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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SARANDI: HISTÓRIA, DEMOGRAFIA E INDICADORES

SOCIAIS

CADERNO TEMÁTICO

MARINGÁ – PR 2009

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO MARINGÁ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM

AUTORIA SINEIDE MONTOIA PEREIRA

( AUTORA E ORGANIZADORA)

REGINALDO BENEDITO DIAS ( ORIENTADOR)

ÁREA DE ATUAÇÃO HISTÓRIA

MARINGÁ 2009

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO................................................................................................... 4 UNIDADE 1 – Fundamentação teórica................................................................... 5

UNIDADE 2 – Colonização da região norte do Estado do Paraná ..................... ..8

UNIDADE 3 – Maringá: cidade planejada e excludente........................................15

UNIDADE 4 – Sarandi: história , demografia e indicadores sociais.....................24

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APRESENTAÇÃO

É com satisfação que apresento, à rede estadual de educação, este

caderno temático, resultado de uma das atividades realizadas pelo PDE

(Programa de Desenvolvimento Educacional), 2009, desenvolvido durante o 1º e

2º períodos de afastamento das funções docentes, neste programa que se

caracteriza como política de formação continuada e de valorização dos

professores da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná.

Certamente, os resultados aqui apresentados não dão conta de abranger a

totalidade do tema trabalhado, mas representam um esforço na tentativa de

possibilitar reflexões e o aprofundamento das questões acerca do tema proposto,

qual seja, traçar um perfil da cidade de Sarandi, evidenciando sua história,

demografia e indicadores sociais. A organização deste caderno está pautada em

pressupostos teórico-metodológicos, articulados com os pressupostos emanados

das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, os quais visam a contribuir com

a implementação do projeto na escola, com ênfase na importância da história

local, como forma de aproximar o aluno da realidade, além de propor uma

investigação sobre a cidade de Sarandi – Paraná .

A elaboração do caderno temático prioriza a discussão do tema em

questão, e visa atender à necessidade de ofertar, principalmente aos professores

da rede, uma referência a mais como material didático disponível para

aprofundamento do conhecimento sobre o processo de colonização do norte do

Paraná, bem como da história do município de Sarandi, que vive um acelerado

processo de conurbação com a cidade de Maringá, cidade-sede da Região

Metropolitana. Para uma melhor compreensão do processo de origem e

desenvolvimento do município de Sarandi, primeiramente há que se fazer o

resgate histórico do processo de colonização da região, bem como da fundação e

desenvolvimento da cidade de Maringá, já que Sarandi está localizada na região

cujo desenvolvimento e aumento populacional verificados nas últimas décadas

se devem à pujança de Maringá.

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Este caderno temático está dividido em 4 unidades, assim organizadas:

unidade1, contendo um texto de fundamentação teórica que aborda a utilização

e a necessidade da história local; unidade 2, trata do processo de colonização

da região Norte do Paraná, com destaque para a Região Metropolitana de

Maringá; unidade 3, aborda o processo de fundação da cidade de Maringá e de

sua colonização; e a unidade 4 enfoca o tema desta pesquisa, ou seja, a

fundação da cidade de Sarandi, a partir da década de 80, abordando o processo

de emancipação, o crescimento demográfico e os indicadores sociais.

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UNIDADE 1

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Reflexão sobre a história regional e local

”A história local requer um tipo de conhecimento diferente daquele focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pes-

quisador uma idéia muito mais imediata do passado. Ele a encontra dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos. (SAMUEL, apud, Fonseca 1989, p. 153).

As Diretrizes Curriculares do ensino de História do Estado do Paraná (2008)

enfatizam a importância de que os professores desenvolvam uma metodologia

que contribua para que os alunos se apropriem dos fundamentos teóricos

necessários para pensar historicamente. Nesta direção, tais Diretrizes indicam

que, para o ensino fundamental, os conteúdos estejam interligados, partindo da

história local, regional, do nacional, e, por último, do que está mais distante,

mundial, de forma contextualizada para que os estudantes das classes menos

favorecidas tenham oportunidade e acesso ao conhecimento científico.

O processo pedagógico assim implementado visa ajudar o aluno a

desenvolver a reflexão e a consciência histórica, pois ao voltar-se para a

realidade muito próxima, possibilita-se ao educando sentir-se como sujeito

histórico, o que, segundo postulam as Diretrizes, leva à superação da “visão de

que os sujeitos históricos de significâncias locais e nacionais seriam menos

importantes do que os de significância mundial , criando uma hierarquia na qual o

Brasil assumiria o papel periférico”. (DIRETRIZES, 2008, p.74).

O currículo propõe, para o ensino fundamental, uma formação na qual o

conhecimento se faz necessário aos indivíduos, pois lhes possibilita o

enfrentamento da realidade social, econômica, política de seu tempo, bem como a

superação e transformação das contradições sociais vigentes.

Assim, nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica,

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“propõe-se formar sujeitos que construíam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora na sociedade”.(DIRETRIZES, 2008,p. 31). Para promover a superação das contradições sociais e a inserção social cidadã do aluno como cidadão, A história local tem sido indicada como necessária para o ensino por possibilitar a compreensão do aluno, identificando o passado sempre presente nos vários espaços de convivência --- escola, casa, comunidade, trabalho e lazer-, e igualmente por situar os problemas significativos da história do presente ( BITENCOURT, 2004, P. 168). O conhecimento acerca da história local possibilita ao aluno a reflexão

sobre os problemas cotidianos da sua localidade, no contexto da sociedade em

que está inserido. Esse processo é que lhe possibilitando a formação de uma

identidade, o sentimento de pertencimento, para que seja capaz de relacionar e

comparar o passado com o presente, atribuindo significados aos acontecimentos

vivenciados no cotidiano de sua realidade, na sua região ou cidade. Também o

torna capaz de desenvolver noções de diferenças e de semelhança, de

continuidade e de permanência no tempo e no espaço estudado, ou seja,

possibilita-lhe conhecer o presente e estabelecer relações com a região e o país

ao qual pertence.

Quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer. O verdadeiro potencial trans- formador da História é a oportunidade que ela oferece da praticar a “inclusão histórica” (PINSKY, 2005,P.28).

Nessa perspectiva, conhecer a história regional e local, sem contudo perder

a universalidade (uma vez que uma complementa a outra), é uma condição para

formar alunos mais conscientes das questões sociais, econômicas, enfim, dos

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problemas urbanos e as contradições sociais existentes na sua localidade, que

muitas vezes, em virtude da ritmo quase frenético da vida cotidiana, passam

despercebidos

Para CAINELLI e SCHMIDT ( 2004), considerar a história local como

estratégia pedagógica é uma maneira de articular os diferentes espaços, o local,

o regional, o nacional e o mundial na abordagem dos temas em situação de

ensino, pois facilita a construção de problematizações, ao mesmo tempo em que

permite trazer à tona, sob a forma de conhecimentos históricos, aquelas histórias

que foram silenciadas e não-institucionalizadas socialmente. Esse trabalho com

história local pode:

“favorecer a recuperação de experiências individuais e coletivas do aluno, fazendo-o vê-las como constitutivas de uma realidade histórica mais ampla e produzindo um conhecimento que, ao ser analisado e retrabalhado, contribui para a construção de sua consciência histórica (CIANELLI E SCHMIDT, 2004. p. 114).

Em um processo pedagógico-metodológico em que a história local é

ensinada aos alunos por meio de temas e problemas que contemplam questões

relacionadas à sua realidade imediata, possibilita-se que esses alunos tenham

mais facilidade em atribuir significados a ela, por causa da proximidade com o

seu presente. O ensino da história assim assumido faz com que os alunos se

sintam presentes nos acontecimentos, tome consciência da sua função como

agentes históricos na sua localidade. Ressalte-se a importância de, sempre que

possível, promover a ligação dos temas e problemas locais com o geral, o

nacional ou o mundial quando possível, para que os alunos percebam que os

problemas enfrentados na sua localidade muitas vezes são semelhantes àqueles

enfrentados por populações de outros tempos e espaços.

Um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está inserido, mas também, um ser singular, que atua no mun- do a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possi- vel participar ( DIRETRIZES, 2008, p. 14)

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A valorização da história local permite que os alunos se situem no momento

histórico e espaço geográfico em que vivem, reflitam sobre os problemas sociais

enfrentados por sua comunidade, e, tornando próximos do processos históricos,

criem uma identidade de comunidade que os ajude a compreender o espaço onde

vivem e o seu entorno. A ressignificação do olhar sobre sua comunidade os levará

descobrir ou redescobrir a história de sua cidade, contribuindo para a formação da

consciência histórica.

Nesse contexto, compreender a história do município de Sarandi (história

local) ajuda os alunos a se assumirem como agentes históricos que podem – e

devem - agir no enfrentamento dos problemas sociais do seu município, para a

superação da realidade em que vivem.

Para que os educandos compreendam e reflitam sobre a história local, esta

deverá vincular-se à história regional. Para tanto, o ponto de partida dever ser o

processo de colonização do Norte do Estado do Paraná (história regional) –

principalmente da região Metropolitana de Maringá -, encampado pela Companhia

de Terras Norte do Paraná, que, na década de 1950, passou a se chamar

Companhia Melhoramentos Norte do Paraná -, além de promover a articulação

entre história local e regional, para que não se perca a noção do processo

histórico pelo qual estava passando o Estado do Paraná, principalmente a região

de Maringá, durante o século XX.

REFERÊNCIAS AMARO, Hudson S. e STEINKE, Rosana. O espaço urbano enquanto espaço de reflexão histórica. In: Formação de professores EAD nº 29. História e metodologia de ensino. Eduem. UEM.2005. pp. 39-55. BITTENCOURT, Maria Circe. Ensino de história : fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

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PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da Educação. Diretrizes curriculares estaduais para o ensino de h istória . Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2008. PINSKY, Carla B. e Jaime Pinsky. Por uma história prazerosa e conseqüente . In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula, conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto. 2005. pp. 17-36. FONSECA, Silva Guimarães. O estudo da história local e a construção de identidade . In: Didática e Prática de ensino de história. Ed. Papirus. 2009. pp.153-161. SCHMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, Marlene. Ensinar História . SP: Editora Scipione, 2004.

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UNIDADE 2

Colonização da Região norte do Estado do Paraná

Esse texto tem a finalidade de analisar o processo de colonização da Região

Norte do Estado do Paraná, e, no decorrer das unidades subsequentes, enfocar

principalmente a região onde se localizam as cidades de Maringá e Sarandi, visto

que esta integra a região Metropolitana de Maringá, juntamente com as demais

14 cidades1 da região.

A Região norte do estado do Paraná corresponde a 36% da superfície do

estado2 e, até a década de 20 e início da década de 30, era considerada uma

região com imenso vazio demográfico. Naquela época, essa era uma área de

difícil acesso, por causa de sua mata fechada, era uma região onde imperava a

natureza hostil, perigosa, que deveria ser vencida, uma terra a ser desbravada.

Acrescia-se a isso o fato de que aí não havia moradores.

Segundo TOMAZI (1999), o discurso de que a região se caracterizou, após

a década de 1940, pela fase de colonização e, no período anterior, como um

“vazio demográfico” de “matas virgens”, pode ser refutado3. O referido pesquisador

afirmando que esse discurso desqualifica a presença de milhares de índios e

caboclos que moravam na região e foram excluídos deste espaço geográfico, por

meio do uso da violência, promovida por guardas particulares e jagunços, a quem

cabia a tarefa de retirar os moradores “indesejados” das terras.

1A Região Metropolitana de Maringá foi instituida pela lei complementar estadual 83, de 1998, e compreende os municipios de Ângulo, Iguaraçu, Mandaguaçu, Marialva, Maringá, Paiçandu, Sarandi. Em 2005 foram incluidas as cidades de Astorga, Doutor Camargo, Itambé, Ivatuba e Presidente Castelo Branco. A partir de do final de fevereiro a Região Metropolitana de Maringá conta agora com 25 cidades, segundo gazeta do povo do dia 22/05/2010. WWW.portal.rpc.com.br/jm/online. Acesso dia 24/05/2010.

2 STEINK, Rosana, AMARO H. S. O Espaço urbano enquanto espaço de reflexão histórica. EAD- formação de professores., nº 29. Historia Metodologia de Ensino. Eduem – UEM.2005.p. 39-55.

3 Para o autor engenheiros, agrimensor e viajantes já conheciam e tinham esquadrinhado essa

parte do território paranaense. P. 53

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De acordo com NOELLI e MOTA (1999), a história da região, hoje

denominada de Norte do Paraná ( ou Noroeste), iniciou-se há mais de 10.000

anos, com a chegada, das primeiras populações indígenas à região4. Os

colonizadores, nas décadas de1930 e 1940, além de expulsar tais populações

dessa área, ainda promoveram a destruição da rica floresta para implantar o

modelo econômico agropastoril das monoculturas e da criação extensiva de gado,

pois as terras roxas poderiam fornecer colheitas dadivosas para alimentar a

espécie humana.

No interior dessas áreas predominantemente florestais, as populações

indígenas que ali habitavam realizavam uma produtiva agricultura de diversos

produtos, que acarretavam um baixo impacto ambiental, além de adaptadas aos

ciclos biológicos naturais5. Para que essa região fosse ocupada pelos

colonizadores, foi, portanto, necessário destruir e confinar em reservas as

populações indígenas que aí viviam.

É necessário refletir sobre o processo de ocupação e colonização do

Paraná, principalmente da região Norte do Estado, com o intuito de desmitificar a

idéia oficial de que no Estado do Paraná predominava, nas décadas anteriores a

30, o completo vazio demográfico, ou seja, uma ideia amplamente difundida de

que não havia população alguma, pois conforme se pode comprovar por meio de

estudos feitos pelos pesquisadores envolvidos com o tema, mesmo antes da

chegada dos europeus a estas terras, aqui já habitavam vários povos indígenas,

pertencentes a etnias diferentes. Esse fato desmascara, assim, o discurso de

vazio demográfico, encampado pelos colonizadores e que foi transformado e

persiste ainda hoje como o discurso oficial, portanto, o único portador da

verdade.

4 Sobre a ocupação pré-histórica da região, ver texto de NOELLI, Francisco S. MOTA, Lúcio T. Exploração e Guerra de Conquista dos Territórios Indígenas nos Vales do rio Tibagi, Ivaí e Piquiri. In: Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999. p.50. 5 NOELLI, Francisco S.; MOTA, Lúcio T. A pré-história da Região onde se encontra Maringá, Paraná. In: Maringá e o Norte do Paraná. Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999.pp. 6 e 7.

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A construção da idéia de espaço vazio se desenvolveu no contexto da

expansão capitalista, que necessitava de novas áreas para seu sistema de

produção, e este espaço de terra estava sendo colonizado para a produção de

alimentos para o mundo, uma necessidade da sociedade moderna. No caso

especifico do Norte do Estado do Paraná, predominava o desenvolvimento da

agricultura cafeeira para a exportação. Vale lembrar que o modelo de ocupação

capitalista implantado nesta área resultou em uma grande devastação nas áreas

cobertas pela floresta.

De acordo com MOTA (1994), os agentes do discurso e ideologia de

territórios com vazio demográfico são muitos: as companhias colonizadoras; os

discursos governamentais; os escritos que fazem apologia da colonização; a

geografia que trata a ocupação no período que compreende as décadas de 30 a

50 do século XX ; a historiografia paranaense produzida nas universidades, assim

como os livros didáticos que repetem para estudantes de todo o Estado essa

construção elaborada e difundida pela história oficial, eliminando, da história

regional, populações indígenas e caboclas que viviam na região e que resistiram à

ocupação de seus territórios.

Esse discurso oficial veio ao encontro dos interesses do Estado e das

companhias colonizadoras da região, que poderiam adquirir os lotes de terras do

Estado a preços muito baixo, revendendo-os com alto lucros, além de garantir

sua posse legal.

No caso do Estado do Paraná, a partir de 1925, teve inicio o processo de

ocupação definitiva do seu território. As terras pertencentes às regiões norte,

oeste e sudoeste foram consideradas, pela União, terras devolutas, logo,

pertencentes ao Estado, cabendo a ele decidir o que fazer com elas. O governo

estadual decidiu então, entregar essas terras, através de concessões, para

grandes companhias colonizadoras, para que promovessem a ocupação dessas

regiões, consideradas como “ desocupadas” pelo Estado.

Naquele período, a região denominada hoje como norte do Estado do

Paraná ainda não era “colonizada”. Na década de 1920, a Companhia de Terras

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Norte do Paraná6, percebendo uma possibilidade de lucros financeiros, adquiriu,

do governo do Estado do Paraná, uma área com 515 hectares de terras cobertas

de mata, destinadas à colonização7. O interesse da Companhia era dividir essa

área em pequenos lotes e revendê-los a pessoas que tivessem o interesse de

derrubar a mata e se dedicar à agricultura do café, já que as terras eram

adequadas para esse tipo de plantação, sem contar com o alto valor comercial do

produto na Europa.

Na Região Norte do Estado, a Companhia de Terra Norte do Paraná foi, por

conseguinte, a responsável pela ocupação territorial. Para NADALIN (2001), a

ocupação do Norte do Paraná, na década de 1925, foi feita de modo planejado

pela Companhia, contrastando com a ocupação do oeste-sudeste, que se deu de

forma desordenada8. O planejamento possibilitou uma ocupação rápida e

organizada. Para isto a Companhia, de forma planejada, edificou cidades, como,

Londrina (1930), Maringá (1947), Cianorte (1953), Umuarama (1955), ligadas por

rodovias que, além de escoar as safras, favoreciam a vinda de nacionais e

estrangeiros para a região, o que se refletiu diretamente no processo de

urbanização.

No livro publicado pela COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO

PARANA (1975), para comemorar os 50 anos de sua fundação, o jornalista

Rubens Rodrigues dos Santos descreve o processo de colonização do Norte do

Paraná segundo a visão da companhia, desde o seu início, com a chegada da

comitiva de Lord Lovat, da Inglaterra, a fim avaliar a região e comprar extensões

de terras do norte do Paraná diretamente do Estado por um baixo valor, devido à

falta de estradas de comunicação com as regiões de Curitiba e o Estado de São

6 De capital inglês, mas após 1951 passou a se chamar Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná, pois foi vendida durante a Segunda Guerra Mundial para um grupo de brasileiros. 7 NADALIN p. 86 se refere à décima sexta parte da área total do estado, que foi adquirida pala Companhia de Terras Norte do Paraná. 8 O autor se refere aos conflitos ocorridos na região de Porecatu, em 1957, entre posseiros e colonizadores. A respeito da ocupação do sudoeste e especificamente esse conflito, ler: GOMES, Iria Zanoni, 1957: A revolta dos posseiros. Curitiba, Criar Ed. 1986.

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Paulo, até o planejamento e a implantação das primeiras cidades do norte do

Paraná, para servir de polo comercial da região. As novas cidades que viriam a

surgir contavam com o planejamento da Companhia, que instalou povoados

maiores, distantes 100Km uns dos outros e, entre uma cidade e outra, manteve

distância de 15Km, de modo a garantir a existência de pequenas cidades, que

serviam como pontos de abastecimento para os viajantes, já que, naquele

período, as estradas abertas no meio do mato muitas vezes não passavam de

simples picadas de terras.

A propaganda divulgada pela companhia neste Estado e também em

outros, como São Paulo e Mato Grosso, trouxe para a região inúmeras famílias

de migrantes9. Vieram paulistas, em sua maioria, mas também mineiros e

nordestinos, além de famílias de estrangeiros de várias nacionalidades, todos

vislumbrados pela imagem de prosperidade e riqueza que eram divulgadas

acerca do potencial das terras em processo de colonização.

LUZ (1980), em sua dissertação de mestrado, analisa o processo de

colonização do Paraná e da Região de Maringá. Segundo ela, o grande fluxo

demográfico da região teve como causas principais as grandes extensões

inexploradas e a fertilidade da terra roxa para o plantio do café, principalmente no

Norte do Estado. Para atender a esse objetivo, a Companhia traçou um

planejamento audacioso para que o loteamento e povoação do território e

efetivasse de forma rápida, por meio da implantação de núcleos urbanos, com

prestadores de serviços públicos e privados

O desenvolvimento da região se fez através da aquisição de lotes rurais de

pequeno ou médio porte, por agricultores interessados em abrir o mato, limpar o

terreno e plantar o cafezal, juntamente com plantações de subsistência, contando

com a força do trabalho familiar.

Segundo NADALIN (2001), a Companhia, de forma planejada, edificou

cidades, como, Londrina (1930), Maringá (1947), Cianorte (1953), Umuarama

(1955), ligadas por rodovias que, além de escoar as safras, serviam de acesso à

população. Assim, em 1947 surgiu a cidade de Maringá, distante 100Km de

9 LUZ (1980). p.126

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Londrina, e já destinada a se transformar em um polo regional de grande porte,

planejada para acompanhar o traçado da estrada de ferro que vinha de Ourinhos

(São Paulo), Jataizinho (Paraná), Londrina até Maringá. GONÇALVES (1999)

acrescenta que a empresa colonizadora tinha traçado a distribuição não só da

extensão das propriedades, mas também da rede viária que visava a garantir o

escoamento da safra e a integração das zonas rurais com as cidades, e que

muitos núcleos urbanos também foram pré-definidos diante do traçado dessa

malha viária. Para LUZ (1980), todos os centros urbanos e loteamentos, por

menores que fossem, não se encontravam isolados uns dos outros, pois uma

rede excepcional de acesso os unia.

Esse teria sido o caso da cidade de Maringá , segundo LUZ ( 1980),

planejada para ser uma cidade de porte médio, mas como no seu inicio não

sabiam direito ainda onde seria estabelecida a estrada de ferro, criou-se um

núcleo provisório (Maringá velho), que permaneceu até a confirmação definitiva

para traçar o planos original da cidade que, assim, poderia crescer ao longo dessa

tão importante malha ferroviária, garantindo o escoamento das safras e o

transporte de passageiros. Assim, Maringá, em seu planejamento original, já se

caracterizava como uma cidade detentora de largas avenidas e praças

arborizadas.

REFERÊNCIAS COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTE DO PARANÁ. Colonização e desenvolvimento do Norte do Paraná. São Paulo: Cia. Melhoramentos Norte do Paraná, 1975. GOMES, Iria Zanoni, 1957: A revolta dos posseiros. Curitiba, Criar Ed. 1986.

GONÇALVES, José. R. R. Quando a imagem publicitária vira evidencia factual : versões e reversões do norte (novo) do Paraná- 1930/1970. In: Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá, Eduem, 1999. pp.87-121.

LUZ, France. O Fenômeno Urbano numa região Pioneira: Maringá. Dissertação

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de Mestrado. Universidade de São Paulo. 1980. p 194.

MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos índios Kaingang : história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769 – 1924). Maringá: EDUEM, 1994. NADALIN, Sergio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e migrações . Curitiba, SEED, 2001.

NOELLI, Francisco S.; MOTA, Lúcio T. A pré-história da Região onde se encontra Maringá, Paraná. In: Maringá e o Norte do Paraná. Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999. pp. 6 e 7. NOELLI, Francisco S. MOTA, Lúcio T. Exploração e Guerra de Conquista dos Territórios Indígenas nos Vales do rio Tibagi, Ivaí e Piquiri. In: Maringá e o Norte do Parná - Estudos de história regional. DIAS, Reginaldo B.; GONÇALVES, José Henrique Rollo (org). Maringá: EDUEM, 1999. p.50..

STEINK, Rosana, AMARO H. S. O Espaço urbano enquanto espaço de reflexão histórica. EAD- formação de professores, nº 29. Historia - Metodologia de Ensino. Eduem – UEM. 2005.pp. 39-55.

TOMAZI, Nelson Dacio. Construções e silêncio sobre a (re)ocupação da Região Norte do Estado do Paraná. In: Dias, R. B. e Gonçalves, J. H. R. (org.). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá, Eduem, 1999. pp. 51-85.

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UNIDADE 3

Maringá: cidade planejada e excludente

Resultante do processo que planejou a colonização do Norte do Estado do

Paraná pela Companhia de Melhoramento Norte do Paraná, bem como do

processo de explosão da cafeicultura que, vindo do estado de São Paulo, buscava

terras férteis que ainda não tivessem sido exploradas, para serem cultivadas,

surgiu, no final da década de 40, Maringá. Essa cidade foi planejada com o

objetivo de se tornar um polo regional de médio porte, atuando como núcleo de

prestação de serviços públicos e privados.

Conforme assinala RODRIGUES (2004), o início da fundação da cidade de

Maringá, por meio de um planejamento que a destinava para ser uma “cidade-

jardim”10 (construída ao longo da estrada de ferro federal), pois já contava com a

existência de caixas de água e abastecimento de lenha.

A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, responsável pela abertura

da região, promoveu a ocupação urbana mantendo o traçado original existente na

planta da cidade, elaborada pelo engenheiro Jorge Macedo Vieira. Nesse traçado,

destaca-se, no centro da cidade, uma zona residencial principal (zona 2); uma

popular (zonas 4, 5 e 8); outra, destinada aos trabalhadores, a operária (zona 3),

e, por fim, uma área industrial (zonas 2, 5 e 4). A partir de 1977, durante o período

da abertura de novos loteamentos, mantiveram-se os prolongamentos das vias

já definidas no projeto original11.

Percebe-se, pois, que desde o seu plano original, a cidade de Maringá

manteve uma segregação socioeconômica bem organizada, que teve início com a

abertura e organização dos bairros residenciais, sendo mantidas com as vendas

destes terrenos, a localização da região central, onde residiriam as pessoas

detentoras de maior poder aquisitivo, e a periferia, destinada aos pobres e

10 Conceito empregado pelo engenheiro Jorge Macedo Vieira. 11 RODRIGUES, Ana Lucia. Maringá: A segregação planejada. WWW:cch.uem.br/observatório/artigos.

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trabalhadores. Estava, aí, engendrada e levada a cabo, por meio da via

demográfica, o processo de zoneamento dos bairros, nitidamente separados pela

linha divisória das classes: a alta e as classes populares pobres e operárias. O

mercado imobiliário - que atuou e ainda atua - é uma das forças responsáveis

pela manutenção desse processo de separação das desigualdades sociais dentro

da cidade, ao estabelecer a localização e a ocupação dos bairros, juntamente

com os preços dos terrenos postos a venda12.

Conforme assinala RODRIGUES (2004), essa divisão e distribuição dos

espaços socioeconômicos já determinados no plano original foi uma das

preocupações da Companhia, que, na planta original da cidade, já apresentava a

construção do bairro Vila Operária, cujo termo permite antever que a área se

destinava ao abrigo dos trabalhadores.

Partindo desse ponto de vista, entende-se por que, ainda hoje, é corrente o

argumento de que uma cidade planejada para ser modelo não tem lugar para a

pobreza e as mazelas existentes em uma cidade “normal”, que tenha surgido por

acaso ou mesmo intencionalmente, porque se beneficiou do privilégio de ter sido

pensada e planejada, como ocorreu com Maringá. Nesta cidade tão bem pensada,

as classes sociais (altas e baixas) ficariam separadas por “barreiras naturais”, a

saber: duas reservas de matas (bosques) existentes na cidade; no centro,

viveriam – e ainda vivem - as classes altas (os ricos), detentoras do poder

econômico e político, e, além dos bosques, viveriam - e ainda vivem - as classes

dos operários (os pobres). Confirma-se, por conseguinte, a existência da

preocupação dos engenheiros e dirigentes da Companhia em separar a população

já no momento da compra do terreno, uma vez que somente aquelas pessoas que

tivessem maior poder aquisitivo poderiam comprar seu pedaço de terra no

centro13; aquelas que não o podiam, ou seja, que não possuíam dinheiro,

compravam seus terrenos na periferia, a prestação, estando, pois, segregadas

(isoladas) já no momento da aquisição do terreno.

12 Juntamente com os agentes imobiliários encontra-se também o poder público: legislativo e executivo, políticos, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná e a burguesia. 13 Ou, conforme os termos empregados no texto, centro e periferia.

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Sobre o planejamento da cidade, RIBEIRO (1999) salienta que, desde a

constituição de Maringá como município, a Companhia, a classe dominante e o

poder público a planejaram de forma racional, determinando a distribuição e a

localização dos bairros para moradia de acordo com a situação socioeconômica

dos compradores (bairros mais caros , no centro; bairros mais baratos, na periferia

e afastados do centro).

MARCATTI (2009) aponta a valorização do terreno como mercadoria ao

interesse de atribuir-lhe o papel de um fator de segregação socioespacial. De

acordo com essa visão, quanto mais serviços de infra-estrutura o loteamento

oferecer (praças, áreas verdes, segurança, localização privilegiada, entre outros),

maior valor terá o solo urbano. A tendência é segregar, forçando a população

menos favorecida a ocupar os espaços periféricos, seja dentro da cidade (nos

bairros mais afastado), seja fora dela (em cidades vizinhas). Ainda segundo o

autor, esse processo determina quais pessoas podem habitar os bairros centrais

ou com melhores condições de infraestrutura. Para o mesmo pesquisador, são

dois os agentes promotores dessa exclusão: promotores imobiliários e o Estado,

que, ao estabelecer leis que privilegiam uma determinada classe social, em

detrimento de outras, contribuem para a seleção do público em condições de

habitar as áreas mais valorizadas.

Segundo MENDES (2009), as cidades brasileiras de porte médio (entre as

quais se pode incluir Maringá) passaram por rápido processo de crescimento

físico-territorial e populacional, sobretudo a partir do século XX, para atender aos

interesses das classes dominantes. Nesse período, foram criados novos

loteamentos e conjuntos habitacionais em espaços antes rurais, visando à

reprodução do capital, mas sem perder de vista a reprodução das estruturas de

poder e das classes dominantes, que impunham (e ainda impõem) normas de

comportamentos e modos de vida. Ainda de acordo com MENDES (2009), a

função dos novos loteamentos era (e ainda é) valorizar espaços

demograficamente vazios entre o centro da cidade e esses loteamentos.

A problemática que envolve a transformação do espaço rural em espaço

urbano é corroborada por MARCATTI (2009), e, segundo tal linha de raciocínio,

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pode-se afirmar que Maringá é uma cidade que dispõe de grandes atrativos, por

exemplo, é planejada, conta com muitas instituições públicas, com rodovias que a

ligam a vários estados do país, detentora de um crescente setor comercial e

estudantil, tornando-se, por conseguinte, uma cidade atraente para todas as

classes sociais, principalmente aquelas de baixo poder aquisitivo, que buscam

emprego, saúde e educação.

LUZ (1980) evidencia, no seu trabalho de mestrado, que o início do

processo de ocupação agrícola do Norte do Estado, bem como a fundação de

Maringá, que se destacou como a cidade marcada por um acelerado processo

de transformação e desenvolvimento nas décadas de 50 e 60, a ponto de se

configurar como um centro regional que atrai famílias de todo o país. Após a

consolidação da cidade como centro urbano, ela passou a comandar o

desenvolvimento da região, que desde então se mantém sob sua influência. Para

CAMPO (1999), a garantia do sucesso e enriquecimento com a agricultura

cafeeira criou, para a cidade de Maringá, a imagem do “novo Eldorado”, atraindo

para a região paulistas, mineiros, nordestinos e tantos outros “aventureiros” que

desejavam encontrar, nas novas terras, melhoria nas condições de vida e trabalho.

CASAGRANDE (1999), por sua vez, atribui à implementação da lavoura da

soja e do trigo, bem como à mecanização da agricultura, uma mudança na

estrutura fundiária, a partir da década de 60. Em decorrência de tais

acontecimentos, a mão-de-obra utilizada no campo tornou-se desnecessária,

provocando uma mudança nas relações de trabalho, motivo pelo qual parte dos

trabalhadores se transformou em trabalhadores-volantes que, sem um trabalho

fixo, prestavam serviço onde fossem necessários, mas apenas por um pequeno

período de tempo e sem vínculo empregatício. Ainda nessa década, foi também

aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural (que pregava a garantia de direitos

trabalhistas, como: salário mínimo, férias remuneradas, 13º salário, assistência

médica). Mas em muitos casos, o direito que cabia aos trabalhadores era o de

migração do campo para as cidades, onde, ainda hoje, muitas pessoas se vêem

forçadas a desenvolver o trabalho volante - sua única opção e garantia do

recebimento pelo dia de trabalhado realizado. Ainda nos dias atuais, esses

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trabalhadores, ao migrarem para as cidades, somente conseguem residir nas

periferias ou em cidades pequenas, onde arrumam trabalho, ou buscando no

campo uma ocupação temporária.

TOMAZI (1999) salienta que o processo que se iniciou com a expulsão do

indígena, depois, do caboclo, no momento da colonização, a partir da década de

1960 e nas décadas seguintes, passou a ser utilizado também com (e contra) os

pequenos proprietários e trabalhadores-volantes, que podiam ser dispensados em

massa do trabalho da agricultura, pois os cafezais e agricultura já mecanizados,

na década de 70, não mais necessitavam de mão-de-obra em grande quantidade,

fazendo com que muitos migrassem para outros estados, como Mato Grosso e

Rondônia, interior de São Paulo, ou outras regiões. Muitos desses

trabalhadores foram para as cidades, em busca de trabalho, o que desencadeou

um aumento significativo na população urbana.

Em conformidade com BORGES E ROCHA (2009), no bojo desse

processo, as pequenas cidades também perderam moradores para as cidades

grandes ou de porte médio.

Para RODRIGUES (2004), a cidade de Maringá durante o seu processo de

ocupação, após a década de 70, aprofundou a segregação econômica já

existente, devido ao êxodo rural (consequência de vários fatores, entre os quais, a

mecanização, a diversificação da agricultura e a geada de 75). No decorrer das

décadas de 70 e 80, a configuração de segregação espacial e socioeconômica se

intensificou. Nesta linha de raciocínio, entende-se que a cidade de Maringá não

comportava, em seus bairros, o grande número de pessoas que buscavam

emprego e moradia, sem contar o alto custo de vida para aquelas que na cidade

conseguiam se estabelecer, processo que atuava como barreira, selecionando,

assim, aqueles que melhor se enquadravam no perfil de moradores. Aos demais,

restava o direito de ir – para outros lugares, mais compatíveis com suas condições

econômicas.

Segundo BELOTO (2009), quando a cidade ideal não se expressa nas

devidas relações e interesses das classes dirigentes e dominantes, um conjunto

de leis, defendido por meio do Código de Obras e Posturas (criado em Maringá,

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em 1959), é organizado pelo poder público para regular o espaço urbano e definir

o que é proibido ou o que é permitido dentro desse espaço. Conforme se pode

depreender, esses e outros instrumentos jurídicos visam tão somente a defender

os interesses das elites governantes que, assim, dispõem de mecanismos legais

para segregar a população que não desejam ver habitar em determinados

espaços dentro das cidades. Para a autora, essas leis vão ao encontro da

política de valorização de certos espaços urbanos, com localizações privilegiadas

e atendimento em serviços de infra-estrutura.

Pode-se, por conseguinte, entender que nesse processo de receber grande

números de migrantes, vindos do campo ou de cidades menores, sem a

qualificação necessária para a inserção no mercado de trabalho, a cidade de

Maringá, através das classes dirigentes, pôde selecionar as pessoas (ou

classes) que teriam o direito de residir em seu solo, através da segregação

daquelas pessoas que não o poderiam, devido ao seu baixo poder aquisitivo.

Esses indivíduos não poderiam morar na cidade tão bem planejada que, para

manter afastada do centro ou fora de seus limites a pobreza tão prejudicial à

imagem de uma cidade que almeja ser apresentada como bela, moderna,

destaque nas áreas de infraestrutura e urbanização.

CAMPOS (1999) assinala que a presença de novos personagens, como,

“mulheres de baixo mundo, desordeiros, gatos oportunistas, mendigos, prostitutas,

menores abandonados, delinquentes juvenis, e desajustados” de uma forma em

geral desqualificados para o mercado de trabalho, mas que, durante esse período,

habitavam o traçado urbanístico da cidade de Maringá, receberam a atenção das

elites dominantes, Tais elites procuravam moldar as personalidades, de tal modo

que todos os que fugissem dos padrões considerados “normais” para a sociedade,

recebiam um olhar punitivo, expresso por meio da sanção normatizadora dos

aparelhos de repressão - a policia -, que passou a invadir as esferas privadas da

vida das pessoas. A sociedade encampou ações, como, por exemplo,

“Campanhas de Moralização” e “Operação de Limpeza”, inclusive por meio de

jornais, posicionando-se contra atos que classificava como exemplos de

ociosidade, vadiagem, prostituição, quanto às pessoas que os praticavam, eram

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chamadas de maus elementos14.

Para garantir que a cidade planejada se mantivesse livre da ameaça

representada pelos pobres, os governantes alteraram o código de conduta do

município, caracterizando as práticas sexuais de prostituição e homossexualismo

como vulgares, além de fazer com que outras indivíduos, definidos como

vagabundos, baderneiros, aparecessem em destaque e fossem caracterizados

como criminosos, motivos pelos quais passavam a ser perseguidos pela policia.

Contribuía para esse estado de perseguição, a visão distorcida e difundida pela

elite, de que tais pessoas tinham aversão ao trabalho. Justificava-se que fossem

excluídos da cidade, afinal, eram elementos indesejados.

A vinda de migrantes despreparados para o trabalho favorecia o

aparecimento de favelas, a prática de pequenas contravenções, a difusão de

prazeres venais, o aumento do número de casos de prática de suicídio, de

alcoolismo, enfim, produzia um cenário de marginalidade urbana. Nesse contexto,

os sujeitos que não tinham os comportamentos definidos como “normais”, eram

classificados pela polícia como loucos, dementes e insanos, o que justificava que

fossem excluídos da vida em sociedade, sendo encaminhados para instituições ou

para fora da cidade.

No município de Maringá, os instrumentos administrativos estiveram

bastante presentes e vigilantes para coibir o aparecimento e ocorrência de

fenômenos considerados indesejados, como, ocupações irregulares, favelas,

moradores de rua, os quais comprometiam a estética da cidade planejada,

motivos pelos quais eram empurrados para fora dos limites dessa urbe.

De acordo com as autoras RODRIGUES E TONELLA (2003), a Região

Metropolitana de Maringá (fundada em 1998) criou uma barreira invisível que a

mantém separada dos municípios com os quais faz divisa territorial,

principalmente com Sarandi e Paiçandu, onde as diferenças sociais e

econômicas aparecem com maior evidência, já que receberam e ainda recebem

14 Cabe, aqui, ressaltar que essa população considerada desqualificada para o trabalho, era composta por migrantes que vieram do campo para a cidade, em busca de empregos e melhores condições de vida, mas que, ao chegarem em Maringá, não encontraram meios de sobreviverem dignamente através do trabalho.

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pessoas sem condições financeiras de morar em Maringá (devido ao alto custo de

vida) e que, por isso, buscam moradia no seu entorno. Para VERRI (1998), o

desenvolvimento industrial de uma região provoca, inevitavelmente e ao mesmo

tempo, o empobrecimento nas outras regiões do entorno15, com a tendência de se

produzir desigualdades sociais e econômicas entre as regiões e, inclusive, no

interior de uma mesma região.

Na região Metropolitana de Maringá, essa diferença aparece muito bem

definida na época de campanhas eleitorais, já que, nos discursos e na imprensa,

procura-se inculcar nas pessoas a ideia que todas as mazelas presentes e visíveis

em Maringá (pedintes, crianças e malabaristas nos semáforos ) são provenientes

de moradores de fora, principalmente das cidades de Sarandi e Paiçandu, e

aquelas pessoas que aí circulam são oriundas de outras cidades, e querem

apenas tirar proveito da população “caridosa” da metrópole.

A Região Metropolitana tem a visão de que municípios no seu entorno –

principalmente Sarandi e Paiçandu (em pleno processo de expansão urbana)

formam a periferia, onde está presente todo tipo mazela de uma cidade comum;

Maringá, em contrapartida, atua como o centro. De acordo com essa perspectiva,

Maringá se classifica como uma cidade diferente, que se mantém afastada dos

problemas sociais, visto que a periferia se concentrou para além de seus limites

geográficos, ou seja, em cidades vizinhas, formadas por segmentos da população

de baixa renda, cidades estas em que a pobreza está presente em muitos bairros.

Ora, não se está afirmando que Maringá não possua bairros pobres, mas,

se comparada com os outros dois municípios vizinhos, perceber-se-á que o grau

de pobreza dos bairros maringaenses é bem menor do que aquele apresentado

por alguns bairros do município de Sarandi, por exemplo, onde a população se

ressente da carência de serviços de infraestrutura (água, luz, asfalto, rede de

esgoto, etc.). Entende-se, pois, que, para se manter a ocupação de Maringá nos

moldes definidos no seu projeto original, foi de fundamental importância - e ainda

o é -, o controle exercido pelo poder público sobre a ocupação dos terrenos

15 O autor estudou a Região Metropolitana de Curitiba, mas ao é preciso um grande esforço de raciocínio para constatar que um processo similar de desenvolvimento e pauperismo ocorreu na Região Metropolitana de Maringá.

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loteados na cidade. Esse ardiloso processo de segregação socioeconômica, ainda

em curso na cidade, provoca também uma segregação residencial, já que as

pessoas que não conseguem adquirir um terreno para nele construir sua moradia,

mesmo que seja na periferia, buscam-no em cidades da região, no entorno.

Segundo BORGES E ROCHA (2009), as grandes receptoras desses

migrantes excluídos de Maringá foram as cidades-satélites, ou as “cidades-

dormitórios, que, de modo geral, receberam esses trabalhadores totalmente

despreparados para os tipos de trabalhos então existentes, mas que em

contrapartida, tais trabalhadores encontravam, nessas cidades, condições de

arcar com as despesas mais urgentes, como, saúde, educação e moradia.

A cidade de Sarandi é um exemplo ilustrativo de cidade-satélite, pois

pertence à Região Metropolitana de Maringá, juntamente com mais 14 municípios

da região, e se encontra em avançado processo de conurbação com a cidade-

sede, Maringá. Nesse complexo e contraditório processo de conurbação, Sarandi

é classificada como uma cidade-dormitório por ter uma parcela de sua população

saindo cedo para trabalhar ou estudar em Maringá, retornando à cidade somente

a noite, para repousar ou, como de diz popularmente, para dormir.

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VERRI, Enio J. O desenvolvimento recente da indústria paranaens e. Maringá,

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UNIDADE 4

Sarandi: história, demografia e indicadores sociais

Em 1935, Sarandi surgiu como patrimônio, para servir de entreposto

comercial e de abastecimento aos produtores rurais entre Maringá e Marialva. Foi

elevada à condição de Distrito Administrativo de Marialva, em 1965, e, na década

de 70, beneficiou-se de um período de crescimento populacional e expansão da

sua área urbana16, com novos loteamentos implantados pela Construtora Vicky,

de forma desordenada, já que no município não existiam leis rígidas para o

estabelecimentos de novos loteamentos urbanos, cujos proprietários se eximiam

da responsabilidade pelo planejamento que definiria a ampliação da cidade17.

Segundo SILVA (1991), durante o período compreendido entre 1974 e

1980, surgiram 42 novos loteamentos na cidade. Na década de 80, Sarandi foi

emancipada por meio da realização de um plebiscito, no dia 19/03/81, e em

14/10/83, foi alçada à condição de município e, em poucas décadas, tornou-se

uma cidade de porte intermediário.

A partir da década de 70, a cidade viveu um período de acelerado

crescimento populacional. Nessa época, contava com apenas 7.447 mil

habitantes, porém, na década de 80, sua população já era de 21.797 mil

habitantes e, em 1997, residia em seu território 71.422 mil habitantes, ao passo

que para o ano de 2009 já se estimava um total de 84.651 mil habitantes18.

Segundo RODRIGUES (2004), em 1981, quando o governador sancionou a

Lei nº 7.502, elevando Sarandi à categoria de cidade, a mesma já apresentava

16 O intenso crescimento populacional que ocorreu nas décadas de 70 e 80 das cidades, resultou de um processo mais amplo de migração da população campo/cidade que atingiu várias cidades brasileiras. 17 Em decorrência da falta de legislação e de controle, a cidade contava com grandes vazios urbanos, que separavam as áreas ocupadas daquelas ainda desocupadas ( agrícolas). 18 Dados coletados por meio do endereço eletrônico WWW.ibge.gov.br/ciades. Acesso em 25/05/2010.

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sérios problemas sociais e de infraestrutura. De acordo com VELOSO (2003), a

“cidade continha vários loteamentos, todos desordenados, pois, houvera uma

grande especulação imobiliária, resultante da proximidade de Sarandi com o

Município de Maringá”19.

No decorrer das décadas de 80 e 90, a cidade de Sarandi mantinha um

crescimento populacional em ritmo acelerado. De acordo com SILVA, (1991) à

medida que cresce o número de habitantes de uma cidade, há que se investir em

serviços de infraestrutura urbana, como: escolas, hospitais, transportes urbanos,

habitações, rede de água e esgoto, coleta de lixo, asfaltamento, rede de energia

elétrica, ou seja, dispor de uma rede de serviços que esteja preparada para

atender às demandas da população. No entanto, percebe-se que, na cidade de

Sarandi, esses investimentos não foram feitos de forma a acompanhar o

crescimento populacional.

De acordo com dados divulgados, em 1997, pelo IBGE, Sarandi já contava

com uma população de 71.422 habitantes, um crescimento na urbanização de

1,03%, em 1991, mas que saltou para 96,30% , em 2000. E uma informação que

muitas pessoas ignoram: a cidade de Sarandi conta com 15% da população da

Região Metropolitana de Maringá, sendo que 97,3% desse total moram na zona

urbana da cidade20. BORGES e ROCHAS (2009) chamam a atenção para o

entorno de cidades-polo, como Maringá, onde nasceram cidades-dormitório (caso

de Sarandi), que são um retrato do espaço urbano degradado em virtude do

crescimento desordenado, deflagrando, assim, um acentuado processo de

periferização externo á cidade de Maringá, confirmado pelos altos indicadores de

exclusão social e desenvolvimento social21. Para esses autores, o município de

Sarandi não foi compensado pelos crescimento e desenvolvimento econômico

no mesmo ritmo que a cidade de Maringá, motivo porque aquela cidade foi, cada

vez mais, constituindo-se como periferia desta.

SILVA (1991) afirma que, a partir do final das décadas de 70 e 80, a cidade

19 VELOSO ( 2003). p. 31. 20 RODRIGUES ( 2004). p.153 21 BORGES e ROCHA (2009). pp. 122-123.

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de Sarandi apresenta um acelerado processo de conurbação com a cidade de

Maringá, processo este que é responsável pela união das zonas urbanas no seu

limite territorial com bairros residenciais, o que leva ambas as cidades a

enfrentarem os mesmos problemas: falta de atendimento nas área de segurança,

transporte coletivo, educação, saúde, entre outros. A mesma autora salienta que

Sarandi sofreu - e ainda sofre - forte influência do desenvolvimento industrial, tanto

da cidade de Maringá como de Marialva. Por isso, em poucos anos, transformou-

se em uma cidade de porte intermediário, abrigando um grande contingente de

trabalhadores rurais que buscavam usufruir, na cidade, de uma melhor condição

financeira, ou contavam com a proximidade de Maringá para o sucesso na busca

de emprego, já que, nesta cidade, o custo de vida é mais elevado.

A história e a formação da cidade de Sarandi também são analisados no

trabalho desenvolvido por VELOSO (2003), desde sua origem, na década de 40,

quando alguns agricultores chegaram à região que hoje é a cidade de Sarandi,

para desbravar a floresta e formar as lavouras de café. Para a autora, a cidade

surgiu como um pequeno patrimônio que começou a crescer em função da sua

privilegiada posição geográfica, atraindo um considerável contingente

populacional, que vem em busca de moradias de baixo custo, daí a origem de

problemas de infraestrutura, como, falta de moradia, de postos de saúde, de

ofertas de trabalho, de pavimentação asfáltica e rede de esgoto. A maioria das

pessoas que habitam Sarandi formam, assim, uma população carente, com baixa

qualificação profissional e educacional. O crescimento desordenado da cidade, por

sua vez, contribui para agravar os problemas decorrentes da falta de

investimentos em serviços de infraestrutura, em um município que já sofre devido

a tantos problemas gerados por sua carência.

Para BORGES E ROCHA (2009), os espaços periféricos das cidades

menores (Sarandi e Paiçandu, por exemplo) devem ser vistos como resultados do

processo de produção dos espaços urbanos e do aumento populacional. O

crescimento demográfico que aí se verifica contribuiu sobremaneira para o

aumento das desigualdades sociais, evidenciando o retrato do desenrolar do

processo histórico da economia capitalista na sociedade brasileira, que ainda hoje

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tende a instaurar um processo de periferização externa nos centros urbanos22 de

porte médio ou grande. Salientam os mesmos autores que o processo migratório

muitas vezes foi caótico, pois os migrantes não possuíam recursos para se manter

durante os períodos de deslocamentos, muito menos de se fixar e residir em uma

cidade onde o custo de vida é elevado, tal como ocorre em Maringá, por isso

buscavam cidades no seu entorno. Nessas cidades, como Sarandi, podiam morar

e assim sobreviver, na esperança de conseguir um emprego, manter-se a si

mesmos a sua família, além da possibilidade sempre presente de poder mudar

de vida, e, assim, realizar o sonho de prosperidade que, em última instância,

significa tornar-se habitante da Cidade-canção.

MARCATTI (2009) corrobora tal tese, ao chamar a atenção para o fato de

que nem todas as pessoas que vêm do campo ou de cidades menores dispõem

de condições econômicas que lhes permitam fixar-se na cidade de Maringá;

buscam, então, fixar-se nas cidades vizinhas (neste caso, Sarandi ou Paiçandu),

onde encontram condições mais favoráveis para habitar, uma vez que, nessas

cidades, o custo de vida é mais baixo. Tais cidades se apresentam, portanto, como

única opção para que as pessoas possam manter-se próximas dos centros mais

desenvolvidos, pois, se, por um lado, a cidade onde moram não lhes oferece

serviços mínimos de infraestrutura, por outro, é justamente nessa(s) cidade(s) – e

por causa disso - que aí os terrenos e aluguéis são mais baratos. Parece ser

uma contradição insolúvel: noutras palavras, mesmo que os serviços de

infraestrutura sejam precários, prejudicando sua qualidade de vida, é em cidades

com perfil similar ao de Sarandi e Paiçandu que a maioria dos indivíduos

pertencentes às classes menos privilegiadas podem habitar.

Nesta perspectiva, para RODRIGUES ( 2004), Sarandi e Paiçandu são as

cidades mais visadas por migrantes nesta Região Metropolitana, por estarem

muito próximas de Maringá. De tal forma que, em alguns casos, é mais fácil e

rápido para os trabalhadores se deslocar de Sarandi, com destino ao centro de

Maringá, do que do centro de Maringá com destino a alguns de seus bairros.

22 Esses centros urbanos externos constituíram-se em reservatórios de mão-de-obra considerada como não-qualificada.

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Ainda de acordo com RODRIGUES (2004), em Maringá, o processo de

desenvolvimento provocou algumas distorções, como, surgimento de moradores

de rua , ocupações irregulares de terrenos e favelas, as quais foram retiradas da

cidade pelo poder público. Quanto aos seus outrora moradores de rua ou de

favela (antiga favela no fundo do cemitério de Maringá), encontram-se distribuídos

entre as cidades de Sarandi, Paiçandu e Mandaguaçu23. Graças a essa espécie

de exportação da pobreza, mantém-se, portanto, a cidade livre das distorções

indesejadas, causadas pelas desigualdades sociais, ao passo que se concentra,

em seu entorno, cidades com altos índices de pobreza social, às quais, não raro,

convencionou-se acusar e responsabilizar pelo aumento do número de casos de

violência e de jovens envolvidos com o tráfico de drogas e a criminalidade.

De acordo com RODRIGUES (2004), justifica-se o apoio dos municípios

vizinhos à criação da Região Metropolitana de Maringá (composta por 14 cidades),

cujo objetivo seria o de que, se essas cidades estivessem unidas, adquiririam

maior força política para reivindicar e obter, junto aos órgãos federais e

estaduais, recursos públicos para solucionar os problemas comuns às mesmas.

Porém, segundo RODRIGUES (2004), o que se percebe, de comum, é que as

cidades dessa região pouco ou nada recebem, pois alguns municípios ainda

sobrevivem graças a economias rurais, já outros, localizados no entorno de

Maringá, dependem do município-sede para manter sua população empregada,

com atendimento de saúde, educação, com direito a usufruir até de opções

mínimas de lazer. Sem contar que o crescimento nas áreas industrial e comercial

de Maringá se deve, também, aos moradores dessas que são classificadas como

cidades-dormitórios, já que sues habitantes, principalmente aqueles com

empregos na cidade-sede costumam gastar seus salários no comércio

maringaense, reduzindo assim os impostos arrecadados pela cidade de Sarandi, e

consequentemente, não aumentam o número de empregos no comércio local24.

Quanto aos recursos públicos obtidos, geralmente são revertidos em benefício do

23 Para saber mais verificar ROGRIGUES ( 2004), pp. 75-76. 23 Dados coletados no WWW.controlesocialdesarandi.com.br. Acesso em 25/06/2010 .

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município-sede (Maringá), ficando as demais cidades privadas desses recursos25,

ou, quando muito, restam-lhes alguns parcos recursos, insuficientes para atender

a tantas e tamanhas demandas sociais, o que agrava a situação de desigualdade

social em que vivem muitos dos demais municípios, ao mesmo tempo em que se

mantém sua dependência em relação à sede, Maringá. Essa desigualdade afeta

principalmente as cidades do entorno, como Sarandi e Paiçandu, onde o grau de

pobreza é grande, e, conforme indicam pesquisas realizadas pelo IBGE, em 2000,

comparadas às de 1991, o número de miseráveis vem aumentando, mesmo com

um acréscimo de 13,46% no número de emprego para o município segundo o

DIEESE (Departamento Interestadual de Estatística e Estado

Socioeconômico/2007), resultado dos investimentos municipais na busca do

desenvolvimento econômico e geração de renda.

Segundo a mesma autora, Sarandi e Paiçandu possuem terrenos de

menores valores comerciais e aluguéis mais baratos, o que possibilita à população

de baixo poder aquisitivo comprar seu pedaço de terra e nele construir, ainda que

precariamente, sua moradia, ou morar em casa de aluguel localizada mais

próxima do trabalho, considerando que a uma parcela da população das duas

cidades trabalha em Maringá, a uma distância não superior a 20 Km.

Em virtude da demanda por moradia, na década de 70, principalmente na

cidade de Sarandi, teve início um aumento do número de loteamentos,

provocando um crescimento desordenado, ao contrário de Maringá, que se

protege por meio de leis mais rígidas, exercendo controle tanto sobre o mercado

imobiliário quanto sobre o valor dos terrenos. A inexistência desse poder de

controle foi um dos fatores que contribuíram para o rápido crescimento

populacional de Sarandi e de Paiçandu, onde a maior parte dos terrenos postos à

venda não dispunham de asfaltamento, água, esgoto, energia elétrica, ou seja,

ressentiam-se de uma infra-estrutura mínima, fator que contribuía diretamente

para o baixo valor dos terrenos, tornando-os mais atrativos para a população de

baixa renda, contrariamente ao que ocorre em Maringá. Essa realidade

possibilitou que parcela da população pobre pudesse comprar seu terreno e

25 RODRIGUES (2004), pp. 93- 95.

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construir sua moradia, ainda que, conforme já foi apontado, muitas vezes o

fizessem em condições bastante precárias.

De acordo com MENDES E MOTA (2009), os promotores e incorporadores

imobiliários visam ao sucesso de seus empreendimentos e, para tanto, produzem

habitações com projetos arquitetônicos que atraem seus clientes, em loteamentos

que possam render um valor superior ao empregado por eles, principalmente para

as classes média e alta, que possuem maior renda, portanto, poderiam pagar

pelos seus investimentos em áreas que contam com serviços de infraestrutura

básica já devidamente instalados, além de criar novas áreas nobres para serem

ocupadas por integrantes dessas classes sociais. E mais: para atrair esses

compradores, o rendimento e os lucros provenientes das vendas das habitações

também teriam de ser suficientes para promover campanhas publicitárias que,

simultaneamente, contribuíssem para manter os imóveis em evidência no

chamado mercado imobiliário, garantindo sua contínua valorização.

OS agentes imobiliários e os incorporadores só teriam interesse na

construção de habitações populares em duas situações: primeiramente, se a

construção desse fosse um negócio rentável para o capital imobiliário. Noutras

palavras, se as moradias fossem edificadas em terrenos onde praticamente

inexistissem serviços de infraestrutura, mas cujos proprietários se tornassem

dependentes de cobranças feitas ao Estado para financiar essas obras de

infraestrutura (asfalto, água, esgoto transporte, escolas, postos de saúde, entre

outras.); em segundo lugar, se (e quando) o Estado subsidiasse a construção

dessas casas, contexto em que o Estado também arcaria com as despesas

provenientes dos serviços de infraestrutura, cabendo aos moradores o dever de

pagar pela habitação somente o valor mínimo estabelecido pelo Estado, a longo

prazo. RODRIGUES (2004) acrescenta que até o ano de 2004, Sarandi possuía

83 bairros, sendo que, entre os quais, a maioria nem sequer dispunha de

pavimentação asfáltica, redes de água, esgoto e energia elétrica, quer dizer, não

ofereciam nenhum serviço de infraestrutura básica para receber seus moradores.

Ora, é mais do que evidente que as classes proletárias, devido ao baixo

rendimento que o mercado atribui a sua ocupação econômica, não encontram

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outra opção a não ser buscar suas moradias em bairros mais afastados, vivendo à

margem dos benefícios oferecidos pelo centro urbano. Resta a essas pessoas a

opção de ser atendidas pelos serviços básicos ou morar em habitações, em

condições subumanas, em bairros ambientalmente degradados, e, não raro,

dividindo suas casas com duas ou mais famílias.

Pode-se constatar que mesmo antes de 1981, quando Sarandi ainda era

Distrito Administrativo de Marialva, já vivenciava o período de aumento

populacional, uma vez que as pessoas que não conseguiam residir em Maringá,

buscavam moradia em bairros sarandienses, desprovidos de serviços de

infraestrutura ou com infraestrutura mínima. Apesar disso, tais pessoas estavam

mais próximas de seu emprego na cidade de Maringá. Devido à realização do

plebiscito, que elevou Sarandi à condição de cidade, em 1983, bem como a

mecanização no campo e a consequentemente expulsão de milhares de

trabalhadores rurais, o movimento migratório se intensificou, contribuindo para a

falta de infraestrutura e moradia na cidade, ao mesmo tempo em que ampliou as

condições de pobreza da população.

Dados coletados por RODRIGUES na AEDS- 200026, evidenciam que as

famílias com renda inferior a 2 salários mínimos estão residindo nos municípios do

entorno de Maringá , ou seja Sarandi e Paiçandu, ao passo que famílias com

renda superior a 10 salários mínimos sem mantêm em Maringá. A cidade de

Sarandi é considerada um espaço de concentração de operários (73% dos

moradores), motivo pelo qual é denominada de cidade-dormitório27. Dados

divulgados pelo IPARDES, em 2000, apontam uma taxa de pobreza de 20% para

o município28.

Segundo dados do IBGE, a estimativa populacional para a cidade de

Sarandi, até 2009, era de 84.651 mil habitantes29. E somente o centro da cidade

26 Áreas de Expansão dos Dados de Amostras, IBGE-2000. 27 RODRIGUES ( 2004). p. 217. 28 Reportagem: População de Sarandi cresce mais rápido que Maringá. Fonte: WWW.odiariomaringá.com.br/noticia , 27/07/2009. Acesso em 04/02/2010. 29 Dados coletados em WWW.ibge.gov.br/home/estimativa2009. Acesso em 24/05/2010.

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seria atendido por serviços de infraestrutura urbana, como, iluminação pública,

coleta de lixo, água, escolas, serviços de linhas telefônicas, linhas de transportes

coletivo, asfaltamento das ruas. Quanto aos bairros mais afastados, continuariam

a sofrer as consequências da falta de investimentos nessa área. Apesar da

carência de investimentos, Sarandi continua apresentando crescimento

populacional continuo até então. Esse crescimento populacional se deve ao fato

de que muitas pessoas que se mudam para Maringá, mas não conseguem se

manter na cidade devido ao alto custo do padrão de vida ali imposto, transferem-

se para Sarandi, que se apresenta como uma opção para as famílias de baixa

renda se manter perto do emprego. Há ainda pessoas que se mudam diretamente

para a cidade de Sarandi, cientes de que, por causa de seus rendimentos, não

conseguiriam residir em Maringá, além de pessoas que já têm parentes que

moram na cidade e, contando com a sua ajuda, mudam-se para dividir a mesma

casa ou em casas que lhes são arrumadas por pessoas conhecidas30.

Sarandi recebeu grande número de migrantes, atraídos pela cidade de

Maringá, consequentemente, o inesperado e desordenado crescimento

populacional não foi acompanhado por investimentos feitos em serviços de

infraestrutura básica, o que desencadeou vários problemas para a população,

problemas estes que se refletem nas condições precárias de moradia existentes

nos bairros mais afastados do centro.

Segundo VELOSO ( 2003), na cidade de Sarandi, as desigualdades podem

ser vistas a olho nu, tanto no centro quanto na periferia, pois fugiram ao controle

das autoridades administrativas do município. Essa desigualdade é alarmante e

assustadora, e, o que é pior, agrava-se a cada dia31, pois segundo comprova um

dos estudos feitos pelo Observatório das Metrópoles - Maringá, a cidade de

Sarandi cresceu 76% nos últimos 18 anos, não dispondo de infraestrutura básica

necessária para atender a esse índice de crescimento populacional32, sem contar

30 VELOSO (2003). pp. 125 e 126 31 VELOSO (2003). p.52 32 Reportagem publicada no Diário do Norte do Paraná, no dia 04/03/2010.

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que até então as representações políticas que governaram e ainda governam o

município, pouco ou nada fizeram ou fazem para resolver a situação.

De acordo com dados colhidos pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento/2000 (PNUD), Sarandi apresenta um IDH33 de 0,768, ocupando

a colocação de 96º no Estado, enquanto o de Marialva, sua cidade vizinha, é de

0,784 tendo a colocação de 53ª e o de Maringá e de 0,841, estando em 6º lugar.

Não há dúvida de que esses dados deveriam ser motivo de preocupação e ação

planejada por parte do poder público, levando-os a se mobilizarem na busca de

recursos e investimentos para sanar ou amenizar as carências existentes no

município de Sarandi.

Para amenizar as consequências desses problemas, bem como as

contradições sociais existentes na Região Metropolitana de Maringá, e

principalmente nos municípios de Sarandi e Paiçandu, que formam com Maringá

uma única mancha urbana, seria necessário que empresários, juntamente com

as autoridades municipais, estaduais e federais, buscassem recursos e

soluções para os problemas enfrentados pelo conjunto da toda a região, com

aplicação de recursos para atender à demanda por serviços de infraestrutura

básica, como: habitação, saúde, segurança, pavimentação asfáltica, educação,

água, esgoto e, acima de tudo, da criação de novas indústrias, já que as

existentes no município de Sarandi são insuficientes para empregar a população

local34, gerando, assim, empregos para as pessoas em idade economicamente

ativa, principalmente naquelas cidades já tão castigadas pelo descaso das

autoridades públicas, que praticam o antigo lema: disponibilizar mais recursos

para aquelas cidades que já apresentam melhores indicadores sociais, ou o que já

se convencionou definir como melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Sarandi, hoje, necessitaria buscar alternativas próprias para o seu

33 IDH - Índice de Desenvolvimento Humano. WWW. Wikepedia.org. Acesso: 24/06/2010.

34 A falta de indústrias no município é uma das causas do desemprego, porém outros fatores agravam ainda mais a situação, como a falta de escolarização e de qualificação profissional de grande parte da população. Esses trabalhadores, despreparados para ingressar no mercado de trabalho formal, buscam, na cidade de Maringá, alternativas para sobreviver, onde só encontram ocupações como guardadores de carros, empregadas domesticas, flanelinhas, camelôs, catadores de papeis e de materiais recicláveis, entre outras).

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desenvolvimento, uma vocação, ou seja, uma atividade econômica, e não ter

como vocação apenas o fornecimento de mão-de-obra para a cidade de Maringá.

Marialva é um exemplo de que tal solução é viável, pois alicerçou seu

desenvolvimento ao investir e incentivar a produção de uvas finas, de tal modo

que, hoje, é responsável por 50% da produção de uvas do Estado. A variedade e

a riqueza de suas uvas é exposta e comercializada, também, durante a festa anual

de 10 dias, realizada no mês de janeiro, quando promove a festa e o concurso e

da uva fina, evento que integra o calendário nacional, contando com a visitação de

aproximadamente 150.000 mil pessoas. Marialva tipifica, assim, o município que

atua para colher frutos diversificados de sua vocação econômica, também

convertida em uma fonte de turismo35.

Sarandi deveria traçar um caminho parecido, descobrindo uma vocação

econômica que lhe revertesse recursos financeiros, além, é claro, de investir

nesta alternativa para a criação de empregos e aumento das fontes de rendas, já

que é independente administrativamente, densamente povoado e conta com um

número considerável de eleitores, e pode, ainda, organizar-se para eleger

representações políticas que se comprometidas com a busca de recursos para

investimentos em projetos que visem o desenvolvimento da cidade.

Infelizmente, quando se trata de participação popular e de união e

envolvimento efetivo dos representantes políticos para pensar, planejar e

implementar ações que visem a resolver os diversos e graves problemas sociais

que afetam a cidade como um todo, e que contribuem diretamente para associar a

imagem da população sarandiense à de marginalização e violência, as soluções

parecem cada vez mais distantes. Por exemplo, depois de vivenciar um período de

8 anos em que foi administrada pelo Partido dos Trabalhadores, que não

implantou transformações estruturais, Sarandi permaneceu praticamente parada

nos dois últimos anos da nova administração, pois o prefeito escolhido pela

maioria dos eleitores teve seus direitos políticos cassados, devido ao envolvimento

35 Dados coletados em www.wikipedia.org/wiki/marialvaparana. Acesso em 25/06/2010.

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em casos incompatíveis com a tarefa de administrador público36. Mais uma vez, a

população da cidade é que arcou e ainda por algum tempo continuará a arcar com

os custos da má administração de que foi vítima e que lhe usurpou alguns

investimentos, isso em uma cidade tão carente de recursos que lhe possibilitem o

enfrentamento e a solução de problemas tão urgentes como aqueles

apresentados e analisados ao longo desse caderno temático.

36 Reportagem publicada em www,odiario.com/paraná/noticia236721. Acesso em 03/03/2010.

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REFERÊNCIAS

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MARCATTI, Rafael S. A segregação socioespacial gerada por Maringá (PR) em relação à Sarandi (PR): o crescimento desordenad o. In: MENDES, C. R.e TOWS, R. L. (org.).Geografia urbana e temas transversais. Maringá, Eduem, 2009. pp. 205 - 217.

MENDES, César M. Aspectos culturais do consumo e da mercantilização do processo de verticalização do eixo Maringá, Londrina , Arapongas e Apucarana (PR) Brasil . In: MENDES, C. R.e TOWS, R. L. (org.). A Geografia da verticalização urbana em algumas cidades médias no B rasil. Maringá, Eduem, 2009. pp. 15 - 31. O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ, Sarandi e Paiçandu lideram crescimento. 04/03/2010. RODRIGUES, Ana Lucia. A pobreza mora ao lado: segregação socioespacial na Região Metropolitana de Maringá. 2004. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) - Departamento de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004.

RODRIGUES, Ana Lucia. Maringá : a segregação planejada publicada em 12/09/2008. WWW:cch.uem.br/observatório/artigos. Acesso: 18/05/2010.

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WWW.controlesocialdesarandi.com.br. Acesso 25/06/2010. WWW.ibge.gov.br/home/estimativa2009 . Acesso: 24/05/2010.

WWW.ibge.gov.br/ciade . Acesso: 25/05/2010.

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