da escola pÚblica paranaense 2009 · qual seja, traçar um perfil da cidade de sarandi,...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
1
SARANDI: HISTÓRIA, DEMOGRAFIA E INDICADORES
SOCIAIS
CADERNO TEMÁTICO
MARINGÁ – PR 2009
2
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO MARINGÁ
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
AUTORIA SINEIDE MONTOIA PEREIRA
( AUTORA E ORGANIZADORA)
REGINALDO BENEDITO DIAS ( ORIENTADOR)
ÁREA DE ATUAÇÃO HISTÓRIA
MARINGÁ 2009
3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................... 4 UNIDADE 1 – Fundamentação teórica................................................................... 5
UNIDADE 2 – Colonização da região norte do Estado do Paraná ..................... ..8
UNIDADE 3 – Maringá: cidade planejada e excludente........................................15
UNIDADE 4 – Sarandi: história , demografia e indicadores sociais.....................24
4
APRESENTAÇÃO
É com satisfação que apresento, à rede estadual de educação, este
caderno temático, resultado de uma das atividades realizadas pelo PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional), 2009, desenvolvido durante o 1º e
2º períodos de afastamento das funções docentes, neste programa que se
caracteriza como política de formação continuada e de valorização dos
professores da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná.
Certamente, os resultados aqui apresentados não dão conta de abranger a
totalidade do tema trabalhado, mas representam um esforço na tentativa de
possibilitar reflexões e o aprofundamento das questões acerca do tema proposto,
qual seja, traçar um perfil da cidade de Sarandi, evidenciando sua história,
demografia e indicadores sociais. A organização deste caderno está pautada em
pressupostos teórico-metodológicos, articulados com os pressupostos emanados
das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, os quais visam a contribuir com
a implementação do projeto na escola, com ênfase na importância da história
local, como forma de aproximar o aluno da realidade, além de propor uma
investigação sobre a cidade de Sarandi – Paraná .
A elaboração do caderno temático prioriza a discussão do tema em
questão, e visa atender à necessidade de ofertar, principalmente aos professores
da rede, uma referência a mais como material didático disponível para
aprofundamento do conhecimento sobre o processo de colonização do norte do
Paraná, bem como da história do município de Sarandi, que vive um acelerado
processo de conurbação com a cidade de Maringá, cidade-sede da Região
Metropolitana. Para uma melhor compreensão do processo de origem e
desenvolvimento do município de Sarandi, primeiramente há que se fazer o
resgate histórico do processo de colonização da região, bem como da fundação e
desenvolvimento da cidade de Maringá, já que Sarandi está localizada na região
cujo desenvolvimento e aumento populacional verificados nas últimas décadas
se devem à pujança de Maringá.
5
Este caderno temático está dividido em 4 unidades, assim organizadas:
unidade1, contendo um texto de fundamentação teórica que aborda a utilização
e a necessidade da história local; unidade 2, trata do processo de colonização
da região Norte do Paraná, com destaque para a Região Metropolitana de
Maringá; unidade 3, aborda o processo de fundação da cidade de Maringá e de
sua colonização; e a unidade 4 enfoca o tema desta pesquisa, ou seja, a
fundação da cidade de Sarandi, a partir da década de 80, abordando o processo
de emancipação, o crescimento demográfico e os indicadores sociais.
6
UNIDADE 1
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Reflexão sobre a história regional e local
”A história local requer um tipo de conhecimento diferente daquele focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pes-
quisador uma idéia muito mais imediata do passado. Ele a encontra dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos. (SAMUEL, apud, Fonseca 1989, p. 153).
As Diretrizes Curriculares do ensino de História do Estado do Paraná (2008)
enfatizam a importância de que os professores desenvolvam uma metodologia
que contribua para que os alunos se apropriem dos fundamentos teóricos
necessários para pensar historicamente. Nesta direção, tais Diretrizes indicam
que, para o ensino fundamental, os conteúdos estejam interligados, partindo da
história local, regional, do nacional, e, por último, do que está mais distante,
mundial, de forma contextualizada para que os estudantes das classes menos
favorecidas tenham oportunidade e acesso ao conhecimento científico.
O processo pedagógico assim implementado visa ajudar o aluno a
desenvolver a reflexão e a consciência histórica, pois ao voltar-se para a
realidade muito próxima, possibilita-se ao educando sentir-se como sujeito
histórico, o que, segundo postulam as Diretrizes, leva à superação da “visão de
que os sujeitos históricos de significâncias locais e nacionais seriam menos
importantes do que os de significância mundial , criando uma hierarquia na qual o
Brasil assumiria o papel periférico”. (DIRETRIZES, 2008, p.74).
O currículo propõe, para o ensino fundamental, uma formação na qual o
conhecimento se faz necessário aos indivíduos, pois lhes possibilita o
enfrentamento da realidade social, econômica, política de seu tempo, bem como a
superação e transformação das contradições sociais vigentes.
Assim, nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica,
7
“propõe-se formar sujeitos que construíam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na sociedade”.(DIRETRIZES, 2008,p. 31). Para promover a superação das contradições sociais e a inserção social cidadã do aluno como cidadão, A história local tem sido indicada como necessária para o ensino por possibilitar a compreensão do aluno, identificando o passado sempre presente nos vários espaços de convivência --- escola, casa, comunidade, trabalho e lazer-, e igualmente por situar os problemas significativos da história do presente ( BITENCOURT, 2004, P. 168). O conhecimento acerca da história local possibilita ao aluno a reflexão
sobre os problemas cotidianos da sua localidade, no contexto da sociedade em
que está inserido. Esse processo é que lhe possibilitando a formação de uma
identidade, o sentimento de pertencimento, para que seja capaz de relacionar e
comparar o passado com o presente, atribuindo significados aos acontecimentos
vivenciados no cotidiano de sua realidade, na sua região ou cidade. Também o
torna capaz de desenvolver noções de diferenças e de semelhança, de
continuidade e de permanência no tempo e no espaço estudado, ou seja,
possibilita-lhe conhecer o presente e estabelecer relações com a região e o país
ao qual pertence.
Quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer. O verdadeiro potencial trans- formador da História é a oportunidade que ela oferece da praticar a “inclusão histórica” (PINSKY, 2005,P.28).
Nessa perspectiva, conhecer a história regional e local, sem contudo perder
a universalidade (uma vez que uma complementa a outra), é uma condição para
formar alunos mais conscientes das questões sociais, econômicas, enfim, dos
8
problemas urbanos e as contradições sociais existentes na sua localidade, que
muitas vezes, em virtude da ritmo quase frenético da vida cotidiana, passam
despercebidos
Para CAINELLI e SCHMIDT ( 2004), considerar a história local como
estratégia pedagógica é uma maneira de articular os diferentes espaços, o local,
o regional, o nacional e o mundial na abordagem dos temas em situação de
ensino, pois facilita a construção de problematizações, ao mesmo tempo em que
permite trazer à tona, sob a forma de conhecimentos históricos, aquelas histórias
que foram silenciadas e não-institucionalizadas socialmente. Esse trabalho com
história local pode:
“favorecer a recuperação de experiências individuais e coletivas do aluno, fazendo-o vê-las como constitutivas de uma realidade histórica mais ampla e produzindo um conhecimento que, ao ser analisado e retrabalhado, contribui para a construção de sua consciência histórica (CIANELLI E SCHMIDT, 2004. p. 114).
Em um processo pedagógico-metodológico em que a história local é
ensinada aos alunos por meio de temas e problemas que contemplam questões
relacionadas à sua realidade imediata, possibilita-se que esses alunos tenham
mais facilidade em atribuir significados a ela, por causa da proximidade com o
seu presente. O ensino da história assim assumido faz com que os alunos se
sintam presentes nos acontecimentos, tome consciência da sua função como
agentes históricos na sua localidade. Ressalte-se a importância de, sempre que
possível, promover a ligação dos temas e problemas locais com o geral, o
nacional ou o mundial quando possível, para que os alunos percebam que os
problemas enfrentados na sua localidade muitas vezes são semelhantes àqueles
enfrentados por populações de outros tempos e espaços.
Um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está inserido, mas também, um ser singular, que atua no mun- do a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possi- vel participar ( DIRETRIZES, 2008, p. 14)
9
A valorização da história local permite que os alunos se situem no momento
histórico e espaço geográfico em que vivem, reflitam sobre os problemas sociais
enfrentados por sua comunidade, e, tornando próximos do processos históricos,
criem uma identidade de comunidade que os ajude a compreender o espaço onde
vivem e o seu entorno. A ressignificação do olhar sobre sua comunidade os levará
descobrir ou redescobrir a história de sua cidade, contribuindo para a formação da
consciência histórica.
Nesse contexto, compreender a história do município de Sarandi (história
local) ajuda os alunos a se assumirem como agentes históricos que podem – e
devem - agir no enfrentamento dos problemas sociais do seu município, para a
superação da realidade em que vivem.
Para que os educandos compreendam e reflitam sobre a história local, esta
deverá vincular-se à história regional. Para tanto, o ponto de partida dever ser o
processo de colonização do Norte do Estado do Paraná (história regional) –
principalmente da região Metropolitana de Maringá -, encampado pela Companhia
de Terras Norte do Paraná, que, na década de 1950, passou a se chamar
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná -, além de promover a articulação
entre história local e regional, para que não se perca a noção do processo
histórico pelo qual estava passando o Estado do Paraná, principalmente a região
de Maringá, durante o século XX.
REFERÊNCIAS AMARO, Hudson S. e STEINKE, Rosana. O espaço urbano enquanto espaço de reflexão histórica. In: Formação de professores EAD nº 29. História e metodologia de ensino. Eduem. UEM.2005. pp. 39-55. BITTENCOURT, Maria Circe. Ensino de história : fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
10
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da Educação. Diretrizes curriculares estaduais para o ensino de h istória . Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2008. PINSKY, Carla B. e Jaime Pinsky. Por uma história prazerosa e conseqüente . In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula, conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto. 2005. pp. 17-36. FONSECA, Silva Guimarães. O estudo da história local e a construção de identidade . In: Didática e Prática de ensino de história. Ed. Papirus. 2009. pp.153-161. SCHMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História . SP: Editora Scipione, 2004.
11
UNIDADE 2
Colonização da Região norte do Estado do Paraná
Esse texto tem a finalidade de analisar o processo de colonização da Região
Norte do Estado do Paraná, e, no decorrer das unidades subsequentes, enfocar
principalmente a região onde se localizam as cidades de Maringá e Sarandi, visto
que esta integra a região Metropolitana de Maringá, juntamente com as demais
14 cidades1 da região.
A Região norte do estado do Paraná corresponde a 36% da superfície do
estado2 e, até a década de 20 e início da década de 30, era considerada uma
região com imenso vazio demográfico. Naquela época, essa era uma área de
difícil acesso, por causa de sua mata fechada, era uma região onde imperava a
natureza hostil, perigosa, que deveria ser vencida, uma terra a ser desbravada.
Acrescia-se a isso o fato de que aí não havia moradores.
Segundo TOMAZI (1999), o discurso de que a região se caracterizou, após
a década de 1940, pela fase de colonização e, no período anterior, como um
“vazio demográfico” de “matas virgens”, pode ser refutado3. O referido pesquisador
afirmando que esse discurso desqualifica a presença de milhares de índios e
caboclos que moravam na região e foram excluídos deste espaço geográfico, por
meio do uso da violência, promovida por guardas particulares e jagunços, a quem
cabia a tarefa de retirar os moradores “indesejados” das terras.
1A Região Metropolitana de Maringá foi instituida pela lei complementar estadual 83, de 1998, e compreende os municipios de Ângulo, Iguaraçu, Mandaguaçu, Marialva, Maringá, Paiçandu, Sarandi. Em 2005 foram incluidas as cidades de Astorga, Doutor Camargo, Itambé, Ivatuba e Presidente Castelo Branco. A partir de do final de fevereiro a Região Metropolitana de Maringá conta agora com 25 cidades, segundo gazeta do povo do dia 22/05/2010. WWW.portal.rpc.com.br/jm/online. Acesso dia 24/05/2010.
2 STEINK, Rosana, AMARO H. S. O Espaço urbano enquanto espaço de reflexão histórica. EAD- formação de professores., nº 29. Historia Metodologia de Ensino. Eduem – UEM.2005.p. 39-55.
3 Para o autor engenheiros, agrimensor e viajantes já conheciam e tinham esquadrinhado essa
parte do território paranaense. P. 53
12
De acordo com NOELLI e MOTA (1999), a história da região, hoje
denominada de Norte do Paraná ( ou Noroeste), iniciou-se há mais de 10.000
anos, com a chegada, das primeiras populações indígenas à região4. Os
colonizadores, nas décadas de1930 e 1940, além de expulsar tais populações
dessa área, ainda promoveram a destruição da rica floresta para implantar o
modelo econômico agropastoril das monoculturas e da criação extensiva de gado,
pois as terras roxas poderiam fornecer colheitas dadivosas para alimentar a
espécie humana.
No interior dessas áreas predominantemente florestais, as populações
indígenas que ali habitavam realizavam uma produtiva agricultura de diversos
produtos, que acarretavam um baixo impacto ambiental, além de adaptadas aos
ciclos biológicos naturais5. Para que essa região fosse ocupada pelos
colonizadores, foi, portanto, necessário destruir e confinar em reservas as
populações indígenas que aí viviam.
É necessário refletir sobre o processo de ocupação e colonização do
Paraná, principalmente da região Norte do Estado, com o intuito de desmitificar a
idéia oficial de que no Estado do Paraná predominava, nas décadas anteriores a
30, o completo vazio demográfico, ou seja, uma ideia amplamente difundida de
que não havia população alguma, pois conforme se pode comprovar por meio de
estudos feitos pelos pesquisadores envolvidos com o tema, mesmo antes da
chegada dos europeus a estas terras, aqui já habitavam vários povos indígenas,
pertencentes a etnias diferentes. Esse fato desmascara, assim, o discurso de
vazio demográfico, encampado pelos colonizadores e que foi transformado e
persiste ainda hoje como o discurso oficial, portanto, o único portador da
verdade.
4 Sobre a ocupação pré-histórica da região, ver texto de NOELLI, Francisco S. MOTA, Lúcio T. Exploração e Guerra de Conquista dos Territórios Indígenas nos Vales do rio Tibagi, Ivaí e Piquiri. In: Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999. p.50. 5 NOELLI, Francisco S.; MOTA, Lúcio T. A pré-história da Região onde se encontra Maringá, Paraná. In: Maringá e o Norte do Paraná. Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999.pp. 6 e 7.
13
A construção da idéia de espaço vazio se desenvolveu no contexto da
expansão capitalista, que necessitava de novas áreas para seu sistema de
produção, e este espaço de terra estava sendo colonizado para a produção de
alimentos para o mundo, uma necessidade da sociedade moderna. No caso
especifico do Norte do Estado do Paraná, predominava o desenvolvimento da
agricultura cafeeira para a exportação. Vale lembrar que o modelo de ocupação
capitalista implantado nesta área resultou em uma grande devastação nas áreas
cobertas pela floresta.
De acordo com MOTA (1994), os agentes do discurso e ideologia de
territórios com vazio demográfico são muitos: as companhias colonizadoras; os
discursos governamentais; os escritos que fazem apologia da colonização; a
geografia que trata a ocupação no período que compreende as décadas de 30 a
50 do século XX ; a historiografia paranaense produzida nas universidades, assim
como os livros didáticos que repetem para estudantes de todo o Estado essa
construção elaborada e difundida pela história oficial, eliminando, da história
regional, populações indígenas e caboclas que viviam na região e que resistiram à
ocupação de seus territórios.
Esse discurso oficial veio ao encontro dos interesses do Estado e das
companhias colonizadoras da região, que poderiam adquirir os lotes de terras do
Estado a preços muito baixo, revendendo-os com alto lucros, além de garantir
sua posse legal.
No caso do Estado do Paraná, a partir de 1925, teve inicio o processo de
ocupação definitiva do seu território. As terras pertencentes às regiões norte,
oeste e sudoeste foram consideradas, pela União, terras devolutas, logo,
pertencentes ao Estado, cabendo a ele decidir o que fazer com elas. O governo
estadual decidiu então, entregar essas terras, através de concessões, para
grandes companhias colonizadoras, para que promovessem a ocupação dessas
regiões, consideradas como “ desocupadas” pelo Estado.
Naquele período, a região denominada hoje como norte do Estado do
Paraná ainda não era “colonizada”. Na década de 1920, a Companhia de Terras
14
Norte do Paraná6, percebendo uma possibilidade de lucros financeiros, adquiriu,
do governo do Estado do Paraná, uma área com 515 hectares de terras cobertas
de mata, destinadas à colonização7. O interesse da Companhia era dividir essa
área em pequenos lotes e revendê-los a pessoas que tivessem o interesse de
derrubar a mata e se dedicar à agricultura do café, já que as terras eram
adequadas para esse tipo de plantação, sem contar com o alto valor comercial do
produto na Europa.
Na Região Norte do Estado, a Companhia de Terra Norte do Paraná foi, por
conseguinte, a responsável pela ocupação territorial. Para NADALIN (2001), a
ocupação do Norte do Paraná, na década de 1925, foi feita de modo planejado
pela Companhia, contrastando com a ocupação do oeste-sudeste, que se deu de
forma desordenada8. O planejamento possibilitou uma ocupação rápida e
organizada. Para isto a Companhia, de forma planejada, edificou cidades, como,
Londrina (1930), Maringá (1947), Cianorte (1953), Umuarama (1955), ligadas por
rodovias que, além de escoar as safras, favoreciam a vinda de nacionais e
estrangeiros para a região, o que se refletiu diretamente no processo de
urbanização.
No livro publicado pela COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO
PARANA (1975), para comemorar os 50 anos de sua fundação, o jornalista
Rubens Rodrigues dos Santos descreve o processo de colonização do Norte do
Paraná segundo a visão da companhia, desde o seu início, com a chegada da
comitiva de Lord Lovat, da Inglaterra, a fim avaliar a região e comprar extensões
de terras do norte do Paraná diretamente do Estado por um baixo valor, devido à
falta de estradas de comunicação com as regiões de Curitiba e o Estado de São
6 De capital inglês, mas após 1951 passou a se chamar Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná, pois foi vendida durante a Segunda Guerra Mundial para um grupo de brasileiros. 7 NADALIN p. 86 se refere à décima sexta parte da área total do estado, que foi adquirida pala Companhia de Terras Norte do Paraná. 8 O autor se refere aos conflitos ocorridos na região de Porecatu, em 1957, entre posseiros e colonizadores. A respeito da ocupação do sudoeste e especificamente esse conflito, ler: GOMES, Iria Zanoni, 1957: A revolta dos posseiros. Curitiba, Criar Ed. 1986.
15
Paulo, até o planejamento e a implantação das primeiras cidades do norte do
Paraná, para servir de polo comercial da região. As novas cidades que viriam a
surgir contavam com o planejamento da Companhia, que instalou povoados
maiores, distantes 100Km uns dos outros e, entre uma cidade e outra, manteve
distância de 15Km, de modo a garantir a existência de pequenas cidades, que
serviam como pontos de abastecimento para os viajantes, já que, naquele
período, as estradas abertas no meio do mato muitas vezes não passavam de
simples picadas de terras.
A propaganda divulgada pela companhia neste Estado e também em
outros, como São Paulo e Mato Grosso, trouxe para a região inúmeras famílias
de migrantes9. Vieram paulistas, em sua maioria, mas também mineiros e
nordestinos, além de famílias de estrangeiros de várias nacionalidades, todos
vislumbrados pela imagem de prosperidade e riqueza que eram divulgadas
acerca do potencial das terras em processo de colonização.
LUZ (1980), em sua dissertação de mestrado, analisa o processo de
colonização do Paraná e da Região de Maringá. Segundo ela, o grande fluxo
demográfico da região teve como causas principais as grandes extensões
inexploradas e a fertilidade da terra roxa para o plantio do café, principalmente no
Norte do Estado. Para atender a esse objetivo, a Companhia traçou um
planejamento audacioso para que o loteamento e povoação do território e
efetivasse de forma rápida, por meio da implantação de núcleos urbanos, com
prestadores de serviços públicos e privados
O desenvolvimento da região se fez através da aquisição de lotes rurais de
pequeno ou médio porte, por agricultores interessados em abrir o mato, limpar o
terreno e plantar o cafezal, juntamente com plantações de subsistência, contando
com a força do trabalho familiar.
Segundo NADALIN (2001), a Companhia, de forma planejada, edificou
cidades, como, Londrina (1930), Maringá (1947), Cianorte (1953), Umuarama
(1955), ligadas por rodovias que, além de escoar as safras, serviam de acesso à
população. Assim, em 1947 surgiu a cidade de Maringá, distante 100Km de
9 LUZ (1980). p.126
16
Londrina, e já destinada a se transformar em um polo regional de grande porte,
planejada para acompanhar o traçado da estrada de ferro que vinha de Ourinhos
(São Paulo), Jataizinho (Paraná), Londrina até Maringá. GONÇALVES (1999)
acrescenta que a empresa colonizadora tinha traçado a distribuição não só da
extensão das propriedades, mas também da rede viária que visava a garantir o
escoamento da safra e a integração das zonas rurais com as cidades, e que
muitos núcleos urbanos também foram pré-definidos diante do traçado dessa
malha viária. Para LUZ (1980), todos os centros urbanos e loteamentos, por
menores que fossem, não se encontravam isolados uns dos outros, pois uma
rede excepcional de acesso os unia.
Esse teria sido o caso da cidade de Maringá , segundo LUZ ( 1980),
planejada para ser uma cidade de porte médio, mas como no seu inicio não
sabiam direito ainda onde seria estabelecida a estrada de ferro, criou-se um
núcleo provisório (Maringá velho), que permaneceu até a confirmação definitiva
para traçar o planos original da cidade que, assim, poderia crescer ao longo dessa
tão importante malha ferroviária, garantindo o escoamento das safras e o
transporte de passageiros. Assim, Maringá, em seu planejamento original, já se
caracterizava como uma cidade detentora de largas avenidas e praças
arborizadas.
REFERÊNCIAS COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e desenvolvimento do Norte do Paraná. São Paulo: Cia. Melhoramentos Norte do Paraná, 1975. GOMES, Iria Zanoni, 1957: A revolta dos posseiros. Curitiba, Criar Ed. 1986.
GONÇALVES, José. R. R. Quando a imagem publicitária vira evidencia factual : versões e reversões do norte (novo) do Paraná- 1930/1970. In: Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá, Eduem, 1999. pp.87-121.
LUZ, France. O Fenômeno Urbano numa região Pioneira: Maringá. Dissertação
17
de Mestrado. Universidade de São Paulo. 1980. p 194.
MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos índios Kaingang : história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769 – 1924). Maringá: EDUEM, 1994. NADALIN, Sergio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e migrações . Curitiba, SEED, 2001.
NOELLI, Francisco S.; MOTA, Lúcio T. A pré-história da Região onde se encontra Maringá, Paraná. In: Maringá e o Norte do Paraná. Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999. pp. 6 e 7. NOELLI, Francisco S. MOTA, Lúcio T. Exploração e Guerra de Conquista dos Territórios Indígenas nos Vales do rio Tibagi, Ivaí e Piquiri. In: Maringá e o Norte do Parná - Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999. p.50..
STEINK, Rosana, AMARO H. S. O Espaço urbano enquanto espaço de reflexão histórica. EAD- formação de professores, nº 29. Historia - Metodologia de Ensino. Eduem – UEM. 2005.pp. 39-55.
TOMAZI, Nelson Dacio. Construções e silêncio sobre a (re)ocupação da Região Norte do Estado do Paraná. In: Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá, Eduem, 1999. pp. 51-85.
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UNIDADE 3
Maringá: cidade planejada e excludente
Resultante do processo que planejou a colonização do Norte do Estado do
Paraná pela Companhia de Melhoramento Norte do Paraná, bem como do
processo de explosão da cafeicultura que, vindo do estado de São Paulo, buscava
terras férteis que ainda não tivessem sido exploradas, para serem cultivadas,
surgiu, no final da década de 40, Maringá. Essa cidade foi planejada com o
objetivo de se tornar um polo regional de médio porte, atuando como núcleo de
prestação de serviços públicos e privados.
Conforme assinala RODRIGUES (2004), o início da fundação da cidade de
Maringá, por meio de um planejamento que a destinava para ser uma “cidade-
jardim”10 (construída ao longo da estrada de ferro federal), pois já contava com a
existência de caixas de água e abastecimento de lenha.
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, responsável pela abertura
da região, promoveu a ocupação urbana mantendo o traçado original existente na
planta da cidade, elaborada pelo engenheiro Jorge Macedo Vieira. Nesse traçado,
destaca-se, no centro da cidade, uma zona residencial principal (zona 2); uma
popular (zonas 4, 5 e 8); outra, destinada aos trabalhadores, a operária (zona 3),
e, por fim, uma área industrial (zonas 2, 5 e 4). A partir de 1977, durante o período
da abertura de novos loteamentos, mantiveram-se os prolongamentos das vias
já definidas no projeto original11.
Percebe-se, pois, que desde o seu plano original, a cidade de Maringá
manteve uma segregação socioeconômica bem organizada, que teve início com a
abertura e organização dos bairros residenciais, sendo mantidas com as vendas
destes terrenos, a localização da região central, onde residiriam as pessoas
detentoras de maior poder aquisitivo, e a periferia, destinada aos pobres e
10 Conceito empregado pelo engenheiro Jorge Macedo Vieira. 11 RODRIGUES, Ana Lucia. Maringá: A segregação planejada. WWW:cch.uem.br/observatório/artigos.
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trabalhadores. Estava, aí, engendrada e levada a cabo, por meio da via
demográfica, o processo de zoneamento dos bairros, nitidamente separados pela
linha divisória das classes: a alta e as classes populares pobres e operárias. O
mercado imobiliário - que atuou e ainda atua - é uma das forças responsáveis
pela manutenção desse processo de separação das desigualdades sociais dentro
da cidade, ao estabelecer a localização e a ocupação dos bairros, juntamente
com os preços dos terrenos postos a venda12.
Conforme assinala RODRIGUES (2004), essa divisão e distribuição dos
espaços socioeconômicos já determinados no plano original foi uma das
preocupações da Companhia, que, na planta original da cidade, já apresentava a
construção do bairro Vila Operária, cujo termo permite antever que a área se
destinava ao abrigo dos trabalhadores.
Partindo desse ponto de vista, entende-se por que, ainda hoje, é corrente o
argumento de que uma cidade planejada para ser modelo não tem lugar para a
pobreza e as mazelas existentes em uma cidade “normal”, que tenha surgido por
acaso ou mesmo intencionalmente, porque se beneficiou do privilégio de ter sido
pensada e planejada, como ocorreu com Maringá. Nesta cidade tão bem pensada,
as classes sociais (altas e baixas) ficariam separadas por “barreiras naturais”, a
saber: duas reservas de matas (bosques) existentes na cidade; no centro,
viveriam – e ainda vivem - as classes altas (os ricos), detentoras do poder
econômico e político, e, além dos bosques, viveriam - e ainda vivem - as classes
dos operários (os pobres). Confirma-se, por conseguinte, a existência da
preocupação dos engenheiros e dirigentes da Companhia em separar a população
já no momento da compra do terreno, uma vez que somente aquelas pessoas que
tivessem maior poder aquisitivo poderiam comprar seu pedaço de terra no
centro13; aquelas que não o podiam, ou seja, que não possuíam dinheiro,
compravam seus terrenos na periferia, a prestação, estando, pois, segregadas
(isoladas) já no momento da aquisição do terreno.
12 Juntamente com os agentes imobiliários encontra-se também o poder público: legislativo e executivo, políticos, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná e a burguesia. 13 Ou, conforme os termos empregados no texto, centro e periferia.
20
Sobre o planejamento da cidade, RIBEIRO (1999) salienta que, desde a
constituição de Maringá como município, a Companhia, a classe dominante e o
poder público a planejaram de forma racional, determinando a distribuição e a
localização dos bairros para moradia de acordo com a situação socioeconômica
dos compradores (bairros mais caros , no centro; bairros mais baratos, na periferia
e afastados do centro).
MARCATTI (2009) aponta a valorização do terreno como mercadoria ao
interesse de atribuir-lhe o papel de um fator de segregação socioespacial. De
acordo com essa visão, quanto mais serviços de infra-estrutura o loteamento
oferecer (praças, áreas verdes, segurança, localização privilegiada, entre outros),
maior valor terá o solo urbano. A tendência é segregar, forçando a população
menos favorecida a ocupar os espaços periféricos, seja dentro da cidade (nos
bairros mais afastado), seja fora dela (em cidades vizinhas). Ainda segundo o
autor, esse processo determina quais pessoas podem habitar os bairros centrais
ou com melhores condições de infraestrutura. Para o mesmo pesquisador, são
dois os agentes promotores dessa exclusão: promotores imobiliários e o Estado,
que, ao estabelecer leis que privilegiam uma determinada classe social, em
detrimento de outras, contribuem para a seleção do público em condições de
habitar as áreas mais valorizadas.
Segundo MENDES (2009), as cidades brasileiras de porte médio (entre as
quais se pode incluir Maringá) passaram por rápido processo de crescimento
físico-territorial e populacional, sobretudo a partir do século XX, para atender aos
interesses das classes dominantes. Nesse período, foram criados novos
loteamentos e conjuntos habitacionais em espaços antes rurais, visando à
reprodução do capital, mas sem perder de vista a reprodução das estruturas de
poder e das classes dominantes, que impunham (e ainda impõem) normas de
comportamentos e modos de vida. Ainda de acordo com MENDES (2009), a
função dos novos loteamentos era (e ainda é) valorizar espaços
demograficamente vazios entre o centro da cidade e esses loteamentos.
A problemática que envolve a transformação do espaço rural em espaço
urbano é corroborada por MARCATTI (2009), e, segundo tal linha de raciocínio,
21
pode-se afirmar que Maringá é uma cidade que dispõe de grandes atrativos, por
exemplo, é planejada, conta com muitas instituições públicas, com rodovias que a
ligam a vários estados do país, detentora de um crescente setor comercial e
estudantil, tornando-se, por conseguinte, uma cidade atraente para todas as
classes sociais, principalmente aquelas de baixo poder aquisitivo, que buscam
emprego, saúde e educação.
LUZ (1980) evidencia, no seu trabalho de mestrado, que o início do
processo de ocupação agrícola do Norte do Estado, bem como a fundação de
Maringá, que se destacou como a cidade marcada por um acelerado processo
de transformação e desenvolvimento nas décadas de 50 e 60, a ponto de se
configurar como um centro regional que atrai famílias de todo o país. Após a
consolidação da cidade como centro urbano, ela passou a comandar o
desenvolvimento da região, que desde então se mantém sob sua influência. Para
CAMPO (1999), a garantia do sucesso e enriquecimento com a agricultura
cafeeira criou, para a cidade de Maringá, a imagem do “novo Eldorado”, atraindo
para a região paulistas, mineiros, nordestinos e tantos outros “aventureiros” que
desejavam encontrar, nas novas terras, melhoria nas condições de vida e trabalho.
CASAGRANDE (1999), por sua vez, atribui à implementação da lavoura da
soja e do trigo, bem como à mecanização da agricultura, uma mudança na
estrutura fundiária, a partir da década de 60. Em decorrência de tais
acontecimentos, a mão-de-obra utilizada no campo tornou-se desnecessária,
provocando uma mudança nas relações de trabalho, motivo pelo qual parte dos
trabalhadores se transformou em trabalhadores-volantes que, sem um trabalho
fixo, prestavam serviço onde fossem necessários, mas apenas por um pequeno
período de tempo e sem vínculo empregatício. Ainda nessa década, foi também
aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural (que pregava a garantia de direitos
trabalhistas, como: salário mínimo, férias remuneradas, 13º salário, assistência
médica). Mas em muitos casos, o direito que cabia aos trabalhadores era o de
migração do campo para as cidades, onde, ainda hoje, muitas pessoas se vêem
forçadas a desenvolver o trabalho volante - sua única opção e garantia do
recebimento pelo dia de trabalhado realizado. Ainda nos dias atuais, esses
22
trabalhadores, ao migrarem para as cidades, somente conseguem residir nas
periferias ou em cidades pequenas, onde arrumam trabalho, ou buscando no
campo uma ocupação temporária.
TOMAZI (1999) salienta que o processo que se iniciou com a expulsão do
indígena, depois, do caboclo, no momento da colonização, a partir da década de
1960 e nas décadas seguintes, passou a ser utilizado também com (e contra) os
pequenos proprietários e trabalhadores-volantes, que podiam ser dispensados em
massa do trabalho da agricultura, pois os cafezais e agricultura já mecanizados,
na década de 70, não mais necessitavam de mão-de-obra em grande quantidade,
fazendo com que muitos migrassem para outros estados, como Mato Grosso e
Rondônia, interior de São Paulo, ou outras regiões. Muitos desses
trabalhadores foram para as cidades, em busca de trabalho, o que desencadeou
um aumento significativo na população urbana.
Em conformidade com BORGES E ROCHA (2009), no bojo desse
processo, as pequenas cidades também perderam moradores para as cidades
grandes ou de porte médio.
Para RODRIGUES (2004), a cidade de Maringá durante o seu processo de
ocupação, após a década de 70, aprofundou a segregação econômica já
existente, devido ao êxodo rural (consequência de vários fatores, entre os quais, a
mecanização, a diversificação da agricultura e a geada de 75). No decorrer das
décadas de 70 e 80, a configuração de segregação espacial e socioeconômica se
intensificou. Nesta linha de raciocínio, entende-se que a cidade de Maringá não
comportava, em seus bairros, o grande número de pessoas que buscavam
emprego e moradia, sem contar o alto custo de vida para aquelas que na cidade
conseguiam se estabelecer, processo que atuava como barreira, selecionando,
assim, aqueles que melhor se enquadravam no perfil de moradores. Aos demais,
restava o direito de ir – para outros lugares, mais compatíveis com suas condições
econômicas.
Segundo BELOTO (2009), quando a cidade ideal não se expressa nas
devidas relações e interesses das classes dirigentes e dominantes, um conjunto
de leis, defendido por meio do Código de Obras e Posturas (criado em Maringá,
23
em 1959), é organizado pelo poder público para regular o espaço urbano e definir
o que é proibido ou o que é permitido dentro desse espaço. Conforme se pode
depreender, esses e outros instrumentos jurídicos visam tão somente a defender
os interesses das elites governantes que, assim, dispõem de mecanismos legais
para segregar a população que não desejam ver habitar em determinados
espaços dentro das cidades. Para a autora, essas leis vão ao encontro da
política de valorização de certos espaços urbanos, com localizações privilegiadas
e atendimento em serviços de infra-estrutura.
Pode-se, por conseguinte, entender que nesse processo de receber grande
números de migrantes, vindos do campo ou de cidades menores, sem a
qualificação necessária para a inserção no mercado de trabalho, a cidade de
Maringá, através das classes dirigentes, pôde selecionar as pessoas (ou
classes) que teriam o direito de residir em seu solo, através da segregação
daquelas pessoas que não o poderiam, devido ao seu baixo poder aquisitivo.
Esses indivíduos não poderiam morar na cidade tão bem planejada que, para
manter afastada do centro ou fora de seus limites a pobreza tão prejudicial à
imagem de uma cidade que almeja ser apresentada como bela, moderna,
destaque nas áreas de infraestrutura e urbanização.
CAMPOS (1999) assinala que a presença de novos personagens, como,
“mulheres de baixo mundo, desordeiros, gatos oportunistas, mendigos, prostitutas,
menores abandonados, delinquentes juvenis, e desajustados” de uma forma em
geral desqualificados para o mercado de trabalho, mas que, durante esse período,
habitavam o traçado urbanístico da cidade de Maringá, receberam a atenção das
elites dominantes, Tais elites procuravam moldar as personalidades, de tal modo
que todos os que fugissem dos padrões considerados “normais” para a sociedade,
recebiam um olhar punitivo, expresso por meio da sanção normatizadora dos
aparelhos de repressão - a policia -, que passou a invadir as esferas privadas da
vida das pessoas. A sociedade encampou ações, como, por exemplo,
“Campanhas de Moralização” e “Operação de Limpeza”, inclusive por meio de
jornais, posicionando-se contra atos que classificava como exemplos de
ociosidade, vadiagem, prostituição, quanto às pessoas que os praticavam, eram
24
chamadas de maus elementos14.
Para garantir que a cidade planejada se mantivesse livre da ameaça
representada pelos pobres, os governantes alteraram o código de conduta do
município, caracterizando as práticas sexuais de prostituição e homossexualismo
como vulgares, além de fazer com que outras indivíduos, definidos como
vagabundos, baderneiros, aparecessem em destaque e fossem caracterizados
como criminosos, motivos pelos quais passavam a ser perseguidos pela policia.
Contribuía para esse estado de perseguição, a visão distorcida e difundida pela
elite, de que tais pessoas tinham aversão ao trabalho. Justificava-se que fossem
excluídos da cidade, afinal, eram elementos indesejados.
A vinda de migrantes despreparados para o trabalho favorecia o
aparecimento de favelas, a prática de pequenas contravenções, a difusão de
prazeres venais, o aumento do número de casos de prática de suicídio, de
alcoolismo, enfim, produzia um cenário de marginalidade urbana. Nesse contexto,
os sujeitos que não tinham os comportamentos definidos como “normais”, eram
classificados pela polícia como loucos, dementes e insanos, o que justificava que
fossem excluídos da vida em sociedade, sendo encaminhados para instituições ou
para fora da cidade.
No município de Maringá, os instrumentos administrativos estiveram
bastante presentes e vigilantes para coibir o aparecimento e ocorrência de
fenômenos considerados indesejados, como, ocupações irregulares, favelas,
moradores de rua, os quais comprometiam a estética da cidade planejada,
motivos pelos quais eram empurrados para fora dos limites dessa urbe.
De acordo com as autoras RODRIGUES E TONELLA (2003), a Região
Metropolitana de Maringá (fundada em 1998) criou uma barreira invisível que a
mantém separada dos municípios com os quais faz divisa territorial,
principalmente com Sarandi e Paiçandu, onde as diferenças sociais e
econômicas aparecem com maior evidência, já que receberam e ainda recebem
14 Cabe, aqui, ressaltar que essa população considerada desqualificada para o trabalho, era composta por migrantes que vieram do campo para a cidade, em busca de empregos e melhores condições de vida, mas que, ao chegarem em Maringá, não encontraram meios de sobreviverem dignamente através do trabalho.
25
pessoas sem condições financeiras de morar em Maringá (devido ao alto custo de
vida) e que, por isso, buscam moradia no seu entorno. Para VERRI (1998), o
desenvolvimento industrial de uma região provoca, inevitavelmente e ao mesmo
tempo, o empobrecimento nas outras regiões do entorno15, com a tendência de se
produzir desigualdades sociais e econômicas entre as regiões e, inclusive, no
interior de uma mesma região.
Na região Metropolitana de Maringá, essa diferença aparece muito bem
definida na época de campanhas eleitorais, já que, nos discursos e na imprensa,
procura-se inculcar nas pessoas a ideia que todas as mazelas presentes e visíveis
em Maringá (pedintes, crianças e malabaristas nos semáforos ) são provenientes
de moradores de fora, principalmente das cidades de Sarandi e Paiçandu, e
aquelas pessoas que aí circulam são oriundas de outras cidades, e querem
apenas tirar proveito da população “caridosa” da metrópole.
A Região Metropolitana tem a visão de que municípios no seu entorno –
principalmente Sarandi e Paiçandu (em pleno processo de expansão urbana)
formam a periferia, onde está presente todo tipo mazela de uma cidade comum;
Maringá, em contrapartida, atua como o centro. De acordo com essa perspectiva,
Maringá se classifica como uma cidade diferente, que se mantém afastada dos
problemas sociais, visto que a periferia se concentrou para além de seus limites
geográficos, ou seja, em cidades vizinhas, formadas por segmentos da população
de baixa renda, cidades estas em que a pobreza está presente em muitos bairros.
Ora, não se está afirmando que Maringá não possua bairros pobres, mas,
se comparada com os outros dois municípios vizinhos, perceber-se-á que o grau
de pobreza dos bairros maringaenses é bem menor do que aquele apresentado
por alguns bairros do município de Sarandi, por exemplo, onde a população se
ressente da carência de serviços de infraestrutura (água, luz, asfalto, rede de
esgoto, etc.). Entende-se, pois, que, para se manter a ocupação de Maringá nos
moldes definidos no seu projeto original, foi de fundamental importância - e ainda
o é -, o controle exercido pelo poder público sobre a ocupação dos terrenos
15 O autor estudou a Região Metropolitana de Curitiba, mas ao é preciso um grande esforço de raciocínio para constatar que um processo similar de desenvolvimento e pauperismo ocorreu na Região Metropolitana de Maringá.
26
loteados na cidade. Esse ardiloso processo de segregação socioeconômica, ainda
em curso na cidade, provoca também uma segregação residencial, já que as
pessoas que não conseguem adquirir um terreno para nele construir sua moradia,
mesmo que seja na periferia, buscam-no em cidades da região, no entorno.
Segundo BORGES E ROCHA (2009), as grandes receptoras desses
migrantes excluídos de Maringá foram as cidades-satélites, ou as “cidades-
dormitórios, que, de modo geral, receberam esses trabalhadores totalmente
despreparados para os tipos de trabalhos então existentes, mas que em
contrapartida, tais trabalhadores encontravam, nessas cidades, condições de
arcar com as despesas mais urgentes, como, saúde, educação e moradia.
A cidade de Sarandi é um exemplo ilustrativo de cidade-satélite, pois
pertence à Região Metropolitana de Maringá, juntamente com mais 14 municípios
da região, e se encontra em avançado processo de conurbação com a cidade-
sede, Maringá. Nesse complexo e contraditório processo de conurbação, Sarandi
é classificada como uma cidade-dormitório por ter uma parcela de sua população
saindo cedo para trabalhar ou estudar em Maringá, retornando à cidade somente
a noite, para repousar ou, como de diz popularmente, para dormir.
REFERÊNCIAS
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BORGES, W. A.; ROCHA, M. M.. A mobilidade centrada no trabalho e o processo de periferização no aglomerado urbano de M aringá . In: MENDES, C. R.e TOWS, R. L. (org.).Geografia urbana e temas transversais. Maringá, Eduem, 2009. pp. 113-134. CAMPOS, Paulo F. de Souza. Moralizando o pobre : vadios, baderneiros e loucos na “Cidade tecnicamente planejada para ser be la e sem problemas”. In:Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá, Eduem, 1999. pp.315-331.
27
CASAGRANDE, Iolanda. O trabalhador rural volante (“bóia-fria”) na região d e Maringá, nos anos 70. In: Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional Maringá, Eduem, 1999. pp. 221-237
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de mestrado. São Paulo, 1980.
MARCATTI, Rafael S. A segregação socioespacial gerada por Maringá (PR) em relação à Sarandi (PR): o crescimento desordenad o. In: MENDES, C. R.e TOWS, R. L. (org.).Geografia urbana e temas transversais. Maringá, Eduem, 2009. pp. 205-217. MENDES, César M. Aspectos culturais do consumo e da mercantilização do processo de verticalização do eixo Maringá, Londrina , Arapongas e Apucarana (PR) Brasil . In: MENDES, C. R.e TOWS, R. L. (Org.).A Geografia da verticalização urbana em algumas cidades médias no B rasil. Maringá, Eduem, 2009. pp. 15-31. RIBEIRO, Edmeia Ap. Moralidade e sexualidade feminina em Maringá : um estudo nos jornais e nos processos de crime de sedu ção, 1950-1980.. In: Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional - Maringá, Eduem, 1999. pp. 333-350. RODRIGUES, Ana Lucia. A pobreza mora ao lado: segregação socioespacial na Região Metropolitana de Maringá. 2004. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Departamento de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004. RODRIGUES, Ana Lucia. Maringá : a segregação planejada publicada em 12/09/2008. WWW:cch.uem.br/observatório/artigos. Acesso: 18/05/2010. RODRIGUES, A. L. TONELLA, C.; Metrópoles regionais no contexto da dinâmica paranaense. In: ENCONTROS NACIONAIS DA ANPOCS. 2003. TOMAZI, Nelson Dacio. Construções e silêncio sobre a (re)ocupação da Região Norte do Estado do Paraná. In: Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional Maringá, Eduem, 1999. pp. 51-85.
VERRI, Enio J. O desenvolvimento recente da indústria paranaens e. Maringá,
UEM, 1998.
28
UNIDADE 4
Sarandi: história, demografia e indicadores sociais
Em 1935, Sarandi surgiu como patrimônio, para servir de entreposto
comercial e de abastecimento aos produtores rurais entre Maringá e Marialva. Foi
elevada à condição de Distrito Administrativo de Marialva, em 1965, e, na década
de 70, beneficiou-se de um período de crescimento populacional e expansão da
sua área urbana16, com novos loteamentos implantados pela Construtora Vicky,
de forma desordenada, já que no município não existiam leis rígidas para o
estabelecimentos de novos loteamentos urbanos, cujos proprietários se eximiam
da responsabilidade pelo planejamento que definiria a ampliação da cidade17.
Segundo SILVA (1991), durante o período compreendido entre 1974 e
1980, surgiram 42 novos loteamentos na cidade. Na década de 80, Sarandi foi
emancipada por meio da realização de um plebiscito, no dia 19/03/81, e em
14/10/83, foi alçada à condição de município e, em poucas décadas, tornou-se
uma cidade de porte intermediário.
A partir da década de 70, a cidade viveu um período de acelerado
crescimento populacional. Nessa época, contava com apenas 7.447 mil
habitantes, porém, na década de 80, sua população já era de 21.797 mil
habitantes e, em 1997, residia em seu território 71.422 mil habitantes, ao passo
que para o ano de 2009 já se estimava um total de 84.651 mil habitantes18.
Segundo RODRIGUES (2004), em 1981, quando o governador sancionou a
Lei nº 7.502, elevando Sarandi à categoria de cidade, a mesma já apresentava
16 O intenso crescimento populacional que ocorreu nas décadas de 70 e 80 das cidades, resultou de um processo mais amplo de migração da população campo/cidade que atingiu várias cidades brasileiras. 17 Em decorrência da falta de legislação e de controle, a cidade contava com grandes vazios urbanos, que separavam as áreas ocupadas daquelas ainda desocupadas ( agrícolas). 18 Dados coletados por meio do endereço eletrônico WWW.ibge.gov.br/ciades. Acesso em 25/05/2010.
29
sérios problemas sociais e de infraestrutura. De acordo com VELOSO (2003), a
“cidade continha vários loteamentos, todos desordenados, pois, houvera uma
grande especulação imobiliária, resultante da proximidade de Sarandi com o
Município de Maringá”19.
No decorrer das décadas de 80 e 90, a cidade de Sarandi mantinha um
crescimento populacional em ritmo acelerado. De acordo com SILVA, (1991) à
medida que cresce o número de habitantes de uma cidade, há que se investir em
serviços de infraestrutura urbana, como: escolas, hospitais, transportes urbanos,
habitações, rede de água e esgoto, coleta de lixo, asfaltamento, rede de energia
elétrica, ou seja, dispor de uma rede de serviços que esteja preparada para
atender às demandas da população. No entanto, percebe-se que, na cidade de
Sarandi, esses investimentos não foram feitos de forma a acompanhar o
crescimento populacional.
De acordo com dados divulgados, em 1997, pelo IBGE, Sarandi já contava
com uma população de 71.422 habitantes, um crescimento na urbanização de
1,03%, em 1991, mas que saltou para 96,30% , em 2000. E uma informação que
muitas pessoas ignoram: a cidade de Sarandi conta com 15% da população da
Região Metropolitana de Maringá, sendo que 97,3% desse total moram na zona
urbana da cidade20. BORGES e ROCHAS (2009) chamam a atenção para o
entorno de cidades-polo, como Maringá, onde nasceram cidades-dormitório (caso
de Sarandi), que são um retrato do espaço urbano degradado em virtude do
crescimento desordenado, deflagrando, assim, um acentuado processo de
periferização externo á cidade de Maringá, confirmado pelos altos indicadores de
exclusão social e desenvolvimento social21. Para esses autores, o município de
Sarandi não foi compensado pelos crescimento e desenvolvimento econômico
no mesmo ritmo que a cidade de Maringá, motivo porque aquela cidade foi, cada
vez mais, constituindo-se como periferia desta.
SILVA (1991) afirma que, a partir do final das décadas de 70 e 80, a cidade
19 VELOSO ( 2003). p. 31. 20 RODRIGUES ( 2004). p.153 21 BORGES e ROCHA (2009). pp. 122-123.
30
de Sarandi apresenta um acelerado processo de conurbação com a cidade de
Maringá, processo este que é responsável pela união das zonas urbanas no seu
limite territorial com bairros residenciais, o que leva ambas as cidades a
enfrentarem os mesmos problemas: falta de atendimento nas área de segurança,
transporte coletivo, educação, saúde, entre outros. A mesma autora salienta que
Sarandi sofreu - e ainda sofre - forte influência do desenvolvimento industrial, tanto
da cidade de Maringá como de Marialva. Por isso, em poucos anos, transformou-
se em uma cidade de porte intermediário, abrigando um grande contingente de
trabalhadores rurais que buscavam usufruir, na cidade, de uma melhor condição
financeira, ou contavam com a proximidade de Maringá para o sucesso na busca
de emprego, já que, nesta cidade, o custo de vida é mais elevado.
A história e a formação da cidade de Sarandi também são analisados no
trabalho desenvolvido por VELOSO (2003), desde sua origem, na década de 40,
quando alguns agricultores chegaram à região que hoje é a cidade de Sarandi,
para desbravar a floresta e formar as lavouras de café. Para a autora, a cidade
surgiu como um pequeno patrimônio que começou a crescer em função da sua
privilegiada posição geográfica, atraindo um considerável contingente
populacional, que vem em busca de moradias de baixo custo, daí a origem de
problemas de infraestrutura, como, falta de moradia, de postos de saúde, de
ofertas de trabalho, de pavimentação asfáltica e rede de esgoto. A maioria das
pessoas que habitam Sarandi formam, assim, uma população carente, com baixa
qualificação profissional e educacional. O crescimento desordenado da cidade, por
sua vez, contribui para agravar os problemas decorrentes da falta de
investimentos em serviços de infraestrutura, em um município que já sofre devido
a tantos problemas gerados por sua carência.
Para BORGES E ROCHA (2009), os espaços periféricos das cidades
menores (Sarandi e Paiçandu, por exemplo) devem ser vistos como resultados do
processo de produção dos espaços urbanos e do aumento populacional. O
crescimento demográfico que aí se verifica contribuiu sobremaneira para o
aumento das desigualdades sociais, evidenciando o retrato do desenrolar do
processo histórico da economia capitalista na sociedade brasileira, que ainda hoje
31
tende a instaurar um processo de periferização externa nos centros urbanos22 de
porte médio ou grande. Salientam os mesmos autores que o processo migratório
muitas vezes foi caótico, pois os migrantes não possuíam recursos para se manter
durante os períodos de deslocamentos, muito menos de se fixar e residir em uma
cidade onde o custo de vida é elevado, tal como ocorre em Maringá, por isso
buscavam cidades no seu entorno. Nessas cidades, como Sarandi, podiam morar
e assim sobreviver, na esperança de conseguir um emprego, manter-se a si
mesmos a sua família, além da possibilidade sempre presente de poder mudar
de vida, e, assim, realizar o sonho de prosperidade que, em última instância,
significa tornar-se habitante da Cidade-canção.
MARCATTI (2009) corrobora tal tese, ao chamar a atenção para o fato de
que nem todas as pessoas que vêm do campo ou de cidades menores dispõem
de condições econômicas que lhes permitam fixar-se na cidade de Maringá;
buscam, então, fixar-se nas cidades vizinhas (neste caso, Sarandi ou Paiçandu),
onde encontram condições mais favoráveis para habitar, uma vez que, nessas
cidades, o custo de vida é mais baixo. Tais cidades se apresentam, portanto, como
única opção para que as pessoas possam manter-se próximas dos centros mais
desenvolvidos, pois, se, por um lado, a cidade onde moram não lhes oferece
serviços mínimos de infraestrutura, por outro, é justamente nessa(s) cidade(s) – e
por causa disso - que aí os terrenos e aluguéis são mais baratos. Parece ser
uma contradição insolúvel: noutras palavras, mesmo que os serviços de
infraestrutura sejam precários, prejudicando sua qualidade de vida, é em cidades
com perfil similar ao de Sarandi e Paiçandu que a maioria dos indivíduos
pertencentes às classes menos privilegiadas podem habitar.
Nesta perspectiva, para RODRIGUES ( 2004), Sarandi e Paiçandu são as
cidades mais visadas por migrantes nesta Região Metropolitana, por estarem
muito próximas de Maringá. De tal forma que, em alguns casos, é mais fácil e
rápido para os trabalhadores se deslocar de Sarandi, com destino ao centro de
Maringá, do que do centro de Maringá com destino a alguns de seus bairros.
22 Esses centros urbanos externos constituíram-se em reservatórios de mão-de-obra considerada como não-qualificada.
32
Ainda de acordo com RODRIGUES (2004), em Maringá, o processo de
desenvolvimento provocou algumas distorções, como, surgimento de moradores
de rua , ocupações irregulares de terrenos e favelas, as quais foram retiradas da
cidade pelo poder público. Quanto aos seus outrora moradores de rua ou de
favela (antiga favela no fundo do cemitério de Maringá), encontram-se distribuídos
entre as cidades de Sarandi, Paiçandu e Mandaguaçu23. Graças a essa espécie
de exportação da pobreza, mantém-se, portanto, a cidade livre das distorções
indesejadas, causadas pelas desigualdades sociais, ao passo que se concentra,
em seu entorno, cidades com altos índices de pobreza social, às quais, não raro,
convencionou-se acusar e responsabilizar pelo aumento do número de casos de
violência e de jovens envolvidos com o tráfico de drogas e a criminalidade.
De acordo com RODRIGUES (2004), justifica-se o apoio dos municípios
vizinhos à criação da Região Metropolitana de Maringá (composta por 14 cidades),
cujo objetivo seria o de que, se essas cidades estivessem unidas, adquiririam
maior força política para reivindicar e obter, junto aos órgãos federais e
estaduais, recursos públicos para solucionar os problemas comuns às mesmas.
Porém, segundo RODRIGUES (2004), o que se percebe, de comum, é que as
cidades dessa região pouco ou nada recebem, pois alguns municípios ainda
sobrevivem graças a economias rurais, já outros, localizados no entorno de
Maringá, dependem do município-sede para manter sua população empregada,
com atendimento de saúde, educação, com direito a usufruir até de opções
mínimas de lazer. Sem contar que o crescimento nas áreas industrial e comercial
de Maringá se deve, também, aos moradores dessas que são classificadas como
cidades-dormitórios, já que sues habitantes, principalmente aqueles com
empregos na cidade-sede costumam gastar seus salários no comércio
maringaense, reduzindo assim os impostos arrecadados pela cidade de Sarandi, e
consequentemente, não aumentam o número de empregos no comércio local24.
Quanto aos recursos públicos obtidos, geralmente são revertidos em benefício do
23 Para saber mais verificar ROGRIGUES ( 2004), pp. 75-76. 23 Dados coletados no WWW.controlesocialdesarandi.com.br. Acesso em 25/06/2010 .
33
município-sede (Maringá), ficando as demais cidades privadas desses recursos25,
ou, quando muito, restam-lhes alguns parcos recursos, insuficientes para atender
a tantas e tamanhas demandas sociais, o que agrava a situação de desigualdade
social em que vivem muitos dos demais municípios, ao mesmo tempo em que se
mantém sua dependência em relação à sede, Maringá. Essa desigualdade afeta
principalmente as cidades do entorno, como Sarandi e Paiçandu, onde o grau de
pobreza é grande, e, conforme indicam pesquisas realizadas pelo IBGE, em 2000,
comparadas às de 1991, o número de miseráveis vem aumentando, mesmo com
um acréscimo de 13,46% no número de emprego para o município segundo o
DIEESE (Departamento Interestadual de Estatística e Estado
Socioeconômico/2007), resultado dos investimentos municipais na busca do
desenvolvimento econômico e geração de renda.
Segundo a mesma autora, Sarandi e Paiçandu possuem terrenos de
menores valores comerciais e aluguéis mais baratos, o que possibilita à população
de baixo poder aquisitivo comprar seu pedaço de terra e nele construir, ainda que
precariamente, sua moradia, ou morar em casa de aluguel localizada mais
próxima do trabalho, considerando que a uma parcela da população das duas
cidades trabalha em Maringá, a uma distância não superior a 20 Km.
Em virtude da demanda por moradia, na década de 70, principalmente na
cidade de Sarandi, teve início um aumento do número de loteamentos,
provocando um crescimento desordenado, ao contrário de Maringá, que se
protege por meio de leis mais rígidas, exercendo controle tanto sobre o mercado
imobiliário quanto sobre o valor dos terrenos. A inexistência desse poder de
controle foi um dos fatores que contribuíram para o rápido crescimento
populacional de Sarandi e de Paiçandu, onde a maior parte dos terrenos postos à
venda não dispunham de asfaltamento, água, esgoto, energia elétrica, ou seja,
ressentiam-se de uma infra-estrutura mínima, fator que contribuía diretamente
para o baixo valor dos terrenos, tornando-os mais atrativos para a população de
baixa renda, contrariamente ao que ocorre em Maringá. Essa realidade
possibilitou que parcela da população pobre pudesse comprar seu terreno e
25 RODRIGUES (2004), pp. 93- 95.
34
construir sua moradia, ainda que, conforme já foi apontado, muitas vezes o
fizessem em condições bastante precárias.
De acordo com MENDES E MOTA (2009), os promotores e incorporadores
imobiliários visam ao sucesso de seus empreendimentos e, para tanto, produzem
habitações com projetos arquitetônicos que atraem seus clientes, em loteamentos
que possam render um valor superior ao empregado por eles, principalmente para
as classes média e alta, que possuem maior renda, portanto, poderiam pagar
pelos seus investimentos em áreas que contam com serviços de infraestrutura
básica já devidamente instalados, além de criar novas áreas nobres para serem
ocupadas por integrantes dessas classes sociais. E mais: para atrair esses
compradores, o rendimento e os lucros provenientes das vendas das habitações
também teriam de ser suficientes para promover campanhas publicitárias que,
simultaneamente, contribuíssem para manter os imóveis em evidência no
chamado mercado imobiliário, garantindo sua contínua valorização.
OS agentes imobiliários e os incorporadores só teriam interesse na
construção de habitações populares em duas situações: primeiramente, se a
construção desse fosse um negócio rentável para o capital imobiliário. Noutras
palavras, se as moradias fossem edificadas em terrenos onde praticamente
inexistissem serviços de infraestrutura, mas cujos proprietários se tornassem
dependentes de cobranças feitas ao Estado para financiar essas obras de
infraestrutura (asfalto, água, esgoto transporte, escolas, postos de saúde, entre
outras.); em segundo lugar, se (e quando) o Estado subsidiasse a construção
dessas casas, contexto em que o Estado também arcaria com as despesas
provenientes dos serviços de infraestrutura, cabendo aos moradores o dever de
pagar pela habitação somente o valor mínimo estabelecido pelo Estado, a longo
prazo. RODRIGUES (2004) acrescenta que até o ano de 2004, Sarandi possuía
83 bairros, sendo que, entre os quais, a maioria nem sequer dispunha de
pavimentação asfáltica, redes de água, esgoto e energia elétrica, quer dizer, não
ofereciam nenhum serviço de infraestrutura básica para receber seus moradores.
Ora, é mais do que evidente que as classes proletárias, devido ao baixo
rendimento que o mercado atribui a sua ocupação econômica, não encontram
35
outra opção a não ser buscar suas moradias em bairros mais afastados, vivendo à
margem dos benefícios oferecidos pelo centro urbano. Resta a essas pessoas a
opção de ser atendidas pelos serviços básicos ou morar em habitações, em
condições subumanas, em bairros ambientalmente degradados, e, não raro,
dividindo suas casas com duas ou mais famílias.
Pode-se constatar que mesmo antes de 1981, quando Sarandi ainda era
Distrito Administrativo de Marialva, já vivenciava o período de aumento
populacional, uma vez que as pessoas que não conseguiam residir em Maringá,
buscavam moradia em bairros sarandienses, desprovidos de serviços de
infraestrutura ou com infraestrutura mínima. Apesar disso, tais pessoas estavam
mais próximas de seu emprego na cidade de Maringá. Devido à realização do
plebiscito, que elevou Sarandi à condição de cidade, em 1983, bem como a
mecanização no campo e a consequentemente expulsão de milhares de
trabalhadores rurais, o movimento migratório se intensificou, contribuindo para a
falta de infraestrutura e moradia na cidade, ao mesmo tempo em que ampliou as
condições de pobreza da população.
Dados coletados por RODRIGUES na AEDS- 200026, evidenciam que as
famílias com renda inferior a 2 salários mínimos estão residindo nos municípios do
entorno de Maringá , ou seja Sarandi e Paiçandu, ao passo que famílias com
renda superior a 10 salários mínimos sem mantêm em Maringá. A cidade de
Sarandi é considerada um espaço de concentração de operários (73% dos
moradores), motivo pelo qual é denominada de cidade-dormitório27. Dados
divulgados pelo IPARDES, em 2000, apontam uma taxa de pobreza de 20% para
o município28.
Segundo dados do IBGE, a estimativa populacional para a cidade de
Sarandi, até 2009, era de 84.651 mil habitantes29. E somente o centro da cidade
26 Áreas de Expansão dos Dados de Amostras, IBGE-2000. 27 RODRIGUES ( 2004). p. 217. 28 Reportagem: População de Sarandi cresce mais rápido que Maringá. Fonte: WWW.odiariomaringá.com.br/noticia , 27/07/2009. Acesso em 04/02/2010. 29 Dados coletados em WWW.ibge.gov.br/home/estimativa2009. Acesso em 24/05/2010.
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seria atendido por serviços de infraestrutura urbana, como, iluminação pública,
coleta de lixo, água, escolas, serviços de linhas telefônicas, linhas de transportes
coletivo, asfaltamento das ruas. Quanto aos bairros mais afastados, continuariam
a sofrer as consequências da falta de investimentos nessa área. Apesar da
carência de investimentos, Sarandi continua apresentando crescimento
populacional continuo até então. Esse crescimento populacional se deve ao fato
de que muitas pessoas que se mudam para Maringá, mas não conseguem se
manter na cidade devido ao alto custo do padrão de vida ali imposto, transferem-
se para Sarandi, que se apresenta como uma opção para as famílias de baixa
renda se manter perto do emprego. Há ainda pessoas que se mudam diretamente
para a cidade de Sarandi, cientes de que, por causa de seus rendimentos, não
conseguiriam residir em Maringá, além de pessoas que já têm parentes que
moram na cidade e, contando com a sua ajuda, mudam-se para dividir a mesma
casa ou em casas que lhes são arrumadas por pessoas conhecidas30.
Sarandi recebeu grande número de migrantes, atraídos pela cidade de
Maringá, consequentemente, o inesperado e desordenado crescimento
populacional não foi acompanhado por investimentos feitos em serviços de
infraestrutura básica, o que desencadeou vários problemas para a população,
problemas estes que se refletem nas condições precárias de moradia existentes
nos bairros mais afastados do centro.
Segundo VELOSO ( 2003), na cidade de Sarandi, as desigualdades podem
ser vistas a olho nu, tanto no centro quanto na periferia, pois fugiram ao controle
das autoridades administrativas do município. Essa desigualdade é alarmante e
assustadora, e, o que é pior, agrava-se a cada dia31, pois segundo comprova um
dos estudos feitos pelo Observatório das Metrópoles - Maringá, a cidade de
Sarandi cresceu 76% nos últimos 18 anos, não dispondo de infraestrutura básica
necessária para atender a esse índice de crescimento populacional32, sem contar
30 VELOSO (2003). pp. 125 e 126 31 VELOSO (2003). p.52 32 Reportagem publicada no Diário do Norte do Paraná, no dia 04/03/2010.
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que até então as representações políticas que governaram e ainda governam o
município, pouco ou nada fizeram ou fazem para resolver a situação.
De acordo com dados colhidos pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento/2000 (PNUD), Sarandi apresenta um IDH33 de 0,768, ocupando
a colocação de 96º no Estado, enquanto o de Marialva, sua cidade vizinha, é de
0,784 tendo a colocação de 53ª e o de Maringá e de 0,841, estando em 6º lugar.
Não há dúvida de que esses dados deveriam ser motivo de preocupação e ação
planejada por parte do poder público, levando-os a se mobilizarem na busca de
recursos e investimentos para sanar ou amenizar as carências existentes no
município de Sarandi.
Para amenizar as consequências desses problemas, bem como as
contradições sociais existentes na Região Metropolitana de Maringá, e
principalmente nos municípios de Sarandi e Paiçandu, que formam com Maringá
uma única mancha urbana, seria necessário que empresários, juntamente com
as autoridades municipais, estaduais e federais, buscassem recursos e
soluções para os problemas enfrentados pelo conjunto da toda a região, com
aplicação de recursos para atender à demanda por serviços de infraestrutura
básica, como: habitação, saúde, segurança, pavimentação asfáltica, educação,
água, esgoto e, acima de tudo, da criação de novas indústrias, já que as
existentes no município de Sarandi são insuficientes para empregar a população
local34, gerando, assim, empregos para as pessoas em idade economicamente
ativa, principalmente naquelas cidades já tão castigadas pelo descaso das
autoridades públicas, que praticam o antigo lema: disponibilizar mais recursos
para aquelas cidades que já apresentam melhores indicadores sociais, ou o que já
se convencionou definir como melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Sarandi, hoje, necessitaria buscar alternativas próprias para o seu
33 IDH - Índice de Desenvolvimento Humano. WWW. Wikepedia.org. Acesso: 24/06/2010.
34 A falta de indústrias no município é uma das causas do desemprego, porém outros fatores agravam ainda mais a situação, como a falta de escolarização e de qualificação profissional de grande parte da população. Esses trabalhadores, despreparados para ingressar no mercado de trabalho formal, buscam, na cidade de Maringá, alternativas para sobreviver, onde só encontram ocupações como guardadores de carros, empregadas domesticas, flanelinhas, camelôs, catadores de papeis e de materiais recicláveis, entre outras).
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desenvolvimento, uma vocação, ou seja, uma atividade econômica, e não ter
como vocação apenas o fornecimento de mão-de-obra para a cidade de Maringá.
Marialva é um exemplo de que tal solução é viável, pois alicerçou seu
desenvolvimento ao investir e incentivar a produção de uvas finas, de tal modo
que, hoje, é responsável por 50% da produção de uvas do Estado. A variedade e
a riqueza de suas uvas é exposta e comercializada, também, durante a festa anual
de 10 dias, realizada no mês de janeiro, quando promove a festa e o concurso e
da uva fina, evento que integra o calendário nacional, contando com a visitação de
aproximadamente 150.000 mil pessoas. Marialva tipifica, assim, o município que
atua para colher frutos diversificados de sua vocação econômica, também
convertida em uma fonte de turismo35.
Sarandi deveria traçar um caminho parecido, descobrindo uma vocação
econômica que lhe revertesse recursos financeiros, além, é claro, de investir
nesta alternativa para a criação de empregos e aumento das fontes de rendas, já
que é independente administrativamente, densamente povoado e conta com um
número considerável de eleitores, e pode, ainda, organizar-se para eleger
representações políticas que se comprometidas com a busca de recursos para
investimentos em projetos que visem o desenvolvimento da cidade.
Infelizmente, quando se trata de participação popular e de união e
envolvimento efetivo dos representantes políticos para pensar, planejar e
implementar ações que visem a resolver os diversos e graves problemas sociais
que afetam a cidade como um todo, e que contribuem diretamente para associar a
imagem da população sarandiense à de marginalização e violência, as soluções
parecem cada vez mais distantes. Por exemplo, depois de vivenciar um período de
8 anos em que foi administrada pelo Partido dos Trabalhadores, que não
implantou transformações estruturais, Sarandi permaneceu praticamente parada
nos dois últimos anos da nova administração, pois o prefeito escolhido pela
maioria dos eleitores teve seus direitos políticos cassados, devido ao envolvimento
35 Dados coletados em www.wikipedia.org/wiki/marialvaparana. Acesso em 25/06/2010.
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em casos incompatíveis com a tarefa de administrador público36. Mais uma vez, a
população da cidade é que arcou e ainda por algum tempo continuará a arcar com
os custos da má administração de que foi vítima e que lhe usurpou alguns
investimentos, isso em uma cidade tão carente de recursos que lhe possibilitem o
enfrentamento e a solução de problemas tão urgentes como aqueles
apresentados e analisados ao longo desse caderno temático.
36 Reportagem publicada em www,odiario.com/paraná/noticia236721. Acesso em 03/03/2010.
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