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Curso de psicologia Geral Volume 3

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Curso de psicologia Geral

Volume 3

A presente obra compe-se de quatro volumes, a saber:I. Introduo Evolucionista PsicologiaII. Sensaes e PercepoIII. Ateno e MemriaIV. Linguagem e PensamentoA. R. LuriaCurso de Psicologia GeralVolume III 2 Edio

Ateno e MemriaTraduo de Paulo BezerraReviso tcnica deHelmuth R. KrgerProfessor de Psicologia daufrj e da uerjSociedade Unificada Paulista d* Ensino Renovado Obietivo - SUPEROData 13/01/99 N da chamada 159.9- c967c 2 ed.u.3.e.3civilizao * brasileiraTtulo do original em russo: VNIMANIE I PAMIATICapa: DonReviso:Nilo FernandesRegina BezerraUU.I1991Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poder ser reproduzida, seja de que forma for, sem expressa autorizao por escrito daEDITORA CIVILIZAO BRASILEIRA S.A. Av. Rio Branco, 99 - 20? andar 20.040 - Rio de Janeiro - RJ.TEL.: (021) 263 20 82 TELEX (21) 33.798 FAX: (021) 263 61 12 Caixa Postal: 2.356 - Cep. 20.010 - Rio de Janeiro - RJ.Impresso no Brasil Printed in BrazilSumrio1-Ateno 1Fatores determinantes da ateno 2Bases fisiolgicas da ateno 6Mecanismos neurofisiolgicos da ativao. Osistema reticular de ativao 9O reflexo orientado como base da ateno 16Orientao e ateno 19Tipos de ateno 22Mtodos de estudo da ateno 26Desenvolvimento da ateno 29Patologia da ateno 352 Memria

39Histria do estudo da memria

40

Bases fisiolgicas da memria

44

Conservao dos vestgios do sistema nervoso

44 Processo de "consolidao" dos vestgios

47

Mecanismos fisiolgicos da memria "breve" e "longa"50Sistemas cerebrais que asseguram a memria

56

Tipos principais de memria

59

Imagens sucessivas

59

Imagens diretas (eidticas)

61

Imagens da representao

63

Memria verbal

67Psicologia da atividade mnemnica. Memorizao e reproduo 68Influncia da organizao semntica sobre a memorizao

74Dependncia da memorizao face estrutura da atividade

77

Peculiaridade individuais da memria

83

Mtodos de estudo da memria

86

Desenvolvimento da memria

91

Patologia da memria

96

IAteno0 homem recebe um imenso nmero de estmulos mas entre estes ele seleciona os mais importantes e ignora os restantes. Potencialmente ele pode fazer um grande nmero de possveis movimentos mas destaca poucos movimentos racionais que integram as suas habilidades e inibe os outros. Surge-lhe grande nmero de associaes mas ele conserva apenas algumas, essenciais para a sua atividade, e abstrai as outras que dificultam o seu processo racional de pensamento.A seleo da informao necessria, o asseguramento dos programas seletivos de ao e a manuteno de um controle permanente sobre elas so convencionalmente chamados de ateno.O carter seletivo da atividade consciente, que funo da ateno, manifesta-se igualmente na nossa percepo, nos processos motores e no pensamento.Se no houvesse essa seletividade, a quantidade de informao no selecionada seria to desorganizada e grande que nenhuma atividade se tornaria possvel. Se no houvesse inibio de todas as associaes que afloram descontrola-Idamente, seria inacessvel o pensamento organizado, voltado para a soluo dos problemas colocados diante do homem.Em todos os tipos de atividade consciente deve ocorrer um processo de seleo dos processos bsicos, dominantes, ,que constituem o objeto da ateno do homem, bem como a existncia de um "fundo" formado pelos processos cujo acesso est retido na conscincia; em qualquer momento, caso surja a tarefa correspondente, tais processos podem passar ao centro da ateno do homem e tornar-se dominantes. por este motivo que se costumam distinguir o volume da ateno, sua estabilidade e suas oscilaes.Por volume da ateno costuma-se entender o nmero de sinais recebidos ou associaes ocorrentes, que podem conservar-se no centro de uma ateno ntida, assumindo carter dominante.Por estabilidade da ateno costuma-se entender a durao com a qual esses processos discriminados pela ateno podem manter seu carter dominante.Por oscilaes da ateno costuma-se entender o carter cclico do processo, no qual determinados contedos da atividade consciente ora adquirem carter dominante, ora o perdem.Fatores determinantes da atenoQuais so os fatores que determinam a ateno do homem? Podemos distinguir pelo menos dois grupos de fatores que asseguram o carter seletivo dos processos psquicos, determinando tanto a orientao como o volume e a estabilidade da atividade consciente.Situam-se no primeiro grupo os fatores que caracterizam a estrutura dos estmulos externos que chegam ao homem (ou a estrutura do campo exterior), situando-se no segundo grupo os fatores referentes atividade do prprio sujeito (estrutura do campo interno).Examinemos cada grupo isoladamente.O primeiro grupo constitudo pelos fatores dos estmulos exteriormente perceptveis ao sujeito; estes determinam o sentido, o objeto e a estabilidade da ateno, aproximam-se dos fatores da estrutura da percepo.2O primeiro fator, integrante deste grupo, a intensidade (fora) do estmulo. Se propomos ao sujeito um grupo de estmulos idnticos ou diferentes, entre os quais uns se distinguem pela intensidade (grandeza, colorao, etc), a ateno do sujeito atrada justamente por esse estmulo. natural que quando o sujeito entra numa sala de iluminao fraca, sua ateno se volte subitamente para uma lmpada que se acenda de repente. Note-se que quando no campo perceptivo atuam dois estmulos de intensidade diferente e quando as relaes entre estes so to equilibradas que nenhum deles domina, a ateno do homem adquire carter instvel e surgem oscilaes da ateno, nas quais ora um, ora outro se torna dominante. Anteriormente, quando examinamos as leis da percepo da estrutura, apresentamos exemplos de tais "estruturas instveis".O segundo fator externo, que determina o sentido da ateno, a novidade do estmulo ou diferena entre este e os outros estmulos.Se entre estmulos bem conhecidos surge um que se distingue acentuadamente dos outros ou incomum, novo, ele comea imediatamente a atrair para si a ateno e provoca um reflexo orientado especial.Na primeira parte deste, apresenta-se entre crculos idnticos uma nica cruz, acentuadamente distinta das outras figuras; na segunda parte, apresentam-se vrias sries de linhas idnticas, sendo que numa destas h uma passagem que distingue esse lugar dos outros; na terceira, entre pontos grandes idnticos, apresenta-se um ponto fraco que se distingue dos demais. V-se facilmente que, em todos os casos, a ateno se volta para o elemento distintivo, "novo", que s vezes conserva a mesma fora fsica que os outros estmulos comuns e, s vezes., pode ser at mais fraco do que os outros, pela intensidade. No difcil lembrar que se cessa de repente um som costumeiro que se repete em monotonia (o ronco de um motor, por exemplo), a ausncia do estmulo pode se tornar um fator que chama a ateno.As duas referidas condies determinam o sentido da ateno. Mas existem tambm fatores externos que lhe determinam o volume.J dissemos que a percepo dos estmulos que chegam do meio exterior ao homem depende da sua organizao estrutural. fcil ver que no podemos perceber com xito um3grande nmero de' estmulos desordenadamente dispersos embora possamos faz-lo facilmente se eles estiverem organizados em determinadas estruturas.A organizao estrutural do campo perceptivo um dos meios mais poderosos de direo da nossa percepo e um dos mais importantes fatores de sua ampliao, enquanto a organizao racional psicologicamente fundamentada do campo perceptivo uma das tarefas mais importantes da engenharia psicolgica. No difcil perceber a grande importncia que adquire a garantia de formas mais racionais de organizao do fluxo de informao que chega ao aviador que pilota avies rpidos ou super-rpidos.Todos os referidos fatores, que determinam o sentido e o volume da ateno, situam-se entre as peculiaridades dos estmulos externos que atuam sobre o homem, noutros termos, situam-se na estrutura da informao que chega do meia exterior.Percebe-se sem dificuldade o quanto importante levar em conta esses fatores para aprender a dirigir a ateno do homem em base cientfica.Entre o segundo grupo de fatores determinantes do sentido da ateno, situam-se aqueles que esto relacionados no tanto com o meio exterior quanto com o prprio sujeito e com a estrutura de sua atividade. A esse grupo de fatores pertence principalmente a influncia exercida pelas necessidades, os interesses e os objetivos do sujeito sobre a sua percepo e o processo de sua atividade.Quando analisamos os problemas da evoluo biolgica do comportamento dos animais, vimos o papel decisivo da importncia biolgica dos sinais no comportamento dos animais. Indicamos que o pato percebe os cheiros vegetais enquanto o esmerilho percebe os cheiros de podre, essencialmente vitais para eles; indicamos que a abelha reage a formas complexas que constituem indcios de flores, desprezando as formas geomtricas simples sem importncia biolgica para ela; o gato que reage vivamente ao rudo do rato, no d ateno aos sons do folheamento de um livro ou ao farfalhar de um jornal. fato bastante conhecido que a ateno dos animais provocada por sinais de importncia vital.Tudo isso se refere igualmente ao homem, com a nica diferena de que as necessidades e interesses que o caracterizam no tm, em sua grande maioria, carter de instintos e4inclinaes biolgicos mas carter de fatores motivacionais complexos que se formaram no processo da histria social. Por exemplo, o homem que se interessa pelo esporte distingue entre toda a informao que lhe chega aquela que se refere a uma partida de futebol, ao passo que o homem que se interessa pelas novidades da eletrnica procura livros que se referem justamente a esse objeto. fcil nos convencermos de que o interesse forte do homem, que torna alguns sinais dominantes, inibe simultaneamente os sinais secundrios que no pertencem ao seu campo de interesses. So bem conhecidos fatos segundo os quais cientistas absortos na soluo de um problema complexo deixam de perceber todas as excitaes secundrias; tais fatos indicam o que acaba de ser dito.A organizao estrutural da atividade humana de importncia essencial para a compreenso dos fatores que dirigem a ateno do homem. sabido que a atividade do homem condicionada por necessidades ou motivos e sempre visa a um objetivo determinado. Se em alguns casos o motivo pode permanecer inconsciente, o objetivo e o objeto da atividade so sempre conscientizados. Sabe-se, por ltimo, que justamente esta circunstncia que distingue o objetivo da ao dos meios e operaes pelos quais ele atingido. Enquanto as operaes isoladas no se automatizam, a execuo de cada uma delas constitui o objetivo de certa parte da atividade e atrai para si a ateno. Basta lembrar como fica tensa a ateno de um atirador inexperiente ao puxar o gatilho ou a ateno de um datilografo iniciante a cada batida do teclado. Quando a atividade se automatiza, certas operaes que a compem deixam de atrair a ateno e passam a desenvolver-se sem conscientizao, ao passo que o objetivo fundamental continua a ser conscientizado. Para ver isto, basta analisar atentamente o desempenho no tiro de um atirador bem preparado ou o processo de datilografia de uma datilografa experiente.Tudo isso mostra que o sentido da ateno determinado pela estrutura psicolgica da atividade e depende essencialmente do grau de sua automatizao. A tarefa geral, que orienta a atividade do homem, distingue como objeto da ateno o sistema de sinais ou relaes que fazem parte da atividade provocada do homem, suscitada por tal tarefa. O objetivo concreto a que o homem que resolve a tarefa visaSconverte em centro da ateno os sinais ou aes relativos a ela. O processo de automatizao da atividade leva a que certas aes, que chamavam a ateno, se convertam em operaes automticas e a ateno do homem comece a deslocar-se para os objetivos finais, deixando de ser atrada por operaes costumeiras bem consolidadas. quase fundamental o fato de que a orientao da ateno se encontra em dependncia direta do xito ou do insucesso da atividade.O feliz coroamento da atividade elimina imediatamente a tenso que o homem manteve durante todo o tempo em que tentou resolver a tarefa. Por exemplo, a pessoa que acaba de enviar uma carta esquece no mesmo instante a inteno cumprida e esta deixa de intranqiliz-la. Ao contrrio, uma atividade no concluda ou um problema resolvido sem xito continua provocando tenso e atraindo ateno, mantendo-a enquanto o problema no resolvido.A ateno integra como mecanismo de controle o aparelho da "ao aceptora": ela assegura os sinais indicadores de que o problema ainda no foi resolvido, a ao ainda no terminou e so justamente esses sinais inversos que motivam o sujeito a continuar trabalhando ativamente.Deste modo, a ateno do homem determinada pela estrutura de sua atividade, reflete o seu processo e lhe serve de mecanismo de controle.Tudo isto torna a ateno um dos aspectos mais importantes da atividade consciente do homem.Bases fisiolgicas da atenoDurante muito tempo a Psicologia e a fisiologia tentaram descrever os mecanismos que determinam a ocorrncia seletiva dos processos de excitao e servem de base ateno. Durante muito tempo, porm, essas tentativas se limitaram a indicar esse ou aquele fator, sendo antes descritivas do que autenticamente discriminatrias dos mecanismos fisiolgicos da ateno.Alguns psiclogos consideravam que o sentido e o volume da ateno so determinados inteiramente pelas leis da percepo estrutural, razo pela qual achavam suprfluo reservar ao estudo da ateno um captulo especial da Psicolo-6gia e pensavam que o conhecimento de leis como as leis da "preciso" e da "estruturalidade" da percepo eram suficientes para um julgamento definitivo do processo de ateno. Essa posio era ocupada pela psicologia da Gestalt e um gestaltista dedicou ao tema um artigo especial, tentando demonstrar a tese de que no existe a ateno enquanto categoria especial dos processos psquicos separados da percepo.O segundo grupo de psiclogos mantinha as posies da teoria "emocional" da ateno. Achavam estes que o sentido da ateno era determinado inteiramente pelas inclinaes, pelas necessidades de emoes, esgotando-se com as leis destas, e que a ateno no devia ser destacada numa categoria especial de processos psquicos.Muitos behavioristas americanos ocupam praticamente essa posio.Por ltimo, o terceiro grupo de psiclogos que enfocam o problema das posies da teoria motora da ateno, v na ateno uma manifestao dos objetivos motores que servem de base a cada ato volitivo e considera que o mecanismo da ateno constitudo pelos sinais dos esforos nervosos e caracterizam qualquer tenso provocada por uma atividade determinada dirigida a certo fim.V-se facilmente que cada uma dessas teorias distingue certo componente integrante da ateno mas em realidade no tenta abordar o problema dos mecanismos fisiolgicos gerais que servem de base ateno.Dificuldades considerveis surgiram ante os fisiologistas que lanaram as hipteses das bases fisiolgicas gerais da ateno.Durante muito tempo, essas tentativas foram de carter excessivamente genrico e consistiram antes na descrio das condies gerais do processo seletivo de excitao do que na discriminao dos mecanismos fisiolgicos especiais da ateno.Uma das primeiras tentativas foi a hiptese do conhecido fisiologista ingls Ch. Sherrington, que mais tarde recebeu a denominao amplamente conhecida como "teoria geral do campo motor" ou "funis de Sherrington". Observando o fato de que nos cornos posteriores da medula espinhal h bem mais neurnios sensrios do que neurnios motores, Sherrington lanou a tese de que nem todos os impulsos motores po-7dem chegar ao seu fim motor e de que um grande nmero de excitaes sensoriais tem seu "campo motor geral", que a relao entre os processos sensoriais e motores podem assemelhar a um funil em cuja abertura larga penetram os impulsos sensoriais e do furo estreito saem as inervaes motoras. V-se facilmente que entre os impulsos sensoriais surge "uma luta pelo campo motor geral" na qual vencem os impulsos mais fortes, melhor preparados ou integrantes de determinado sistema biolgico. Apesar de Sherrington ter sido um dos primeiros fisiologistas a estudar a atividade integrativa do crebro e a formular a tese da estrutura sistmica dos processos fisiolgicos, a teoria da "luta pelo campo motor geral se assemelha apenas nos traos mais genricos aos mecanismos fisiolgicos que servem de base ateno.Esse mesmo carter genrico verificado tambm nos primeiros enunciados de Pavlov, que assemelhava a ateno (e a conscincia ntida) a um foco de excitao optimal, que se movimenta pelo crtex cerebral semelhana de "um ponto luminoso em deslocamento". A idia do foco de excitao optimal enquanto base da ateno mostrou-se posteriormente muito importante e levou a alguns mecanismos fisiolgicos essenciais da ateno embora, evidentemente, fosse demasiado genrica para dar uma explicao satisfatria desses processos.A. A. Ukhtomsky, notvel fisiologista russo, deu uma contribuio considervel anlise dos mecanismos fisiolgicos da ateno. Segundo as suas concepes, a excitao se distribui de maneira desigual pelo sistema nervoso e cada atividade instintiva (assim como os processos do reflexo condicionado) pode criar no sistema nervoso focos de excitao optimal, que adquirem carter dominante. Esses focos, a que Ukhtomsky chamou dominantes, no s dominam sobre os demais e inibem outros focos paralelos como tambm adquirem inclusive a capacidade de reforar-se sob o efeito de ex-citaes estranhas. Assim, a r que em determinado perodo adquire o dominante do reflexo abrangente das patas dianteiras, reage excitao das patas traseiras com a intensificao dos dominantes que abrangem o movimento das patas dianteiras. Essa capacidade do dominante para inibir reflexos secundrios e inclusive reforar-se sob o efeito de excitaes estranhas foi considerada por Ukhtomsky como um processo que lembra a ateno; foi justamente isto que lhe deu8fundamento para considerar o dominante um mecanismo fisiolgico da ateno.A contribuio da teoria do dominante anlise dos mecanismos fisiolgicos do processo seletivo de excitaes indiscutvel. Mas restava ainda encontrar as vias concretas de construo de modalidades particulares da atividade seletiva dos animais e do homem e os sistemas neurofisiolgicos que servem de base a essa via. Foi este o trabalho realizado pelos neurofisiologistas nos ltimos vinte anos.Mecanismos neurofisiolgicos da ativao. . " O sistema reticular da ativaoPara o estudo atual dos mecanismos neurofisiolgicos da ateno, fundamental o fato de que o carter seletivo da ocorrncia dos processos psquicos, caractersticos da ateno, pode ser assegurado apenas pelo estado de viglia do crtex, do qual tpico um nvel optimal de excitabilidade. Esse nvel de viglia do crtex s pode ser assegurado pelos mecanismos de manuteno do necessrio tnus do crtex e estes esto relacionados com a conservao de relaes normais entre o tronco superior e o crtex cerebral e, acima de tudo, com o trabalho da formao reticular ativadora ascendente cujo papel j descrevemos anteriormente. justamente essa formao reticular ativadora ascendente que faz chegarem ao crtex os impulsos provenientes dos processos de troca do organismo, que so realizados pelas inclinaes e mantm o crtex em estado de viglia; ela que faz chegarem ao crtex as excitaes derivadas do funcionamento dos extero-receptores, que conduzem a informao afluente do mundo exterior inicialmente para as reas superiores do tronco e do ncleo do tlamo tico e, posteriormente, para o crtex cerebral. Como j foi indicado, a separao da formao reticular do tronco do crtex cerebral provoca queda do tnus e sono.No entanto no apenas a formao reticular ascendente de ativao que assegura o tnus optimal e o estado de viglia do crtex. A ela tambm est estreitamente ligado o aparelho do sistema reticular descendente cujos filamentos comeam no crtex cerebral (antes de tudo nas reas me-9diais e mdiobasais dos lobos frontais e temporais) e se dirigem tanto no sentido dos ncleos do tronco como dos ncleos motores da medula espinhal. O trabalho da formao reticular descendente muito importante pelo fato de que, atravs dela, chegam aos ncleos do tronco cerebral os sistemas seletivos de excitao que surgem inicialmente no crtex cerebral e so um produto das formas superiores de atividade consciente do homem com os seus complexos processos cognitivos e os complexos programas de ao. a interao dos dois componentes do sistema reticular de ativao que assegura as formas mais complexas de auto-regulao dos estados ativos do crebro, mudando-os sob a influncia tanto de formas elementares (biolgicas) como de formas complexas (sociais por origem) de estimulao.A importncia decisiva desse sistema para assegurar os processos de ativao (arousal) foi verificada por uma grande srie de fatos experimentais, observados pelos clebres neurofisiologistas H. W. Magoun, G. Moruzzi, H. H. Jasper, D. B. Lindsley, Naokhin e outros.Os testes de Bremer mostraram que o corte das reas inferiores do tronco no leva mudana da viglia, ao passo que o corte das reas superiores do tronco provoca sono com o surgimento caracterstico de lentas potencialidades eltricas. Como mostrou Lindsley, nestes casos os sinais provocados por estmulos sensoriais continuam a chegar ao crtex mas as respostas eltricas do crtex a esses sinais se tornam apenas breves e no suscitam mudanas longas e estveis. Esse fato mostra que, para o surgimento de processos estveis de excitao, caractersticos do estado de viglia, insuficiente s um afluxo de impulsos sensoriais, sendo necessria uma influncia mantenedora do sistema reticular ativador.Outros testes inversos, nos quais os pesquisadores no excluram, mas excitaram a formao reticular ascendente atravs de eletrodos nela implantados, mostraram que tal excitao da formao reticular leva ao despertar do animal enquanto a intensificao sucessiva dessas excitaes leva ao surgimento de reaes efetivas bem expressas.Se os experimentos que acabamos de citar mostram como a excitao da formao reticular ascendente influencia o comportamento do animal, os experimentos posteriores, realizados pelos mesmos autores, permitiram um conhecimento10mais aproximado dos mecanismos fisiolgicos dessas influncias ativadoras.Verificou-se que a excitao da formao reticular do tronco provocava o surgimento de rpidas oscilaes eltricas no crtex cerebral e das ocorrncias de "dessincronizao" que caracterizam o estado ativo de viglia do crtex. Como resultado da excitao dos ncleos da formao reticular nas reas superiores do tronco cerebral, as excitaes sensoriais comearam a provocar mudanas duradouras na atividade eltrica do crtex, o que indicava uma influncia crescente e fixadora da formao reticular sobre os gnglios sensoriais do crtex.Por ltimo, o que sobretudo importante, a excitao dos ncleos da formao reticular ascendente e ativadora provocou a movimentao dos processos nervosos no crtex cerebral. Deste modo, se em condies habituais dois estmulos concomitantes provocam apenas uma reao eltrica do crtex, que "no consegue a tempo" dar uma resposta isolada, aos estmulos, j aps a excitao dos ncleos do tronco da formao reticular ativadora ascendente, cada um desses estmulos comea a gerar resposta isolada, o que sugere uma elevao substancial da mobilidade dos processos de excitao que ocorrem no crtex.Essas ocorrncias eletro fisiolgicas correspondem tambm aos fatos registrados nos testes psicolgicos de Lindsley. Este mostrou que a excitao dos ncleos do tronco da formao ativadora reticular ascendente reduz substancialmente os limiares da sensibilidade (noutros termos, aguam a sensibilidade) do animal e permitem diferenciaes sutis (por exemplo, a diferenciao entre a figura de um cone e a de um tringulo), antes inacessveis ao animal. Pesquisas posteriores, realizadas por alguns autores (Hernandez Pen, Doti, e outros) mostraram que, se o corte das vias da formao reticular ascendente leva ao desaparecimento dos reflexos condicionados antes adquiridos, ento com a excitao dos ncleos da formao reticular torna-se possvel a aquisio de reflexos condicionados inclusive nas excitaes subliminares, nas quais antes no ocorriam reflexos condicionados.Tudo isso alude nitidamente influncia ativadora da formao reticular ascendente sobre o crtex cerebral e indica que ela assegura o estado ideal do crtex cerebral, que necessrio viglia.11No entanto surge uma pergunta: ser que a formao reticular ascendente assegura apenas a influncia ativadora genrica sobre o crtex cerebral ou sua influncia ativadora apresenta traos seletivos especficos?At recentemente os pesquisadores tendiam a considerar a influncia ativadora da formao reticular ascendente como influncia modal no especfica: ela se manifestava igualmente em todos os sistemas sensoriais e no apresentava qualquer efeito seletivo sobre nenhum deles (viso, audio, etc).Ultimamente foram obtidos dados indicadores de que as influncias ativadoras da formao reticular ascendente tm carter tambm seletivo e especfico. No entanto essa especificidade das influncias da formao reticular ativadora de outra natureza: ela assegura no tanto a ativao seletiva de processos sensoriais isolados quanto a ativao de sistemas biolgicos, isto , os sistemas de reflexos alimentares, defensivos e orientados. Isto foi sugerido por Anokhin, que mostrou que existem partes isoladas da formao reticular ascendente que ativam diferentes sistemas biolgicos e so sensveis a diversos agentes farmacolgicos.Foi demonstrado que a uretana provoca um bloqueio da viglia e leva ao surgimento do sono, mas provoca um bloqueio dos reflexos defensivos de dor; a aminazina, ao contrrio, no provoca bloqueio da viglia mas leva ao bloqueio dos reflexos defensivos de dor.Esses dados do fundamento para pensar que na influncia ativadora da formao reticular ascendente existe certa seletividade mas esta corresponde apenas queles sistemas biolgicos bsicos que motivam o organismo para um desempenho ativo.No so menos interessantes para a Psicologia os impulsos ativadores seletivos, que so assegurados pela formao reticular ativadora descendente cujos filamentos comeam no crtex cerebral (sobretudo nas reas mediais dos lobos frontal e temporal) e dali se dirigem aos aparelhos das reas superiores do tronco.H fundamentos para se supor ser justamente esse sistema o que desempenha papel essencial ao assegurar a influncia ativadora seletiva sobre as modalidades e os componentes da atividade que se formam com a participao imediata do crtex cerebral e que essas influncias so pre-12cisamente as que tm relao mais ntima com os mecanismos fisiolgicos das formas superiores de ateno.Os dados da anatomia mostram que os filamentos descendentes da formao reticular comeam praticamente em todas as reas do crtex cerebral, especialmente nas reas mediais e mediobasais do lobo frontal e de sua regio lmbica. O comeo de tais filamentos pode ser constitudo tanto pelos neurnios das reas profundas de muitas zonas do crtex cerebral quanto por grupos especiais de neurnios que, em sua maioria, se encontram nas zonas lmbicas do crebro (no hipocampo) e nos gnglios basais (corpo caudal). Esses neurnios se distinguem essencialmente dos neurnios especficos que correspondem a propriedades fracionrias isoladas das excitaes visuais ou auditivas. Ao contrrio destes, aqueles neurnios no respondem a quaisquer excitaes especficas (visuais ou auditivas): basta um pequeno nmero de repeties destas excitaes para que esses neurnios "se acostumem" a elas e deixem de reagir ao seu aparecimento sejam quais forem as cargas. No entanto basta surgir qualquer mudana do estmulo para que os neurnios reajam a ela com cargas. caracterstico o fato de que as cargas podem surgir num grupo isolado de neurnios em medida idntica com a mudana de quaisquer estmulos (tteis, visuais, auditivos) e no s o reforo como tambm o enfraquecimento dos estmulos ou a ausncia do estmulo esperado (como, por exemplo, na omisso de uma srie rtmica de excitadores) pode provocar um desempenho ativo desses neurnios.Diante de tais circunstncias, alguns autores como, por exemplo, o neurofisiologistas canadense H. H. Jasper, propuseram chamar-lhes "neurnios da novidade" ou "clulas da ateno". caracterstico que no perodo em que o animal aguarda sinais ou procura a sada de um labirinto, justamente nessas reas do crtex (onde 60% de todos os neurnios pertencem ao grupo que acabamos de descrever) surgem sries ativas, que cessam com a supresso do estado de expectativa ativa.Isto mostra que os dados da regio cortical e os neurnios no especficos que nesta se encontram e respondem a cada mudana de situao, so um importante aparelho que modifica o estado de atividade do crebro e regula a sua prontido para a ao.13Se no animal a parte mais importante do encfalo, a qual desempenha importante papel na regulao do estado de prontido, a das reas mediais da regio lmbica e dos gnglios basais, j no homem, com suas formas complexas altamente desenvolvidas de atividade, esse aparelho principal, que regula o estado de atividade, constitudo pelas reas lobulares do crebro.Em suas pesquisas, o conhecido fisiologista ingls Walter Gray mostrou que cada estado de expectativa ativo (por exemplo, a expectativa de um terceiro ou quinto sinal em resposta ao qual o sujeito deve apertar um boto) provoca o surgimento, nos lobos cerebrais, de oscilaes eltricas especialmente lentas, s quais ele chamou ondas de expectativa. Estas ondas se intensificam bruscamente quando a probabilidade do sinal esperado aumenta, enfraquecendo quando a probabilidade dos sinais diminui e desaparecendo totalmente quando se substitui a instruo para a espera do surgimento do sinal.Outra prova do papel desempenhado pelo crtex dos lobos cerebrais na regulao do estado de atividade constituda pelos testes do fisiologista sovitico N. N. Livanov.Retirando as correntes de ao de um grande nmero de pontos do crnio, correspondentes a diversas reas do crtex, Livanov mostrou que cada tenso intelectual (por exemplo, a tenso que surge na soluo de complicados exemplos aritmticos como a multiplicao de um nmero de dois algarismos por outro) faz surgir nos lobos cerebrais um grande nmero de pontos que trabalham sincronicamente e esta ocorrncia continua enquanto a tenso permanece, desaparecendo, aps a soluo do problema. sobretudo interessante que o nmero desses pontos que trabalham em sincronia no crtex lobular sobretudo grande nos estados patolgicos do crebro que se caracterizam por um estado estvel e elevado de tenso (como ocorre, por exemplo, nos pacientes que sofrem de esquizofrenia paranica), desaparecendo aps a adoo de agentes farmacolgicos que eliminam essa tenso.Tudo isso mostra que os lobos do crebro tm importncia decisiva no surgimento das excitaes, que refletem a mudana dos estados de atividade do homem.O estado de elevada exctao "no especfica" no crtex da regio lmbica do animal e dos lobos do crebro humano a fonte dos impulsos que posteriormente descem pelos fila-14inentos da formao reticular descendente no sentido das reas superiores do tronco e exercem influncia considervel sobre o desempenho destas.Como mostraram as observaes de eminentes fisiologis-tas (French, Nauta, Laguren e outros), as excitaes das reas do crtex cerebral provocam uma srie de mudanas na atividade eltrica dos ncleos do tronco e levam animao do reflexo orientado.Assim, com a excitao das reas occipitais do crtex cerebral, podem mudar substancialmente as respostas eltricas das reas profundas do sistema visual (N. S. Narikashvili). A excitao do crtex motorsensorial leva atenuao das respostas provocadas nas reas subcorticais do sistema motor ou inibio destas. Alm do mais, a excitao de sistemas isolados pode levar ao surgimento de diversas manifestaes comportamentais, que fazem parte do reflexo orientado.Fenmenos semelhantes so provocados tambm pelas formas complexas de atividade do animal, que geram no crtex focos de excitao elevada cuja influncia se estende s formaes do tronco atravs da formao reticular ascendente. Fatos anlogos foram descritos pelo conhecido fisiologista mexicano Hernandez Pon, que observou que as ativas cargas eltricas dos ncleos do nervo auditivo, que surgem no gato em resposta a rudos sonoros, desapareciam quando se mostrava um rato ao gato ou este sentia cheiro de peixe. Esses fatos mostram que os focos de excitao, que surgem no crtex cerebral, podem intensificar ou bloquear o trabalho das formaes subjacentes do tronco cerebral, noutros termos, podem regular os estados de atividade que surgem com a participao dessas formaes.Participao anloga do crtex no trabalho da formao subjacente pode ser observada quando desaparece a influncia ativadora do crtex cerebral.Deste modo, a extirpao do crtex lmbico nos animais leva a mudanas ntidas na atividade eltrica das reas do tronco cerebral e a distrbios visveis no comportamento do animal. Por um lado, a destruio do crtex ou a reduo de sua, influncia leva ao surgimento de uma reanima-o patolgica do reflexo, orientado e perda do seu carter eletivo, fato considerado pela cincia moderna como eliminao das influncias inibitrias do crtex cerebral sobre os mecanismos da. estrutura subcortical do tronco cerebral.15Tudo isto mostra que os sistemas reticulares ascendente e descendente, que contatam o crtex cerebral com as formaes do tronco por meio de ligaes bilaterais, tm influncia ativadora tanto genrica quanto seletiva; se o sistema reticular ascendente, que conduz os impulsos at a crtex cerebral, serve de base s formas biologicamente condicionadas de ativao (relacionada tanto com os processos de troca e as inclinaes elementares do organismo quanto com a influncia ativadora geral da afluncia de excitaes), o sistema reticular descendente provoca a influncia ativadora dos impulsos, que surgem no crtex cerebral sobre as formaes subjacentes e deste modo asseguram as formas superiores de ativao seletiva do organismo em relao s tarefas concretas que se impem ao homem e s formas mais complexas de sua atividade consciente.O reflexo orientado como base da atenoO sistema reticular ativador, com os seus filamentos ascendentes e descendentes, o aparelho neurofisiolgico que assegura uma das formas mais complexas da atividade refle-tora, conhecida pela denominao de reflexo orientado (ou pesquisador-orientado). A influncia deste reflexo para a compreenso das bases fisiolgicas da ateno to grande que ele merece uma anlise especial.Cada reflexo incondicionado, que tem por base uma influncia biologicamente importante para o animal (influncia alimentar, dolorosa, sexual), gera um sistema seletivo de resposta a esses estmulos com inibio simultnea de todas as reaes aos estmulos secundrios. Esse mesmo carter seletivo observado nos reflexos condicionados. Nestes, domina um sistema de reaes, reforado por um estmulo incondicionado, enquanto todas as reaes secundrias restantes so simultaneamente reprimidas. Podemos dizer que tanto os reflexos incondicionados quanto os condicionados que neles se baseiam criam determinado foco dominante de excitao cujo desempenho obedece s leis do dominante.Entre todos os tipos de atividade reflexa devemos, entretanto, enfatizar uma na qual o comportamento do animal no excitado por um dos motivos de comportamento acima eno-16merados, atividade essa que no um reflexo alimentar, defensivo nem sexual. Essa atividade tem por base a reao ativa do animal a cada mudana de situao, que a que provoca no animal animao geral e uma srie de reaes seletivas destinadas a identificar essas mudanas de situao. Pavlov chamou a esse tipo de reflexos reflexos orientados ou reflexos do "o que isto?".O reflexo orientado se manifesta numa srie de reaes eletrofisiolgicas, vasculares e motoras ntidas, que surgem sempre que ocorre algo incomum ou importante na situao que rodeia o animal. Entre essas reaes situam-se a virada do olho e da cabea no sentido do novo objeto, a reao de precauo ou escuta; entre elas, situam-se no homem a manifestao da reao galvnica da pele (mudana da resistncia da pele ao choque eltrico ou o surgimento dos potenciais eltricos prprios da pele), as reaes vasculares (compresso dos vasos do brao com a expanso dos vasos da cabea), a mudana da respirao e, por ltimo, o surgimento de ocorrncias de "dessincronizao" nas reaes bioeltricas do crebro, que se manifestam na depresso do "alfa-ritmo" (oscilaes eltricas de 10-12 w por segundo, caractersticas do funcionamento do crtex cerebral em estado calmo). Todas essas ocorrncias podem ser observadas sempre que surge reao de precauo ou reflexo orientado, provocado pelo surgimento de um estmulo novo ou essencial para o sujeito.Os cientistas ainda no so unnimes em responder se o reflexo orientado uma reao condicionada ou incondicionada.Pelo carter inato, o reflexo orientado pode ser includo entre os reflexos incondicionados. O animal responde com uma reao de precauo a quaisquer estmulos novos ou essenciais de qualquer aprendizagem; por este indcio, o reflexo orientado se situa entre as reaes incondicionadas e congnitas do nrnarjicrqo. A existncia de neurnios especiais, que respondem com descargas a qualquer mudana de situao, indica que o reflexo orientado se baseia na ao de determinados aparelhos nervosos.Por outro lado, o reflexo orientado apresenta uma srie de indcios que o distinguem essencialmente dos reflexos condicionados comuns: com a repetio constante do mesmo estmulo, as ocorrncias do reflexo orientado logo se extin-guem, o organismo se habitua a esse estmulo cujos ind-17cios deixam de provocar as reaes descritas. Esse desaparecimento das respostas orientadas aos estmulos que se repetem denominado habituao (habituation).Cabe observar que o desaparecimento do reflexo orientado na medida da habituao pode ser uma ocorrncia provisria, sendo necessria uma pequena mudana no estmulo para a reao orientada tornar a surgir. Essa ocorrncia do surgimento do reflexo orientado sob mudanas mnimas da excitao chamada s vezes de reao da excitao (ou arousal). caracterstico que semelhante ocorrncia de reflexo orientado, como j observamos, pode verificar-se no s com o reforamento mas tambm com o enfraquecimento do estmulo habitual e at mesmo com o seu desaparecimento completo. Assim, basta "extinguir" inicialmente os reflexos orientados aos estmulos ritmicamente apresentados e, em seguida, depois, que as reaes orientadas a cada estimulao tenham-se extinguido como resultado da habituao, omitir um dos estmulos apresentados por via rtmica. Neste caso, a ausncia do estmulo esperado provocar o surgimento de reflexo orientado.Por todos esses traos da sua dinmica, o reflexo orientado difere essencialmente do reflexo incondicionado. Cabe observar tambm que o reflexo orientado pode ser provocado por um estmulo condicionado: ele pode ser obtido apresentando-se ao animal um sinal condicional, que anunciar o surgimento de alguma mudana na situao ambiente. Para o homem, esse sinal pode ser representado pela palavra, que nele provoca facilmente ocorrncias de alerta, precauo e expectativa do surgimento do sinal, etc.Seria incorreto pensar que o reflexo orientado tem carter de ativao geral, generalizada do organismo. Em realidade, ele pode ter carter diferenciado e seletivo, sendo que a seletividade pode manifestar-se tanto em relao aos sinais que surgem como pelo carter da prontido dos aparelhos motores efetivos que so gerados pelo "estado de alerta".Isto facilmente observvel se, durante muito tempo, apresentarmos ao sujeito um sinal qualquer, por exemplo, um som de determinada altura; neste caso, por fora do hbito, todas as respostas a esse som sero extintas embora essa "habituao" tenha carter seletivo e seja bastante uma mudana mnima da altura do som para que torne a surgir todo um complexo de respostas orientadas. Esse procedimento18permitiu ao pesquisador sovitico E. N. Sokolov avaliar objetivamente a seletividade que caracteriza as reaes orientadas (ou "reaes de excitao") em relao aos sinais diferenciados e falar de um "modelo nervoso de estmulo" que se manifesta atravs da aplicao desse procedimento.Orientao e atenoA alta seletividade do reflexo orientado pode manifestar-se tambm em relao sua parte efetiva e motora. As pesquisas mostraram que, se o homem aguarda ecloso de luz, surge nele uma mudana das respostas eltricas ("potenciais gerados") nas reas visuais (occipitais), e se ele aguarda uma excitao dolorosa, surgem-lhe mudanas das respostas eltricas ("potenciais gerados") na rea sensomotora do crtex.Se o sujeito foi alertado para responder ao sinal com um movimento do brao direito, ento a espera desse sinal provoca mudanas das ocorrncias eltricas (eletromiogra-mas) nos msculos do brao direito, sem provocar ocorrncias idnticas nos msculos do brao esquerdo. Ocorre o contrrio quando se alerta o sujeito para que ele movimente o brao esquerdo em resposta ao sinal. Esse estado de alerta para determinado movimento denominado orientao para o movimento e seus indcios objetivos tm carter rigorosamente seletivo.Esses fatos mostram igualmente que a reao ativadora, includa no sistema de reflexo orientado, pode ter carter rigorosamente seletivo.O carter seletivo da orientao, provocado no homem pelo alerta para uma atividade qualquer, foi minuciosamente estudado pelo notvel psiclogo sovitico D. N. Uznadze em seus conhecidssimos experimentos com a orientao fixada.Depois que o sujeito apalpava vrias vezes uma pequena esfera com a mo direita, ele conservava uma "orientao fixada", isto , o alerta para receber na mo direita uma esfera de volume maior. Por isto, quando se colocavam inesperadamente esferas idnticas nas mos do sujeito, esse estmulo entrava em conflito com a esperada desigualdade das esferas e a esfera colocada na mo direita, em contraste com a19esperada, era interpretada como menor do que a esfera colocada na mo esquerda.Essa orientao, que se manifesta na "iluso de contraste" que acabamos de descrever, mantinha-se durante algum tempo e depois extinguia-se paulatinamente, sendo que, em alguns sujeitos, esse processo de extino da orientao fixada podia apresentar carter variado: em uns a orientao criada se extinguia paulatinamente e apresentava oscilaes (a iluso de contraste ora se manifestava, ora desaparecia para, afinal, extinguir-se inteiramente); em outros, ela se mantinha apenas por um tempo muito breve e logo desaparecia. As diferenas individuais na situao criada se manifestavam tambm no seu grau de seletividade. Em uns sujeitos, a orientao no tamanho variado das esferas, provocada pelo experimento descrito, limitava-se ao campo motor e se manifestava apenas nos experimentos de apalpao das esferas tendo, conseqentemente, carter concentrado. Em outros sujeitos, a orientao se estendia a outros campos e depois que a iluso descrita era gerada no campo motor (apalpao de esferas de diferentes tamanhos com as mos direita e esquerda) ela se manifestava tambm no campo visual, na iluso de que das duas esferas de dimetro idntico, a direita (correspondente mo direita) era menor do que a esquerda; essa ocorrncia aponta o carter irradiado da orientao provocada.Os testes de orientao, que so um procedimento especial de estudo das ocorrncias de ativao, indicam o quanto esses fenmenos podem ter carter seletivo no homem.Esses testes abrem novas perspectivas para o estudo dos processos de ativao no homem e para a anlise dos fatores que a regulam.As ocorrncias de "reflexo orientado" da "ativao" podem ser geradas por qualquer mudana de situao ou pela expectativa de um estmulo novo ou essencial. Elas se extin-guem paulatinamente como resultado da "habituao" e tornam a manifestar-se com a mudana do carter habitual dos estmulos que atuam sobre o sujeito.Todas essas ocorrncias tm carter natural e servem de base ateno no involuntria.No entanto o homem tem a possibilidade de mudar as leis naturais da ocorrncia do reflexo orientado, de tornar mais estvel o estado de ativao e gerar estados de ateno20lunsa estveis e duradouros inclusive naquelas condies em que o carter habitual do estmulo no apresenta nenhuma mudana externa e esses estados continuam a ser fisicamente os mesmos quando, por fora das leis naturais, as ocorrncias de reflexo orientado j deveria ter desaparecido h muito tempo..Essa possibilidade de prolongar o estado de longa ativao e ultrapassar os limites das leis naturais de sua extino pode ser obtida no homem atravs de uma instruo verbal. Para tanto basta propor ao sujeito contar demoradament os estmulos propostos ou, dando-lhe uma tarefa, acompanhar a mudana de tais estmulos. Nestes casos os estmulos fsicos continuam os mesmos e as respostas a eles deveriam ter sido extintas h muito tempo, mas a instruo verbal, que colocou diante do sujeito uma tarefa, mantm o estado constante de atividade. No primeiro caso (quando o sujeito conta a ordem dos estmulos) cada um deles continua fisicamente velho e bem conhecido, tornando-se novo psicologicamente ao adquirir determinado nmero, sendo isto o que mobiliza a ateno do sujeito e mantm o estado permanente de tnus elevado. No segundo caso, a tarefa de esperar o surgimento de uma mudana qualquer no estmulo transforma a observao que se faz sobre este em atividade de acompanhamento ativo, resultando da que a reao da ativao se mantm por muito tempo mesmo apesar de os estmulos no mudarem concretamente. caracterstico que a obliterao da instruo verbal aqui descrita leva ao rpido desaparecimento dos indcios antes persistentes do reflexo orientado estvel.A ao da instruo verbal pode provocar uma influncia seletiva forte e ao mesmo tempo rigorosa, criando um persistente foco dominante de excitao e mudando as habituais relaes de fora na atividade do estmulo. sabido que o estmulo forte provoca reao elevada e o estmulo mais fraco, reao fraca. Pela intensidade dos estmulos, porm, essas relaes naturais podem mudar como resultado da instruo verbal, que provoca no homem uma ateno seletiva a determinado estmulo. Esse fato ilustrado pelo registro dos sintomas objetivos do reflexo orientado em relao a estmulos diferentes pela fora.Se no estado normal um estmulo estranho forte provoca elevadas reaes orientadas (compresso dos vasos da mo)21enquanto sinais sonoros fracos (tons sonoros brandos) no provocam reaes, com a instruo de contar o nmero de sinais sonoros brandos aqueles continuam a provocar respostas vasculares estveis (indcio de reao orientada) enquan' to o rudo estranho forte no desvia o sujeito do cumprimento da tarefa nem provoca qualquer reao orientada visvel.A possibilidade de regular os processos de ativao por meio da instruo verbal constitui um dos jatos mais importantes da psicofisiologia do homem. Ela constitui a base fisiolgica das formas especficas superiores da ateno humana, sendo o registro da influncia da instruo verbal sobre a ocorrncia dos sintomas objetivos de reflexo orientado um dos mais importantes mtodos psicofisiolgicos de estudo da ateno do homem.Tipos de atenoA Psicologia distingue dois tipos bsicos de ateno: o arbitrrio e o involuntrio.Fala-se de ateno involuntria nos casos em que a ateno do homem atrada quer por um estmulo forte, quer por um estmulo novo ou por um interessante (correspondente necessidade). justamente com esse tipo de ateno que deparamos quando viramos involuntariamente a cabea ao ouvirmos no quarto uma batida sbita, quando nos precavemos ao ouvirmos rudos incompreensveis ou quando nossa ateno atrada por uma mudana nova e inesperada da situao.Os mecanismos da ateno involuntria so comuns no homem e no animal. J nos referimos aos fatores desse tipo de ateno e as suas bases neurofisiolgicas quando analisamos os mecanismos dos reflexos orientados.V-se facilmente que esse tipo de ateno j ocorre na criana de idade tenra, cabendo apenas observar que nas primeiras etapas ela tem carter instvel e relativamente estreito pelo volume (a criana de idade tenra e pr-escolar perde muito rapidamente a ateno pelo estmulo que acaba de surgir, seu reflexo orientado se extingue rapidamente ou se inibe com o surgimento de qualquer outro estmulo); o volume de sua ateno relativamente pequeno, podendo a criana distribu-la entre vrios estmulos voltando-se para o antecedente sem afastar o seu campo de viso ou anterior.22A ateno arbitrria s inerente ao homem. Durante muito tempo ela permaneceu uma incgnita para a Psicologia e merece anlise especial.O principal fato indicador da existncia de um tipo especial da ateno no homem, no inerente aos animais, consiste em que o homem pode concentrar arbitrariamente a ateno ora em um ora em outro objeto, inclusive nos casos em que nada muda na situao que o cerca.O exemplo mais conhecido de ateno arbitrria foi dada pelo psiclogo francs Revot d'Allonnes; esse exemplo se tornou base da filosofia idealista de Allonnes.Se propusermos a uma pessoa olhar atentamente para o tabuleiro de xadrez cujos quadros so imutveis, de acordo com a nossa instruo ou com instruo prpria ela poder distinguir facilmente as figuras mais diversas nesse fundo homogneo. Num fundo homogneo e imutvel h oculta uma infinidade de estruturas diversas e o homem pode, por vontade prpria, distinguir quaisquer estruturas novas desse campo imutvel. s vezes, essa possibilidade de distinguir arbitrariamente a estrutura necessria de um campo manifesta-se com nitidez ainda maior e segundo seus desgnios, o homem pode discriminar uma estrutura menos precisa entre estruturas mais precisas, superando as leis da percepo estrutural que descrevemos anteriormente.Deste modo, fica claro que o homem pode ir alm do limite das leis naturais da' percepo, sem se sujeitar ao efeito de um fundo homogneo ou de fortes estruturas perceptivas mas discriminando e mudando segundo sua vontade as estruturas que lhe so necessrias.Todos esses fatos deram a Revot d'Allonnes fundamento para argumentar as concepes idealistas dos processos psquicos do homem, indicando que se o comportamento do animal est sujeito ao direta do meio, j o comportamento do homem dispe da possibilidade de criar quaisquer esquemas e subordinar o seu comportamento a essa "esquematizao" livre, que ele considerava propriedade fundamental do esprito humano.Fenmenos anlogos poderiam ser observados tambm na organizao dos movimentos do homem: basta o homem resolver que est levantando o brao para este se levantar como23que automaticamente; a esse fenmeno o psiclogo James designou com o termo latino "fiat" (faa-se), vendo nele & prova mais simples da existncia do livre arbtrio, que no se sujeita s leis da natureza mas determina o comportamento do homem.Observaes posteriores mostraram que a simples idia do iminente movimento do brao provoca neste uma ntida tenso, que pode ser registrada na mudana do eletromiograma do brao. Esses fenmenos receberam em Psicologia a denominao de "atos ideomotores" e foram freqentemente citados como ilustraes das influncias da concepo sobre o movimento.Por ltimo, esses mesmos fenmenos da ateno arbitrria podem ser observados na atividade intelectual, quando o prprio homem se prope determinada tarefa e esta determina o sucessivo fluxo seletivo de suas associaes.Eis porque os fatos da ateno arbitrria eram includos nos manuais clssicos de Psicologia entre a seo "Vontade" e serviam para ilustrar a tese da psique segundo a qual o homem no est sujeito s leis objetivas da natureza mas depende das influncias procedentes do esprito livre. fcil perceber que todas essas observaes descreviam fatos realmente existentes; no obstante, a explicao desses fatos dos limites da tradicional Psicologia naturalista era impossvel, sendo justamente isto o que abria amplamente as portas a hipteses idealistas anticientficas, atinentes influncia do "livre arbtrio" sobre a ocorrncia dos processos psquicos do homem.O impasse a que levaram as tentativas de explicar os fenmenos da ateno arbitrria na Psicologia naturalista clssica pode ser superado se mudarmos as concepes tradicionais dos processos conscientes, se deixarmos de consider-los primrios, particularidades primrias sempre existentes da vida espiritual e abord-los como produto de um complexo desenvolvimento histrico-social. S aps darmos esse passo e examinarmos o problema da gnese da ateno arbitrria que poderemos ver as suas razes autnticas e dar-lhe uma explicao cientfica.Como j tivemos oportunidade de salientar (Vol. I Cap. III), a criana vive num ambiente de adultos e se desenvolve num processo vivo de comunicao com eles.24Essa comunicao, que se realiza atravs da fala, de atos e gestos do adulto, influencia essencialmente a organizao dos processos psquicos da criana.A criana de idade tenra contempla o ambiente costumeiro que a cerca e seu olhar corre pelos objetos presentes sem se deter em nenhum deles nem distinguir esse ou aquele objeto dos demais. A me diz para a criana: "isto aqui uma xcara!" e aponta o dedo para ela. A palavra e o gesto indicador da me distinguem incontinenti esse objeto dos demais, a criana fixa a xcara com o olhar e estende o brao para peg-la. Neste caso, a ateno da criana continua a ter carter involuntrio e exteriormente determinado, com a nica diferena de que aos fatores naturais do meio exterior incorporam-se os fatores da organizao social do seu comportamento e o controle da ateno da criana por meio de um gesto indicador e da palavra. Neste caso, a organizao da ateno est dividida entre duas pessoas: a me orienta a ateno e a criana se subordina ao seu gesto indicador e palavra.No entanto isto constitui apenas a primeira etapa de formao da ateno arbitrria: trata-se de uma etapa exterior pela fonte e social por natureza. No processo de sucessivo desenvolvimento, a criana domina a linguagem e torna-se capaz de indicar sozinha os objetos e nome-los. A evoluo da linguagem da criana introduz uma transformao radical na orientao da sua ateno. Agora ela j capaz de deslocar com autonomia a sua ateno, indicando esse ou aquele objeto com um gesto ou nomeando-o com a palavra correspondente. A organizao da ateno, que antes estava dividida entre duas pessoas, a me e a criana, torna-se agora uma nova forma de organizao interior da ateno, social pela -origem mas interiormente mediata pela estrutura. esta etapa a que deve-se considerar etapa do nascimento de uma nova jorma de ateno arbitrria, que no uma forma de manifestao do "esprito livre" primariamente prpria do homem mas um produto de um complexo desenvolvimento histrico-social.Nas etapas posteriores a linguagem da criana se desenvolve; criam-se estruturas intelectuais (discursivas) internas cada vez mais complexas e elsticas e a ateno do homem adquire logo os traos, convertendo-se em esquemas intelec-25tuais internos dirigveis que so, por si mesmos, um produto da complexa formao social dos processos psquicos.Tudo isto mostra que a ateno arbitrria do homens realmente existe com seu carter elstico e independente dai aes exteriores imediatas mas tem carter determinado expl: cvel por ser social por origem e mediada por processos :'; linguagem internos por estrutura.Na medida em que se desenvolve, os processos de linguagem internos e intelectuais da criana vo-se tornando to complexos e automatizados que a transferncia da sua ateno de um objeto para outro passa a dispensar esforos especiais e assume o carter da facilidade e, pareceria da "invo-luntariedade" que todos ns sentimos quando em pensamento passamos facilmente de um objeto a outro ou quando somos capazes de manter por muito tempo a ateno tensa numa atividade que nos interessa.Ainda examinaremos os mecanismos das modalidades superiores de ateno depois de esclarecermos os problemas da formao dos processos intelectuais complexos.Mtodos de estudo da atenoOs estudos psicolgicos da ateno costumam coloco, como tarefa o exame da ateno arbitrria: do volume, da estabilidade e distribuio. O estudo das formas mais complexas de ateno representa interesse maior do que o estud da ateno involuntria que, em determinado grau se revel mediante a aplicao dos procedimentos antes descritos de es tudo do reflexo orientado e pode sofrer distrbio substanci somente nos casos de afeces macias do crebro, que conduzem a uma reduo geral da atividade.O estudo do volume da ateno se faz habitualmente po meio da anlise do nmero de elementos simultaneament apresentveis, que podem ser aceitos com clareza pelo sujeito Para estes fins usa-se um dispositivo que permite sugerir deter minado nmero de estmulos num espao de tempo to curt que o sujeito no consegue transferir o olhar de um objeto a outro, excluindo o movimento dos olhos, permite medir o nmero de unidades acessveis percepo simultnea.26O aparelho empregado para esse fim chamado taquis-toscpio (do grego taquisto = rpido, skopeo = olho). Este aparelho constitudo por uma janelinha, separada do objeto a ser examinado por uma tela cadente cujo corte pode mudar arbitrariamente de maneira que o objeto em exame aparece no espao muito breve de tempo de nmero 10 a 50-100 m/seg.s vezes, para uma exposio rpida do objeto emprega-se o flash, que permite examinar o objeto numa frao muito pequena de tempo (at 1-5m/seg.).O nmero de objetos nitidamente percebidos o que constitui o ndice do volume da ateno. Se as figuras sugeridas so bastante simples e dispersas desordenadamente num campo demonstrativo, o volume da ateno no costuma ir alm de 5-7 objetos simultaneamente perceptveis com nitidez.Para evitar a influncia da imagem consecutiva, costuma-se fazer a exposio breve dos objetos sugerveis ser acompanhada de uma "obliterao da imagem", para que no fundo escuro que continua visvel se trace para o sujeito um conjunto desordenado de linhas sem mudar a imagem dos objetos sugerveis que se manteve depois de todas as apresentaes e aparentemente "obliterante".Ultimamente tm sido feitas tentativas de exprimir o volume da ateno em nmeros, adotados na teoria da comunicao para medir a "capacidade receptora dos canais" atravs da aplicao da teoria da informao. Mas essas tentativas de mudana do volume da informao em "bits" (unidades empregadas pela teoria da informao) tm importncia apenas limitada e so aplicadas somente queles casos em que o sujeito opera com um nmero final de possveis figuras que conhece bem, das quais apenas algumas lhe so sugeridas para um pequeno espao de tempo.O conceito "volume de ateno" bastante prximo ao conceito "volume de percepo", e os conceitos de "campos de ateno ntida" e "campos de ateno confusa", amplamente empregado na literatura, so muito prximos aos conceitos de "centro" e "periferia" da percepo visual para a qual foram minuciosamente elaborados.Paralelamente ao estudo do volume da ateno, de grande importncia o estudo da estabilidade da ateno: ele se prope a estabelecer at que ponto slida e estvel a manuteno da ateno por determinada tarefa durante longo tempo, a ver se neste caso se observam certas oscilaes na7estabilidade da ateno e quando surgem ocorrncias de fadiga nas quais a ateno do sujeito comea a ser desviada por estmulos estranhos.Para medir a estabilidade da ateno costuma-se empregar as tabelas de Burdon, que consistem numa alternncia desordenada de letras isoladas que se repetem, uma por uma, num mesmo nmero de vezes em cada linha. Prope-se ao sujeito desenhar durante 3-5-10 minutos as letras dadas (nos casos simples, uma ou duas letras, nos complexos a letra dada somente se ela estiver diante de outra, por exemplo, de umi vogai). O experimentador observa o nmero de letras desenhadas durante cada minuto e o nmero de omisses encontradas. As oscilaes da ateno se manifestam na queda da produtividade do trabalho e no aumento do nmero de omisses.So de importncia anloga as tabelas de Kraepelin, formadas por colunas de nmeros que o sujeito deve ordenar durante um longo perodo. A produtividade do trabalho e o nmero de erros podem servir de ndice de oscilaes da ateno.Para aumentar as exigncias diante da organizao arbitrria da ateno, a realizao dos referidos testes dificultada pela discriminao dos fatores de abstrao. Deste modo, d-se ao sujeito a tarefa de traar determinadas letras no numa coletnea desordenada como ocorre nas tabelas de Burdon mas num texto de contedo interessante. Neste caso a influncia abstraente do texto interessante pode levar ao aumento do nmero de omisses e a queda da produtividade do trabalho; ao contrrio, a estabilidade da ateno arbitrria se manifesta no fato de que o cumprimento da tarefa exigida continua inaltervel mesmo nas condies de introduo de influncias que abstraem a ateno.Reveste-se de grande importncia o estudo da distribuio da ateno. Os primeiros experimentos de Wundt j mostraram que o homem no pode concentrar a ateno em dois estmulos simultaneamente apresentados e que chamada "distribuio da ateno" entre dois estmulos representa de fato uma substituio da ateno, que se transfere rapidamente de um estmulo a outro. Isto foi demonstrado com o auxlio do chamado aparelho de complicao, que permitia apresentar um estmulo visual (por exem-28pio, o ponteiro de um relgio na posio "I" simultaneamente como um estmulo sonoro: um som. Os testes mostraram que se os sujeitos prestam ateno ao ponteiro em movimento, tm a impresso de que o sinal sonoro que acompanha a passagem do ponteiro ao lado do ponto correspondente se atrasa e aparece algumas fraes de segundo aps; se eles prestam ateno ao som, a percepo do ponteiro em movimento se atrasa e os sujeitos relacionam o surgimento do som com um momento anterior.Tem grande importncia prtica o estudo da distribuio da ateno num trabalho demorado; para este fim, aplicam-se as chamadas "tabelas de Schullt". Nestas apresentam-se duas sries de nmeros vermelhos e negros dispostos desordenadamente. O sujeito deve indicar em ordem sucessiva uma srie de nmeros, alternando cada vez o nmero vermelho e um negro ou indicar, em condies dificultadas, os nmeros vermelhos em ordem direta e os negros em ordem inversa.A possibilidade de distribuio demorada da ateno expressa por uma curva, que indica o tempo gasto para descobrir cada um dos nmeros que fazem parte de ambas as sries.Como mostraram as pesquisas, aparece com a mesma nitidez as diferenas individuais em sujeitos isolados; tais diferenas podem refletir com segurana algumas variaes de intensidade e mobilidade dos processos nervosos, podendo ser empregadas com xito para fins diagnsticos.Desenvolvimento da atenoOs indcios do desenvolvimento da ateno involuntria estvel manifestam-se nitidamente nas primeiras semanas de vida da criana. Podem ser observado nos primeiros sintomas de manifestao do reflexo orientado: a fixao do objeto pelo olhar e a interrupo dos movimentos de suco primeira vista dos objetos ou com a manipulao destes. Pode-se afirmar com todo fundamento que os primeiros reflexos condicionados comeam a formar-se no recm-nascido com base no reflexo orientado, noutros termos, somente se a criana presta ateno ao estmulo, discrimina-o e se concentra nele.29A princpio a ateno involuntria da criana dos primeiros meses de vida tem carter de um simples reflexo orientado de estmulos fortes ou novos, de acompanhamento destes estmulos com o olhar, de "reflexos de concentrao" nestes. S mais tarde a ateno involuntria da criana adquire formas mais complexas e base dela comea a formar-se a atividade orientada de pesquisa em forma de manipulao dos objetos; nos primeiros tempos, porm, essa atividade orientada de pesquisa muito instvel, bastando aparecer outro objeto para cessar a manipulao do primeiro objeto. Isto mostra que no primeiro ano de vida da criana o reflexo orientado da busca j tem carter rapidamente esgotante, facilmente inibido por influncias de fora e ao mesmo tempo j apresenta os traos de "habituao" que conhecemos, podendo extinguir-se com repeties longas. No entanto, o problema mais importante o desenvolvimento das formas superiores de ateno arbitrariamente regulveis. Essas formas de ateno se manifestam antes de tudo no surgimento de formas estveis de subordinao do comportamento de instrues verbais do adulto que regulam a ateno e, bem mais tarde, na formao das formas estveis da ateno arbitrria auto-reguladora da criana.Seria incorreto pensar que essa ateno orientadora, que regula a influncia da fala, surge imediatamente na criana. Os fatos mostram que a instruo verbal "d a boneca!" provoca na criana apenas uma reao orientada genrica e s atua sobre ela se for acompanhada pela ao real do adulto. caracterstico que, nas primeiras etapas, a fala do adulto que nomeia o objeto atrai a ateno da criana se a nomeao do objeto coincide com a percepo imediata da criana. Nos casos em que no h o objeto nomeado no campo de viso imediato da criana, a fala provoca nela apenas uma reao orientada genrica que logo se extingue.S ao trmino do primeiro ano de vida e ao incio do segundo que a nomeao do objeto ou a ordem verbal comea a ter influncia orientadora e reguladora; a criana dirige o olhar para o objeto nomeado, distingue-o entre outros ou procura caso o objeto no esteja aos seus olhos. Mas nessa etapa a influncia da fala do adulto, que orienta a ateno da criana, ainda muito instvel e a reao orientada por ele provocada d rapidamente lugar a uma reao mediata orientada para o objeto mais ntido, novo ou interessante para a30criana. Isto pode ser nitidamente observado se transmitirmos criana dessa idade a instruo de dar um objeto situado a alguma distncia dela. Neste caso a vista da criana se dirige para o objeto mas se desvia rapidamente para outros objetos mais prximos e a criana comea a estender o brao no para o objeto mencionado mas para o estmulo mais prximo ou mais ntido.Apenas em meados do segundo ano de vida, o cumprimento da instruo verbal do adulto, que orienta a ateno seletiva da criana, torna-se mais estvel embora uma complicao relativamente significativa da experincia elimine facilmente a sua influncia. Deste modo, bastante adiar por algum tempo (s vezes por 15-30 segundos) o cumprimento de uma instruo verbal para que esta perca a sua influncia orientadora e a criana, que a cumpria facilmente e sem demora, comece a voltar-se para objetos estranhos que lhe atraem imediatamente a ateno. A mesma frustrao no cumprimento da instruo verbal pode ser obtida por outro meio. Se vrias vezes consecutivas sugerirmos a uma criana diante da qual h dois objetos (por exemplo, uma xcara e uma taa) a instruo "d-me uma xcara" e em seguida, aps reforarmos a instruo, a substituirmos por outra e com o mesmo tom de voz dissermos criana "d-me a taa!", ento a criana, cuja atividade ainda se caracteriza por certa inrcia, subordina-se a esse esteretipo inerte e continuar tendendo para a xcara, repetindo seus movimento anteriores.Somente na metade do segundo ano de vida, a instruo verbal do adulto adquire a capacidade bastante slida de organizar a ateno da criana, embora nesta etapa ela tambm perca facilmente o seu significado regulador. Assim, a criana dessa idade cumpre facilmente a instruo: "a moeda est debaixo da xcara, d-me a moeda", se a moeda foi escondida s vistas da criana; mas se isto no ocorreu e a moeda foi escondida debaixo de um objeto fora das vistas da criana, a ateno orientadora da instruo se frustra facilmente pelo reflexo orientado imediato e a criana comea a dirigir-se aos objetos situados diante dela, agindo independentemente da instruo verbal.Deste modo, a ao da instruo verbal, que orienta a ateno da criana, s assegurada nas etapas iniciais nos casos em que coincide com a percepo imediata da criana.31A criana de um ano e meio a dois anos pode comear facilmente a cumprir a instruo "aperte a bolinha" se a bola de borracha estiver em suas mos; mas os movimentos de compresso da bola, provocados pela ordem verbal, no cessam e a criana continua a apertar a bola muitas vezes seguidas mesmo depois de receber a nova ordem: "no precisa apertar!".A instruo verbal aciona um movimento mas no pode reprimi-lo e as reaes motoras por ela provocada continuam a ser cumpridas de maneira inerte independentemente da sua influncia.Os limites da influncia orientadora da instruo verbal se manifestam com nitidez especial quando se complica essa instruo. Assim, examinando o comportamento de uma criana pequena, a quem se d instruo verbal: "quando acender a luz aperte a bola", que exige o estabelecimento de ligao entre dois elementos de uma condio formulada, pode-se ver facilmente que a instruo no exerce sobre a criana influncia organizadora. A criana ao perceber cada passo dessa instruo, d uma resposta motora imediata e ao ouvir o fragmento "quando acender a luz" comea a procurar essa luz e ao ouvir o fragmento" "... aperte a bola" comea imediatamente a apertar a bola.Deste modo, se entre os dois anos e os dois e meio de idade uma simples instruo verbal pode orientar a ateno da criana e levar a um cumprimento bastante preciso do ato motor, a instruo verbal complexa, que exige uma sntese prvia dos elementos nela includos, ainda no pode provocar a necessria influncia organizadora.Somente no processo de sucessivo desenvolvimento, no segundo e terceiro anos de vida, a instruo do adulto, completada posteriormente pela participao da prpria linguagem da criana, converte-se em fator que orienta solidamente a ateno. Mas esa influncia slida da instruo verbal, que orienta a ateno da criana, se forma com a ntima participao da atividade da criana e, por isto, para organizar a sua ateno estvel, a criana no s deve dar ouvido instruo verbal do adulto como ela mesma deve distinguir as ordens necessrias, reforando-as em sua ao prtica.Esse fato foi mostrado por muitos psiclogos soviticos. Em seus experimentos, A. G. Ruzskaya, su-32geriu a crianas de idade pr-escolar uma instruo verbal, que exigia reagir com um movimento ante.o surgimento de um tringulo e no reagir ante o surgimento de um quadrado. A criana que recebia semelhante tarefa cometia inicialmente muitos erros, reagindo aos indcios "angulares" que se observam em ambas as figuras. Somente depois que as crianas de idade escolar inferior tomaram conhecimento prtico das figuras, manipularam-nas e "ganharam o jogo contra elas", as suas reaes s figuras assumiram carter seletivo e elas comearam a obedecer instruo, respondendo com um movimento apenas ao surgimento de um quadrado, abstendo-se do movimento ante o surgimento de um tringulo. Na etapa seguinte, para crianas de 4-5 anos, a discriminao prtica dos indcios das figuras j podia ser substituda por uma desenvolvida explicao verbal ("isto aqui uma cam-pnula, quando ela aparecer no precisa apertar o boto; isto aqui uma janelinha, quando ela aparecer preciso apertar o boto"); depois desta explicao, a instruo verbal comeou a orientar solidamente a ateno, adquirindo influncia reguladora estvel.Fatos anlogos foram registrados nos testes, V. Ya Vasilevskaya. Nestes as crianas receberam uma srie de quadros, todos representando uma situao em que participava uma cadela. A tarefa consistia em selecionar os quadros nos quais "a cadela cuidava dos seus filhotes" ou quadros nos quais "ela servia ao homem". Essa instruo no exercia nenhuma influncia orientadora sobre o comportamento das crianas de dois anos de idade. O quadro despertava nelas uma torrente de associaes, e as crianas comeavam simplesmente a contar tudo o que haviam visto antes. Nas crianas de 2,5-3 anos, a ateno seletiva pela tarefa dada s podia ser assegurada permitindo-se criana "perder o jogo" na prtica para a situao representada, repetindo a tarefa. Para as crianas de 3,5-4 anos, a ateno estvel pelo cumprimento da tarefa devida s era possvel com a repetio da tarefa em voz alta e uma ampla anlise da situao; s a criana de 4,5-5 anos estava em condies de orientar com estabilidade a sua atividade atravs da instruo, mantendo a aten-3Jo seletiva por aqueles indcios representados ns instruo.O desenvolvimento da ateno arbitrria na idadt infantil foi examinado nos primeiros trabalhos de Vi-gotsky e posteriormente de Lentyev, que mostrararr. que nos graus posteriores de desenvolvimento era possvel observar a via de formao da ateno aqui des crita, dando nfase aos meios auxiliares externos coir sua reduo posterior e com a transio paulatina par. formas superiores de uma ampla organizao interior da ateno. Em seus testes, Vigotsky escondeu uma noz em alguns vidros e a criana devia retir-la; para efeito de orientao, ele colou pedacinhos de papel pardo nos potinhos em que estavam escondidas as nozes. Habitualmente, a criana de 3-4 anos no dava ateno aos papis nem distinguia seletivamente os potinhos necessrios; mas depois que a noz era depositada aos seus olhos ele indicava com o dedo o papel pardo, este adquiria o carter de sinal que sugeria o objetivo oculto e orientava a ateno da criana. Para as criar, as de idade mais avanada, o gesto indicador cr^ substitudo por uma palavra, a criana comeava a usar por si mesma o sinal indicador com base no qual podia organizar a sua ateno.Fatos anlogos foram observados tambm pc: Lentyev que sugeriu s crianas cumprir a difcil tarefa de um jogo: "no dizer sim nem no, no escolhe" preto nem branco", ao qual se acrescentava uma condio ainda mais difcil, que proibia repetir duas vezes o nome de uma mesma cor. Essa tarefa foi inacessvel inclusive para crianas na idade escolar, e a criana de tenra idade escolar s conseguia assimil-la marcando os quadros coloridos correspondentes e mantendo a sua ateno seletiva com auxlio de apoios mediatos exteriores. A criana de idade escolar mais avanada deixava de sentir a necessidade de apoios externos e mostrava-se em condies de organizar a sua ateno seletiva inicialmente pronunciando tanto a instruo quanto as posteriores respostas "proibidas" e s nas ltimas etapas limitava-se a pronunciar interiormente (ou reproduzir mentalmente) as condies que orientam a sua atividade seletiva.34O que acaba de ser dito permite concluir, que a ateno arbitrria, considerada pela Psicologia clssica como primria, mais tarde manifestao do "livre arbtrio" ou qualidade fundamental do "esprito humano", em realidade produto de um desenvolvimento sumamente complexo. As fontes desses desenvolvimentos so as formas de comunicao da criana com o adulto, sendo o fator fundamental que assegura a formao da ateno arbitrria representada pela fala, que inicialmente reforada por uma ampla atividade prtica da criana e em seguida diminui paulatinamente e adquire o carter de ao interior, que media o comportamento da criana e assegura a regulao e o controle deste. A formao da ateno arbitrria abre caminho para a compreenso dos mecanismos interiores dessa complexssima forma de organizao de atividade consciente do homem, que desempenha papel decisivo em toda a sua vida psquica.Patologia da atenoO distrbio da ateno um dos mais importantes sintomas do estado patolgico do crebro e seu estudo pode acrescentar dados importantes ao diagnstico das afeces cerebrais.Nas afeces macias das reas profundas do crebro (do tronco superior das paredes do terceiro ventrculo, do sistema lmbico) podem ocorrer graves distrbios da ateno involuntria, que se manifestam em forma de reduo geral da atividade e de expressas perturbaes dos mecanismos do reflexo orientado.Esses distrbios podem ter tanto o carter de prolapso e manifestar-se num fato de que 0 reflexo orientado de carter instvel que se extingue rapidamente quanto carter de irritao patolgica dos sistemas do tronco e lmbico resultando da que os sintomas de reflexo orientado uma vez surgidos no se extinguem e durante muito tempo os estmulos continuam gerando reaes eletrofisiolgicas e vege-ativas inextinguveis (vasculares e motoras). s vezes os sintomas comuns de reflexo orientado podem assumir carter paradoxal, os estmulos comeam a provocar exaltao em vez de depresso de alfa-ritmo ou a expanso paradoxal35dos vasos ao invs de sua compresso em resposta apresentao de sinais.No quadro clnico, esses distrbios se manifestam no fato de que os doentes revelam acentuados sintomas de abatimento, inrcia e no respondem aos estmulos externos ou a eles respondem somente com permanentes irritaes com-plementares. No caso de superexcitao patolgica dos sistemas cerebrais do tronco superior e da regio lmbica, os pacientes, ao contrrio, revelam sintomas de. elevada exci-tabilidade, sentem inquietao permanente e apresentam estado altamente vulnervel distrao por quaisquer excita-es emocionais e irritaes.Para a clnica tm importncia especial os distrbios da ateno arbitrria. Estes se manifestam no fato de que o doente se abstrai facilmente com qualquer estmulo secundrio, mas impossvel organizar-lhe a ateno, atribuindo-lhe uma tarefa determinada ou lhe dando uma instruo verbal correspondente. Isto pode ser observado em pesquisas psicofisiolgicas se aps a extino dos indcios de reflexo orientado dermos ao doente uma tarefa como, por exemplo, contar os sinais, acompanhar a sua mudana, etc. Se, como j vimos, essa instruo tem por norma gerar a estabilizao dos sintomas eletrofisiolgicos do reflexo orientado, nas afeces cerebrais a instruo verbal dirigida ao doente no provoca nenhum reforo da Jfao orientada.Os exemplos mais tpicos de distrbios das formas superiores de ateno partem dos doentes com afeco dos lobos do crebro (especialmente das suas reas mediais). Freqentemente no se pode observar nestes doentes nenhuma queda do reflexo orientado dos sinais exteriores; s vezes a ateno involuntria deles inclusive elevada e o doente se abstrai facilmente com qualquer irritao secundria (rudo no quarto de hospital, abertura de portas, etc); no entanto verifica-se impossvel concentrar o doente no cumprimento de uma tarefa, elevar o tnus do crtex cerebrat atravs de uma instruo verbal e a apresentao de uma instruo verbal (contar os sinais, acompanhar sua mudana) no provoca nesse doente nenhuma mudana dos sintomas eletrofisiolgicos e vegetativos de reflexo orientado. s vezes esse tipo de perturbaes, que constitui a base fisiolgica da mudana do comportamento das pessoas com afeco dos36lobos cerebrais, fundamental para o diagnstico desses distrbios. caracterstico que esse tipo de perturbao da regulao verbal do reflexo orientado s ocorre com as afeces dos lobos cerebrais e no se verifica na afeco de outras reas. Isto mostra o papel exclusivo dos lobos cerebrais do homem no processo de formao de intenes estveis e na realizao do controle do processo de comportamento. natural que semelhantes formas de distrbio da ateno arbitrria conduzem a importantes mudanas de todos os complexos processos psicolgicos. justamente por fora desses distrbios que os doentes com afeco dos lobos cerebrais so incapazes de concentrar-se na soluo de uma tarefa, e criar um sistema estvel de relaes seletivas, correspondentes ao programa de ao proposto e se desviam facilmente para relaes secundrias, substituindo o cumprimento planejado de um programa por reaes que surgem impulsivamente a qualquer estmulo secundrio ou repetio dos esteretipos surgidos que h muito perderam a sua importncia mas frustram facilmente a atividade que se iniciara voltada para um objetivo. por isto que a leve perda da seletividade no cumprimento de qualquer operao intelectual constitui um dos indcios essenciais da afeco dos lobos frontais do crebro.Podem ocorrer distrbios importantes tambm durante as doenas cerebrais que se caracterizam por um estado patolgico inibitrio (fsico) do crtex.Nesses estados (caractersticos de estafa aguda ou estados "onirides"), a "lei da fora" descrita por Pavlov, na qual os estmulos fortes provocam reaes fortes, e os fracos, reaes fracas, violada.Nos estados "fsicos" relativamente brandos do crtex, tanto os estmulos fortes quanto os fracos comeam a provocar reaes idnticas, e com aprofundamento posterior desses estados, conhecido como "fase paradoxal", os estmulos fracos comeam a provocar reaes at mais fortes do que os estmulos fortes. natural que em semelhantes estados torne-se impossvel a ateno estvel pela tarefa colocada e a ateno comece a ser facilmente abstrada por quaisquer estmulos secundrios.37A diferena entre a instabilidade da ateno arbitrria e as formas profundas de sua perturbao, que surgem nas afeces dos lobos frontais do crebro, consiste em quey nestes casos, a mobilizao da ateno pela intensificao dos motivos, o recurso a meios auxiliares de apoio e a consolidao da instruo verbal levam compensao das deficincias da ateno, ao passo que na afeco dos lobos frontais, que destri o mecanismo fundamental de regulao da ateno arbitrria, esse caminho pode no surtir o efeito necessrio. A instabilidade da ateno arbitrria no surge apenas nos estados patolgicos expressos do crebro mas tambm em estados do sistema nervoso, provocados por es-tafa e neuroses; s vezes, essa instabilidade reflete peculiaridades individuais do. homem. Por isto o estudo da insta-bilidade da ateno, com a aplicao de todos cs mtodos psicofisiolgicos e psicolgicos objetivos, pode ter grande importncia diagnostica.38IIMemriaO estudo das leis da memria humana constitui um dos captulos centrais e mais importantes da cincia psicolgica. sabido que cada deslocamento, impresso ou movimento nosso deixa certo vestgio e este se mantm durante um tempo bastante longo e em determinadas condies reaparece e se torna objeto de conscincia. Por isto entendemos por memria o registro, a conservao e a reproduo dos vestgios da experincia anterior, registro esse que d ao homem a possibilidade de acumular informao e operar com os vestgios da experincia anterior aps o desaparecimento dos fenmenos que provocaram tais vestgios.Os fenmenos da memria podem pertencer igualmente ao campo das emoes e ao campo das percepes, ao reforo dos processos motores e da experincia intelectual. Todo o reforo dos conhecimentos e habilidades e a capacidade de aproveit-los pertencem rea da memria.De acordo com isto, impe-se Psicologia uma srie de problemas complexos, que fazem parte da rea de estudos dos processos da memria. A Psicologia se prope estudar39a maneira pela qual se registram os vestgios, os mecanismos fisiolgicos desse registro, as condies que contribuem para ele, os seus limites e os procedimentos que permitem ampliar o volume do material registrado.A Psicologia se prope responder qual a durao que pode ter a conservao desses vestgios, quais os mecanismos de sua conservao em lapsos de tempo breves e longos, quais as mudanas que sofrem os vestgios da memria que se encontram em estado latente e qual a influncia que eles podem exercer na ocorrncia dos processos cognitivos do homem.Entre as questes do captulo dedicado psicologia da memria, situam-se os problemas dos mecanismos de reproduo dos vestgios latentes, que em certas condies podem tornar-se objeto da atividade consciente. Esse captulo estuda as condies que levam reproduo dos vestgios da memria, estudando tambm as principais formas que incluem tanto a reproduo no arbitrria dos vestgios quanto . a arbitrria, intencional.Por ltimo, esse captulo inclui a descrio de diversas formas de processos da memria, comeando pelos tipos mais simples de registro no arbitrrio e apario dos vestgios e terminando pelas formas complexas de atividade mnemnica que permite ao homem voltar arbitrariamente experincia passada, adotando uma srie de procedimentos sociais, e ampliar substancialmente o volume de informao retida e os prazos de sua conservao.O captulo dedicado psicologia da memria, de grande importncia para a interpretao dos mais importantes processos de atividade cognitiva e para a doutrina do desenvolvimento dos processos psquicos na idade infantil e da perturbao dos processos psquicos nos estados patolgicos do crebro.Histria do estudo da memriaO estudo da memria foi uma das primeiras partes da Psicologia qual se aplicou o mtodo experimental: fizeram-se tentativas de medir os processos estudados e descrever as leis a que eles se subordinam.40Na dcada de 80 do sculo passado, o psiclogo alemo H. Ebbinghaus props o mtodo atravs do qual, supunha ele, era possvel estudar as leis da memria pura, noutros termos, as leis dos processos de registro dos indcios independentes da atividade do pensamento. Esses procedimentos, que consistiam em decorar slabas sem sentido, que no geravam quaisquer associaes, permitiram a Ebbinghaus encontrar as curvas bsicas da decorao (ou memorizao) do material, descrever as suas leis bsicas, estudar a atividade da conservao dos vestgios na memria e o processo de sua extino paulatina.As pesquisas clssicas de Ebbinghaus foram acompanhadas dos trabalhos do psiquiatra alemo Kraepelin, que atravs desses procedimentos estudou a ocorrncia do processo de decorao dos doentes com alteraes psquicas; foram acompanhadas tambm dos trabalhos do psiclogo alemo H. E. Mller, que deixou um estudo fundamental dedicado s leis bsicas de reforo de reproduo dos vestgios' d memria no homem.Nas primeiras etapas, o estudo dos processos da memria limitava-se a examin-la no homem e era antes um estudo da atividade mnstica consciente (o estudo do processo de decorao premeditada e reproduo dos vestgios) que um processo' de ampla anlise dos mecanismos naturais e registro dos vestgios que se manifestam igualmente no homem e no animal.Com o desenvolvimento das pesquisas objetivas do comportamento do animal, especialmente com os primeiros passos no sentido do estudo das leis da atividade nervosa superior, ampliou-se substancialmente a rea de estudos da memria.Em fins do sculo xix e comeo do sculo xx, surgiram as pesquisas do conhecido psiclogo americano E. L. Thorndike, o primeiro psiclogo a transformar em objeto de estudo o processo de formao das habilidades no animal, aplicando para este fim a anlise da maneira pela qual o animal aprendia a encontrar sada em um labirinto e como reforava paulatinamente as habilidades obtidas.No primeiro decnio do sculo xx, os estudos desses processos adquiriram uma forma cientfica quando Pavlov props o mtodo de estudos dos reflexos condicionados, atravs do qual conseguiu examinar os principais mecanis-41mos fisiolgicos de formao e reforo de novas ligaes, Foram descritas as condies sob as quais essas ligaes surgem e permanecem, bem como as condies que influenciam essa permanncia. A doutrina da atividade nervosa superior e suas leis bsicas tornou-se posteriormente a fonte bsica dos nossos conhecimentos acerca dos mecanismos fisiolgicos da memria, enquanto a elaborao e conservao das habilidades e do processo de "aprendizagem" (learning) nos animais constituam o contedo bsico da cincia americana do comportamento, que englobava os clebres pesquisadores J. Watson, B. F. Skinner, D. Hebb e outros.O estudo clssico das leis bsicas da memria no homem e as pesquisas posteriores do processo de formao das habilidades dos animais limitaram-se igualmente ao estudo dos processos mais elementares de memria. O estudo das formas arbitrrias e conscientes superiores de memria que permitiram ao homem aplicar determinados procedimentos de atividade mnemnica e voltar-se arbitrariamente para quaisquer lapsos do seu passado foi apenas descrito pelos filsofos que os contrapunham s formas naturais de memria (ou de "memria do corpo") e os consideravam manifestao da memria consciente superior (ou "memria do esprito"). No entanto essas indicaes de alguns filsofos idealistas (por exemplo, o filsofo francs H. Bergson) no se converteram em objeto de um estudo especial rigoroso e cientfico e os psiclogos falavam do papel desempenhado na memorizao pelas associaes ou indicavam que as leis da memorizao das idias diferem essencialmente das leis elementares da memorizao. Praticamente no se colocava o problema da origem e muito menos do desenvolvimento das formas superiores de memria no homem.O mrito do primeiro estudo sistemtico das formas superiores de memria na criana cabe a Vigotsky, que em fins dos anos vinte tornou pela primeira vez objeto de um estudo especial o problema do desenvolvimento das formas superiores de memria e, juntamente com seus alunos A. N. Lentyev e L. V. Zamkov, mostrou que as formas superiores de memria constituem uma forma complexa de atividade psquica social por origem e mediata por estrutura e estudou as etapas fundamentais de desenvolvimento da memorizao mediata mais complexa.42As pesquisas das formas mais complexas de atividade rnnsica arbitrria, nas quais os processos da memria se ligavam aos processos do pensamento, foram essencialmente completados por psiclogos soviticos, que atentaram para as leis que serviam de base memorizao involuntria (no intencional) e descreveram minuciosamente as formas de organizao do material memorizado, que ocorrem no processo de decorao consciente. Essas pesquisas, empreendidas por A. A. Smirnov e P. I. Zintchenko, descobriram leis novas e essenciais da memria, como da atividade consciente do homem, enfocaram a dependncia entre a memorizao e a tarefa colocada e descreveram os procedimentos fundamentais de memorizao do material completo.Apesar dos xitos reais dos estudos psicolgicos da memria, continuaram desconhecidos os processos fisiolgicos de registro dos vestgios e a natureza do prprio fenmeno da memria; filsofos e fisiologistas como Simon ou Hering se limitaram a indicar que a memria " propriedade geral da matria", sem fazer qualquer tentativa de descobrir a sua essncia e os profundos mecanismos fisiolgicos que lhe servem de base.Apenas nos dois ltimos decnios a questo mudou essencialmente.Estudos publicados mostraram que os processos de registro, conservao e reproduo dos vestgios esto relacionados com profundas mudanas bioqumicas, particularmente com a mudana do cido ribonuclico (Hiden), que os vestgios da memria podem ser deslocados por via humo-ral, bioqumica (Mc. Connell e outros). Comearam estudos intensivos dos ntimos processos nervosos de "reverberao da excitao" (manuteno da excitao nos