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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
SUSPENSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS POR
INADIMPLÊNCIA
Por: CASSIA REGINA MARQUES ROSA
Orientador
Prof. WILLIAM LIMA ROCHA
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
SUSPENSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS POR
INADIMPLÊNCIA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
em Direito nas Relações de Consumo.
Por: . Cassia Regina Marques Rosa
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AGRADECIMENTOS
Á minha família e comadre pelo
constante incentivo, aos colegas de
trabalhos e clientes por sempre me
apresentarem situações profissionais
diferentes do já conhecido e me
incentivarem a buscar suas soluções
sem desanimar.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Deus e à minha
família, pois é através deles que obtenho
a serenidade necessária para continuar a
minha luta sem desistir da batalha. Ao
meu professor orientador William, que
também foi meu professor durante o curso
e que com sua postura deu o melhor de si
e me ensinou que o melhor profissional é
aquele que procura dar o melhor de si
independente do cliente ou tipo de ação
em que vá atuar. Ao professor Stephano,
que me fez gostar ainda mais da linda
profissão que escolhi.
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RESUMO
A maior parte da sociedade desconhece que o Estado delega seus
poderes a entes particulares para realizarem serviços públicos essenciais, o
que é serviço público essencial e quais sejam.
O motivo da escolha do tema deste trabalho é tentar levantar o véu da
ignorância e fazer desabrochar todo o interesse e conhecimento que possa
advir desse processo.
O objetivo geral é mostrar a ilegalidade dos atos praticados de forma
abusiva pelo estado e seus delegados perante a sociedade.
Se por um lado o serviço não pode ser fornecido gratuitamente, por
outro o usuário também não pode ficar sem o serviço e ser punido com a
suspensão do mesmo.
É necessário que se compreenda que pra tudo existe uma norma, uma
lei a ser cumprida, respeitando os critérios legais. E que não só o usuário dos
serviços públicos tem direitos e deveres, como o próprio Estado e seus
delegatários.
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METODOLOGIA
Este trabalho buscará apoio básico em pesquisas na internet e livros na
área do Direito.
Quanto aos livros utilizados como referências bibliográficas, pode-se
citar_Direito Administrativo Brasileiro de Hely Lopes Meirelles, Manual de
Direito Administrativo de José dos Santos Carvalho Filho, Curso de Direito
Administrativo de Celso Antonio Bandeira de Mello, Curso de Direito
Administrativo de Maria Sylvia Zanella di Pietro, entre outros, que auxiliarão no
desenvolvimento e entendimento do assunto.
A consulta se estenderá à internet.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08 Capítulo 1 – OS SERVIÇOS PÚBLICOS 1.1 – Da Definição 08 1.2 – Dos Princípios 12 1.3 – Da Classificação 13 1.4 – Da Concessão e Permissão 14 1.4.1 – Da Diferença Entre Concessão e Permissão 15 Capítulo 2 – A IMPORTÂNCIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS 2.1 – Das Agências Reguladoras 17 2.2 – Das Formas de Atuação Estatal 18 2.3 – Da Prestação de Serviços Públicos Essenciais 19 2.4 – Da Competência 20 2.4.1 – Da Competência da União 21 2.4.2 – Da Competência do Estado 24 2.4.3 – Da Competência do Município 24 2.4.4 – Da Competência do Distrito Federal 25 Capítulo 3 – A RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE AS PARTES 3.1 – Da Inadimplência dos Usuários e da Suspensão da Prestação do Serviço Público 27 3.2 – Dos Direitos dos Usuários 29 3.3 – Da Greve nos Serviços públicos Essenciais 31 3.4 – Da Responsabilidade Civil Pelos Danos causados no Fornecimento dos Serviços Públicos 32 3.5 – Da Remuneração 35 3.6 – Da Antinomia Entre o CDC e Outras Normas Jurídicas 37 CONCLUSÃO 40 BIBLIOGRAFIA 42 WEBGRAFIA 43 ÍNDICE 46 FOLHA DE AVALIAÇÃO 48
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INTRODUÇÃO
Este trabalho enfoca a suspensão de serviços públicos por
inadimplência do usuário, baseando-se nos princípios do serviço público e nas
necessidades da pessoa como ser humano, ditados no Código de Defesa do
Consumidor e demais normas jurídicas.
É realizado um ligeiro estudo a cerca dos serviços públicos, por ser
fator decisivo no desenvolvimento da população no sentido de que a dignidade
humana é fator primordial para a sua sobrevivência. A população não pode ser
exposta à situações vexatórias por quem tem o dever e o poder de protegê-la.
A proteção dos usuários é feita no sentido de assegurar que os
serviços públicos sejam prestados de forma contínua e adequada.
O Poder Público e seus delegados não podem agir arbitrariamente
contra a sociedade simplesmente por serem os detentores e fornecedores dos
serviços públicos, pois independente de estarem inadimplentes para com o
Estado têm o direito de se defenderem e expor seus argumentos face a
situação provocada.
O motivo do presente estudo deve-se à ilegalidade da suspensão dos
serviços públicos, que tem como fundamento ser serviço indispensável ao
desenvolvimento da sociedade.
Quando a Administração age como contratante deve respeitar as
normas contratuais, sob pena de subverter o ordenamento, que deve nortear
os contratos administrativos.
Os usuários devem ficar constantemente atentos aos seus direitos,
mesmo que acreditem estar do lado errado do fato ocorrido. Antes de tudo
deve prevalecer o princípio da harmonia entre as partes.
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CAPÍTULO I
SERVIÇOS PÚBLICOS
1.1 – DA DEFINIÇÃO
Nos dias atuais, devido a sua evolução ao longo do tempo, serviço
público tem o conceito básico bastante amplo.
O senso comum tem noção de serviço público como sendo toda
atividade desenvolvida pelo Estado em prol da sociedade ou, autorizada por
este para que um particular preste o serviço em nome do Estado,
representando assim o próprio Estado.
A teoria mais conhecida é a de Duguit, que preconiza que os serviços
públicos constituem a própria essência do Estado, daí dizer que o serviço
público está para o Estado assim como a atividade econômica está para a
empresa privada.
O serviço público tem dois aspectos fundamentais, o objetivo, no qual o
serviço público é a atividade em si, prestada pelo Estado e seus agentes, e o
subjetivo, que leva em conta os órgãos delegados pelo Estado.
Diante das várias definições para serviços públicos, pode-se dizer que
serviço público é aquele serviço prestado pela Administração Pública à
sociedade por ser essencial à sobrevivência humana. A seguir algumas
definições de determinados autores sobre o conceito de serviço público.
Para Hely Lopes Meireles serviço público “é todo aquele que é
prestado pela Administração ou seus delegados sob normas e controles
estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da
coletividade ou simples conveniência do Estado.”
Para Cretella Júnior serviço público “é toda atividade que o Estado
exerce, direta ou indiretamente, para satisfação das necessidades públicas
mediante procedimento típico do Direito Público.”
Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto serviço público” é uma
atividade de administração que tem por fim assegurar, de modo permanente,
contínuo e geral, a satisfação de necessidades essenciais ou secundárias da
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sociedade, assim por Lei considerados, e sob as condições impostas
unilateralmente pela própria administração.”
Para Celso Antônio Bandeira de Mello serviço público “é toda a
atividade de oferecimento de utilidade ou de comodidade material fruível
diretamente pelos administradores, prestado pelo Estado ou por quem lhe faça
às vezes, sob um regime de Direito Público, portanto consagrado de
supremacia e de restrições especiais instituído pelo Estado em favor dos
interesses que houver definido como próprio no sistema normativo.”
Para Maria Sylvia Zanella di Pietro serviço público “é toda atividade
material que a Lei atribui ao Estado para que exerça diretamente ou por meio
de seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às
necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou parcial público.”
Muito se discute a cerca do conceito de serviço público, mas pouco se
sabe sobre quais são os serviços públicos essenciais, estando estes elencados
no artigo 10 da Lei 7.783/89, em virtude de ausência de legislação que os
regule e determine.
Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:
I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;
II - assistência médica e hospitalar;
III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
IV - funerários;
V - transporte coletivo;
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;
VII - telecomunicações;
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X - controle de tráfego aéreo;
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XI - compensação bancária.
EMENTA: SUSPENSÃO DE LIMINAR. ILUMINAÇÃO PÚBLICA. CORTE. A iluminação pública é indispensável à segurança dos cidadãos; a inadimplência do Município quanto ao pagamento do respectivo serviço não justifica o corte do fornecimento da energia elétrica necessária para esse efeito. Agravo regimental não provido.
(AgRg na SLS 1.048/CE, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/10/2009, DJe 05/11/2009).
ADMINISTRATIVO – SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA DO MUNICÍPIO – FALTA DE PAGAMENTO.
1. É lícita a interrupção do fornecimento de energia elétrica se, após aviso prévio, o Município não quita sua dívida junto à concessionária de serviço público. Contudo, o corte não pode ocorrer de maneira indiscriminada, de forma a colocar em risco o interesse público.
2. Impossibilidade do corte para a sede da prefeitura, o posto de saúde e o cemitério público do Município.
3. Recurso especial não-provido.
(REsp 734.440/RN, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2008, DJe 22/08/2008).
0015269-67.2006.8.19.001 (2008.001.64760) - APELACAO - EMENTA
DES. ISMENIO PEREIRA DE CASTRO - Julgamento: 14/01/2009 - DECIMA QUARTA CAMARA CIVEL
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE
COBRANÇA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. CEDAE. SUSPENSÃO
DO FORNECIMENTO DE ÁGUA. POSSIBILIDADE. INADIMPLÊNCIA
CONFESSADA DO AUTOR. COMUNICAÇÃO REALIZADA NA
PRÓPRIA FATURA.Relação de consumo regida pela Lei n° 8.080/90,
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protetiva dos direitos do consumidor, já que as partes se enquadram
perfeitamente nas definições de consumidor e fornecedor, insculpidas
nos artigos 2° e 3°, do CDC. Interpretação teleológica do artigo 22 da
mencionada lei, da qual se infere sua aplicabilidade aos órgãos
públicos, às concessionárias e às permissionárias de serviço
público.Existe a possibilidade de interrupção da prestação do serviço
existindo débito e com o devido aviso da prestadora. Hipótese em que
o autor que confessou expressamente estar inadimplente, somente
efetuando o pagamento quase 01 (um) mês após o corte.
Concessionária que comprovou a notificação prévia prevista na
legislação. Inteligência da Súmula n° 83 deste Tribunal de Justiça.Por
outro lado, a alegação da ré de impossibilidade de cancelamento das
faturas no período questionado, durante os quais o serviço esteve
suspenso, ao argumento de a cobrança de tarifa mínima é legalmente
prevista, não pode ser acolhida, tendo em vista que nos contratos
bilaterais nenhum dos contratantes pode exigir o implemento
1.2 – DOS PRINCÍPIOS
– Princípio da Obrigatoriedade do Estado de Prestar o Serviço Público
– é um encargo inescusável que deve ser prestado pelo Poder Público de
forma direta ou indireta. A Administração Pública responderá pelo dano
causado em decorrência de sua omissão.
– Princípio da Supremacia do Interesse Público – os serviços devem
atender as necessidades da coletividade.
– Princípio da Adaptabilidade – o Estado deve adequar os serviços
públicos à modernização e atualização das necessidades dos administrados.
– Princípio da Universalidade – os serviços devem estar disponíveis a
todos.
– Princípio da Impessoalidade – não pode haver discriminação entre os
usuários.
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– Princípio da Continuidade – os serviços não devem ser suspensos ou
interrompidos afetando o direito dos usuários.
– Princípio da Transparência – trazer ao conhecimento público e geral
dos administrados a forma como o serviço foi prestado, os gastos e a
disponibilidade de atendimento.
– Princípio da Motivação – o Estado tem que fundamentar as decisões
referentes aos serviços públicos.
– Princípio da Modicidade das Tarifas – as tarifas devem ser cobradas
em valores que facilitem o acesso ao serviço posto a disposição do usuário.
– Princípio do Controle – deve haver um controle rígido e eficaz sobre a
correta prestação dos serviços públicos.
1.3 – DA CLASSIFICAÇÃO
A classificação dos serviços públicos varia conforme o critério
analisado.
– Serviços delegáveis e indelegáveis: delegáveis são aqueles que por
sua natureza, ou pelo fato de assim dispor o ordenamento jurídico, comportam
ser executados pelo Estado ou por particulares colaboradores; indelegáveis
são aqueles que só podem ser prestados pelo Estado diretamente, por seus
órgãos ou agentes.
– Serviços administrativos e de utilidade pública: administrativos são
aqueles que o Estado executa para compor melhor sua organização; os de
utilidade pública são os que se destinam diretamente aos indivíduos.
– Serviços coletivos (uti universi) e singulares (uti singuli): serviços
coletivos são serviços gerais, prestados pela Administração à sociedade como
um todo, sem destinatário determinado e são mantidos pelo pagamento de
impostos; serviços singulares são os individuais onde os usuários são
determinados e são remunerados pelo pagamento de taxa ou tarifa.
– Serviços sociais e econômicos: sociais são os que o Estado executa
para atender aos reclamos sociais básicos e representam ou uma atividade
propiciadora de comodidade relevante, ou serviços assistenciais e protetivos;
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econômicos são aqueles que por sua possibilidade de lucro, representam
atividades de caráter mais industrial ou comercial.
1.4 – DA CONCESSÃO E PERMISSÃO
A Constituição Federal de 88, incumbe ao Poder Público, conforme art.
175, a prestação de serviços públicos, diretamente por meio de seus agentes,
órgãos e pessoas jurídicas, componentes de sua estrutura, ou sob regime de
concessão ou permissão firmando vínculo com entidades privadas.
Concessão e permissão são instrumentos através dos quais se
descentraliza a prestação de serviços públicos para particulares. A diferença
entre elas está no grau de precariedade.
Concessão é uma forma de transferência de prestação de serviço
público formalizada por um contrato administrativo pelo qual o poder público,
após a licitação, delega ao particular a responsabilidade pela execução de um
serviço público, por sua conta e risco, com prazo certo e determinado.
O contrato de concessão é ajuste de Direito administrativo, bilateral,
oneroso, comutativo e intuito personae.
Permissão é ato administrativo unilateral, discricionário e precário,
através do qual a responsabilidade pela execução de um serviço público é
delegada ao setor privado, que tenha capacidade de desempenho por sua
conta e risco.
A Lei 8.987/95 dispõe sobre o regime de concessão e permissão da
prestação de serviço público previsto no art. 175 da Constituição Federal/88, e
dá outras providencias, inclusive conceituando-as.
0039230-36.2008.8.19.0205(2009.001.60926)– APELACAO - EMENTA
DES. CELIA MELIGA PESSOA - Julgamento: 09/12/2009 - DECIMA
OITAVA CAMARA CIVEL
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RESPONSABILIDADE CIVIL. MANUTENÇÃO DA SUSPENSÃO DO
SERVIÇO PÚBLICO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA
APÓS A QUITAÇÃO DAS FATURAS EM ATRASO. DANO MORAL IN
RE IPSA. O art. 37, § 6º da CRFB/88 estabelece a responsabilidade
objetiva das empresas concessionárias do serviço público, que pode
ser excluída por caso fortuito, força maior ou fato de terceiro, nos
termos da Teoria do Risco.Em que pese inexistir ilegalidade no corte
de energia, eis que precedido de aviso e motivado pela inadimplência
do consumidor, configura-se o dano moral in re ipsa a partir do
momento em que o apelado, mesmo tendo pago as faturas em atraso,
não teve o fornecimento de energia elétrica à sua residência
prontamente restabelecido. Necessidade de prova dos danos morais
alegados que se dispensa. Precedente do STJ. Verba indenizatória, no
montante de R$ 7.000,00, adequadamente fixada para compensar os
danos sofridos pelo consumidor, eis que privado indevidamente do
fornecimento de energia elétrica por mais de um mês. Quanto ao termo
a quo da correção monetária, deverá fluir da sentença quando nela
fixado o valor da indenização. Inteligência da súmula nº 97 do
TJRJAplicação do artigo 557, caput, do CPC, para NEGAR
SEGUIMENTO AO RECURSO.
1.4.1- DA DIFERENÇA ENTRE CONCESSÃO E
PERMISSÃO
• Na concessão a licitação deve ser feita na modalidade
concorrência, e na permissão a licitação pode ser feita conforme a modalidade
própria de cada caso.
• Na concessão é celebrado um contrato administrativo sem
peculiaridades próprias, e na permissão é celebrado um contrato de adesão de
natureza precária.
• Na concessão o cessionário é pessoa jurídica ou consórcio de
empresas, e na permissão o permissionário é pessoa física ou jurídica.
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• Na concessão o contrato tem prazo certo e longo, e na permissão
o contrato é feito à título precário.
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CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
ESSÊNCIAIS
2.1 – DAS AGÊNCIAS REGULADORAS
A Administração Pública é organizada hierarquicamente. As
competências são outorgadas ou delegadas aos vários órgãos que compõem a
organização administrativa ou a pessoas jurídicas diversas, para proporcionar
um desempenho mais adequado e satisfatório da máquina pública.
Com o intuito de alcançar maior liberdade econômica, a legislação
brasileira sofreu algumas mudanças, possibilitando maior desenvolvimento
econômico. Os monopólios estatais foram quebrados em diversos setores
econômicos, permitindo, assim, que a iniciativa privada explorasse
determinadas atividades econômicas.
Após a flexibilização dos monopólios estatais, o Estado deu início ao
programa de privatização, criando a Lei 8.031/90, depois substituída pela Lei
9.491/97, que instituiu o Programa Nacional de Privatização, cuja principal
finalidade era reorganizar a posição estratégica do Estado na atividade
econômica, delegando à iniciativa privada antes exploradas pelo setor público.
O Estado diminuiu a intervenção estatal na economia, mas não deixou
de exercer influência na atividade econômica, pois agora regula e fiscaliza as
atividades que antes eram de sua competência.
Assim, surge o princípio da descentralização do poder estatal, visando
facilitar a execução dos objetivos do Estado, para que o mesmo desempenhe
suas funções com eficiência técnica, jurídica e financeira, proporcionando aos
consumidores dos serviços públicos maior satisfação.
As agências reguladoras teriam surgido com a finalidade de,
representando o Estado, estipular regras adequadas para a prestação dos
serviços públicos, buscando um equilíbrio entre o Estado, usuário e
delegatários, cuja finalidade seria melhor regular a atividade econômica,
proteger o interesse coletivo e dinamizar a ação do Estado na economia.
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As agências reguladoras têm origem na Lei 9.472/97, que dá outras
providências.
Há vários conceitos para agência reguladora, mas ficaremos com a de
Celso Antônio Bandeira de Mello, que a conceitua como sendo “autarquias sob
regime especial ultimamente criadas com a finalidade de disciplinar e controlar
certas atividades.”
Para classificá-las, podem se distinguir pela esfera administrativa a que
estão vinculadas, federal, estadual ou municipal, como também pelo caráter
que possuem; constitucional ou legal.
Muito embora as agências reguladoras gozem de autonomia política,
estrutural e financeira, elas permanecem sujeitas ao crivo do Poder Júdiciário,
pois em respeito ao princípio da jurisdição uma, todo ente público ou privado
que se sentir lesionado em seu direito, ou tê-lo ameaçado poderá socorrer-se
ao judiciário, para que suas alegações e direitos sejam juridicamente
apreciados.
2.2 – DAS FORMAS DE ATUAÇÃO ESTATAL
A Constituição federal de 1988 nasceu com o intuito de prestar ao
cidadão as utilidades que o mesmo precisa para viver dignamente, de forma a
não depender apenas do mercado para prover suas necessidades. Por isso
atribui diversas competências ao Estado brasileiro, obrigando a Administração
Pública a desempenhar certas atividades que o Estado, por considerá-las
“atinentes a interesses integrados em sua esfera de ação própria”, retira do
comércio e da iniciativa particular e traz para si como uma competência, um
dever–poder.
Há duas formas básicas de atuação do Estado brasileiro: a prestação
de atividades que o sistema jurídico considera como públicas e são próprias do
Estado; como também aquelas atividades que são próprias dos particulares e
que o Estado só atua em casos excepcionais.
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2.3 – DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS
ESSENCIAIS
O serviço público por ser de necessidade da coletividade visa atender
às necessidades da mesma, não podendo ser interrompido, sendo
responsabilidade do Poder público, que pode delegar esses poderes.
A prestação de serviço público deve obedecer fielmente às
regulamentações e cláusulas contratuais, para plena satisfação dos usuários,
que são os legítimos destinatários, seguindo os princípios do serviço público.
A prestação dos serviços públicos ao ser transferida não garante a
qualidade do serviço.
Quando ocorre a transferência de poderes para particulares por falta de
recurso, gera um custo, que pode ser cobrado, por ser um direito de quem
recebe a transferência.
O serviço público por ser considerado indispensável à vida, à saúde e
segurança da sociedade, não deve ser descontínuo, simplesmente porque
existe o aspecto da urgência na necessidade da prestação.
A descontinuidade da prestação do serviço público essencial tem
gerado muitas discussões a partir do momento em que o usuário deixa de
pagar pelo serviço.
Ao interromper o serviço, muitas vezes ocorre o abuso pela parte que
repassa o mesmo, pois poderia ser evitado se fosse utilizado meios próprios
para solucionar o problema.
Se ocorre a descontinuidade do serviço público há de se falar em
culpa, tema bastante discutido juridicamente, não esquecendo de verificar a
responsabilidade pelos danos causados.
O princípio da continuidade sempre vai nortear o serviço público.
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) e a Lei 8.987/95, são
baseados no princípio da continuidade. Mesmo que ocorra o inadimplemento
por parte do usuário, a responsável pela prestação não pode usar a
descontinuidade do serviço público como método punitivo.
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Deve-se levar em conta se o montante devido é proporcional ao corte
do serviço, a situação econômica do usuário e se há intenção de pagamento
por parte do consumidor.
Entretanto, segundo as palavras de Clever “a apologia do “calote”,
deve ser repugnada, somente, cidadãos comprovadamente sem renda
disponível é que teriam direito ao mínimo de energia elétrica. Não poderia ser
diferente, caso contrário o consumidor enriqueceria ilicitamente às custas da
diminuição patrimonial da concessionária distribuidora.”
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. ENERGIA ELÉTRICA. CORTE NO FORNECIMENTO. CONSUMIDOR INADIMPLENTE.
POSSIBILIDADE. ESSENCIALIDADE DO SERVIÇO. NÃO-CARACTERIZAÇÃO.
1. A Jurisprudência assente deste Tribunal entende pela possibilidade de corte no fornecimento de energia elétrica desde que, após aviso prévio, o consumidor permaneça em situação de inadimplência com relação ao respectivo débito, nos termos do estatuído no art. 6º, § 3º, da Lei 8.987/95. Precedentes: Recursos especiais n. 363.943/MG e 963.990/SC.
2. In casu, o Tribunal de origem entendeu que a mera inadimplência do consumidor não constituía motivação suficiente a ensejar o corte no fornecimento de energia elétrica por resultar em ofensa ao princípio da continuidade do serviço. Tal posicionamento contraria a jurisprudência do STJ, haja vista que não foi comprovada a essencialidade do serviço prestado, nem tampouco ficou evidenciado tratar-se de débito pretérito, hipóteses essas que impedem a suspensão do serviço.
3. Recurso especial parcialmente conhecido, e, nessa parte, provido.
(REsp 800.586/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/09/2008, DJe 23/10/2008).
2.4 – DA COMPETÊNCIA
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É indispensável identificar a entidade federativa competente para
instituir, regulamentar e controlar os diversos serviços públicos, obedecendo os
critérios técnicos e jurídicos, tendo-se em vista sempre os interesses próprios
de cada esfera administrativa, a natureza e extensão dos serviços, bem como a
capacidade para executá-los vantajosamente para a Administração e para os
administrados.
Os serviços públicos só podem ser executados se houver uma
disciplina normativa que os regulamente, logo, que trace regras através das
quais se possa verificar como vão ser prestadas. Essa disciplina
regulamentadora, pode se formalizar através de leis, decretos e ou atos
regulamentares.
A regulamentação do serviço público cabe à entidade que tem
competência para prestá-lo.
Através da competência, a instituição tem o poder de regulamentar e
controlar a execução do serviço público, qualquer que seja a modalidade de
sua prestação aos usuários.
2.4.1 – DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO
A competência da União em relação aos serviços públicos abrange os
que lhe são privativos, elencados no art. 21 da C.F/88, e os que são comuns,
relacionados no art. 23 da C. F./88, que permitem atuação paralela dos
Estados e Municípios a seguir:
Art. 21. Compete à União:
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
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V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;
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XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
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IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
Quanto aos serviços comuns relacionados no art. 23, uma lei
complementar deverá fixar normas para a cooperação entre as três entidades
estatais, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em
âmbito nacional (§ Ú). Para alguns desses serviços, porém, como o de saúde,
a Constituição já determinou que sua prestação seja feita através de um
sistema único, envolvendo todas as entidades estatais (art. 198).
2.4.2 – DA COMPETÊNCIA DO ESTADO
A competência do Estado para a prestação de serviços públicos não
está discriminada constitucionalmente, daí sua competência por exclusão.
Pertencem ao Estado todos os serviços públicos não reservados à
União e nem ao Município pelo critério de interesse local.
A única exceção diz respeito à exploração e distribuição dos serviços
de gás canalizado, que afasta inclusive a competência do Município para sua
distribuição local (art. 25, §2º CF/88).
2.4.3 – DA COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO
A competência do Município para organizar e manter os serviços
públicos locais estão discriminados no art. 30 da CF/88. A única restrição é a
de que tais serviços sejam de seu interesse local, ou seja, são todos aqueles
25
serviços que se enquadrem na atividade social reconhecida no Município,
segundo o critério da predominância de seu interesse em relação às outras
entidades estatais. Salvo os elencados, inútil será qualquer tentativa de
enumeração exaustiva dos serviços locais, uma vez que a constante ampliação
das funções municipais exige, dia a dia, novos serviços.
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
2.4.4 – DA COMPETÊNCIA DO DISTRITO FEDERAL
Ao Distrito Federal incumbe as competências reservadas aos Estados
e Municípios, elencados no art. 32, § 1º da CF/88.
26
§ 1º - Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos
Estados e Municípios.
27
CAPÍTULO III
A RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE AS PARTES
3.1 – DA INADIMPLÊNCIA DO USUÁRIO E DA SUSPENSÃO DOS SERVIÇOS DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO
PÚBLICO
Diante da inadimplência no consumo de água e energia elétrica, parte
da jurisprudência inclinou-se inicialmente por admitir o “corte” em face do
caráter da essencialidade do bem em questão.
O direito à continuidade do serviço público, não significa que não possa
haver rompimento do fornecimento, mesmo quando há inadimplência do
usuário.
É evidente que deverá haver um comunicado antes do efetivo corte,
para até proteger a sua dignidade.
O Poder Público ou a concessionária não pode prestar um serviço
gratuitamente à população, por ser uma contraprestação.
Mesmo que o Poder Público delegue poderes jamais se despirá
totalmente dele, se sujeitando sempre ao regime jurídico de direito público, que
lhe garante várias prerrogativas. Não poderá por cima de normas contratuais
existentes, valendo-se de privilégios.
Na grande maioria das vezes é esquecido que a relação jurídica
existente envolve três entes, que é o Estado, as concessionárias e o usuário,
cada um com seus direitos e deveres bem definidos.
Deve haver uma proporcionalidade na consideração dos princípios do
serviço público, como critério para melhor harmonização na relação e interesse
das partes envolvidas, pois será levado em consideração o interesse da
sociedade.
O princípio da continuidade diz que os serviços públicos não devem ser
interrompidos, ter sua prestação contínua, a fim de evitar que a paralisação
provoque, como às vezes ocorre, colapso nas múltiplas atividades particulares.
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Em sua obra – Direito Administrativo, José dos Santos Carvalho Filho,
relata que a continuidade deve estimular o Estado ao aperfeiçoamento e à
extensão do serviço, recorrendo, quando necessário, às modernas tecnologias,
adequadas à adaptação d atividade às novas exigências sociais.
A despeito de algumas divergências, alguns estudiosos entendem que
se deva distinguir os serviços compulsórios e os facultativos. Sendo o serviço
facultativo, o Poder Público pode suspender a prestação no caso de não
pagamento. Tratando-se de serviço compulsório, não será permitida a
suspensão, e isso não somente porque o Estado o impôs coercitivamente,
como também porque, sendo remunerado por taxa, tem a Fazenda
mecanismos privilegiados para cobrança da dívida.
A suspensão do serviço só será admissível se for remunerado por
preço público, ainda que tenha natureza compulsória, estabelecida em lei.
Art. 42. CDC
Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Art. 22. CDC
Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
EMENTA: SUSPENSÃO INDEVIDA NO FORNECIMENTO DE
ENERGIA ELÉTRICA - RESPONSABILIDADE CIVIL - DANO MORAL -
PROCEDIMENTO CONSTRANGEDOR E INJUSTIFICADO -
29
RECURSO IMPROVIDO. I - Conforme provas nos autos, a suspensão
no fornecimento de energia elétrica ocorreu após o pagamento da
fatura em atraso, não justificando a alegação de que os valores não
foram repassados pela instituição financeira. II -o prestador de serviços
somente se exime da responsabilidade de reparar os danos causados
ao usuário, a teor do que dispõe o § 3º, do art. 14, do Código de
Defesa do Consumidor, quando provar que os mesmos foram
causados por culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, o que não
ocorreu no caso sub judice. (TJMT. 1ª TURMA RECURSAL.
RECURSO CÍVEL INOMINADO Nº 1802/2009. Relatora DRA. SERLY
MARCONDES ALVES. Data de Julgamento(03-06-2009)
CONSUMIDOR - ENERGIA ELÉTRICA - INTERRUPÇÃO DOS
SERVIÇOS - INADIMPLÊNCIA SUPERADA - DANO MORAL -
QUANTUM DEBEATUR - ADEQUAÇÃO - RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO - SENTENÇA MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. I - Se não mais inadimplente o consumidor,
configura dano moral a interrupção dos serviços que lhe são prestados.
II - Em se tratando de dano moral, o valor da indenização há de levar
em conta, não só a extensão do dano, mas também a capacidade
econômica das partes. (TJMT. 1ª TURMA RECURSAL. RECURSO
CÍVEL INOMINADO Nº 750/2010. Relatora DRA. SERLY
MARCONDES ALVES. Data de Julgamento (07-04-2010)
3.2 – DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS
O usuário, como destinatário do serviço público concedido, pode
recorrer de seus direitos em face da entidade prestadora por via judicial, com o
total apoio de nossos tribunais.
30
Um serviço público de utilidade cujo interesse seja da coletividade não
é suscetível de ser exigido por via judicial, ao contrário do serviço público
individual, que pode e deve ser exigido de forma judicial.
Um exemplo de serviço público de utilidade de interesse da
coletividade é a pavimentação de ruas e estradas, e de serviço público
individual é o de água, luz e telefone.
O Código de Defesa do Consumidor em seu art. 6º e 7º dispõe sobre
os direitos do consumidor.
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
A Lei 8897/95, que dispõe sobre a concessão e permissão da prestação de serviços públicos também prevê os direitos dos usuários.
Art. 7º. Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e obrigações dos usuários:
I - receber serviço adequado;
II - receber do poder concedente e da concessionária informações para a defesa de interesses individuais ou coletivos;
III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha, observadas as normas do poder concedente;
III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as normas do poder concedente.
IV - levar ao conhecimento do poder público e da concessionária as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao serviço prestado;
31
V - comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos praticados pela concessionária na prestação do serviço;
VI - contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através dos quais lhes são prestados os serviços.
Art. 7º-A. As concessionárias de serviços públicos, de direito público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são obrigadas a oferecer ao consumidor e ao usuário, dentro do mês de vencimento, o mínimo de seis datas opcionais para escolherem os dias de vencimento de seus débitos.
“A dignidade da pessoa humana é a qualidade intrínseca e distintiva de
cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por
parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de
deveres e direitos fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as
condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e
promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria
existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos” (Sarlet,
Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais, 2ª Ed., Ed. Livraria do
Advogado, Porto Alegre, 2002, p.62)
3.3 – DA GREVE NOS SERVIÇOS PÚBLICOS
ESSENCIAIS
Uma questão de grande relevância nos dias atuais é quanto à greve
nos serviços públicos essenciais, embora pouco debatido pela norma jurídica
brasileira. Embora seja uma questão que mereça ser debatida, a greve é um
direito do cidadão, assim como a continuidade do serviço público.
A Constituição Federal assegura em seu art. 9º, a não descontinuidade
dos serviços públicos essenciais durante a greve não considerada ilegal, já
elencados no art. 10 da Lei de greve, responsabilizando os sindicatos da
categoria e seus empregados por eventual prejuízo iminente à população.
Art. 9º CF/88
32
É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
3.4 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELOS DANOS
CAUSADOS NO FORNECIMENTO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
ESSENCIAIS
Quando se fala em responsabilidade devemos lembrar que há dois
tipos, ou seja, a responsabilidade civil das concessionárias frente à terceiros e
usuários, e a responsabilidade do Poder Público frente aos danos causados
pelas concessionárias.
Sob a égide da Constituição Federal, tornou-se inegável a consagração
definitiva e expressa da responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de
direito público, expandindo-se, inclusive, em consonância com construção
jurisprudencial que a precedeu, o dever de reparação para os entes privados
prestadores de serviço público.
Art. 37CF/88
A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte;
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
A responsabilidade objetiva do Estado foi estendida, portanto, às
pessoas de direito privado prestadoras de serviço público, sempre que o dano
for decorrente da prestação de serviço público; mas é imprescindível deixar
claro que o art. 37, §6º da CF/88 aplica-se tão somente aos danos causados a
33
terceiros, e não aos usuários, para os quais há regras específicas – CDC e a
própria Lei 8.987/95.
Artigos do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Art. 2º da Lei 8.987/95
Art. 2o Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:
I – (...)
II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder
concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou
consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua
conta e risco e por prazo determinado.
O Código Civil de 2002, em consonância com a norma constitucional
abandonou a orientação subjetivista contida no art. 15 da codificação anterior,
prevendo em seu art. 43 a responsabilidade objetiva das pessoas de direito
público: “art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente
responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a
34
terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se
houver, por parte destes, culpa ou dolo.”
Entretanto, o novo Código Civil já nasceu defasado, em relação à
norma constitucional, tendo em vista que não faz referência às pessoas
jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público, o que fora
considerado grande avanço da legislação por ocasião da promulgação da
Constituição Federal de 1988, e que, sem dúvida, deveria ter sido repetido no
diploma civil.
De qualquer forma, no dispositivo constitucional estão compreendidas
as duas regras: à da responsabilidade objetiva do Estado e das empresas
privadas prestadoras de serviço público e da responsabilidade subjetiva do
funcionário.
0335789-04.2008.8.19.0001 - APELACAO DES. ELTON LEME - Julgamento: 02/06/2010 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL APELAÇÃO CÍVEL. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. SUSPENSÃO DO SERVIÇO POR DÉBITOS ATUAIS. POSSIBILIDADE. MANUTENÇÃO DA SUSPENSÃO POR DÉBITOS DE OUTRA UNIDADE CONSUMIDORA. IMPOSSIBILIDADE. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. A responsabilidade civil da concessionária de serviços públicos é objetiva, dependendo apenas da demonstração do fato, do dano e do nexo de causalidade, não havendo que se cogitar do elemento culpa. 2. A possibilidade legal de suspender serviço essencial por inadimplência atual do consumidor tem a finalidade de salvaguardar a continuidade do serviço público em prol da coletividade. 3. Entretanto, as dívidas antigas não colocam em risco o sistema, razão pela qual não podem fundamentar a suspensão do fornecimento e muito menos a manutenção da suspensão. 4. Pela mesma razão, a interrupção do serviço não pode basear-se em débitos relativos a outra unidade consumidora. 5. Assim, a manutenção do corte de fornecimento de energia elétrica por dívida pretérita ou decorrente de outra unidade consumidora caracteriza abuso de direito e, pela ilicitude que encerra, sujeita o prestador do serviço à reparação dos danos daí advindos, que no caso foram adequadamente arbitrados. 6. Desprovimento do recurso.
35
SUSPENSÃO INDEVIDA NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA – REPONSABILIDADE CIVIL - DANO MORAL - PROCEDIMENTO CONSTRANGEDOR E INJUSTIFICADO - RECURSO IMPROVIDO. I - Conforme provas nos autos, a suspensão no fornecimento de energia elétrica ocorreu após o pagamento da fatura em atraso, não justificando a alegação de que os valores não foram repassados pela instituição financeira. II -o prestador de serviços somente se exime da responsabilidade de reparar os danos causados ao usuário, a teor do que dispõe o § 3º, do art. 14, do Código de Defesa do Consumidor, quando provar que os mesmos foram causados por culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, o que não ocorreu no caso sub judice. (TJMT. 1ª TURMA RECURSAL. RECURSO CÍVEL INOMINADO Nº 1802/2009. Relatora DRA. SERLY MARCONDES ALVES. Data de Julgamento 03-06-2009)
3.5 – DA REMUNERAÇÃO
A remuneração está relacionada à prestação do serviço público
delegado, que pode ser gratuito, levando em conta fatores singulares de
indivíduos ou da coletividade ou remunerado, ou remunerado, no qual existe a
contraprestação.
Este serviço deve ser remunerado através de tarifa, que se difere de
taxa, permitindo uma justa remuneração, melhoramento e expansão do serviço,
visando o equilíbrio econômico contratual.
Somente a concessionária tem a competência para estipular o valor da
tarifa e sua variação.
A Constituição prevê que a remuneração é devida ainda que o usuário
não utilize o serviço posto á sua disposição.
A doutrina de Helly Lopes Meirelles é clara "Dentre os preços, os mais
importantes são os públicos ou tarifas, cobrados pela utilização de bens ou
serviços públicos. As tarifas remuneratórias distinguem-se das taxas porque
não são compulsórias, mas cobradas somente dos usuários que os utilizem
efetivamente, se e quando entenderem fazê-lo, ao passo que as taxas são
devidas pelo contribuinte desde que o serviço, de utilização obrigatória, esteja
à sua disposição."
36
As tarifas são preços praticados pelo Estado através de empresas
públicas ou sociedades de economia mista ou empresas particulares, que
receberam delegação do Estado, através de contrato de concessão ou
permissão, para executar um serviço público. Este último tipo ganha maior
destaque no estudo das tarifas, visto que a maioria dos serviços públicos
essenciais é prestada por empresas privadas.
Art. 9o da Lei 8987/95
A tarifa do serviço público concedido será fixada pelo preço da
proposta vencedora da licitação e preservada pelas regras de revisão
previstas nesta Lei, no edital e no contrato.
§ 1o A tarifa não será subordinada à legislação específica anterior e
somente nos casos expressamente previstos em lei, sua cobrança
poderá ser condicionada à existência de serviço público alternativo e
gratuito para o usuário
§ 2o Os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio econômico-financeiro.
§ 3o Ressalvados os impostos sobre a renda, a criação, alteração ou extinção de quaisquer tributos ou encargos legais, após a apresentação da proposta, quando comprovado seu impacto, implicará a revisão da tarifa, para mais ou para menos, conforme o caso.
§ 4o Em havendo alteração unilateral do contrato que afete o seu inicial equilíbrio econômico-financeiro, o poder concedente deverá restabelecê-lo, concomitantemente à alteração.
Art. 10. Sempre que forem atendidas as condições do contrato, considera-se mantido seu equilíbrio econômico-financeiro.
Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá o poder concedente prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.
Parágrafo único. As fontes de receita previstas neste artigo serão obrigatoriamente consideradas para a aferição do inicial equilíbrio econômico-financeiro do contrato.
37
Art. 12.VETADO
Art. 13. As tarifas poderão ser diferenciadas em função das características técnicas e dos custos específicos provenientes do atendimento aos distintos segmentos de usuários
3.6 – DA ANTINOMIA ENTRE O CDC E DEMAIS NORMAS
JURÍDICAS
Antinomia deriva do grego anti(oposição) e nomos (norma) e significa a
oposição que ocorre entre duas ou mais normas (total ou parcialmente
contraditórias), emanadas de autoridade competente num mesmo âmbito
normativo, dificultando assim sua interpretação em um caso concreto.
A complexidade das relações humanas é causa do surgimento de
novas situações, nascendo daí novos fatos jurídicos a serem previstos pela
norma jurídica.
O sistema jurídico tenta mas não consegue acompanhar o compasso
da realidade cotidiana da sociedade, tendo desse modo, um caso concreto não
previsto no ordenamento jurídico.
O Código de Defesa do consumidor (CDC) trata dos mecanismos de
equilíbrio no mercado de consumo, logo, sendo uma norma jurídica especial.
O CDC como norma jurídica especial não pode ser revogada por
norma posterior que deixa de assistir o direito do usuário/consumidor.
A Constituição, em seu art. 175, não possibilitou às empresas
concessionárias e permissionárias a possibilidade de efetivar o corte do serviço
público, ante o inadimplemento contratual.
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
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II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
Art. 22 CDC
Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Art. 6o
Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando:
I – (...)
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
Para se constatar a existência de uma contradição entre normas, são
necessários os seguintes pressupostos:
a) que sejam jurídicas;
b) que estejam vigorando;
c) que estejam concentradas em um mesmo ordenamento jurídico;
d) que emanem de autoridades competentes num mesmo âmbito
normativo, prescrevendo ordens ao mesmo sujeito;
e) que tenham comandos opostos, por exemplo, que uma permita e a
outra obrigue dada conduta, de forma que uma constitua a negação
da outra;
f) que o sujeito a que se dirigem fique numa situação insustentável.
Na análise das antinomias, três critérios devem ser levados em conta
para a solução dos conflitos:
39
a) critério cronológico; quando a norma posterior prevalece sobre a
norma anterior;
b) critério da especialidade: quando a norma especial prevalece sobre
a norma geral;
c) critério hierárquico: quando a norma superior prevalece sobre a
norma inferior.
Dos três critérios acima, o cronológico, constante do art. 2º da LICC, é
o mais fraco de todos, sucumbindo frente aos demais. O critério da
especialidade é o intermediário e o da hierarquia o mais forte de todos, tendo
em vista a importância do Texto Constitucional, em ambos os casos. Superada
essa análise, interessante visualizar a classificação das antinomias, quanto aos
critérios que envolvem, conforme esquema a seguir:
– Antinomia de 1º grau: conflito de normas que envolve apenas um dos
critérios acima expostos.
– Antinomia de 2º grau: choque de normas válidas que envolve dois
dos critérios antes analisados.
Ademais, havendo a possibilidade ou não de solução, conforme os
meta-critérios de solução de conflito, é pertinente a seguinte visualização:
– Antinomia aparente: situação em que há meta-critério para solução
de conflito.
– Antinomia real: situação em que não há meta-critério para solução de
conflito, pelo menos inicial, dentro dos que foram anteriormente expostos.
40
CONCLUSÃO
O serviço público apresenta vários conceitos dentre eles pode-se dizer
que é toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, sob o
regime de direito público, visando a satisfação das necessidades prioritárias da
sociedade.
È regido por princípios inerentes às normas jurídicas apresentando
característica, conforme o critério analisado. Pode ser prestado pelo Poder
Público ou delegado para entidades privadas, através de concessão ou
permissão, permanecendo subordinado ao Poder Público, a fim de atender os
interesses da sociedade.
Ao ocorrer a descentralização do monopólio estatal, deu-se início a
privatização, ou seja, o Estado passa a delegar poderes de alguns serviços
para o setor privado sem perder o controle total dos mesmos,surgindo daí as
agências reguladoras com a finalidade de representá-lo, estipulando regras
adequadas para a prestação dos serviços públicos, buscando um equilíbrio
entre o Estado, os usuários e delegatários.
Por ser considerado um serviço indispensável ao desenvolvimento da
sociedade, o mesmo deve ser contínuo, sob pena de sofrer sanções. Quando o
usuário deixa de pagar por um serviço público essencial gera um desequilíbrio
entre as partes, pois quem fornece o serviço não pode fazê-lo de graça e quem
recebe não pode ficar sem o mesmo e nem ser punido com a descontinuidade
do mesmo.
Mediante esse impasse foi criado normas próprias para solucionar esse
conflito, no caso o CDC e a Lei 8.987/95, que regula a concessão e permissão
da prestação dos serviços públicos essenciais, cuja competência é da entidade
com controle para instituir, regularizar e controlá-los. Os serviços públicos só
poderão ser executados através de normas que as regulamentem.
A inadimplência nos remete à suspensão dos serviços públicos, logo,
ao fator culpa.
Há de se notar que nem sempre o inadimplente é um “caloteiro”, fato
esse que não justifica a descontinuidade do serviço púbico.
41
Deve haver uma proporcionalidade na consideração dos princípios do
serviço público como critério para harmonizar a relação e os interesses das
partes, vez que é sabido haver direitos e deveres entre ambos.
A greve também não deve ser considerada um motivo para suspensão
dos serviços públicos essenciais, principalmente se houver risco iminente para
a sociedade, fato este passível de punição pelos responsáveis pelos sindicatos
e seus representantes das categorias, sendo uma greve ilegal.
A responsabilidade não se estende só ao Estado frente aos danos
causados pelas concessionárias, mas também às concessionárias frente à
terceiros e aos usuários.
Devido à criação dessas normas – CDC e a Lei 8.987/95 –, os entes de
direito privado agora também são responsáveis pelos danos provocados.
Concluindo, deve-se lembrar sempre de que existe pressupostos para
detectar uma suposta antinomia e alguns critérios a serem levados em
consideração.
42
BIBLIOGRAFIA
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Saraiva, 2ª Edição Revista e Atualizada, p. 202-290.
2 - MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.
Malheiros Editores. São Paulo, 2010, p. 102-107.
3 - DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Curso de Direito Administrativo. Editora
Atlas S/A, 21ª Edição. Editora Atlas. São Paulo, 2009, p. 98-113.
4 - CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio
de Janeiro, Lumen Juris, 2007, p. 265-298.
5 - JUSTEN FILHO, MARÇAL. Teoria Geral das Concessões de Serviço Público. São Paulo, Editora Dialética.2003. 6 - MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro.23ª Edição Atualizada. Malheiros Editores. São Paulo, 1998, p. 346-409. 7 - BRASIL. Constituição, 1988 São Pulo. Editora Saraiva, 1997
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Serviço Público sem Concurso Público Prevista no Inciso IX do Artigo 37 da
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15- Clovis Alberto Volpe Filho, A suspensão do Fornecimento de Energia
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16- João Sardi Junior, Dos Serviços Públicos Essenciais Quanto a
Continuidade de sua Prestação Frente a Legislação
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20- Nara Levy, Aspectos Principais das Formas de Delegação de Serviço
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46
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - OS SERVIÇOS PÚBLICOS
1.1 – Da Definição 08
1.2 – Dos Princípios 12
1.3 – Da Classificação 13
1.4 – Da Concessão e Permissão 14
1.4.1 – Diferença Entre Concessão e Permissão 15
CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DOS SERVIÇOSPÚBLICOS
ESSENCIAIS
2.1 – Das Agências Reguladoras 17
2.2 – Das Formas de Atuação Estatal 18
2.3 – Da Prestação de Serviços Públicos Essenciais 19
2.4 – Da Competência 20
2.4.1 – Da Competência da União 21
2.4.2 – Da Competência do Estado 24
2.4.3 – Da Competência do Município 24
2.4.4 – Da Competência do Distrito Federal 25
CAPÍTULO III – A RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE AS PARTES
3.1 – Da Inadimplência dos Usuários e da Suspensão da Prestação
do Serviço Público 27
3.2 – Dos Direitos e Deveres dos Usuários 29
3.3 – Da Greve nos Serviços Públicos Essenciais 31
3.4 – Da Responsabilidade Civil Pelos Danos Causados no
Fornecimento dos Serviços Públicos Essenciais 32
47
3.5 – Da Remuneração 35
3.6 – Da Antinomia Entre o CDC e Outras Normas Jurídicas 37
CONCLUSÃO 40
BIBLIOGRAFIA 42
WEBGRAFIA 43
ÍNDICE 46
FOLHA DE AVALIAÇÃO 48