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Curso de Psicologia Geral a. R. Luria Volume 2

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Curso de psicologia GeralVolume 2

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A presente obra compõe-se de quatro volumes, a saber:I.  Introdução Evolucionista à PsicologiaII.  Sensações e PercepçãoIII. Atenção e MemóriaIV. Linguagem e Pensamento

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A, R. LuriaCurso de Psicologia GeralVolume II 2º Edição

Sensações e PercepçãoPsicologia dos Processos CognitivosTradução de PAULO BEZERRA

Revisão técnica deHELMUTH R. K RÜGER 

Professor de Psicologia daUFRJ e da UERJSociedade Unificada Paulista de Ensino renovado Objetivo – SUPERO data 13/01/98 Nº da chamada 159.9 – 1967c –2.ed.v.2 e.4 Nº de volume 14.019/99 registrado por LILIANE

civilização brasileira

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Título do original em russo: OSCHUSCHÊNIYA I VOSPRIYÁTIECapa: DOÜNÊ

Revisão:UMBERTO F. PINTO e NILO FERNANDES

1991Todos QS direitos reservados pela

EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.Av. Rio Branco, 99 - 20° andar 20040 Rio de Janeiro, RJ.TEL. (021) 263-2082 / TELEX (21) 33-798 / FAX (021) 263-6112Caixa Postal n? 2356 / 20010 Rio de Janeiro, RJ.Impresso no Brasil Printed in Brazil 

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SUMÁRIOI — SENSAÇÕES  1O problema  1A sensação como fonte de conhecimento  2Teorias receptora e reflectora das sensações  6

Classificação das sensações  8Classificação sistemática da sensações  9Tipos de sensações exteroceptivas  14Interação das sensações e o fenômeno da sinestesia 15

 Níveis de organização das sensações  18Medição das sensações. Estudos do limiar absoluto das sensações21Estudo da sensibilidade relativa (diferencial)  27Variação da sensibilidade (adaptação e sensibilização) 29

II — PERCEPÇÃO  37A atividade perceptiva do homem. Características gerais 37Percepção tátil  45

Formas simples de percepção tátil  45Formas complexas de percepção tátil  49Percepção visual  54Estrutura do sistema visual  55Percepção das estruturas  61Percepção dos objetos e situações  64Fatores determinantes da percepção de objetos complexos 68

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Métodos de estudo da percepção visual falsa 72Desenvolvimento da percepção material 75Patologia da percepção material 77Percepção do espaço 82Percepção auditiva 86

Bases fisiológicas e morfológicas da audição 86Organização psicológica da percepção auditiva 89Patologia da percepção auditiva 93Percepção do tempo 96

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ISensaçõesO problemaAs SENSAÇÕES constituem a fonte básica dos nossos conhecimentos atinentes ao mundo exterior eao nosso próprio corpo, Elas representam os principais canais, por onde a informação relativaaos fenômenos do mundo exterior e ao estado do organismo chega ao cérebro, permitindo aohomem compreender o meio ambiente e o seu próprio corpo. Se esses canais estivessemfechados e os órgãos dos sentidos não fornecessem a informação necessária, nenhuma atividadeconsciente seria possível.Há fatos conhecidos segundo os quais o homem, privado da afluência constante de informação,cai em estado de sonolência. Esses casos se verificam quando o homem perde subitamente avisão, a audição e o oifato e quando suas sensações táteis são limitadas por algum processo

 patológico. /

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Obtém-se resultado semelhante quando, durante algum tempo, coloca-se o homem numa câmaraà prova de som e luz, que o isola do contato com o mundo exterior e ele se mantém na mesma

 posição (deitado) durante certo tempo. Essa situação a princípio provocava sono, tornando-semais tarde dificilmente suportável para os sujeitos experimentais*.Inúmeras observações demonstraram que a interrupção da afluência de informação na tenrainfância, suscitada por surdez e cegueira, provoca bruscas contenções do desenvolvimento

 psíquico. Se as crianças que nasceram cegas e surdas ou perderam a audição e a visão em idadetenra não receberem educação por métodos especiais, que compensem esses defeitos à custa dotato, tornar-se-á impossível seu desenvolvimento psíquico normal e elas não conseguirãodesenvolver-se com autonomia.

  A sensação como fonte da conhecimentoAs sensações permitem ao homem perceber os sinais e refletir as propriedades e os indícios dosobjetos do mundo exterior e dos estados do organismo. Elas ligam o homem ao mundo exterior e tanto representam a fonte principal do conhecimento quanto a condição fundamental dodesenvolvimento psíquico do indivíduo.

 No entanto, apesar da evidência dessa tese, essa afirmação fundamental foi reiteradamente postaem dúvida na história da filosofia idealista.

Os filósofos idealistas expressavam freqüentemente a idéia segundo a qual a fonte autêntica danossa vida consciente não é constituída pelas sensações mas pelo estado interior da consciênciae pela capacidade do conhecimento racional, que são dados pela natureza e independentes daafluência da informação que chega do mundo exterior.Essas concepções serviram de base à filosofia do "ra-cionalismo" (eles tiveram expressãonítida em Cristían* Em testes psicológicos empregaremos sempre o termo "sujeito", subentendendo "sujeito experimental". (N, do T.)2

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Wolf, filósofo racionalista alemão). A essência dessa filosofia consiste em que os processos psíquicos não são um produto do complexo desenvolvimento histórico e seus adeptosinterpretavam erroneamente a consciência e a razão não como o resultado de uma complexaevolução histórica mas como uma propriedade primária e inexplicável do "espírito" humano. Éfácil perceber que todos os dados da ciência moderna, antes referidos, rejeitam radicalmenteessa tese.Mas os filósofos idealistas e psicólogos a eles afetos tentaram reiteradamente refutar uma teseque pareceria evidente — a tese segundo a qual as sensações colocam o homem em contato como mundo exterior— e demonstrar uma tese oposta e paradoxal, segundo a qual as sensações

 separam o homem do mundo exterior por serem uma muralha intransponível entre ele e essemundo.Essa tese partiu de filósofos idealistas como G. Ber-keley, D. Hume e E. Mach e psicólogoscomo H. Heimholtz e Johannes Müller, que formularam a teoria da "energia específica dosórgãos dos sentidos".Segundo essa teoria, os órgãos dos sentidos (o olho, o ouvido, a língua e a pele) não refletem ainfluência do mundo exterior nem informam acerca dos processos reais que ocorrem no meioambiente, limitando-se a receber das ações exteriores os impulsos que lhes estimulam os seus

 próprios processos. Para essa teoria, cada órgão dos sentidos possui sua própria "energiaespecífica", que é estimulada por qualquer ação procedente do mundo exterior. Assim sendo, basta: pressionar o olho, agindo sobre ele através de choque elétrico, para ele ter a sensação deluz; é bastante uma ex-citação mecânica ou elétrica do ouvido para surgir a sensação do som.Logo, os órgãos dos sentidos não refletem as influências exteriores mas são apenas excitados

 por elas' e o homem não percebe os objetos do mundo exterior mas somente os seus própriosestados subjetivos, que refletem a atividade dos órgãos dos sentidos. Noutros termos, istosignifica que os órgãos dos sentidos não põem o homem em contato com o mundo exterior mas,ao contrário, o separam deste. Percebe-se facilmente que essa teoria levou à afirmação: "ohomem não pode perceber o mundo exterior e a única realidade são os processos subjetivos, querefletem a atividade dos órgãos dos sentidos, ,estes sim criadores dos 'elementos do mundo'subjetivamente perceptíveis".

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Todas essas teses foram tomadas por base da filosofia do "idealismo subjetivo", por afirmaremque o homem só pode conhecer a si mesmo e não dispõe de nenhuma prova de que existealguma coisa além dele. Essa teoria idealista recebeu o nome de "solipsismo" (do latim solus,só, e ipse, eu próprio: existo só [um] eu próprio).A teoria do idealismo subjetivo, inteiramente oposta às concepções materialistas da

 possibilidade de representação objetiva do mundo (particularmente a "teoria do reflexo" deLênin) foi a fonte de um profundo equívoco cuja essência se torna cada vez mais evidente comas sucessivas conquistas da ciência.O estudo atento da evolução dos órgãos dos sentidos mostra de modo convincente que, no

 processo de um longo desenvolvimento histórico, formaram-se órgãos especiais de percepção(órgãos dos sentidos ou receptores), que se especializaram em refletir tipos especiais de formasobjetivamente existentes de movimento da matéria (ou "energias"); receptores da pele, querefletem as influências mecânicas; receptores auditivos, que refletem as oscilações sonoras;receptores visuais, que refletem certos diapasões das oscilações eletromagnéticas, etc.Examinemos os dados atinentes à elevadíssima especialização dos órgãos receptores e aos tiposconcretos de movimento da matéria que cada um deles percebe.A tabela 1 apresenta dados gerais.

Vemos que entre todos os possíveis tipos de movimento da matéria, dispostos em ordem deredução do comprimento da onda e aumento do número de oscilações por segundo, apenasalguns são refletidos por aparelhos altamente especializados dos órgãos dos sentidos. Assim,ondas mecânicas de determinado diapasão são percebidas pela pele, provocando sensações detato ou pressão; oscilações sonoras com onda acima de 12mm de comprimento e freqüênciainferior a 20-30 oscilações por segundo e com onda de mais de 12mm de comprimento,freqüência superior a 30000 oscilações, não são percebidas, ao passo que oscilações sonorascom onda de 12-13mm de comprimento e freqüência de 20 a 20000 oscilações por segundo são

 percebidas pelo ouvi do humano e provocam sensações auditivas.4

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TABELA 1Característica das influências objetivas, dos aparelhos perceptivos e das sensações Processos Compri- Número de Órgão per- Sensação

 físicos mento dasondas emmm

oscilações por  segundo

cepíivo

mecânicos até 1,5 mil pele tátil

oscilações

sonoras acima de abaixo de ouvido in- auditiva12 12-13 20

20-20000terno

ultra-som abaixo de acima de

12 30000  — — ondas elétri- até 0,1 30.1012  _ — cas 0,1-0.004 8.10" pele calor  ondas lumino- 0.008-0.004 4.10" retina luz, cor  sas 0.004- 8.1014 8.1014- olhos .  — 

ondas radio- 0.00001 5.10"  —  —■

lógícas 0.0000008-0.0000005

4.10? 6.1010

Oscilações elétricas com onda de 0,lmm de comprimento e 30.1014 de freqüência também nãosão percebidas, embora a pele perceba como calor as mesmas oscilações com onda de 0.1 a0.004mm de comprimento e freqüência de 8.1014 oscilações por segundo. É sobretudointeressante o quadro que surge em relação à percepção das ondas sonoras: a retina do olhohumano percebe ondas sonoras de Ü.008-Q.OÜ4mm de comprimento com freqüência de 4.1014-S.10!4 oscilações por segundo, provocando sensações ■ de luzv e cor. No entanto ela não percebeondas luminosas de 0.004 a O.OOOOlmm de comprimento e freqüência de 8.10l4-5.1015

oscilações por segundo; as ondas radiológicas também não têm receptores especializados nem provocam sensação no homem. Uma análise atenta desses dados mostra que os nossos aparelhos

 perceptivos se especializaram em distinguir apenas algumas influências e continuam imunes aoutras influências. Isto tem fundamento biológico. Se a retina percebesse influência abaixo eacima do referido dia-5

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f  pasão, o homem perceberia o calor do seu próprio corpo como sensação visual e transformariaem sensações visuais as influências que para ele não têm importância biológica. O mesmo serefere ao funcionamento dos analisadores auditivos: se o homem percebesse com o ouvido

oscilações ultra-sonoras, suas percepções auditivas seriam acrescidas de muitos ruídosexcessivos que dificultariam a distinção de excitações sonoras essenciais para ele. ■É característico o fato de que os animais têm outros limites de sensações: o morcego, por exemplo, ao voar na escuridão e enfrentar obstáculos, o faz através do reflexode ondas ultra-sonoras, seu aparelho auditivo lhe serve de radar e ele percebe oscilações ultra-sonoras que o homem não percebe.Assim, na evolução dos organismos surgiram aparelhos especializados na percepção de diversostipos de movimento da matéria (diferentes "energias") e nós, em realidade, não possuímos"energias específicas dos órgãos dos sentidos" mas órgãos específicos que refletemobjetivamente diversos tipos de energia.O fato de que, quando estímulos inadequados ao olho ou ao ouvido agem sobre esses órgãos,surge uma sensação "específica" (visual ou auditiva), alude apenas à alta especialização desses

dispositivos perceptivos e à incapacidade de refletir as influências em cuja recepção eles nãosão especializados.Como veremos adiante, a alta especialização de diversos órgãos receptores se baseia não só nas

 peculiaridades da estrutura dos "receptores" periféricos (órgãos dos sentidos) mas também naelevadíssima especialização dos neurônios que integram a composição dos aparelhos nervososcentrais, aos quais chegam os sinais percebidos pelos órgãos periféricos dos sentidos. Este fatoserá novamente focalizado quando abordamos os tipos especiais de sensações.Teorias receptora e reflectora das sensaçõesFormou-se na Psicologia clássica a concepção segundo a qual um órgão dos sentidos (receptor)reage passivamente às influências dos estímulos sendo essa reação passiva6 

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constituída pelas sensações correspondentes. Chamava-se a essa concepção teoria receptoradas sensações, segundo a qual a sensação enquanto processo passivo se opunha ao movimentoque era visto como processo ativo.Hoje essa teoria é considerada inconsistente e refutada pela maioria dos estudiosos, que a elaopõem a concepção da sensação como processo ativo. Essa concepção serve de base a outrateoria, denominada teoria reflecto-ra das sensações.Ao examinar as sensações dos animais já observamos o fato de que estas não têm caráter 

 passivo, indiferente e que os animais distinguem ativamente entre as influências do mundoexterior somente aquelas de grande importância biológica para eles. Já dissemos que a abelhareage a cores mistas de modo bem mais ativo do que a cores puras; observamos que oesmerilhão reage aos cheiros de podre, ignorando os cheiros de relva e grãos, ao passo que o

 pato revela peculiaridades opostas em suas reações; o gato distingue ativamente o ruído do ratomas não reage aos sons do diapa-são que lhe são indiferentes. Este fato indica o caráter ativo e

 seletivo das sensações.Os fatos posteriores mostram que, em termos fisiológicos, a sensação não é absolutamente um

 processo passivo mas sempre incorpora à sua composição componentes motores.Assim, as observações realizadas pelo psicolólogo americano Neff, há mais de quarenta anos,

deram oportunidade para que nos convencêssemos de que, se observarmos pelo microscópio a parte da pele irritada por uma agulha, poderemos ver que o momento do surgimento da sensaçãoé acompanhado por reações reflectoras motoras dessa área da pele. Posteriormente, foiestabelecido através de inúmeras pesquisas que a composição de cada sensação é integrada por um movimento, às vezes em forma de reação vege-tativa (compressão dos vasos, reflexocutâneo-galvânico), às vezes em forma de reações musculares (virada de olhos, tensão dosnervos do pescoço, reações motoras do braço, etc).Foi estabelecido que as sensações complexas, que exigem a distinção ou identificação de umobjeto, são possíveis sem movimentos ativos. Assim, para distinguir, de olhos fechados, umobjeto, é necessário apalpá-lo ativamente; até indícios como os aspecto plano ou rugoso deum objeto,7 

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suas dimensões, etc, são percebidos apenas se a mão que os apalpa é ativa; as sensações quesurgem do objeto da superfície passiva da pele, são extremamente imperfeitas.O mesmo foi estabelecido em relação à percepção visual. Setchenov já indicara que, para

 perceber visualmente o objeto, é necessário que o olho o "apalpe". Ultimamente foi estabelecidoque cada percepção visual se realiza de fato com a participação ativa dos movimentos dos olhos,que às vezes têm caráter de grandes "movimentos de apalpaçâo", tomando às vezes o aspecto de

 pequenos movimentos dos olhos. Ainda abordaremos especialmente o fato de que a sensaçãoauditiva ocorre com a participação imediata dos componentes motores tanto no próprio aparelhoauditivo como no aparelho oral a ela relacionado. É sabido que para definir um som é necessáriocantá-lo e só neste caso o som será suficientemente preciso e separado dos sons semelhantes aele.Tudo isto mostra que as sensações não são absolutamente processos passivos, que elas têmcaráter ativo e a participação de componentes motores na sensação pode ser efetuada em nívelvariado, ocorrendo, às vezes, como processo rejlector elementar (por exemplo, na redução dosvasos ou das tensões musculares que surgem em resposta a cada excitação sentida), às vezescomo um complicado processo de atividade receptora intensa (por exemplo, durante a palpaçãoativa do objeto ou a contemplação de uma imagem complexa).

A teoria rejlectora das sensações consiste justamente em indicar o caráter ativo de todos esses processos.Ainda veremos a grande importância dessa teoria tanto para a teoria dos processos cognitivos dohomem quanto para a análise das mudanças que ocorrem na sensação e na percepção durante osestados patológicos do cérebro.Classificação das sensaçõesHá muito tempo costuma-se distinguir cinco tipos básicos (modalidades) de sensações,distinguindo-se o tato, o olíato, o paladar, a audição e a visão.8

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Para uma resposta suficientemente completa ao problema das modalidades principais desensações, devemos considerar que sua classificação pode ser feita pelo menos segundo dois

 princípios básicos: o princípio sistemático e o genético, noutros termos, pelo princípio damodalidade, por um lado, e pelo princípio da complexidade ou d& nível de sua construção, por outro.Classificação sistemática das sensaçõesAo distinguirmos os grupos maiores e mais importantes de sensações, podemos dividi-las emtrês tipos principais: sensações interoceptivas, proprioceptivas e extraceptivas. As primeirasreúnem os sinais que nos chegam do meio interior do organismo e garantem a regulação dasinclinações elementares; as proprioceptivas garantem a informação sobre o corpo no espaço e a

 posição do aparelho de apoio e movimento, assegurando a regulação dos nossos movimentos; asextraceptivas constituem o maior grupo e asseguram a recepção de sinais do mundo exterior,criando a base do nosso comportamento consciente.Examinemos separadamente os três tipos básicos de sensações.As sensações interoceptivas, que produzem sinais acerca do estado dos processos internos doorganismo, fazem chegar ao cérebro as excitações procedentes das paredes do intestino e doestômago, do coração e do sistema sangüíneo, bem como de outros órgãos viscerais. Esse grupo

constitui o grupo mais antigo e mais elementar de sensações. Os aparelhos receptores dessassensações estão dispersos nas paredes dos órgãos internos que acabamos de citar. Os impulsosque surgem passam pelos filamentos que integram parcialmente a composição do sistemavegetativo, particularmente a composição das colunas laterais da medula espinhal. O aparelhocentral, que recebe os impulsos interocep-tivos, é constituído parcialmente pelos núcleos dasformações subcorticais (núcleo mediai do tálamo ótico), parcialmente pelos órgãos do córtexantigo (límbico) do encéfalo. É a isto que se deve o fato de que as sensações interoceptivasestão entre as formas menos conscientes e mais9

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difusas e sempre conservam sua semelhança com os estados emocionais,O caráter elementar e difuso dessa modalidade de sensações manifesta-se no fato de que, naPsicologia, não existe uma classificação precisa desses fenômenos. Situam-se entre asinteroceptivas a sensação de fome, a "sensação de desconforto", que pode surgir como sintomainicial de doença dos órgãos internos, "a sensação de tensão" que surge com frustração de umanecessidade qualquer e "a sensação de calma" ou "conforto" que indica a satisfação dasnecessidades ou o desenvolvimento normal dos processos viscerais.Vemos que, em todos esses casos, as sensações interoceptivas se manifestam como o pontointermediário entre as sensações autênticas e as emoções; apesar de a Psicologia ainda ter estudado de modo muito insuficiente as manifestações subjetivas dessas sensações, incluindo-asno campo das "sensações obscuras", o conhecimento destas é necessário tendo em vista que asua mudança pode desempenhar papel decisivo para a descrição do "quadro interior da doença"que surge nos estados patológicos dos órgãos interiores e desempenha papel considerável nodiagnóstico das doenças interiores (A. R. Luria). Essas sensações não-conscien-tizadas podemmanifestar-se muito cedo, podendo sua expressão assumir formas originais: elas podemaparecer em forma de "pressentimentos" que o homem não pode formular, podem manifestar-senos sonhos que, às vezes, é como se anunciassem a doença que está em início (em essência, elas

apenas refletem mudanças que começaram cedo e foram pouco conscientizadas, ou seja,mudanças das sensações interoceptivas, que surgem em fases iniciais da doença). Elas semanifestam na mudança do estado de espírito e nas reações emocionais, provocando na criançafreqüentes manifestações singulares no comportamento. Sabe-se, por exemplo, que uma criançadoente, que ainda não tem consciência das mudanças interoceptivas, apresenta indícios demudança geral de comportamento, ou começa a acalentar e dar remédio a uma boneca "doente",refletindo deste modo mudanças em suas próprias sensações interoceptivas.A importância objetiva das sensações interoceptivas é muito grande: elas são fundamentais naregulação da balança dos processos internos de metabolismo ou daquilo a que se chamahomeostase dos processos de troca no organismo.10

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Os sinais que surgem por via interoceptiva provocam um comportamento voltado para asatisfação de inclinações ou para a eliminação dos estados de tensão ("stress") que podemmanifestar-se em decorrência de fatores que perturbam o funcionamento equilibrado dos órgãosinternos. Por isto a consideração das sensações interoceptivas desempenha papel decisivo na

 parte da medicina denominada "psicossomá-tica", que estuda a correlação dos processossomáticos e viscerais e dos estados psíquicos.Os mecanismos fisiológicos, com a participação da in-terocepção, foram minuciosamenteestudados por K. M. Bi-kov e V. N. Tchernigovsky, que descreveram os mecanismos daatividade reflectora condicionada, que surgem à base d« sensações interoceptivas.O segundo grande grupo é constituído pelas sensações proprioceptivas, que asseguram os sinaisreferentes à posição do corpo no espaço e, em primeiro lugar, à posição do aparelho de apoio emovimento no espaço. Elas representam a base aferente dos movimentos do homem edesempenham papel decisivo na regulação destes.Os receptores periféricos da sensibilidade proprioceptiva ou profunda encontram-se nosmúsculos e superfícies ar-ticulatórias (tendões, ligamentos) e apresentam formas de corposnervosos especiais (corpos de Paccini). As excitações que surgem nesses corpos refletem asmudanças que ocorrem na distensão dos músculos e na mudança da posição das articulações,

 passam pelos filamentos que compõem as colunas posteriores da substância branca da medulaespinhal. As excitações irrompem nas zonas inferiores dos núcleos de Holl e Burdach e, passando para o lado oposto, avançam, atingindo os nós subcorticais (do sistema talâmico-estriado) e terminando na região parietal do córtex do hemisfério, oposto (particularmente naregião pós-central) a Por isto o intervalo entre os condutores da sensibilidade proprioceptiva ou

 profunda, em qualquer ponto desta via (afecção das colunas posteriores dos núcleos de Holl eBurdach, das .vias con-dutoras ou do córtex da circunvoíução pós-central), sem perturbar asensibilidade superficial (tátil), leva a perturbações da sensibilidade proprioceptiva ou profundacujos sintomas são perfeitamente conhecidos pelos neuropatologistas. A pessoa doente não écapaz de determinar a posição do seu braço (ou perna) no espaço, sente às vezes indícios demudança do //

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"esquema do corpo" (o tamanho dos membros. ou do corpo começa a lhe parecer incomum, àsvezes imensamente grande). É natural que em decorrência da perturbação ou queda dasensibilidade proprioceptiva (ou profunda), ela comece a experimentar grandes dificuldades nosmovimentos: os impulsos que costumam partir dos receptores muscular-articula-tórios econstituem a base aferente dos movimentos, neste caso são perturbados e os movimentos,

 privados do apoio sensorial, tornam-se incontroláveis. Na fisiologia e psicofisiologia modernas, o papel da pro-priocepção como base aferente dosmovimentos nos animais foi detalhadamente estudado por A. A. Orbeli, P. K. Ano-khin; emrelação ao homem, o problema foi estudado por N. A. Bernstein.Ainda voltaremos à análise do papel da sensibilidade proprioceptiva na construção dosmovimentos quando examinarmos, em caráter especial, a psicofisiologia dos processos motores.O grupo de sensações, que indica a posição do corpo no espaço, tem entre seus componentesuma modalidade especial de sensibilidade, denominada sensação de equilíbrio ou sensaçãoestática. Os receptores periféricos dessas sensações estão situados nos canais semicirculares doouvido interno, que estão distribuídos em três superfícies mutuamente perpendiculares: olíquido que enche esses canais muda de posição dependendo da posição do corpo,

 particularmente da cabeça, excita células "capilares" específicas que se misturam sob a

influência do fluxo desse líquido (endolinfa) e, deste modo, anuncia as mudanças da posição dacabeça no espaço. A excitação, que surge como resultado dessas esti-mulações, é transmitidaatravés dos filamentos que compõem o nervo auditivo como parte especial deste (o chamadonervo vestibular) e se dirige às regiões têmpo-parietais do cór-tex cerebral e do aparelho docerebelo.Ao contrário dos aparelhos da sensibilidade sinestésica (profunda), os aparelhos dasensibilidade vestibular estão estreitamente relacionados com a visão, que também participa do

 processo de orientação no espaço. Por isto o constante vislumbramento de excitações visuais(por exemplo, quando se passa de carro ao longo de uma floresta densa) pode provocar asensação de perda do equilíbrio e enjôo. Sensação análoga (acompanhada da mudança doesquema12

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do corpo) pode ser provocada também durante um vôo com rápidas mudanças da posição docorpo no espaço. As mesmas perturbações da sensação de equilíbrio podem ser provocadastambém por processos patológicos, (inchações, por exemplo) localizados nas regiões têmporo-

 parietais do cérebro ou no cerebelo.O -terceiro — e maior — grupo de sensações é constituído pelas sensações exteroceptivas.Estas fazem chegar ao homem a informação procedente do mundo exterior e são o principalgrupo de sensações que colocam o homem em contato com o meio exterior. É justamente entreesse grupo que se situa o olfato, o paladar, o tato, a visão e a audição.Convencionou-se dividir todo o grupo de sensações exteroceptivas em dois subgrupos: assensações de contato e distância.Entre as sensações de contato, situam-se aquelas nas quais a ação que provoca a sensação deveser aplicada imediatamente à superfície de um corpo e ao respectivo órgão perceptivo. Oexemplo típico da sensação de contato pode ser visto no tato e no paladar. É perfeitamentecompreensível que os dois tipos de sensação possam ser provocados por ações à distância.Entre as sensações de distância, ao contrário, situam-se aquelas nas quais o estímulo provoca'sensações que atuam sobre os órgãos dos sentidos a partir de certa, distância. A estas pertencemo olfato, e especialmente a visão e a audição. O estímulo situado às vezes à grande distância do

sujeito (por exemplo, o som de uma campainha, a luz de uma lâmpada) pode provocar sensações mesmo que a fonte destas esteja distante e as respectivas ações (por exemplo, ondassonoras ou luminosas) devam percorrer uma grande distância antes de que possam atuar sobreos respectivos órgãos dos sentidos.A classificação de todos os tipos de sensações é representada no seguinte esquema:Sensações interoceptivasSensações proprioceptivasSensações exteroceptivas  — de contato(paladar, tato)de distância(olfato, visão, audição)13

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Tipos de sensações exteroceptivasComo se sabe, entre as sensações exteroceptivas situam-se as cinco "modalidades" acimareferidas: olfato, paladar, tato, audição e visão. Esta enumeração é correta mas não esgota oscinco tipos de sensibilidade.

 No entanto cabe acrescentar a essa relação duas categorias: as sensações intermediárias ouintermodais e os tipos não específicos de sensação.É fato notório que se o tato percebe sinais das influências mecânicas e a audição percebe sinaisdas ondas sonoras com uma freqüência de vinte-trinta a vinte-trinta mil oscilações por segundo,o homem é capaz de perceber oscilações de freqüência inferior à das ondas sonoras acimareferidas. Entre essas oscilações situam-se as vibrações cuja freqüência é calculada emaproximadamente 10-15 oscilações por segundo. Essas vibrações não são percebidas peloouvido mas pelos ossos (do crânio ou dos membros), enquanto que as sensações que percebemessas vibrações são denominadas sensibilidade vibrátil. O exemplo típico dessa sensibilidade éa percepção dos sons pelos surdos. Sabe-se que os surdos podem perceber a música mantendo amão na coberta do instrumento de som, percebendo os sons, às vezes, até por meio de vibraçõesdo piso ou de um móvel. Deste modo, a sensibilidade vibrátil é um exemplo de sensaçãointermodal, que ocupa posição intermediária entre a visão e o tato.

Outro exemplo de sensibilidade intermodal é a percepção de alguns cheiros agudos por sensações agudas de sabor, bem como de sons ultrafortes ou luz ultraforte; todas essas ações provocam sensações mistas, situadas entre as sensações táteis, auditivas ou visuais e assensações de dor que se difundem a filamentos sensoriais não específicos. Na neurologia essescomponentes não específicos dessas modalidades de sensibilidade são conhecidos como"trigeminais" do nervo trifacial cuja excitação é incorporada à sensação básica em caso deirritações superfortes.O segundo acréscimo à classificação comum das sensações exteroceptivas é a existência de uma

 forma não específica de sensibilidade. Essa "sensibilidade não específica" pode ser constituída pela fotossensibilidade da pele, que é a14

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capacidade de percepção dos matizes de cor pela pele da mão ou das pontas dos dedos. Osfenômenos da fotossensi-bilidade não específica foram descritos por A. N. Leontyev e outros.Esse autor realizou um estudo preciso no qual a superfície da mão recebeu luz colorida (verdeou vermelha), sendo que, neste caso, a temperatura dos raios luminosos foi igualada por umfiltro de água. Após várias centenas de combinações de determinado sinal colorido com oestímulo de dor, foi demonstrado que, sob a condição de uma orientação ativa do sujeito, era

 possível ensiná-lo a distinguir os raios luminosos pela pele da mão, embora essa distinção fossedúbia e difusa.A natureza da fotossensibilidade da pele continua obscura até hoje, embora se possa supor queela esteja relacionada com o fato de o sistema nervoso e a pele terem sido originados por umembrião de folha (ectoderma) e na pele possam encontrar-se elementos fotossensíveis difusos erudimentares que começam a agir com êxito sob condições especiais (particularmente sobexcitação elevada dos sistemas subcorticais, palâmicos).Existem formas de sensibilidade ainda não suficientemente estudadas às quais pertencem, por exemplo, o "sentido de distância" (ou o "sexto sentido") dos cegos, que lhes permite perceber àdistância o obstáculo que surge à sua frente. Há fundamentos para supor que a base do "sextosentido'' é a percepção das ondas de calor pela pele do rosto ou o reflexo das ondas sonoras do

obstáculo distante (essas ondas atuam à semelhança do radar). No entanto essas formas desensibilidade ainda não foram suficientemente estudadas, sendo ainda difícil falar dos seusmecanismos fisiológicos.

 Interação das sensações e o fenômeno da sinestesiaAlguns órgãos dos sentidos que acabamos de descrever nem sempre funcionam isoladamente.Eles podem estar em interação, podendo essa interação assumir duas formas.Por um lado, algumas sensações podem influenciar-se mutuamente, sendo que o funcionamentode um órgão do15

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sentido pode estimular ou reprimir o funcionamento de outro órgão do sentido. Por outro lado,existem formas mais profundas de interação sob as quais os órgãos dos sentidos trabalham emconjunto, condicionando uma nova modalidade materna de sensibilidade que em Psicologiarecebeu a denominação de Sinestesia.Examinemos. separadamente cada uma dessas formas de interação. Os estudos efetuados pelos

 psicólogos (particularmente o psicólogo soviético S. V. Kravkov) mostraram que ofuncionamento de um órgão dos sentidos não deixa de influir no processo de trabalho de outrosórgãos dos sentidos. Verificou-se, por exemplo, que a irritação sonora (um assobio, por exemplo) pode aguçar o trabalho da sensação visual, aumentando-lhe a sensibilidade aosestímulos luminosos. Assim alguns cheiros também influem, aumentando ou diminuindo asensibilidade sonora e auditiva. Ao que parece, semelhante influência de umas sensações sobreoutras ocorre no nível das regiões superiores do tronco cerebral e no tálamo ótico, onde osfilamentos que conduzem as excita-ções de diversos órgãos dos sentidos se aproximam,tornando possível uma realização perfeita da transmissão das excita-ções de um sistema a outro.Os fenômenos do estímulo mútuo e da inibição mútua do funcionamento dos órgãos dossentidos constituem um grande interesse prático em situações sob as quais surge a necessidadede estimular ou reprimir artificialmente a sensibilidade desses órgãos (por exemplo, nas

condições de vôo na hora do crepúsculo quando não há direção automática).Em Psicologia são bastante conhecidos os fatos da "audição colorida", que é acionada emmuitas pessoas e se manifestam com nitidez especial em alguns músicos (em Skryabin, por exemplo). Assim sendo, é fato amplamente conhecido que os sons altos são considerados"claros" enquanto os sons baixos são considerados "escuros". O mesmo ocorre eom os cheiros,

 pois, como é sabido, uns são considerados "claros" e outros, "escuros".Esses fatos não são casuais ou subjetivos; são regidos por lei, o que foi demonstrado pelo

 psicólogo alemão Horn-bosteí que sugeriu aos sujeitos uma série de cheiros e propôs compará-los a uma série de tons e uma série de tonalidades de luz. Os resultados foram muitointeressantes e de-16 

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monstraram uma grande permanência; o que foi mais importante porém é que os cheiros dassubstâncias cujas moléculas continham um grande número de átomos de carbono foramcomparados a tonalidades escuras enquanto que os cheiros das substâncias cujas moléculascontinham poucas moléculas de carbono foram comparados a matizes de luz. Isto mostra que asinestesia se baseia em propriedades objetivas (ainda não suficientemente estudadas) dosagentes que atuam sobre o homem.É característico que o fenômeno da sinestesia nem de longe se difunde em pessoas idênticas. Elese manifesta com nitidez especial nas pessoas de excitabilidade elevada das formaçõessubcorticais. Sabemos que ele predomina nos casos de histerismo, pode aumentar visivelmenteno período de gravidez e ser artificialmente provocado pelo uso de várias substânciasfarmacológicas (a mescalina, por exemplo).Em alguns casos, os fenômenos da sinestesia se manifestam com absoluta nitidez. Um dossujeitos com manifestação muito acentuada de sinestesia, o conhecido mnêmico S., foi estudadominuciosamente na Psicologia soviética (A. R. Luria). Esse homem percebia todas as vozescomo sendo coloridas e dizia freqüentemente que a voz da pessoa que a ele se dirigia era"amarela e dispersa". Os tons que ele ouvia lhe provocavam sensações visuais de diversosmatizes (de amarelo-claro a negro-prateado ou violeta). As cores percebidas eram por ele

sentidas como "sonoras" ou "surdas", como "salgadas" ou "estaladas". Semelhantes fenômenossão encontrados em formas mais obliteradas com muita freqüência como tendência direta a"pintar" os números, dias da semana, nomes dos meses em diferentes cores.O fenômeno da sinestesia representa grande interesse para a psicopatologia, onde a sua análise

 pode adquirir importância diagnostica.As formas descritas de interação das sensações são as mais elementares e parecem ocorrer 

 predominantemente no nível do tronco superior e das formações subcorticais. No entantoexistem formas mais complexas de interação dos órgãos dos sentidos ou, segundo Pavlov,analisadores. Sabe-se que, às vezes, quase não percebemos as irritações táteis, visuais eauditivas isoladamente: ao percebermos os objetos do mundo exterior, nós os vemos com osolhos, sentimos17 

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 pelo contato, às vezes lhes percebemos o cheiro e o som, etc. É natural que isso exige ainteração dos órgãos dos sentidos (ou analisadores) e é determinado pelo trabalho sintéticodeles. Esse trabalho sintético dos órgãos dos sentidos ocorre com a participação imediata docórtex cerebral e antes de tudo das zonas "terciárias" ou ("zonas de cobertura") nas quais estãorepresentados os neurônios pertencentes a várias modalidades. Essas "zonas de cobertura" (aelas já nos referimos) são as que asseguram as formas mais complexas de funcionamentoconjunto dos analisadores, as quais servem de base à percepção dos objetos. Adiante faremosuma análise psicológica das formas básicas de funcionamento desses analisadores.

 Níveis de organização das sensaçõesA classificação das sensações não se limita à descrição de sensações isoladas de "modalidades"diversas. Paralelamente à classificação sistemática das sensações, existe a classificação patético-estrutural, ou melhor existe uma relação com diferentes níveis de organização e a discriminaçãodas sensações que surgem em diversas etapas da evolução e tem uma estrutura de complexidadevariada.Quando antes nos referimos às sensações interoceptivas, observamos o caráter primitivo edifuso que se manifestava na sua semelhança com os estados emocionais e no fato de que édifícil distribuí-las em categorias isoladas precisas.

Passando às sensações exteroceptivas, tivemos oportunidade de observar também a diferença decomplexidade destas. Assim as sensações olfativas e gustativas têm caráter bem mais subjetivoe conservam uma relação bem maior com os estados emocionais (a sensação do agradável e dodesagradável) do que ás sensações visuais (particularmente as auditivas) que refletem os objetosdo mundo exterior, que podem ocorrer sem provocar obrigatoriamente problemas emocionais etêm caráter bem mais objetivo e diferenciado, refletindo a forma, as dimensões e a disposiçãoespacial dos objetos que atuam sobre o homem. Por último as sensações táteis têm duplocaráter, englobando tanto componentes primitivos, semelhantes aos problemasemocionaislê

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(por exemplo, a sensação do calor, do frio, de dor) quanto componentes complexos (sensaçãodas dimensões, da forma é da disposição dos objetos que atuam sobre a pele).Isto levou os estudiosos a discriminar duas formas ou dois níveis de sensação e, por sugestão doneurologista inglês H. Head, falar de sensações primitivas —  protopâticas e complexas — epicríticas.Por sensações protopâticas (do grego protos —■ tenro e patos — emoção) costuma-se entender as formas mais antigas de sensação que ainda não têm caráter objetivo diferenciado. Essassensações são separáveis dos estados emocionais e não refletem com a devida precisão osobjetos concretos do mundo exterior, têm caráter imediato, estão distante do pensamento é não

 podem ser divididas em categorias precisas que se possam designar com certos termosgenéricos. As sensações interoceptivas são o exemplo mais nítido dessa sensibilidade

 protopática.Por sensações epicríticas (do grego superior, superficial, suscetível de elaboração complexa)entendem-se os tipos superiores de sensação que não têm caráter subjetivo, estão separados dosestados emocionais, apresentam estrutura diferenciada, refletem as coisas objetivas do mundoexterior e estão bem mais próximos dos complexos processos intelectuais. Esse tipo de sensaçãosurgiu em etapas mais tardias da evolução e tem como exemplo mais patente as sensações

visuais.A sensibilidade protopática e a epicrítica têm organização cerebral diversa. Seus aparelhosnervosos centrais se localizam em diferentes níveis. Os aparelhos cerebrais da sensibilidade

 protopática estão localizados no nível do tronco superior, do tálamo ótico e do córtex límbicoantigo, ao passo que os aparelhos da sensibilidade epicrítica são representados nas áreasrespectivas do córtex visual, auditivo e tátil com sua organização complexa e suas zonas decobertura. Isto explica o fato de que as mudanças patológicas da sensibilidade protopática (por exemplo, o alto tônus emocional das sensações, a estreita ligação entre estas e as sensações dedor) surgem com a afecção do fálamo ótico e das paredes dos ventrículos cerebrais, ao passoque a perturbação da sensibilidade epicrítica manifesta-se como resultado de afecções locais dasrespectivas áreas do córtex cerebral.19

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Observações mostraram que no funcionamento de quase todos os órgãos dos sentidos háelementos da sensibilidade tanto protopática como epicrítica, embora isso se verifique emcorrelações diferentes. Assim sendo, nas sensações visuais os componentes protopáticos sãorepresentados pelo tono emocional das cores "frias" e "mornas", enquanto os componentesepicríticos são representados pela percepção de grupos de cores que podem ser designados pelosconceitos genéricos de "vermelho", "amarelo", "verde", "azul", etc. Ocorrência análoga nassensações auditivas, onde o tônus emocional do som pertence à sensibilidade protopática e seucaráter concreto (o som de uma campainha, das badaladas do relógio, etc.) se situa entre oscomponentes epicríticos.Os componentes protopáticos e epicríticos se manifestam com nitidez especial nas sensaçõestáteis. Os componentes protopáticos se manifestam acima de tudo nas sensações de frio e calor,que sempre são agradáveis ou desagradáveis, bem como nas sensações de dor quais oselementos das sensações quase não podem ser separados das manifestações emocionais. Oscomponentes epicríticos atuam na precisa localização de cada excitação, na discriminação dedois contatos simultâneos, na avaliação do sentido no qual se produz a irritação da pele (por exemplo, na irritação da pele numa direção distante ou próxima) e, por último, na complexaavaliação da forma dos riscos feitos na pele por via íátil. Os neuropatologistas conhecem

 perfeitamente todos procedimentos especiais que permitem distinguir o estado da sensibilidade protopática e epicrítica e os aplicam com êxito para revelar o nível em que se situa o foco patológico.As sensibilidades protopáticas e epicríticas não estão apenas descritas mas também separadasexperimentalmente uma da outra.O neuropatologista inglês Hed fez em si mesmo um teste clássico desta separação experimentaldas sensibilidades protopática e epicrítica. Com fins experimentais, ele cortou em sua própriamão uma ramificação de cada nervo sensível e observou o restabelecimento paulatino dasensibilidade que começava na medida em que crescia o corte central do nervo seccionado emdecorrência do seu corte periférico. Esse experimento permitiu a Hed estabelecer certa ordem derestauração da sensibilidade. Durante vários meses inexistiu inteiramente sensibilidade da pelena respectiva área da mão.

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Em seguida surgiram sensações vagas dificilmente localiza-veis, que apresentavam caráter emocional expresso e se situava no limite entre as sensações táteis e as de dor: era o período emque a sensibilidade protopática primitiva já começava a restabelecer-se e a complexasensibilidade epicrí-tica era capaz de localizar a irritação em determinado ponto da pele, dedistinguir a direção dessa irritação e suas formas. Nessa etapa mais tardia já se podia falar dorestabelecimento de uma sensibilidade mais nova — a epicrítica.Os experimentos de Hed tiveram grande importância teórica e prática. Mostraram que asensação engloba mecanismos construídos em diversos níveis, deram fundamento para umaclassificação genética das sensações que permitiram estabelecer uma série de indícios da

 perturbação da sensibilidade, que são de grande importância para o diagnóstico tópico dasafecções cerebrais.Medição das sensações. Estudos do limiar absoluto das sensaçõesAté agora nós nos detivemos na análise qualitativa de diferentes modalidades de sensação. Noentanto não é menos importante o estudo quantitativo, noutros termos, a medição das sensações.É sabido que os órgãos das sensações humanas são aparelhos que funcionam com uma precisãoimpressionante. O olho humano, por exemplo, pode distinguir um sinal luminoso de 1/1000velas a um quilômetro de distância. A energia dessa excitação é tão insignificante que seriam

necessários 60 mil anos para com ela aquecer um centímetro cúbico de água a 1°C. O ouvidohumano é tão sutil que se o duplicássemos poderíamos ouvir o movimento browniano das partículas. O nosso olfato e o paladar são capazes de sentir o cheiro ou gosto de uma partículade substância diluída um milhão de vezes.Surge, porém, um problema: como medir a sutileza das sensações (ou dos limiares absolutos dasensibilidade)? Que métodos podem ser aplicados para esse fim e em que unidades objetivas

 pode-se expressar a sutileza das sensações?21

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Há dois métodos básicos de medição das sensações: o primeiro deles é o método direto (oumétodo de avaliação subjetiva), o segundo, o método indireto (ou método objetivo de avaliaçãodos indícios da existência da sensação).O método direto (ou método das avaliações verbais das excitações) consiste no seguinte:

 propõe-se ao sujeito um determinado estímulo (um contato de pele, um som, uma luz) queinicialmente tem uma intensidade mínima que em seguida cresce paulatinamente. Propõe-se-lheresponder quando sentir a primeira respectiva sensação.Para medir a sensibilidade da pele, aplica-se um dispositivo especial denominado estesiômetro.A sutileza da sensibilidade auditiva se mede por meio de um gerador de som ou audiômetro, que

 permite definir sons de intensidade variada, ou por meio de um mecanismo mais simples noqual o som é provocado pela queda de uma pequena esfera de diferentes alturas.A sutileza da sensibilidade visual é medida por um instrumento que permite levar ao olho dosujeito, situado em ambiente escuro, um raio de luz de intensidade variada, começando com umde intensidade baixa ainda não percebida que aumenta paulatinamente.A sutileza das sensibilidades paladar e olfativa é medida por meio de dispositivos especiais que

 permitem anunciar ao sujeito crescentes excitações do paladar e do olfato, começando por dissoluções mínimas de uma substância saborosa ou cheirosa com aumento paulatino da

concentração dessas dissoluções.Variantes simples desses instrumentos são amplamente empregadas na prática clínica.O sujeito, com o qual se faz semelhante experimento, deve observar o momento em que elecomeça a perceber pela primeira vez o estímulo. A excitação mínima, inicialmente denominada

 sensação, que o sujeito ressalta no seu relatório verbal, denomina-se limiar inferior da sensação. O limiar inferior das sensações da sensibilidade tátil é expresso em bares (unidade de pressão), o limiar inferior da sensibilidade auditiva se traduz em decibéis (unidades deintensidade acústica), o limiar inferior da sensibilidade à luz mede-se em luxos (unidade deintensidade da'luz), etc. Quanto maior é a agudeza da sensibilidade tanto menor é o seu limiar,em outros termos, a agudeza da sensibilidade é inversamente pro-22

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 porcional aos índices do limiar inferior em unidades de intensidade do respectivo estímulo.I E = -, ■■ Psendo E a sensibilidade absoluta, P a grandeza do limiar inferior das sensações.Os índices dos limiares inferiores das diversas sensações não constituem uma grandezanitidamente "delineada". Existe toda uma faixa de influências mínimas nas quais o sujeito ora

 percebe, ora não percebe a presença do respectivo estímulo ou, por último, questiona que tenhahavido tal estímulo. Por isio adota-se como limiar inferior da sensação, habitualmente, umagrandeza na qual o número de respostas positivas, que indicam que o sujeito teve a respectivasensação, é superior a 50%. Este limiar é denominado limiar inferior estatisticamente autênticodas sensações.É característico que os limiares inferiores das sensações não continuam constantes, mudando nadependência de vários fatores: da habituação aos estímulos, do fundo inicial e das condiçõessuplementares que podem elevar ou reduzir a sensibilidade.Paralelamente aos limiares inferiores das sensações podemos discriminar os seus limiares

 superiores. Entende-se por limiar superior a grandeza máxima do estímulo além de cujoslimites o estímulo não é percebido ou começa a assumir um novo colorido, sendo substituído

 pelo estímulo doloroso.

Já dissemos que o ouvido humano pode perceber oscilações sonoras num diapasão de 20 a20000 oscilações por segundo, sendo que as baixas freqüências são percebidas como tons baixos e as altas como tons altos. Se apresentarmos ao sujeito sons com freqüências acima de20-30 mil oscilações por segundo (hertz-Hz), i.e., ultra-sons, ele não os perceberá. Assim, ossons situados além dos limites dos limiares superiores deixam de suscitar sensações.Por sua intensidade, os sons provocam sensações auditivas apenas em certos limites. Sons deintensidade inferior a 1 decibel podem não ser percebidos e constituem o limiar inferior dassensações, ao passo que os sons de intensidade superior a 130 decibéis começam a suscitar sensações dolo-23

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rosas e constituem o limiar superior das sensações auditivas.A mensuração dos limiares superiores e inferiores das sensações são de grande importância

 prática: ela permite distinguir as pessoas de sensibilidade reduzida de um ou outro analisador,enquanto o sintoma de redução da sensibilidade pode ser empregado para os diagnósticos daafecção (periférica ou central). Assim, a perturbação da sensibilidade tá-til pode ser sintoma deafecção situada na circunvolução central posterior do hemisfério oposto ou numa das etapas desuas vias condutoras. A redução da sensibilidade visual pode sugerir a afecção da retina, dasáreas centrais da via auditiva ou da região occipital (a redução da agudeza da visão, vinculada aocorrências de estagnação no fundo do olho, é freqüentemente um sintoma de aumento da

 pressão craniana interna, que surge nos casos de tumor no cérebro). A redução da sensibilidadeauditiva em um ouvido pode indicar afecção do receptor auditivo periférico (ouvido interno) ouum foco patológico na área temporal do hemisfério oposto. Neste caso é essencial o fato(descoberto por G. V. Gershu-nil, A. V. Baru e T. A. Karaseva) de que, nos casos de afecção dolobo temporal, cai acentuadamente no doente a sensibilidade aos sons breves (cuja duração é de1 a 5 milisse-gundos), ou seja, aumentam os limiares da percepção desses estímulos. Aimportância deste fato consiste em que ele é, amiúde, o único sintoma a indicar a afecção daregião temporal do cérebro.

 Não é menos importante a medição dos limiares superiores das sensações.Um exemplo do valor prático dessas medições é o estabelecimento de limiares superiores dassensações auditivas nas pessoas de audição difícil.É sabido que essas pessoas não percebem sons fracos. Poderia parecer que para a superaçãodesse defeito seria bastante aumentar a intensidade dos sons através de mecanismos deintensificação. No entanto, a intensificação desmedida dos sons que chegam aos duros deouvido logo começa a provocar sensações de dor, pois a "zona de conforto" (isto é, o diapasãoem cujos limites os sons começam a provocar sensações auditivas plenas) é neles muito restrita.Por isto a medição precisa dos limiares inferiores e superiores das sensações auditivas permiteindicar os limites nos quais se devem intensificar os sons para que estes conservem o efeito24

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necessário. É fácil perceber a grande importância que isto tem para a construção de aparelhos deintensificação do som.Até agora analisamos fatos obtidos com a mudança das sensações mediante a aplicação do

 primeiro dos referidos métodos, ou seja, o método da avaliação subjetiva das sensações (oumétodo do relatório verbal do surgimento ou desaparecimento das sensações). Existe,entretanto, uma segunda via de medição das sensações, através da aplicação de métodosobjetivos ou indiretos, noutros termos, mediante a avaliação dos indícios objetivos dosurgimento das sensações.Essa via é o resultado de pesquisas realizadas nos últimos decênios em Vários laboratórios

 psicofisiológicos e foi elaborada de maneira especialmente minuciosa pelos psicólogossoviéticos G. V. Guershuni, E. N. Sokolov, O. S. Vino-gradova e outros.Como já indicamos, as sensações não constituem um processo passivo, são sempreacompanhadas de uma série de mudanças dos processos vegetativos, eletrofisiológicos erespiratórios e são reflectotes por natureza. É este fato que permite usar as mudançasrejlectoras que acompanham as sensações como indicador objetivo da manifestação destas.É sabido que cada estímulo, que leva ao surgimento das sensações, provoca processos quesurgem por via reflec-tora como o estreitamente dos vasos, o surgimento do reflexo pele-

galvânico (mudança da capacidade de resistência elétrica da pele), mudança das freqüências daatividade elétrica do cérebro (antes de tudo o surgimento da depressão do alfa-ritmo, a virada doolho em direção ao estímulo, a tensão dos músculos do pescoço, etc.)Todos esses sintomas objetivos surgem quando o estímulo chega ao sujeito e provocasensações. São eles que podem ser usados como indicador objetivo do surgimento das

 sensações.Os testes realizados por pesquisadores mostraram que se propusermos ao sujeito um estímulomuito fraco, este não provoca nenhuma sensação e não se verificam as mudanças reflectorasdescritas. Se a intensidade do estímulo aumenta, ultrapassa os limites do limiar inferior ecomeça a provocar sensações, surgem mudanças objetivas nas reações vasculareseletrofisiológicas e musculares. É justamente por isto que o25

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 surgimento das mudanças descritas pode servir de indicador objetivo dos limiares injerioresda sensação.É digno de atenção o fato de que quanto mais intensivo é o estímulo tanto mais forte é a reaçãovascular e eletro-fisiológica que ele provoca. Isto dá fundamentos para empregar esses

 procedimentos com o fim de medir objetivamente a intensidade das sensações, o que foi muitodifícil quando se aplicaram apenas os métodos subjetivos.Cabe observar que as reações vasculares ou as eletro-fisiológicas a estímulos mal distinguíveis("pré-liminares") podem ser expressas de modo bem mais acentuado do que aos estímuloscomuns-bem perceptíveis. Este fato reflete objetivamente as dúvidas que o sujeito experimentaquando se lhe propõem excitações dificilmente perceptíveis è o fundo emocional em queocorrem as tentativas de distinguk nitidamente o estímulo dos sons neutros. Por isto aintensificação das reações objetivas às excitações pré-liminares (mal perceptíveis) pode ser utilizada como importante indicador complementar do diapasão pré-liminar das sensações.É fácil notar que os métodos objetivos de medição das sensações aqui descritos são deimportância especialmente sérias nos casos em que, por motivos desconhecidos, é impossível aobtenção de dados mediante enquête direta aos sujeitos (entre crianças pequenas, alguns doentesmentais ou sob estímulo intencional).

 No entanto surge uma pergunta natural: qual é a relação entre os dados obtidos por questionáriodireto e os dados obtidos pelo estudo de indicadores fisiológicos objetivos? Da resposta a essa pergunta depende a resposta a outra: seremos capazes de empregar com a suficientefidedignidade índices objetivos como sintomas seguros do surgimento de sensações subjetivas?Pesquisas realizadas pelo psicólogo soviético J. V. Guer-shuni mostraram que é norma osindicadores objetivos dos limiares das sensações corresponderem com precisão aos limiares

 subjetivos, noutros termos, as mudanças descritas das reações pele-galvânicas eeletroencefalográficas manifestam-se justamente quando, no sujeito, as sensações subjetivassurgem pela primeira vez. As divergências entre os indicadores subjetivos e objetivos surgemapenas em alguns casos especiais, por exemplo, nos estados inibitórios do córtex. Isto ocorre,

 por exemplo, nos casos da chamada queda pós-contusão26 

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da audição ou surdez pós-contusão, que começa como resultado do golpe de uma onda de ar.Entre os sujeitos desse grupo, cujo córtex auditivo encontra-se em estado de inibição patológica,a apresentação de estímulos sonoros não provoca quaisquer sensações subjetivas, embora leveao surgimento das mudanças fisiológicas objetivas das reações pele-galvânicas e eletroencefalo-gráficas. Entre esses sujeitos, a apresentação do som (que o doente não registra) provoca umnítido reflexo cócleo-pupi-lar (compressão da pupila em resposta à excitação sonora). Essadivergência entre as reações objetivas e subjetivas às excitações auditivas permitiu a Guershunilançar a tese segundo a qual o homem tem um diapasão subsensorial especial, que indica asreações fisiológicas não-conscientizáveis e estímulos não sensíveis. À medida da evoluçãoinversa da doença, os limiares das sensações subjetivas se restringem paulatinamente e no fimdas contas começam a coincidir.As pesquisas do diapasão subsensorial, realizadas por Guershuni, são de grande importânciateórica e prática para o diagnóstico de algumas formas do estado inibitório do córtex.

 Estudo da sensibilidade relativa (diferencial)Até agora nós nos detivemos na mudança da sensibilidade absoluta dos nossos órgãos dossentidos: dos limiares superiores e inferiores das sensações. Existe, nãb obstante, a sensibilidaderelativa (diferencial), que também pode ser medida embora a medição apresente grandes

dificuldades.Se nos encontrarmos num quarto escuro, iluminado por uma vela acesa, o acréscimo de outravela idêntica será facilmente percebido; neste caso a iluminação se duplicará e a diferença declaridade será facilmente percebida. O contrário ocorre se estivermos numa sala muitoiluminada, com muitas lâmpadas acesas; neste caso não perceberemos não só o acréscimo deoutra vela como até mesmo de uma lâmpada de 100 velas (neste caso a iluminação aumentaráde 1/1000 e sua mudança permanecerá imperceptível).O mesmo podemos dizer a respeito da audição: no silêncio absoluto distinguimos perfeitamenfeum som mínimo; num lugar barulhento, esse mesmo som será imperceptível.27 

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Isto significa que a sensibilidade relativa (ou diferencial) pode expressar-se em medidasdiferentes das que se empregam na sensibilidade absoluta. Se a sensibilidade absoluta seexpressa na intensidade de uma excitação mínima que gera a primeira sensação, a sensibilidaderelativa se manifesta no acréscimo relativo ao fundo inicial, acréscimo esse que é suficiente

 para que o sujeito perceba a sua mudança.É essencial que essa sensibilidade relativa, que pela primeira vez se torna distinguível, semanifeste em números variados para os diversos órgãos dos sentidos: para as sensações visuaisé bastante acrescentar 1/100 da iluminação anterior para que a mudança desta seja perceptível;

 para o ouvido esse acréscimo relativo deve superar em 1/10 o fundo sonoro inicial; para o tato é bastante aumentar em 1/30 a força do contato inicial.Os pesquisadores tentaram traduzir essa lei numa fórmula matemática única; esta foi encontrada

 pelos' pesquisa-* dores (os psicofisiologistas alemães Weber e Fechner) e foi expressa nafórmula:

E=P (1)Ap

onde E é o índice de sensibilidade variável, P é o fundo inicial e Ap é a magnitude da adição a

essa sensibilidade inicial, magnitude que é suficiente para que se manifeste a sensação demudança. É característico que a magnitude desse acréscimo (Ap) varia para diferentesmodalidades que se expressam na fórmula:Ap------ = K (2)PA possibilidade de medição da sensibilidade relativa é considerada pelos psicólogos como umagrande conquista da ciência, pois verificou-se que emoções que pareceriam muito subjetivascomo o surgimento de diferenças no fundo inicial das sensações, são acessíveis à análisequantitativa. Foi por isto que o psicofisiologista Fechner supôs que só esse aumento muito

 pouco perceptível da excitação (ou o limiar dife-28

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rencial da sensação) deve ser considerado uma unidade de sensação. Nas suas pesquisas posteriores ele chegou à conclusão de que esse limiar relativo (diferencial) pode ser traduzidoem fórmula matemática segundo a qual a magnitude da sensação é proporcional ao logaritmoda intensidade da excitação ativa. Essa fórmula, que foi denominada lei de Fechner, foi umadas primeiras leis exatas formuladas na Ciência Psicológica.A regra de Weber-Fechner (as fórmulas 1 e 2) é adequada apenas numa zona média (embora

 bastante ampla) de excitações. Nos casos em que a intensidade do estímulo é muito baixa (e seaproxima do limiar) ou muito alta, a sensibilidade relativa é bem mais aproximada. Este fatosugere uma certa condicionalidade biológica dos limiares relativos e exige ainda explicaçãocomplementar.Variação da sensibilidade (adaptação e sensibilização)Seria errôneo pensar que tanto a sensibilidade relativa como a absoluta dos nossos órgãos dossentidos continuam invariáveis e seus limiares se manifestam em números permanentes.Como mostraram as pesquisas, a sensibilidade dos nossos órgãos dos sentidos pode variar emlimites muito grandes. Essa variação da sensibilidade depende tanto das condições do meioexterior como de uma série de condições interiores (fisiológicas e psicofisiológicas)," deinfluências químicas das orientações do sujeito, etc.

Distinguem-se duas formas básicas de mudança da sensibilidade, entre as quais uma dependedas condições do meio e é chamada adaptação, e a outra das condições do estado do organismoe é denominada sensibilização.Examinemos separadamente cada forma de mudança da sensibilidade.

 Adaptação. Sabe-se que na escuridão a nossa visão se aguça e sua sensibilidade diminui sobiluminação forte. Isto nós percebemos quando passamos de um quarto escuro para um claro oude um ambiente muito iluminado para um escuro. No primeiro caso, os nossos olhos começama sentir 29

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uma dor lancinante, ficámos "cegos" por um instante e é necessário algum tempo para que osolhos se adaptem à claridade intensa. No segundo caso, observa-se um fenômeno inverso.Quando passamos de um ambiente intensamente iluminado ou de um recinto aberto com luzsolar para um recinto escuro, inicialmente não enxergamos nada e precisamos de uns 20-30minutos para nos orientarmos bem na escuridão.Isto mostra que, dependendo da situação ambiente (da iluminação), a sensibilidade visual dohomem muda bruscamente. Como mostraram as pesquisas, essa mudança é muito grande e asensibilidade dos olhos se aguça em 200 mil vezes quando ele passa da iluminação intensa parao escuro!A fisiologia conhece bem os mecanismos que servem de base a essa grande mudança dasensibilidade. No funcionamento dos olhos há vários mecanismos específicos dessa natureza.Alguns destes, ao distinguirem a claridade, fazem mudar a faixa de luz da pupila (a pupila seexpande na escuridão e se restringe na claridade, podendo mudar sua faixa de luz em 17 vezes),regulando, desse modo, o fluxo global de luz. Outro mecanismo consiste em que, na retina,ocorre um deslocamento do pigmento, que é uma espécie de obstáculo protetor contra a

 penetração excessiva de raios luminosos na camada sensível. É de igual importância para oaumento da sensibilidade da retina na escuridão o processo de restabelecimento da púrpura

visual, essa importantíssima substância fotossensível, que faz parte na composição das célulassensíveis à luz. Como mostraram estudos especiais (P. G. Snyakh), a retina do olho possui aindaum mecanismo especial de "mobilização" de um número máximo de elementos fotossensíveisativos na escuridão e de "desmobilização" ou inclusão de um número considerável de elementosfotossensíveis na claridade; por este motivo, varia a sensibilidade da retina em horas diferentesdo dia e da noite e inclusive em períodos diferentes do ano. Por último, ocorrem na retinaimportantes reorganizações funcionais que consistem em que, sob as condições de claridade (dedia) entram em ação aparelhos fotossensíveis menos sensíveis — "pequenas ma-trazes" — que,não obstante, são capazes de distinguir as cores. Continuam ativos outros aparelhos da retina — os bacilos, que possuem maior sensibilidade mas não podem discriminar as tonalidades dascores; é exatamente a isto que30 

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se deve o fato de o homem deixar de distinguir as cores no crepúsculo, embora sua visão seaguce.Paralelamente aos mecanismos periféricos de mudança da sensibilidade aqui descritos, existemmecanismos ceriT trais que permitem regular a agudez da sensibilidade dependendo dascondições ambientais. Situam-se entre eles os mecanismos que mudam o tônus do córtex sob ainfluência dos impulsos que a estes chegam através dos filamentos da formação reticular.As referidas mudanças da sensibilidade, que dependem das condições do meio e são chamadasde adaptação dos órgãos dos sentidos às condições ambientes, existem também no campo doolfato, do tato e do paladar (mudança da sensibilidade auditiva em condições de silêncio eruído).A mudança da sensibilidade, que ocorre segundo o tipo de adaptação, não é imediata, requer certo tempo e muda suas características temporais.O importante é que essas características temporais são diferentes para os diversos órgãos dossentidos. Sabemos perfeitamente que para a visão adquirir a necessária sensibilidade no recintoescuro, deve passar-se cerca de 30 minutos e só após isto o homem adquire a capacidade deorientar-se bem na escuridão. O processo de adaptação dos ór-jãos auditivos é bem mais rápido.O ouvido do homem se adapta ao fundo ambiente em 15 segundos. Com essa mesma rapidez,

ocorre a mudança da sensibilidade no tato (um contato fraco com a pele deixa de ser percebidoem alguns segundos).São bem conhecidos os fenômenos de adaptação ao calor (adaptação à mudança detemperatura); esses fenômenos, entretanto, se manifestam com nitidez apenas numa faixamédia, quase não ocorrendo adaptação ao frio intenso ou ao calor forte assim como àsexcitações de dor. São conhecidos também os fenômenos de adaptação aos cheiros. Nestescasos, a mudança da sensibilidade ocorre lentamente: o cheiro de cânfora deixa de ser sensívelem 1-2 minutos. É característico que a adaptação aos cheiros intensos que provocam excitaçõesde dor (ou incluem o componente trigemi-nal) não ocorre de modo algum.A adaptação é um dos tipos mais importantes da sensibilidade, que sugere uma grande

 plasticidade do organismo em seu processo de adaptação às condições do meio.31

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Sensibilização. O processo de sensibilização difere do processo de adaptação em dois sentidos.Por um lado, se no processo de adaptação a sensibilidade muda em ambos os sentidos,aumentando e reduzindo a sua agudez, já no processo de sensibilização muda apenas no sentidodo aumento da agudez. Por outro lado, se no processo de adaptação as mudanças desensibilidade dependem das condições do meio ambiente, no processo de sensibilização elasdependem predominantemente da mudança do próprio organismo — de condições fisiológicasou psicológicas.Distinguem-se dois aspectos básicos do aumento da sensibilidade conforme o tipo desensibilização: um desses aspectos tem caráter longo e permanente e depende

 predominantemente de mudanças estáveis que ocorrem no organismo; o segundo tem caráter  provisório e depende de influências extraordinárias sobre o estado do sujeito — de influênciasfisiológicas ou psicológicas.Entre o primeiro grupo de condições que mudam a sensibilidade situam-se a idade, as condiçõestipológicas, os deslocamentos endócrinos e o estado geral do sujeito relacionado com a estafa.A idade do sujeito está nitidamente relacionada com a mudança da sensibilidade. As pesquisasmostraram que a sutileza da sensibilidade dos órgãos dos sentidos aumenta com a idade,atingindo o seu ponto máximo na faixa de 20-30 anos para, posteriormente, decair em termos

graduais. Esse processo reflete o dinamismo geral do funcionamento do sistema nervoso doorganismo.As peculiaridades substanciais do funcionamento dos órgãos dos sentidos dependem do tipo de

 sistema nervoso do sujeito. É sabido que pessoas dotadas de um forte sistema nervosoapresentam grande resistência e estabilidade, ao passo que as pessoas dotadas de um sistemanervoso fraco são-dotadas de menor resistência e maior sensibilidade (B. M. Teplov).É de grande importância para a sensibilidade a balança endócrina do organismo. É sabido quedurante a gravidez a capacidade olfativa pode aguçar-se acentuadamente, ao passo que a agudezda sensibilidade visual e auditiva decresce.Devemos, evidentemente, mencionar os fenômenos essenciais do aguçamento da sensibilidade,que se verificam duran-32

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te alguns distúrbios endócrinos, como, por exemplo, na hi-perfunção da tireóide.Mudanças importantes da sensibilidade podem ocorrer, por último, em estado de esíafa. Aestafa, que provoca estados inibitórios (fásicos) do córtex, pode provocar inicial-tmente o agravamento da sensibilidade para, em seguida,com a evolução desse agravamento passar à redução da sensibilidade.É necessário indicar ainda que as mudanças longas e i  estacionárias da sensibilidade

 podem começar durante o es-tado astênico do sistema nervoso conhecido como "debilidade excitadora", por um lado, e dasmanifestações clássicas de histerismo, por outro.Dessas mudanças estacionárias da sensibilidade dependem as formas de mudança (deagravamento) da sensibilidade, provocadas por  fatores extraordinários e que, via de regra,apresentam caráter relativamente breve.Entre os fatores que provocam a sensibilidade extra situam-se antes de tudo as influências

 jarmacológicas. É sabi-t   do que existem substâncias que provocam o aguçamento dasensibilidade. Entre tais fatores situa-se, por exemplo, a adrenalina, cuja ingestão provocaexcitação do sistema nervoso vegetativo e através da formação reticular pode suscitar um nítidoaguçamento da sensibilidade. Ação análoga, que aguça a sensibilidade dos receptores, pode ser 

 provocada por substâncias como fenalina (bengidrina) e várias outras substâncias. Ao contrário,as substâncias cuja ingestão leva a uma nítida queda da sensibilidade; entre estas situa-se a pilocarpina.  , Nos últimos decênios, a aplicação de meios farmacológi-cos como vias de regulação dofuncionamento do sistema nervoso, particularmente de mudança da sensibilidade, acumulougrande experiência e hoje podemos mencionar vários preparados que exercem grande influênciasobre a regulação do í  funcionamento dos órgãos dos sentidos.A ação farmacológica não é o único meio de provocar a sensibilização extra das sensações. Osegundo meio é a interação das sensações. Já lembramos que a ação sobre o órgão í da percepção pode provocar aumento da sensibilidade de ou-tro órgão. Assim, o acadêmico P. P. Lazarev mostrou que, se num auditório ecoa um somdemorado, a inclusão da luz faz com que a produção do tom comece a parecer mais intensiva.

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Ao contrário, a ação de um ruído forte pode provocar a redução da sensibilidade à luz.Estímulos bastante fracos de analisador idêntico podem possuir capacidade sensibilizadora paramudar a sensibilidade. Assim, se a iluminação da periferia da retina por luz fraca pode aumentar a sensibilidade de outras áreas da retina, a iluminação de um olho aumenta a sensibilidade dooutro olho. Por último, foi demonstrado numa série de experimentos que a excitação sonora e,às vezes, a excitação da pele podem provocar aumento da sensibilidade visual.Todos esses experimentos não só mostram a estreita interação de formas particulares desensação como também abrem caminho para um aumento mais complexo da sensibilidade por reflexo condicionado. O famoso fisiologista soviético A. O. Dolin mostrou numa série deexperimentos essa possibilidade,Verjficou-se que se dermos inicialmente ao sujeito um som metronômico, este não exercegrande influência sobre a mudança da sensibilidade à luz; mas se combinarmos este som com aluz dos olhos várias vezes seguidas, dentro de certo tempo a simples aplicação do som

 provocará uma queda da sensibilidade.É digno de nota que semelhantes mudanças da sensibilidade podem ser provocadas se usarmosuma palavra qualquer como estímulo condicionado. Esse efeito é sobretudo nítido quando, antesde testar a sensibilidade do olho, pronuncia-se uma palavra que tivera sentido de luz no teste

anterior do sujeito. Dplin mostrou em seus experimentos que mudança idêntica da sensibilidadeocorria quando ante a medição da sensibilidade o sujeito pronunciava a palavra "drama", nãoocorrendo esse efeito quando o sujeito pronunciava uma palavra de som aproximado mas designificado diferente como, por exemplo, a palavra "trama".Todos esses experimentos mostram como são grandes as possibilidades através das quais

 podemos provocar mudança da sensibilidade, aplicando procedimentos fisiológicos (inclusive oreflexo condicionado).Mudanças consideráveis da sensibilidade podem ser provocadas por via psicológica, mudando-se os interesses ou os "objetivos do sujeito".Já sabemos que o animal é especialmente sensível a ações substanciais de importância

  biológica. O mesmo fe-34

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nômeno podemos verificar no homem se, sem mudar as particularidades físicas dos estímulosque atuam sobre ele, nós lhe mudarmos o significado através da instrução verbal.Podemos citar apenas alguns exemplos de como a mu-> <Iança do significado do estímulo podeaumentar substancialmente a sensibilidade (ou reduzir os limiares absolutos da percepção daexcitação).Podem servir de exemplo ilustrativo os testes de laboratório do conhecido psicofisiologistasoviético G. V. Guer-shuni. Nesses testes propuseram-se ao sujeito dois quadrados iluminadosentre os quais havia um ponto luminoso fraco (imperceptível). Em condições habituais o sujeitonão percebia esse ponto. O ponto luminoso fraco começava ser percebido pelo sujeito quandoera reforçado por um estímulo de dor, enquanto a outra combinação dos dois quadradosiluminados entre os quais não havia esse ponto luminoso, não era reforçada por nenhumestímulo e, conseqüentemente, as excitações luminosas subliminares pela intensidade setornavam o único indício pelo qual era possível distinguir a combinação acompanhada da dor dacombinação indiferente. É fácil perceber que esse experimento mostra de maneira patente a

 possibilidade de aguçar a sensibilidade dando-se à excitação subliminar fraca o valor de sinal.Elevação análoga da sensibilidade pode ser obtida, entretanto, por meio de uma simplesinstrução verbal, na qual se dá o valor de "sinal" ao indício fracamente distinguido. Neste

sentido os psicólogos soviéticos A. V. Zaporojets e T. V. Endovitskaya fizeram um experimentointeressante com crianças de idade pré-escolar e estudaram a maneira pela qual a atribuição designificado a um certo estímulo aumenta a agudez da percepção visual. Foram tomados comométodos de avaliação da agudeza da percepção visual círculos não fechados, nos quais a rupturase encontra ora em cima, ■ora embaixo (os chamados círculos de Lamdoldt, aplicados pelosoculistas). Num experimento propõe-se às crianças avaliar a posição da ruptura apertando um

 botão se a ruptura estiver situada embaixo, apertando outro botão se a ruptura estiver na partesuperior. Noutro experimento a avaliação da posição da ruptura era incluída num jogo:colocava-se o círculo de Lamdoldt sobre portões dos quais saía um automóvel de brinquedoquando a avaliação da posição da ruptura era correta. O experimento mostrou que, se a ins-35

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trução verbal que dava à posição da ruptura o valor de sinal ainda não influenciava a agudezada sensibilidade visual das crianças pequenas, ela exercia influência substancial nas crianças emidade igual e superior a 5-6 anos. As crianças que, sob as condições do teste indiferentedistinguiam a posição da ruptura do círculos de Lamdoldt apenas a uma distância de 200-300cm, captavam a posição dessa ruptura a uma distância de 310-320 cm quando se dava a essa

 posição valor de sinal correspondente.Esses experimentos, que mostram o quanto a atribuição de valor de sinal ao estímulo podeaguçar a sensibilidade, são de grande importância psicológica, constituindo um exemplo daextraordinária plasticidade que existe no funcionamento dos órgãos dos nossos sentidos e variadependendo da importância do estímulo.O aumento da sutileza da sensibilidade sob a influência do significado do indício perceptível

 pode ocorrer tanto na sensibilidade absoluta quanto na relativa. Sabe-se que a discriminação dosmatizes da cor, das mudanças significan-tes do tom ou das mínimas variações gustativas podetornar-se acenruadamente aguda como resultado de atividade profissional. Foi estabelecido queos pintores podem distinguir de 50 a 60 matizes do negro; os fundidores de aço distinguem osmatizes mais sutis do fluxo incandescente de metal, que indicam mudanças mínimas deimpurezas estranhas, cuja distinção é inacessível a observador de fora. É sabido que sutileza

 pode atingir a discriminação de nuances gustativas entre os degustadores, que são capazes dedeterminar a marca do vinho ou do tabaco pelos mínimos matizes da degustação, chegando àsvezes até a dizer de que lado do desfiladei-ro foi cultivada a uva usada para o preparo de umdeterminado vinho. Por último, sabe-se a que sutileza pode chegar a capacidade dos músicos

 para distinguir os sons; eles se tornam capazes de captar variações de tons absolutamenteimperceptíveis para o ouvinte comum.Todos esses fatos demonstram que, sob as condições do desenvolvimento de formas complexasde atividade consciente, a agudeza da sensibilidade absoluta e da diferencial pode mudar substancialmente, e que a inclusão desse ou daquele indício na atividade consciente do homem

 pode, em limites consideráveis, mudar a agudeza dessa sensibilidade.36 

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IIPercepção

 A atividade perceptiva do homem. Características geraisATÉ AGORA examinamos as formas mais elementares de reflexo da realidade, os processosatravés dos quais o homem reflete indícios particulares do mundo exterior ou os sinais queindicam o estado do seu organismo.Vimos que esses processos, que são as fontes básicas da informação que o homem recebe dosmeios exterior e interior, são executados por órgãos dos sentidos pertencentes a modalidadesdistintas; esses órgãos receptores pertencem aos grupos dos intero, próprio e extero-receptores,dividindo-se o último grupo, por sua vez, em dois subgrupos de receptores de contato (tato,

 paladar) e receptores de distância (olfato, visão e audição). Vimos ainda que os processos de percepção dos indícios do mundo exterior e do meio interno podem distribuir-se em níveisvariados e apresentar complexidade diversa. À forma protopática estruturalmente37 

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mais elementar de sensibilidade pertencem antes de tudo o olfato e o paladar, bem como asformas mais simples de sensibilidade tátil; à forma de sensibilidade epicrítica estruturalmentemais complexa pertencem a visão, a audição e os tipos mais complexos de atividade tátil.Vimos, por último, que os processos de reflexo de indícios particulares que atuam sobre ohomem a partir do meio exterior ou interior ou os processos das sensações podem ser objetivamente medidos; tomamos conhecimento dos meios de medição da sensibilidadeabsoluta e relativa e dos fenômenos da variação dessa sensibilidade.

 Nada do que falamos no capítulo anterior foi além dos limites do estudo das formas maiselementares de reflexo ou dos limites do estudo de elementos particulares de reflexo do mundoexterior ou interior. Mas os processos reais de reflexos do mundo exterior vão muito além doslimites das formas mais elementares. O homem não vive em um mundo de pontos luminosos oucoloridos isolados, de sons ou contatos, mas em um mundo de coisas, objetos e formas, em ummundo de situações complexas; independentemente de ele perceber as coisa&^ue o cercam emcasa, na rua, as árvores e a relva dos bosques, as pessoas com quem se comunica, os quadrosque examina e os livros que lê, ele está invariavelmente em contato não com sensações isoladasmas com imagens inteiras; o reflexo dessas imagens ultrapassa os limites das sensaçõesisoladas, baseia-se no trabalho conjunto dos órgãos dos sentidos, na síntese de sensações

isoladas e nos complexos sistemas conjuntos. Essa síntese pode ocorrer tanto nos limites deuma modalidade (ao analisarmos um quadro, reunimos impressões visuais isoladas numaimagem integral) como nos limites de várias modalidades (ao percebermos uma laranja, unimosde fato impressões visuais, táteis e gustativas e acrescentamos os nossos conhecimentos arespeito da fruta). Somente como resultado dessa unificação é que transformamos sensaçõesisoladas numa percepção integral, passamos do reflexo de indícios isolados ao reflexo deobjetos ou situações inteiros.Seria profundamente errôneo pensar que esse processo de transição de sensações relativamentesimples a sensações complexas é um simples processo de soma de sensações iso-38

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láda ou, como costumam dizer os psicólogos, o resultado de simples "associações" de indíciosisolados.Em realidade, o processo de percepção (ou o reflexo de objetos inteiros ou situações) é bemmais complexo.Esse processo requer que se discriminem do conjunto de indícios atuantes (cor, forma,

 propriedades táteis, peso, sabor, etc.) os indícios básicos determinantes com a abstraçãosimultânea de indícios inexistentes. Requer a unificação do grupo dos principais indícios e ocotejo do conjunto de indícios percebidos e despercebidos com os conhecimentos anteriores doobjeto. Se no processo dessa comparação a hipótese do objeto proposto coincidir com ainformação que chega, ocorrerá a identificação do objeto e o processo de percepção deste seconcluirá; se como resultado dessa comparação não ocorrer a coincidência da hipótese com ainformação que realmente chega ao sujeito, a procura da solução adequada continuará enquantoo sujeito não encontrá-la, noutros termos, enquanto ele não identificar o objeto ou não inclüí-lòem determinada categoria.

 Na percepção de objetos conhecidos (um copo, uma garrafa, uma mesa), esse processo deidentificação do objeto ocorre com muita rapidez, bastando ao homem unir dois-três indícios

 perceptíveis para chegar à solução adequada. Na percepção de objetos novos ou desconhecidos,

o processo de sua identificação é bem mais complexo e assume formas bem mais desenvolvidas.Imaginemos que o homem examina um dispositivo his-tológico desconhecido para a obtençãode delicadíssimos cortes de tecidos: o micrótomo. Inicialmente ele percebe uma complexaconstrução instalada numa pesada base de ferro fundido, em seguida distingue partes metálicasisoladas e pode ter a súbita impressão de tratar-se de uma balança. No entanto ele não vê os

 pratos indispensáveis à balança ou as escalas que representam o peso. Ele continua a examinar esse objeto desconhecido até que seus olhos distinguem a superfície plana do aparelho e umalâmina muito afiada. Então ele pode lembrar-se de que viu algo semelhante numa mercearia eque esse aparelho era empregado para cortar presunto ou salame em fatias finas. Somentedepois disto a lâmina aguda, contígua à superfície metálica, torna-se indício determinante e osujeito começa a formar a idéia de que39

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o objeto percebido tem relação com os instrumentos de corte cujas hélices micrmétricas parecem assegurar uma regulação precisa da espessura dos cortes. Deste modo, a percepção plena do objeto surge como resultado de um complexo trabalho de análises e síntese, queressalta os indícios essenciais e inibe os indícios secundários, combinando os detalhes

 percebidos num todo apreendido.É a esse processo complexo de reflexo de objetos ou situações inteiras que em Psicologia sechama sensação.Vê-se facilmente que a sensação é o processo complexo e ativo que às vezes requer umconsiderável trabalho de análise e síntese.Eis porque a percepção, num grau ainda menor do que a sensação, pode ser considerada reflexo

 passivo da realidade, registro passivo da informação que chega ao organismo.Esse caráter complexo e ativo da percepção manifesta-se em toda uma série de indícios querequerem uma análise especial.O processo de informação não é, de modo algum, o resultado da simples excitação dos órgãosdos sentidos e da simples chegada ao córtex cerebral das excitações que surgem nos receptores

 periféricos (a pele, os olhos). No processo de percepção estão sempre incluídos componentesmotores em forma de apalpação do objeto, de movimento dos olhos que distingue os pontos

mais informativos, de emissão de sons correspondentes que desempenham papel essencial noestabelecimento das peculiaridades mais importantes do fluxo sonoro. Ainda abordaremos essatese básica quando analisarmos os diversos tipos de percepção. Por isso é mais corretoconsiderar o processo de percepção como atividade receptora do sujeito.A seguir o processo de percepção está intimamente ligado à reanimação dos remanescentes daexperiência anterior, à comparação da informação que chega ao sujeito com as concepçõesanteriores, ao cotejo das ações atuais com as concepções do passado, com a discriminação dosindícios essenciais, com a criação de hipóteses do valor suposto da informação que a ele chega ecom a sintetização dos indícios perceptíveis em totalidades e com a (tomada de decisão) arespeito da categoria a que pertence o objeto per-40

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ceptível. Noutros termos, a atividade receptora do sujeito se assemelha aos processos de pensamento direto e essa semelhança será tanto maior quanto mais novo e mais complexo for oobjeto perceptível.Por isto é natural que a atividade perceptiva quase nunca se limita a uma modalidade mascompreende o resultado do trabalho conjunto dos vários órgãos dos sentidos (analisadores) emcujo processo formaram-se as concepções do sujeito. Por último é essencial, ainda, acircunstância de que o processo de percepção do objeto nunca se realiza em nível elementar esua composição tem sempre como integrante o nível superior de atividade psíquica,

 particularmente a fala (discurso).O homem não contempla simplesmente os objetos ou lhes registra passivamente os indícios. Aodiscriminar e reunir os indícios essenciais, ele sempre designa pela palavra os objetos

 perceptíveis, nomeando-os, e deste modo apreende-lhes mais a fundo as propriedades e asatribui a determinadas categorias. Ao perceber o relógio e nomeá-lo mentalmente com essa

 palavra, ele abstrai indícios secundários como a cor, o tamanho, a forma e põe em destaque otraço fundamental representado no nome relógio, destaca a função de indicar o tempo (ashoras); ao mesmo tempo, ele situa o objeto perceptível em determinada categoria, separa-o deoutros objetos exteriormente semelhantes mas pertencentes a outras categorias (o telefone, por 

exemplo, que também tem mostrador com os respectivos números mas sua função éinteiramente distinta). Tudo isso torna a confirmar a tese segundo a qual a atividade receptorado sujeito pode, pela estrutura psicológica, aproximar-se do pensamento direto. O caráter complexo e ativo da atividade receptora do homem leva a uma série de particularidades da

 percepção humana que pertencem, no mesmo grau, a todas as formas dessa percepção.O primeiro traço peculiar da percepção consiste em seu caráter ativo e imediato. Como jálembramos, a percepção do homem é mediada pelos seus conhecimentos anteriores, decorrentesda experiência anterior e constitui uma complexa atividade de análise e síntese que compreendea criação da hipótese do caráter do objeto perceptível e a decisão acerca da correspondência doobjeto perceptível, a essa hipótese.41

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A segunda peculiaridade da percepção do homem cogite em seu caráter material e genérico.Como já indicamos, -homem percebe não só o conjunto de indícios que lhe gam mas tambémanalisa esse conjunto como um objeto terminado, não se limitando a estabelecer os traços indires desse objeto mas sempre atribuindo-o a certa cate considerando-o "relógio", "mesa","edifício", "animal", Esse caráter generalizado da percepção evolui com a id e odesenvolvimento mental, tornando-se cada vez mais nítido e refletindo o objeto perceptível com

 profundidade cada vez maior, englobando todo o grande número de traços essenciais quecaracterizam o objeto e as conexões e relações eu que este entra.A terceira peculiaridade da percepção humana consisti cm sua constância e correção(ortoscopicidade). A experiência .com objetos nos dá uma informação bastante precisa das suas

 propriedades fundamentais; sabemos que o prato é redondo, que a caixa de fósforo é retangular,que o lírio é branco, o rato é pequeno e o cavalo é grande.Esse conhecimento, anterior do objeto incorpora-se à sua percepção direta e torna esta maisconstante e mais correta (ortoscópica); compreende certa correção às peculiaridades que a

 percepção do objeto pode adquirir em condições variáveis.É fato conhecido que se girarmos um prato para o qual o sujeito está olhando, a marca desseobjeto na retina mudará, assumindo paulatinamente um caráter oval ou até de um retângulo

alongado; mas continuamos por muito tempo a perceber a forma que muda a posição do pratocomo "redondo" fazendo a respectiva correção do conhecimento real da forma desse objeto.O mesmo ocorre na percepção da cor. É sabido que um pedaço de carvão colocado numambiente de iluminação clara, reflete mais raios luminosos do que um pedaço de papel brancoao crepúsculo. No entanto continuamos a perceber o carvão como negro, corrigindoimediatamente a impressão imediata que muda em decorrência da situação. Em suma, a última

 peculiaridade da percepção humana consiste em sei ela móvel e dirigível.O processo de atividade perceptiva é sempre determi* nado pela tarefa que se coloca diante dosujeito. Ao exami-42

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nar um quadro, visando a determinar o método de trabalho do pintor, o homem ignora oconteúdo e destaca a maneira da distribuição da tinta no quadro; propondo-se a tarefa dedeterminar o tempo a que pertence o quadro, ele destaca as maneiras do desenho, a roupa dos

 personagens representados, a forma arquitetônica dos edifícios; tentando analisar a imagem doquadro ou o acontecimento nele representado, ele amplia o círculo de informações que vairecebendo e analisa todo o quadro em conjunto; ao contrário, propondo-se a tarefa de captar amímica das pessoas representadas no quadro, ele restringe aparentemente o volume de sua

 percepção e se concentra em detalhes isolados do quadro.É natural que esse -determinismo da percepção pela tarefa que se coloca diante do homem ou doseu objetivo torna a percepção elástica e dirigível, e essas peculiaridades da percepção humanadependem altamente do papel que na atividade receptora desempenha a experiência prática dosujeito e o seu discurso interior, que permite formular e mudar as tarefas.É perfeitamente compreensível que tudo isto distingue essencialmente a atividade receptora dohomem da percepção do animal, que, apesar de toda a sua mobilidade, carece das qualidadesdirigíveis e arbitrárias que caracterizam a atividade perceptiva consciente do homem.Todas as referidas peculiaridades da atividade receptora do homem permitem compreender melhor as condições das quais ela depende.

É natural que a percepção correta dos complexos objetos não depende apenas da precisão dofuncionamento dos nossos órgãos dos sentidos mas também de várias outras condiçõesessenciais. Situam-se entre estas a experiência anterior do sujeito e a amplitude de profundidadedas suas concepções, a tarefa a que ele se propõe ao analisar determinado objeto, o caráter ativo,coerente e crítico da sua atividade receptora, a manutenção dos movimentos ativos que integrama atividade receptora, a capacidade de reprimir a tempo as hipóteses do significado do objeto

 perceptível se estas não corresponderem à informação afluente.A complexidade do desempenho perceptivo ativo permite explicar também as falhas que severificam na percepção da43

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criança nas etapas tenras do desenvolvimento bem como as peculiaridades do distúrbio da percepção que podem surgir nos estados patológicos do cérebro. Essas peculiaridades podemassumir caráter variado dependendo do elo da atividade receptora insuficientementedesenvolvido ou perturbado.Assim, a insuficiente agudez da sensibilidade (visual ou auditiva) pode acarretar erros de

 percepção que, não obstante, podem ser compensados com êxito com o emprego de aparelhosde reforço da sensibilidade ou pela concentração da atenção do sujeito.As falhas, relacionadas com a distorção da síntese dos indícios perceptíveis (verificadas naafecção das zonas ter-ciárias e sintéticas do córtex cerebral), podem levar a que alguns indíciosdo objeto visível continuem a ser bem percebidos enquanto o sujeito se mostra incapaz de

 perceber o objeto no conjunto e é forçado a fazer angustiantes conjetu-ras tentando descobrir oque pode significar a combinação dos indícios por ele percebidos.É inteiramente distinto o caráter das falhas da percepção durante a perturbação do processo de

 percepção ativo. Nestes casos, todo o complexo processo de discriminação dos indíciosessenciais do objeto e a comparação da hipótese que surge com a informação que realmentechega pode ser perturbado e o homem pode limitar-se a fazer suposições impulsivas dosignificado do objeto perceptível com base nos indícios particulares deste e, às vezes, com base

em detalhes mais nítidos ou que mais saltam à vista, sem comparar a sua hipótese com ainformação que recebe nem corrigir as suas conjeturas errôneas.Por último, podem adquirir novamente outro caráter as falhas da percepção nos casos em que oobjetivo do homem adquire inércia patológica e ele começa a perceber não o que corresponde às

 peculiaridades do objeto que atua sobre ele quanto o que ele espera ver e que corresponde aosseus objetivos inertes preconcebidos. Algumas formas de engano da percepção, que ocorrem emdeterminados grupos de doentes com patologia cerebral, adquirem justamente esse caráter.Analisamos as teses mais gerais da psicologia da atividade perceptiva do homem e agora

 podemos passar ao exame de algumas formas isoladas de percepção humana.44

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 Percepção tátil  Formas simples de percepção tátil Como já dissemos o tato é uma forma de sensibilidade, que compreende tanto componenteselementares (proto-páticos) quanto complexos (epicríticos).Entre os primeiros situam-se a sensação de frio e calor e a sensação de dor, situando-se entre osúltimos as sensações propriamente táteis (contatos e pressões) e os tipos de sensibilidade

 profunda e sinestésica que fazem parte da composição das sensações proprioceptivas.Os aparelhos periféricos da sensação de calor e frio são os pequenos "bulbos" espalhados pelascamadas da pele. O aparelho das sensações de dor é constituído pelas extremidades livres dosfilamentos nervosos finos, que percebem os sinais de dor; o aparelho periférico das sensações decontato e pressão é constituído por formações nervosas sui generis conhecidas comocorpúsculos de Maysner, corpús-culos de Fater-Paccini, também distribuídas nas camadas da

 pele. Os receptores da sensibilidade profunda (proprioceptivas) são os mesmos aparelhossituados na superfície das articulações, dos ligamentos e no âmago dos músculos.Os aparelhos receptores que acabamos de enumerar estão distribuídos na superfície da pele demaneira desigual e a densidade de sua distribuição tem base biológica: quanto mais sutil é asensibilidade que se requer do trabalho de um órgão, tanto maior é a densidade com que se

distribuem em sua superfície os respectivos componentes receptores e tanto mais baixos são oslimiares da percepção que a eles chegam, noutros termos, tanto maior é a sua sensibilidade.A tabela 2 apresenta um quadro da freqüência média com a qual se encontram os respectivosreceptores em 1 milímetro quadrado de pele de determinada região do corpo.Verificamos que nas pontas dos dedos há freqüência máxima e um número relativamente grandede receptores de dor, ao passo que não há um só receptor de frio e calor. Quadro diferente seobserva na pele do antebraço que, como se sabe, não tem participação ativa no apalpamento:aqui o número de elementos táteis por mm2 diminui, aumentando o número45

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de receptores de dor, calor e frio. O mesmo se verifica na pele das costas.TABELA 2

 Número de diversos receptores da sensibilidade da pele em lmm2 de diferentes partes da pelede dor   táteis  de frio  de calor Pontas dosdedos  60 120 0  0Do antebraço  203 15 6 0.4Costas  +  +Língua  + 4-  +(Segundo Ananev.)

 Nota-se que, se na ponta dos dedos, o número de aparelhos periféricos por mm2 de pele é igual a120, este é de apenas 14 por mm2 de pele das costas da mão, 15 de pele da palma da mão, 29 do

 peito, 50 da testa e 100 da ponta do nariz. Percebe-se facilmente a importância biológica dessadistribuição dos elementos táteis em diversos pontos da pele.A sutileza da sensibilidade de diferentes superfícies do corpo é assegurada não só peladensidade da distribuição dos receptores periféricos nas respectivas áreas da pele mas também

 pela área relativa das zonas pós-centrais do córtex cerebral, aonde chegam os filamentosoriginários das respectivas áreas da periferia. Já dissemos que quanto mais sutil é a função dessaou daquela área da pele, tanto maior é a área que sua projeção ocupa no córtex cerebral.

Os fatos que acabamos de descrever mostram que a sensibilidade da pele constitui um sistemaespecial, adaptado à análise tátil e sinestésica dos sinais oriundos do mundo exterior e do

 próprio corpo. Lembremos que enquanto os impulsos^ táteis procedentes dos receptores da pelechegam aos cornos posteriores da medula espinhal, fazem parte da composição das colunaslaterais desta e, mudando de rumo nos nós subcorticais, terminam no córtex da circunvolução

 posterior central, os impulsos condutores dos sinais da sensibili-zo

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dade profunda (proprioceptiva) chegam inicialmente aos cornos posteriores da medula espinhale avançam pelas colunas laterais e, cessando nos núcleos de Holl e Burdach, chegam ao córtexda circunvolução posterior central e às suas áreas secundárias. Cabe observar que a divergênciadas vias con-dutoras da sensibilidade superficial, por um lado, e da sensibilidade profunda(sinestésica), por outro, explica o fato de que, durante a afecção das colunas posteriores ou dosnúcleos de Holl e Burdach, mantém-se a sensibilidade superficial e perturba-se simultaneamentea profunda. É justamente este caso que se verifica na tabe da espinha (tabes dorsalisj, na qual aafecção atinge os sistemas da sensibilidade profunda sem se manifestar no sistema dasensibilidade superficial. Merece destaque também a segunda divergência substancial que éimportante levar em conta por ter grande significado clínico.Isto leva à possibilidade de distanciamento entre a sensibilidade tátil e a de dor, que surge noscasos de afecção da substância parda situada ao redor do canal da medula espinhal(siringomielia). Nestes casos, os filamentos portadores dos impulsos da sensibilidade tátil

 podem chegar ao córtex, enquanto os filamentos que conduzem os impulsos da sensibilidade àdor se interrompem e passam para o lado oposto.Resulta daí a manutenção da sensibilidade superficial (tátil) do doente, desaparecendo asensibilidade à dor; o doente não percebe as queimaduras que recebe ao tocar objetos quentes

embora continue a sentir o contato com estes.Por último, cabe observar que os impulsos da sensibilidade tátil, que são conduzidos através dosfilamentos sensíveis grossos, são percebidos mais rapidamente do que os sinais de dor que

 passam através de filamentos mais finos. Esta tese é bem ilustrada pela observação atenta daseqüência das sensações táteis e de dor que temos ao tocarmos uma chapa quente.Como já dissemos, a sensibilidade tátil é de estrutura heterogênea: a ela pertencem as formasmais simples de sensibilidade superficial (sensação de contato e pressão) e as formas maiscomplexas de sensibilidade tátil como a sensação de localização do contato, a sensibilidadedistintiva (sensação da distância entre dois contatos em relação às áreas próximas da pele) e,

 por último, a sensação do sentido do47 

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esticamento da pele (quando a pele do antebraço é esticada n& sentido da mão ou a partir desta)e a sensação da forma feita pelo contato de uma lâmina que produz na pele uma figura decírculo, triângulo, número ou letra (esta última é freqüentemente chamada em neurologia de"sensação de Fõrs-ter"). Situam-se entre as formas complexas também a sensibilidade profunda(sinestésica) que permite identificar a posição em que se encontra o braço direito que se move

 passivamente, ou dá ao braço direito a posição que se dá passiva* mente ao esquerdo (e vice-versa). Percebe-se facilmente que as últimas modalidades de sensibilidade são de caráter especialmente complexo e de sua realização participam as complexas zonas secundárias dasáreas pós-centrais do córtex. Por isto, se a supressão das formas elementares de sensibilidadetátil pode ocorrer com a afecção de quaisquer áreas da via tátil do lado oposto do cérebro, a

 perturbação das formas superiores de sensibilidade tátil com a conservação de suas formaselementares pode servir de sintoma da afecção de áreas secundárias mais complexas do córtex

 pós-central do cérebro. Eis porque o estudo separado de diversas formas de sensibilidade tátil éde grande importância para o diagnóstico tônico das afecções cerebrais.Para estudar os diferentes tipos de sensibilidade tátil ou proprioceptivas, empregam-se

 procedimentos simples que hoje integram solidamente o exame neurológico dos doentes.Para estudar a sensibilidade tátil simples, toca-se uma área da pele com a ponta afiada ou

rombuda de um alfinete ou de um lápis e propõe-se ao sujeito responder se sente o contato, qualo caráter deste e em que lugar ele sente a picada. Numa pesquisa exata, emprega-se oestenciômetro ou um conjunto de fios de diferentes comprimentos.Para estudar a sensação de localização, aplica-se a ponta a várias áreas do antebraço e propõe-se ao sujeito indicar o lugar que foi tocado pelo pesquisador.Para estudar a sensibilidade distintiva, aplica-se o estenciômetro de Weber cujas hastes sãocolocadas em distâncias diferentes. Um índice da sutileza da sensibilidade distintiva é adistância mínima na qual o sujeito distingue não um mas dois contatos separados.Outro procedimento muito importante é o teste de Talber, no qual o pesquisador tocasimultaneamente dois pontos simétricos do peito e do rosto. A afecção de um dos hemisfé-48

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rios manifesta-se no fato de que o doente que percebe bem cada contato isolado, ignora um doscontatos com os pontos simétricos caso esses contatos sejam simultâneos. Neste caso, costumacessar a sensação de contato com ponto oposto ao hemisfério afetado. Por último, é muitoimportante o estudo da sensibilidade pele-sinestésica (para cuja análise conduz-se a pele doantebraço no sentido da mão ou a partir desta, devendo o sujeito determinar o sentido dodeslocamento passivo da pele) ou o estudo da sensibilidade profunda; aqui o pesquisador curva(ou descurva) o braço ou um dedo do sujeito, propondo-lhe determinar em que sentido foi feitoo movimento, ou coloca o braço numa posição e propõe ao sujeito colocar o outro nessa mesma

 posição. A perturbação da sensibilidade profunda em um dos braços sugere a afecção das áreassinestéticas complexas do córtex do hemisfério oposto. Por último, o estudo do sentido espacial bidimensional (ou sentido de Forster) é feito da seguinte maneira: o pesquisador desenha com a

 ponta de uma agulha ou de um fósforo uma figura (ou número) na pele do antebraço e propõedeterminar o tipo de figura ou número que foi desenhado. A impossibilidade de executar essatarefa com tentativas ativas do sujeito sugere a afecção das áreas secundárias do córtex parietaldo hemisfério oposto.

 Formas complexas de percepção tátil Até agora examinamos formas relativamente- simples de sensibilidade sinestésica e da pele, que

refletem apenas indícios relativamente elementares (pressão, contato, posição dos membros noespaço). No entanto existem formas mais complexas de percepção tátil, na qual o homem podedeterminar por apalpamento as formas do objeto e às vezes até identificar o próprio objeto. Essaforma de sensibilidade tátil é de grande interesse para a Psicologia.Já indicamos que a mão em estado de repouso pode captar apenas indícios isolados de umobjeto estático que atua sobre ela (a temperatura, o tamanho e as peculiaridades da superfície doobjeto) mas não pode lhe captar a forma nem o conjunto de indícios que o distinguem. É naturalque em tais condições não se pode falar de nenhuma percepção com-49

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 plexa do objeto. Para passar da avaliação de traços isolados à percepção tátil de todo o objeto, énecessário que a mão esteja em movimento, isto é, que a percepção tátil passiva seja substituída

 por apalpamento ativo do objeto.É por isto que o estudo da maneira pela qual se desenvolve o processo de tateamento do objeto ede como neste processo o homem passa paulatinamente da avaliação de indícios isolados àidentificação do objeto tateado constitui uma das questões mais importantes da Psicologia da

 percepção tátiL Na percepção tátil do objeto, a questão mais importante é a transformação paulatina dainformação que recebemos sucessivamente acerca de indícios particulares do objeto em suaimagem integral (simultânea).Suponhamos que tateamos de olhos fechados um objeto qualquer, uma chave, por exemplo. A

 princípio temos a impressão de tocarmos algo frio, liso e comprido. Nesta fase podemos supor que tateamos uma haste metálica ou um tubo ou mesmo um lápis metálico. Em seguida, nossamão se desloca e começa a tatear apenas o anel da chave; o primeiro grupo de suposições éimediatamente afastado mas ainda não surge uma hipótese nova. Continuamos a tatear e o nossodedo se desloca no sentido do palhetão da chave com seu corte característico. Aqui distinguimosos pontos mais informativos, a reunião de todos os indícios sucessivamente perceptíveis e então

surge â última hipótese: "é uma chave!"; esta hipótese será confirmada pela verificação posterior.Vemos facilmente que o processo de identificação da imagem do objeto, que ocorre de imediatona visão, no tato tem caráter desdobrado e ocorre por meio de uma cadeia sucessiva de testescom a discriminação dos indícios particulares, a criação e a.formação de várias alternativas e aobtenção da hipótese definitiva.Por isto o processo de percepção tátil (ativa), a qual surge no processo de apalpação, pode servir de modelo de qualquer percepção cujos elos particulares são aqui desdobrados e especialmenteacessíveis à análise.O processo de percepção tátil foi minuciosamente estudado pelos psicólogos soviéticos B. G.Ananev, P. F. Lomov, L. M. Vekker. As pesquisas desses autores revelaram vários fatosessenciais.

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Confirmaram, antes de tudo, que a percepção da forma do objeto sem uma apalpação ativa esucessiva deste é absolutamente inacessível.Mostrou ainda a pesquisa que a mão do sujeito deve apalpai ativamente o objeto, tentandodistinguir os pontos que oferecem maior informação e reuni-los numa só imagem. A passagem

 passiva do objeto pela mão ou da mão sobre o objeto, excluindo movimentos ativos de procura,não leva ao devido .resultado, possibilitando um reflexo do objeto apenas parcial e por istofalso.Por isto, a apalpação ativa é realmente necessária para identificar os traços do objeto e reuni-losnuma imagem única. A pesquisa posterior mostrou ainda que a apalpação ativa do objeto é um

 processo complexo.A estrutura sutil dos movimentos tateantes permitiu um conhecimento mais aproximado do

 processo destes. Verificou-se que os movimentos de apalpação se realizam com o papeldeterminante do dedo médio, que, no processo de evolução, apenas no homem come.ça a opor-se aos outros dedos, e do indicador, que no homem adquire mobilidade especial. Em seguida osmovimentos de apalpação se alternam com intervalos, sendo que o tempo gasto com omovimento é uma vez e meia maior do que o movimento de retenção ou parada. Esses fatoslevam a pensar que durante essas paradas distin-guem-se os componentes menores ou "quantas"

da informação tátil (Ananev).Cabe notar que, na percepção tátil do objeto, os movimentos de apalpação são heterogêneos,que neles podemos distinguir os mínimos deslocamentos dos dedos (de 2 a lOOmm), que paramnos pontos "críticos" (ou mais informativos), durante os quais o sujeito continua a receber umainformação fracionada dos traços do objeto, podendo-se distinguir  grandes movimentos quereúnem os indícios isolados e têm a função de verificar as hipóteses surgidas.É importante que esse caráter dos movimentos se mantém inclusive nos casos em que o sujeitotateia não com o dedo mas com uma haste (um lápis, por exemplo), ou nos casos em que, tendosido amputada a mão, a apalpação é feita por outras partes do braço, por exemplo peloantebraço estilhaçado (as chamadas "pinças de Krukenberg").

 Na medida em que se desenvolve o exercício, o processo de apalpação, indispensável àidentificação tátil do objeto,

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 pode reduzir-se paulatinamente; se nas primeiras etapas era necessário comparar muitos dosindícios discriminados para identificar o objeto, numa segunda apalpação o número des-ssesindícios diminui cada vez mais, de forma que, ao término do processo, é bastante um indíciomais informativo para -que o objeto possa ser identificado. É interessante que esse processo deredução paulatina do número de testes, nos quais se destacam os indícios informativosnecessários, ocorre de modo relativamente mais lento nas crianças pequenas e começa a ser mais expressivo nas crianças de 6 a 7 anos de idade. Nos adultos é especialmente rápida essaredução ou "retardamento" dos movimentos de busca, indispensáveis à identificação tátil doobjeto. Na tabela 3 apresentamos dados acerca da redução paulatina dos testes de orientação,durante a percepção tátil do objeto; esses dados foram obtidos pelos psicólogos soviéticos V. P.Zintchenko e B. F. Lomov em pesquisas com crianças de diversas faixas etárias.TABELA 3

 Número de testes necessários para a identificação tátil de um objeto por crianças de diferentes faixas etárias.  N.° idade detestes

 Anos3-4

 Anos 4-5 Anos 5-6 Anos 6-9

I apresentação IVapresentação

5,8 4.0 6,0 3,9 5,8 2,9 5,0 1,0!

A percepção tátil, que começou nos testes com a apalpação dos objetos, prosseguiu numa sérieespecial de testes e pesquisas, propostos pelo psicólogo soviético E. N. Sokolov. Essa pesquisateve como finalidade estudar a estrutura provável do processo de percepção e consistiu noseguinte: propunha-se ao sujeito tatear com o dedo uma letra, feita de alguns elementosisolados, por exemplo, de botões. Via de regra, eram letras cujos traços se distinguiam apenas

 pela posição de um ou dois elementos.Propunha-se ao sujeito tatear sucessivamente com o dedo a estrutura que lhe fora dada e dizer aqual dos dois botões52

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ela pertencia. O teste mostrou que, a princípio, a apalpação tinha caráter desdobrado, que emseguida o processo se desenvolvia paulatinamente e, por último, o sujeito dirigia logo suaatenção aos pontos mais informativos cujo contato lhe dava de imediato informação positiva (aexistência do elemento que diferenciava uma letra da outra) ou informação negativa(inexistência do elemento necessário), que lhe permitia chegar à solução necessária.Cabe notar que a afecção de determinadas áreas do cérebro levava a perturbações originais do

 processo aqui descrito de identificação tátil. Os doentes com afecção das áreas subparietais docérebro e privados da capacidade de sintetizar os elementos em um todo, mostraram-seincapazes de utilizar a informação por eles obtida e criar mentalmente uma imagem integral deuma figura a partir dos elementos separadamente percebidos. Os doentes com afecção dos lobosfrontais do cérebro revelaram inconsistência no próprio processo de obtenção da informaçãonecessária: a fase de ação orientada e planejada cessava ou em certo sentido se perturbava e os

 pacientes começavam não raro a fazer conclusões impulsivas acerca da letra que tateavam, semlevar a pesquisa até o fim nem distinguir os indícios de apoio necessários (O. K. Tikhomírov).A complexa estrutura psicofisiológica do processo de identificação tátil do objeto leva a umfenômeno amplamente conhecido na clínica como astereognose, chamado por alguns autores de

 síntese amorfa (perturbação da percepção tátil tridimensional do objeto ou perturbação do

 processo de síntese de uma imagem integral do objeto, constituída de elementos isolados). Essefenômeno consiste em que o doente, conservando a sensibilidade tátil elementar, revela-seincapaz de identificar o objeto que tateia e sintetizar em um todo único indícios isolados. Oquadro clássico da astereognose surge nas afecções das áreas secundárias e terciárias da região

 parie-tal do córtex e está relacionado com a perturbação da capacidade de reunir sinais táteisisolados numa estrutura una. Esse quadro surge, via de regra, num braço do lado oposto do foco.Em todos os casos de astereognose clássica, o paciente tateia ativamente o objeto que lhe foidado, tenta sintetizar-lhe os traços mas é incapaz de fazê-lo e identificar o objeto. Do quadroclássico de astereognose distinguem-se essencialmente as dificuldades na identificação tátil dedado53

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objeto, que surgem nos casos de afecção dos lobos frontais do cérebro. Nestas circunstâncias,que, via de regra, provocam uma brusca queda da atividade do paciente e a impossibilidade decotejar o efeito da sua ação com a intenção inicial, é diferente o caráter da natureza dadificultação na percepção tátil do objeto. Nestes casos, o doente não tenta tatear ativamente oobjeto ou não faz tentativas sistemáticas suficientes neste sentido, interrompendo em fase inicialo processo de orientação e lançando prematuramente uma hipótese baseada simplesmente numadistinção fragmentária do objeto. Observações atentas permitem perceber o elo preciso em quefoi perturbado o processo de identificação tátil do objeto e tirar desse fato conclusõesdiagnosticas.

 Percepção visual O sistema visual se caracteriza, à primeira vista, por traços grandemente opostos ao sistematátil.Se na percepção tátil o homem capta apenas traços isolados do objeto e só posteriormente osreúne numa imagem integral, por meio da visão ele percebe de uma só vez a imagem completado objeto; se o tato é um processo de captação desdobrada e sucessiva de traços e sua síntese

 posterior, a visão dispõe de um aparelho para perceber simultaneamente as formas complexasdo objeto.

Essa característica da percepção visual, que pareceria evidente, suscitou o surgimento de umateoria que dominou durante muito tempo e segundo a qual a visão funciona como um sistemareceptor relativamente passivo, no qual a imagem das formas exteriores e das coisas se fixa naretina e, posteriormente, sem quaisquer mudanças, se transmite inicialmente às formaçõesvisuais subcorticais (corpo caloso superficial) e, em seguida, às áreas occiptais do córtexcerebral.

 No entanto, apesar da aparente evidência, essa teoria não foi capaz de responder a uma série dequestões.Continuou obscuro o papel desempenhado na percepção visual por milhões de neurônios de quedispõe o corpo caloso superficial (aparelho subcortical da visão) e principalmente o córtexvisual occipital dos grandes hemisférios. Ficou sem esclarecimento o papel desempenhado pelarepetida reprodu-

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 jão da imagem, que antes se reflete na retina e depois se repete sem mudança nas formações subcorticaise no córtex visual. Por último, ficou obscura a via de realização do processo de seleção dos componentesnecessários da percepção visual bem como a plasticidade da imagem perceptível, que permite distinguir uns elementos, abstrair outros e adaptar a imagem refletível à tarefa que o sujeito coloca para a sua percepção.Para compreender melhor os mecanismos internos da percepção visual e destacar a posição nela ocupada

 pela representação integral das formas e dos objetos, por um lado, e a possibilidade de discriminar osmenores indícios e recodificá-los em quadros sintéticos elásticos, precisamos analisar, inicialmente, emmaiores detalhes, a estrutura do sistema visual (ou do "analisador" visual) para, em seguida, passarmos àdescrição das formas básicas de funcionamento desse sistema. Estrutura do sistema visual O sistema visual possui uma completa estrutura hierárquica que o distingue acentuadamente do sistemade sensibilidade tátil.Se as áreas periféricas da sensibilidade tátil representam membros simples dos nervos sensíveis ecorpúsculos ou novelos receptores relativamente simples, a área periférica da percepção visual — o olho — representa um complexíssimo aparelho que se divide em vários componentes. No aparelho do olho podemos distinguir a parte sensível à luz (retina) e vários dispositivos auxiliares de caráter motor; dentreestes um (a íris e o cristalino) assegura a afluência dos raios luminosos que chegam à retina, a focalizaçãoda imagem e a proteção do aparelho contra influências estranhas (a córnea) e permite realizar o

movimento do dispositivo complexo (os músculos do olho).Examinemos mais detidamente as partes do olho aqui enumeradas.A retina é um dispositivo muito complexo que, diferentemente dos membros periféricos do sistema tátil,não tem absolutamente o caráter dos membros simples das células sensíveis mas constitui um aparelhoaltamente complexo que inclui55

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tanto, elementos especiais fotossensíveis como complexos elementos nervosos. Pelacaracterização de alguns autores, a retina do olho é uma minipartícul-a do córtex cerebral delocalização exterior, capaz de exercer, com autonomia, funções bastante complexas.O componente mais importante da retina é a camada ií células sensíveis especiais, bastonetes ematrazes, que ?1: complexos dispositivos fotoquímicos, capazes de distinguir \iii substânciafotossensível (a púrpura visual) e transformar i energia da luz em energia do nervo. Os

 bastonetes se distir-guem por serem consideravelmente mais sensíveis do que n matrazes masnão podem reagir separadamente às ondas luminosas de comprimentos variados, assegurando,desta fonr.í. a visão da cor (cromática). O número de bastonetes na retina é muito grande, emtorno de 130 milhões, e estão dispostos em toda a área da retina, sobretudo na periferia.Asseguram a visão noturna turva, que não consegue refletir a cc: sendo por isto uma visão"acromática". O número de matrazes é bem menor (em torno de 7 milhões). Estas estão situadasna parte centrai da retina, responsável pela visão colorida (cromática). É bem conhecida naclínica a hemeralopic (cegueira noturna), que é um distúrbio da capacidade de enxergar na

 penumbra. Isto se deve ao distúrbio do funcionamento do aparelho dos bastonetes, distúrbioesse relacionado com a carência de vitamina AI, que impede a restauração ds púrpura visual nos

 bastonetes. Já o distúrbio da capacidade de distinguir certas cores (caso dos daltônicos) se deve

a falhas no funcionamento do aparelho dos bastonetes.É característico que o acúmulo de elementos fotossensíveis (sobretudo matrazes) na partecentral da retina faz desta uma ("mancha amarela" ou "mácula") especialmente sensível; aocontrário, na parte da retina onde sai o nervo ótico e ela carece de elementos fotossensíveis, nãohá a capacidade de perceber a luz que é chamada de "mancha cega".O processo nervoso que surge nos bastonetes e nas matrazes sob a influência da luz étransmitido ao sistema integral altamente complexo de células nervosas, que formam as partesinternas da retina. As camadas da retina, assim come as do córtex cerebral, se dividem em várias

 películas, compostas por elementos nervosos de diversos tipos. Entre estes situam-se as células bipolares, capazes de captar as excita-ções, surgidas em elementos fotossensíveis isolados, etrans-56 

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 portá-los para camadas mais profundas cujos dendritos estão situados na superfície horizontal esão capazes de reunir a excitação surgida num grupo de elementos fotossensíveis; as célulasganglionares, situadas na camada interior da retina e capazes de reunir a excitação e transmiti-laao nervo óptico, que é o início da parte condutora do sistema visual. Na retina ocupam posiçãoespecial as "células amácrinas", que se distinguem por apresentarem uma disposição dosdendritos e axônios oposta à verificada em todas as células enumeradas: seus dendritos estãodispostos no sentido da parte interna e os axônios na parte externa (fotossensível da retina). Háfundamentos para se supor que elas são um aparelho efe-rente da retina, que, assegurando achegada da retina aos elementos fotossensíveis, garantem que cheguem aos elementosfotossensíveis as excitações surgidas no centro, permitindo regular a sensibilidade dos aparelhosreceptores aos objetivos internos do sujeito.A irritação da retina pela luz provoca nela ocorrências estáveis de excitação, ,que podem ser registradas em forma de oscilação de potencialidades elétricas (eletrorretinogramas), querefletem cada irritação luminosa que chega à retina. Cabe notar que a aceleração das excitações

 permite observar aceleração rítmica das respostas elétricas da retina. O ele-trorretinograma podeser empregado com êxito para o diagnóstico de mudanças patológicas da retina.O aparelho da retina aqui descrito é o primeiro dispositivo fotossensível básico que faz parte da

 parte periférica do receptor visual. Mas para o funcionamento normal, é necessário um segundoaparelho complementar do olho, que regula a afluência da excitação luminosa que chega aoselementos fotossensíveis da retina e garantem os movimentos do olho, que poderiam produzir uma imagem com o máximo de precisão na retina e permitiriam ao olho acompanhar os objetos

 perceptíveis.O aparelho que regula a afluência dos raios luminosos tem entre seus componentes a íris doolho, que, graças aos nervos nela situados, pode restringir ou ampliar a pupila. É fato conhecidoque, sob iluminação forte, a pupila do olho se restringe e se amplia sob iluminação fraca,regulando a afluência de luz na câmara interna do olho. É sabido que os aparelhos que regulama compressão e a ampliação da pupila estão situados nos corpos quadrigêmeos, razão pela qualo57 

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distúrbio da compressão da pupila na claridade pode servir de sintoma de afecção dessa área dosistema nervoso central. Entre os aparelhos que regulam a afluência de luz aos elementosfotossensíveis da retina, situa-se também o movimento do pigmento que, sob iluminaçãointensa, se desloca para a parte externa da retina, formando uma espécie de obstáculo luminoso;sob iluminação fraca, ele se desloca para as camadas internas da retina, tornando os elementosfotossensíveis acessíveis à ação imediata da luz.Uma parte importante do aparelho complementar do olho é o cristalino, que é uma lente móvelrefratária aos raios luminosos. Dependendo da distância do objeto examinado pelo sujeito, acurvatura do cristalino pode mudar, de maneira que a imagem que cai sobre a retina se tornanítida. O processo de mudança da curvatura do cristalino, que assegura a maior nitidez daimagem na retina, é denominado acomodação. Na velhice, a regulação das mudanças dacurvatura do cristalino é perturbada, requerendo-se o emprego de lentes complemen-tares paragarantir a correta acomodação do olho.Os aparelhos descritos asseguram a possibilidade do reflexo de imagens integrais na retina doolho. Este fato é facilmente verificado se examinarmos o olho de um animal que acaba de ser morto. Neste caso, aparecem nitidamente na retina os contornos do objeto que o olho percebeuimediata» mente ante a morte. O procedimento de análise dessa imagem, que permanece na

retina da pessoa que acaba de morrer, vem sendo empregado com sucesso em crirninologia.O terceiro aparelho complementar (motor) do olho é o sistema de nervos acionadores dos olhos(nervos diretos e indiretos). Através deles asseguram-se os movimentos do globo ocular, que

 permitem realizar os movimentos de coordenação (a convergência) de ambos os olhos, graçasao que a imagem, obtida em ambas as retinas, cai num ponto (se esses movimentos decoordenação dos olhos sofrem distúrbios, como ocorre na afecção das áreas superiores dotronco cerebral, surge o fenômeno da "bifurcação"); ainda através deles tornam-se possíveis osmovimentos da visão, que permitem ao olho deslocar-se de um objeto para outro. Adianteanalisaremos mais os mecanismos centrais que regulam a vista e o papel do movimento dosolhos na percepção visual.A retina do olho e seu aparelho complementar (motor) são dispositivos periféricos do sistemavisual ou o início de

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uma via visual de construção hierárquica; esses dispositivos hierárquicos asseguram tanto a chegada dossinais recebidos aos dispositivos nervosos centrais (e com isto a codificação dos sinais visuais) como aregulação do movimento dos olhos, que asseguram a correta orientação da vista.Cabe ainda lembrar que os filamentos, oriundos de áreas diversas da retina, terminam em áreasrigorosamente determinadas do campo visuat projetor, de forma que a afecção de uma pequena partedeste campo leva à supressão de uma área perfeitamente determinada do campo de visão; essa supressão

do campo de visão é denominada escotoma. Como ocorre em outros analisadores, os filamentos, queconduzem os impulsos das partes inferiores do campo de visão, terminam nas partes superiores do campovisual primário (projetor) enquanto os filamentos que conduzem os impulsos das partes superioresterminam nas partes inferiores do córtex visual projetor. Por isto a afecção das partes superiores do córtexvisual projetor provoca a supressão da parte inferior do campo de visão (hemianopsia quadrada inferior), provocando a afecção de suas partes inferiores a supressão das partes superiores do campo de visão(hemianopsia quadrada superior).Vê-se facilmente a importância desses sintomas para um diagnóstico preciso do lugar (tópico) daafecção cerebral.Já dissemos que os neurônios, integrantes tanto do corpo caloso exterior como das áreas de projeção docórtex visual, distinguem-se por uma elevadíssima especialização. Uns reagem apenas às linhas planas,outros, apenas às linhas agudas; uns reagem apenas aos movimentos do objeto do centro à periferia,outros, apenas aos movimentos do objeto da periferia ao centro, etc.

Esse caráter dos neurônios do córtex visual permite ^racionar a percepção em indícios mínimos, que, nasetapas sucessivas do sistema visual, podem reunir-se formando quaisquer estruturas móveis. O processode percepção visual não termina, entretanto, quando os respectivos sinais chegam ao campo visual projetor. Daqui as excitações são transmitidas aos campos visuais secundários (campos 18 e 19 de Broad-man), onde predominam complexos neurônios associativos da segunda e terceira camada e os impulsosfracionados obtidos podem ser unificados e codificados de acordo com as tarefas propostas ao sujeito. Jáapresentamos uma caracterização funcional desses campos e mostramos que os fenômenos, que59

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surgem com a sua afecção, e as perturbações da percepçã visual, que surgem com essa afecção,são bem conhecidos n clínica como fenômenos de agonia visual. Esses fenômeno consistemem que o doente, com os campos visuais secundários afetados, não perde a agudez da visão,distingue bem certos detalhes do objeto mas é incapaz de sintetizá-los num todo único,experimentando as mesmas dificuldades que experimenta o doente com afecção das áreassecundárias do córtex sensível e com ocorrências de asteriognose, que surgem quando ele tateiao objeto.As vias do sistema visual não se esgotam com as etapas de organização da percepção visual queacabamos de descrever. O aparelho periférico da visão tem, entre seus componentes, tantodispositivos básicos (propriamente visuais) como dispositivos complementares (óptico-motores), sendo que estes últimos também têm uma organização funcional absolutamentedeterminada.É sabido que os filamentos dos nervos, que orientam tanto a redução e a ampliação da pupila,como o processo de convergência, contatam os nervos do olhos com os aparelhos centrais dasáreas superiores do tronco, em cuja afecção surgem ocorrências de perturbação de reações da

 pupila à claridade e fenômenos da "bifurcação" dos olhos.Os filamentos do aparelho, que dirige os movimentos organizados da vista, estão incluídos num

sistema bem mais complexo e terminam no córtex cerebral. Constitui o maior interesse o fato deexistir no córtex cerebral não um "centro motor dos olhos" mas dois "centros" especiais quedirigem os movimentos da vista. Entre estes, o centro posterior está situado nas áreas parietal-occiptais do córtex cerebral e, ao que parece, serve à regulação refletora dos movimentos davista, assegurando o ato de fixação e acompanhamento do ponto em movimento. O centroântero-motor dos olhos está situado nas áreas intermediárias da zona pré-motora (campo 8 deBroad-man) e, segundo todos os dados, é um aparelho que regula o deslocamento arbitrário dosolhos e ativos movimentos de busca da vista. Esse fato é confirmado pela circunstância de que,nas pessoas com afecção das áreas parietal-occipital posteriores do córtex, perturba-se o ato defixação do ponto imóvel e do acompanhamento refletor do ponto móvel pela vista, enquanto odeslocamento ativo dos olhos é bem mais estável. Ao contrário, nos doentes com afecção docen-

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tro ântero-motor dos olhos, tanto o ato de fixação como o ato de acompanhamento do pontomóvel continuam relativamente estáveis mas se perturba grosseiramente o deslocamentoarbitrário do olho segundo o comando visual, afe-tando-se fortemente os movimentos ativos de

 busca dos olhos. Percepção das estruturasDescrevemos a estrutura morfológica do sistema visual e agora podemos passar à análise dasleis básicas da percepção visual.Dissemos anteriormente que não vivemos em um mundo de pontos isolados ou pontos coloridos

 perceptíveis visualmente mas em um mundo de figuras geométricas, objetos e situações.Quais são as leis da ocorrência da percepção desses elementos?Já vimos que tanto a estrutura da retina, com sua disposição plana das camadas de elementosfotossensíveis 'e nervosos, como a disposição plana das camadas de células nervosas no córtexvisual projetor asseguram não só a percepção de indícios isolados como também a percepção de

 formas geométricas integrais ou estruturas. As leis dessa percepção foram minuciosamenteestudadas em seu tempo por um grupo de psicólogos alemães, que criaram a corrente conhecidacomo Psicologia da Gestalt ou Psicologia da forma. De acordo com as teses básicas dogestaltismo, a percepção visual não é um processo de associação de elementos isolados mas um

 processo integral estruturalmente organizado. Wolfgang Kõh-ler, um dos fundadores dessacorrente, via no caráter integral do processo uma propriedade que une a percepção visual comos processos físicos. Se lançarmos uma pedra na água parada de um lago, veremos que, nasuperfície, surgirão círculos perfeitos que se desfazem paulatinamente sem perder sua formacorreta. Essa mesma estrutura corretamente organizada caracteriza os campos magnéticos.Organização estrutural análoga podemos observar na percepção visual. Essa percepção integraldas figuras geométricas ocorre em iguais proporções no homem e nos animais.61

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Isto foi observado reiteradamente na literatura especializada e antes de tudo nos experimentosdos psicólogos americanos K. Lashley e H. Küver.Esses pesquisadores treinaram um animal (um rato ou um macaco) para reagir positivamente auma figura de um triângulo negro em fundo branco, verificando que, após o treinamento, oanimal reage imediatamente de modo positivo ao triângulo branco em fundo negro, a umtriângulo hachurado ou pontilhadó, reagindo inclusive às linhas que formam um ângulo agudo.É evidente que o animal abrange não só os traços da figura mas toda a estrutura; aqui, o caráter integral da percepção constitui o traço fundamental da atividade receptora do animal.Experimento análogo foi realizado por Matilda Herz, discípula de Kõhler. Nesse experimentoela colocou num lugar vários vidros, colocando uma noz sob um deles. Um pássaro era treinado

 para voar até os vidros, virá-los com a asa e apanhar a noz. Se os vidros estivessem distribuídosde maneira desordenada, virava-os ao acaso, se estivessem distribuídos em ordem circular, comum deles separado, o pássaro derrubava invariavelmente este, talvez percebendo todos os outroscomo uma estrutura fechada.A percepção da cor tinha esse mesmo caráter integral. Num conhecido experimento de Kõhler,treinou-se uma galinha para bicai grãos de fundo pardo-claro, colocando-se grãos num fundo

 pardo-escuro. Se à galinha dava-se um teste de controle, no qual o quadrado pardo-escuro (antes

reforçado negativamente) era colocado ao lado do quadrado negro, ela começava imediatamentea bicar os grãos nesse quadrado pardo-escuro. É evidente que a galinha percebia os matizescoloridos não isoladamente mas em determinadas relações entre si, noutros termos, emdeterminada estrutura.Os gestaltistas descreveram várias leis às quais se subordina a percepção da forma.A primeira delas é a lei da nitidez da estrutura, segundo a qual a nossa percepção distingue antesde tudo as estruturas mais nítidas pelas propriedades geométricas.Assim sendo, se ao sujeito propõe-se uma complexa estrutura geométrica, o primeiro que eledistingue nestas são as imagens mais nítidas. A lei da nitidez da percepção visual desempenhouimportante papel na técnica de defesa, quando, ao62

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tentar-se camuflar uma figura complexa, era bastante ocultá-la em estruturas mais fortes.A segunda lei da percepção visual das formas, formulada pelos gestaltistas, foi a lei do fechamento (lei da complemen-tação do todo estrutural). Segundo essa lei,as estruturas nítidas mas não acabadas eram sempre ampliadas até atingirem o todo £eométrico nítido.As duas referidas leis permitiram explicar o processo de unificação de vários fenômenos da percepçãovisual cuja explicação continua difícil.

O primeiro desses fenômenos pode ser o fato da unificação de figuras geométricas isoladas.O caráter estrutural da percepção visual explica o fato de que, se percebemos as estruturas como dispostasnuma superfície, percebemos outras tridimensionalmente como folhas que ultrapassam a superfície plana.O caráter estrutural da percepção explica também um fenômeno denominado imagem dupla.Por último, as leis da percepção estrutural integral explicam ainda algumas das chamadas ilusões ótico- geométricas.Todas essas peculiaridades das ilusões geométricas devem-se ao fato de que a nossa percepçãogeométrica não é constituída de elementos isolados mas tem todos os traços de uma percepção integralestruturalmente organizada.A teoria da Psicologia estrutural (Psicologia da Gestalt) deu contribuição importante e inovadora à análiseda percepção integral das formas. Mas ela tem também as suas limitações. Concebendo as leis da percepção das estruturas como o reflexo natural das leis integrais dos processos fisiológicos e até físicos,

ela abstrai o fato de que, todos os fenômenos da percepção humana, por ela descritos, formaram-se emdeterminadas condições históricas e não podem ser interpretados definitivamente sem se levarem emconta essas condições. Eis porque, como mostram os fatos, as leis da "nitidez da percepção", "daconclusão do todo" (fechamento), apresentadas pelos partidários do gestaltismo como leis naturais decada percepção, na realidade revelaram-se plenamente úteis apenas •para a percepção do homem,formada nas condições de uma determinada cultura; elas não são confirmadas no estudo da percepção doshomens daquelas formações históricas nas quais a percepção das formas geométricas não tem o caráter abstrato que a distingue atualmente. As pesquisas histórico-com-63

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 parativas, realizadas nos últimos decênios, limitaram substancialmente as leis descritas naPsicologia da Gestalt e permitiram que nos convencêssemos de que, em diferentes etapas dodesenvolvimento histórico e da prática social, os processos de percepção podem subordinar-se adiferentes leis. Um exemplo disto pode ser visto no fato de que, em certas culturas, um círculonão fechado não é percebido como um círculo não acabado mas como um "bracelete",

 percebendo-se um triângulo não fechado não como um triângulo não acabado mas como um"amuleto" ou <uma "medida de querosene", etc.Um estudo da maneira pela qual se estrutura a percepção das figuras geométricas nas condiçõesdo pensamento concreto direto ainda fará, indubitavelmente, correções substanciais das leis da

 percepção estrutural, estabelecidas pelos psicólogos gestaltistas. Percepção dos objetos e situaçõesComo acabamos de ver, a percepção visual das formas simples ocorre momentaneamente edispensa buscas longas e desdobradas com a discriminação dos indícios identificadores e comsua síntese posterior numa estrutura integral.É diferente o que ocorre na percepção dos objetos complexos, bem como de suas formas ousituações plenas.

 Nestes casos, apenas os objetos mais simples e bem conhecidos são percebíveis

simultaneamente. Na percepção de objetos complexos e mal conhecidos ou de situaçõesinteiras, torna-se necessário um processo de discriminação dos indícios identificadores com suasíntese posterior e a comparação da hipótese inicial com a informação que realmente chega.Quanto mais complexa é a imagem apresentada tanto mais desdobrado é o caráter desse

 processo de orientação prévia no processo perceptivo ou situação e tanto mais ele se aproximado processo sucessivo de identificação que descrevemos ao observarmos o processo de

 percepção tátií de um objeto apalpável.O processo de percepção visual dos objetos complexos constitui uma atividade receptoracomplexa e ativa e, embora ele se desenvolva de modo incomparavelmente mais resu-64

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mido do que o processo de identificação tátil do objeto, aquele, contudo, requer a participaçãode componentes motores, aproximando-se assim da percepção tátil.Este fato foi previsto por I. M. Setchenov, quando indicou que o olho que examina um objetorealiza movimentos apalpadores basicamente idênticos ao da mão; mas só ultimamente tornou-se claro porque os movimentos dos olhos são tão necessários no exame de um objeto.Como mostrou o conhecido psicofisiologista soviético A. L. Yarbus, o problema consiste emque o olho imóvel pode manter a imagem percebida apenas durante um tempo muito breve,após o qual a imagem deixa de ser percebida e o homem passa a ver um "campo vazio". Parademonstrar essa tese, o pesquisador fixou à córnea do olho uma ventosa, na qual se fixara um

 ponto luminoso. Era fácil perceber que esse ponto se movia juntamente com o movimento doolho, noutros termos, mantinha-se imóvel em relação ao olho e sua imagem caía sempre namesma zona da retina. Pelos resultados, obtidos por Yarbus, o sujeito percebia nitidamente aimagem do ponto luminoso apenas durante uma fração muito pequena de tempo (1-2 segundos),após o que ela desaparecia e o sujeito começava a perceber um "campo vazio".Há fundamentos para pensar que esse efeito está ligado ao fato de que a longa excitação de ummesmo ponto da retina provoca certa excitação Cparabiótica) nesse ponto e leva ao seudesligamento funcional.

Por conseguinte, para assegurar a possibilidade de uma longa conservação da imagem, sãonecessários movimentos do olho que desloquem a imagem de uns pontos da retina para outros.O mesmo efeito pode ser obtido se o objeto imóvel começar a ser percebido numa rápidaalternância de cores de tonalidades iguais (V. P. Zintchenko). Neste caso, os movimentos doolho são retardados pela excitação intermitente da retina por ondas de comprimentos variados.O experimento de Yargus mostra que, para a longa percepção do objeto, são realmentenecessários pequenos movimentos dos olhos, que deslocam a imagem para zonas da retina

 próximas umas das outras, bem como movimentos do olho que examina o objeto foramrealmente estabelecidos em pesquisa especial.O método proposto por Yarbus apresentava grande precisão, mas é incômodo porque requer uma anestesia prévia65

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do olho por solução de novocaína e o sujeito pode manter um espelhinho colado à esclerótica por uma fração de tempo muito pequena (de 3-4 minutos). Por isto na prática da pesquisa psicológica foram propostos outros métodos de registro dos movimentos do olho.Um desses métodos consiste na filmagem dos movimentos do olho do sujeito que examina aimagem e na análise dos quadros sucessivos. A dificuldade desse método consiste em que o

 processamento dos resultados obtidos (transferência da posição do olho em alguns quadros parauma curva) requer longo trabalho.Essa dificuldade é evitada por dois outros métodos que -entraram solidamente na literaturaespecializada.O primeiro destes consiste em colar nos nervos do olho eletrodos fixados nas áreas temporal,nasal, superior e inferior da pele; as mudanças nas correntes da ação, que surgem comsucessivos movimentos dos olhos, são registradas numa película correspondente. Esse método

 pode apresentar precisão suficiente, embora as curvas assim obtidas possam ser observadasdurante período relativamente curto e necessitem de correção.O segundo método, proposto por A. D. Vladímirov, consiste no seguinte: sobre o olho do sujeitodeitam-se raios de luz que passam por um filtro infravermelho; o olho não percebe a açãoseguinte desses raios, sentindo apenas o calor. A diferença entre o reflexo da luz a partir de uma

 pupila escura e uma íris clara se transforma em diferença de potenciais e deslocamento do pontoque separa a pupila da íris; essa diferença é registrada em película. A vantagem desse métodoconsiste em que ele não requer nenhuma fixação da ventosa à esclerótica do olho, dandoimediatamente o registro da trajetória dos movimentos e esse registro pode ter longa duração.Os testes com registro do movimento do olho durante o exame de objetos complexos

 permitiram que nos convencêssemos de que, no processo de exame atento do objeto, ocorrem pelo menos dois tipos de movimentos dos olhos.O primeiro deles são micromovimentos dos olhos, que deslocam a imagem para os pontoscontíguos da retina; esses movimentos são notados até na fixação de um ponto imóvel peloolho. Sua importância para a conservação de uma imagem estável fica clara graças ao testeacima descrito, que mostra que a imagem imóvel em relação ao olho se mantém na retinaapenas durante um tempo muito breve.

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O outro tipo de movimento é de caráter bem diferente e tem outra importância funcional:consiste em grandes movimentos do olho, que o deslocam de um ponto a outro e engloba tantomovimentos em forma de salto como movimentos cadenciados (de deriva) do olho. Háfundamentos para considerar que esses movimentos asseguram uma função sucessiva do olhoem pontos isolados do objeto perceptível e permitem discriminar sucessivamente os pontosmais informativos (indícios do objeto), compará-los entre si e sintetizar um conjunto definitivode indícios indispensáveis à identificação do objeto.O estudo dos movimentos dos olhos, através dos quais o sujeito se orienta no objeto queexamina, tornou-se um dos importantes métodos" de estudo da percepção dos objetos e imagenscomplexas.Os fatos mostraram que o olho, ao examinar um objeto complexo, nunca se movimenta sobreele de maneira uniforme mas sempre procura e discrimina os pontos mais informativos queatraem a atenção de quem os examina.Constitui interesse especial a aplicação desse método ao estudo do processo de análise dacomposição de quadros complexos. Os dados assim obtidos mostram que o sujeito, ao examinar um quadro complexo, não só destaca neste os detalhes essenciais como também muda o sentidodo seu exame e a discriminação de detalhes particulares, dependendo da tarefa que lhè foi

 proposta.Uma análise atenta mostra que mudam nitidamente os movimentos dos olhos da pessoa queanalisa um quadro com instruções variadas, que o olho começa a "tatear" a situação em unscasos, as roupas, em outros, e os intensivos movimentos do olho, que fazem uma comparaçãovisual de figuras isoladas, surgem com as sucessivas instruções.Tudo isto leva a entender o grande trabalho executado pelo olho no processo de percepção e oquanto esse trabalho depende da complexidade da tarefa.Esta última circunstância se torna especialmente nítida nos casos em que se dá ao sujeito atarefa de fazer um complexo trabalho mental como, por exemplo, avaliar no olho quantas vezeso tamanho de um corte cabe numa determinada figura. Nesses testes, realizados por U. B.Hippenreuder, foi demonstrado que os movimentos dos olhos parecem fixar 67 

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certa medida na superfície do objeto examinado, tornando assim possível a realização da tarefa. Fatores determinantes da percepção de objetos complexosDescrevemos o processo de percepção visual de objetos e situações complexas, vimos aimportância aqui desempenhada pelos ativos movimentos de busca dos olhos.Surge uma questão: de que é que depende o caráter da percepção de complexos objetos visuais?Quais são os fatores que determinam a percepção consciente dos objetos e situações?O fator primeiro e mais importante, que determina a percepção de objetos complexos, é a tarejaque se coloca ao sujeito e a atividade prática que ele desenvolve com esse objeto.A influência desse fator pode ser demonstrada num teste simples, realizado pelo conhecido

 psicólogo soviético A. V. Zaporojets. Ele deu a um grupo de sujeitos a tarefa de traçar umcírculo còm compasso e em seguida representar esse compasso. Deu a um segundo grupo desujeitos um compasso desmontado; estes deviam inicialmente montar o compasso e só depoistraçar com ele um círculo; somente depois disf o propunha-se-lhes representar o compasso numdesenho. Os resultados dos testes com ambos os grupos de sujeitos foram inteiramente distintos.Para a percepção de uma imagem complexa, é de suma importância a assimilação do tema dasituação em que ela está incluída.Fatos análogos foram observados por outros psicólogos, que efetuaram testes com estudo do

 processo de percepção em condições de culturas diferentes. Verificou-se que a conhecida ilusãona qual, entre duas linhas-T de imagem de tamanho idêntico, a vertical sempre parece maislonga do que a horizontal, ocorre apenas entre as pessoas que vivem em condições de estruturasverticalmente dispostas, não se observando entre as pessoas que vivem em cabanas redondas enão têm experiência acumulada no processo de habitação em construções verticalmenteorientadas.  .>,,,68

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Para a percepção do objeto e sua forma, é de importância essencial o valor de indícios isolados.Assim, em experimentos realizados durante a II Guerra Mundial, A. I. Bogoslovsky mostrouque a precisão da percepção das formas aumenta substancialmente se à figura examinadaatribuía-se a significação de "nosso" avião ou avião "inimigo".Vê-se facilmente que os traços essenciais para o trabalho profissional do homem (por exemplo,os matizes do aço incandescente, que anunciam a existência de impurezas indesejáveis) são

 percebidos pelo especialista de maneira bem superior à do homem para o qual tal traço não temimportância.É de grande importância para a percepção a experiência anterior do homem e a percepçãomaterial das imagens correspondentes.O primeiro grupo de fatos, que demonstram essa tese, foi obtido em testes pelo psicólogosoviético D. N. Uzuadze e seu^ colaboradores.Se durante longo tempo o sujeito tateia com a mão esquerda uma esfera grande e, com a direita,uma esfera pequena e, se após 10-15 testes semelhantes, ele coloca nas mãos esferas idênticas, aesfera que se encontra na mão direita parecerá maior em contraste com a esfera pequena.Poderemos obter efeito análogo se apresentarmos visualmente ao sujeito duas circunferências,sendo a da esquerda de diâmetro maior do que a da direita, e, depois de 10-15-exposições

semelhantes, sugerirmos duas circunsferências do mesmo tamanho. Neste caso, a circunferênciada esquerda parecerá menor pelo contraste com a experiência anterior. Os testes com ainfluência da experiência anterior sobre a percepção posterior podem ser feitos também emforma mais direta. Por exemplo, se mandarmos um sujeito ler um texto em latim e em seguidalhe propusermos uma palavra formada por letras neutras (iguais no alfabeto russo e no latino), .como a palavra PAMKA, ele a lera de acordo com a transcrição latina; se antes disto pedirmos queele leia o texto em_ russo, a mesma palavra será lida de acordo com a transcrição russa.O mesmo poderemos obter se propusermos ao sujeito uma figura de interpretação dupla: a

 percepção desta figura dependerá do objetivo criado pela experiência anterior. Por exemplo,depois de uma rápida exposição do quadro "barcos à vela", mostrou-se aos sujeitos o quadro"flores do lótus".69

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Via de regra eles também a perceberam como um barco; em outras condições se observava talilusão.O fenômeno que acabamos de descrever é muito conhecido em Psicologia como apercepção e

 pode ser observado em muitos exemplos. Assim, por exemplo, a inscrição " NÃO CONSERVAR ", pendurada num auditório, é habitualmente lida pelas pessoas como "não conversar". Sãoconhecidos casos em que o homem muito faminto e procurando refeitório numa cidade estranhalê o letreiro "ofeuv" (calçados) como "obedF (almoços). Um grande número de erros de

 percepção, verificados em casos de elevada prontidão e reduzida crítica do sujeito tem caráter análogo.O fator da influência da experiência prática sobre a percepção serviu de base às conhecidas

 pesquisas do psicólogo austríacos I. Kõhler com a reestrutura da organização espacial da percepção. Este psicólogo pôs no sujeito óculos com lentes prismáticas, que reviravam aimagem perceptível "de pernas para o ar" ou da direita para a esquerda. A princípio os sujeitosnão conseguiam, de maneira nenhuma, orientar-se no meio ambiente, permanecendointeiramente imobilizados; mas com o uso demorado e permanente de semelhantes óculos, elesse adaptaram de tal forma a estes que a imagem assim obtida deixou de influenciar os seusmovimentos e eles não mais perceberam a irregularidade do quadro percebido pelos seus olhos.

A influência de uma sólida experiência anterior sobre a percepção pode levar a ilusõesevidentes.Podem servir de exemplo típico os famosos testes do psicólogo americano Ames. Este sugeriuao sujeito a maquete de um quarto onde as relações reais das paredes haviam sido modificadasde tal modo que a sua projeção coincidia com a projeção das partes distantes e próximas doquarto na retina. A noção das correlações reais das paredes do quarto dominou de tal forma queas suas correlações distorcidas na maquete não foram percebidas e o sujeito que foi colocado

 junto à parede distante começou aparecer bem menor do que o colocado junto à parede deentrada. No entanto, a influência da experiência anterior pode levar não apenas a ilusões, comoindicamos no início do presente capítulo, mas também assegurar elevada constância e dar legitimidade (caráter ortos-cópico) à percepção.70

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Já demos anteriormente um exemplo de como o conhecimento da forma do objeto (da forma arredondadado prato, por exemplo) aumenta a constância da percepção da forma e torna o homem mais estável para a percepção correta da forma durante a mudança da posição do objeto.A mesma influência da experiência anterior pode manifestar-se no aumento considerável da constância da percepção de suas dimensões. Um exemplo de semelhantes influências da experiência anterior e da percepção material sobre a constância das dimensões pode ser visto no experimento do psicólogo

soviético E. S. Bein. É sabido que, na medida em que o objeto se distancia, sua imagem na retina do olhodiminui proporcionalmente à distância. Isto pode ser estabelecido se propusermos ao sujeito, afastandodeste, uma imagem indefinida (uma mancha de tinta, por exemplo) e igualá-la a manchas de tamanhosvariados, situadas diante dele. Se, porém, substituirmos a imagem indefinida por uma imagem material, pela figura de um gato, por exemplo, o sujeito continuará a avaliar o seu tamanho de modo muito maisconstante do que o tamanho da mancha indefinida. Neste caso a noção constante do tamanho do objeto,formada na experiência anterior, corrige o reflexo paulatinamente decrescente desse objeto na retina e criaa possibilidade de conservar uma avaliação mais constante do tamanho, avaliação essa que se aproximado tamanho autêntico do objeto.As diferenças individuais das pessoas podem constituir um fator essencial que influencia a percepção. No início deste século, o famoso psicólogo francês A. Binet deu a dois grupos de sujeitos a tarefa dedescrever um cigarro que lhes havia sido mostrado. Uns sujeitos descreviam o cigarro em termosobjetivos ("é um canudo de papel longo; de um de seus lados, aparece num papel fino uma massa marrom

rusosa; tem 10-12cm": etc). O sesundo grano incorpora à descrição muitos componentes subjetivosemocionais ("é um cigarro perfumado... na certa é muito agradável dar uma fumadinha; quando a genteestá cansada, é agradável sentir o seu cheiro"). Esses dados permitiram a Binet falar de um tipo objetivo eum subjetivo de percepção, inerentes a pessoas diversas. Não são menos importantes outras diferençasindividuais de percepção, como o predomínio da percepção analítica com a discriminação de muitosdetalhes em uns e da percepção sintética integral, em outros.71

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Essas diferenças da percepção podem manifestar-se nitidamente quando se examinam manchasindefinidas de tinta. Esse método, aplicado em seu tempo pelo psicólogo suíço Rorshach(amplamente conhecido como "manchas de Rors-hach"), permitiu mostrar que, se uns sujeitosmanifestam a tendência a discriminar pequenos detalhes e, via de regra, ignoram o todo, outrosavaliam nas manchas de Rorshach apenas os contornos genéricos, omitindo detalhes isolados enão se detendo nestes.O método da percepção das manchas do Rorshach foi amplamente difundido na prática dodiagnóstico, revelando peculiaridades essenciais da percepção indireta e detalhada dosepilépticos, da percepção emocional e variável dos histéricos, etc.É natural que o processo de percepção sofre influência muito séria do nível intelectual dosujeito.É fato conhecido que o sujeito normal percebe o objeto que lhe é proposto, discriminando nesteuma infinidade de traços, incluindo-o em diferentes situações e generalizando-o numa categoriacom objetos exteriormente diferentes mas essencialmente semelhantes. Como mostrou oconhecido psicólogo soviético I. M. Solovêv, os sujeitos intelectualmente atrasados discriminamno objeto examinado um número consideravelmente inferior de traços, incluem com dificuldadeo objeto em exame em diferentes contextos e, por isto, sua percepção é bem mais pobre e

indireta do que a percepção do sujeito normal.Métodos de estudo da percepção visual falsaO estudo da percepção e sobretudo dos processos de discriminação da imagem de um fundoambiente, da constância e da generalidade da imagem perceptível pode ser de grandeimportância para a avaliação do desenvolvimento psíquico geral da criança, o estabelecimentodas peculiaridades psíquicas importantes para alguns tipos de atividade profissional e para odiagnóstico de alguns estados patológicos do cérebro.É de importância especial para esse fim o estudo de diversas formas de percepção material, de

 percepção das relações espaciais e percepção de quadros e temas complexos.72

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A Psicologia elaborou uma série de procedimentos para semelhantes pesquisas. Os procedimentos básicos de estudo da percepção material consistem no seguinte: apresentam-seao sujeito imagens de objetos feitas às vezes de maneira realista, às vezes de maneiraesquemática ou apenas rascunhadas com os traços básicos; no último caso, empregam-sequadros nos quais um objeto está representado com uma plenitude em ordem crescente e

 propõe-se ao sujeito identificar a imagem que lhe é proposta.Até pequenos desvios no processo pleno de percepção são facilmente verificados pelo fato deque os sujeitos, que percebem facilmente as imagens realistas, são incapazes de identificar cr objeto caso sua imagem seja apresentada em forma esquemática ou incompleta.O segundo procedimento de estudo da percepção material consiste em apresentar ao sujeitocontornos de imagens dos objetos, sublinhados com linhas de fora ou superpostos uns aos outros(as chamadas "figuras de Poppelroite").Por último, os procedimentos aplicados com êxito para o estudo da precisão de percepçãomaterial consiste em propor a imagem do objeto em condições de "ruído", noutros termos, emcondições nas quais é difícil distingui-lo do fundo cir-cundante.Às vezes, até distúrbios insignificantes da percepção material, não percebidos em condiçõesnormais, manifestam-se facilmente durante a aplicação desses testes.

O estudo da percepção espacial se propõe a estabelecer o quanto o sujeito está em condições deorientar-se num "espaço assimétrico", sem confundir o lado esquerdo, o quanto o sujeito podeconceber mentalmente a correlação espacial das partes num todo complexo.Para a primeira tarefa, propõe-se ao sujeito um esquema de relógio sem os números domostrador e avaliar a hora indicada pelos ponteiros. Em testes dificultados, sugerem-se-lheavaliar duas imagens — a de um relógio e a de um mapa geográfico, num dos quais as imagenssão corretas e no outro

do epute 0 sujeiío m disíúr&jos da percepçãosspa-ciai mistura facilmente as duas imagens e começa a sentir dificuldade de avaliá-las.

 D vire) às percepção espsóa) pode ser avaliado tanto pelo número de erros cometidos como pelo tempo gasto pelo sujeito na solução de determinado número de tarefas.73

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O estudo da possibilidade de imaginar mentalmente a correlação das partes no espaço éefetuado com êxito através de um teste no qual se propõe ao sujeito a imagem esquemática deuma figura composta de cubos, sugerindo-lhe indicar o número total de cubos incluídos nessafigura (testes de Yerkes).Para o estudo da percepção e do nível de seu desenvolvimento, são de grande importância ostestes de avaliação de quadros temáticos. A finalidade desses testes é fazer uma análise dasligações que o sujeito estabelece entre os elementos particulares de uma complexa situaçãoevidente, da maneira pela qual ele procura os detalhes mais informativos, cria hipóteses,compara estas com a imagem real e chega a uma solução correspondente. Pelo seu conteúdo,esse estudo da percepção se assemelha ao estudo do pensamento direto.Para esse fim, a Psicologia emprega dois procedimentos: o procedimento da análise de umquadro temático e complexo e o procedimento de análise de uma série de quadros.Para o êxito da aplicação do primeiro procedimento empregam-se quadros temáticos cujasidéias não possam ser percebidas de imediato, de maneira unívoca, e para cuja interpretaçãocorreta é necessário examinar atentamente detalhes isolados, compará-los entre si, distinguir osmais importantes e criar hipóteses correspondentes do sentido geral do quadro que,

 posteriormente, devem ser comparadas ao conteúdo real do quadro.

A avaliação prematura, sem base numa análise minuciosa do conteúdo do quadro, pode levar aconjeturas inadequadas. A análise de semelhantes quadros pode produzir matéria importante para avaliação do nível geral de desenvolvimento mental da criança. Pode ser uma indicaçãodisto a limitação da atividade pela simples nomeação de objetos isolados ou ações isoladas quese verificam nas etapas tenras de desenvolvimento e se mantêm numa idade mais tardia em casode retardamento mental.Um procedimento útil de estudo das formas complexas de percepção, situadas na fronteira como pensamento direto, é a análise de uma série de quadros nos quais as etapas de um temaordenado se refletem na série de quadros isolados. O desvio no desenvolvimento mental, bemcomo o distúrbio do pensamento direto manifestam-se facilmente no fato de que cada um dessesquadros começa a ser avaliado separadamente74

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e o sujeito se revela incapaz de descrever um tema integral em desenvolvimento, incluindonesses quadros partes não representadas em quadros isolados.O estudo da avaliação dos quadros temáticos e de suas séries é amplamente empregado na

 prática e na Psicologia clínica. Desenvolvimento da percepção material Seria incorreto pensar que. desde o inícios a percepção tem as leis que observamos no adulto.Como mostraram as pesquisas, a percepção percorre um longo caminho de desenvolvimento. Aessência desse desenvolvimento consiste não tanto no enriquecimento quantitativo quanto na

 profunda reorganização qualitativa cujo resultado é a substituição das formas elementaresimediatas por uma complexa atividade percepíiva, constituída tanto pela atividade prática deconhecimento do objeto quanto pela análise das particularidades essenciais deste, análise essaque é feita com a participação imediata do discurso.É sabido que a percepção de um bebê é muito difusa e ele percebe não tanto os objetosdestacados quanto os seus traços difusos particulares (matizes, traços expressivos, etc). Por istoas reações do bebê diante do mundo depende em alto grau de um sorriso, uma pose ou damaneira como a mãe está vestida, etc. Há fundamentos para se pensar que as primeiras

 percepções constantes dos objetos começam a formar-se na criança no processo em que ela

agarra, manipula as coisas, etc. No entanto os vestígios do estágio difuso tenro dedesenvolvimento da percepção ainda persistem durante um tempo bastante longo,Como mostraram as pesquisas do psicólogo soviético G. L. Rosengardt-Punko, a criança de 1,5-2 anos continua a distinguir no objeto traços isolados, sem revelar a constância da percepção doobjeto que é própria da percepção dos adultos. Quando se pede a uma criança para trazer um«

 brinquedo como o urso de pelúcia que lhe foi mostrado, ela pode trazer um pano macio de pelúcia, reagindo à maciez, ao aspecto peludo e à cor e não ao objeto em conjunto. Quando selhe pede para trazer c pato de porcelana que lhe foi mostrado, ela pode75

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trazer qualquer figura de porcelana ou uma bola com uma ponta fina ("o bico"), etc. Somente depois queo objeto começa a ser designado pela palavra ("urso", "pato") é que a percepção da criança adquirecaráter material constante e ela deixa de cometer os erros aqui descritos.Os testes, realizados pelo psicólogo soviético A. A. Lyu-blinsky, mostraram que a incorporação da palavra transforma radicalmente o processo de percepção, permite distinguir mais nitidamente as imagenscom base não em indícios isolados mas no seu caráter material complexo (após assimilar a representação

verbal do objeto, a criança deixa de cometer erros de percepção, elabora um processo bem mais preciso,rápido e constante de diferenciação). Por conseguinte, sob a influência da linguagem, a percepção dacriança se transforma radicalmente numa percepção material complexa e concreta.Pesquisas posteriores mostraram que, a par com a linguagem, participam da formação da percepçãocomplexa os movimentos (movimentos da mão que tateia o objeto) táteis e os movimentos dos olhos, quedistinguem os traços informativos essenciais do objeto e os sintetizam. Esses movimentos têminicialmente caráter amplamente desdobrado e caótico e só paulatinamente se tornam organizados e cadavez mais reduzidos.Deste modo, o desenvolvimento da percepção é essencialmente o movimento das ações voltadas para adescoberta das particularidades essenciais dos objetos e a sua identificação. A identificação rápida esimultânea dos objetos visualmente perceptíveis é, de fato, o resultado do desenvolvimento paulatino deuma atividade desdobrada de orientação e pesquisa e sua transformação em "ação perceptiva" interna.Processo análogo de redução dos movimentos analisadores e identificadores dos olhos, que se manifesta

no processo de desenvolvimento, pode ser visto também no estudo do processo de análise de complexosquadros temáticos.Dados igualmente essenciais foram obtidos no estudo do desenvolvimento de formas mais complexas deatividade perceptiva nas crianças. Como mostraram os experimentos de A. V. Zaporojets e seuscolaboradores, atos como a avaliação de uma magnitude, da forma e até da cor dos objetos não sãofunções congênitas simples mas se formam através de uma atividade de orientação e pesquisa que se"desprende" da atividade prática e começa paulatinamente a apoiar-se na apli-76 

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cação de "medidas" ou "padrões" conhecidos e elaborados pela criança, sendo que a aplicação destes"padrões" começa a ter caráter cada vez mais reduzido.Tudo isto mostra que a percepção material do homem se forma no processo de uma ampla -atividade perceptiva, sendo a própria percepção material um produto "reduzido" dessa atividade.Ao estudarmos o desenvolvimento da percepção na infância, não podemos omitir um importante episódioda história desse problema.

Em seu livro sobre Psicologia infantil, o famoso psicólogo alemão William Stern lançou a hipótese deque a percepção de quadros e situações na criança revela quatro estágios básicos: no primeiro a criança percebe apenas objetos isolados, no segundo, ações, no terceiro, as qualidades da coisa, no quarto, ascomplexas relações entre as coisas.Essa concepção das vias de desenvolvimento da percepção manteve-se na Psicologia durante um períodomuito longo. Mas em meados da década de 20 do nosso século o psicólogo soviético S. Vigotsky mostrouque essa hipótese estava em contradição com o fato de que a criança percebe inicialmente situaçõesinteiras e só depois é capaz de separar nela os componentes isolados. Vigotsky demonstrou essaafirmação propondo a crianças não narrar mas representar ativamente o tema de um quadro. A criança,que através das palavras podia designar apenas alguns objetos isolados, conseguia entender facilmente e"representar" o tema do quadro.Isto levou Vigotsky a levantar a hipótese de que os estágios descritos por Stern em realidade não sãoestágios de desenvolvimento da percepção mas estágios de desenvolvimento do discurso infantil, no qual,

como se sabe, predominam inicialmente os substantivos e só mais tarde discriminam-se as palavras quesignificam ações, qualidades e relações.Esse fato (que analisaremos adiante) indica o grande papel desempenhado na percepção da criança pelalinguagem c constitui um dos fatos mais importantes da Psicologia atual. Patologia da percepção material Se a percepção do homem tem uma estrutura tão complexa e percorre uma via tão complexa dedesenvolvimento fun-77 

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Cional, compreende-se perfeitamente que em estados patológicos ela possa apresentar distúrbios variados.Em diverso estados patológicos do cérebro, esse processo pode apresentar distúrbio emdiferentes níveis: em uns casos o distúrbio é resultado do fato de que a informação sensorialnão chego ao córtex ou provoca excitação apenas insuficiente estáveis e excitaçõesinsuficiente limitadas; noutros casos, as excitações que chegam ao córtex deixam,

devidamente, de unificar-se em sistemas e codificar-se; em terceiros, o distúrbio atinge o eloativo da atividade perceptiva e o doente ou não começa um ativo da atividade trabalho deprocura, destinado a discriminar os pontos mais informativos, ou não mantém a “tomadadefinitiva da decisão” a respeito do objetivo que se encontra à sua frente e toma uma decisãoprematura partindo apenas de um fragmento parcial do quadro percebido. Por último, podemocorrer formas de patologia nas quais o doente é incapaz de separar as influências estranhasdas propriedades fundamentais do objetivo examinado e começa a cometer erros, confundindoo esperado com o real ou as excitações casuais com os objetivos autênticos.Essa patologia da percepção pode ser observada tanto nas afecções locais do cérebro comonas clínicas de doenças psíquicas. Mencionaremos apenas os dados mais importantes quepermitem responder a essa pergunta.A afecção das áreas occiptais do cérebro (áreas primarias do córtex visual) elimina apossibilidade de perceber o objetivo visual, tendo em vista que as excitações que partem da

retina do olho não chegam, neste caso, ao córtex cerebral. Se essa afecção é de caráter parcial e leva à abolição do ponto limitado do campo de visão, o sujeito pode compensar essedefeito por meio de um ativo movimento dos olhos. São conhecidos os casos em que o doente,com restrição muito grande do campo visual, pode executar com êxito o trabalho de arquivista,reunindo ordenadamente manuscrito e em seguida reunindo desenhos complexos.Distúrbios consideravelmente graves da percepção de objetos e imagens complexas surgemdurante o distúrbio das áreas secundarias do córtex (campos 18 e 19 de Broadman). Nestescasos, o doente continua a perceber bem detalhes isolados do abjeto ou de sua imagem mas éincapaz de sintetiza-los num todo único, razão pela qual ele não percebe todo o abjeto e éforçado a conjeturar do significado do imagem78

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 por indícios isolados. Alguns doentes, ao examinarem o desenho de um óculos, podem dizer: "...o que é isto?... é ura círculo e mais um* círculo... e uma barra... na certa é uma bicicleta?"; ouexaminando o desenho de um galo ele pode dizer: "...mas o que é isto?... aqui tem um claro...um vermelho... um verde... não serão lingüetas de fogo?..." Os ativos movimentos dos olhos,incluídos por esses doentes no processo de exame dos objetos, freqüentemente não os aludam aidentificar o desenho complexo justamente porque, neste caso, está deformada a síntese dosindícios isolados numa imagem integral.Uma forma original de distúrbio da percepção visual surge durante a afecção das áreas paríetal-occiptais do cérebro, que provoca os fenômenos da chamada "agnosia simultânea" (A. R.Luria). Nestes casos, o doente é capaz de identificar bem objetos isolados ou imagens destes; noentanto, o volume da percepção visual se reduz como resultado da patologia do córtex visualque o doente fica em condições de operar simultaneamente com apenas um ponto excitado,ficando os pontos restantes como que inibidos. Por isto esses doentes podem perceber apenasuma das duas figuras que se lhes mostram simultaneamente e só após várias exposições rápidas(de um triângulo e um círculo, por exemplo) eles declaram: "ora, €ií sei que aqui há duasfiguras, um triângulo e um círculo, mas vejo cada vez apenas uma...".É característico, que nesses casos, as dimensões da figura percebida não têm importância para a

sua percepção e o doente pode perceber do mesmo modo uma agulha ou um cavalo mas éincapaz de perceber simultaneamente duas ou várias imagens. É natural que um doente comoeste não pode atingir o centro de um círculo com um lápis porque ele vê simultaneamente ou a

 ponta do lápis ou o círculo, cometendo, por isto, erros característicos. Por esse mesmo motivoele não consegue traçar o contorno que lhe foi proposto nem ir além de uma linha ao escrever uma carta. Os movimentos dos olhos desse doente são desorganizados e ele, ao acompanhar facilmente um ponto em movimento^-não pode transferir a vista de um ponto a outro.Compreende-se que para deslocar o olhar de um ponto a outro é necessário conservar acapacidade de perceber  simultaneamente dois pontos: um, para o qual o homem está olhando, eo outro, que se encontra na periferia do campo de visão e para o qual o olhar deve ser deslocado.79

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Essa condição é abolida durante o estreitamento da percepção visual e sua limitação a um focoacessível de excitação, tornando-se impossível o deslocamento organizado do olhar de umobjeto a outro.É natural que se torne acentuadamente complexa para esses doentes a análise de quadrostemáticos difíceis. Eles deixam de "abranger" todo o quadro, percebem-lhe apenas fragmentosisolados e são forçados a "conjeturar" o seu conteúdo onde o homem normalmente o percebe.Uma forma especial de perturbação da percepção visual surge com a afecção unilateral (maisfreqüentemente do lado direito) das áreas occiptal-parietais do cérebro. Nestes casos, pode-seobservar um fenômeno sui generis, que na clínica recebeu o nome de agnosia ótica unilateral.Este fenômeno consiste em que o doente deixa de perceber um lado (habitualmente o esquerdo)do desenho ou da imagem complexa que se lhe apresenta. As peculiaridades dessa formaconsistem em que, diferentemente da percepção unilateral do campo visual primário, provocada

 pela hemianopsia, esses doentes, não recebendo sinais do respectivo lado do campo perceptível,simplesmente ignoram esse lado; por isto não conseguem contar o número de figurasrepresentadas no quadro e nos casos mais graves chegam a ignorar até o lado esquerdo de dadoobjeto. É característico que, diante disto, nos movimentos dos olhos de semelhantes doentesaparecem várias perturbações. Ao fixar o lado direito do objeto que examina e fazendo um

movimento complementar do olho no sentido desse lado direito, tais doentes não passam a vistasobre o lado esquerdo do quadro, o que sugere uma original "diaferentação" da metade esquerdada visão.É inteiramente distinto o quadro do distúrbio que surge nos doentes com afecções maciças doslóbulos frontais do cérebro. Esses doentes conservam a percepção de detalhes isolados eimagens inteiras. No entanto os movimentos ativos dos olhos, que efetuam a busca dos detalhesmais informativos, são aqui grosseiramente perturbados e às vezes cessam inteiramente; odoente deixa de examinar o quadro e não tenta orientar-se nele; pode sugerir uma hipótese doseu conteúdo sem verificá-la, sem comparar os detalhes isolados do quadro e os erros de sua

 percepção não estão vinculados a falhas da síntese visual mas de sua atividade de procura. Tudoisto se manifesta no fato de que os movimentos de seus olhosSO 

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são passivos e caóticos e em que as diversas instruções que lhes são dadas não mudam o sentidoe o caráter desses movimentos dos olhos.Um dos fatores essenciais, que serve de base à patologia da percepção visual nos doentes comafecção dos lóbulos frontais do cérebro, é a inércia patológica, que se manifesta tanto naavaliação dos objetos visuais como no movimento dos olhos desses doentes.A segunda fonte de perturbação da percepção visual de objetos complexos em doentes comafecção dos lóbulos frontais do cérebro é a 'perturbação do processo de comparação dainformação real com a hipótese, informação essa que representa um fragmento de material

 perceptível. Nestes casos, a causa do distúrbio da percepção é o processo defeituoso deatividade perceptiva e a profunda perturbação do mecanismo da "ação aceptora".Os distúrbios da percepção visual podem ocorrer também nos estados patológicos de atividade,

 provocados por uma afecção geral do córtex cerebral e pelos deslocamentos funcionais queestão relacionados com a patologia geral na estrutura da atividade psíquica.Deste modo, entre os doentes com retardamento mental e demência orgânica, podemos observar atraso ou desintegração da análise de uma situação complexa com degradação da percepçãovisual de um quadro difícil até a enumeração de objetos isolados; por isto o experimento deanálise de um quadro temático tornou-se um dos pontos de apoio mais importante no

diagnóstico do retardamento mental.Podemos observar distúrbios substanciais também nos casos de psicose, particularmente noscasos de esquizofrenia.As peculiaridades típicas da percepção consistem em que a influência da experiência anterior sobre a análise de um quadro polissêmico pode ser consideravelmente perturbada neste caso; sena pessoa normal essa -análise ocorre sob a influência reguladora da experiência anterior, graçasà qual as relações pouco prováveis são abandonadas e as altamente prováveis determinam aavaliação do sentido do quadro, já no esquizofrênico essa influência desaparece, ele podeavaliar o sentido do quadro através de detalhes diretos, revelando-se sem condições de controlar as hipóteses pouco prováveis que lhe afloram na mente.81

O estudo psicoiógico do distúrbio da percepção dos estados patológicos do cérebro é de grandeimportância tanto para o diagnóstico prático das afecções cerebrais como para um estudo maisaproximado da estrutura da atividade percep-tiva de um homem normal.

 Percepção do espaçoA percepção do espaço muito se distingue da percepção ■da forma e do objeto. Sua diferençaconsiste em que ela se "baseia em outros sistemas de analisadores de funcionamento simultâneoe pode ocorrer em diferentes níveis.Durante muito tempo, a filosofia discutiu se a percepção do espaço é congênita (comoconsideravam os "nativistas") ou resultado de aprendizagem (como consideravam os partidáriosdo empirismo).Hoje é absolutamente claro que, embora a percepção do espaço tenha por base vários aparelhosespecíficos, sua estrutura é muito complexa e as formas desenvolvidas de percepção do espaço

 podem ocorrer em diferentes níveis.A percepção do espaço tridimensional se baseia na função de um aparelho especial — os canaissemicirculares (ou o aparelho vestibular) — situado no ouvido interno. Esse aparelho tem aforma de três tubos curvos semicirculares, situados nos planos vertical, horizontal e sagitai,

 preeenchidos por um líquido. Quando a pessoa muda a posição da cabeça, o líquido que encheos canais muda de posição e o aparelho otolítico situado nos canais (sacos membranosos, queincluem cristais muito miúdos) rnudam de posição, provocando excita-ção das células capilares,que leva ao surgimento de mudanças na sensação de estabilidade do corpo ("sensaçõesestáticas"). Esse aparelho que reage sutilmente ao reflexo dos três planos fundamentais doespaço é o receptor específico deste.Esse aparelho está estreitamente vinculado ao aparelho dos músculos motores dos olhos e cadamudança do aparelho vestibular provoca mudanças reflectoras na posição dos olhos; nasmudanças rápidas e demoradas da posição do corpo no espaço, começam os movimentos de

 pulsação dos olhos denominados mistagmo (iridocinesia), e na mudança rítmica demorada das

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excitações visuais (por exemplo, nas que sur-82 

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gem quando passamos de automóvel por uma aléía com árvores, que "passam" rápida econstantemente, ou quando fixamos longamente o olhar num tambor giratório com faixastransversais) surge um estado de instabilidade acompanhado de enjôo. Essa estreita relaçãomútua entre o aparelho vestibular e o aparelho motor dos olhos, que provoca reflexos ótico-vestibulares, são um componente essencial do sistema que assegura a percepção do espaço.O segundo aparelho importante, que assegura a percepção do espaço e acima de tudo da

 profundidade, e c dispositivo de percepção visual binocular e de sensação dos esforçosmusculares produzidos pela convergência dos olhos.É fato bem conhecido que a profundidade (distância) dos objetos é sobretudo bem percebidaquando observamos o objeto com ambos os olhos. Para perceber os objetos com a necessárianitidez, a imagem do objeto em observação deve cair sobre os pontos correspondentes da retina;

 para assegurar isto é necessária a convergência de ambos os olhos. Se na convergência dosolhos surge uma insignificante disparidade de imagens, aparece a sensação de distância doobjeto ou o efeito estereoscópico; com maior disparidade dos pontos da retina de ambos osolhos sobre os quais cai a imagem, surge uma bifurcação do objeto. Deste modo, os impulsosderivados da tensão relativa dos músculos dos olhos, que asseguram a convergência e odeslocamento da imagem em ambas as retinas, constitui o segundo componente importante da

 percepção do espaço.O terceiro componente importante da percepção do espaço são as leis da percepção estrutural,que já descrevemos anteriormente e em determinadas condições se bastam por si mesmas para

 provocar a percepção da profundidade. A essas leis incorpora-se uma última condição — ainfluência da experiência anterior  bem reforçada, que pode influenciar substancialmente a

 percepção da profundidade mas em alguns casos, como já indicamos, pode levar ao surgimentode ilusões.A percepção do espaço não se limita, portanto, à perceo-ção da profundidade. Uma parteessencial dela é constituída pela percepção das disposições dos objetos em relação uns aosoutros, o que requer uma análise especial.O espaço que percebemos nunca tem caráter simétrico; em maior ou menor grau, ele é sempreassimétrico. Uns obje-

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tos estão situados acima de nós, outros, abaixo; uns são mais distantes, outros, mais próximos;uns estão à direita, outros, à esquerda. Nesse espaço assimétrico, as diferentes disposiçõesespaciais dos objetos têm, freqüentemente, importância decisiva. Um exemplo disto podemosver nas situações em que temos necessidade de nos orientar na disposição dos cômodos, demanter o plano de um caminho, etc.

 Nas condições em que podemos nos apoiar em sinais visuais complementares (distribuição dascoisas nos corredores, formas variadas dos edifícios nas ruas), essa orientação no espaço éfacilmente realizada. Quando esse ponto complementar de apoio visual é obliterado (isto ocorre,

 por exemplo, em corredores absolutamente idênticos, nas estações do metrô em que há duassaídas opostas absolutamente idênticas pela forma), essa orientação se torna acentuadamentedifícil. Cada um sabe perfeitamente como a orientação se perde facilmente da disposiçãoespacial na pessoa que adormece no escuro absoluto.A orientação nesse espaço assimétrico é tão complexa, que apenas os mecanismos acimadescritos não são suficientes. Para assegurá-la, tornam-se necessários mecanismossuplementares, antes de tudo a distinção da mão direita "principal" cora cujo apoio o homemfaz uma análise complexa do espaço anterior e do sistema de representações espaciaisabstratas (direita-esquerda) que, como mostraram observações psicológicas, é de origem

histórico-social.É absolutamente natural que, em determinada etapa da qntogênese, quando a mão direita aindanão se separou e o sistema de conceitos espaciais não foi assimilado, os aspectos simétricos doespaço tenham sido confundidos durante muito tempo. Esses fenômenos, característicos dosestágios iniciais de todo desenvolvimento normal, manifestam-se na chamada "escritaespecular", e começa em muitas crianças entre os três e os quatro anos e se estendem caso amão principal (a di-deita) não se destaque por algum motivo.O complexo conjunto de dispositivos que servem de base à percepção do espaço requer,naturalmente, idêntica organização complexa dos órgãos que efetuam a regulamentação central da percepção espacial. Esse órgão central é constituído pelas zonas terciárias do córtex cerebralou zonas de cobertura, que unificam o funcionamento dos analisadores visual, tátil-sinestésico evestibular. É justamente por isto que

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a afecção das áreas subparietais do córtex cerebral, que não afeta a percepção normal dasformas dos objetos e de sua profundidade (distância) leva, via de regra, a um distúrbio profundodas formas superiores de organização da percepção espacial.Os doentes com afecção das áreas subparietais do cérebro não experimentam grandesdificuldades na percepção visual das figuras e objetos; eles continuam a distinguir a distância enão manifestam dificuldade de avaliação da perspectiva. Mas eles mostram nítidas dificuldadesde orientar-se no espaço, não conseguem distinguir os lados direito e esquerdo dos objetos,confundem-se para encontrar o caminho correto e andam para a direita quando precisam andar 

 para a esquerda; cometem erros na avaliação da posição dos ponteiros dos relógios, nãodistinguindo os números simetricamente distribuídos (por exemplo, confundem os ponteiros nas

 posições de "três horas" e "nove horas");~ perdem a capacidade de orientar-se no mapageográfico e de avaliar os algarismos romanos simetricamente dispostos (por exemplo, xi e rx);

 perdem a capacidade de orientar-se corretamente no "espaço simbólico" necessário paraoperações com a estrutura da classe do número e com o cálculo. Como veremos adiante, elesexperimentam visíveis dificuldades em operações lógico-grama-ticais e necessitam deorientação num espaço complexo (assimétrico) .Deste modo, o estudo da maneira pela qual mudam as formas complexas de orientação no

espaço nos doentes com afecção das áreas subparietais do cérebro não apenas permite penetrar mais a fundo nas bates dessa forma de percepção como permite ainda estabelecer quais asformas de processos psíquicos conscientes que ocorrem com a sua participação.Os distúrbios do esquema do corpo são formas especiais de distúrbio da percepção espacial.Eles surgem com a irritação patológica das áreas proprioceptivas do córtex sub-pariental e semanifestam numa mudança sui generis das sensações do próprio corpo: doentes comsemelhante afecção podem ter a sensação de que um lado do seu corpo tornou-se estranhamentemaior, e a cabeça "inchou", tornando-se maior do que todo o corpo, etc. O distúrbio do esquemado corpo constitui um importante sintoma de apoio para o85

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diagnóstico dos focos patológicos nas áreas subparietais do córtex e nas respectivasformações subcorticais.

 Percepção auditivaA percepção auditiva é radicalmente distinta tanto da percepção tátil como da visual.Se as percepções tátil e visual refletem o mundo dos objetos dispostos no espaço, já a percepçãoauditiva está relacionada com uma sucessão de irritações que ocorrem no tempo.Essa diferença radical foi observada pelo grande fisio-logista russo I. M. Setchenov, segundo oqual os dois tipos básicos de atividade sintética que o homem possui são, por um lado, a reuniãode excitações isoladas em grupos simultâneos e acima de tudo espaciais e, por outro, a reuniãodas excitações que chegam ao cérebro em  séries sucessivas.A percepção auditiva se relaciona antes de tudo com o segundo tipo de síntese e é nisto quereside a sua importância fundamental.

 Basejs. fisiológicas e morfológicas da audiçãoO nosso ouvido percebe tons e ruídos. Os tons são oscilações rítmicas regulares do ar; e afreqüência dessas oscilações determina a altura do tom (quanto maior é a freqüência, mais altoé o tom), enquanto a amplitude dessas oscilações determina a intensidade do som (ou a suasonoridade subjetiva). Os ruídos são o resultado de um complexo de oscilações subpostas umas

às outras, encontrando-se a freqüência dessas oscilações em relações casuais indivisíveis entresi. O ruído composto de um grande número de diferentes oscilações de intensidade idêntica(onde nenhum componente predomina) é chamado "ruído branco" (em analogia com a cor 

 branca que, como se sabe, é o resultado da mistura de cores diferentes).Cabe observar que só tons como os de um diapasão são constituídos por uma série de oscilaçõese denominados86 

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tens puros. Os tons da voz ou de quaisquer instrumentos se distinguem pelo fato de que as oscilações têmaqui um caráter complexo e as partes componentes destas estão em relações divisíveis entre si e nestecaso a altura do tom é determinada pela freqüência das oscilações de amplitude máxima e o número totalde oscilações incluídas (harmonia) determina o timbre de determinado tom. A altura do tom é expressaem hertz (número de oscilações por segundo) e sua força em decibéis (um decibel=l/10bel; entende-se por "bel" o aumento da pressão mínima da onda de 10 vezes; sendo o bel não uma unidade demasiadamente

grande, usam-se na prática os decibéis).Como já foi dito, o homem é capaz de distinguir sons num diapasão de 20 a 20 000 Hertz, enquanto odiapasão das intensidades dos sons percebidos pelo homem constitui uma escala de 1 (sons liminares) a130 decibéis.O aparelho periférico do ouvido é formado por um complexo conjunto de dispositivo. Os tons que atuamsobre o homem e os ruídos passam pela entrada do ouvido e chegam ao tímpano, uma película elásticadotada da capacidade de oscilar-se em ritmo com o som. Através do sistema de ossículos situados noouvido médio (bigorna, martelo, es-tribo), essas oscilações são transmitidas através da janela oval aoaparelho do ouvido interno, onde está situado o aparelho da recepção auditiva — a cóclea, cheia delíquido (en-dolinfa). As oscilações, transmitidas pelo referido aparelho do ouvido médio, põem emmovimento o líquido da cóclea e provocam oscilações correspondentes nesse sistema fechado. Namembrana básica da cóclea, está situado um dispositivo especial que transforma as oscilações do líquidoem ex-citações nervosas — o órgão de Kortiv —, dispositivo extraordinário dotado da propriedade de

transformar oscilações sucessivas em excitação de células nervosas isoladas espacial-mente distribuídas.Essa "codificação" se conclui pelo fato' de que o órgão de Kortiv é constituído de um sistema de célulascapilares nervosas, cada uma das quais ligada a um filamento transversal de determinado comprimentoincluído no canal da cóclea. São esses filamentos que fazem repercutir as oscilações do líquido defreqüência diferente e, como na cóclea há até 24 mil desses filamentos, surge a possibilidade de perceber os tons no diapasão de freqüência acima indicado.87 

Deste modo, cada som que chega ao aparelho do receptor auditivo provoca oscilação de uma ouvárias séries de cordas e essas oscilações excitam as células capilares correspondentes e

 provocam excitações dos nervos. Neste caso, os sons altos provocam oscilações das cordas maiscurtas e os sons baixos, das cordas mais longas; as excitações' nervosas daí resultantes são

conduzidas através dos respectivos filamentos do nervo auditivo.A "teoria da ressonância do ouvido", proposta em seu tempo pelo notável fisiologista alemãoHelmholtz, é adotada pela maioria dos pesquisadores; só ultimamente ela recebeu correções dofamoso fisiologista do ouvido Bekeshy, que indicou que a membrana fundamental da cócleanão é alongada e as cordas a ela fixas reagem às oscilações do líquido segundo leishidrodinâmicas.O fato de o processo fundamental que ocorre no corte periférico do receptor auditivo ser realmente a transformação das oscilações mecânicas em complexos fenômenos nervosos(elétricos) é demonstrado pelo chamado efeito telefônico (ou microfônico), descrito pelosfisiologistas americanos Wyver e Brain. Se desviarmos as correntes da ação do nervo auditivode um gato e, após aumentá-las, desviá-las para um microfone situado numa sala contígua,

 pronunciando em seguida uma palavra no ouvido do gato, poderemos ouvir essa palavra pelo

microfone. Esse teste mostra que o receptor auditivo funciona pelo princípio do microfone, quetraduz as oscilações mecânicas do som em oscilações elétricas. Os filamentos do nervo sonoro,que partem do órgão de Kortiv, fazem parte da "via auditiva". Neste caso, os filamentos que

 partem de ambos os nervos auditivos, ao produzir o ramo que segue para o corpo quadrigêmeoinferior, seguem na composição do "nó interior" no sentido dos aparelhos centrais dos doishemisférios. Eles cessam no corpo caloso interno (aparelho subcortical do ouvido), de onde sedirigem para a circunvolução transversal da área temporal (cir-cunvoluçào de Geshel), que é azona auditiva primária (ou de projeção) do córtex. Como ocorre em outras zonas de projeção, osfilamentos que conduzem impulsos de diferentes freqüências dispõem-se nessa zona de projeçãoem ordem rigorosa: nas áreas internas (mediais) da circunvolução de Geshel terminam osfilamentos que conduzem os impulsos dos tons altos e nas áreas laterais da circunvolução deGeshel

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terminam os filamentos que conduzem os impulsos dos tons baixos.Via de regra, a afecção da circunvolução de Geshel de um hemisfério leva apenas à redução

 parcial da audição no ouvido oposto (como já foi lembrado, os filamentos oriundos dos doisreceptores periféricos da audição chegam tanto ao hemisfério direito como ao esquerdo).É essencial o fato descoberto pelo psicólogo soviético Guershuni, segundo o qual a afecção docórtex da área temporal, sem se refletir nitidamente nos limiares da percepção^ dos tons longos,leva a uma nítida elevação dos limiares (ou a redução da sensibilidade), sons ultracurtos (de 1 a5m.seg.), que se manifestam no ouvido oposto. Esse fato leva a pensar que o papel do córtexauditivo não consiste apenas em perceber os sinais sonoros que chegam ao receptor periféricomas também em estabilizá-los, permitindo ao homem levar em conta componentes maisfracionados e mais curtos desses sinais.As excitações que chegam à circunvolução de Geshel são sucessivamente transmitidas aosaparelhos das áreas externas (conveccionais) do córtex temporal (campo 22 de Broadman) queconstituem a zona auditiva secundária. O predomínio dos neurônicos da II e III camada, quedistinguem essa zona, bem como as suas íntimas ligações com outras áreas (motoras) do córtexconvertem a zona auditiva secundária né-aparelho mais importante, que permite discriminar oselementos essenciais da informação auditiva, sintetizar os indícios desta e codificar os sons em

sistemas complexos, noutros termos, permitem realizar processos de uma complexa percepção sonora.Organização psicológica da percepção auditivaFalando da organização da sensibilidade tátil e visual, já observamos que as formas e objetos domundo exterior são os fatores que as organizam em determinados sistemas. O reflexo dessasformas leva à codificação dos processos táteis e visuais em determinados sistemas e suatransformação numa percepção tátil e visual organizada.Quais são os fatores que levam à organização dos processos auditivos no complexo sistema de

 percepção auditiva?89

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Ê sabido que a audição dos animais é organizada por determinados programas congênitos, quelhes permitem distinguir os componentes biologicamente essenciais dos sons e reuni-los emdeterminados sistemas biologicamente importantes, que o animal distingue facilmente dosoutros ruídos (podem servir de exemplo o ruído do rato ou o miado de um gatinho, que sãofacilmente distinguíveis pelo gato entre todos os outros ruídos). À diferença disto, o mundo dasexcitações sonoras do homem é determinado por outros fatores de origem não biológica mashistórico-social.Podemos distinguir dois sistemas objetivos, que se formaram no processo da história social dahumanidade e exercem grande influência na codificação das sensações auditivas do homem emcomplexos sistemas de percepção auditiva. O primeiro deles é o sistema rítmico-meiódico (oumusical) de códigos, o segundo, o sistema fonemático de códigos (ou sistema de códigossonoros da língua). São esses dois fatores que organizam em complexos sistemas de percepçãoauditiva os sons percebidos pelo homem.Graças ao papel decisivo desses fatores, se o ouvido do animal tem, às vezes, uma sensibilidadeao som bem mais aguda do que o ouvido do homem, este apresenta como característica umacomplexidade bem maior, uma riqueza maior e uma elasticidade mais intensa dos códigossonoros.

É sabido que o sistema de códigos rítmico-melódicos (ou musicais), que determina a audiçãomusical, é constituído de dois componentes básicos.Um desses componentes é constituído pelas relações dos sons altos, que permitem organizar ossons em acordes con-sonantes e formar séries sucessivas dessas relações sonoras que fazem

 parte da composição das melodias, O segundo é constituído pelas relações rítmicas (ou prosódicas) das alternâncias regulares da duração e dos intervalos de sons isolados. Essasrelações podem criar complexas imagens rítmicas inclusive dos sons de uma freqüência (afração de um tambor pode servir de exemplo desses sons ritmicamente organizados).A função básica da audição musical é distinguir as relações sonoras altas e prosódicas(rítmicas), sintetizá-las em estruturas melódicas, criar sons melódicos correspondentes queexpressam determinado estado emocional e conservar esses sistemas rítmico-melódicos. Vê-sefacilmente que, se nas etapas iniciais de desenvolvimento da audição musical, esse pro-

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cesso de codificação do sistema sonoro tem caráter desdobrado, na medida em que vai sendo exercitadoesse processo se reduz, formando-se no homem unidades maiores de audição musical e tornando-se capazde distinguir e conservar vastos sistemas integrais de melodias musicais.O sistema da linguagem sonora é o segundo sistema que determina o processo de percepção sonora eassegura a codificação dos seus elementos isolados e sua conversão em formas complexas de percepçãosonora.

A linguagem humana dispõe de todo um sistema de códigos sonoros, à base dos quais se constróem osseus elementos significantes: as palavras. Para distinguir os sons do discurso ou jonemas não basta possuir um ouvido agudo; para percebê-los é necessário efetuar um complexo trabalho de discriminaçãodos indícios essenciais do som do discurso e de abstração dos traços estranhos, secundários para taldistinção.Cada etapa historicamente formada possui um complexo código de traços essenciais, que permitemdistinguir o sentido de uma palavra pronunciada; na língua portuguesa esses traços são, por exemplo, asmarcas de sonoridade ou surdez das consoantes (sons muito semelhantes que se distinguem por apenasum desses traços como, por exemplo, "b" e "p", "d" e "t" que permitem mudar o significado da palavra.Podemos tomar como exemplo a distinção entre palavras como "braça" e "praça", "bala" e "pala","dote"_e "pote". Esses traços sonoros, de significado semântico distintivo, são denominados traços jonemáticos; aqui a essência da captação auditiva do discurso consiste em distinguir esses traços nacadeia falada, torná-los dominantes, abstraindo simultaneamente o timbre com o qual são pronunciadas as

 palavras e a altura do tom que distingue a voz de quem as pronuncia.A assimilação do sistema fonemático objetivo (variado em língua diferente) constitui a condição queorganiza o ouvido do homem e assegura a percepção do discurso sonoro. Sem o domínio desse sistemafonemático, a audição fica desorganizada e a pessoa que não domina o sistema fonético de uma outralíngua não só "não o entende" como não distingue os traços fonéticos essenciais para 'essa língua, noutrostermos, "não escuta" os sons que o compõem.9/

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Examinaremos mais detalhadamente os códigos fonemá-ticos da língua quando analisarmos a psicologia da fala; aqui nos limitaremos a breves comentários.A codificação dos sons para sistemas correspondentes de audição musical ou discursiva não éum processo passivo.Como o sistema de percepção tátil ou visual do objeto, a complexa percepção auditiva constituium processo ativo, que engloba componentes motores. A diferença entre a percepção auditiva ea tátil e visual consiste apenas em que se na percepção tátil e visual os componentes motoresestão incluídos no mesmo sistema de analisadores (os movimentos de apalpação da mão, osmovimentos de busca dos olhos), na percepção auditiva eles estão separados do sistema auditivoe reunidos distintivamente num sistema especial de canto vocal para audição musical e de

 pronunciação para audição do discurso.O trabalho dos psicólogos soviéticos (A. N. Leôntyev. O. V. Ovtchinnikova), bem como aexperiência de músicos-pedagogos que ensinam a língua estrangeira mostra que é justamente a

 produção dos tons necessários que constitui a condição que permite distinguir e precisar a alturanecessária do tom, sendo a produção dos sons do discurso a condição importante que permite

 precisar-lhe a composição sonora, abstraindo em cada caso os componentes sonoros estranhos.Uma boa prova disto são os testes de Leôntyev; aqui nestes propõe-se ao sujeito avaliar a altura

dos tons a ele apresentados num timbre suplementar dos sons "i" e "u". O teste mostrou que tonsde altura idêntica, apresentados com essas diferenças de timbre são sempre percebidos comodiferentes pela altura; o tom apresentado no timbre "i" foi avaliado como o mais alto, o tomapresentado no timbre "u", como mais baixo.Foi necessário incluir no processo de análise da altura do tom o próprio canto do sujeito paraque este fosse caoaz de abstrair os traços secundários dos timbres e sua sensibilidade à alturado tom aumentasse bruscamente.É característico que tais fenômenos da redução da audição altamente sonora sobre o efeito dotimbre tenham sido observados em pessoas que falavam línguas "tímbricas" (russo, inglês,francês), não se observando em pessoas que falam línguas "tonais" (o vietnamita), nas quaisnão é o tim-92

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 bre mas a altura do tom que constitui o traço semântico distintivo.Deste modo, a observação aqui descrita mostra a grande importância que tem para a sutileza do ouvido asua inclusão no sistema da língua e o papel que o componente motor "solfejo" do tom desempenha naabstração desses indícios estranhos.Papel análogo é desempenhado pelo componente motor na precisão do ouvido fonemático, com a únicadiferença de que o solfejo é aqui substituído pela pronúncia dos sons do discurso. As pessoas que

lecionam língua estrangeira sabem perfeitamente que é o pronunciamento ativo que permite distinguir ostraços fonemáticos necessários, dominar o sistema fonemático objetivo da língua e deste modo precisar essencialmente a audição fonemática do discurso. Patologia da percepção auditivaO distúrbio dos processos auditivos pode surgir com afec-ção de diferentes elos da cadeia auditiva eapresenta caráter diversificado.Com a afecção da área periférica da via auditiva do ouvido interno, surge a surdez ou a redução daaudição. Essa redução está não raro relacionada com distúrbios da sensibilidade vestibular, tendo em vistaque os dois aparelhos periféricos — a, cóclea e os canais semicirculares — estão concentrados no ouvidointerno.A afecção da área periférica da via auditiva, relacionada com ocorrências inflamatórias do nervoauditivo, provoca não apenas a redução da audição como também restrição considerável do dnpasãoútil da audição. O aparelho afetado começa rapidamente a reagir ao aumento da intensidade do som

através de sensações de dor (esse fenômeno ficou conhecido como recruitment).A afecção do corpo quadrigêmeo, aonde chegam as ramificações do nervo auditivo, não provocavisíveis perturbações ouvido mas leva à perturbação das ligações elementares entre os sistemas auditivoe visual e àquela do "reflexo cócleo-pupilar " (redução da pupila em resposta a uma súbi-93

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ta excitação auditiva). A supressão desse reflexo constitui uma importante prova objetiva da perturbação da função auditiva onde outras vias e métodos de estabelecimento de sua patologiasão inacessíveis.A afecção das áreas primárias (projetoras) do córtex auditivo leva a um nítido distúrbio daaudição (a chamada "surdez central") apenas nos raríssimos casos de afecção simultânea dasáreas de projeção dos dois hemisférios. No caso de afecção unilateral das áreas de projeção docórtex auditivo, a audição não sofre acentuadamente e só através de um minucioso estudoexperimental consegue-se constatar certa elevação dos limiares (noutros termos, a redução dasensibilidade auditiva) em sinais muito curtos (Guershuni).Surgem nítidos distúrbios das formas complexas de percepção auditiva com a afecção das áreassecundárias do córtex auditivo mas essas perturbações apresentam caráter inteiramente distintodurante a afecção da área temporal no hemisfério esquerdo, (dominante) e do direito(subdominante).A afecção das áreas posteriores da circunvolução temporal superior do hemisfério esquerdo não

 perturba, via de regra, a complexa audição musical mas leva à perturbação da capacidade dedistinguir sons semelhantes (fonemas) da fala. Doentes com essa afecção são incapazes dedistinguir fonemas semelhantes como "b" e "p", "d" e "p" ou "z" e "s", razão pela qual começam

a ter dificuldades de entender o discurso a eles dirigido. Esse fenômeno, conhecido na práticaclínica como "afasia sensória" não é acompanhado da redução da sensibilidade auditiva geralnem da capacidade de distinguir os sons dos objetos (as badaladas do relógio, os sons de louça,o ruído dos automóveis); isto sugere que as áreas secundárias do córtex auditivo do hemisférioesquerdo estão intimamente ligadas ao sistema da linguagem. Foram descritos casos em quemúsicos e compositores, com grave afecção dessa área, mantiveram a capacidade não só de

 perceber a música mas também de continuar a sua atividade de músico e compositor.Um sintoma importante da afecção central desse tipo de audição é a impossibilidade de captar ereproduzir ritmos complexos (por exemplo, !!...!! ... ou !. .!.). Esses distúrbios, a par com a

 perturbação da capacidade de captar e reproduzir relações altamente sonoras, são importantesindícios de afecção do córtex auditivo.94

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A neurologia ainda sabe pouca coisa a respeito dos aparelhos cerebrais que asseguram audiçãomusical normal. Alguns dados sugerem que na organização cerebral da audição musical

 participa a área temporal direita (subdominante) e possivelmente as áreas anteriores da regiãotemporal.Cabe observar que a afecção auditiva tenra de qualquer origem pode criar dificuldadesessenciais para o desenvolvimento intelectual da criança. As crianças que em idade tenrativeram reduzida a audição, começam a experimentar visíveis dificuldades de percepção dodiscurso que lhes é dirigido e como resultado a comunicação verbal dessas crianças é dificultadae perturba-se a formação do seu próprio discurso e, simultaneamente, o desenvolvimentointelectual geral. É por isto que as crianças duras de ouvido e com atraso secundário do discursosão freqüentemente confundidas com crianças mentalmente retardadas. O diagnósticodiferencial do atraso secundário das crianças duras de ouvido com atraso mental primáriorepresenta dificuldades consideráveis e requer procedimentos especiais.Com a afecção das áreas têmporo-parietais do córtex, podem surgir formas especiais dedistúrbio da audição. Nestes casos, os sons procedentes dos dois receptores periféricoscomeçam a chegar irregularmente ao córtex, resultando daí a perturbação do "efeito binário",que permite localizar nitidamente os sons no espaço.

Os sintomas que acabamos de descrever são sintomas de queda ou redução da função desse oudaquele elo do anali-sador auditivo. No entanto, não são menos importantes os sintomas deirritação desses aparelhos.Esses sintomas, que acompanham a irritação tanto da parte condutora como da parte centralcomo da via auditiva, manifestam-se nos fenômenos das alucinações auditivas: surgimento desensações de tons, ruídos, sons de música ou fala na ausência de causas reais. Esses fenômenos

 podem ser provocados por via experimental. Como mostraram observações de neurologistas(Forfoerster, Penfield), a irritação das áreas primárias (projetoras) do córtex auditivo pode

 provocar a sensação de ruídos ou tons, enquanto a irritação das áreas secundárias do córtexauditivo leva a pessoa afetada a ouvir música, falas, etc. Semelhantes ocorrências podem ser 

 pro-95

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vocadas também por causas patológicas como, por exemplo, cortes que irritam essas áreas do cérebro;nestes casos as alucinações auditivas se manifestam como anúncios de ataqueepiléptico e são clinicamente chamadas de "aura auditiva".As alucinações auditivas estáveis podem ser provocadas por focos constantes de excitação nessa região eintegrar o quadro das doenças psíquicas. Não raro, nos casos de intoxicação por alcoolismo ousubstâncias químicas nocivas, surge nos doentes estado patológico do córtex durante o qual os estímulos

estranhos pouco importantes começam a provocar imagens que brotam descontroladamente e o doenteconfunde com a realidade; essas imagens nítidas podem às vezes entrelaçar-se com os estados dedelírio do doente.A origem e as formas das alucinações representam uma parte importante da psicopatologia geral. Percepção do tempoSe após a análise das leis fundamentais da percepção tátil e visual tivemos de abordar detidamente as leis psicológicas da percepção do espaço, seria natural que após o exame das leis básicas da percepçãoauditiva (e motora) nós nos detivéssemos brevemente na análise da psicologia da percepção do tempo.Apesar da grande importância desta seção da Psicologia, ela apresenta elaboração bem inferior à do problema da percepção do espaço.Podemos salientar que a percepção do tempo tem aspectos variados e se realiza em diferentes níveis. Asformas mais elementares são constituídas pelos processos de percepção da duração da sucessão, que se baseiam em fenômenos rítmicos elementares conhecidos pela denominação de "horas biológicas".

Situam-se entre estes os processos rítmicos, que ocorrem nos neurônios do córtex e das formaçõessubcorti-cais, a substituição dos processos de excitação e inibição, que surge durante uma longa atividadedo sistema nervoso e é percebida como reforços ondulatórios alternantes e enfraquecimentos do somdurante uma escuta longa e atenta. Situam-se ainda entre eles fenômenos cíclicos como as pulsações docoração, o ritmo da respiração e, para intervalos96 

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mais longos, o ritmo de mudança do sono e da vigília, o surgimento de fome, etc.Todas as condições aqui enumeradas servem de base às avaliações mais simples e imediatas dotempo.Elas podem surgir nos animais no processo de elaboração dos "reflexos do tempo" ou dos"reflexos retardatários" e podem ser modificadas pela ação de agentes farcnacológicos que exerceminfluência sobre o sistema nervoso vegetativo. Os efeitos desses agentes podem ser verificadostambém no homem. Já foi mostrado que uns preparados (a anfetamina e o oxido nitroso, por exemplo) abreviam essencialmente a avaliação de pequenos cortes do tempo, ao passo queoutros preparados (o LSD, por exemplo) alongam a avaliação de pequenos intervalos de tempo.Das formas imediatas elementares de sensação do tempo devemos distinguir as formascomplexas de percepção do tempo, que se baseiam nos "padrões" de avaliação do tempo criados

 pelo homem. Entre esses padrões de mediação da avaliação do tempo, situam-se medidas detempo como os segundos e os minutos, bem como vários padrões que se formam na prática da

 percepção da música. É justamente em virtude disto que a precisão dessa percepção mediata dotempo pode aumentar visivelmente, pois, como mostraram as observações (B. M. Teplov) feitascom músicos, pára-que-distas e pilotos, ela pode aguçar-se visivelmente no processo deexercícios em que o homem começa a cotejar lapsos de tempo que mal se percebem. Segundo

alguns dados, por esse caminho pode-se levar a precisão da percepção de pequenos lapsos detempo a um nível impressionante, como, por exemplo, fazendo as pessoas adquirirem acapacidade de distinguir intervalos de 1/18 segundos de intervalos de 1/20 segundos (S. G.Hellerstein).Da avaliação de intervalos breves devemos distinguir a avaliação de intervalos longos (as horasdo dia, os dias e meses do ano, etc), noutros termos, devemos distinguir a orientação nos corteslongos do tempo. Esta forma de avaliação do tempo é sobretudo complexa pela estrutura, asse-melhando-se aos fenômenos da codificação intelectual do tempo.É interessante que a perturbação da avaliação do tempo em forma de falhas grosseiras naavaliação das horas do dia e as perturbações da noção do tempo no ano, datas, etc,97 

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Podem surgir durante as afecções de algumas áreas do cérebro (por exemplo, durante as afecções daszona profundas do lobo temporal e das formações subcorticais, relacionadas com a regulação dos processos vegetativos) e servir de sintomas de apoio para o diagnóstico dessas afecões.Formas especiais de perturbação da percepção do tempo podem surgir também nos estados psicóticos,nos quais, segundo alguns autores, elas se constituem num índice da perturbação das funções vitais profundas.