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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PDE 2009

UNIDADE DIDÁTICA

IES: UEM

ORIENTADOR: José Luiz de Araujo

AUTOR: Valdir Paulino Leite

TÍTULO: Ensino e aprendizagem de leitura – formação de leitores

TEMA: leitura, conhecimento e fruição

NRE: Umuarama – PR.

ESTABLECIMENTO: Colégio Estadual Nestor Víctor – Pérola/Pr.

DISCIPLINA: Língua Portuguesa – 3ª série do Ensino Médio

RESUMO:

Culturalmente, nossas escolas, como qualquer outra instituição social reflete as condições gerais de vida da comunidade em que está inserida. É comum dizer que nossos alunos não gostam de ler e que a educação não vai bem porque a leitura não faz parte de nossa cultura. E, em nossas escolas, a leitura sempre é feita com certa exigência e uma obrigação para atribuição de notas. O estímulo ocorre sob signo da criatividade, para responder às exigências de aperfeiçoamento pessoal e assim suprimir a influência uniformizadora do ensino tradicional. Nesse material didático, pretende-se enfatizar uma leitura dos vários gêneros textuais que circulam entre os sujeitos, textos circundantes no cotidiano que contribuam para formação de leitores, implicando, dessa forma, a leitura realizada na escola, a pesquisa, e a leitura realizada na sociedade. Acredita-se que pela leitura, a pessoa humana, na relação com o outro, insere-se no mundo sociocultural e tem a possibilidade de agir sobre ele (Marcuschi, 2008). Portanto, desenvolver habilidades de leituras da realidade, atribuindo sentido aos textos, é ultrapassar os limites do texto e apropriar-se dos conhecimentos acadêmicos que possam envolvê-los nas relações interpessoais.

PALAVARA CHAVE: LEITURA – formação de leitores

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INTRODUÇÃO

Pensar em ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa, é preciso pensar

nas práticas sociais, para que os alunos se envolvam, confrontando ideias,

apropriando-se de novos conhecimentos. Na sala de aula, porém, isso não está

acontecendo de forma efetiva. Então, propiciar aos educandos práticas de

leituras das diferentes esferas sociais garante a articulação de discursos, vozes

que se materializam em uso efetivo.

Ao ler, o indivíduo busca suas experiências, seus conhecimentos prévios,

sua cultura, formação familiar, a sua visão de mundo. O leitor tem um papel ativo

no processo da leitura, deve usar estratégias baseadas em seus conhecimentos

de mundo, na vivência sociocultural para formular hipóteses, aceitar ou rejeitar

conclusões. No processo de leitura, também é preciso considerar as linguagens

não-verbais. A leitura de imagens digitais e virtuais, são figuras que povoam com

intensidade crescente no universo cotidiano (Diretrizes Curriculares do Paraná,

2008).

Assim, propomos nesta Unidade Didática sugestões e procedimentos de

leitura de textos circundantes e escritos nas diferentes práticas sociais, que

podemos utilizar em sala de aula. Não pretendemos dar receitas prontas, pois

sabemos que isso não funciona, a intenção é indicar caminhos pelo qual o

exercício da leitura seja um trabalho contínuo, prazeroso e vivo em todo o

cotidiano do aluno. A leitura deve ser adequada ao momento da aula, sempre ter

o aluno como elemento ativo. Para Bakhtin (1997), a leitura é um ato dialógico e

deve se fazer em todas as aulas. É na leitura que as vozes se materializam e a

linguagem se efetiva nas diferentes práticas sociais.

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APROFUNDAMENTO TEÓRICO E METODOLOGIAS

As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Ensino Básico do

Estado do Paraná (2008), por sua vez, propõem que o estudo da língua deve ser

vista como um fenômeno social, que surge da necessidade de interação entre os

sujeitos inseridos num contexto historicamente construído. Antunes (2003)

evidencia a língua como promotora da interação entre as pessoas, e nos leva a

admitir que somente uma concepção interacionista da linguagem, eminentemente

funcional e contextualizada, pode, de forma ampla e legítima, fundamentar um

ensino da língua que seja individual e socialmente, produtivo e relevante. Para

ela, a língua só se atualiza a serviço da comunicação intersubjetiva, em situações

de atuação social e através de práticas discursivas, materializadas em textos

orais e escritos que contribuam para ordenar e estabilizar as atividades

comunicativas do cotidiano.

A concepção de linguagem, segundo Travaglia (2000), Geraldi (1990), é

de suma importância no ensino da língua, pois o conceito da natureza

fundamental da língua altera como estrutura, em termos de ensino. Travaglia

apresenta três concepções distintas de linguagem: Na primeira, a linguagem é

vista como expressão de pensamento. Neste sentido, as pessoas falam porque

pensam, e, quando não expressam bem é porque não pensam. Nesses termos,

as expressões são construídas no interior da mente, a fala é uma tradução do

que é pensado. Para Geraldi, essa concepção ilumina, basicamente, os estudos

tradicionais. Na segunda concepção, a linguagem é vista como instrumento de

comunicação. Nesta concepção, a língua é vista como um código, um conjunto de

signos combinado com regras, que é capaz de transmitir uma mensagem de um

emissor a um receptor. Já, na terceira concepção, a linguagem é vista como

processo de interação. O falante atua e age sobre o interlocutor-autor, a partir do

texto, produzindo efeitos de sentido, considerando o contexto sócio-histórico e

ideológico.

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Conforme as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa, em um ato

dialógico, o processo ensino e aprendizagem da língua, assumem-se o texto

verbal, oral ou escrito, e também outras linguagens, tendo em vista o

multiletramento, como unidade básica, que manifestam em enunciações

concretas, cujas formas se estabelecem de modo dinâmico com experiências

reais. A leitura deve ser aberta, experienciada, desde a iniciação escolar. Pois, a

escola continua sendo a agência responsável por excelência pelo ensino e a

aprendizagem da leitura, oralidade e escrita. A sociedade cobra do professor a

formação de indivíduos leitores; reconhece que a leitura verdadeira, não faz parte

do universo cultural brasileiro, que, certas leituras são para a escola, não para o

leitor. Desta forma, todos os textos devem ser lidos na perspectiva de

compreensão e de sentido, para que de fato aconteça a pretendida leitura.

O ato da leitura deverá acontecer em dois momentos: com a informação

visual e a informação não visual. Quando o leitor entra em contato com o texto,

automaticamente contará com atividades que contemplam as linhas que tecem a

leitura: memória, intersubjetividade, interpretação, fruição e retenção.

Nesta perspectiva, o trabalho com leitura implica reconhecer a incompletude dos

processos diversos, os vazios que eles apresentam implícitos , pressupostos ,

subentendidos, que devem ser preenchidos pelo leitor.

Sobre a importância da leitura, Aguiar e Bordini (l993), comentam que a

relação entre leitores e diferentes gêneros textuais podem ocorrer as mais

variadas leituras. Pois o texto é o fornecedor de pistas, mas pode deixar lacunas

que o leitor com sua criatividade passa a interagir e interpretar conforme sua

consciência, convenções sociais e culturais as quais está inserido. Quanto mais

leituras o educando acumular, mais ele altera seu comportamento e transforma-o

no processo de aprendizagem.

Antunes (2003) pressupõe a leitura como um fenômeno social. A leitura é

parte da interação verbal escrita que completa a produção escrita por ser uma

atividade de interação entre sujeitos que atua participativamente, buscando

recuperar, compreender, inferir e interpretar o conteúdo e as intenções

pretendidas pelo autor. Ela afirma que ao fazer uma leitura, mesmo recorrendo a

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um dicionário, a uma gramática, não é suficiente a uma interpretação, outros

conhecimentos prévios é que podem sustentar uma interpretação coerente de um

texto.

Na concepção de leitura proposta por Marcuschi (2005), Antunes (2003), e

Geraldi (1997), o leitor retira o texto da clandestinidade, ao estabelecer com ele

um diálogo que revivifica e atualiza seu sentido, até então encoberto pela

ausência de um leitor. De acordo com suas afirmações, o leitor modela o texto

pela compreensão, inferências e pela interpretação, em sua relação dialógica:

leitor, texto, autor. O sentido de um texto não é o mesmo que conteúdo, a

interpretação de ambos, está na relação do texto ao contexto e na adequação à

situação sociocomunicativa.

A leitura, conforme propõe Geraldi (1997) caracteriza-se numa relação

dialógica interativa, produzindo respostas a outros textos, num contexto que

passa assumir como locutor e, desta forma, ter o que dizer, razão de dizer, como

dizer, interlocutores para quem dizer. Nestes processos interlocutivos é que a

aprendizagem se dá, pois dialoga com o que está sendo lido, confrontando o

próprio saber, com a sua experiência de vida.

Marcuschi (2008) afirma que o texto é um evento comunicativo, todos se

realizam em algum gênero, todos os gêneros comportam uma ou mais

seqüências tipológica e são produzidas em algum domínio discursivo. Acredita

que um texto, por exemplo, carta pessoal – seja um gênero textual que apresenta

as tipologias: descrição, exposição, narração, argumentação etc. Classifica este

fenômeno de heterogeneidade tipológica. E quando um texto tem aspecto de um

gênero, mas construído em outro, nomeia de intertextualidade intergêneros, isto

é, ocorreu no texto a configuração de uma estrutura intergêneros de natureza

altamente híbrida. Pois, o que confere sentido ao texto é sua convocação em

discurso pelo discurso no âmbito de algum gênero, o que implica uma esfera de

atividades e, portanto, uma dada maneira social-histórica-ideológica de recortar o

mundo no âmbito de cada esfera. O conceito de gênero textual não implica no

estudo do texto ou no contexto, a escolha do gênero advém da relação

interlocutiva do discurso, das práticas sociais institucionalizadas pela linguagem.

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Marcuschi (2005) e (2008) mostra-nos que não só o leitor opera com o

texto lido no seu trabalho de produção de significações, pois não há enunciador

sozinho. Na voz do leitor, há vozes sociais que expressam seus conhecimentos,

fazendo com que consiga compreender todas as informações propostas pelo

texto. Para ele, informação é o conteúdo do leitor, não é algo óbvio. Assim, pode-

se afirmar que há diferentes formas de introduzir a fala, na fala de outrem há

julgamento sobre o sujeito citado ou sobre o discurso citado. A situação

sociocultural serve tanto para a interpretação como para orientação da produção.

ESTRATÉGIAS DE AÇÕES:

A importância da leitura no cotidiano escolar

Apresentar aos alunos noções e importância da leitura no cotidiano

escolar. Pergunta-se se gostam de ler e o que gostam de ler. Mesmo tendo uma

resposta negativa, apresentar a eles que a leitura é muito importante na aquisição

de saberes. E, que a leitura de gêneros textuais circundantes na comunidade, e

de seus interesses, tornam-se a leitura mais prazerosa. Quanto mais leituras o

aluno acumular, mais ele altera seu comportamento e transforma no processo de

aprendizagem, Aguiar e Bordini (1993).

Para que os alunos apontem suas preferências dos gêneros textuais a

serem trabalhados pode-se dizer que quanto mais dominamos os gêneros mais

livremente empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos nele a

nossa individualidade, Bakhtin (1997). A seguir, o professor propõe em forma de

questionário com dez gêneros citados oralmente pelos alunos, faz-se um

levantamento de dados, selecionando três gêneros de maior preferência. Em

seguida, proporciona aos mesmos as condições favoráveis de apropriação da

leitura.

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Questionário de levantamento de dados :

01. SEXO1 ( ) masculino 2 ( ) feminino

02. IDADE: ..................anos

03. VOCÊ GOSTA DE LER? 1

( ) sim 2 ( ) não

04. VOCÊ TEM O HÁBITO DE LER?

1 ( ) sim, apenas os conteúdos ministrados pelos professores 2 ( ) sim, qualquer tipo de leitura 3 ( ) não

05. CASO VOCÊ TENHA RESPONDIDO A ALTERNATIVA 2 NA QUESTÃO 04, QUAL TIPO DE LEITURA VOCÊ TEM O HÁBITO DE LER?

1 ( ) charges 2 ( ) livros infanto-juvenis 3 ( ) romances 4 ( ) poesias 5 ( ) crônicas 6 ( ) editoriais 7 ( ) noticiários 8 ( ) livros religiosos ou a bíblia 9 ( ) fábulas 10 ( )OUTRO. QUAL?....................................................

06. COM QUE FREQUENCIA VOCÊ LÊ?

1 ( ) só em períodos de férias escolares 2 ( ) esporadicamente 3 ( ) todos os dias 4 ( ) não tenho hábito de ler, só quando a escola solicita 5 ( ) não tenho hábito de ler nunca

07. GRAU DE ESCOLARIDADE DE SEUS PAIS OU RESPONSÁVEL: MARQUE O NÍVEL MAIOR 1 ( ) 1ª Fase do Ensino Fundamental ( 1ª a 4ª) 2 ( ) 2ª Fase do Ensino Fundamental ( 5ª a 8ª ) 3 ( ) Ensino Médio incompleto 4 ( ) Ensino Médio completo 5 ( ) Ensino Superior incompleto 6 ( ) Ensino Superior completo

08. NA SUA CASA, EXCLUINDO VOCÊ, ALGUÉM TEM O HÁBITO DE LER? TIPO DE LEITURA 1 ( ) charges 2 ( ) livros infanto-juvenil 3 ( ) romances 4 ( ) poesias 5 ( ) crônicas 6 ( ) editoriais 7 ( ) noticiários 8 ( ) livros religiosos ou a bíblia 9 ( )fábulas

08. COM QUE FREQUÊNCIA, EXCLUINDO VOCÊ, A PESSOAS DE SUA CASA COSTUMAM LER 1( ) esporadicamente 2 ( ) semanalmente 3 ( ) todos os dias 4 ( ) nunca leem Feito o levantamento de dados, trabalhar a leitura de dois textos de cada

gênero escolhido: Fábulas, charges e crônicas.

2º MOMENTO: LEITURA DO PRIMEIRO GÊNERO ESCOLHIDO “FÁBULAS”

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O primeiro texto proposto, Fábulas “O leão e o ratinho” de Esopo, (Do livro:

Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas). Nesse momento, o professor

ativa o conhecimento prévio dos alunos, comentando que, o gênero fábulas é um

gênero do tipo narrativo criado para crianças, mas por conterem sabedorias e

virtudes cativam leitores de todas as idades. Essas histórias centralizam-se na

transmissão de um ensinamento, uma lição de vida ou de uma verdade de cunho

geral.

O gênero fábulas tem uma função social de formar juízos, representados

por animais numa ingenuidade que vivenciam situações humanas. Dessa forma o

leitor deverá apreender que assim como a solidariedade está presente no

convívio dos animais, a mesma é essencial entre as pessoas.

O ato da leitura deverá acontecer em dois momentos: com a informação

visual ( informação proveniente do texto ) e a informação não visual ( conjunto de

conhecimento do leitor ). A leitura depende mais do não visual, do que da

informação escrita no texto para construir significados. Ler é integrar a informação

da página impressa às informações que o leitor traz para o texto. Isto implica

reconhecer que o significado não está nem no texto nem na mente do leitor, o

significado está na interação entre leitor e texto.

Antes da leitura do texto, o professor a propósito de familiarizar os alunos

com a forma e a linguagem do gênero fábulas, deve criar situações para ampliar

o repertório dos alunos , partindo da exploração do título e das personagens,

numa visão critica social, deve suscitar uma discussão com os alunos sobre a

relação de força entre o leão e o ratinho, fazendo uma comparação entre os

humanos.

1- A partir do título do texto, é possível fazer uma hipótese da moral da

história? O fato de o personagem ratinho estar no diminutivo, dá-nos a

ideia de ser frágil? Explicar a resposta. Que outro título poderíamos

sugerir para dar uma ideia de igualdade, de valor, entre o ratinho e o

leão?

Fazer a seleção das informações relevantes para a compreensão do texto,

prestando mais atenção nos aspectos que implicam no saber do leitor e sua visão

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de mundo. Nesse momento, o educando antecipa as informações com base nas

pistas que vai percebendo no texto. No decorrer da leitura percebe-se a

materialização da predição ou não.

1- O texto a seguir sugere que na vida todos nós dependemos um do outro

para sobrevivermos. Uma pessoa de grandes posses pode imaginar

que sendo poderoso e independente precisa da solidariedade de um

humilde, de pequenos poderes e posse, para sobreviver? Por que será

que o leão liberou o ratinho?

O LEÃO E O RATINHO

Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra boa de uma

árvore.

Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.

Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu debaixo da pata.

Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse

embora.

Algum dia depois o leão ficou preso na rede de uns caçadores.

Não conseguindo se soltar, fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva.

Nisso apareceu o ratinho, e com seus dentes afiados roeu as cordas e soltou o leão.

( Do livro: Fábulas de Esopo – Companhia das Letrinhas)

ATIVIDADES:

Dividir a turma em pequenos grupos, entregar a cópia da fábula impressa,

uma cópia para cada aluno; todos fazem uma leitura silenciosa. Um aluno de um

dos grupos faz a leitura em voz alta, e, os demais alunos acompanham

silenciosamente.

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Nesse momento, as leituras devem ser feitas numa perspectiva

descendente, do leitor ao texto, atribuindo significados conforme conhecimentos

prévios, que a leitura é importante atividade de ascensão social, uma forma de

tornar-se pessoas melhores, mais humanas e cidadãs. O professor, por sua vez,

cria situações que propiciam algumas inferências, que devem ser apresentadas

pelos alunos, mostrando o valor de cada um na convivência social ou lição de

vida.

Perguntar aos alunos se quando percebem alguma necessidade, prestam

ajuda sem ser solicitada. Se após ter lido o texto, as hipóteses que levantou antes

de sua leitura foram confirmadas; a que conclusão chegou sobre a moral da

história. Em seguida, esclarecer possíveis dúvidas sobre o texto que está sendo

lido, reconhecendo informações que facilitem a compreensão, a partir do texto,

leitor-texto-autor.

A partir daí, o professor conduz questões que podem ser feitas oralmente

a cada grupo:

a) O ratinho vendo o leão preso na rede resolveu soltá-lo, sem medo de

ser devorado. Qual é a sua explicação sobre esta atitude do ratinho?

b) No seu dia a dia você age como o leão ou como o ratinho?

c) Mesmo sendo mais fraco fisicamente teria coragem de ajudar?

d) A solidariedade é importante para nosso cotidiano?

e) Em nossa sociedade é mais fácil encontrar pessoas como o ratinho ou

como o leão?

f) A fábula fez você lembrar de alguém que se enquadra nas

características descritas de cada personagem? Determine quais

personagens e quais características mais lhe chamaram a sua atenção?

E nesse diálogo, buscar situações de vida parecidas ou opostas às

explícitas na fábula; aceitar ou rejeitar as idéias defendidas. Assim, além de

torná-las mais dinâmicas com a inserção de diálogos, a fábula ganha verdade que

se revela nas atitudes das personagens.

Antunes (2003) deixa claro, que os sinais, palavras e outros, que estão na

superfície do texto são elementos importantes para compreensão, não são os

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únicos. A constituição do saber prévio do leitor é que completam a reconstrução

de sentidos pretendidos pelo texto.

Após a leitura, propor reflexões comparativas e contextualizadas, que

sensibilizem os alunos elaborarem elementos não verbais como (gestos,

expressões corporais, entonação de voz), importantes elementos da

compreensão de textos orais. Neste sentido, a interação entre ouvintes e leitores

ampliam a capacidade de reconhecer as intenções do enunciador. Destacar,

também, a compreensão de gêneros, suas marcas de sentidos e construção de

personagens, além do emparelhamento da língua falada e da língua escrita. Não

há enunciador sozinho. Na voz do leitor há vozes sociais que expressam seus

conhecimentos, fazendo com que consiga compreender todas informações

propostas pelo texto, Marcuschi (2008).

A proposta agora é uma leitura audiovisual, uma outra fábula de Esopo,

para melhor compreender como é formado o discurso por outro suporte.

Disponível em: < http://www.youtube.com/watch> “A cigarra e a formiga”.

Esta fábula como a anterior nos sugere normas de condutas

exemplificadas por animais que falam, tem sabedoria, são maus ou bons como

são os seres humanos de todos os tempos. É um gênero que é apreciado desde

a antiguidade cinco séculos antes de Cristo, passado de boca em boca, até a

escrita. E, hoje, temos a história na versão imagética para uma releitura de

significados apropriados para nossos dias.

Utilizando o recurso da TV/Multimídia e dando uma amplitude de leitura

social ao gênero, o professor comenta oralmente aos alunos os diferentes

suportes dos gêneros na contribuição para atribuição de significados. Comparar

em seguida a leitura da escrita e a leitura imagética, e caracterizar as falas das

personagens para compreensão na escrita e na imagem (audiovisual).

Para dinamizar a compreensão, utilizar a atividade “Debate regrado

público”, momento em que os alunos apresentam seu ponto de vista, argumentam

para defender suas idéias e contra-argumentam diante da posição apresentadas

pelos colegas. Cada um em seu momento, organizado pelo professor. Sempre na

proposta da tríade leitor-texto-autor, integrando as práticas discursivas, visando a

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interpretação, o posicionamento do leitor e uma visão crítica da mensagem

transmitida.

1- A fábula mostra que todo trabalho tem o seu valor. Podemos valorizar o

canto da cigarra na mesma proporção de trabalho da formiga? Será que

a cigarra não considerava seu canto um trabalho, ou faltava projeto e

organização?

2- Sendo considerado o canto da cigarra um trabalho, por que precisava

da solidariedade da formiga para a sua sobrevivência?

3- Temos na vida real (humana) algumas atividades que não são

consideradas trabalho (profissão remunerada), enumere algumas...

4- Sabemos que toda fábula nos traz uma moral. Qual a moral explícita

nesta fábula?

Definindo as Fábulas

O professor solicita aos alunos que apontem características comuns às

duas fábulas: a primeira escrita, a segunda audiovisual. Fazer perguntas que

ilustram a moral de cada fábula.

Rediscutir com os alunos a forma e a linguagem do gênero fábulas. E, a

partir do diálogo debater em grupos aqueles valores propostos em cada fábula,

que na opinião de cada grupo, são em geral, aceitos pela sociedade

contemporânea, e valores que são condenados. Que ensinamentos são esses e

quem os transmitem?

Para aplicação da leitura, pedir para os alunos escreverem uma carta para

um colega ou um familiar, aconselhando a leitura dessas duas fábulas e,

apresentar-lhes as razões da recomendação.

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3º MOMENTO: LEITURA DO GÊNERO “CHARGES”

Este trabalho de leitura parte do vários gêneros discursivos para uma

relação intertextual, adotando conceitos básicos propostos por Bakhtin (1986), um

estudioso das relações intertextuais. A intertextualidade é um recurso produtivo

em sala de aula para ampliar a capacidade compreensiva dos alunos trazidas à

tona pelo gênero charge, um gênero de abordagem, geralmente polêmico.

Na visão de Bakhtin, as charges, na sua construção interna, podem levar o

leitor a solidificar sua posição, através de marcas deixadas pelo autor e chegar a

sua concepção de idéias e formulação de conceitos que estão marcados pela

imagem numa linguagem silenciada no interior do texto, mas que o leitor pode

contextualizar de acordo com seu histórioco-social. Pois elas estão presentes no

nosso cotidiano em jornais, revistas, outdoors, sempre abordando temas

polêmicos numa provocação humorística, e assim dando mais prazer de leituras.

ATIVIDADE DE ANÁLISE:

Nessas charges, faremos uma contextualização social em um debate em

grupos na sala de aula. Faremos uma leitura provocando os grupos e dando

subsídios de competência argumentativa a partir das relações lógico-discursivas e

críticas sobre a saúde pública brasileira em nossos dias.

1- A saúde pública no Brasil é inadequada e de baixa qualidade para

atender a população necessitada. Muitas vezes, vimos relatos e

imagens midiáticas que nos revoltam.

a) Quantas vezes você já ficou indignado com a falta de estrutura física e

humanas para atender as pessoas? Quem tem um plano de saúde tem

o mesmo problema de atendimento?

b) O Brasil gasta mal os recursos da saúde, ou o atendimento péssimo é

por falta de recursos? Alguém, aqui, sabe qual é o motivo pelo qual a

saúde pública é tão caótica em nosso País?

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Após o debate oral, propor atividades escritas por um aluno do grupo, e em

seguida, eleger um aluno por vez ler em voz alta suas respostas sobre os

questionamentos propostos.

Bakhtin considera como realidade fundamental a interação verbal,

realizada através da enunciação. Ele propõe o dialogismo, não como um conceito,

mas como o reflexo de sua visão de mundo.

Charge – 1: WWW. Biblioteca de domínio público.gov. br

A proposta é trabalhar essa charge a partir do seguinte recorte temático:

Segundo o artigo 196 da Constituição, a saúde é direito de todos e dever do Estado, devendo ser garantida mediante polítcas públicas. Tal reponsabailidade permite ao Estado intervir no comportamento individual e coletivo com ações prevntivas, que podem gerar conflitos.

a) Atente para as expressões fisionômica das personagens: argumente de

modo a justificar seu ponto de vista sobre os desafios e tensões ao

convívio com o tratamento de uma doença grave pelo sistema público

de saúde.

b) Qual é o procedimento do médico em relação ao paciente?

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c) O que podemos ver de oposição nestas imagens? Comentar:

d) Quais os aspectos observados para chegar a essa interpretação?

Charge – 2: WWW. biblioteca de domínio público.gov.br

a) O que muda na interpretação da charge 1 para a charge 2?

b) Observe as mudanças ao tratamento pelo plano de saúde e o tratamento

dado pelo SUS: Comente

c) Há elementos verbais e visuais que auxiliam na transmissão de ideias

entre a charge 1 e charge 2?

d) A leitura de uma charge requer percepção concomitante de duas

máscaras, a da seriedade/autoridade e a da ridicularização, geralmente

sobre atualidade sócio-político-econômica. Em qual máscara podemos

enquadrar cada charge apresentada?

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4º MOMENTO: LEITURA DO GÊNERO “CRÔNICAS”

Crônica é um gênero produzido, geralmente, para ser veiculado na

imprensa, seja nas páginas dos jornais, revistas, ela é feita com uma finalidade

pré-determinada, dentro de um espaço, uma familiaridade que, o escritor procura

agradar o leitor.

A crônica, na maioria das vezes, é narrada em primeira pessoa, o cronista

procura sempre dialogar com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma

visão pessoal de um assunto exposto de maneira que o leitor compreenda os

acontecimentos que o cercam. Geralmente, é escrita em uma linguagem simples,

situada entre a linguagem oral e a escrita.

Ela teve sua origem no início da era cristã com relatos de ordem

cronológica. Era, portanto, um breve registro de eventos. Só no século XIX, a

crônica passou fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799,

publicado em Paris, no Jornal de Débats.

Para o leitor se identificar com o cronista e, se tornar seu porta-voz,

podemos destacar cinco pontos tipológicos:

a) Narração histórica;

b) Seção ou artigo sobre literatura, assuntos científicos ou periódicos;

c) Conto baseado no cotidiano;

d) Normalmente possui crítica indireta;

e) Muitas vezes de tom humorístico.

ATIVIDADE DE ANÁLISE E COMPREENSÃO

Nessa atividade vamos explorar mais a oralidade, por apresentar dimensão

interacional pretendida pela prática de leitura do projeto de intervenção. Para isso,

Marcuschi (1983) propõe a observar aspectos de ação e de interação social, com

a especificidade de outros conhecimentos, que devem ter abordagem de dados

reais, no contexto natural do acontecimento.

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Dessa forma, deve-se ensinar aos alunos a atividade de interação: quem

fala primeiro, quem pode falar, que pode falar, interpretar. Isso é uma atitude que

deve ser debatida e ensinada; saber ouvir o outro, pois, não há interação se não

houver ouvinte.

Após este comentário, o professor organiza os alunos em grupos de 2 a 4 e

, através da TV pen-drive, apresentar a crônica para leitura.

Vamos trabalhar o texto “Recado ao senhor 903” de Rubem Braga,

proporcionando uma compreensão e reflexão crítica do cotidiano da cidade

grande, um apartamento em que seus moradores são identificados por números

e não por nomes. As personagens são pessoas comuns sem um

aprofundamento psicológico.

Para haver mais interação, fazer uma leitura silenciosa, um momento para

os alunos formar conceitos sobre o texto. Em seguida discutir o texto lido,

questionando os alunos a fazer inferências a outros textos e a vida cotidiana.

Recado ao senhor 903

Vizinho –

Quem fala é o homem de 1003, Recebi outro dia, consternado, a visita do

zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em

meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-

noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com

tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o

fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a polícia. Quem trabalha o dia

inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há

vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando

o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu,

ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas

de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo

Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 –

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que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu

e o Oceano fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois

apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua.

Prometo adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de

manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa, perdão; ao meu número,

será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22

às 7, pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de

outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda

numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não

incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus

algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.

... Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em

que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da

manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou”. E o outro respondesse: “Entra,

vizinho e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e

cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e

amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas

e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os

humanos, e o amor e a paz.

(Rubem Braga - “Para gostar de ler”, São Paulo: Àtica, 1991)

Nesse momento, um aluno de cada grupo expõe suas ideias subjacentes

ao texto diante do grupo, ressaltando seu conhecimento social a definição de um

contexto. Em seguida o professor instiga aos alunos com alguns

questionamentos e inferências: dizer que o narrador faz uma crítica a

desumanização na cidade grande.

- O quê nos leva a confirmar essa crítica?

- Qual é o sonho do morador do 903?

- Por que as personagens são apresentadas por números e não pelos

nomes, ou por nomes comuns?

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- Por que o narrador ironiza os motivos das reclamações do vizinho?

No penúltimo parágrafo temos uma expressão que podemos fazer

inferência com uma passagem bíblica. Reconheça esta expressão.

Passamos agora para uma crônica de Fernando Sabino “O gato sou eu” .

Crônica essa, que possibilita a discussão sobre a posição de um psicanalista que

impõe suas impressões sobre o sonho de uma paciente que, em uma sessão de

análise, conta um sonho que a perturbou enquanto dormia.

Nesse momento, o professor distribui a copia do texto aos alunos e, propõe

uma leitura silenciosa. Em seguida sugere uma discussão sobre o tema:

O gato sou eu

- Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo.

- Continuou dormindo.

- Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e

ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando.

- Que espécie de gato?

- Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só

sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato.

- A que você associa essa imagem?

Não era uma imagem: era um gato.

- Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza

uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você

associa ela?

- Associo a um gato.

- Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no

caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial.

Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo.

Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na

cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira... Evidentemente

esse gato sou eu.

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- Essa não, doutor. A ser alguém, neste caso o gato sou eu.

- Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está

certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma

projeção do eu.

- Uma projeção do senhor?

- Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.

- Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça

ainda mais?

Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.

- Eu sei: eu sou eu, você é você. Nem eu iria pôr em dúvida uma coisa

dessas, mais do que evidente. Não é isso que eu estou dizendo. Quando falo no

eu, não estou falando em mim, por favor, entenda.

- Em quem o senhor está falando?

- Estou falando na individualidade do ser, que se projeta em símbolos

oníricos. Dos quais o gato do seu sonho é um perfeito exemplo. E o papel que

você atribui ao gato, de fiscalizá-lo o tempo todo, sem tirar os olhos de você, é o

mesmo que atribui a mim. Por isso é que eu digo que o gato sou eu.

- Absolutamente. O senhor vai me desculpar, doutor, mas o gato sou eu, e

disto não abro mão.

- Vamos analisar essa sua resistência em admitir que eu seja o gato.

- Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal

de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?

- Seu. Quanto a isto, não há a menor dúvida.

- Pois então? Sendo assim, não há também a menor dúvida de que o gato

sou eu, não é mesmo?

- Aí é que você se engana. O gato é você na sua opinião. E sua opinião é

suspeita, porque formulada pelo consciente. Ao passo que, no subconsciente, o

gato sou eu.

- E eu insisto em dizer: não é.

- Sou.

- Não é. O senhor por favor saia do meu gato, que senão eu não volto mais

aqui.

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- Observe com o inconscientemente você está rejeitando minha

interferência na sua vida através de uma chantagem...

- Que é que há, doutor? Está me chamando de chantagista?

- É um modo de dizer. Não vai nisso nenhuma ofensa. Quero me referir à

sua recusa de que eu participe de sua vida, mesmo num sonho, na forma de um

gato.

- Pois se o gato sou eu! Daqui a pouco o senhor vai querer cobrar consulta

até dentro do meu sonho.

- Olhe aí, não estou dizendo? Olhe a sua reação: isso é a sua maneira de

me agredir. Não posso cobrar consulta dentro do seu sonho enquanto eu assumir

nele a forma de um gato.

- Já disse que o gato sou eu!

- Sou eu!

- Ponha-se para fora daqui!

- Sou eu!

- Eu!

- Eu! Eu!

- Eu! Eu! Eu!

1- A crônica apresenta um número reduzido de personagens, apenas a

paciente e o doutor. Quais marcas que a crônica nos oferece, que

podemos dizer que o gato é a paciente e, qual marca nos dá condições

de afirmar que o gato é o doutor? Afinal, quem é o gato?

2- Quais as pistas indicadas pelo texto que nos dá condições de afirmar a

especialidade do doutor?

3- O doutor, atencioso em sua análise, questiona insistentemente ser ele,

o gato. Cientificamente, a figura do gato pode provar o pavor da

paciente ao tratamento? Comente de acordo com seu conhecimento

prévio e visão de mundo.

4- Qual é a sua leitura sobre a individualidade do ser (marcada no texto

pelo narrador)?

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ATIVIDADES CONCLUSIVAS

Os gêneros textuais propostos foram abordados numa perspectiva

interacionista, em sala de aula, levando em conta o conhecimento prévio

dos educandos, a partir de três gêneros circundantes e, de maior

preferência.

Para que os alunos expressem o seu aprendizado e, o seu saber

sobre os gêneros, tópicos e tipos textuais estudados, vamos fazer ponte e

inferências, garantindo a compreensão dos textos trabalhados.

Agora, individualmente, ou em grupos de até 4 alunos, escolher

democraticamente um texto que possa confirmar ou descartar as predições

e inferências, de cada gênero estudado, garantindo uma compreensão dos

mesmos.

O aluno, ou o grupo, defende o ponto de vista numa convivência

democrática que supõe, após a leitura: o falar e o ouvir, o aderir ou recusar

as posições ideológicas sustentadas pelos textos

Cada aluno ou grupo faz a leitura e prepara suas exposições, em

sala de aula, as quais poderão ser apresentadas oralmente, escrita ou

imagética, através da TV pen-drive, neste caso, preparará no laboratório

de informática e, depois apresenta à sala. Sempre orientado pelo

professor, adequando às situações formais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo a leitura um dos quesitos fundamentais da atividade pedagógica,

que constitui importante instrumento para aquisição de saberes, pois por meio

dela, tem-se acesso aos meios escritos, imagens que elabora compreensões

lúdica do aprendizado. O estímulo ocorre sob signo da criatividade, para

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responder às exigências de aperfeiçoamento pessoal e assim suprimir a influência

uniformizadora do ensino tradicional.

A leitura dos gêneros textuais propostos foram abordados numa

perspectiva teórica interacionista, dando liberdade aos alunos na escolha de suas

leituras como instrumento de ligação ao estudo de qualquer natureza.

Este Material Didático teve como objetivo auxiliar educador e educando nas

atividades de leituras de textos de gêneros circundantes nas diversas práticas

sociais, e assim, proporcionar a aprendizagem e inserir-se na realidade social e

cultural, além de apropriar-se de informações que aumentam o conhecimento do

mundo que o cerca, resgatando nas suas relações, novos valores.

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