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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

FECILCAM – FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

UNIDADE DIDÁTICA

INFORMÁTICA:

UMA ALIADA NA ALFABETIZAÇÃO DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

INTELECTUAL

PROFESSORA PDE – MARY TEREZINHA BRUGER STANISZEWSKI

ORIENTADORA: PROF.ª ME. Ceres América Ribas Hubner

CAMPO MOURÃO

2010

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

FECILCAM – FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO

INFORMÁTICA:

UMA ALIADA NA ALFABETIZAÇÃO DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

INTELECTUAL

Produção Didático-pedagógico : Unidade Didática

apresentado à Faculdade de Ciências e Letras de

Campo Mourão (FECILCAM) e à Secretaria de

Estado de Educação do Paraná (SEED) para o

programa de formação continuada intitulado

Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), sob a orientação da Profª. Me. Ceres

América Ribas Hubner.

CAMPO MOURÃO

2010

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“Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis”.

Para “as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis”.

Radabaugh, 1993

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 4

2 PROCESSOS NEUROLÓGICOS E A APRENDIZAGEM 7

3 ALFABETIZAÇÃO 13

4 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS 23

REFERÊNCIAS 25

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1 INTRODUÇÃO

Os jogos educativos computacionais apresentam novas possibilidades para

desenvolver a construção do conhecimento, sendo integrados como mediadores e

motivadores do ensino e da aprendizagem. Conforme Oliveira (2001), o ato de

ensinar e aprender ganha novo suporte com o uso de diferentes tipos de softwares

educacionais. O computador pode ser uma ferramenta muito importante na

mediação do processo e na construção do conhecimento.

As tecnologias, mais especificamente o computador, aliadas às práticas

educativas da educação especial, constituem, com o advento da sociedade do

conhecimento e comunicação, um grande desafio possibilitando ampliar horizontes e

garantir o acesso ao universo mágico da aprendizagem, criando novos motivos e,

por conseguinte, novas atividades e novas ações, compatibilizando, assim, a

intencionalidade pedagógica aos interesses e necessidades dos alunos.

Nesse sentido, os jogos educativos desempenham papel importante nas

estratégias de ensino do professor que, ao utilizar esse instrumento, torna possível

uma reflexão crítica que pode contribuir no processo de alfabetização do aluno, pois

é através do jogo que, inicialmente, se formam os processos de imaginação ativa

quando a criança se apropria das funções sociais, demandando novas formas de

interpretar e representar o conhecimento e, por que não dizer, anunciar novos

caminhos e novas compreensões para a melhoria e desenvolvimento do ensino

aprendizagem.

Torna-se necessário, então, que o professor esteja engajado, como afirma

Mercado (2002, p.18), num processo consciente, não só das reais capacidades da

tecnologia, mas do seu potencial e de suas limitações, devendo selecionar e

explorar a melhor forma de utilizá-la.

Muitos alunos da Escola Especial são advindos de uma classe

socioeconômica desprivilegiada e, muitas vezes, têm acesso ao computador

somente na escola. Dessa forma, o trabalho com a informática pode ser favorável

para o desenvolvimento humano e social desses alunos que, ao utilizá-la passam a

ser protagonistas de uma sociedade cada vez mais informatizada, abrindo novos

caminhos para exercer de fato sua cidadania.

Segundo TERUYA (2006, p.86), o papel da escola não se restringe a

desenvolver metodologias para erradicar o analfabetismo tecnológico, mas pode

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oferecer também instrumentos no sentido de privilegiar a formação ética, a

participação coletiva no processo de construção de uma nova sociedade

democrática em que todos tenham acesso aos benefícios das conquistas científicas.

E é, neste espaço, que encontramos a perspectiva de incentivar diferentes

metodologias que valorizem o desenvolvimento humano, modifiquem o

conhecimento e transformem-no em ações que favoreçam e ampliem a visão de

mundo do aluno com deficiência intelectual, contemplando suas potencialidades,

para que se desenvolva como pessoa e como cidadão. Como bem está descrito nas

Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p.15). Deve atender igualmente

os sujeitos, independente de sua condição social e econômica, de seu

pertencimento étnico e cultural e de possíveis necessidades especiais para a

aprendizagem.

Busca-se, neste trabalho, aliar o uso da informática, ou seja, de atividades

no computador, com a prática pedagógica destacando os recursos tecnológicos

como mais uma ferramenta eficaz, capaz de superar e transformar os modos e

processos de produção e socialização de conteúdos desenvolvidos em sala de aula.

Nesse contexto, pretende-se enfocar um maior aprofundamento nas teorias

de Vygotsky, Luria e Leontiev a respeito do processo ensino aprendizagem,

mediante conceitos que se assemelham e que são complementares.

O aluno com deficiência, especialmente o deficiente intelectual, apresenta-se

de maneira singular no que diz respeito ao processamento de informações e requer

constante busca de estratégias, metodologias e materiais específicos diversificados.

Daí a necessidade de se estudar a aplicabilidade do computador como recurso

metodológico, possibilitando, assim, ações que favoreçam o seu desenvolvimento e

a efetivação de sua aprendizagem.

É preciso, para tanto, conceber a educação como um processo em que se

trocam experiências e informações, respeitando-se a realidade do aluno, suas

diferenças, seu ritmo, seu modo evolutivo, considerando a alfabetização como pré-

condição de igualdade, de desenvolvimento e democracia, bem como sua

integração no contexto da sociedade.

Conforme Vygotsky (1986), as pessoas com deficiência podem se beneficiar

do processo de aprendizagem assim como as demais, porém precisam ser

corretamente estimuladas desde cedo, com um ambiente educacional adequado

para que possam assimilar grande parte dos conhecimentos.

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Desta maneira, o presente estudo tem por objetivo geral possibilitar ao aluno

com deficiência intelectual o acesso às novas tecnologias, oportunizando o interagir,

o experienciar e o vivenciar novas formas de aprender em seu processo de

alfabetização. Tem por objetivos específicos: diversificar o ambiente educacional

com ajuda de recursos tecnológicos; buscar caminhos alternativos para que o aluno

com deficiência intelectual possa ampliar seus conhecimentos e interações,

minimizando as barreiras digitais e analisar as reações afetivas do aluno especial na

utilização do computador.

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2 PROCESSOS NEUROLÓGICOS E A APRENDIZAGEM

A interação social para o desenvolvimento das funções psicológicas

superiores é enfatizada por Vygotsky (1986), quando afirma que o processo de

internalização do conhecimento efetiva-se em dois planos: primeiro em nível social,

no plano interpsicológico e, posteriormente, no interior da própria criança, no plano

intrapsicológico, pois todas as funções superiores se originam das relações entre os

seres humanos. O meio social pode facilitar ou dificultar a criação de novos

caminhos para o desenvolvimento.

Leontiev (1991) propõe que simultaneamente à formação dos processos

mentais superiores, caracteristicamente humanos, se formam também na criança os

órgãos cerebrais funcionais, utilizados para realizar atos específicos e aponta três

princípios básicos sobre o desenvolvimento mental: A primeira parte do pressuposto

de que a criança não se adapta ao mundo dos objetos, mas dele se apropria. O

processo de adaptação possui um sentido mais biológico. As conquistas do gênero

humano são produzidas nas ações da criança frente aos objetos, aos fenômenos e

ao mundo que a rodeia. A atividade não se desenvolve na criança

independentemente, mas mediante as relações práticas e verbais. O segundo

aspecto entende que o ser humano nasce com um equipamento biológico

responsável por diversas capacidades e funções, porém, as funções mentais

superiores não podem ser concebidas como morfologicamente estáveis, porque

segundo Vygotsky (1986), os sistemas cerebrais permitem novas formações no

desenvolvimento mental, as quais vão sendo construídas durante a vida da criança.

O último princípio refere-se às construções das ações mentais, onde a linguagem

ocupa um papel de destaque, porque possibilita a criança adquirir e acumular

conhecimentos produzidos pela humanidade, bem como os conceitos sobre o

mundo em que vive. Ela aprende a organizar os próprios processos mentais,

passando a lidar não somente com signos externos, mas também com signos

internalizados.

Segundo Diament (2006):

No processo de aprendizagem, o sistema nervoso central é o órgão que por meio dos

sentidos, percebe, analisa, compreende, armazena, elabora e exprime informações:

evidentemente, esse processo exige outras funções como a da atenção, as percepções

visual, auditiva, tátil-cinestésica, além da memorização, planificação e

psicomotricidade. Esse processo difere do processado pelo animal, em que o

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condicionamento é predominante, adquirido arbitrário e circunstancialmente, sem

refletir planificação, previsão ou seleção e pelo qual nenhum animal transmite novos

comportamentos para outros de sua espécie (DIAMENT, 2006, p. 417).

Faz-se necessário compreender que o cérebro, base orgânica da atividade

psíquica, não é um sistema fixo e imutável, mas sim, um sistema aberto, de grande

plasticidade, flexibilidade cuja estrutura de funcionamento é moldada ao longo da

história da espécie e do desenvolvimento social, capaz de permitir que uma

operação puramente intelectual substitua um processo sensorial prejudicado.

(VYGOTSKY, 1987; LURIA, 1976).

Luria (1986) afirma que Vygotsky, ao trabalhar com as pessoas com

deficiência, concentrou a atenção nas habilidades que essas pessoas tinham, pois

entendia que tais habilidades poderiam dar aportes para o desenvolvimento das

capacidades de tais indivíduos.

Vygotsky (1986), apud Van der Veer (2001) afirma que:

O desenvolvimento da criança deficiente deveria ser buscado nas funções

psicológicas superiores (memória, imaginação e pensamento), pois diferentemente

das funções inferiores elas dependem menos dos fatores orgânicos e mais de fatores

culturais e sociais, os quais podem ser ajustados”. Assim, a compensação de um

defeito orgânico poderia ser encontrada na aprendizagem de conceitos adquiridos no

coletivo. (VAN DER VEER; VALSINER, 2001, p.88)

Figura 1 - O poder da mente humana Fonte: domínio público o poder da mente. Acesso em: 25 abr. 2010.

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Dentro do nosso organismo, mais especificamente em nosso cérebro, existe

uma numerosa interconexão. É por meio desta que internalizamos os sentidos,

classificando as imagens e padronizando assim o pensamento e subsequente a

ação.

Transpondo essa colocação para o foco desta pesquisa, pode-se supor que,

com o aumento das conexões neuronais, da mudança morfológica e funcional das

estruturas neuronais que ocorrem devido à plasticidade cerebral1, poderão os jogos

– através de seu colorido, das sensações, das interações do processo de

estimulação – ter impacto em suas capacidades cognitivas, ativando redes cerebrais

envolvidas neste processo.

Segundo Vygotsky (1995), apud Garcia (1999),

Uma criança cujo desenvolvimento esteja complicado por uma lesão ou alteração

cromossômica, não é menos desenvolvida que as crianças consideradas normais de

sua idade. Ela não se desenvolve em menor escala, mas desenvolve-se de outra

forma e há sempre a possibilidade de desenvolvimento e transformação (GARCIA,

1999, p.43).

Neste sentido, adquire-se o conhecimento por um processo de construção,

ou melhor, por autoconstrução que deve ser organizada de modo a desafiar o

pensamento da criança, gerando conflitos cognitivos que a façam repensar e

reorganizar para alcançar novas respostas.

O cérebro em Luria (1981), apud Fonseca (1995) é estudado como um

conjunto funcional capaz de receber, armazenar, programar, planificar, decidir, auto-

regular funções distribuída por três níveis (blocos) de organização:

O primeiro constando da medula e do tronco cerebral, que é responsável pela

atenção, vigilância, regulação e controle da homeostasia.

O segundo composto pelos hemisférios cerebrais nos lóbulos occipital (visual),

temporal (auditiva) e parietal (tátil-cinestésica), responsável pela análise-sintese,

codificação, armazenamento, registro, organização, combinação e associação

intersensorial.

Por último, o terceiro bloco, o lóbulo frontal, é responsável pela formação de

intenções e programas de conduta, como a linguagem e o movimento ideacional,

além de assegurar com o tronco cerebral e auto-regulação (feedback) necessária para

as pertinentes adaptações que o envolvimento exige (FONSECA, 1995, p.13-14).

1 Plasticidade cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do sistema nervoso central – sua

habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e com o a adaptação a condição mutante a e estímulos repetidos (LUNA et al., 2002).

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Embora Luria (1981) tenha dividido e cérebro em três unidades funcionais,

confirma que as três não trabalham isoladamente, não sendo possível encarar a

percepção ou a memória como sendo exclusivamente organizadas na segunda

unidade, nem a organização da motricidade apenas na terceira unidade.

Segundo Fonseca (1995), o cérebro como um sistema funcional complexo, é

um conjunto dialético de outras complexidades, é uma complexidade que resulta de

outras.

Existem particularidades na forma de aprender e se desenvolver, bem como

nos recursos necessários para aprendizagem, pois há sempre a possibilidade de

desenvolvimento e transformação, para assim entender a pessoa com deficiência

não pelo aspecto de sua incapacidade ou limitação, mas pelo aspecto de suas

potencialidades, competência, desempenho para desenvolver-se, respeitando-se às

características próprias inerentes a cada pessoa.

A dinâmica do comportamento humano compreende a interconexão de

múltiplas redes de informação dispersas pelo corpo: periféricos (pele, músculo,

articulação e vísceras) e centrais (mielencefálicas, metencefálicas, mesencefálicas,

diencefálicas e telencefálicas), que retratam a existência de um sistema sensorial na

base do desenvolvimento e da aprendizagem. As sensações como puras

informações integradas, devem estimular e ativar, em um todo funcional, as células

nervosas iniciando o processo neurológico que culmina nas respostas macro, micro,

oro e grafo motores. Trata-se de uma complexa integração e associação

intraneurossensorial que reflete a tendência evolutiva do processo informativo.

(LURIA, 1966).

O processo de construção do conhecimento evoca que as sensações devem

integrar-se em esquemas de ação, o que requer a participação da percepção e a

estruturação das representações mentais. Desse modo, o homem tem a capacidade

de agir sobre o mundo, acomoda-se a ele, diferencia-se qualitativamente, e não

apenas captá-lo passivamente. As sensações encontram-se na base do processo de

construção do conhecimento, e são conduzidas centripetamente ao cérebro, e não

mais a outros órgãos. (LURIA, 1980).

Neste sentido, de acordo com Fonseca (1995), a aprendizagem é

efetivamente o comportamento mais importante dos animais superiores; em si

compreende a mudança de comportamento resultante da experiência. A

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aprendizagem constitui uma resposta modificada, estável, durável, interiorizada e

consolidada no cérebro do indivíduo.

Fonseca (1995, p.40), ressalta que a aprendizagem envolve “complexos

processos neurológicos, nomeadamente reações químicas, atividades bioelétricas2,

arranjos moleculares nas células nervosas e gliais3, eficiência sináptica4, redes

interneurais5, metabolismo protéico6, mielinização7, ramificações dendríticas8, etc.,

que coloca a imediatividade da experiência social.”

Assim, as informações são transformadas, processadas e armazenadas no

sistema nervoso central através das sinapses e a cada novo estímulo, nova

necessidade de interação, novos circuitos neurais são ativados e,

conseqüentemente novas sinapses são formadas.

Neurônio conectado via sinapses:

Figura 2 – Sinapses Fonte: Brasil - Ministério da Educação>. 2008/09. Disponível em:

http://www.portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovir>. Acesso em: 25 abr. 2010.

2 Atividade codificadora do cérebro através da qual os humanos constroem a linguagem, a cultura, o símbolo, ou

seja, transdução dos dados da realidade externa em vida mental, em atividade neuronal (ANTUNHA, 2001, p.119).

3 Células do tecido conectivo do sistema nervoso, também conhecida por neuroglia, servem para apoio e

proteção do tecido nervoso. (COHEN; WOOD, 2002, p.146). 4 Sinapse junção entre dois neurônios ou entre um neurônio e um efetor para transmitir o impulso nervoso.

(COHEN; WOOD, 2002, 482). 5 Os neurônios retransmitem a informação dentro da parte central do sistema nervoso (COHEN; WOOD, 2002,

p.148). 6 Metabolismo são processos físicos e químicos pelos quais um organismo é mantido. (COHEN; WOOD, 2002,

p.478). Protéicas são proteínas completas que contém todos os aminoácidos essenciais. (COHEN; WOOD, 2002, p.381).

7 Mielina é o material gorduroso que recobre e isola os axônios de alguns neurônios (COHEN; WOOD, 2002,

p.478), 8 Fibra de um neurônio que conduz impulsos em direção ao corpo da célula (COHEN; WOOD, 2002, p.471).

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Pensar em como o cérebro aprende é uma incógnita da ciência atual e,

segundo Fonseca (1995, p.85), “para aprender é necessário perceber, compreender,

analisar, armazenar, elaborar e exprimir informação”, ou seja, um processo

fundamental na vida do ser humano.

Ressalta-se ainda que para Stirling (1978), apud Fonseca (1995) a

aprendizagem:

Não pode ser vista como uma mera acumulação de conhecimentos ou aquisições,

mas como uma construção ativa e uma transformação das idéias, uma

modificabilidade cognitiva estrutural, um processamento de informação mais

diversificado, transcendente e plástico, consubstanciando a função de facilitação e

de mediatização intencional do professor (FONSECA E SANTOS, 1991 e 1992).

Ainda para Vygotsky (1999) apud Oliveira (1993), a aprendizagem é: “Um

processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores,

etc., a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente, as outras pessoas”

(OLIVEIRA, 1993, p.57).

Para aprender, os seres humanos colocam em interação: seu organismo

individual herdado, seu corpo construído especularmente, sua inteligência

construída na interação com outros seres humanos e seu desejo que está sempre

relacionado ao desejo do outro ser humano, ou seja, para aprender são necessários

além de dois personagens (quem ensina e quem aprende), um vínculo que se

estabelece entre ambos, sendo que é no íntimo deste vínculo humano que se

processa a aprendizagem.

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3 ALFABETIZAÇÃO

Dentre os inúmeros objetivos que a escola busca concretizar, a

alfabetização do deficiente intelectual é uma das principais metas, principalmente

para os pesquisadores que buscam caminhos e metodologias diferenciadas para

que o aluno deficiente intelectual possa ser alfabetizado, vencendo barreiras e

sendo oportunizado a aprender e avançar em seu desenvolvimento cognitivo, afetivo

e social, abrindo novos caminhos que aumentam a capacidade do cérebro processar

o conhecimento por intermédio de suas funções neuropsicológicas.

Segundo os Fundamentos Teóricos Metodológicos da Educação Especial, a

alfabetização deverá ser entendida como um processo progressivo e dinâmico de

apropriação da linguagem escrita, que se dará pela interação do aluno com outras

pessoas, resgatando o conhecimento que o mesmo já adquiriu da língua, utilizando

suas experiências anteriores e simultâneas à escola.

Para Freire (1996), a alfabetização é a aquisição da língua escrita, por um

processo de construção do conhecimento, que se dá num contexto discursivo de

interlocução e interação, um processo histórico, tanto a nível ontogenético9 como

filogenético10. (FREIRE, 1996, p. 59).

Neste sentido, a escrita poderá ser adquirida pelo deficiente intelectual, se a

ambiente em que ele estiver for favorável ao seu desenvolvimento.

Segundo Luria (1992), no que diz respeito ao desenvolvimento da escrita,

salienta que ela passa por uma série de estágios específicos antes de atingir um

nível adequado de desenvolvimento. Para ele, escrever é uma das funções culturais

típicas do comportamento humano. Em primeiro lugar, pressupõem o uso funcional

de certos objetos e expedientes como signos e símbolos. Em vez de armazenar

diretamente alguma idéia em sua memória, uma pessoa escreve-a, registra-a

fazendo uma marca que, quando observada, trará de volta à mente a idéia

registrada. A acomodação direta à tarefa é substituída por uma técnica complexa

que se realiza por mediação. Quando uma criança entra na escola, ela já adquiriu

9 Ontogenêse – série de transformações sofridas pelo ser vivo desde a fecundação do ovo até o ser perfeito.

(SILVEIRA BUENO, 2000, p.554). 10

Filogênese: refere–se ao desenvolvimento de uma espécie, no caso do “homo sapiens”, e diz respeito às suas características peculiares, a capacidade de se adaptar as mais diversas situações, e a possibilidade de aprender novos comportamentos (VYGOTSKY, 1991)

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um patrimônio de habilidades e destreza que a habilitará a aprender a escrever em

um tempo relativamente curto.

Para Vygotsky (1984), a escrita é concebida como uma representação da

realidade simbólica. É a continuação de diversas outras atividades simbólicas como

o gesto, o desenho, o brinquedo. Ela aumenta a capacidade de memória,

proporciona diferentes momentos para organizar a ação e estabelecer uma nova

forma de acessar o patrimônio da cultura humana. O ato da leitura e da escrita

permite ao indivíduo o pensamento e a expressão de suas idéias, opiniões e

sentimentos.

Tanto Vygotsky (1991) quanto Luria (1988) consideram que a escrita, além

de permitir fazer coisas novas, transforma a fala e a linguagem em objeto de

reflexão e análise.

A leitura e a escrita é um processo cognitivo e faz parte da vida do ser

humano, mas a busca por seu desenvolvimento depende de como ele acontece.

Devendo-se procurar caminhos alternativos que possam possibilitar o aprendizado

da leitura, respeitando o tempo e ritmo de cada um e a superação de suas próprias

limitações, podendo ser encaminhado através de situações concretas significativas,

aliando o uso de recurso tecnológico, mais especificamente o computador,

atendendo as especificidades de cada um e assim contribuir no seu processo de

alfabetização. Para elucidar esta constatação podemos citar Leontiev (1991), que

afirma que ao colocar crianças com deficiência intelectual em condições adequadas

para aprender, utilizando métodos especiais de ensino, é possível que alcancem

progressos notáveis e consigam até mesmo superar seu próprio atraso.

O momento requer uma nova forma de pensar e agir para assim lidar com a

rapidez e abrangência de informações bem como com o conhecimento.

Segundo Basso:

[...] O uso do computador utilizado como meio de interação social, onde os riscos e

os desafios são constantes, o conflito cognitivo e o apoio recíproco entre os pares se

fazem presente, é um meio de se desenvolver culturalmente a linguagem e propiciar

que a criança construa seu próprio conhecimento (BASSO, 2004, p.5).

Embora a tecnologia seja um componente de uma cultura bastante

expressiva e esteja presente em nosso dia-a-dia, precisa ser devidamente

compreendido em seu uso no processo ensino-aprendizagem, trazendo ao ato de

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estudar uma nova motivação, permitindo assim o professor integrá-la a sua prática

pedagógica. Muitas vezes este recurso acaba sendo integrado de forma

equivocada, apenas como instrumento, de forma agregada, e não vista como uma

possibilidade com sentido e funcionalidade no processo de construção do

conhecimento e compreensão da realidade, anunciando novos caminhos para a

construção de uma cidadania democrática, participativa e responsável.

A tecnologia é um instrumento capaz de aumentar a motivação dos alunos, se a sua

utilização estiver inserida num ambiente de aprendizagem desafiador, Não é por si

só um elemento motivador. Se a proposta de trabalho não for interessante, os alunos

rapidamente perdem a motivação (SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA,

1998, p.157)

Nesse aspecto, uma atividade motivadora deve ser associada a práticas

pedagógicas e metodológicas capazes de ultrapassar e ampliar diversidades de

atividades processando informações e, por conseguinte, novas construções de

conhecimento. Assim,

Tecnologia e conhecimentos integram-se para produzir novos conhecimentos que

permitam compreender as problemáticas atuais e desenvolver projetos em busca de

alternativas para a transformação do cotidiano e a construção da cidadania

(ALMEIDA, 2005, p.41)

Valente (1999), destaca que o computador armazena, ampara representa e

transmite informações. Estas informações possibilitam ao aluno a construção do

conhecimento à medida que recebe as informações que são memorizadas e

processadas pelos esquemas mentais. Quando o aluno está diante de um desafio

ou problema que precisa ser resolvido, ele busca um novo conhecimento. Caso o

aluno não obtenha conhecimento suficiente, busca outras informações que são

unidas ao conhecimento existente possibilitando ao aluno a execução de sua tarefa.

Sabe-se que fatores ambientais contribuem e interferem no nível de

inteligência e na capacidade de aprendizagem dos indivíduos e que, a interação com

o computador facilita através da ativação de funções da zona de desenvolvimento

proximal ao alcance de níveis mais elevados de desenvolvimento real, incorporando

significados, curiosidade, autonomia e variadas formas de aprender.

Concordando com Vygotsky (1991), quando diz que um novo objeto de

estudo exige novos métodos. O uso do computador no processo educativo exige de

nós educadores uma nova abordagem, cabendo então levantarmos algumas

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questões: Até que ponto os professores acreditam no potencial e na importância das

Tics (Tecnologia de Informação e Comunicação) no processo de alfabetização do

deficiente intelectual? De que forma pode-se usar este recurso com sentido e

significado? Que contribuições pode o computador promover na modificação da

prática pedagógica? Como ajudar os alunos deficientes intelectuais, orientá-los e

levá-los a novas oportunidades de ensino, procurando estimular suas

potencialidades?

Para responder as questões que norteiam este estudo, sob a perspectiva da

abordagem sócio-cultural, Ribas e Moura (2006), consideram:

A abordagem sócio-cultural enfatiza que a atividade humana é mediada e nela tem

sido investigado o desenvolvimento humano dentro das práticas culturais dos

grupos, que supõem o uso de diferentes formas de mediação. A partir desta

orientação, entende-se que os mediadores- instrumentos, signos, práticas culturais

são carregadas de significação cultural. (RIBAS; MOURA, 2006, p.130).

Este paradigma tecnológico inovador vem a cada dia desafiar educadores

para uma aprendizagem significativa e relevante, a fim de superar os processos

repetitivos e acríticos. Propõe múltiplas dimensões no processo ensino

aprendizagem e, neste sentido, será possível criar ambientes ricos de aprendizagem

a fim de que possamos abandonar o imprinting11, acreditando e recriando a prática

em ambientes desafiadores que neutralizem tais imprintings e levem a construção

de alternativas que contribuam na alfabetização do aluno com deficiência intelectual

frente à tecnologia priorizando uma educação com qualidade e equidade.

11

Marca original irreversível impressa no cérebro. (MORIN, 1999, p.50),

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4 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

Para a realização deste estudo optou-se por uma abordagem qualitativa, que

segundo Meksenas (2002, p.118) é o método que propicia ao pesquisador uma

análise compreensiva de uma unidade social significativa, haja vista que os alunos

especiais demandam oportunidades educativas diferenciadas e adequadas para o

processo de aprendizagem.

Sob a ótica do estudo, participarão da pesquisa alunos na faixa etária entre

7 e 12 anos, diagnosticados com deficiência intelectual, da Escola de Educação

Especial Josephina Wendling Nunes – APAE de Campo Mourão, PR, divididos em

duas turmas, uma no período Matutino e outra no período Vespertino bem como a

participação das professoras das referidas turmas, com a utilização do laboratório de

informática da própria escola, contando com o apoio e assessoramento da

professora do laboratório.

Os alunos que serão atendidos nesta pesquisa se encontram em fase inicial

de alfabetização, no reconhecimento de vogais e consoantes. O que se pretende é

que os conteúdos ministrados em sala de aula possam ser contextualizados e

aprimorados com o uso de diferentes recursos que, neste caso, é o computador,

para assim potencializar a ação educativa. Como enfatiza Vygotsky (1978), "todo

desenvolvimento e aprendizagem humanos é um processo ativo, no qual existem

ações propositais mediadas por várias ferramentas".

A implementação deste estudo dar-se-á entre os meses de agosto a

dezembro de 2010, com duração de 32 horas aula, compreendidas em atividades no

laboratório de informática, sendo 16 horas para cada turma, atendidas

individualmente, com duração de uma hora cada aula. Este tempo justifica-se ao fato

de que é o tempo comumente utilizado por todas as turmas que freqüentam o

laboratório de informática e também devido ao fato de não apresentarem tolerância

para permanecer maior tempo em uma atividade.

Com o software especialmente selecionado, as atividades no computador

permitem repetir exercícios, sistematizar e alterar o nível de dificuldade,

disponibilizando resultados e oferecendo motivação aos alunos.

Para Lévy (1999), o modelo digital projeta sobre a tela uma nova forma de

escritura, sugerindo um novo modelo mental interativo, explorável, móvel,

modificável, articulado sobre mil reservas de dados.

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Nesse sentido, as ações que se pretende realizar serão direcionadas para

atividades no computador e algumas atividades impressas para que o aluno possa

vivenciar diferentes meios de resolvê-lo, atribuindo significados diferentes.

A seguir serão apresentadas algumas telas demonstrativas dos jogos

educativos que serão utilizados na implementação deste estudo e o CD com os

jogos encontra-se em anexo.

Figura 3– Tela de abertura dos jogos

Figura 4 – Interface do jogo do alfabeto

Objetivo: Reconhecer a seqüência correta do alfabeto, arrastando as letras

em seus respectivos círculos.

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Figura 5- Encontre o alfabeto

Descrição: clique na ordem correta as letras do alfabeto minúsculo, para que

desapareçam.

Figura 6 - Nomeando figuras

Descrição: aprenda o nome dos objetos levando cada letra no seu devido

lugar.

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Figura 7 - Formando palavra

Descrição: arraste cada letra no seu espaço correspondente e forme a

palavra.

Figura 8 - Contornando as vogais cursivas

Descrição: cubra as vogais escolhendo uma cor para cada letra.

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Figura 9 - Memória de palavras

Descrição: encontre o animal e seu respectivo nome.

Figura 10 - Juntando as vogais

Descrição: junte as vogais e forme palavras.

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Os jogos foram idealizados pela proponente do estudo, com tarefas e regras

de interfaces simples, envolvendo vogais e consoantes de forma interativa, onde o

aluno possa experienciar as atividades propostas no computador, comparando-as

com as já vistas em sala de aula.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso da informática na educação especial proporciona a efetivação de

importantes mudanças nas práticas educativas, bem como, a oportunidade de

romper com os estigmas arraigados nas concepções dos segregados ou excluídos,

ou, ainda, daqueles que carregam consigo o rótulo de fracassados em seu entorno

social, familiar e educacional.

Em busca da superação, é imprescindível que a escola se aproprie das

novas formas de aprender e educar, de novos espaços de aprendizagem onde o

educando tenha oportunidade de descortinar as possibilidades de ver e entender o

mundo, buscando seu envolvimento emocional e afetivo. Com a intenção de

ultrapassar as propostas educacionais já constituídas, vislumbra-se que esta

modalidade computacional possa romper com as limitações do dia-a-dia, projetando

a descoberta, ressignificando-a, contextualizando-a com a sua prática, abrindo

espaços para que o "novo" possa mobilizar competências cognitivas e emocionais,

determinando novas formas de interpretar e representar o conhecimento.

O impacto tecnológico no âmbito da educação especial é um desafio para

todos os educadores, pois pressupõe um longo caminho a percorrer, ultrapassando

medos e limites, expandindo o olhar para novas aprendizagens, propiciando ao

aluno com deficiência intelectual inserir-se no contexto e no mundo, haja vista que o

processo de construção do conhecimento é pertinente ao aluno, e a ação docente

deve contemplar a instrumentalização de diferentes recursos a fim de promover

novas e diferentes maneiras de produzir esse conhecimento.

Reconhece-se com a sucessão de acontecimentos do mundo globalizado

que, a cada dia, a era da informática vem adquirindo maior relevância na vida das

pessoas e nos diferentes segmentos da sociedade. Sua utilização já é vista como

instrumento de aprendizagem, abrindo novos horizontes, auxilia a prática

pedagógica de maneira muito expressiva, estreitando cada vez mais as barreiras

entre normalidade e excepcionalidade, contribuindo estrategicamente para um

ensino aprendizagem em que não só os conteúdos são vislumbrados, mas também

a inclusão e a cidadania.

Torna-se necessário, nesse clima de mudanças e conquistas, oportunizar

aos educandos com deficiência intelectual a utilização de recursos tecnológicos

aliados ao processo ensino-aprendizagem, para que estejam inseridos na era

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computacional, exerçam seu direito à cidadania, e compreendam, assim, o contexto

social e histórico.

Nesse cenário educacional, percebe-se a necessidade de práticas

pedagógicas inovadoras capazes de possibilitar uma nova razão cognitiva, um novo

pensar, novos caminhos para construir o conhecimento, almejando vencer o

descompasso entre demandas sociais e as possibilidades de ações efetivas no que

diz respeito à utilização das tecnologias.

Para além desse contexto, o professor – como agente transformador – pode

promover uma modificação paradigmática e qualitativa em sua docência, ao

propiciar estratégias criativas e novas aprendizagens no processo de leitura e escrita

do deficiente intelectual.

Com a utilização de jogos interativos de alfabetização, o aluno sente o

prazer pela descoberta, percebe seus limites e possibilidades. Nessa perspectiva, o

professor precisa reconhecer a sua responsabilidade em trilhar uma gama de

estratégias pedagógicas capazes de comunicar, sintonizar e educar em nosso

tempo, evitando argumentos lineares que não permitam lidar com a diversidade de

informação e comunicação, impossibilitando que o aluno com deficiência intelectual

passe da condição de crisálida à de borboleta e alce voos rumo ao conhecimento,

ampliando, assim, suas redes de significações.

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