto, preponderando

entre eles a pratica do roubo. Nota-se que, n Penitenciária II de Sorocaba, local para

os autores de crimes contra os costumes, não se percebeu a reincidência de crimes

desta natureza.

Outra questão faz referência ao quantum da pena, atribuindo

alternativas de até 2 anos, de 2 a 5 anos, mais de 5 anos, mais de 10 anos, mais de

15 anos, mais de 20 anos, mais de 25 anos e mais de 30 anos. O objetivo desta

questão era ter ciência da pena que o pesquisando foi submetido, para depois,

chegar-se à conclusão se na realidade do sistema prisional o preso terá possibilidade

82

de ressocialização.

Qual a sua pena?

Pena Quantidade Percentagem Até 2 anos 0 0,00% 2 a 5 anos 3 6,98% Mais de 5 anos 8 18,60% Mais de 10 anos 7 16,28% Mais de 15 anos 7 16,28% Mais de 20 anos 6 13,95% Mais de 25 anos 5 11,63% Mais de 30 anos 6 13,95% Não respondeu 1 2,33%

Total 43 Pena Quantidade Percentagem

Até 2 anos 2 2,17% 2 a 5 anos 4 4,35% Mais de 5 anos 10 10,87% Mais de 10 anos 17 18,48% Mais de 15 anos 14 15,22% Mais de 20 anos 15 16,30% Mais de 25 anos 5 5,43% Mais de 30 anos 16 17,39% Não respondeu 9 9,78% Total 92

Pena Quantidade Percentagem Até 2 anos 1 1,56% 2 a 5 anos 2 3,13% Mais de 5 anos 8 12,50% Mais de 10 anos 16 25,00% Mais de 15 anos 6 9,38% Mais de 20 anos 8 12,50% Mais de 25 anos 5 7,81% Mais de 30 anos 10 15,63% Não respondeu 8 12,50% Total 64

Pena Quantidade Percentagem Até 2 anos 4 4,04% 2 a 5 anos 4 4,04% Mais de 5 anos 26 26,26% Mais de 10 anos 19 19,19%

83

Mais de 15 anos 8 8,08% Mais de 20 anos 7 7,07% Mais de 25 anos 7 7,07% Mais de 30 anos 14 14,14% Não respondeu 10 10,10% Total 99

Pela análise dos dados, percebe-se que a quantidade de pena não guarda

a mesma proporção entre os presídios. Entretanto, todos os presídios possuem mais

de 50% dos presos condenados à pena superior a 10 e anos e, em media 15%

condenado a mais de 30 anos de prisão.

Em continuidade questionou-se há quanto tempo o detento está preso.

O objetivo é traçar a realidade do sistema de acordo com o tempo de prisão do

pesquisando.

Há quanto tempo você está preso? Tempo de Prisão Quantidade Percentagem Até 2 anos 4 9,30% 2 a 5 anos 8 18,60% Mais de 5 anos 10 23,26% Mais de 10 anos 8 18,60% Mais de 15 anos 7 16,28% Mais de 20 anos 4 9,30% Não respondeu 2 4,65% Total 43

Tempo de Prisão Quantidade Percentagem Até 2 anos 12 13,04% 2 a 5 anos 17 18,48% Mais de 5 anos 25 27,17% Mais de 10 anos 22 23,91% Mais de 15 anos 6 6,52% Mais de 20 anos 7 7,61% Não respondeu 3 3,26% Total 92

Tempo de Prisão Quantidade Percentagem Até 2 anos 8 12,50% 2 a 5 anos 12 18,75%

84

Mais de 5 anos 17 26,56% Mais de 10 anos 11 17,19% Mais de 15 anos 4 6,25% Mais de 20 anos 4 6,25% Não respondeu 8 12,50% Total 64

Tempo de Prisão Quantidade Percentagem Até 2 anos 30 30,30% 2 a 5 anos 22 22,22% Mais de 5 anos 13 13,13% Mais de 10 anos 8 8,08% Mais de 15 anos 2 2,02% Mais de 20 anos 3 3,03% Não respondeu 21 21,21% Total 99

Com exceção da penitenciaria II de Sorocaba que apresenta em média

40%, as demais penitenciaria possuem, em média, 70 %, presos condenados há mais

de 5 anos. A mesma variação ocorre em relação ao máximo de tempo preso,

enquanto a Penitenciaria II apresenta 3,03% de seus reeducandos presos a mais de

vinte anos as outras penitenciarias possuem este índice à razão de mais de 5%.

A sexta questão era aberta e permitia aos detentos informar quais as

principais dificuldades que enfrentavam na prisão, dentre elas a maioria versou

acerca da distancia da família.

A sétima pergunta, cujo objetivo era conhecer a realidade do sistema

prisional quanto à quantidade de atendimento por parte de assistente social e a

percepção do preso para com este tratamento, questionava ao detento se recebia

acompanhamento de assistente social. Posteriormente, se em caso positivo,

questionava se este acompanhamento o ajudou.

Recebe acompanhamento de assistente social? Resposta Quantidade Percentagem Sim 11 25,58% Não 30 69,77%

85

Não respondeu 2 4,65% Total 43

Resposta Quantidade Percentagem Sim 29 31,52% Não 58 63,04% Não respondeu 5 5,43% Total 92

Resposta Quantidade Percentagem Sim 24 37,50% Não 39 60,94% Não respondeu 1 1,56% Total 64

Resposta Quantidade Percentagem Sim 21 21,21% Não 73 73,74% Não respondeu 5 5,05% Total 99

Acha que este acompanhamento o ajuda? Resposta Quantidade Percentagem Sim 12 70,59% Não 5 29,41% Total 17

Resposta Quantidade Percentagem Sim 36 92,31% Não 3 7,69% Total 39

Resposta Quantidade Percentagem Sim 33 82,50% Não 7 17,50% Total 40

Resposta Quantidade Percentagem Sim 34 87,18% Não 5 12,82% Total 39

Apesar de extrema relevância na execução da pena, em média apenas

3% dos detentos recebem este tipo de assistência e, conforme se verificou, em

86

média 85 % dos detentos acreditam no trabalho do assistente social, crêem os

detentos que, de alguma forma o tratamento ajuda no cotidiano do sistema prisional.

A oitava questão referia-se ao recebimento ou não de uniformes pelo

Estado e a nona acerca da qualidade da alimentação se boa ou não. As questões

tinham por objetivo saber se o Estado prestava os direitos estabelecidos pela LEP no

art. 40.

Você recebe uniformes aqui? Resposta Quantidade Percentagem Sim 40 93,02% Não 1 2,33% Não respondeu 2 4,65% Total 43

Resposta Quantidade Percentagem Sim 86 93,48% Não 6 6,52% Não respondeu 0 0,00% Total 92

Resposta Quantidade Percentagem Sim 44 68,75% Não 16 25,00% Não respondeu 4 6,25% Total 64

Resposta Quantidade Percentagem Sim 91 91,92% Não 4 4,04% Não respondeu 4 4,04% Total 99

Tem boa alimentacao ? Resposta Quantidade Percentagem Sim 37 86,05% Não 4 9,30% Não respondeu 2 4,65% Total 43

Resposta Quantidade Percentagem

87

Sim 63 68,48% Não 28 30,43% Não respondeu 1 1,09% Total 92

Resposta Quantidade Percentagem Sim 31 48,44% Não 29 45,31% Não respondeu 4 6,25% Total 64

Resposta Quantidade Percentagem Sim 33 33,33% Não 64 64,65% Não respondeu 2 2,02% Total 99

Quanto ao uniforme mais de 90% dos reeducandos acusam seu

recebimento por parte do Estado. A Penitenciaria de Iperó, entretanto, deixa de

fornecer uniformes há 25% de seus detentos.

Já em ralação à alimentação, apesar de servida em todos os presídios,

em alguns casos são consideráveis ruins por 64,65% dos presos, como ocorre na

Penitenciaria II de Sorocaba. Ao contrario, na Penitenciaria I a alimentação agrada

86,05% dos presos.

Com objetivo de se estabelecer a existência de assistência jurídica e de

seu atendimento aos presos, questionou-se acerca da assistência de advogado do

Estado no sistema prisional. Vale salientar que apesar de não constante no texto, há

época da pesquisa solicitou-se ao detento que respondesse a questão apenas aquele

que havia sido atendido por advogado do Estado durante a execução da pena.

Há assistência de advogado do Estado aqui? Resposta Quantidade Percentagem Sim 35 81,40% Não 4 9,30% Não respondeu 4 9,30%

88

Total 43

Resposta Quantidade Percentagem Sim 79 85,87% Não 8 8,70% Não respondeu 5 5,43% Total 92

Resposta Quantidade Percentagem Sim 51 79,69% Não 11 17,19% Não respondeu 2 3,13% Total 64

Resposta Quantidade Percentagem Sim 87 87,88% Não 8 8,08% Não respondeu 4 4,04% Total 99

A prestação de assistência jurídica e utilização por parte dos

reeducandos circunda, entre 79,69% até 87,88%

Seguia-se questionando se o preso estudava e quantos livros ele leu até

aquele momento. O objetivo era se estabelecer a prestação da assistência

educacional e a existência de leitura dentro da prisão.

Há escola funcionando nesta unidade? Resposta Quantidade Percentagem Sim 21 48,84% Não 19 44,19% Não respondeu 3 6,98% Total 43

Resposta Quantidade Percentagem Sim 90 97,83% Não 2 2,17% Não respondeu 0 0,00% Total 92

Resposta Quantidade Percentagem

89

Sim 60 93,75% Não 1 1,56% Não respondeu 3 4,69% Total 64

Resposta Quantidade Percentagem Sim 96 96,97% Não 0 0,00% Não respondeu 3 3,03% Total 99

Você estuda? Resposta Quantidade Percentagem Sim 7 16,28% Não 32 74,42% Não respondeu 4 9,30% Total 43 Resposta Quantidade Percentagem Sim 32 34,78% Não 58 63,04% Não respondeu 2 2,17% Total 92

Resposta Quantidade Percentagem Sim 22 34,38% Não 38 59,38% Não respondeu 4 6,25% Total 64

Resposta Quantidade Percentagem Sim 46 46,46% Não 51 51,52% Não respondeu 2 2,02% Total 99 Quantos livros você leu até hoje na prisão? N° de livros Quantidade Percentagem Nenhum 12 27,91% 1 até 2 2 4,65% Mais de 3 2 4,65% Mais de 5 4 9,30% Mais de 10 5 11,63% Mais de 15 3 6,98% Mais de 20 1 2,33%

90

Mais de 30 13 30,23% Não respondeu 1 2,33% Total 43

N° de livros Quantidade Percentagem Nenhum 14 15,22% 1 até 2 2 2,17% Mais de 3 10 10,87% Mais de 5 5 5,43% Mais de 10 8 8,70% Mais de 15 7 7,61% Mais de 20 5 5,43% Mais de 30 38 41,30% Não respondeu 3 3,26% Total 92

N° de livros Quantidade Percentagem Nenhum 7 10,94% 1 até 2 8 12,50% Mais de 3 10 15,63% Mais de 5 4 6,25% Mais de 10 5 7,81% Mais de 15 6 9,38% Mais de 20 3 4,69% Mais de 30 18 28,13% Não respondeu 3 4,69% Total 64

N° de livros Quantidade Percentagem Nenhum 25 25,25% 1 até 2 10 10,10% Mais de 3 9 9,09% Mais de 5 7 7,07% Mais de 10 7 7,07% Mais de 15 6 6,06% Mais de 20 11 11,11% Mais de 30 19 19,19% Não respondeu 5 5,05% Total 99

O funcionamento de escola, ainda que com pouca estrutura e de espaço

físico limitado, encontra-se presente em todos os estabelecimentos prisionais

pesquisados, entretanto, conforme se observa, no regime semi-aberto da

91

Penitenciária I de Sorocaba, apenas 48,84% dos detentos têm ciência da escola.

Importante ressaltar que apesar da ciência, o índice de presos que estudam é

bastante ínfimo, como podemos observar, o maior índice de presos estudando

encontra-se na Penitenciaria II de Sorocaba que atinge à margem de 46,46% dos

detentos e o menor índice encontra-se no regime semi-aberto que atinge quase

74,42% dos detentos.

No mesmo sentido verificamos o índice de leitura que, apesar da

quantidade de pena e de tempo efetivo de prisão ser superior a cinco anos, a

quantidade de detentos que não leu nenhum livro é considerável, nota-se que regime

semi-aberto da Penitenciaria I de Sorocaba 27,91% dos detentos nunca leram livros

na prisão, ao passo que na Penitenciária de Iperó o índice é o menor de todos e

ainda assim atinge cerca de 10% dos presos. Em contrapartida, os números indicam

que há uma quantidade razoável de detentos que leram mais de trinta livros no

período do cárcere como, por exemplo, os detentos do regime fechado da

Penitenciária I que chega a 41,30% contra 19,19% da Penitenciaria II.

Com objetivo de se estabelecer se o presos tinham ciência do que fazer

quando de sua saída do sistema penal, perguntou-se se recebeu orientação do que

fazer quando sair da prisão.

É orientado do que fazer após sair da prisão? Resposta Quantidade Percentagem Sim 12 27,91% Não 29 67,44% Não respondeu 2 4,65% Total 43 Resposta Quantidade Percentagem Sim 26 28,26% Não 61 66,30% Não respondeu 5 5,43% Total 92 Resposta Quantidade Percentagem Sim 10 15,63%

92

Não 48 75,00% Não respondeu 6 9,38% Total 64

Resposta Quantidade Percentagem Sim 36 36,36% Não 53 53,54% Não respondeu 10 10,10% Total 99

Conforme se observa os presos não sabem o que devem fazer quando

saírem do cárcere, observa-se que o Estado não buscou qualquer influência neste

sentido junto aos detentos, 67,44%, 66,30%, 75% e 53,54, respectivamente

Penitenciária I de Sorocaba em seu regime semi-aberto e fechado, Penitenciaria de

Iperó e Penitenciaria II de Sorcaba, não instruem os detentos ao que fazer após sua

saída do cárcere.

Em seguida questionava ao preso se ele sabia que órgão ele deveria

procurar após sua soltura, dando como alternativas o Patronato, a Vara da Execução

Criminal, a Funap, outros ou nenhum e na próxima pergunta seguia-se questionando

se o preso sabia o que significava o patronato.

Depois que você cumprir sua pena, que órgão do Estado você foi orientado a procurar? Nenhum 30 69,77%Patronato 0 0,00% Vara de Execução 4 9,30% Funap 3 6,98% Outros 3 6,98% Não respondeu 3 6,98% Órgão Quantidade Percentagem Nenhum 62 67,39% Patronato 2 2,17% Vara de Execução 12 13,04% Funap 0 0,00% Outros 2 2,17% Não respondeu 14 15,22%

93

Total 92 Nenhum 37 57,81%Patronato 3 4,69% Vara de Execução 3 4,69% Funap 1 1,56% Outros 8 12,50%Não respondeu 12 18,75%Total 64 Órgão Quantidade Percentagem Nenhum 49 49,49% Patronato 1 1,01% Vara de Execução 9 9,09% Funap 11 11,11% Outros 12 12,12% Não respondeu 17 17,17% Total 99

Conforme-se se verificou, quando de sua saída o preso não sabe que

órgão do Estado deve procurar. Nota-se que no regime semi-aberto, o mais próximo

da efetiva saída do preso do cárcere para a sociedade, apresentou-se o maior índice.

69,77 % dos detentos, não sabem qual órgão devem procurar após o retorno à

sociedade, e 9,30 % procurará a Vara de Execuções penais.

Diferente não é o resultado dos outros presídios onde o menor índice

apresentado foi de 49,49% na Penitenciária II de Sorocaba. De qualquer forma de

todos os presídios, apenas 2,01% de todos os presos vão procurar o patronato, órgão

que, conforme estabelecido pela Lei de Execução Penal tem o dever de fazer o

acompanhamento do egresso do cárcere.

Questionou-se posteriormente, se o detento tinha uma boa convivência

com sua família antes de ser preso. Seguindo-se, perguntou-se se recebia visitas, de

quem e com que freqüência. O objetivo destas perguntas consistiu-se em se

estabelecer à relação familiar antes do cárcere e se este de alguma forma

94

desestabilizou a convivência familiar.

Tinha uma boa convivência com sua família antes de ser preso? Resposta Quantidade Percentagem Sim 41 95,35% Não 0 0,00% Não respondeu 2 4,65% Total 43 Resposta Quantidade Percentagem Sim 81 88,04% Não 4 4,35% Não respondeu 7 7,61% Total 92 Resposta Quantidade Percentagem Sim 55 85,94% Não 2 3,13% Não respondeu 7 10,94% Total 64 Resposta Quantidade Percentagem Sim 87 87,88% Não 8 8,08% Não respondeu 4 4,04% Total 99

Quem família vem visitar Visita Quantidade Percentagem Pai 5 5,81% Mãe 24 27,91% Irmãos 20 23,26% Esposa 29 33,72% Outros 3 3,49% Ninguém 5 5,81% Total 86 Visita Quantidade Percentagem Pai 16 10,32% Mãe 43 27,74% Irmãos 29 18,71% Esposa 43 27,74% Outros 6 3,87%

95

Ninguém 18 11,61% Total 155 Visita Quantidade Percentagem Pai 11 10,58% Mãe 27 25,96% Irmãos 23 22,12% Esposa 32 30,77% Outros 4 3,85% Ninguém 7 6,73% Visita Quantidade Percentagem Pai 13 7,56% Mãe 43 25,00% Irmãos 44 25,58% Esposa 40 23,26% Outros 14 8,14% Ninguém 18 10,47% Total 172

Pelas respostas apresentadas, mais de 80% dos presos, em todos os

presídios, mantinham boa convivência com sua família antes da prisão,

circunstância esta que se manteve pelo menos em relação à visita, contatando-se

uma diminuição de 1% no regime semi-aberto da Penitenciária I de Sorocaba.

Ainda com relação à visita, percebe-se que a maioria é realizada por

mães e esposas, seguindo-se dos irmãos, pais e outros.

Posteriormente, questionou-se quais crimes praticaram seus

companheiros de cela. Busca-se aqui, mais uma vez, demonstrar a existência ou

não da classificação por espécie de delito.

Quais crimes praticaram seus companheiros de cela? Crime Quantidade Percentagem Roubo 33 32,67% Latrocínio 11 10,89% Homicídio 5 4,95% Furto 20 19,80% Estelionato 9 8,91%

96

Estupro 0 0,00% Seqüestro 7 6,93% Outros 16 15,84% Total resp. 101 Crime Quantidade Percentagem Roubo 66 32,20% Latrocínio 30 14,63% Homicídio 23 11,22% Furto 34 16,59% Estelionato 14 6,83% Estupro 0 0,00% Seqüestro 20 9,76%

Outros 18 8,78% Total resp. 205 Crime Quantidade Percentagem Roubo 34 39,53% Latrocínio 15 17,44% Homicídio 7 8,14% Furto 9 10,47% Estelionato 3 3,49% Estupro 0 0,00% Seqüestro 0 0,00% Outros 18 20,93% Total resp. 86

Crime Quantidade Percentagem Roubo 38 23,46% Latrocínio 15 9,26% Homicídio 15 9,26% Furto 29 17,90% Estelionato 16 9,88% Estupro 0 0,00% Seqüestro 18 11,11% Outros 31 19,14% Total resp. 162

Nota-se, pela análise que, na mesma unidade celular, existem presos

que praticaram vários tipos de delitos.

Corroborando com a questão da classificação, perguntou-se ao preso se

97

alguma vez fez exame criminológico.

Alguma vez você fez exame criminológico? Exame Quantidade Percentagem Sim 27 62,79% Não 13 30,23% Não respondeu 3 6,98% Total 43 Exame Quantidade Percentagem Sim 33 35,87% Não 47 51,09% Não respondeu 12 13,04% Total 92 Exame Quantidade Percentagem Sim 20 31,25% Não 33 51,56% Não respondeu 11 17,19% Total 64 Exame Quantidade Percentagem Sim 24 24,24% Não 65 65,66% Não respondeu 10 10,10% Total 99

Cumpre observar, pela análise dos dados que existe um percentual

razoável entre aqueles que realizaram o exame criminológico. Nota-se que o maior

numero ocorreu em relação aos presos que estão em regime semi-aberto e, nos

demais casos mais de 50% nunca fizeram o exame.

Noutra pergunta, procurou-se saber da existência ou não da visita do

Conselho da Comunidade e, por conseqüência a participação da sociedade na

execução da pena.

Você alguma vez recebeu a visita do Conselho da Comunidade do local em que está preso? Visita Quantidade Percentagem Sim 5 11,63%

98

Não 34 79,07% Não respondeu 4 9,30% Total 43 Visita Quantidade Percentagem Sim 6 6,52% Não 74 80,43% Não respondeu 12 13,04% Total 92 Visita Quantidade Percentagem Sim 3 4,69% Não 52 81,25% Não respondeu 9 14,06% Total 64 Visita Quantidade Percentagem Sim 7 7,07% Não 84 84,85% Não respondeu 8 8,08% Total 99

Observa-se que, em todos os presídios, mais de 79% dos detentos

jamais receberam a visita de Conselho da Comunidade.

Seguiu-se perguntando acerca do recebimento ou não da cientificação

das normas de disciplina. O objetivo desta questão era saber se era cumprida as

regras estabelecidas no art. 48 da Lei de Execução Penal.

No inicio de sua prisão você foi cientificado das normas de disciplina da cadeia ou

presídio (falta grave, média, leve)?

Normas Quantidade Percentagem Sim 5 11,63% Não 34 79,07% Não respondeu 4 9,30% Total 43 Normas Quantidade Percentagem Sim 6 6,52%

99

Não 74 80,43% Não respondeu 12 13,04% Total 92 Normas Quantidade Percentagem Sim 3 4,69% Não 52 81,25% Não respondeu 9 14,06% Total 64 Normas Quantidade Percentagem Sim 7 7,07% Não 84 84,85% Não respondeu 8 8,08% Total 99

Nota-se que as respostas proferidas pelos presos demonstram que, em

todos os presídios, mais de 79% dos detentos afirmam que nunca foram

cientificados das normas disciplinares constantes no sistema prisional. O maior

índice de presos cientificados encontram-se na Penitenciaria I de Sorocaba (regime

semi-aberto) onde 11,63% afirmam saber das normas e o menor em Iperó onde o

cumprimento da regra contida no art. 48 da LEP ocorreu para apenas 4,69%. Já no

regime fechado da Penitenciária I e na Penitenciária II, ambas em Sorocaba o índice

chegou respectivamente a 6,52% e 7,07%.

Noutra questão perquiriu-se ao detento se ele acreditava que o sistema

prisional era apto à reintegrá-lo na sociedade. Tinha-se por objetivo desta questão

ver a crença por parte do preso no sistema prisional.

Você acha que o sistema prisional ajuda o preso a voltar melhor ao convívio da

sociedade?

Ajuda Quantidade Percentagem Sim 2 4,65% Não 37 86,05% Não respondeu 4 9,30% Total 43

100

Ajuda Quantidade Percentagem Sim 15 16,30% Não 65 70,65% Não respondeu 12 13,04% Total 92 Ajuda Quantidade Percentagem Sim 10 15,63% Não 40 62,50% Não respondeu 14 21,88% Total 64

Ajuda Quantidade Percentagem Sim 36 36,36% Não 58 58,59% Não respondeu 5 5,05% Total 99

A crença na reabilitação com o aparato estatal é ínfima. Nota-se que, a

maioria dos reeducandos acreditam que o sistema prisional, em nada contribui para

o seu retorno à sociedade. Os presos que mais acreditam no sistema como forma de

ressocialização encontram-se na penitenciária II de Sorocaba e chegam apenas à

margem de 36,36%. Nos demais casos a crença é inferior, no regime fechado da

Penitenciária I é de apenas 16,30%, na Penitenciária de Iperó 15,63% e, por fim no

regime semi-aberto da Penitenciaria I de Sorocaba, apenas 4,65% acreditam que o

sistema prisional ajuda o preso a voltar melhor ao convívio da sociedade.

Questionou-se também em quais unidades prisionais o pesquisando já

esteve preso. O objetivo, era, dependendo da quantidade de estabelecimento que o

detento esteve, traçar uma realidade ou pelo menos ciência da possível realidade dos

demais estabelecimentos prisionais do Estado.

Em quais unidades prisionais você já esteve preso? Unidade Quantidade Percentagem

Álvaro de Carvalho 1 0,44% Andradina 0 0,00% Araraquara 4 1,76%

101

Assis 3 1,32% Avanhadava 0 0,00% Avaré 7 3,08% Balbinos 0 0,00% Bauru 5 2,20% Campinas 18 7,93% Casa Branca 9 3,96% Dracena 0 0,00% Florida Paulista 0 0,00% Franco da Rocha 8 3,52% Getulina 1 0,44% Guareí 2 0,88% Guarulhos 3 1,32% Hortolândia 20 8,81% Iaras 2 0,88% Iperó 12 5,29% Itaí 0 0,00% Itapetininga 15 6,61% Itapuru 0 0,00% Itirapina 3 1,32% Junqueirópolis 2 0,88% Lavínia 0 0,00% Lucélia 1 0,44% Marabá Paulista 0 0,00% Marília 2 0,88% Martinopolis 4 1,76% Mirandópolis 4 1,76% Oswaldo Cruz 1 0,44% Outros 11 4,85% Pacaembu 3 1,32%

Paraguaçu Paulista 2 0,88% Pirajuí 5 2,20% Potim 0 0,00% Pracinha 1 0,44%

Presidente Bernardes 2 0,88%

Presidente Prudente 0 0,00%

Presidente Venceslau 4 1,76% Reginópolis 1 0,44% Ribeirão Preto 1 0,44% Riolândia 1 0,44%

São Paulo – Butantã 4 1,76%

102

São Paulo – Carandiru 17 7,49%

São Paulo – Pinheiros 9 3,96% São Vicente 0 0,00% Serra Azul 0 0,00% Sorocaba 23 10,13% Tremembé 8 3,52% Tupi Paulista 0 0,00% Val Paraíso 8 3,52% Total 227 Unidade Quantidade Percentagem Álvaro de Carvalho 10 1,55% Andradina 11 1,71% Araraquara 14 2,17%

Assis 16 2,48% Avanhadava 6 0,93% Avaré 22 3,42% Balbinos 12 1,86% Bauru 20 3,11% Campinas 27 4,19% Casa Branca 8 1,24% Dracena 3 0,47% Florida Paulista 1 0,16% Franco da Rocha 30 4,66% Getulina 6 0,93% Guareí 13 2,02% Guarulhos 23 3,57% Hortolândia 23 3,57% Iaras 11 1,71% Iperó 11 1,71% Itaí 0 0,00% Itapetininga 16 2,48% Itapuru 15 2,33% Itirapina 18 2,80% Junqueirópolis 4 0,62% Lavínia 3 0,47% Lucélia 8 1,24% Marabá Paulista 1 0,16% Marília 13 2,02% Martinopolis 12 1,86% Mirandópolis 17 2,64% Oswaldo Cruz 3 0,47%

103

Outros 22 3,42% Pacaembu 7 1,09% Paraguaçu Paulista 3 0,47% Pirajuí 18 2,80% Potim 5 0,78% Pracinha 3 0,47% Presidente Bernardes 14 2,17% Presidente Prudente 13 2,02% Presidente Venceslau 16 2,48% Reginópolis 3 0,47% Ribeirão Preto 3 0,47% Riolândia 4 0,62% São Paulo – Butantã 5 0,78% São Paulo – Carandiru 32 4,97% São Paulo – Pinheiros 17 2,64% São Vicente 14 2,17% Serra Azul 4 0,62% Sorocaba 60 9,32% Tremembé 11 1,71% Tupi Paulista 5 0,78% Val Paraíso 8 1,24% Total 644 Unidade Quantidade Percentagem Álvaro de Carvalho 2 0,92% Andradina 1 0,46% Araraquara 3 1,38% Assis 4 1,84% Avanhadava 0 0,00% Avaré 4 1,84% Balbinos 0 0,00% Bauru 0 0,00% Campinas 16 7,37% Casa Branca 34 15,67% Dracena 0 0,00% Florida Paulista 2 0,92% Franco da Rocha 3 1,38%

104

Getulina 0 0,00% Guareí 3 1,38% Guarulhos 6 2,76% Hortolândia 14 6,45% Iaras 0 0,00% Iperó 31 14,29% Itaí 0 0,00% Itapetininga 7 3,23% Itapuru 4 1,84% Itirapina 7 3,23% Junqueirópolis 7 3,23% Lavínia 0 0,00% Lucélia 2 0,92% Marabá Paulista 0 0,00% Marília 0 0,00% Martinopolis 2 0,92% Mirandópolis 3 1,38% Oswaldo Cruz 0 0,00% Outros 9 4,15% Pacaembu 1 0,46% Paraguaçu Paulista 1 0,46% Pirajuí 1 0,46% Potim 3 1,38% Pracinha 0 0,00% Presidente Bernardes 3 1,38% Presidente Prudente 2 0,92% Presidente Venceslau 2 0,92% Reginópolis 0 0,00% Ribeirão Preto 2 0,92% Riolândia 2 0,92% São Paulo – Butantã 2 0,92% São Paulo – Carandiru 7 3,23% São Paulo – Pinheiros 4 1,84% São Vicente 4 1,84% Serra Azul 2 0,92% Sorocaba 11 5,07% Tremembé 3 1,38% Tupi Paulista 0 0,00%

105

Val Paraíso 3 1,38% Total 217 Unidade Quantidade Percentagem Álvaro de Carvalho 0 0,00% Andradina 5 2,10% Araraquara 2 0,84% Assis 1 0,42% Avanhadava 0 0,00% Avaré 3 1,26% Balbinos 6 2,52% Bauru 14 5,88% Campinas 5 2,10% Casa Branca 5 2,10% Dracena 1 0,42% Florida Paulista 1 0,42% Franco da Rocha 6 2,52% Getulina 2 0,84% Guareí 6 2,52% Guarulhos 18 7,56% Hortolândia 6 2,52% Iaras 2 0,84% Iperó 1 0,42% Itaí 6 2,52% Itapetininga 2 0,84% Itapuru 1 0,42% Itirapina 4 1,68% Junqueirópolis 3 1,26% Lavínia 0 0,00% Lucélia 0 0,00% Marabá Paulista 1 0,42% Marília 2 0,84% Martinopolis 2 0,84% Mirandópolis 6 2,52% Oswaldo Cruz 7 2,94% Outros 24 10,08% Pacaembu 2 0,84% Paraguaçu Paulista 0 0,00% Pirajuí 1 0,42% Potim 1 0,42% Pracinha 4 1,68% Presidente Bernardes 1 0,42%

106

Presidente Prudente 1 0,42% Presidente Venceslau 3 1,26% Reginópolis 1 0,42% Ribeirão Preto 3 1,26% Riolândia 0 0,00% São Paulo – Butantã 2 0,84% São Paulo – Carandiru 10 4,20% São Paulo – Pinheiros 7 2,94% São Vicente 2 0,84% Serra Azul 5 2,10% Sorocaba 47 19,75% Tremembé 3 1,26% Tupi Paulista 2 0,84% Val Paraíso 1 0,42% Total 238

Conforme se observou os presos que hoje estão vinculados à vara de

execução Penal passaram por todos os estabelecimentos penais existentes em São

Paulo. Importante consignar que, há época da pesquisa houve preso que afirmou ter

passado em estabelecimentos penais que, não constava do rol. Disseram que “Dr. ta

faltando cadeia, eu já morei em mais lugar” (Penitenciária de Iperó).

Por fim questionou-se ao detento se sofreu ou sofre preconceito por ter

sido presidiário. O objetivo era conhecer a conseqüência do ilícito junto à sociedade

e seu reflexo para o preso.

Sofreu preconceito por ter sido presidiário? Preconceito Quantidade Percentagem Sim 28 82,35% Não 6 17,65% Total 34 Preconceito Quantidade Percentagem Sim 49 92,45% Não 4 7,55%

107

Total 53 Preconceito Quantidade Percentagem Sim 35 92,11% Não 3 7,89% Total 38 Preconceito Quantidade Percentagem

Sim 27 77,14% Não 8 22,86% Total 35

Esta questão apenas foi respondida pelos detentos que, por alguma

circunstância, saíram do sistema prisional. Percebe-se que o preconceito atinge um

nível significativo. O preconceito atinge entre 77,14% até 92,45% dos reeducandos.

108

3.2 Perguntas aos egressos Cumpre acrescentar que as questões, apesar de formuladas em tempos

verbais diferentes eram as mesmas apresentadas aos detentos, inclusive com os

mesmos objetivos. Segue-se às respostas seguindo –se sempre a mesma ordem, ou

seja, iniciando-se sempre pela Penitenciária Dr. Danilo Pinheiro (Penitenciaria I)

Regime Semi-aberto e Fechado, seguindo-se da Penitenciaria de Iperó e, por fim, a

Penitenciária Dr. Antonio de Souza Neto (Penitenciária II).

Por qual crime foi condenado? Crime Quantidade Percentagem Roubo 19 37,25% Latrocínio 7 13,73% Homicídio 7 13,73% Furto 3 5,88% Estelionato 1 1,96% Estupro 10 19,61% Seqüestro 0 0,00% Outros 4 7,84% Total resp. 51

Observa-se que dá análise temos uma variação de ilícitos que por si só

necessariamente ensejaria uma individualização no cumprimento da sanção. Nota-se

que apesar da variedade de crimes praticados, o roubo encontra-se em alta escala,

percebe-se que a realidade presente nos presídios sofre pouca variação quando da

pesquisa junto aos detentos.

A próxima pergunta questionava ao egresso acerca da reincidência

atribuindo-se alternativas da mesma maneira que a questão 02.

Se você é reincidente quais outros crimes você praticou? Crime Quantidade Percentagem Roubo 7 63,64%

Latrocínio 0 0,00% Homicídio 0 0,00% Furto 2 18,18%

109

Estelionato 1 9,09% Estupro 0 0,00% Seqüestro 0 0,00% Outros 1 9,09% Total resp. 11 Quantidade de Reincidentes 11 Percentagem de reincidência em relação ao total de participantes 31,43%

Observa-se que, apesar de inferior a média constatada dentro dos

presídios entrevistados, o índice de reincidência é muito alto, preponderando assim

como nos estabelecimentos penais, a pratica do roubo.

Outra questão faz referência ao quantum da pena, atribuindo

alternativas de até 2 anos, de 2 a 5 anos, mais de 5 anos, mais de 10 anos, mais de

15 anos, mais de 20 anos, mais de 25 anos e mais de 30 anos.

Qual a sua pena? Pena Quantidade Percentagem Até 2 anos 0 0,00% 2 a 5 anos 1 2,86% Mais de 5 anos 17 48,57% Mais de 10 anos 9 25,71% Mais de 15 anos 6 17,14% Mais de 20 anos 2 5,71% Mais de 25 anos 0 0,00% Mais de 30 anos 0 0,00% Não respondeu 0 0,00% Total 35

Pela análise dos dados, percebe-se que a quantidade de pena não guarda

a mesma proporção com os presídios. Observa-se a manutenção da média

estabelecida nos presídios com relação à pena entre cinco e dez anos. Já em relação

aos egressos condenados à pena entre vinte e vinte cinco anos o índice foi inferior

ao dos detentos, chegando ao máximo a 17,41%. Nota-se também que, diverso dos

detentos, em Sorocaba, dentre os entrevistados, não temos egressos com pena

superior a 25 anos.

110

Em continuidade questionou-se há quanto tempo o egresso ficou preso.

Há quanto tempo você estava preso? Tempo de Prisão Quantidade Percentagem Até 2 anos 2 5,71% 2 a 5 anos 15 42,86% Mais de 5 anos 8 22,86% Mais de 10 anos 6 17,14% Mais de 15 anos 2 5,71% Mais de 20 anos 0 0,00% Não respondeu 2 5,71% Total 35

Observa-se que os egressos residentes na região de competência da

Vara de Execuções Criminais de Sorocaba, se comparado com os detentos

pesquisados, possuem pouco tempo de prisão, percebe-se que quase metade dos

entrevistados passaram menos de cinco anos no sistema prisional.

A sexta questão era aberta e permitia aos detentos informar quais as

principais dificuldades que enfrentavam na prisão, dentre elas, nos mesmos termos

dos reeducandos a maioria respondeu que a distância da família.

A sétima pergunta, questionava ao detento se recebia acompanhamento

de assistente social. Posteriormente, se em caso positivo, o detento respondia se este

acompanhamento o ajudou.

Recebia acompanhamento de assistente social? Resposta Quantidade Percentagem Sim 8 22,86% Não 26 74,29% Não respondeu 1 2,86% Total 35

Acha que este acompanhamento o ajudou? Resposta Quantidade Percentagem Sim 3 37,50%

111

Não 5 62,50% Total 8

Nota-se que a assistência social prestada aos egressos quando

encontravam-se presos ocorria em apenas 22,86% dos casos, dos quais, apenas

37,50% perceberam algum benefício do tratamento.

A oitava questão referia-se ao recebimento ou não de uniformes pelo

estado e a nona acerca da qualidade da alimentação se boa ou não.

Você recebeu uniformes na prisão? Resposta Quantidade Percentagem Sim 33 94,29% Não 2 5,71% Não respondeu 0 0,00% Total 35

Tinha boa alimentação na prisão? Resposta Quantidade Percentagem Sim 30 85,71% Não 4 11,43% Não respondeu 1 2,86% Total 35

Nos mesmos moldes da pesquisa realizada no sistema prisional

acusaram os egressos o recebimento de uniformes dentro do estabelecimento penal,

nota-se que apenas 5,71% dos egressos afirmam não tê-los recebido.

Diferente dos ouvidos no sistema prisional, 85,71% dos egressos

intitulam a alimentação recebida no presídio como de boa qualidade.

Com objetivo de se estabelecer a existência de assistência jurídica e de

seu atendimento aos presos, questionou-se acerca da assistência de advogado do

Estado no sistema prisional. Vale salientar que apesar de não constante no texto, há

época da pesquisa solicitou-se ao detento que respondesse a questão apenas aquele

112

que havia sido atendido por advogado do Estado em questões referentes à execução

da pena.

Havia assistência de advogado do Estado onde você estava preso? Resposta Quantidade Percentagem Sim 31 88,57% Não 3 8,57% Não respondeu 1 2,86% Total 35

Nos mesmos moldes do reeducandos, os egressos afirmam a existência

da prestação de assistência jurídica por parte do estado. Os egressos atendidos por

advogados do Estado durante a execução chegou a 88,57% dos entrevistados.

Seguia-se questionando se o preso estudava e quantos livros ele leu até

aquele momento.

Havia escola funcionando na prisão que você estava preso? Resposta Quantidade Percentagem Sim 22 62,86% Não 11 31,43% Não respondeu 2 5,71% Total 35

Você estudava quando estava preso? Resposta Quantidade Percentagem Sim 4 11,43% Não 31 88,57% Não respondeu 0 0,00% Total 35

Quantos livros você leu até hoje na prisão? N° de livros Quantidade Percentagem Nenhum 27 77,14% 1 até 2 0 0,00% Mais de 3 1 2,86% Mais de 5 2 5,71% Mais de 10 0 0,00% Mais de 15 0 0,00% Mais de 20 1 2,86%

113

Mais de 30 4 11,43% Não respondeu 0 0,00% Total 35

Conforme se observou 31,43% afirmaram que o estabelecimento que se

encontravam presos não possuía escola, enquanto que 62,86% dos presos afirmaram

que havia escola no estabelecimento. Apesar do alto numero de egressos ter ciência

de escola dentro da unidade que esteve preso, 88,57% dos entrevistados não

estudavam e, dentre todos os egressos 77,14% jamais leram um único livro.

Com objetivo de se estabelecer se o presos tinham ciência do que fazer

quando de sua saída do sistema penal, perguntou-se se recebeu orientação do que

fazer quando sair da prisão.

Foi orientado ao que fazer após sair da prisão? Resposta Quantidade Percentagem Sim 2 5,71% Não 33 94,29% Não respondeu 0 0,00% Total 35

Conforme se observa 94,29% dos egressos do cárcere em Sorocaba

afirmaram não ter recebido qualquer orientação do que fazer ou a quem procuram

quando saíssem do cárcere.

Em seguida questionava ao preso se ele sabia que órgão ele deveria

procurar após sua soltura, dando como alternativas o patronato, a vara da execução

criminal, a FUNAP, outros ou nenhum e na próxima pergunta seguia-se

questionando se o preso sabia o que significava o patronato.

Depois que você cumprir sua pena, que órgão do estado você foi orientado a procurar? Órgão Quantidade Percentagem Nenhum 18 51,43%

114

Patronato 0 0,00% Vara de Execução 13 37,14% Funap 3 8,57% Outros 1 2,86% Não respondeu 0 0,00% Total 35

Os números apresentados pelos egressos são alarmantes, apenas 48,57%

dos egressos afirmaram que receberam orientação no sentido de procurar algum

órgão do Estado para acompanhamento de sua sanção, ainda assim órgão diverso do

incumbido pela Lei de Execução para tal mister. Nota-se que enquanto 37,14% dos

egressos foram orientados a procurar a Vara de Execuções Penais, nenhum foi

orientado a Procurar o Patronato que, nos termos da Lei de Execução Penal deve

acompanhá-lo no processo de inserção social após cárcere.

Questionou-se posteriormente, se o detento tinha uma boa convivência

com sua família antes de ser preso. Seguindo perguntou-se se recebia visitas, de

quem e com que freqüência.

Tinha uma boa convivência com sua família antes de ser preso? Resposta Quantidade Percentagem Sim 29 82,86% Não 5 14,29% Não respondeu 1 2,86% Total 35

Enquanto estava preso quem da sua família ia visitá-lo? Visita Quantidade Percentagem Pai 4 6,90% Mãe 24 41,38% Irmãos 3 5,17% Esposa 17 29,31% Outros 6 10,34% Ninguém 4 6,90% Total 58

115

Apenas 14,29% dos egressos afirmaram que não tinham uma boa

convivência com a família e, pelo que se observa o cárcere não trouxe prejuízo ao

convívio familiar.

Ainda com relação à visita, percebe-se que a maioria é realizada por

mães e esposas, seguindo-se dos irmãos e pais.

Posteriormente questionou-se quais crimes praticaram seus

companheiros de cela.

Quais crimes praticaram seus companheiros de cela? Crime Quantidade Percentagem Roubo 29 23,77% Latrocínio 23 18,85% Homicídio 14 11,48% Furto 13 10,66% Estelionato 14 11,48% Estupro 0 0,00% Seqüestro 22 18,03% Outros 7 5,74% Total resp. 122

Nota-se, pela análise que, assim como na atual realidade do sistema

prisional de Sorocaba, à época em que o egresso estava preso existia na mesma

unidade celular presos praticaram vários tipos de delitos.

Corroborando com a questão da classificação perguntou-se ao preso se

alguma vez fez exame criminológico.

Alguma vez você fez exame criminológico? Exame Quantidade Percentagem Sim 2 5,71% Não 33 94,29% Não respondeu 0 0,00% Total 35

116

Observa-se que apenas 5,71% dos egressos afirmaram a realização do

referido exame.

Seguindo-se, inquiriu-se ao egresso se quando estava preso recebeu

visita do Conselho da Comunidade.

Você alguma vez recebeu a visita do conselho da comunidade do local em que está preso? Visita Quantidade Percentagem Sim 1 2,86% Não 33 94,29% Não respondeu 1 2,86% Total 35

Observa-se que 94,29%dos egressos afirmaram que jamais receberam a

visita de Conselho da Comunidade.

Perguntou-se em seguida acerca do recebimento ou não da cientificação

das normas de disciplina.

No inicio de sua prisão você foi cientificado das normas de disciplina da cadeia ou presídio (falta grave, média, leve)? Normas Quantidade Percentagem Sim 1 2,86% Não 33 94,29% Não respondeu 1 2,86% Total 35

Nota-se que 94,29% dos egressos jamais foram cientificados das

normas disciplinares constantes no sistema prisional. Importante consignar que,

conforme se demonstrará adiante, os egressos de Sorocaba já ficaram reclusos em

vários estabelecimentos penais do Estado de São Paulo.

Noutra questão perquiriu-se ao egresso se ele acreditava que o sistema

117

prisional era apto à reintegrá-lo na sociedade.

Você acredita que o sistema prisional o ajudou de alguma forma para voltar para o convívio da sociedade? Ajuda Quantidade Percentagem Sim 2 5,71% Não 29 82,86% Não respondeu 4 11,43% Total 35

Apenas 5,71% perceberam que a reclusão foi capaz de alguma maneira

ajudá-lo à retornar a sociedade.

Questionou-se também em quais unidades prisionais ele já esteve

preso?

Em quais unidades prisionais você já esteve preso?

Unidade Quantidade Percentagem Álvaro de Carvalho 3 2,65% Andradina 7 6,19% Araraquara 4 3,54% Assis 2 1,77% Avanhadava 5 4,42% Avaré 1 0,88% Balbinos 0 0,00% Bauru 4 3,54% Campinas 6 5,31% Casa Branca 1 0,88% Dracena 3 2,65% Florida Paulista 0 0,00% Franco da Rocha 1 0,88% Getulina 0 0,00% Guareí 2 1,77% Guarulhos 3 2,65% Hortolândia 2 1,77% Iaras 2 1,77% Iperó 2 1,77% Itaí 1 0,88% Itapetininga 6 5,31%

118

Itapuru 0 0,00% Itirapina 5 4,42% Junqueirópolis 2 1,77% Lavínia 0 0,00% Lucélia 1 0,88% Marabá Paulista 0 0,00% Marília 0 0,00% Martinopolis 2 1,77% Mirandópolis 2 1,77% Oswaldo Cruz 0 0,00% Outros 0 0,00% Pacaembu 4 3,54% Paraguaçu Paulista 0 0,00% Pirajuí 2 1,77% Potim 0 0,00% Pracinha 0 0,00% Presidente Bernardes 1 0,88% Presidente Prudente 3 2,65% Presidente Venceslau 1 0,88% Reginópolis 0 0,00% Ribeirão Preto 3 2,65% Riolândia 2 1,77% São Paulo – Butantã 0 0,00% São Paulo – Carandiru 5 4,42% São Paulo – Pinheiros 3 2,65% São Vicente 2 1,77% Serra Azul 0 0,00% Sorocaba 17 15,04% Tremembé 1 0,88% Tupi Paulista 0 0,00% Val Paraíso 2 1,77% Total 113

Conforme se observou os egressos que hoje estão vinculados à Vara de

Execução Penal passaram por quase todos os estabelecimentos penais existentes em

São Paulo. Nota-se que dos 53 Municípios do Estado de São Paulo que possuem

119

unidade prisional, os egressos de Sorocaba somente não passaram por Balbinos,

Florida Paulista, Getulina, Itapuru, Lavínia, Marabá Paulista, Marília, Oswaldo

Cruz, Paraguaçu Paulista, Potim, Pracinha, Reginópolis, Serra Azul e Tupi Paulista.

Por fim questionou-se ao detento se sofreu ou sofre preconceito por ter

sido presidiário. O objetivo era conhecer a conseqüência do ilícito junto à sociedade

e sua conseqüência para o egresso.

Sofre preconceito por ter sido presidiário? Preconceito Quantidade Percentagem Sim 34 97,14% Não 1 2,86% Não respondeu 0 0,00% Total 35

Nesta questão que o preconceito marca acompanha a vida do egresso.

Pela pesquisa 97,14% são vítimas de preconceito por terem sido presidiários.

120

3.3 Perguntas aos Diretores

Em continuidade à pesquisa e com o mesmo objetivo, conhecer a

realidade do sistema prisional, fez-se 36 perguntas ao diretores das unidades

prisionais vinculadas à Vara de Execuções Criminais da Comarca de Sorocaba.

A primeira pergunta versava sobre qual era o Estabelecimento Penal.

Seguindo-se da identificação do diretor. Posteriormente questionou-se qual a sua

função dentro do sistema. O objetivo destas questões consistiam em identificar o

estabelecimento prisional, seu diretor e determinar o conhecimento amealhado por

este antes de assumir o cargo.

Estabelecimento Penal: Penitenciaria I de Sorocaba Dr. Danilo Pinheiro de

Sorocaba.

Diretor responsável: Wanderlei Bonan Júnior. Função de oficial administrativo

Estabelecimento Penal: Penitenciaria de Iperó

Diretor responsável: Reginaldo Custódio de Camargo. Função: Agente de

Segurança.

Estabelecimento Penal: Penitenciaria II de Sorocaba Dr.Antonio de Souza Neto.

Diretor responsável: Cássio Ribeiro de Campos. Função: Agente de Segurança

Estabelecimento Penal: Cadeia Pública de Sorocaba

Diretor responsável: Márcio Coutinho. Função: Diretor técnico de departamento.

Posteriormente busca-se conhecer a experiência profissional do diretor

na função de diretor e na anteriormente exercida.

P I - Trabalha no sistema prisional a treze anos e uma ano no cargo de diretor.

121

Iperó – Funcionário a 16 anos dos quais 2 anos e 9 meses na função de diretor.

P.II Funcionário a 17 anos dos quais 5 (cinco) anos e 2(dois) meses 6 anos na

função de diretor.

CDP- Funcionário a 18 anos dos quais 11 (onze) na função de diretor.

Perguntou-se acerca da existência e da quantidade e carga horária de

assistente social dentro do estabelecimento prisional, bem como, da quantidade de

atendimento no ano ao mesmo preso. O objetivo era conhecer a possibilidade do

acompanhamento dos presos dentro do sistema prisional.

Danilo Pinheiro possui 02 (dois) assistentes sociais que trabalham 30 (trinta) horas

semanais e atendem o preso somente quando é solicitado por este.

Iperó- possui 01 (um) assistente social que trabalha 30 (trinta) horas semanais e

atendimento depende da “rotatividade da população carcerária e da solicitação do

preso”

PII - possui 01 (uma) assistente social que trabalha 30 (trinta) horas semanais e

segundo seu relato o atendimento “pode ser apenas uma atendimento ou mais aos

anos”.

Cadeia Pública de Sorocaba- possui dois assistentes sociais com jornada de 40 horas

semanais e atendem ao mesmo preso diariamente.

Seguiu-se das mesmas perguntas em relação psicólogo, psiquiatra, cujo

objetivo eram os mesmo supra citados.

Danilo Pinheiro: Possui dois psicólogos com jornada de 30 horas cada, além de 01

(um) psiquiatra com jornada de 20 horas semanais. Sendo que todos atendimentos

122

somente ocorrerão se solicitado pelos presos.

Ipero- Possui um psicólogo com jornada de 30 horas semanais divididos em

jornadas de 10 horas em três vezes por semana, alem de 01 (um) psiquiatra com

jornada de 20 horas semanais divididas ao longo de dois dias por semana. Sendo

que todos atendimentos dependem da “rotatividade da população carcerária e da

solicitação do preso”.

P II - Possui 03 (três) psicólogos com jornada de 30 horas semanais, alem de 01

(um) psiquiatra com jornada de 20 horas semanais Sendo que todos atendimentos,

segundo seu relato “pode ser apenas uma atendimento ou mais aos anos”.

CDP - Possui 03 (três) psicólogos com jornada de 40 horas semanais, alem de 01

(um) psiquiatra com jornada de 20 horas semanais O primeiro atende o mesmo

preso uma vez ao dia e o segundo duas vezes por semestre.

Posteriormente questionou-se quem fazia o recebimento do detento

quando de sua chegada no presídio e o que lhe era perguntado e falado. O Objetivo

desta questão era saber acerca do preconizado pelo art. 6 e 48 da LEP.

Danilo Pinheiro: O diretor do centro de segurança e disciplina é que recebe o preso

e lhe pergunta seus dados pessoais, criminais, sinais em seu corpo, se tem

possibilidade de convívio na unidade e sua fala se resume à orientação acerca das

normas e regimes da unidade.

Iperó- O Diretor de segurança encontra-se encarregado do recebimento do preso

sendo que este lhe pergunta qual a sua situação processual e se possui convívio com

os demais detentos. Segundo o diretor, o preso terá ciência das normas de disciplina

do presídio além de conhecer seus direitos e deveres. Permanecerá ainda durante 10

(dez) dias sob avaliação médica e social para então, ingressar na unidade celular

com outros detentos.

123

PII- Neste estabelecimento o preso é recebido pelo diretor de segurança e disciplina

que lhe questiona acerca de seus “dados pessoais e criminais e sinais em seu corpo”,

bem como, irá prestá-lo” e bem como lhe fornece toda orientação sobre a disciplina,

corpo funcional, regimento interno e a vivência no cotidiano com a população e

funcionários.Faz-se ainda uma abordagem pela equipe de saúde, reintegração social

em seus âmbitos.

CDP- O preso será recebido pela equipe de inclusão que lhe prestará “informações

sobre a unidade e disciplina”.

Perguntou-se se o preso era obrigado a trabalhar, se trabalhavam e, em

caso negativo, porque. Buscou-se a ciência do cumprimento da regra contida no art.

31 da LEP, bem como, a verificação da quantidade de presos ociosos dentro do

sistema prisional.

Danilo Pinheiro: apesar de todos presos serem obrigados a trabalhar, isto não

ocorre, porque não existe espaço físico suficiente para abrigar empresas que

ofereçam trabalho aos reeducandos.

Ipero - apesar da obrigatoriedade estabelecida pela LEP ante a “falta de espaço

físico e mão de obra especializada” aproximadamente 300 presos trabalham.

PII – Os presos são obrigados a trabalham, entretanto, considerando a falta de

espaços nas oficinas e a superlotação apenas 860 presos trabalham.

CDP- Por se tratar de preso provisório não são obrigados a trabalhar, entretanto, 30

(trinta) % dos detentos trabalham, número que poderia ser superior se houvesse um

maior número de vagas.

Perguntou-se também se, da remuneração percebida pelos presos, existe

algum tipo de desconto e a que título. O objetivo desta pergunta era a constatação

do cumprimento do parágrafo 1 do art. 29 da LEP.

124

Danilo Pinheiro, Afirma que se procede o desconto para pagamento dos presos que

trabalham internamente na unidade. Resolução 53/2001 SAP Art. 3º. Inc. I –

efetuar o pagamento mínimo de um salário mínimo vigente no país por preso

contratado, sendo destinado o mínimo de ¾ (três quartos) o valor para o preso e ¼

(um quarto) para rateio aos demais presos que prestam serviços de apoio e

manutenção na unidade prisional (MOI);

Iperó- Afirma que se procede o desconto para pagamento dos presos que trabalham

internamente na unidade.

P II – Os descontos referem-se a 25% para rateio com os demais presos e 10% para

uma poupança aberta em nome do preso que será levantado quando de sua soltura.

CDP – é descontado nos termos da resolução para “rateio comum”.

Perguntou-se se todos os presos estudam e em caso negativo porque. O

objetivo desta questão consiste em se constatar se ao preso está sendo prestado a

assistência educacional.

Danilo Pinheiro. Ante a inexistência de espaço físico, a maioria dos presos não

estudam.

Iperó – Não estudam em função da falta de espaço físico e diversidade de níveis

escolares entre os detentos.

P II – Nesta unidade, entre alfabetização e ensino médio, verifica-se 250 presos

estudando.

CDP- Ante a inexistência de vagas 10 % dos presos estudam.

Segui-se perguntando se houve, no ano de 2007 visita do Conselho

Nacional de Política Criminal, do juiz da execução, Conselho Penitenciário, Do

Departamento Penitenciário Nacional e do Estado de São Paulo, do Ministério

Publico, do Conselho da Comunidade. O objetivo desta pergunta era se verificar se

125

os referidos órgãos cumprem suas funções conforme estabelecido pela LEP.

Danilo Pinheiro, Com exceção do Juiz da Execução, Ministério Público e

Departamento Penitenciário do Estado que, respectivamente compareceram,

01(um), 08 (oito) e 01 (uma) vez, os demais órgãos não visitaram a unidade

prisional.

Ipero- segundo seu diretor o Ministério Publico visitou a penitenciaria no ano de

2007 por 6 (seis) vezes. Já os demais órgãos “por causa do embaraço judicial” no

ano de 2007 não compareceram a unidade prisional.

P II, Com exceção do Juiz da Execução e o Ministério Público que, respectivamente

compareceram, 01(uma) e , 04 (quatro) vezes, os demais órgãos não visitaram a

unidade prisional no ano de 2007.

CDP Com exceção do Juiz da Execução e o Ministério Público que,

respectivamente, compareceram 01(uma) e , 12 (doze) vezes, os demais órgãos não

visitaram a unidade prisional no ano de 2007.

Posteriormente para saber a possibilidade de super lotação, questionou-

se qual a capacidade e quantidade de preso presente no Estabelecimento Penal.

Danilo Pinheiro No regime fechado sua capacidade é de 280 presos e possui

atualmente 629 ao passo que o regime semi-aberto comporta 260 vagas e possui 261

reeducandos.

Ipero- no regime fechado sua capacidade é de 1242 presos e possui atualmente 469

ao passo que o regime semi-aberto comporta 108 vagas e possui 167 reeducandos.

PII - sua construção foi planejada para comportar 750 presos e possui atualmente

1350.

CDP Sua capacidade e para 576 presos e conta com aproximadamente 1000.

126

Para se verificar o cumprimento ou não da regra contida na alínea b do

parágrafo único do art. 88 da LEP, questionou-se o tamanho das celas no

Estabelecimento Penal, sua capacidade e quantidade de presos.

Danilo Pinheiro, 36 m2 incluindo o sanitário e com capacidade para oito presos

abrigando atualmente, em média 12 detentos.

Ipero em um pavilhão possui 3 (três) presos por cela e, nos demais 5 (cinco) de

quallquer forma, úmero inferior à sua capacidade.

P II – As unidades celulares possuem em seu pavilhão superior 21m2 com

capacidade para seis presos e, no pavilhão superior seu tamanho é de 27m2 com

capacidade para oito presos e em ambos os casos a media atinge 16 detentos por

cela.

CDP – possui aproximadamente 25 m2.

Questionou-se ao Diretor os principais problemas que enfrenta na

administração do Estabelecimento Penal.

Danilo Pinheiro - Superlotação e déficit de funcionários.

Iperó – segundo seu diretor, “a pergunta está prejudicada, pelo embaraço judicial

está unidade está muito tranqüila”.

P II – Superlotação.

CDP – número de detentos e déficit de funcionários.

Por derradeiro questionou-se ao Diretor se este acredita que os presos

quando saem estão ressocializados e porquê?

127

Danilo Pinheiro: Sim, com reservas, haja vista que a unidade prisional é muito

antiga, com projeto de 30 anos, impossibilitando assim o desenvolvimento de

projetos mais amplos no sentido de ressocializar completamente o apenado.

Iperó- afrima o diretor deste estabelecimento que é a condição de vida do preso que

o leva ao cometimento do ilícito, segundo ele, o detento é reflexo da sociedade que

o rejeitou, da precária condição de vida que levou antes do cárcere. Afirma que na

unidade prisional realiza-se trabalhos em grupo como meio de melhorar a alta

estima do detento e, que nada adiantará se não houver seu acolhimento por parte da

sociedade.

P II – Segundo seu diretor nem todos os detentos alcançam a ressocialização,

entretanto, o trabalho ali realizado se desenvolve para esta finalidade.

CDP – Não, faltam projetos de ressocializacao, a permanência é muito pequena.

128

3.4. Perguntas ao Juiz da Execução

Questionou-se também, ao Dr. José Eduardo Marcondes Machado, Juiz

da Vara de Execuções Criminais de Sorocaba quais os principais problemas que se

verifica na condução da execução penal e este, conforme se verifica abaixo, em

texto de sua própria redação apontou 06 (seis) problemas pontuais:

“1. FALTA DE VAGAS Antigo problema do sistema carcerário, a falta de vagas

acarreta a superpopulação das unidades prisionais. Apenas para exemplificar, o Presídio Antonio de Souza Neto, localizado no bairro da Aparecidinha, Sorocaba, foi dimensionado para receber em torno de 750 presos e conta atualmente com cerca de 1300 detentos. Essa situação – que pode ser considerada como regra – obriga presos a dormirem no chão, contribui para falta de água, entre outros inconvenientes.

É verdade que nos últimos dez anos (mais precisamente a

partir do início do governo Covas) dezenas de unidades prisionais foram construídas – o que não era feito há décadas –, mas ainda em número insuficiente para fazer frente à explosão do número de presos.

2. FALTA DE TREINAMENTO DOS AGENTES

PENITENCIÁRIOS Não se tem notícia de aperfeiçoamento dos agentes

penitenciários (cursos, treinamentos, acompanhamento psicológico etc), muitos deles, especialmente os mais antigos, atrelados a antigos vícios do sistema penitenciário. Disso decorre atos de violência praticadas contra os presos, corrupção ("trocas de favores") etc., embora seja necessário reconhecer que a Secretaria da Administração Penitenciária tem sido rígida na punição dos maus servidores.

3. ESGOTAMENTO DA CAPACIDADE DAS VARAS DE

EXECUÇÕES CRIMINAIS O número de varas de execuções criminais não tem, nem de

longe, acompanhado o ritmo de aumento da quantidade de unidades prisionais e também de sentenciados.

As varas têm trabalhado com um quadro cada vez mais

reduzido de servidores (as aposentadorias, afastamentos e exonerações não foram repostos nos últimos anos), o que conduz a uma inevitável morosidade na tramitação dos pedidos de benefícios e conseqüente intranqüilidade nos presídios.

Há premente necessidade de criação ou desmembramento de

varas de execuções criminais, com o devido aparelhamento material e humano.

4. CRIAÇÃO DE UM SISTEMA NACIONAL DE DADOS

129

Ainda não existe um cadastro nacional de execuções

criminais, o que dificulta a verificação de dados relativos a outros estados da federação, atrasando muitas vezes o andamento dos processos.

5. PENITENCIÁRIAS COM PRESOS DE PERFIS

DIFERENCIADOS Apesar do esforço da Secretaria da Administração

Penitenciária, ainda encontramos presos com perfis diferentes (idade, espécie de delito cometido, primários/reincidentes, quantidade de pena a cumprir) na mesma unidade prisional, o que dificulta o convívio e conseqüentemente o cumprimento da pena.

6. NECESSIDADE DE COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES

CRIMINOSAS As organizações criminosas (PCC, CRBC, ADA etc.) ainda

"comandam" algumas penitenciárias, o que obriga a Secretaria da Administração Penitenciária a não reunir "adversários" na mesma unidade prisional, contribuindo para aumentar o problema anotado no item 5”.

130

4. A INAPLICABILIDADE DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL E SEUS REFLEXOS

NOS RECLUSOS E EGRESSOS DO CÁRCERE EM SOROCABA.

Conforme se observou no segundo capítulo, imprescindível seria a

relação entre políticas publicas e a legislação142. Nos moldes do constatado pela

pesquisa realizada junto ao Juízo da Execução, diretores e presos dos

estabelecimentos penais de Sorocaba, distante é esta realidade. Nota-se que a

Legislação anda bem adiante, enquanto que políticas públicas se resumem pura e

simplesmente a construção em massa de presídios como forma para solução do

problema. Nota-se que em 15 de outubro de 2007 o então Governador do Estado,

José Serra, anunciou a construção de 44 presídios até o ano de 2014 e principal

desafio vislumbrado pelo chefe do Executivo consistia em convencer os

Prefeitos143.

Além da inexistência de políticas publicas, aqueles que, em tese atuam

no cumprimento da sanção, conforme se observará, de longe cumprem o

estabelecido pela Lei de Execução Penal. Nos dizeres de Martins, não há formação

quer intelectiva, quer até mesmo cultural dos operadores da Execução Penal144.

4.1 A Realidade

A Lei de Execução Penal encontra-se textualmente quase perfeita145,

entretanto cerca de 53 % dos egressos do cárcere voltam a delinquir, nossa realidade

demonstra que apenas 5% dos egressos são atendidos pelo serviço público146, dentre

os quais, cumprem pena em regime fechado 78,02% dos condenados, 15,42% em

regime semi-aberto, 4% em regime aberto, sendo que 2,56% cumprem medida de

142 Ver ADORNO, Sérgio. Sistema Penitenciário no Brasil. Problemas e desafios. Revista da USP. 1991. p. 75. 143Jornal O Estado de S.Paulo, 15/10/07, p. C1. 144MARTINS, Sérgio Mazina. A Lei e os Homens: Argumentos Sobre o Estatuto Filosófico do Direito de Execução Penal. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.8, n.91., p. 11, jun. 2000. 145KUEHNE, Mauricio. Reflexões em torno do anteprojeto da Lei de Execução Penal. Revista da ESMESC. Florianópolis, v.7, n.11, p. 153, 2001.. 146 Manual "O que as empresas podem fazer pela reabilitação do preso". P. 45. www.ethos.org.br

131

segurança.

O sistema prisional, deve fazer cumprir a finalidade preventiva

específica da pena, que pode ser definida como sendo aquela que tem como objetivo

afastar o criminoso do convívio social e buscar sua readaptação. Para que este

objetivo possa ser atingido são impostas determinadas privações ao condenado,

exemplificativamente: o afastamento do mundo exterior, bem como de sua família,

retirada de seu ambiente de trabalho, bem como de seu bairro, e da sociedade em

geral.

Esta nova situação traz um agravante, decorrente de todo um sistema de

normas e regras, ora instituídas por lei, ora pelos próprios presos, impostas ao

condenado, às quais deve obedecer e adaptar-se.

Agrega-se a esses fatos a convivência com presos potencialmente

perigosos. O ambiente prisional influencia de tal forma o comportamento do

detento, que este se torna vítima em potencial de um processo de perda progressiva

de sua individualidade.

4.1.1 Realidade do sistema paulista

Conforme-se se anteriormente expendido, a lei destina claramente

vários estabelecimentos penais para o cumprimento de cada fase da sanção e,

conforme muito bem relatado por D,Urso, o caos presente no sistema prisional

ocorre, não por falta de legislação e sim, certamente por sua inobservância147.

Conforme já expendido, após a efetiva sentença penal condenatória os

condenados deveriam ser transferidos para três estabelecimentos penais distintos,

presídios para os condenados em regime fechado; colônias agrícolas e industriais,

147 D’URSO. Luiz Flavio Borges. A privatização dos presídios. Faculdade de Direito do Estado de São Paulo. 1996. Dissertação de Mestrado. 247p.

132

destinados aqueles condenados no regime semi-aberto e a casa do albergado

especifico a preso no regime aberto, de qualquer sorte, em todos dever-se-ia realizar

exame criminológico para individualização da pena (art 8º da LEP) .

Conforme se observou, o sistema penitenciário de São Paulo, e

principalmente o de Sorocaba, passa muito distante desta realidade. Inicialmente,

constatou-se a falta de estrutura do sistema que, por falta de política publica gera

um excesso exacerbado de preso e os detentos na maioria das vezes acabam por

cumprir parte da pena em estabelecimento diverso estabelecido pela Lei de

Execução Penal e, por muitas vezes de maior rigor.

Nota-se que em Sorocaba, temos exemplos clássicos das suscitadas

regras. O Centro de Detenção Provisória é destinado ao recolhimento de presos

provisórios, possui hoje 1000 detentos, dos quais, em média 10% já estão

condenados e 4% já protocolaram pedido de progressão de regime. O mesmo

ocorre com a Penitenciaria II que deveria, nos termos da Lei de execução receber

presos em regime fechado e, possui 293 em regime semi-aberto.

A superlotação não se verifica apenas em Sorocaba, conforme dados do

DEPEM, São Paulo possui 130.814 presos e oferece 95.353 vagas no sistema

prisional, ou seja, quase 30% a amais de presos que sua capacidade.

Neste sentido, a estrutura oferecida pelo sistema carcerário não

possibilita condições para o cumprimento da pena e por conseqüência impossibilita

a segurança da sociedade148. Conforme explicitado por alguns autores, havia

determinados momentos em que acreditava-se na premissa da ressocialização,

entretanto, na atualidade reforça-se a tese de da falência do sistema prisional,

mormente porque o Estado não preconiza meios para gerar algum efeito positivo no

148 AFFONSO, Deborah Kelly. Privatização de presídios: Terceirização dos serviços penitenciários. Faculdade de Direito. Universidade de São Paulo, 202. (Dissertação de Mestrado).

133

apenado149.

Neste desiderato, a prisão deixa de cumprir sua finalidade e acaba por

costituir “[...] um duplo erro econômico: diretamente pelo custo intrínseco de sua

organização e, indiretamente, pelo custo da delinqüência que ela não reprime.” 150.

Nota-se que além de descumprir seu objetivo, o sistema gera ao Estado

um peso insuportável e inócuo, que demanda custos excessivos e sem efeito pratico

positivo151. Não bastasse tais fatos, viola princípios basilares como o da dignidade

que, a todo momento é expurgado do detento152. Neste sentido “quando um

presidiário foi condenado a pagar pelos seus erros, é justo condená-lo também à

falta de estudo e não lhe dar oportunidade de formar uma consciência crítica? É

justo privá-lo de coisas básicas, de necessidades vitais como, por exemplo, dormir

com dignidade?”153 .

A única possibilidade de talvez termos de fato uma ressocialização é

fornecer aos detentos um mínimo de condição, como por exemplo, apoio físico e

psíquico como forma de esperança na reeducação e no restabelecimento de sua

dignidade perdida no sistema prisional154.

Menciona Scapini que “é preciso ter presente que as pessoas presas não

foram condenadas a passar fome, a passar frio, a viver amontoadas, a virar pasto

sexual, a contrair AIDS e tuberculose nos estabelecimentos penais. Toda essa

realidade que vigora no mundo dos excluídos significa inconcebível exacerbação da

149 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. 150 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 24. ed. Petropólis: Vozes, 2001 p. 223. 151SILVA, Manoel da Conceição. Reeducação Presidiária: a porta de saída do sistema carcerário. Canoas: ULBRA, 2003 p. 100. 152Acerca do tema ver SILVEIRA. Eliana Gonçalves. A utopia da dignidade humana no cárcere.. Revista de estudos jurídicos - UNESP. Franca-SP. a6. n10. p. 225-249.. 153SILVA, Manoel da Conceição. Reeducação Presidiária: a porta de saída do sistema carcerário. Canoas: ULBRA, 2003 p. 17. 154 No sentido de que estes fatos não ocorrem no sistema penitenciário ver DROPA, Romualdo Flávio. Direitos humanos no Brasil: a exclusão dos detentos. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 333, 5 jun. 2004. p. 2. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5228>. Acesso em: 17 nov. 2006.

134

pena”155, a prisão brasileira representa não somenos que uma suposta obediência,

onde, sem duvida, se realiza “o seqüestro institucional da dignidade” 156.

“A prisão, em vez de frear a delinqüência, parece estimulá-la,

convertendo-se em instrumento que oportuniza toda a espécie de desumanidade.

Não traz nenhum benefício ao apenado; ao contrário, possibilita toda a sorte de

vícios e degradações”157. .

Na atualidade o sistema penitenciário do Estado de São Paulo é tido

como um de violação de direitos do preso.

4.2 A Função das Prisões

Conforme se constatou no capitulo anterior, a prisão nos moldes que se

encontra, deve ser rechaçada ou aplicada apenas nos casos de reconhecida

necessidade, ainda assim, ciente de que sua aplicação não terá conseqüências

positivas no processo de ressocializacao do preso. Cumpre acrescentar que os

problemas apresentados pelo sistema carcerário não é de hoje problemático.

Observa-se pelas exposições de motivo constantes na ultima reforma do Código

Penal que o legislador previa a pena privativa de liberdade em ultima esteira,

segundo o legislador “uma política criminal orientada no sentido de proteger a

sociedade terá de restringir a pena privativa de liberdade aos casos de reconhecida

necessidade, como meio eficaz de impedir a ação criminógena cada vez maior do

cárcere” 158.

Hoje, parafraseando Roberto Lyra a prisão condena o preso viver em

155 SCAPINI, Marco Antonio Bandeira. Execução Penal: controle da legalidade. In: CARVALHO, Salo (Org.). Críticas à Execução Penal: doutrina, jurisprudência e projetos legislativos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p. 391. 156 ROLIM, Marcos. O labirinto, o minotauro e o fio de ariadne: os encarcerados e a cidadania, além do mito. In: CARVALHO, Salo (Org.). Críticas à Execução Penal: doutrina, jurisprudência e projetos legislativos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p 323. 157 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 157. 158 Exposição de motivos da Lei de Execução Penal..

135

uma sociedade distinta de outros cidadãos na condição de vegetal. A prisão nada

mais é do que a morte do detento, morte moral, morte cívica. Segundo o autor a

prisão é pior que a própria pena de morte, pois consiste numa eliminação lenta e,

noz dizeres das vitimas, os presos nelas devem permanecer 'mofando',

'apodrecendo'159.

Conforme expendido o cárcere se constitui, no dizeres de Borges Filho

no “lixo dos lixos”160 verificamos um local escuro, frio e que leva o ser humano à

condições desumanas e, distante da realidade estabelecida pela Lei de Execução.

O ambiente carcerário faz com que os presidiários se submetam a um

novo ordenamento, estabelecido pela força dos mais ousados que, sob a influencia

de uma possível organização criminosa, ditam as novas regras do sistema

penitenciário. A autoridade encontra-se estabelecida por um poder paralelo, cada

vez mais crescente ante a inércia do Estado. Os presos despidos de proteção, ainda

que tacitamente e, como formas de sobrevivência, se submetem a estes falsos

ordenamentos.

Atualmente, ainda que como paliativo, a prisão tem eficácia para a

sociedade em uma única circunstância, qual seja, de retirar o individuo da

sociedade161.

4.3 Estabelecimentos Penitenciários: Características Básicas

Conforme já expendido no capitulo segundo estabelece a Lei de

Execução Penal a obrigatoriedade da construção de celas individuais para o efetivo

cumprimento adequado da sanção. Entretanto, esta não é nossa realidade, os

presídios continuam sendo construídos com unidade celulares coletivas que, com o

159 LYRA, Roberto. O Novo Direito Penal, Editor Borsoi, 1971, p. 108. 160 BORGES FILHO, Adolfo. A prisão como pena alternativa. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.8, n.96, p. 3, nov. 2000,. 161 CABRAL, Sandro. “Além das Grades”: Uma análise comparada das modalidades de gestão do sistema prisional. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia. 2006. p. 119..

136

passar do tempo adquirem a condição de penúria.

Diversos do estabelecido pela Lei de Execução, os presídios são

construídos há tempos da mesma maneira, ou seja, exacerbadamente grandes e com

acomodações coletivas que, no mais das vezes suportam um número superior ao

estabelecido. Em nossa região não é diferente, com exceção do Presido de Ipero,

que está parcialmente desativado, e em reforma, ou demais encontram-se

excessivamente lotados e apresentam celas efetivamente escuras e sem a ventilação

adequada. Não prevêem espaços adequados para estudo, recreação e trabalho.

Outra questão que ocasiona um problema quando da execução penal

está na alocação dos presos á penitenciarias, imprescindível seria ao bom

andamento da execução que a penitenciaria em que o preso venha cumprir sua pena,

seja da mesma região de onde este se originou, da mesma região onde encontra sua

família que, nos mais das vezes são pessoas de pouco poder aquisitivo e, por tal

razão tem dificuldades de locomoção e, por conseqüência, algumas vezes deixam de

proceder a tão espera visita.

Estes fatos, decorrem de varias circunstâncias, que conforme muito bem

especificado por Jorge162 são essencialmente quatro.

Segundo o autor o primeiro deles reside na problemática do consumo de

áreas. Nota-se por exemplo que em se tratando de regime fechado a quantidade de

área para construção é razoavelmente grande. Neste sentido, em se tratando de uma

Penitenciaria com capacidade para aproxidamente 750 presos, como é o caso da

Penitenciária II de Sorocaba, exige-se uma área com aproximadamente 55.000m2 e

que segundo Jorge, levando-se em consideração a segurança e a facilidade da

construção deve ser realizada em terreno plano. Neste sentido esclarece o autor que

estas premissas trazem uma limitação há algumas regiões do Estado, como por

162 JORGE, Wilson Edson. Penitenciárias : a questão da localização. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.10, n.120, nov. 2002, p. 6.

137

exemplo, a região metropolitana que possui o maior números de detentos no sistema

prisional. Assim alerta o autor que nestes casos a construção deveria se pautar em

projetos de construções verticais que, com certeza demandaria em menor custo de

áreas de terreno e, por conseqüência não se teria a obrigatoriedade de construções

cada vez mais distantes.

O segundo problema se refere a falta de política por parte do Governo,

quer Estadual, quer Federal. Imprescindível seria que o Estado estabelecesse uma

política de aquisição de terras, segundo o autor, tal ausência leva construção de

presídios em locais improvisados.

O próximo problema encontra-se presente na despreocupação do Estado

em relação a ampliação de vagas no sistema prisional que segundo Jorge ocorre

apenas quando da efetiva pressão oriunda do extremado processo de violência que

se verifica nos estados brasileiros. Segundo o autor tal pressão leva a uma

construção rápida e desenfreada que traz a solução à curto prazo e impossibilita

uma “política racional” de localização de novos presídios que deve ocorrer de

maneira permanente de modo que seja realizada independente das administrações

futuras163.

Por derradeiro, a quarta questão, refere-se as relações do Estado para

com a sociedade que, na maioria das vezes acaba por rejeitar a criação de presídios

em suas proximidades. O que a pouco tempo via-se como fonte de investimentos

por parte das Prefeituras, atualmente, tem-se como problema.

4.4 O Fracasso na Progressão das Penas

Imprescindível ao efetivo cumprimento das regras estabelecidas pela

Lei de Execução Penal, a individualização da pena e sua progressão. Para tanto,

163 JORGE, Wilson Edson. Penitenciárias : a questão da localização. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.10, n.120, nov. 2002. p. 7.

138

imprescindível seria, quando da fase da sentença, uma individualização da pena

levando-se em consideração, entre outras circunstancias, a individualidade de

detento, destarte, a titulo de exemplo, a reincidência deveria, por demais, influenciar

no inicio do cumprimento da sanção.

Posteriormente, caberia ao juízo da execução fiscalizar o efetivo

cumprimento da pena e por conseqüência a constatação das regras estabelecidas

pela LEP, v.g. a individualização. Segundo estabelece a regra contida no art. 112 a

execução deveria ser cumprida no sistema progressivo, iniciando-se do mais ao

menos gravoso até o efetivo retorno do preso à sociedade. Entretanto, conforme se

verifica pelos estudos realizados por A Human Rights Watch164 há presos que

cumprem integralmente sua pena em um único regime e, em alguns casos até em

delegacias. A mesma realidade ocorre no regime fechado que, há muitos anos,

possui um numero ínfimo de vagas165.

Tal fracasso, conforme se constatou se refere a varias circunstâncias,

iniciando-se pela omissão do Estado em políticas para execução da pena, o não

cumprimento de regras estabelecidas pela Lei de Execução, pelos agentes do

sistema prisional, a não fiscalização por parte dos órgãos efetivamente incumbidos

e, também pela omissão da sociedade em relação aos detentos e egressos do sistema

prisional.

4.5 Assistência

4.5.1 A assistência material

Conforme se observou, a assistência material consistente em vestuário e

alimentação vem sendo prestada pelo Estado. Entretanto, conforme relatado por

164HUMAN RIGHTS WATCH, O Brasil atrás das grades [1997/1998]. In: [Internet] http://www.hrw.org/portuguese/reports/presos. 165SANTOS, Eduardo Pereira. Execução Criminal. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo, n.37, p.110, jan/mar 2002.

139

Adorno, a alimentação dos estabelecimentos penais “não primam pela

qualidade”166.

No que se refere às instalações higiênicas, estas se mostram na maioria

das vezes desumanas, sobretudo se partirmos da premissa que, em média 16 presos

dividem o mesmo sanitário. Conforme se observa pela foto abaixo, a realidade das

instalações higiênicas demonstram um ambiente fétido e escuro, despido de

ventilação e com pouca quantidade de água. Conforme muito bem observado por

Adorno, todos estes fatores, associados aos restos de alimentação refletem no

“quadro crescente de deterioração das condições de vida”167.

Nestes moldes, na prática não se cumprem as regras estabelecidas pela

Lei de Execução Penal e, muito mesmo aquelas pactuadas pelo Brasil como, por

exemplo, as regras mínimas da ONU.

166ADORNO, Sérgio. Sistema Penitenciário no Brasil. Problemas e desafios. Revista da USP. 1991. p. 71 167Idem. p. 71

140

4.5.2 Assistência Médica

Conforme se observa pela estrutura penitenciaria do Estado, São Paulo

somente possui cinco unidades hospitalares sendo duas na Capital, duas em Franco

da Rocha e uma em Taubaté, assim, os detentos de Sorocaba, contam apenas com a

presença de médico psiquiatra e quando doentes, são levados aos hospitais que, na

maioria das vezes, conforme foto em anexo, prestam serviços ineficientes e

ineficazes168.

São Paulo há tempos não cumpre as normas estabelecidas pela Regras

Mínimas para o Tratamento dos Reclusos que prevê dos itens 22 ao 26 normas

acerca dos serviços Médicos, que tem, entre outras obrigações devem examinar

cada recluso quando de sua admissão no estabelecimento penitenciário, bem como,

separar reclusos suspeitos de serem portadores de doenças infecciosas ou

contagiosas além de ter que detectar qualquer tipo de doença que possa constituir

obstáculos à reinserção e a capacidade para o trabalho.

Conforme é sabido, algumas doenças como tuberculose e Aids

continuam presente e crescente no sistema carcerário brasileiro. A inércia do Estado

no tratamento de tais doenças gera uma significativa ameaça a sociedade em geral,

nota-se que, considerando que os detentos permanecem em contato com o mundo

168A título de exemplo temos o falecimento do Jovem Ryan Grace em 14 dez 2007 que, em inexistência de atendimento médico no sistema prisional a família viu-se obrigada a contratar médico particular.

141

extra-cárcere, por meio das visitas, a proliferação destas doenças contagiosas torna-

se iminentes e acabam por trazer riscos à coletividade.

Não bastasse a questão das doenças infecto-contagiosas, a população

carcerária está sujeita a uma maior risco de doença, em função da insalubridade do

sistema prisional, além do que, comum é a utilização de drogas injetáveis e de uso

geral.

Outros fatores que contribuem também para o acumulo de doenças são

o abuso sexual e o contato físico limitado por celas de ínfimo espaço associado à

super lotação, além, é claro, das lesões originados por agressões entre presos.

A mesma realidade encontramos nos Distritos Policiais que não contam

com atendimento médico, o que leva o detento ao tratamento na rede publica ou, em

sendo este abastado, poderá, conforme art. 43 da LEP contratar médico de confiança

pessoal.

Nota-se que em 1996, concluindo o relatório da CPI, os Deputados

narraram que a saúde no sistema penitenciário encontra-se completamente

deficitária. Segundo o relatório, o sistema prisional poderia ser intitulado como uma

“incubadora de doença”. Senão vejamos:

Precariedade da Assistência Médica: Faltam médicos e enfermeiros nos presídios. Em alguns, inclusive, outros detentos trabalham como se fossem enfermeiros. Também há falta de remédios, inclusive medicamentos básicos como analgésicos. Essa precariedade tem feito as doenças se proliferarem, como a tuberculose e a AIDS, em detrimento dos detentos, funcionários e da própria população. Por isso podemos considerar os presídios como incubadoras de doenças169..

169 CPI aprovada pelo requerimento 775/95 cuja finalidade consistia em investigar e propor solução no que concerne aos estabelecimentos prisionais do Estado. Relatório publicado em 24/06/97. Disponível em www.al.sp.gov.br .

142

4.5.3 Assistência Jurídica

Apesar da extrema importância estabelecida pela LEP e desejada pelos

presos, infelizmente, não há hoje em São Paulo número de defensores suficientes

para atender a Execução. Em Sorocaba o acompanhamento dos processos de

Execução Penal ficam a cargo dos Advogados da FUNAP170.que apesar de seus

esforços e boa vontade não respondem aos anseios dos presos. Sem prejuízo dos

advogados do Estado, permanece ao preso o direito de nomear advogado

constituído.

Ainda assim, nos moldes do estabelecido pela pesquisa mais de 80%

dos presos vinculados a vara de Execução de Sorocaba receberam atendimento

jurídico. Assim, podemos dizer que o Estado, pelo menos em termos de quantidade,

cumpre o preceito estabelecido pela LEP.

4.5.4 Assistência educacional

Mais uma vez a pesquisa demonstrou a inaplicabilidade do preceito

legal que preconiza a existência de escola no estabelecimento penal. Conforme se

observou os presídios vinculados à Vara de Execuções Penais de Sorocaba não

possuem, como regra, local apropriado para o ensino. Na maioria das vezes se

utiliza de um espaço provisório que oferece pouca estrutura e, considerando a super

lotação jamais comportará todos os detentos. Restou também constatado a

inexistência de incentivo ao estudo, notou-se que apesar de existente, grande parte

dos detentos não sabiam da escola dentro da unidade prisional.

4.5.5 Assistência social

Imprescindível para a ressocialização o serviço social que, nos dizeres

de Torres, não se constitui de mera assistência com objetivo de diminuir os

170 Fundação de Amparo ao Preso Dr. Manoel Pedro Pimentel. Vide www.funap.sp.gov.br..

143

problemas do reeducando. Segundo a autora, o serviço constitui-se de “tarefas e

atribuições que convergem para ajudar aquele que está em dificuldades a fim de as

resolvam, proporcionando-lhes meios para a eliminação das causas desse

desajuste”171.

Nota-se que apesar de extrema importância para ressocialização,

políticas publicas olvidam-se do sistema prisional, a lei 8.742/93 (LOAS) que

institui regras acerca da Assistência Social no Brasil, em momento algum faz

referencia ao cárcere.

Perceba-se que em Sorocaba, conforme narrativa dos diretores dos

presídios, ínfimo é o número de assistentes sociais. O Presídio Dr. Danilo Pinheiro

possui dois assistentes sociais trabalhando 30 horas por semana, sendo que possui

890 detentos e os atendimentos variam de acordo com sua solicitação. Ora,

dificilmente o preso reconhece a necessidade de acompanhamento psicológico, quer

por entender não necessitar, quer por não querer dar ciência ao demais presos. Nota-

se que, se dividíssemos, teríamos aproximadamente 450 presos para cada assistente

social que, se os atendessem por uma hora cada, o detento seria assistido por no

máximo três vezes ao ano. Será que tal acompanhamento terá alguma eficácia?

Diferente não é a Penitenciaria II de Sorocaba que possui um único

assistente social com jornada de trabalho de 30 (trinta) horas semanais para atender

1350 detentos. Segundo narrado pelo Diretor do referido presídio, quando se

constata o “caso de um preso, o acompanhamento ocorrerá ate sua conclusão”.

Nota-se que se o assistente conversar com o preso e levar uma hora, este preso

provavelmente será atendido novamente após o decurso de um ano.

Situação parecida verificamos na Penitenciária de Iperó que possui

atualmente 626 presos para ser atendido por um único assistente social. Na mesma

171 TORRES, Andrea Almeida. A lei de execução penal e as atribuições do serviço social no sistema penitenciário : conservadorismo pela via da desassistência social. p. 199. Em: CARVALHO, Salo de (org.). Crítica à execução penal. Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2007.

144

esteira se encontra o Centro de detenção Provisória, ou seja, possui um assistente

social com a mesma jornada, entretanto, para atender aproximadamente 1000

presos.

4.6 Ausência de classificação

Segundo previsto no Art. 5º da LEP, Os condenados serão classificados,

segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da

execução penal.

A referida individualização ficara a cargo da Comissão Técnica de

Classificação que será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois)

chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, e

que terá como obrigação a elaboração de um programa individualizador adequado

ao condenado ou preso provisório.

Mesmo presente profissionais, este, sem dúvida não cumprem o

preconizado pela Lei de Execução Penal que determina que os presos sejam

classificados de acordo com seus antecedentes criminais.

A individualização da pena, além de garantia constitucional, deveria

atuar como forma de assegurar a aplicabilidade do art. 1º da Lei 7210/84, ou seja,

efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal e proporcionar condições

para a harmônica integração social do condenado e do internado172.

Na prática, contudo173, isto não ocorre, não se vê qualquer separação

entre presos perigosos e presos vulneráveis, a única classificação que temos é a

separação de homens e mulheres, maiores e menores e policiais. Ademais, hoje

temos em muitos casos, presos aguardando julgamento em presídios e presos

172BÁRTOLI, Márcio Orlando. Definição de papéis na execução da pena. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.4, p. 01, maio 1993. 173 Ver pesquisa.

145

condenados em Cadeias. A única classificação que destoa das anteriores consiste

nos presídios de segurança máxima cujo objetivo é evitar a fuga e resgate de preso

potencialmente perigosos, como foi o caso do detento do detento Marcos Camacho

(o Marcola) recolhido na Penitenciaria de Presidente Bernardes por ser o líder da

organização Criminosa o Primeiro Comando da Capital174.

A inexistência da individualização, além de não cumprir o estabelecido

pela LEP, faz com estabeleça-se no sistema prisional conseqüências relevantes. A

junção entre vários tipos de presos, faz com que eles venham aprimorar à pratica da

conduta delitiva, novas técnicas são ensinadas de preso a preso. O linguajar, a

meneira de andar, agir, tornam-se únicos, assim, o preso perde sua personalidade

inicial absorvendo aquele existente no sistema prisional175.

Conforme se constatou pelas respostas apresentadas pelos diretores, a

classificação realizada no presídio se resume em perguntar ao detento se “tem

convívio” dentro do estabelecimento penal. Pergunta esta que, na maioria das vezes,

é realizada pelo diretor de segurança e disciplina.

Nota-se que, não há comissão técnica de classificação.

Se ao contrário da realidade imaginássemos a existência da Comissão e,

se ainda assim esta objetivasse de fato, a individualização, certamente, por falta de

estrutura isto não aconteceria. Observa-se inicialmente que a primeira dificuldade

encontrada pela comissão encontra-se na estrutura física dos presídios. Diverso do

estatuído pela LEP o sistema prisional de Sorocaba e em sua grande maioria, do

Brasil, possui dormitórios coletivos e com número exacerbado de presos que por tal

razão estão impossibilitados de exercerem sua privacidade, além de estarem

misturados sem qualquer critério. Nota-se que temos detentos que praticaram crimes

latrocínio ao lado daqueles que praticaram furto, temos primários ao lado de

174 Ver item organização criminosa. 175 CENTURIÃO, Luiz Ricardo M. Alguns aspectos das relações sociais em estabelecimentos prisionais. Revista de Estudos Criminais. Porto Alegre, n.1, 2001, p. 91.

146

reicidente e, como forma de especialização do criminoso colocamos o roubo e furto

ao lado do receptador.

A míngua do descrito temos ainda a questão da arquitetura do sistema,

conforme se observa o Presídio Dr. Danilo Pinheiro possui atualmente 890

distribuídos em media de 12 por cela. Além do espaço físico ser deficitário, neste

presídio a sala de aula não comporta mais que 30 alunos.

No mesmo sentido temos a questão sanitária, observa-se que a

privacidade é a todo momento excluída, principalmente quando nos referimos aos

banheiros que sem portas e extremamente estreitos possibilitam um

constrangimento diário176.

Outra questão que dificulta a ressocializacao é o contato com o mundo

externo ao cárcere que, ocorre por meio de jornais, televisão, cartas. Percebe-se pela

pesquisa, que a maioria de visita aos presos é feita por mães ou esposas, perdendo

por certo o convívio com o resto dos familiares. Não bastasse tal ausência, varias

são as vezes que ouvimos uma certa indignação dos detentos em relação aos

métodos utilizados para a revista das visitas. Segundo se verifica estas revistas

muitas vezes geram um constrangimento tão grande aos familiares que muitos deles

deixam de visitar os detentos contrariando assim normas da Lei de Execução

consistente no restabelecimento do vinculo familiar177.

Conforme se observa pela resposta dos presos e diretores, todos os

estabelecimentos penais possuem estruturas que possibilitam o preso a estudar,

entretanto, nos mesmos moldes da pesquisa a grande maioria não estuda.

176 Tal fato já se constitui de um elemento fantasioso à ressocialização conforme observou BORGES FILHO, Adolfo. A prisão como pena alternativa. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.8, n.96, p. 2, nov. 2000. 177 A titlulo de exemplo vide o art. 103 da LEP.

147

4.7 Abusos

Conforme já anteriormente constatado, na há individualização, razão

pela qual, vários detentos dividem a mesma unidade celular. Desta maneira os

abusos sexuais ocorrem com bastante freqüência e sem fiscalização ou por omissão

dos agentes do sistema prisional.

4.8 Órgãos de Controle do Sistema Prisional

Conforme discriminado no capitulo II, vários são os órgãos de controle

e fiscalização da Execução Penal. A lei de execução Penal, pelo menos na teoria,

cumpre a regra contida no item 55 da Regras Mínimas de Tratamento para o recluso

ao preconizar que haverá uma inspeção regular dos estabelecimentos e serviços

penitenciários, por inspetores qualificados e experientes, nomeados

por uma autoridade competente. É seu dever assegurar que estes estabelecimentos

sejam administrados de acordo com as leis e regulamentos vigentes, para garantia

dos objetivos dos serviços penitenciários e correcionais.

Nota-se neste sentido que dentre outros, o dever de fiscalização foi

atribuído ao CONSELHO NACIONAL e estadual DE POLÍTICA CRIMINAL E

PENITENCIÁRIA, o departamento penitenciário nacional – DEPEN. Cumpre

observar que, na prática, segundo declarado pelos diretores dos presídios dos

estabelecimentos penais vinculados à vara de execuções criminais de Sorocaba tal

fiscalização não ocorreu. Conforme se constatou pela pesquisa, no ano de 2007 não

receberam a visita de nenhum representante dos referidos órgãos.

4.8.1 Juízo da Execução

Dentre varias atribuições determinadas ao juiz da Execução cabe-nos

destacar duas preconizadas pelo art. 66 da LEP, quais sejam, o dever de zelar pelo

correto cumprimento da pena e a sua obrigação de inspecionar, mensalmente, os

148

estabelecimentos penais, tomando providências para o adequado funcionamento.

No dizeres de MARTINS, o legislador acertadamente utilizou-se do

verbo zelar que em sua concepção possui diversas acepções. Segundo ele o referido

verbo deve estar associado a cautelaridade, reflexão, magnanimidade e por fim

coragem178.

Desta maneira, qual pena deverá o juiz zelar?

Ë certo, nos termos do anteriormente expendido que, segundo preceito

constitucional, somente poderíamos falar em pena se esta se apresentasse-se

acobertada pelo principio da humanização e de maneira a assegurar a dignidade da

pessoa humana.

Neste diapasão, secundando ainda Martins, o dever estabelecido ao juiz

devera recair sobre a pena estabelecida pelo preceito constitucional e jamais sobre a

pena degradante. “Compete ao juiz da execução zelar pelo cumprimento de uma

pena que comporte uma dignidade minimamente condizente com a condição

humana. Sobre isso o juiz da execução, em tempo algum, tergiversará ou negociará,

para o que lhe cabe recorrer — onde, como e enquanto necessário — a toda a

majestade do cargo que lhe está depositado em confiança”179.

Em Sorocaba, ante a inexistência de material humano e a quantidade

exacerbada de processos de execução, não ha tempo suficiente para o cumprimento

da fiscalização mensal estabelecida pela LEP, nestes moldes, não há como o juiz da

execução zelar pelo efetivo cumprimento da pena.

178 MARTINS, Sérgio Mazina. Execução penal e direitos humanos. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.5, n.56 esp., p. 8, jul. 1997. 179 MARTINS, Sérgio Mazina. Execução penal e direitos humanos. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.5, n.56 esp., p. 9, jul. 1997.

149

4.8.2 Ministério Público

No exercício da atividade jurisdicional dentro do processo de execução,

o Ministério Público, além de atuar como parte exerce sua função primordial de

custos legis180. Cumpre salientar que com a nova ordem constitucional, nos moldes

do já anteriormente explicitado, vários são os princípios constitucionais presentes

no processo de execução, entre eles a dignidade da pessoa humana.

Pela análise da pesquisa realizada verificou-se a ineficácia e a

inaplicabilidade das garantias constitucionalmente assegurada aos reeducandos.

Neste sentido caberia ao representante do Parquet, entre outras obrigações,

fiscalizar, em linhas gerais o bom andamento do processo de execução que deverá

ocorrer por meio de visita mensal ao estabelecimento prisional nos termos do

estatuído pelos artigos 67 e 68 da LEP.

Nota-se pelas respostas apresentadas pelos diretores que o Ministério

Público cumpriu o preconizado pela LEP apenas no Centro de Detenção Provisória

de Sorocaba. Na Penitenciária I as visitas ocorreram por oito vezes, diminuindo em

Iperó para seis e, no maior Presido de Sorocaba, a Penitenciaria II do Bairro da

Aparecidinha o numero atingiu apenas quatro.

Desta maneira, restou limitada a atuação do Ministério Publico, pelo

menos no que se refere a obrigação mensal de visita aos estabelecimentos Penais.

4.8.3 Patronato

Conforme estabelecido pela LEP, caberia ao Patronato, entre outras, a

prestação de assistência aos albergados e aos egressos, sendo estes, nos termos do

art. 26, o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do

180CAVALCANTI, Eduardo M. O ministério público na execução penal. Em: CARVALHO, Salo de (org.). Crítica à execução penal. Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2007. p. 362.

150

estabelecimento, bem como, o liberado condicional, durante o período de prova.

Nota-se pela pesquisa realizada que os presos e egressos de Sorocaba,

em sua grande maioria não sabem o que é e qual a função do patronato. A

orientação que é passada ao preso e ao egresso é que, quando de sua saída estes

devem procurar juízo da execução, a FUNAP, e por fim o Patronato.

Tal orientação ocorre, certamente porque em Sorocaba não existe

Patronato, o acompanhamento é feito, quando há interesse do preso, pela FUNAP

que, se procurada tenta efetivamente inserir o detento na sociedade e no mercado do

trabalho. Na maioria dos casos os presos comparecem pura e simplesmente a

execução penal em função da obrigação de comparecimento mensal. Destarte, na

prática, não há acompanhamento de egresso, até mesmo porque, ao juízo da

execução não se atribuiu este mister e nem possui meios para tanto.

4.8.4 Conselho da Comunidade

Imprescindível em sede de execução penal é a participação da

sociedade181, nota-se que, antes de termos que mudar o sistema seria imprescindível

mudar o comportamento da sociedade, trazê-la para a realidade do detento, fazê-la

verificar as mazelas do sistema prisional e, destarte, junto com o Estado tentar uma

solução ou, no mínimo a minimização do estado precário que ora se encontra182.

Os detentos, assim como os pobres, no mais das vezes se vêem

excluídos da sociedade e certamente isto tende a aumentar o problema do sistema

carcerário pois, conforme se observa pela pesquisa apresentada os detentos se

181SÁ, Alvino Augusto de (coord.), CLARIZIA, Carla C. Vivian, MASTROIANNI, Fábio C., MONTEIRO, Juliana Ballotti, SOARES, Lourdes Tatiane F., GONÇALVES, Luciana J., LUTAIF, Luciana, VERA, Marisol S., SOLIGUETO, Mônica, CORDIOLLI, Vanessa A.. Programa de apoio á reintegração social de encarcerados através de sessões de debates: relato de uma experiência. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo, v.10, n.38, abr./jun. 2002, p. 215. 182 RODRIGUES, Anabela Maria Pinto de Miranda. Reinserção social : para uma definição do conceito. Revista de Direito Penal e Criminologia. Rio de Janeiro, n.34, jul./dez. 1982, p. 45...

151

sentem excluídos, vitimas de preconceitos e com dificuldades de retornar a

socIedade183. Neste sentido Baratta argumenta que “antes de falar de educação e de

reinserção é necessário, portanto, fazer um exame do sistema de valores e dos

modelos de comportamento presentes na sociedade em que se quer reinserir o

preso” 184.

Nesta seara, conforme salientado por Taques “, a questão social, que é

resultado das conseqüências da explosão da economia capitalista tem como uma das

expressões mais significativas a exclusão........E essa exclusão contribui para o

aprofundamento da desigualdade e do aumento do volume de pobreza, miséria e

humilhação. Torna-se mister aduzir que constitui algo bastante complexo tentar

reinserir um indivíduo em um sociedade excludente. Além disso, os presos são

indivíduos “rotulados”, “etiquetados”, “excluídos” de uma sociedade que não tem

como política incluir. Ademais, estes trazem consigo o fato de terem cometido

algum delito, de amedrontarem a sociedade, cuja reação com relação a estes é de

caráter repulsivo, de desprezo e indiferença” 185. Cumpre acrescentar que na cidade

de Sorocaba não existe Conselho da comunidade.

4.8.5 Comissão Técnica de Classificação

Com objetivo de elaborar programa individualizador adequado ao

condenado ou preso provisório, a Comissão Técnica de Classificação, que deverá

existir em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo,

por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um)

assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade.

183 CASTRO. Mirian Mesquita Pugliese de. RESENDE Regina Gattai de Almeida. Preso um dia, preso toda a vida: a condição de estigmatizado do egresso penitenciário. In; Temas: Sociedade Direito e saúde. São Paulo. Revista do Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São 1984. p.101/117. 184 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: introdução à Sociologia do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2002. p. 186. 185TAQUES, Silvana A questão social e o estado penal: uma abordagem multidimensional em fenômeno e realidades preocupantes. p.5 .Disponível emhttp: //www.ambitojuridico.com.br /site /index .php?n_link = revista_artigos_leitura&artigo_id=2383#_ftn4_ftn4.Acesso em 01/02/2008.

152

À comissão, no intuito de obter dados à realização do programa,

realizará exame criminológico e dentro da ética profissional, poderá entrevistar

pessoas, requisitar a repartições dados e informações a respeito do condenado.

4.9 Os servidores do Sistema Penitenciário

Elementar para a o sucesso da execução penal que o Sistema Prisional

possua servidores conhecedores das normas previstas na Lei de Execução Penal,

pelo menos, em relação a ressocializacao e individualização dos detentos.

A Lei de Execução Penal entre os artigos 75 usque 77 estabelece as

regras para organização e nomeação da direção e do pessoal dos estabelecimentos

penais.

4.9.1 Diretor

Segundo o art. 75 da LEP para ser diretor exige-se ter idoneidade moral

e reconhecida aptidão para o desempenho da função. O ocupante do cargo de diretor

de estabelecimento deverá satisfazer os seguintes requisitos, deve possuir

experiência administrativa na área e ser portador de nível superior de Direito, ou

Psicologia, ou Ciências Sociais, ou Pedagogia, ou Serviços Sociais;

Estabelece também as regras mínimas da ONU, no item 50.1 que o

diretor do estabelecimento prisional deve possuir qualificação para a função

estabelecida pelo seu caráter e pelas suas competências administrativas, formação e

experiência.

Conforme se observou o Diretor do Presídio possui cargo em comissão

e por conseqüência, transitório. Como regra acompanha o governo e, em situações

153

delicadas, v. g. rebeliões, estão sujeitos a perda. No dizeres Ribeiro186 “em muitos

Estados se contempla a função de Diretor a pessoas totalmente despreparadas,

indicadas politicamente (....) equívoco este, que se reparado, poderia ser um fator a

menos para tantas conseqüências funestas ocasionadas por más administrações

prisionais”

Conforme estabelece a LEP o Diretor possui residência e todas as

regalias a elas inerentes. Sua remuneração sofre um aumento de mais de 100%.

Associados a estas vantagens o diretor sofre as mazelas presentes nos agentes

penitenciários que, por muitas vezes se apresentam despreparados ou por vezes

corruptos.

A quantidade de drogas e uso de celular é constante. O erros e abusos

quando do exercício do funcionários são diários que ensejariam por si só a

instauração de procedimentos administrativos que, por certo, levaria a um grande

desgaste na administração.

Por estas razões, a tomada de atitude e a tomada de decisões podem por

em risco o cargo o que, não ocorreria se fosse de carreira e não comissionado.

4.9.2 Agente penitenciário

Com relação ao Quadro do Pessoal Penitenciário sua escolha atenderá a

vocação, preparação profissional e antecedentes pessoais do candidato.

Nos Estado de São Paulo, o agente penitenciário ingressa na carreira

por meio de prova e submetido ao curso de formação com carga horária total de 350

horas/aulas.

186 RIBEIRO, Dagoberto dias. A interdisciplinariedade e a Execução Penal. Monografia apresentada ao curso de Especialização em modalidades de Tratamento Penal. Curitiba. UFPR. 2003. p. 29 disponível em http://www.pr.gov.br/depen/downloads/monografia_dagoberto.pdf.

154

As regras mínimas para o tratamento do recluso da ONU, em maior

amplitude, estabelece que a boa gestão dos estabelecimentos penitenciários depende

da integridade, humanidade, aptidões pessoais de seus agentes e para tanto a seleção

pela administração penitenciária deve ser cautelosa.

Compete ainda a administração, segundo as Regras Mínimas, a

manutenção do espírito do pessoal e da opinião pública. Espera-se a missão de

ressocializar representa um serviço social de grande importância.

Estabelece as normas da ONU que, em função da conduta penosa do

trabalho, seja assegurado aos profissionais do sistema penitenciário boa

remuneração, garantia de emprego e boas condições de trabalho.

O pessoal deve possuir um nível intelectual adequado, se submeter a um

com curso de formação antes de seu ingresso, bem como, deve por meios de cursos

de aperfeiçoamento conservar e melhorar os seus conhecimentos e competências

profissionais.

Preconiza o item 48 das referidas regras que para uma boa influencia e

respeito dos presos para com os agentes, é imprescindível que estes tem bom

comportamento e bom desempenho em suas funções.

Outra questão que pode impulsionar o degringolamento do sistema

penitenciário é a formação do agente. Seu perfil e identidade devem estar voltados à

pratica da ressocialização que será determinada pelo Estado através diretrizes

curriculares.

Regulamentado pela Resolução SAP - 124, de 30/07/2004, o curso de

formação dos agentes de segurança pública possuem com carga horária total de 350

horas/aula divididos da seguinte maneira:

155

1º Bloco: O Agente Penitenciário

DISCIPLINAS HORAS/AULA 01 – Relações Interpessoais 40

02 - Epidemiologia em Saúde 30

03 - Comunicação e Expressão 30

04 - Defesa Pessoal, Tonfa e Algemas 20

2º Bloco: O Agente Penitenciário e o Tratamento Penal

DISCIPLINAS HORAS/AULA 05 - Legislação Penal 40 06 – Criminologia 30 07- Reintegração Social 20 08 - Direitos Humanos, Ética e Cidadania 40

09 - Prática do Serviço Penitenciário 40

10 – Papiloscopia 20 11 – Gerenciamento de Crise 20

Observem que da disciplina criminologia existe apenas 30 h/a e, seu

conteúdo programático tratará da definição de criminologia, escolas criminológicas,

da criminologia crítica, vitimização e prisionização, sendo que nesta distribuiu-se 5

horas aulas e tem como objetivo específico levar o aluno a analisar e refletir sobre

os efeitos negativos da prisionização em todas as pessoas envolvidas no

contexto prisional.

A disciplina Legislação Penal, como se observou possui 40 horas, das

quais 19 horas aulas são reservadas para a Lei de Execução Penal e, dentro desta as

considerações iniciais, objetivos da LEP, definição de preso provisório e definitivo

e a medida de segurança são tratados em duas aulas, a assistência ao preso é

156

ministrada em uma hora aula e seus direitos são conhecidos em meia hora, já que a

outra meia hora é destinada aos deveres. Notem que quanto ao regime de

cumprimento de pena, onde se encontra o tópico RDD será ministrado em três horas

aulas.

O conteúdo da disciplina Reintegração Social é oferecido em 20 horas

aulas e o tema os programas de reintegração serão ministrados em quatro horas

aulas.

Direitos Humanos, Ética e Cidadania são tratados em uma única

disciplina com conteúdos distribuídos, dos quais sete horas aulas tratam de direitos

humanos onde o conteúdo ministrado se refere a Declaração Universal dos Direitos

Humanos; Regras mínimas para o tratamento do preso no Brasil, Convenção contra

tortura, Lei 9.455, de Lei Porte de Arma, Constituição Federal, artigo 5º, Programas

Estadual e Federal dos Direitos Humanos e o Código de Conduta (Apostila) .

Após então trezentos e cinqüenta horas de formação os agentes são

enviados ao sistema prisional para efetivamente atuar na ressocialização do preso.

O problema pode ser aumentado quando de sua chegada ao

estabelecimento pois, outra questão que merece atenção consiste no gerenciamento

destes agentes por seus diretores, de nada adianta um política pública de formação

se não há responsabilidade em sua aplicação. Segundo SÁ187 a pratica determinada

pelo gerenciamento estabelecido pelo diretor que vai constatar o aprendizado

moldando o perfil e construindo a identidade do agente. Ainda segundo o autor o

sucesso da reintegração deve primar pela individualização, a humanização em

detrimento da segurança coercitiva.

187SÁ, Alvino Augusto de Os dilemas de prioridades e de paradigmas nas políticas de segurança dos cárceres e na formação dos agentes penitenciários. P. 3 Disponível em www.sap.sp.gov.br.

157

4.10 Condições de vida e o impacto da superlotação

O artigo 88 da LEP determina que unidade celular seja adequada à

existência humana e possua uma área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados), a

maioria dos estabelecimentos penais do Brasil, possuem celas maiores com um

número razoável de camas para possibilitar a convivência de um numero maior de

detentos. Os Distritos policiais geralmente adotam o mesmo modelo de unidade

celular, entretanto, em tamanho menor que os presídios.

Em Sorocaba não se verifica diferença, os estabelecimentos penais

possuem celas coletivas que por mais das vezes acolhe número superior ao

planejado, de maneira que os presos são obrigados a dormir no chão, próximo ao

sanitário, que é de uso comum e ao lado da sujeira e do odor. Desta forma o índice

de doenças aumentam e por conseqüência a revolta dos presos.

Não podemos nos olvidar que nesses estabelecimentos a unidades

celulares possuem tamanhos diferentes, como é o caso do chamado seguro188, desta

maneira, há celas que apesar de menores possuem o mesmo numero de presos que

as celas maiores. Tal divisão, segundo informação dos presos, são feitas em razão

da personalidade do detento, que para eles se referem ao “prestígio” e “dinheiro”.

Desta maneira as condições de vida tornam-se precária, nota-se que

além da superlotação temos o problema da higiene pois varias pessoas utilizam um

único banheiro na mesma cela e, com pouca ventilação e água.

Outra questão consiste na ausência de produtos de higiene, vestimento

etc, muitos presos, ante a omissão do Estado passam a buscar o apoio das famílias

que, quase sempre são pobres e não conseguem suprir suas necessidades básicas,

destarte, estes presos ficam a mercê de outros.

188 Unidade celular utilizada para a separação dos presos que não possuem convívio dentro da unidade prisional, por esta razão, ali permanecem até sua transferência.

158

4.11 As organizações criminosas189

Conforme se verifica no atual sistema prisional, a figura do detento é

tida, no mais das vezes, como apenas um número, o detento é considerado como

mais um dentro do sistema. O detento é visto apenas para o estabelecimento de

estatística do sistema carcerário190. Nos dizeres de Romeu Falconi, citando ö ex-

governador do Estado de São Paulo Mario Covas, “a Prisão é como reduzir o

cidadão a condição de um nada191.

Imprescindível reconhecer que no sistema prisional existe uma

distinção entre aqueles que ali habitam, vários são os grupos de presos, reservando-

se para isto a individualidade e personalidade de cada um. A detentos que vivem

isolados, aqueles que provocam, roubam, prestam serviços para os demais, e

aqueles que apenas atacam e prejudicam tanto presos como funcionários. Há

também aqueles apenas observam, permanecendo espirituosos e silenciosos, são

geralmente os presos mais antigos e por tal razão conhecem bem a estrutura do

sistema prisional192.

Segundo Ribeiro estes indivíduos geralmente observam aqueles que

estão ao seu lado e a quem se submeterá. São reconhecidas lideranças pelos agentes

penitenciários e que acabam contando com seu apoio para garantir a disciplina e a

segurança dentro do sistema prisional193. O problema assentasse no momento em

que os agentes penitenciários não mais controlam o sistema prisional sem a

189O objetivo de se falar em organização criminosa consiste em demonstrar sua atuação dentro do sistema prisional, não se pretende aqui trazer uma definição do tema Crime Organizado, para tanto ver BECK, Francis Rafael, Perspectiva do controle ao crime organizado e critica a flexibilização das garantias. São Paulo, IBCCrim 2004. v. 32. 190Segundo OLIVEIRA, como forma de se trazer um pouco de sentido para aqueles que vivem no cárcere, o simples fato de chamar o preso pelo nome inseriria dentro de si um sentimento de ser reconhecido. OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt de. Os Direitos Humanos e o Sistema Carcerário ou os Direitos dos Sub-Humanos do Sistema Carcerário. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.74, p. 07, jan. 1999. 191 FALCONI, Romeu. Sistema presidial: Reinserção. Coleção elementos do Direito, Ícone, Social. São Paulo.Icone. 1998. p.5. 192 THOMPSON, Augusto. A questão penitenciaria, Petrópolis-RJ. Ed. Vozes, 1976, p. 99. 193RIBEIRO, Dagoberto dias. RIBEIRO, Dagoberto dias. A interdisciplinariedade... cit. p. 23.

159

participação destas pessoas, inicia-se aqui mais uma falha do sistema prisional, a

dependência passa determinar o controle ou pelos menos parte do controle por parte

dos detentos. Estas pessoas passam então, ante a inexistência do poder do estado e

de sua omissão a conquistar a lealdade dos demais detentos.

Segundo o Plano Nacional, não cumprindo suas obrigações junto ao

sistema carcerário, ignorando a legislação e olvidando-se por completo da

corrupção, o Estado abre caminhos para o surgimento de grupos que, por meios do

assistencialismo e ante a revolta dos presos, conquistam sua lealdade e utilizam-nos

de varias maneiras.

Neste sentido o Marcos Camacho vulgo Marcola deu entrevista ao

Jornal Correio Brasiliense, de 23 de junho de 2001 e, dentre suas declarações ele

afirmou que a revolta é o combustível do PCC. Nota-se que este famigerado

combustível e a supremacia do poder das organizações criminosas levou 29 de

junho de 2006 uma forte sensação de medo e insegurança na população conforme

fatos noticiados pela mídia no dia quando a maior cidade do Brasil parou, os

paulistanos não saíram de suas residência em função do medo.

Em detrimento do Estado Democrático de Direito é clara a atuação das

organizações criminosas senão em todos, em quase todos os presídios do Estado de

São Paulo. Apesar de permear o sistema penal desde 1960, as organizações estão

cada vez mais crescentes ante a falta de coragem do aparato estatal para

efetivamente aceitá-la e por conseqüência combatê-la.

Em Sorocaba encontramos nos estabelecimentos prisionais varias

organizações, dentre ela o PCC, TCC e RCBC as quais, ainda que de maneira

informal se materializam por seus estatutos que, no mais das vezes são efetivamente

aceitos pelos detentos.

Para melhor entendermos, passaremos a fazer considerações a estas

160

organizações após entrevista a funcionários do Sistema Penitenciário de Sorocaba

que, ainda que de maneira empírica, passaram a nos discorrer acerca de seus

surgimentos e organizações.

O Primeiro Comando da Capital (PCC), presente na Penitenciária de

Iperó, foi fundado em 31 de agosto de 1993, no interior da casa de custódia e

tratamento de Taubaté e começou a se articular à partir de 1992 como conseqüência

do Massacre do Carandiru, tendo participado de sua fundação, Mizael Aparecido da

Silva ( Vulgo - MIZA), José Marcio Felícias ( Vulgo - Geléia), Marcos Willian

Herbas Camacho ( Vulgo – Marcola),César Augusto Roriz da Silva, entre outros194.

O objetivo inicial da organização consistia na tentativa de expurgar do

sistema penitenciário a prática de tortura e, posteriormente mudou para a obtenção

do lucro ocasionado por meio do trafico e extorsão, assaltos, atentados, seqüestros,

etc. Por tal razão a sigla PCC passou a ser símbolo de violência e opressão.

O não cumprimento das normas estabelecidas pela organização leva à

morte, como exemplo a do meliante conhecido como seqüestro que no dia

14/11/2000 foi enforcado na Casa de Detenção de São Paulo após 7 horas de

julgamento sob a acusação de desvio de dinheiro da organização195.

Outra organização é o Terceiro Comando da Capital, atualmente

presente no regime fechado da Penitencia I de Sorocaba (Dr. Danilo Pinheiro), teve

sua origem 2003 no Centro de Recuperação de Presidente Bernardes por César

Augusto Roriz da Silva (discidente do PCC), tem como lema a lealdade, sinceridade

e humildade, bem como, atuar contra os abusos do PCC196.

Presente no regime semi-aberto da Penitencia I de Sorocaba (Dr. Danilo

194 Pastoral carcerária. A sociedade prisional e suas facções criminosas. Disponível em: www.carceraria.org.br/?system=news&action=read&id=329&eid=68 acesso em 22 de janeiro de 2008. 195 Vide estatuto anexo. 196 Vide art. 9º do estatuto no anexo.

161

Pinheiro), temos outra facção denominada de Comando revolucionário Brasileiro da

Criminalidade o CRBC Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade, foi

fundado em 1999 em oposição ao PCC traz em seu “Estatuto” regras que

determinam o respeito as normas do sistema prisional, a disciplina da Unidade

Penal, ajuda ao próximo e sobretudo a inimizade ao membros do PCC197.

Na Cadeia Publica de Sorocaba temos todas estas organizações

criminosas e, na Penitenciaria II de Sorocaba por ser um presídio que, em tese,

abriga praticantes de crimes sexuais não se constatou nenhuma organização.

Enfim, nota-se que tais organizações, apesar de contraria ao

ordenamento jurídico procuram-se com os direitos estabelecidos pela lei e

esquecido pelo Estado. Seus estatutos prevêem a defesa dos presos e da sociedade

em geral. Nota-se que, as organizações se preocupam não só com os direitos dos

presos, mas, também com a sociedade em geral198.

Atualmente. a inércia do Estado tem aumentado a atuação das

organizações criminosas, nota-se que o PCC instituiu seus “juizados” para a

realização de julgamentos que entendam contrários ao ordenamento por eles

estatuído. Como noticiado no Jornal Estado de São Paulo no dia 17 de Fevereiro de

2008 a sociedade sem qualquer vinculo como a organização e cansada da ineficácia

do poder público tem procurado as facções para resolver seus litígios esquecidos

pelo Estado199.

197 Vide estatuto anexo. 198 Ver Estatuto TCC. PCC e CRBC, respectivamente ANEXO I, II E III. 199 Na referida matéria o “a inteligência da Polícia Civil constatou que os tribunais são procurados agora por pessoas sem ligação com o PCC. Como ocorreu em Presidente Prudente, a 530 km de São Paulo, quando ladrões atacaram o bar lde J. A. P. "Nem precisei ir à polícia. Um menino que vem aqui disse que poderia recuperar o prejuízo e aceitei", conta J. "Três dias depois, devolveram tudo. Até dez pacotes de cigarro, intactos".

162

4.12 As conseqüências da inaplicabilidade Lei de Execução Penal.

A proliferação do tráfico e uso de substâncias entorpecentes surgidos nas

décadas de 70, 80 no Brasil, fizeram com que a população pugnasse junto ao Estado

uma reação punitiva mais severa à este tipo de delito200, trazendo destarte o

chamado movimento da lei e da ordem e, por conseqüência buscando uma maior

intervenção e recrudescimento201 do direito penal, aviltando a liberdade, sob a

suposta argumentação que desta maneira teria-se a tão preconizada paz social202, o

mesmo ocorre na atualidade, entretanto, o argumento que a criação de lei mais

severa encontra-se pautado pela atuação das organizações criminosas, razão pela

qual tem-se uma considerável aumento de detentos no sistema prisional.

A omissão e despreocupação apresentada pelos órgãos do estado e pela

sociedade, leva ao detento o sentimento de ser um marginalizado social. Desta

maneira aos poucos, os intensos problemas existentes no sistema prisional faz com

que o preso vá, paulatinamente, se pervertendo, se insensibilizando, enfim,

conforme narrado por Oliveira, se embrutecendo203.

A deteriorização do ser humano por meio do sistema carcerário

encontra-se presente na maioria dos estabelecimentos penais do Brasil, diferente,

como se constatou, não é a realidade dos presídios de Sorocaba. A superlotação, a

falta de higiene, insuficiência de agentes penitenciários e de má formação

profissional, falta de assistência médica, educacional, enfim, nos dizeres de Moura,

“a falta de consideração pela dignidade dos presos é notória” 204.

200 LEAL, João José.–Crimes Hediondos, aspectos político-jurídicos da lei n 8072/90.Atlas São Paulo 1996 p. 12. 201 FREIRE, Christiane Russomano. A violência do sistema penitenciário brasileiro contemporâneo. São Paulo. IBCCrim, 2005. v. 35, p.76. 202 LIMA, Flávio Augusto Fortes de, Penas e medidas alternativas: avanço ou retrocesso. in Cadernos Adenauer 3: A violência do Cotidiano, São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2001. p. 94. 203OLIVEIRA, Edmundo. Consensualismo penitenciário. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.10, n.113, abr. 2002. p. 14. 204 MOURA, Maria Thereza Rocha de Assis. Execução penal e falência do sistema carcerário. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.7, n.83 (esp.), out. 1999. p. 10.

163

Além da efetiva exclusão social, o detento, vivencia uma realidade

temporal diversa da sociedade. Enquanto na sociedade, em função das atividades

rotineiras do dia dia o tempo resta-se cava vez mais escassos, dentro do sistema

prisional, em função da ociosidade ele custa à passar. Segundo Goifman, “a não

existência de rotinas regulares de trabalho faz com que a percepção do tempo se dê

pelo excesso. Mata-se um dia para que no próximo ele nasça com ainda maior

intensidade” 205.

Imprescindível para a ressocialização do preso que o Estado, por meio

do sistema prisional proporcione aos detentos, uma série de benefícios, dentre os

quais podemos citar a instrução, assistência médica e psicológica, para, dessarte,

suprir, no mais das vezes, a carência e privação freqüentes na vida dos reclusos, até

mesmo antes do período de reclusão.

Outro problema originado pelo cárcere encontra-se pautado na família

que pode reprovar a conduta do preso a ponto de abandoná-lo por completo, ou,

como verificamos na maioria dos detentos entrevistados vivenciam com eles os

males originados pelo cárcere. Hoje a realidade apresentada pelo sistema carcerário,

ao contrario dos estabelecido pelo art. 5 inc XLV da Constituição Federal, faz com

que a pena atribuída ao detento seja cumprida por seus familiares206.

Ainda nesta esteira, problema maior, assentasse na questão sexual que,

sem qualquer estrutura de visita intima, submete ao preso e sua parceira a exposição

de sua intimidade o que faz, em algumas vezes, o inicio do homossexualismo, pois,

com objetivo de evitar a exposição da intimidade da mulher, o detento acaba por

iniciar a promiscuidade dentro do sistema prisional.

Conforme se constatou, a realidade do sistema prisional demonstra que

205GOIFMAN, Kiko. A morte do tempo na prisão. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.8, n.95, out. 2000. p. 2. 206 NASSIF. Aramis e NASSIF, Samir Hotmeister. O apenado, a família, a LEP e a constituição. In: CARVALHO, Salo (Org.). Críticas à Execução Penal: doutrina, jurisprudência e projetos legislativos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p. 633

164

o cárcere se constitui de um local propicio a exclusão do ser humano, exclusão esta

que se constitui de todas as formas, quer física quer moral. Nos dizeres de Ferreira,

“O ambiente carcerário é, na verdade, a grande arena onde são vivenciadas as cenas

mais aviltantes e grotescas, tendo como protagonista um ser humano segregado

provisoriamente do convívio social, que trouxe do submundo do crime, como

herança, uma estranha cultura que será implantada no seu novo habitat”. Segundo o

autor, a privação da liberdade neste ambiente gera a uma mudança de

personalidade207.

Nos dizeres de Baratta, considerando as dificuldades estruturais e os

escassos resultados apresentados pela instituição carcerária em relação a

ressocialização as esperanças dos especialistas acabaram-se por completo208.

O crescente índice de criminalidade e o aumento das organizações

criminosas faz com que o Estado utilize-se cada vez mais da criação de presídios

para cumprimento de pena em regime fechado, de maneira que, nos dizeres de

Baratta, tais criações levam “a renúncia explícita dos objetivos de

ressocialização e a reafirmação da função que a prisão sempre teve e continua

tendo: a de depósito de indivíduos isolados do resto da sociedade, neutralizados em

sua capacidade de “causar mal” a ela” 209.

O alto índice de reincidência demonstra efetivamente que a

ressocilização por meio do cárcere é ineficaz.

A pratica imposta pelo sistema penitenciário de Sorocaba, infelizmente

nos leva a conclusão de que surge uma alteração da utilização da prisão que deixa

de ter um caráter de ressocialização (prevenção especial positiva) e volta ao

207FERREIRA, Carlos Lélio Lauria. Subcultura carcerária. Boletim IBCCRIM. São Paulo, n.58, p. 12, set. 1997. 208BARATTA, Alessandro. Ressocialização ou Controle Social: Uma abordagem crítica da “reintegração social” do sentenciado. p.1 Em http://www.eap.sp.gov.br/pdf/ressocializacao.pdf. 209BARATTA, Alessandro. Ressocialização ou Controle Social: Uma abordagem crítica da “reintegração social” do sentenciado. p.1 Em http://www.eap.sp.gov.br/pdf/ressocializacao.pdf.

165

conceito de retribuição.

Por tudo que foi exposto é certo que a realidade apresentada pelo

sistema carcerário pesquisado, leva a certeza da impossibilidade da ressocializacao

por intermédio do cárcere, apesar disto, perquirir a reintegração do sentenciado

não deve ser esquecida, pelo contrario deve ser reconstruída. A despeito do tema,

importa trazer posicionamento de Baratta.

Segundo o autor, a primeira questão a ser reformulada assentasse no

conceito sociológico de reintegração social. Ressalta que não será possível a

reintegração por meio do cumprimento da pena, entretanto, deve-se deve buscá-la

apesar dela, entre outras palavras, deve os Estado tornar melhor a condição de vida

no cárcere.

Outra abordagem da finalidade da execução da pena privativa de

liberdade, clarificada como ressocializadora, longe de suscitar uma polemica vazia,

em oposição à isto, nos conduz a uma análise crítica e objetiva acerca dos resultados

até hoje obtido frente a sociedade vigente.

Ao traçar algumas coordenadas da sociedade contemporânea,

identificamos o homem nas relações em sociedade e valoramo-lo ainda, como

individuo, dotado de particularidades e especificidades, e, nessa perspectiva,

importa discutir o grau de interação e comunicação entre a sociedade e o individuo,

a cuja normas este deve se adaptar, que parâmetro de conduta socialmente desejável

ter e, questionar se o modelo concreto de sociedade na qual se pretende inserir o

indivíduo não ;e ela própria, a geradora da própria delinqüência.

Em análise, a sociedade intrinsecamente criminógena, pode ser um, de

entre os fatores relevantes na explicação do fenômeno criminal, já que o indivíduo é

um produto da sociedade, sendo esta que deveria ser revolucionariamente

transformada, posto que, estará relegada ao fracasso a ressocialização que se

166

pretendia lograr algum êxito tendo-se por diretriz a aplicação de medidas sobre o

indivíduo tão somente.

Nesse sentido, Durkheim210, em sua época tomou a posição sobre

problemas nucleares da criminologia defendendo a tese da normalidade do crime,

“não em qualquer epifenômeno ocasional, mas no plano da própria estrutura da

sociedade”.

Ao falarmos em reinserção social objetivando êxito quanto a

readaptação ao grupo social, faz-se necessário que um conjunto de medidas de

reformas sobre o individuo e a sociedade, que o produz211, sejam conjuntamente

operadas.

Pela teoria da socialização, onde o indivíduo é levado à “adaptação”

aos comandos jurídicos, visando integrar o individuo no mundo dos seus

concidadãos, através de certos mecanismos de interiorização das normas do grupo,

sendo este um programa mínimo de ressocialização, aqui, o que pretende-se, é levar

o individuo ao processo de ressocialização por meio da aprendizagem das normas

do grupo, defict de socialização212.

O que se critica neste modelo é se, por meio deste controle externo do

comportamento, qual seja, a privação da liberdade ao individuo conseguiria se obter

o grau de adesão interior – frise-se autônoma- aos valores da ordem jurídica.

Sem pretender aqui formular um juízo de valor sobre a tese exposta,

não podemos nos olvidar de que, em nome da ressocialização não se pode pretender

ir mais alem do que a mera conformação do delinqüente-recluso com a legalidade,

210 Figueiredo dias e Costa Andrade, criminologia, 1979, o. 36, apud RODRIGUES, Anabela Maria Pinto de Miranda. Reinserção social : para uma definição do conceito. Revista de Direito Penal e Criminologia. Rio de Janeiro, n.34, p. 24-47, jul./dez. 1982. . 211 Neste sentido ver FALCONI, Romeu. Sistema presidial: Reinserção. Coleção elementos do Direito, Ícone, Social. São Paulo.Icone. 1998. p.51. 212 RODRIGUES, Anabela Maria Pinto de Miranda. Reinserção social : para uma definição do conceito. Revista de Direito Penal e Criminologia. Rio de Janeiro, n.34, p. 29, jul./dez. 1982. .

167

não se admitindo, para tanto, que esta conformação seja alcançada de forma

coercitiva, o que não estaria de acordo com os princípios de uma sociedade

democrática.

Refletir a ressocialização deve compreender além de meios de

interiorização do medo das sanções penais, existindo por detrás deste

comportamento respeitador da lei apenas o “vazio moral”, a que se considerar

fundamentalmente o grau de convicção interior sobre o valo ( ou desvalor), da

conduta do individuo.

O problema aparece, sobretudo ocasionado relativamente aos

estabelecimentos prisionais em geral, onde, a pretexto de se priorizar a segurança e

a disciplina do delinqüente–recluso, acabava-se por suprimir quaisquer tentativas de

educação ou adaptação a sociedade. Ideal seria que coexistissem o esforço do

recluso e da sociedade, propondo programas e projetos de apoio social ao egresso

prisional, respeitando o principio da dignidade humana em estreita relação com o

cotidiano que virá.

Neste ponto de excurso, que intentamos sobre o sentido da reinserção

social apontamos para o objetivo desejado que, não se apresenta tão somente em

uma liberdade desamparada, mais sim em facultar “caminhos”- por meios dos quais

se realiza o pleno desenvolvimento da personalidade humana- preparando o recluso

para decidir, ele próprio frente as alternativas com que se depara numa sociedade

heterogênea e plural

Enfim, nos Dizeres de SÁ, “O preso é um indivíduo concreto, vivo, que

está sofrendo hoje, agora, os terríveis problemas da vida carcerária, que está sujeito

hoje, agora, à execução da pena de prisão”, assim se pretendermos, talvez, não

resolver, mas, entretanto, nos aproximarmos da ressocialização, imprescindível

seria o respeito à dignidade do preso, trazendo-lhe benefícios concretos,

168

assegurando-`lhe, pura e simplesmente os direitos já estabelecidos na LEP213.

213SÁ, Alvino Augusto de. Execução penal e direitos humanos. Boletim IBCCRIM. São Paulo, v.5, n.56 esp., p. 8, jul. 1997.

169

CONCLUSÃO

Após o expendido no primeiro capítulo verificamos a evolução da pena

que, em uma primeira fase, não continha qualquer finalidade ressocializadora.

Conforme se observou durante a escola clássica, a sanção era utilizada pura e

simplesmente para retribuir o mal praticado pelo criminoso, tendo-se por

conseqüência a proporcionalidade da pena à gravidade do delito. Posteriormente,

ainda nesta mesma escola, desenvolveu-se a teoria da prevenção geral que pela

primeira vez atribuiu uma finalidade à pena qual seja, prevenir por meio dela a

prática de ilícito por outros indivíduos. Adiante, tivemos a contribuição do finalismo

trazendo a necessidade de quando da fixação da dosimetria da pena, o dever de se

considerar a reprovação da conduta. Por derradeiro, de acordo com os ensinamentos

pós-finalistas, quaisquer outras ciências devem corroborar com a aplicação e

interpretação da lei penal de forma que para perquirir uma sanção mais justa, o

julgador deve utilizar-se de todos os meios normativos para o julgamento do caso

em concreto, de maneira que a pena passaria a ter a função de prevenção geral

positiva, ou seja, teríamos nesta uma forma de se reforçar os valores da sociedade.

Podemos concluir, após o efetivo estudo do tema que, mesmo com a

evolução dogmática dos fins da pena, no Brasil, esta continua pautada na teoria da

retribuição. Conforme se observou, o tratamento dispensado ao preso além de ser

cruel é desumano. O Estado não se preocupa com a pessoa do delinqüente e a

sociedade preocupa-se em retirá-lo de seu convívio e neste desiderato, a função da

prisão limita-se ao isolamento e esquecimento do preso.

Conforme-se se observou no desenvolvimento do trabalho, a Lei de

Execução Penal tem com objetivo proporcionar condições para a harmônica

integração social do condenado e do internado. E, pelo que se constatou, existindo

um pouco de vontade do preso, pelos menos na teoria, há meios para sua reinserção

na sociedade. Acontece que na prática estamos muito distante do fim almejado.

170

Constatou-se também que as políticas públicas da atualidade constituem-se na

construção em massa de estabelecimento penal e, o que é pior, mantém-se a

construção coletiva olvidando-se por completo do dispositivo legal que preconiza a

unidade celular individual.

Neste desiderato, conforme se observou, a superlotação no Sistema

Penitenciário Paulista e, sobretudo nas unidades vinculadas à Vara de Execuções

Criminais de Sorocaba chegam a ser 50% superior da sua capacidade, mesmo se

considerarmos a Penitenciária de Iperó.

Não bastasse a superlotação, a individualização, elemento imprescindível

à ressocialização não vem sendo cumprida. Do que pôde-se observar através do

questionário apresentado aos presos e egressos as unidades celulares são compostas

por detentos que praticaram diferentes tipos de ilícitos. Nota-se que, na mesma cela

há aqueles que praticaram receptação, roubo, furto estelionato. Enfim, não se

observa o as condições do agente e, nem tampouco se determina um processo

individualizador da execução.

Não bastasse tal ausência, verifica-se ademais que a ociosidade é regra no

sistema prisional. Nota-se que, ainda que a título precário, as unidades prisionais

possuem sala de aula, realidade que para grande parte dos detentos é pouco

conhecida. Constatou-se que inexiste tal divulgação ante a pequena capacidade da

sala de aula.

Ainda neste diapasão, conforme se constatou as assistências com exceção

da jurídica, não vem sendo prestada, a alimentação é deficitária, a insalubridade é

constante, bem como, a ventilação e higiene deixam a desejar. A assistência

psiquiátrica, social e psicológica somente ocorre se solicitado pelo detento.

Sabemos que dificilmente o detento constata tal necessidade, por tal razão,

imprescindível que os profissionais desta área assumam a atribuição que lhes é

conferida pelo Estado e iniciem o acompanhamento individual do detento com

171

vistas à individualização e ressocialização.

Outra questão apontada como um dos principais problemas durante o

processo de execução, segundo a percepção dos presos, consiste na ausência da

família. Conforme expendido no corpo do texto a família cumpre pena com o preso.

As unidades prisionais encontram-se, na maioria das hipóteses, distante da família

do preso. Associado a tal fato, conforme a pesquisa, constatou-se que durante o

cumprimento da pena o preso é, por diversas vezes transferidos a vários

estabelecimentos do Estado. Assim, imprescindível se faz a aproximação do preso à

sua família como forma de incentivo ao cumprimento da pena.

Noutro momento, pelo que se constatou, não houve, no ano de 2007, com

exceção do Ministério Publico e do Juiz da vara de Execução, fiscalização às

unidades prisionais por parte dos demais órgão instituídos pela Lei de Execução, de

sorte que o Governo de São Paulo e Federal não conhecem a realidade apresentada

nos presídios da região de Sorocaba e, portanto qualquer política que possivelmente

venha a se desenvolver será genérica e sem propósito determinado.

Ainda neste diapasão, constatou-se também que não há material humano

que possibilite ao juiz da execução que venha a zelar pelo efetivo cumprimento da

pena. Notou-se, segundo declarações do próprio magistrado, que o número de

funcionários laborando junto à Vara de Execuções é insignificante. Nota-se que,

além de dever fiscalizar quatro estabelecimentos penais, cabe ao juízo de Sorocaba

o acompanhamento de aproximadamente 4.000 processos de execução, sem

prejuízo da Vara do júri que também é titular. Neste sentido, nossa região já

comportaria mais uma Vara de Execuções Criminais.

Em relação ao Patronato, assim como maioria do Estado, Sorocaba não o

possui, os egressos que aqui se encontram não recebem qualquer espécie de

atendimento por parte do Estado, nota-se pelo teor da pesquisa que quase que sua

totalidade procura a Vara de Execuções Criminais que, segundo disposição legal se

172

resume ao comparecimento para justificativas de atividade e endereço. Nota-se que

aquele que cumpriu efetivamente toda a sua pena sequer será objeto de fiscalização,

destarte, não se faz qualquer acompanhamento ou até mesmo a referida fiscalização

nos termos do inciso I do art. 26 que conceitua também como egresso o liberado

definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento. O egresso

após sua saída é entregue à própria sorte e, como se constatou ao preconceito da

sociedade.

Noutro momento, constatou-se que no sistema prisional a maior parte do

contato interno dos presos se resume à figura do agente penitenciário que, conforme

demonstrado não possui formação adequada à realidade do processo de

ressocializacao. Neste moldes, a formação destes profissionais, está aquém do

esperado.

Outra questão que se assenta na problemática no processo de efetivo

cumprimento da sanção penal consiste no processo de escolha do diretor do

estabelecimento prisional que ocorre por cargo em comissão. Conforme expendido

no curso do trabalho, sustentamos que tal cargo deve ser provido mediante

concurso, pois a insegurança do cargo leva o diretor a deixar de tomar certas

providências, como por exemplo atuar de maneira efetiva no controle de visitas e

busca de drogas ou até mesmo, procurar elementos que possam levar a prova de

possível corrupção em seu estabelecimento prisional.

Constatou-se, mediante afirmação de mais de 80% dos entrevistados, que

não se cumpre o determinado pelo artigo 46 da lei de execução que determina que,

no início da execução da pena ou da prisão, o preso será cientificado das normas

disciplinares. Tal omissão além de demonstrar a inaplicabilidade da LEP, enseja

sanções disciplinares ao detento e inclusive pode gerar a progressão de regime o

que certamente não se constitui de objetivo da lei e nem tampouco contribui pra um

já conturbado processo de cumprimento da sanção por meio do cárcere.

173

Outra efetiva demonstração de desrespeito do Estado para com o preso

está inserido na Resolução 53/2001 da Secretaria de Administração Penitenciária

que prevê desconto do salário do preso trabalhador externo para pagamento do

preso interno. Não bastasse tal fato, olvida-se também o Estado da figura da vítima,

observa-se pelas respostas dos diretores que não se cumpre o estabelecido pelo art.

29 da lei de execução que preconiza também descontos para sua indenização.

Verificou-se ademais que, à margem da omissão do Estado para com

efetivo cumprimento das normas estabelecidas pela Lei e, por conseqüência, da

garantia de direito dos presos surge a cada dia e de maneira mais incisiva, as

organizações criminosas que sob o falso argumento de defesa dos interesses dos

presos e mediante coação, angariam “discípulos” e ou “associados”.

Outra realidade constante no sistema prisional é a questão temporal,

conforme demonstrado dentro do sistema penitenciário, em função da ociosidade,

tem-se a sensação que o tempo demora passar, razão pela qual a maioria dos

detentos que cumprem penas longas dedicam-se a meios que possam originar à

fuga. Desta maneira, até mesmo para se evitar maiores problemas à sociedade, deve

o Estado urgentemente buscar meios para evitar o ócio quer pelo trabalho quer pelo

estudo.

Por derradeiro, não podemos nos olvidar da questão sexual onde, em

função da inexistência de local adequado para a visita íntima, vê-se o detento

obrigado a expulsar sua parceira ou sujeitá-la ao constrangimento de coabitação

junto aos outros detentos. Nesta mesma esteira, tais fatos levam ao aumento do

homossexualismo.

O exacerbado e crescente índice de reincidência demonstra efetivamente

que a ressocilização por meio do cárcere é ineficaz.

O certo é que, inexistindo políticas públicas no sentido de se atribuir a

174

aplicabilidade da Lei de Execução Penal, em nada terá validade o cárcere senão de

reduzir o detento à condição de “um nada”. É preciso, acima de tudo despir-se do

preconceito, imprescindível é o reconhecimento da condição existente no sistema

prisional e o acompanhamento efetivo do egresso, pelo Estado e, principalmente

pela sociedade que tem um papel crucial no processo de ressocialização, qual seja,

aceitá-lo em seu convívio sem entretanto fomentar qualquer espécie de preconceito.

175

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ANEXO I

ESTATUTO DO TERCEIRO COMANDO DA CAPITAL _ TCC

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ANEXO II ESTATUTO DO COMANDO REVOLUCIONÁRIO BRASILEIRO DA

CRIMINALIDADE - CRBC

01-Respeitar todas as regras do CRBC 02 - Respeitar todos os sentenciados do Presídio, onde o CRBC estiver liderando. 03 - Respeitar as normas do Presídio, sendo como maior exemplo, a DISCIPLINA DA UNIDADE PENAL. 04 - Lutar pelos sempre pelos humildes, pela liberdade do próprio CRBC e todos aqueles que estiveram prestes a obter a liberdade. 05 - Não podemos permitir que o Presídio fique em mãos de vermes. 06 - Onde o CRBC estiver não poderá haver rebeliões, extorsões e nem qualquer tipo de represália humilhante. 07 - Onde quer que o CRBC estiver NÃO PODERÃO EXISTIR INTEGRANTES DO PCC, pois os mesmos, através da ganância, extorsão, covardia, despreparo, incapacidade mental, desrespeito aos visitantes, estupros, de visitantes, guerra dentro de seus próprios domínios, vêm colaborando para a vergonhosa caotização do aparato Penal do Estado de São Paulo. Portanto, não podemos conviver com esses "lixos", escórias, animais sem o menor senso de racionalidade. estes, definitivamente, não podem e não devem conviver com aqueles que têm suas famílias sacrificadas e igualmente condenadas, que lutam contra as dificuldades de nosso País, por nossas liberdades. 08 - O CRBC, tem por obrigação, arrecadar fundos para ajudar as crianças, crianças carentes, doentes, favelados, bem como, os familiares mais necessitados e seus próprios problemas dentro do CRBC. 09 - As pessoas convocadas para filiação ao CRBC, deverão ter os seguintes requisitos: 9.1 - Ter moral, ser guerreiro em todos os sentidos, apoiar todos aqueles que desejam fugir, sem prejudicar a população carcerária. 10 - O CRBC, deverá ser, constituído de homens dignos, inteligentes, com bom grau de intelectualidade, tais como médicos, enfermeiras, advogados, enfim profissionais liberais que possam dar-nos sempre a melhor contribuição possível, dentro d e fora da Prisão. 11 - Os fundos que forem arrecadados por cada membro do CRBC, em liberdade, têm por objetivo, RESGATAR OS SEUS COMANDADOS e, quando o membro do CRBC estiver com problemas, sejam estes quais forem, sendo o (CERTO) deverá ser apoiado. 12 - Se o membro do CRBC estiver ERRADO, ao bater no rosto de um humilde, extorquir, ou entrar em quaisquer movimentos ERRADOS, será SUMARIAMENTE EXCLUÍDO E PUNIDO, obrigado a sair do Presídio, devendo ir pata quaisquer outras Unidades Penais, onde o INIMIGO esteja liderando. 13 - Portanto fica MUITO CLARO que, ao entrar no CRBC, esta será a PUNIÇÃO SUMÁRIA. 14 - O CRBC, não dará oportunidades, para o caso de FALHAS ou TRAIÇÕES para com um membro do CRBC. A pena prevista para este caso será a EXECUÇÃO SUMÁRIA. 15 - Aquele que cometer o absurdo de uma única FALHA DE COMPORTAMENTO com os srs. visitantes ou manifestar um princípio mínimo de Rebelião, será PUNIDO COM AS SANÇÕES PREVISTAS NO PARÁGRAFO 09. 16 - O CRBC NÃO ACEITA EX-PCCs, SOLDADINHOS do INIMIGO, e, tampouco, SIMPATIZANTES DO MESMO. 17 - Os interessados na afiliação ao CRBC deverão participar do processo de "BATISMO", cujas prerrogativas, deverão obedecer aos PARÁGRAFOS 04 e 05 deste ESTATUTO. 18 - Só será permitida a entrada no Presídio sentenciados filiados à qualquer outro

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COMANDO, que não seja o PCC, ou sentenciados sem afiliação com quem quer que seja. 19 - Quaisquer decisões que forem tomadas, no sentido de EXECUÇÃO SUMÁRIA, ou prejudicar terceiros, ou o nome do CRBC, deverão ser muito cuidadosamente analisadas, pois o ÚNICO IDEAL do CRBC é LIBERDADE, RESPEITO, SILÊNCIO, UNIÃO E AÇÃO... 20 - Aquele que for colocado em liberdade por méritos do CRBC, terá por obrigação, fortalecer o CRBC, dentro e fora dos Presídios e, aquele que for de liberdade do por seus próprios méritos e lutas, mas se for integrante do CRBC, deverá honrar o nome do CRBC, resgatando, através das melhores atitudes para com os companheiros de luta, para a obtenção das liberdades destes, sem poupar esforços, inclusive, dando o suporte material para as famílias dos que permanecem no cárcere, deixando assim, o nome do CRBC, com a moral elevada. REVOLUCIONANDO O SISTEMA CARCERÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO E DE TODOS PAÍS. 21 - O CRBC, esteja onde estiver, deverá fazer 02 (duas) reuniões mensais com seus líderes, registrando assim todas as decisões e atitudes tomadas ou a serem tomadas pelo CRBC SEJA FIEL E ALCANCE A SEU PRECIOSA LIBERDADE COM DIGNIDADE E CARÁTER CRBC/GUARULHOS/SP DEZEMBRO/99

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ANEXO III

ESTATUTO DO PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL - PCC

1. Lealdade, respeito, e solidariedade acima de tudo ao Partido 2. A Luta pela liberdade, justiça e paz 3. A união da Luta contra as injustiças e a opressão dentro das prisões 4. A contribuição daqueles que estão em Liberdade com os irmãos dentro da prisão através de advogados, dinheiro, ajuda aos familiares e ação de resgate 5. O respeito e a solidariedade a todos os membros do Partido, para que não haja conflitos internos, porque aquele que causar conflito interno dentro do Partido, tentando dividir a irmandade será excluído e repudiado do Partido. 6. Jamais usar o Partido para resolver conflitos pessoais, contra pessoas de fora. Porque o ideal do Partido está acima de conflitos pessoais. Mas o Partido estará sempre Leal e solidário à todos os seus integrantes para que não venham a sofrerem nenhuma desigualdade ou injustiça em conflitos externos. 7. Aquele que estiver em Liberdade "bem estruturado" mas esquecer de contribuir com os irmãos que estão na cadeia, serão condenados à morte sem perdão 8. Os integrantes do Partido tem que dar bom exemplo à serem seguidos e por isso o Partido não admite que haja assalto, estupro e extorsão dentro do Sistema. 9. O partido não admite mentiras, traição, inveja, cobiça, calúnia, egoísmo, interesse pessoal, mas sim: a verdade, a fidelidade, a hombridade, solidariedade e o interesse como ao Bem de todos, porque somos um por todos e todos por um. 10, Todo integrante tem que respeitar a ordem e a disciplina do Partido. Cada um vai receber de acordo com aquilo que fez por merecer. A opinião de Todos será ouvida e respeitada, mas a decisão final será dos fundadores do Partido. 11. O Primeiro Comando da Capital PCC fundado no ano de 1993, numa luta descomunal e incansável contra a opressão e as injustiças do Campo de concentração "anexo" à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, tem como tema absoluto a "Liberdade, a Justiça e Paz". 12. O partido não admite rivalidades internas, disputa do poder na Liderança do Comando, pois cada integrante do Comando sabe a função que lhe compete de acordo com sua capacidade para exercê-la. 13. Temos que permanecer unidos e organizados para evitarmos que ocorra novamente um massacre semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de Detenção em 02 de outubro de 1992, onde 11 presos foram covardemente assassinados, massacre este que jamais será esquecido na consciência da sociedade brasileira. Porque nós do Comando vamos mudar a prática carcerária, desumana, cheia de injustiças, opressão, torturas, massacres nas prisões. 14. A prioridade do Comando no montante é pressionar o Governador do Estado à desativar aquele Campo de Concentração "anexo" à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do comando, no meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes. 16. Partindo do Comando Central da Capital do KG do Estado, as diretrizes de ações organizadas simultâneas em todos os estabelecimentos penais do Estado, numa guerra sem trégua, sem fronteira, até a vitória final. 17. O importante de tudo é que ninguém nos deterá nesta luta porque a semente do Comando se espalhou por todos os Sistemas Penitenciários do estado e conseguimos nos estruturar também do lado de fora, com muitos sacrifícios e muitas perdas irreparáveis, mas nos consolidamos à nível estadual e à médio e longo prazo nos consolidaremos à nível nacional. Em coligação com o Comando Vermelho - CV e PCC iremos revolucionar o país

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dentro das prisões e nosso braço armado será o Terror "dos Poderosos" opressores e tiranos que usam o Anexo de Taubaté e o Bangu I do Rio de Janeiro como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros. Conhecemos nossa força e a força de nossos inimigos Poderosos, mas estamos preparados, unidos e um povo unido jamais será vencido. LIBERDADE! JUSTIÇA! E PAZ! O Quartel General do PCC, Primeiro Comando da Capital, em coligação com Comando Vermelho CV UNIDOS VENCEREMOS