courrier internacional | droga o tiro pela culatra | nº244 junho 2016

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  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    1/12

    l i

    O HAR.PER.'S ~ LA PG INA, EL ESPANOL

    ...

    v

    t>

    /)

    6R.Et1c1o _..::

    C O N S ~ C i R

    O ISLO

    R.EFOR.MAR. SE?

    L OR.IENT LITTR.AI

    R.E

    t 1

    CINCIA b

    6

    \ , ~

    ATACAMA

    Ut1 DESEFtrO .

    CHEIO D E

    ~

    T R E L A S

    '

    .

    AH

    OR.A J

    t

    )

    ;_)

    .:J

    J O

    r

    )un6o 2016 NMERO

    244

    1 NSAL 1

    C .90

    (Cont.)

    ,

    e

    G

    (

    r.

  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    2/12

    1

    TEM

    E

    C P

    egalizar para

    co bater

    os cartis

    .. .e .

    ...

    .

    . .

    e

    .

    Nos ltimos

    40

    anos a

    es

    tratgia

    mundi

    al

    de combate

    droga

    baseou

    - se na m

    ilit

    a

    ri

    zao

    do

    comb

    ate

    ao

    narcotrfico.Tornou-

    se

    evid

    en

    te que

    esta

    abor

    dagem

    fez

    mais mal do que bem

    e

    da es q

    uerda direita

    da m

    rica

    Lat

    ina Europa multiplicam - se

    as

    vozes pedindo outra poltica.

    IL

    UST

    R O

    DE BRYAN S

    UN

    DERS E

    U

  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    3/12

    capa

    >t-'

    st n hor

    de

    enterr r

    a guerra

    contr

    a

    drog

    Da Europa aos EUAalerta-se que a guerra droga ,lanada por Nixon

    em

    1971 ,no s impediu o aumento do consumo como fo rtaleceu os cartis.

    REV IST HAR.PER. S M G ZINE

    NOVA IORQ.UE

    m 994, John Ehrliohman, um dos

    prot

    agonistas do escndalo Wate rgate ,

    revelou- me um dos grandes mistrios

    da

    hi

    str

    ia moderna: como enveredaram os

    EUA pela proibio de estupefacientes, da

    resultando tanto sofrimento e to poucos

    resultados?

    A

    Amrica criminaliza as subs

    tn

    cias

    psicoativas desde a lei

    de 1875

    que proibiu

    o pio nas casas de fumode So Francisco,

    mas foi o chefede Ehrlichman, o Presidente

    republicano Richard

    Nix

    on,

    o

    primeiro

    a

    declarar guerra

    droga,

    lana

    ndo

    o pas

    numa via

    de

    represso contraproducente

    qu

    e ainda hoje se m

    ant

    m.

    EncontreiEh rlichman, ex-conselheiro

    de Nixon para os assun tos internos, numa

    e

    mp r

    esa de enge

    nh

    aria

    de

    Atlanta, onde

    trabalha no r

    ecru

    tamento de minoriast

    nicas. Mal o reco

    nh

    eci. Engordoudesde o

    Watergate e exibe uma barba

    de

    lenhador.

    Respondeu s minhas perguntas iniciais

    co

    m alguma indiferena: Quer mesmo

    saber o que aconteceu? Disse isto

    co

    m

    o ar de quem, depo

    is de

    t

    er con

    hecido o

    oprbrio e a priso, j nada tem a perder.

    Nixon t inha dois inimigos: a esquerda

    pacifista e os n

    eg

    ros. Saba

    mo

    s

    que

    no

    podamos perseguir nem as pessoas que se

    manifestavam contra a guerra do Vietname

    nem os negros . Mas

    qu

    a

    nd

    o conseguimos

    que os cidados associassem os hippies

    marijuana e os negros herona , e os

    apr

    e

    sentm

    os

    como perigosos delinquentes, fo i

    possveldesestabilizar essas comunidades,

    det

    er

    dirigentes,

    fa

    z

    er

    buscas domicili

    r

    ias,

    interromper as reunies, denegri- los sis-

    o

    Se o sistema legal for

    credvel, se a droga for

    fivel, se os impostos no

    forem altos, os viciados

    sairo do mercado negro

    temati

    camen

    te nos telejornais. Sabamos

    qu

    e estvamos a me

    ntir

    quanto relao

    desses grupos com as drogas. Claro

    que

    sabamos.

    A inveno da guerra

    drog

    a foi

    um

    a

    cnica

    manobra

    de Nixon, mas, desde

    en

    to, todos os Presid

    en

    tes, republicanos ou

    democ

    rat

    as, a mantiveram , e

    mbora

    p

    or

    razes diversas. No possvel ignorar o

    colossal custo dessa guerra: milhes de d

    lares

    de

    spe rdia

    do

    s, um

    banho

    de sangu e

    na Amrica Latina, assim como nalgumas

    ruas

    de

    cidades

    amer

    icanas, e milhes

    de

    vidas destrudas

    por

    penas

    dra

    co

    niana

    s

    de priso.

    J, em 1949, o jornalista H.L. Me ncken

    t

    in h

    a identificado, nos americanos , o

    medo , a raia r a obsesso, de que algum

    pu desse ser feliz , formulao que

    re

    s

    pond

    e nossa

    ne

    cessidade

    puritana de

    cr

    imina

    li

    zar a tendncia

    do se

    r

    human

    o

    para aspirar a uma vida melhor. Aprocura

    de estados

    de

    conscincia alterados c riou

    um

    mercado;

    ao

    re

    primir

    esse

    merc

    ado

    crimos novos gangs ters:

    d lers

    vadios,

    contraband istas, assassinos .. Adependn-

    ol

    anBaum

    (excertos)

    Ana Ca

    l

    das

    eia

    de

    drogas, sendo te rrvel, rara. Aquilo

    que mais tememos - violncia,

    overdoses

    crimi

    nalidade - deriva da

    pro

    ibio e n

    o

    das drogas em si. E, aqu

    i,

    nu nca po

    der

    e

    mos

    ga n

    ha

    r.

    A prpria

    ag

    ncia

    de

    luta

    co

    nt

    ra

    adro

    ga (DEA) reconhece que os produtos cujo

    consumo tenta erradicar so cada vez mais

    fceis de encontrar e mais baratos.

    Est na hora de mudar. Esto em cur

    so, nos EUA e noutros pases, alternativas

    proibio pura e dura.

    H

    23 estados, a

    que se juntao d ist rito federal

    de

    Co lumbia

    [que inclui Washington] , que autorizam a

    marijuana para fins teraputicos e outros

    quatr

    o - Colora

    do

    , Washington, Oregon e

    Alasca - legalizaram a canbis. No Arizona,

    Ca lifrn ia, Maine, Massachusetts e Nevada

    dever haver refere

    nd

    os

    em

    novembro.

    No

    Ve

    rm

    ont, os heroinmanos podem evitara

    priso se aceitarem segu

    ir

    um tratamento

    financiado pelo Es tado. Na Europa, Po rtu

    galdesc riminalizou a canbis, a cocana, a

    herona e

    ou t

    ros estupefacientes. Em 2014,

    o Canad lanou, em Vancouver, um pro

    jeto- piloto que permite que os mdicos

    receitem aos toxicodepende

    nt

    es herona

    fa

    rm

    acut ica. Na Sua, existe

    um pro

    grama semelhan te e, no Reino Unido, a

    Co

    misso dos Assuntos Internos daCmara

    dos Comuns apr

    ovo

    u uma recomendao

    nesse sentido.

    Em julho de 2015, o Chile adotou um

    proj

    eto

    lei

    de

    lega

    li

    zao

    do

    uso t

    erapu

    ti co e rec r

    ea t

    ivo da canbis, autorizando

    os particulares a cultivarem

    um

    mximo

    de

    seis pl

    an

    tas.

    Meio sculo

    de

    guerra

    Q

    ua

    nd

    o t ravamos

    um

    a guerra

    durante

    47

    anos

    e no

    ve

    ncemos h que pensar

    nout

    ras solues , declarou o Pres idente

    da Co

    lmbia , Juan Manuel Santos, BBC,

    em dezembro, imediatamente antes de

    assinar um d

    ecreto

    de legalizao da ca

    n

    b

    is para fms mdicos. Em novembro, o

    Supremo

    Tribunal

    do

    Mxico considerou

    inconstitucional a

    pr o

    ibio do consumo

    de

    mar ijuana,

    por

    se im iscuir

    na

    esfera

    individual e violaro d ireito dignidade

    e ao livredesenvolvimento do indivduo .

    O S

    up r

    emo Tribunal Federal Brasileiro po

    de r seguir - l

    he

    o

    exemp

    lo.

    A ideia

    de

    legalizar a droga pode con

    vencer tanto os conservadores - que, por

    princpio, desco

    nfi

    am do excesso de inter

    ve

    no gove

    rn

    amental e do desrespeito

    da

    libe rdade ind ividual - como os

    pr o

    gressistas, chocados

    com

    as

    pr

    errogativas

    da

    polcia, a violncia na Am

    r

    ica

    La

    tina

    e a criminalizao de geraes inteiras de

    negros. Va i ser necessria muita coragem

    para alargar o

    debate

    legalizaode todas

    Jl;:\'110 2016 -

    l\

    211

    , . .

    http://pensologosou.pt/
  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    4/12

    t c p 1 drogo

    as drogas, mas

    no

    ser to difcil

    como

    pensam

    alguns responsveis polticos.

    Entre

    19

    e 21

    de

    abril, a Assembleia- Geral

    da

    ONU realizou a primeira sesso ex

    traordinria sobre o

    tema desde

    1998,

    na

    altura convocada com o lema: " possvel

    um mundo sem drogas . Muitos pases j

    no acreditam

    em

    medidas musculadas.

    Esta mudana

    tornou-se patent

    e em

    2012

    ,

    na Cimeira das Amricas de Cartagena das

    ndias (Colmbia), onde, pela primeira vez,

    dirigentes da Amrica Latina questionaram

    l a n n l 1 7 o n ; n a

    r om1 l n

    mon t n

    ro =in

    r lncr lr ru Tf IC

    ,:)\...a. l \ .5a. .1UAya.v

    ._.

    J -5 -U

    U J \ J J La

    y v

    u...1.

    v 5 a J

    no seriam

    uma

    abordagem mais

    adequa

    da ao

    hemisfriosul. A Assembleia- Geral

    ocorreu numa altura

    em

    que quatro estados

    e a prpria capital dos

    EUA,

    inimigo n .

    0

    1

    da

    droga, terem legalizado a marijuana.

    H

    um

    dado

    novo:

    Washington

    j

    no

    pode

    aplicar

    no

    pas aquilo

    que defende

    no estrangeiro , frisa um membro do rgo

    Internacional

    de

    Controlo dos Estupefa

    cientes OI

    CS), qu

    e vela pelo respeito das

    orientaes

    da

    ONU.

    Legalizar mas com

    prudncia

    No mome

    nto

    em

    que

    e

    nt r

    eve

    mo

    s o fim,

    ainda

    ontem imp

    ensvel,

    da guerr

    a con

    tra

    a droga, faamos avanar o deba

    te do

    porqu para o como. Para

    tirar

    o mx imo

    de benefcios

    da

    legalizao , n

    o

    bastade

    clarar que as drogas passam a ser lcitas.

    H riscos co

    lo

    ssais. E

    nt r

    e

    200

    1 e 2014, os

    EUA

    registaram

    um aumento de

    500%

    de

    mortes por over osede herona e

    de

    300%

    dos bitos atribudos a medicamentos

    com

    receita mdica [nomeadamente analgsicos

    opiceos]. Isto de

    monstra

    a

    nossa

    inc

    apa

    cidade para gerir a utilizao

    de

    opioides,

    proibidos

    ou

    regulamentados. Uma pro

    gresso significativa das

    depend

    ncias

    ou

    das over osesna sequncia da legalizao

    das drogas seria

    uma

    catstrofe a nvel

    da

    sade e poderia convencer a comunidade

    int ernacional aregressar era da proibio

    da

    qu

    al, fina

    lment

    e,

    estamos

    a sair.

    Para minimizar riscos, h que enco

    ntrar

    sistemas mais eficazes de regulaoda ven

    da, normalizao, inspeo, distribuio

    e tributao das drogas perigosas. H

    um

    milho

    de

    possibilidades e talvez de incio

    no tomemos as decises mais acertadas.

    Mas

    podemos

    basear-no

    s no

    de

    s

    mant

    ela

    mento

    da

    Lei Seca nos anos 30.

    Mark Kleiman, professor

    de

    Polticas

    Pblicas na Universidade

    de

    Nova Iorque

    e crtico da guer

    ra

    droga

    desde

    os a

    no

    s

    70, explica que, caso a coca

    na

    fosse lega

    lizada, nada

    dem

    ons

    tra

    que o

    nmero de

    cocainmanos nos

    EUA

    viesse a ser inf

    er

    ior

    ao nmero

    de

    alcolicos: 17

    ,6 milh

    es

    de

    pe

    ssoas. E acrescenta

    que

    a legaUzao

    da

    cocana poderiaagravar a dependncia tan-

    JljN

    O

    :.1016 -

    N. 1

    o

    A guerra

    droga foi

    um

    recurso

    da

    administrao

    N xon

    para

    identificar

    negros e opositores

    ao Vietname com o crime

    to de cocanacomo

    do

    lcool: O problema

    do lcool

    que d

    sono, mas a coca

    na d

    uma

    chicotada. O problema da cocana

    que

    tira o sono, mas o lcool compensa

    esse efeito . Assim, o e

    norm

    e a

    um

    ento das

    taxas

    de dependncia que

    pr

    ediz

    par

    ece

    plausvel.

    Mas no foroso

    que

    assim seja. Os

    Pases Baixos

    de

    scriminalizaram oficial

    mente o consumo e posse de canbis

    em

    1976, e pouco depois a Austrlia, a Repblica

    Checa, a Itlia, a Alemanha e o estado

    de

    Nova Iorque seg

    uiram

    -

    lh

    e o exempl

    o.

    Em

    nenhumcaso, a canbis levantou problemas

    significat ivos de sa

    d

    e

    ou

    segurana. No

    e

    nt

    a

    nt

    o,

    como

    a canbis

    um

    a droga leve

    que no provoca grande dependncia fsica,

    o

    de

    sa

    fi

    o

    es

    tava

    ganho partida

    .

    Vejamos Portugal, que ,

    em

    2001,

    de

    ci

    diu

    descriminalizar no s a canbis

    ma

    s

    tambm a cocana, a h

    ero

    na e todas as

    outras drog

    as. Tecnicamente, as drogas

    continuam a ser proibidas e a venda

    consideradacrime, mas a aquisio, con

    su

    mo

    e posse de

    uma

    quantidade mxima

    equivalente a dez dias de consumo

    pr

    prio

    so, quando muito, penaliza

    do

    s com coi

    ma.

    Nenhum outro

    pas foi

    to

    longe e os

    resultados so sur

    preendentes. A vaga de

    turistas de droga que alguns temiam nunca

    se verificou. O consumo dos adolescentes

    portugueses aumentou numa primeira fase,

    antes

    e a

    p

    s a descriminalizao,

    ma

    s

    de

    pois estabilizou, quando o efeito novidade

    s es

    bat

    eu .

    Tambm o consumo regular de drogas

    duras

    regrediu aps a descriminalizao,

    tendo passado de 7,6 para 6,8%. Compare

    mos estes nmeros com os da Itlia, queno

    descriminal izou e

    onde

    as taxas passaram

    de 6para8,6% no mesmo perodo.

    Co

    mo os

    toxicodependentes portugueses podem ob

    ter seringas descartveis, a descriminaliza-

    o parece ter r

    ed

    uzido consideravelmente

    o nmero de contaminaes com VIH (267

    em 2008, contra907 em 2000). Finalmente,

    a nova l

    eg

    islao portuguesa te

    ve

    um

    efeito

    notvel na populao prisional. O nmero

    de detidos

    por

    delitos relacionados

    co

    m

    drogas dimi

    nuiu

    mais de me

    tade

    e, hoje,

    representa apenas 21% dos presos .

    Mas

    se

    seguirmos as lies

    de

    Portugal , teremos

    de recordar que, antes de conceder livre

    acesso a drogas perigosas, as autoridades

    previram

    estrutura

    s

    de

    apoio aos toxico

    dependentes.

    In

    ves

    tiram em

    programas

    mdicos. Existem comisses de dissuaso,

    compostas

    por um

    mdico,

    um

    assistente

    social e um jurista, que podem intervir do

    pontode vista teraputico e, se necessrio,

    impor uma

    coima relativamente modesta.

    A experincia portuguesano nasceu

    de

    um

    dia

    para o outro:

    desde

    os

    anos 70,

    o

    pas

    tem

    vindo a inves

    tir no

    s

    se

    rvios sociais

    e criou, no f1m dos anos 90, o rendimento

    mnimo garantido. A rpida expanso

    do

    Es

    tado- providncia contribuiu sem

    d

    vida

    para os

    gra

    ves problemas econmicos do

    pas, mas

    ajudou

    a reduzircasos graves de

    to

    xicodependncia. A descriminalizao

    teve tanto sucesso em Portugal que nin

    gum

    pe a

    hipte

    se

    de

    vo

    ltar

    atrs.

    Reprinr trfico ou consumo?

    Partindodes

    te

    s ensinamentos, porque no

    consideram os

    EUA

    a via da descriminali

    zao? A ideia brilhante: deixar

    em

    paz

    os pequenos consumidores inofensiv

    os

    e

    os drogados e

    concentrar

    a re

    pr

    esso

    no

    trfico. No entanto, no basta descrimi

    nalizar. Embora a experincia portuguesa

    tenh

    a s

    ido coroada

    de

    xito

    ,

    Li

    sboa

    no

    controla,

    nem

    o

    gra

    u de

    pur

    eza das drogas

    nem

    as doses e no arrecada

    um

    cntimo

    em

    receitas fiscais da venda dos est

    up

    e

    facientes.

    Os circuitos

    de

    abastecime

    nto

    e distribui

    o continuam

    nas mos

    da

    criminalidade organizada e co

    ntinu

    am a

    verificar-

    se

    atos

    de

    violncia relacionados

    com droga, corrupo e represso. O efeito

    da descriminalizaodas drogas

    na

    crimi

    nalidadeno evidente. Alguns delitos mais

    lig

    ad

    os ao consumo de drogas aumentaram

    depois

    da

    descrimina

    li

    zao - 66

    %

    para os

    roubos

    de

    estico, 15% para os roubos de

    via

    tura

    s - , e

    nqu

    a

    nt

    o

    outros diminura

    m

    (os assaltos a res

    id

    ncias caram 8% e a

    lojas 10%.) Um estudo

    da

    polcia portu

    guesa revelou

    um

    aumento dos delitos de

    o

    portunid

    a

    de

    e

    um

    a reduo dos crimes

    pr

    emeditados e viol

    entos

    , mas no retirou

    concluses

    quanto

    a uma eventual ligao

    descrimin

    alizao

    da

    s

    dro

    gas.

    O modelo portugus de

    de

    scriminali

    zao no resultaria nos

    EUA

    porque Por

    tu

    gal

    um

    pas pequeno, com legislao

    e foras policiais nacionais, enqu anto os

    EUA so

    um

    mosa ico d e jurisdies. Para

    j, a

    ad

    ministrao Obama decidiu no

    se

    imis

    cu

    ir nos ass

    un

    tos dos estados

    qu

    e le

    ga lizaram a

    ca

    nbis,

    ma

    s o tempo passa e

    os gove

    rnos mudam

    .

    No

    conseguiremos

    beneficiar dos efeitos

    de uma

    abordagem

  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    5/12

    ILUSTRAO DE

    BR YAN

    SAUNDER S EUA

    13

    http://pensologosou.pt/
  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    6/12

    1

    c p

    1

    drngo

    sanitria em vez de judiciriaenquanto os

    estupefacientes no tiverem sido legalizados

    a todos os nveis

    da

    jurisprudncia

    ame

    ricana, assim como o lcool foi legalizado

    em 1933, aps a revogao

    da

    18.' emenda

    da

    Constituio (Lei Seca).

    Um dos flagelos

    que conduziram

    Lei

    Seca foi o sistema

    de tied houses

    lojas

    de bebidas alcolicas que pertenciam a

    fbricas

    de

    cerveja

    ou

    destilarias

    que co

    mercializavam os seus produtosde forma

    agressiva. Quando a Lei Seca j estava no

    m hlntr n

    Tnhn f )

    Rnl l

  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    7/12

    uma rede de estabelecimentos autorizados.

    Em 2014, renunciou

    tambm

    exigncia

    de integrao vertical. Cinco sen1anas aps

    o referendo de 2012, os cidados

    do

    Colo

    rado, maiores

    de 21

    anos

    podiam

    possuir

    e

    consumir

    canbis legalmente. Mas os

    retalhistas e produtores s foram

    autori

    zados a operar a

    partir de

    janeiro

    de

    2014,

    ou

    seja, 14 meses depois

    do

    referendo. O

    prazo visava permitir que o estado tivesse

    tempo

    para criar

    um

    servio de controlo

    da

    canbis (dependente das Finanas) e

    integrar a canbis na legislaode venda a

    retalho e que o referido servio redigisse as

    normas relativas a sinaltica, publicidade,

    tratan1ento de resduos, videovigilncia,

    rotulagem, tributao e distncia entre

    locais

    de

    venda e escolas.

    No

    Colorado, a econo1nia

    da

    canbis

    legal comea a asse1nelhar- se do lcool:

    os fumadores quotidianos so apenas 23 o

    dos utilizadores, mas conson1em 67'Vo da

    produo. Talvez as propores fossen1 as

    mesn1as quando a nlarijuana

    era

    ilegal e,

    provavelmente, o nmero de fumadores

    dirios manteve-se. Nunca saberemos. Em

    compensao,

    sabe-se que

    o

    mercado

    da

    canoi.bis, tal como o do lcool, tem a sua

    base nos grandes consumidores.

    gualmente difcil avaliar o impacto da

    legalizao na criminalidade. Esta diminuiu

    perto de

    2/o

    em

    Denverem

    2014,

    primeiro

    ano

    e1n

    que a

    marijuana

    foi

    plenamente

    legalizada. Curiosamente, sondagens efe

    tuadas junto de 40 mil adolescentes antes

    e depois

    da

    legalizao mostraram que,

    por um

    lado, menos jovens

    consideram

    a marijuana perigosa - como previam os

    oponentes

    da

    legalizao - , mas menos

    jovens fumam charros. Estaro a mentir?

    Ser tuna anomalia estatstica? Ou ser que

    o fim

    da

    proibio fez a marijuana

    perder

    algum do seu atrativo?

    Apesar de tudo, houve falhas no Co

    lorado. Os 14 meses

    de

    diferena

    entre

    o

    referendo e a abertu ra dos locais

    de venda

    no bastaram para elaborar legislao sobre

    aspetos co1110 o ueso de pesticidas pelos

    produtores

    ou

    as dosagens nos produtos

    alin1entares base de canbis. As autorida

    des tambn1 no tiveram tempo de elaborar

    as novas orientaes para a polcia, que no

    sabia

    bem

    con10

    atuar quando

    se deparava

    com quantidades de marijuana elevadas.

    Havia quem fizesse ligaes eltricas em

    srie para alimentar plantaes domsticas

    e pegasse fogo casa toda. E, em Denver,

    houve uma vaga de assaltos e roubos a

    es

    tufas e locais de venda de canbis.

    A lei d s jurisdies locais liberdade

    para autorizarem ou no os locais de venda

    a retalho. Inicialmente, apenas

    35

    condados

    do Colorado o fizeram, o

    que

    explica

    que

    a nova rece ita fiscal desse estado nos seis

    meses que se seguiram legalizao fosse

    de apenas 12 milbes de dlares, ou seja,

    um

    tero

    do

    esperado.

    ambm

    possvel

    que, ao fixar o imposto sobre a canbis no

    retalho

    em 10/o,

    acin1a do imposto normal,

    o estado tenha elevado

    muito

    a fasquia.

    Parece que alguns consumidores continuan1

    a

    abastecer-se no mercado

    negro,

    muitas

    vezes mais barato . Ainda assim,

    em

    2015,

    o Colorado arrecadou

    quase

    135

    milhes

    de dlares de imposto sobre a marijuana.

    m

    novo se tor e onmi o

    Reprimir as culturas no autorizadas e dar

    formao polcia foi relativamente fcil.

    Mais difcil ser impedir as grandes

    em

    presas

    de

    aambarcar o

    mercado

    e viciar

    as cartas. Embora a legalizao se limite,

    para

    j, a quatro estados e ao distrito fe

    deral de Columbia e a canbis

    teraputi

    ca seja autorizada apenas

    em

    23 estados,

    a produo legal

    j tem

    um peso

    de

    5,4

    mil milhes

    de

    dlares. A revista Forbes

    publicou uma lista das oito empresas de

    canbis mais cotadas

    na

    Bolsa : incluiem

    presas

    de

    biotecnologias, fabricantes de

    distribuidores automticos especializados

    e de vaporizadores que

    permitem

    inalar

    sem engolir alcatro

    ou

    sem combusto.

    O prprio

    Wall

    Street

    oumal j

    apresenta

    a canbis como um investimento srio.

    Os cidados

    dos

    estados

    americanos

    que legalizaram a mari juana puseran1

    em

    marcha

    uma

    mquina

    mais

    potente do

    que pensavam. Sem proibi r a canbis o

    governo no

    pode continuar

    a sua

    guerra

    contra

    a droga , repete Ira Glasser, que

    dirigiu a Unio Americana das Liberdades

    Civis entre

    1978

    e

    2001.

    Tirando a canbis,

    o consumo de drogas mnimo e no se

    justificam as despesas policiais e judicirias

    para os outros estupefacientes, cujo

    con

    sumo ridiculamente reduzido. Sempre

    pensei que, se cortssemos a esta hidra a

    sua cabea,

    ou

    seja, a mar ijuana, a

    guerra

    contra

    a droga deixaria

    de

    fazer sentido.

    Quando pensamos (ns, habitantes do

    Colorado) na marijuana legal, sentimos a

    satisfao de termos sido dos primeiros a

    fazer algo inteligente. Estamos to divididos

    corno os outros no que respeita a imigra

    o, armas de fogo e alteraes climticas,

    mas a nossa polcia j no perde

    tempo

    a

    perseguir quem est a fumar um charro.

    Mesmo que as receitas fiscais da canbis

    - afetadas s escolas pblicas - no sejam

    to elevadas como espervamos, o estado

    ganha com

    um

    produto que, antes, lhe

    cus

    tava to caro. A marijuana

    j

    faz

    parte

    dos

    hbitos das pessoas. E no compreendemos

    quando vemos os outros estados a insistir

    em

    consider-la

    uma

    ameaa para o pbli -

    co. Falei

    com muitas

    pessoas, nos Estados

    Unidos e fora, e no encontrei ningu1n

    que

    defenda locais de venda de herona,

    cocana

    ou

    metanfetaminas semelhantes

    aos pontos

    de

    venda de canbis no Colorado.

    A maioria dos especialistas pensa que,

    embora

    no passando pelo monoplio

    es

    tatal, a distribuio

    de

    drogas duras devia

    ser sujeita a algum enquadramento. Urna

    rede de conselheiros, que no seriam obri

    gatoriamen te mdicos, controlaria o papel

    de determinada droga

    na

    vida das pessoas.

    Quando Mark Kleiman pensa

    na

    legaliza

    o

    da

    cocana inlagina,

    por

    exemplo, que

    os consumidores poderiam estabelecer a

    prpria dose. As pessoas poderiam decidir

    aumentar

    a dose atravs de

    um

    procedi

    mento administrativo

    ou

    consultar algun1

    para

    controlar

    a sua dependncia. Assim

    poderan1os privilegiar a sade a longo

    prazo

    e no nos

    atermos

    ao imediato.

    Eric Sterling,

    diretor

    executivo da

    Criminal Justice Policy Foundation, uma

    associao antiproibio, imagina

    um

    sis

    tema semelhante . A algum que dissesse:

    'Quero cocafua porque estimula a

    minha

    criatividade',

    ou 'Quero

    cocana para

    ter

    orgasmos mais intensos', poderamos res

    ponder:

    'Porque que no tem energia?

    Faz

    desporto?', ou

    :

    'Que

    outros fatores

    poden1

    estar

    a afetar a sua vida sexual? '

    Sterling sugere que as pessoas que queiran1

    experimentar

    LSD

    ou outras

    substncias

    psicadlicas poderiam dirigir-se a acompa

    nhantes especializados que, como os guias

    de montanha,

    receberiam forn1ao,

    se

    riam pagos e

    teriam

    seguro para conduzir

    o nefito atravs de um territrio

    poten

    cialmente perigoso.

    Os

    viciados

    em

    cocana, herona ou alu

    cinogneos poderiam no aderir e conti

    nuar no nlercado negro. Mas como salienta

    Sterling,

    esta atitude comporta

    riscos.

    A

    vida do toxicodependente un1a via sacra:

    encontra um

    dealer

    negociar, encontrar

    um

    local para se injetar...

    Se

    o sistema legal

    for

    bem

    concebido - se as drogas fore111

    fiveis e vendidas a preo razovel, se o

    procedimento

    no

    for muito pesado, se os

    impostos sobre o produto no forem

    de

    masiados

    -

    os consumidores acabaro

    por

    prefer ir a legalidade ao mercado negro.

    Ser a

    concorrncia

    e no a violncia

    a vencer os criminosos que controlam a

    distribuio

    de

    drogas. Criaremos um

    enquadramentoadaptado

    ao consumo

    de

    drogas , conclui Sterling. Onde os exa

    geros e as fices desaparecero

    por

    si .

    escndalo \Vatergate foi

    u1n

    casa

    de espionageni poltic que levou ii de isso

    do Presidente republ icano Richard Nixon

    e1n

    agosto

    ele

    1974

    http://pensologosou.pt/
  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    8/12

    1

    c p

    1 e/

    1mlllodor

    egalizar

    conuid r

    aoconsunw

    A despenalizao uma via

    p

    ro

    m issora, mas t

    em riscos

    . Pode

    a Amrica Latina dar-se

    ao

    lu

    xo

    de

    subsidiar o

    co

    nsumo

    de

    drogas

    quando no consegue

    garant

    ir as

    necessidades bsicas

    das

    pessoas?

    STIO LA

    PGINA

    SO

    SALVADOR.

    ecentemente algum apre

    sentou

    um

    a das

    so

    lues mais simplistas

    para

    resolver o

    co

    mplexo problema do

    trfico de droga:

    segundo

    essa opinio ,

    a legalizaoou descriminalizao permi

    tiria lutar contra a violncia decorrente

    do

    trfico de estupefacientes.

    Todavia, Yuri Fedotov, alto

    represe

    n

    tante

    do

    Gabinete para a Droga e a Crimi

    nalidade da ONU (ONODC),

    foi

    muito claro

    a esse respeito: Recordo a

    quem

    prope

    a liberalizao

    qu

    e, anua

    lm

    ente, morrem

    250 mil pessoas

    por

    cau

    sa

    das drogas. Se

    forem legalizadas,

    no

    estaremos

    perante

    milhar

    es

    de

    morto

    s

    mas

    p

    era

    nt

    e milhes.

    Temos a cert eza de

    qu

    e isso

    que

    quere

    mos? Todos os anos, 200 mil pessoas

    morrem

    de

    overdose

    ou

    de problemas de

    sade relacionados com a

    droga

    , v

    oltou

    a

    frisar na abe rtura da

    Co

    misso sobre

    Es

    tu

    pefacientes da ONU [14 de ma

    r o

    ]. O alto

    representante quantificou claramente as

    perdas humanasdevidas ao abuso de drogas

    que,

    com a legaliza

    o , ape

    nas correriam

    o risco de a

    um

    entar.

    O argumento da legalizao pode ex

    plicar- se de vrias

    maneira

    s: por

    alguma

    AUTOR.

    Za rko Pinkas

    ignorncia das consequncias sociais, como

    umasoluo simplista para um assunto com

    plexo que afeta as nossas sociedades; ou en

    to como

    um

    argumento que partede boas

    intenes, mas

    sem

    uma

    anlise sistmica

    a curto ou mdio prazo, ou seja, sem se

    ter

    a

    mnima

    ideia dos efeitos sociolgicos e

    polticos da

    droga no

    ncleo familiar.

    A legalizao a

    so

    luo

    mai

    s simplista.

    Promover a descriminalizao ou a legaliza

    o sem uma anlisesria retrica da mais

    banal. As

    drogas no

    so uma brincadeira

    o n

    n

    ti cnl11ron.0C Tntn1r lC'

    \,..

    ll lV Q.

    . : J V . H . & ' J V ' - ~

    l l l A f , l \ , . . U ~ .

    Se

    queremos atacar

    o

    problema das

    drogas seguindo as prioridades, teremos

    de comear

    por aplicar estratgias

    de

    re

    duo da

    pobreza

    relativa e

    extrema.

    As

    terrveis condies em

    qu

    e vivem milhes

    de

    pessoas

    na

    Amrica Latina so

    terreno

    propcio ao trfico de droga, ou seja, ao

    consumo e venda .

    Quando camadas inteiras da sociedade

    sobrevivemem condiesde extrema po

    breza e os s

    is t

    emas se

    regem

    pelo mximo

    lucro econmico e vigora a

    cor

    rupo po

    ltica, descrimina lizar ou legalizar a

    dro

    ga s

    eria

    o mesmo

    que criar

    um comrcio

    basea

    do no

    vcio,

    como

    acontece com o

    lcool e o tabaco.

    Quando Yury Fedo

    to

    v , peri to na luta

    contra a criminalidade eo trfico deestupe

    facientes, afirma que as drogas provocam a

    mort

    e de

    centenas de

    milhares

    de pe

    sso

    as

    ,

    f- lo com baseem dados estatsticos e com

    a competncia que

    lh

    e

    co

    nfere o facto de

    dirigir a seco da ONU res

    pon

    svel por

    esta rea. Pessoalmente,

    concordo

    com

    ele. Quando estes pases progredirem do

    po nto de vista social, cultural , poltico e

    dos direitos humanos, e

    quando

    se co

    nh

    e

    cerem verdadeiramente as depe

    nd

    ncias,

    pod

    er

    - se- pen

    sa

    r na legalizao das dro

    gas. N

    um

    a

    altura

    em

    qu

    e o siste

    ma

    es t

    em

    crise

    porque

    n o existe evoluo socio

    cultural, mais uma medida de fachada.

    Vanguardismo

    ou

    bom senso?

    Se, por hiptese, um a pessoa pudesse

    consumir

    drogas como

    cocana, mariju

    ana, herona, etc.,

    com

    moderao e sem

    se desligar da rea lidade nem ficar vicia

    da

    , eu

    ser

    ia o

    primeiro

    a apoiar posies

    vanguardistas. Agora, se me pe rg

    untar

    em

    se deixaria o meu filho consumir droga, a

    minha

    resposta, que a de qualquer pessoa

    de bom senso, ser se

    mpr

    e negativ

    a.

    Na ve

    rd

    ade, sou absolutamente con

    tra

    a legalizao das drogas por causa das

    TRADUTOR.A

    Ana

    Ca ld

    as

    o

    A droga prejudica a sade

    fsica e mental e a sua

    legalizao no conseguir

    pr

    cobro delinquncia

    relacionada com o trfico

    de produtos ilcitos

    suas consequncias sociais. O ambiente

    sociocultural da regio latino- americana

    n

    o consegue garantir os direitos

    hum

    anos

    numa altura

    em

    que

    os

    Estados falham

    no

    seu

    dever de proporcionar

    maior parte

    das pessoas coisas bsicas como educao,

    sade ou habitao; no pode , portanto,

    da r

    -s

    e ao luxo de oferecer de bandeja a

    legalizao aos delinquentes.

    Seria o mesmo que convidar a consumir

    drogas, pois quando se envia sinais deste

    tipo aos jovens, est-se a transmitir a ideia

    de que, ao legalizar o consumo, o Gove

    rno

    o aprova.

    Conter a violncia

    E

    permitiria

    esta m

    ed

    ida

    conter

    a crimi

    nalidade ligada a este flage

    lo

    ? No, porque

    no ex iste

    nenhum

    a poltica pblica para a

    reintegrao de criminososde outro tipo, e

    ainda menos pa ra os sicrios do trfi

    co

    de

    est

    up

    efacie

    nte

    s inumanos epotencia

    lm

    en

    te assassinos. Pensa r assim ser ingnuo.

    Estes grupos apenas passariam para outras

    esferas de de

    linqu

    ncia.

    Talvezdaqui a algumas dcadas

    se

    possa

    fazer um

    debate

    a nvel regional. H

    que

    obse

    rv

    ar a rea lidade

    com

    uma viso sis

    tmica

    mundi

    al. No p

    odem

    os fazer

    um

    a

    anlise superficial e local sem pensar,

    de

    um

    ponto de vista humano, nas conse

    qu

    ncias

    sociais do trfico de droga. No podemos

    permitirque uma minoria quequer drogar

    - se se escude nos seus direitos e

    nqu

    anto

    grupo de presso para impor medidas que

    poucas pessoas desejam.

    Em suma, as drogas so prejudiciais

    sade fsica e mental e pressupem uma

    atitude pas

    siva numa

    era

    em que temos

    de estar atentos ao

    qu

    e est nossa volta .

    A legalizao no conseguir pr cobro

    delinquncia relacionada com o

    tr

    fico de

    droga. Esse o cavalo de batalha de pessoas

    que alucinam

    qu

    a

    nd

    o pensam

    qu

    e esta

    mo

    s

    prontos para avanar quando, na verdade,

    a nossa sociedade est mergulhada numa

    cr ise sist mica.

    http://pensologosou.pt/
  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    9/12

    USTR AO DE BRYAN SAUNDERS EUA 17

    http://pensologosou.pt/
  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    10/12

    1

    c p

    1

    despenali:o

  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    11/12

    ILUSTllAODE BR YAN

    SAUNDER S

    EUA

    JUN O2016 - N. 21l

    9

    http://pensologosou.pt/
  • 7/25/2019 Courrier Internacional | Droga O Tiro Pela Culatra | N244 Junho 2016

    12/12

    pessoas

    por ms ,

    exp

    lica Vasco Gomes,

    psiclogo clnico e presidente

    da

    Comisso

    de Lisboa. Se a primeira infrao, o

    pro

    cesso fica

    automaticamente

    suspenso . Se

    voltam a ser convocados, so sancionados

    com

    uma

    multa ou trabalho

    social.

    Ojovem que aparece na Comisso esta

    manh reincidente. Depois

    de

    analisar

    o relatrio tcnico e

    de

    falar com ele, a

    equipa fica

    convencida

    de

    que no

    sofre

    de

    dependncia,

    mas

    castiga- o

    com uma

    multa

    de

    25 a

    50

    euros.

    Quando identifica indcios de

    depen

    dncia , a Comisso elab

    ora um programa

    de

    tratamento, que pode

    ir de

    sesses

    de

    terapia

    at

    processos

    de substitui

    o

    de

    opiceos. Noventa

    por cento

    das pessoas

    com

    problemas

    de

    dependncia que pas

    sam

    por

    aqui aceitam

    iniciar

    tratamen

    to

    , diz a psicloga Fernanda Brum. De

    vez

    em quando h um que no

    quer. No

    foramos ningum. Falamos

    dos

    nossos

    servios, aconselha

    mo

    - los sobre os riscos

    de consumir

    drogas e incentivamo - l

    os

    a

    voltar

    quando quiserem.A porta est

    sem

    pre

    aberta.

    Os

    que

    aceitam

    ser tratados no

    centro

    beneficiam

    de

    uma rede de serviosde apoio

    para facilitar a reinsero social. Estaseco

    prope mdulos artsticos orientados para

    esse fim. H

    uma sa

    la inteira dedicada ao

    desenhodos caractersticos azulejos lusose

    h atelis

    de

    restauro

    de

    mveis, bordados

    ou

    informtica.

    Aos

    41 anos,

    Ricardo um

    dos

    fre

    quentadores deste

    servio,

    qu

    e descre

    ve

    como

    um

    refgio:

    E

    m casa s

    tenho

    problemas. O

    meu

    pai sofreu

    um derrame

    cerebral e est paralisado e o

    meu

    irmo

    toxicodependente. Venho aqui

    todos os

    dias para

    cumprir um

    horrio e

    tentar

    sair

    dali . E conta: Comecei a fumar

    ha

    xixe

    aos

    11

    anos e a

    tomar

    cocana aos 14. Aos

    19 j

    me

    injetava com

    heron

    a. As drogas

    de

    s

    truram

    -

    me

    a vida, a minha mulher

    deixou-

    me

    , vivi na

    rua

    e quase

    morri

    de

    overdose

    em

    2001 .

    H oito anos decidiu dar o passo. Des

    de ento toma metadona

    diariamente,

    no

    mbito da

    te r

    apia

    de

    substituio

    de

    opi

    ceos. Co

    ntinuou

    a fumar haxixe, mas

    em

    2014

    tambm

    resolveu

    libertar

    -

    se

    dessa

    dependncia.

    Prioridade

    s grvidas

    Noutra

    part

    e do Centro, a mdica Esther

    Casadodirige um mdulo que trabalha com

    grvidas

    em tratamento

    . Estes casos

    tm

    prioridade absoluta. Ontem

    chegou uma

    nov

    a paciente grvida e h

    ero

    inmana que

    comeou a terapia com me tadona nessa

    mesma

    tarde ,

    diz . Vrios pacientes

    pa r

    ticipam

    numa

    sesso de fisioterapia para

    UNllO

    2 16

    - N

    241

    AVALIAO PROFISSIONAL

    PROIBIR O PIOR

    C MINHO

    A prestigiada revista cientfica

    divulgou

    as

    concluses a que chegaram 2 2

    peritos mdicos convocados

    pela Universidade

    Johns

    Hopkins

    ,

    em

    colaborao

    com

    aquela publicao britnica. Os

    clnicos dizem que as polticas

    proibicionistas

    do

    ltimo

    meio sculo contriburam

    direta

    ou

    indiretamente para

    violncia

    extrema

    ,

    doenas

    ,

    deportaes de

    populaes e

    injustias ,

    tendo

    minado o

    direito

    das

    populaes sade .

    reala

    quatro

    dos argumentos dos

    especialistas:o

    aumento

    brutal

    dos

    homicdios

    no

    Mxico

    desde

    que o Governo

    encetou

    a represso militarizada

    ao

    narcotrfico, que reduziu a

    esperana

    mdia

    de

    vida no

    pas; o excesso

    de

    prises,

    primeiro fator

    de

    propagao

    do V

    IH

    e hepatite

    Cen

    tre

    consumidores de droga; a

    discriminao racial induzida

    pelas

    Leis

    an

    tidroga

    nos

    Estados

    Unidos; e a violao

    dos

    direitos

    humanos na aplicao

    da

    s

    medidas

    punitiva

    s,

    incluindo

    maus-tratos

    a pri

    sione

    iros

    mexicanos .

    Os

    peritos

    defendem

    a descriminalizao

    do

    consumo no-violento e

    da posse de toda e qualquer

    droga. Convidam os E

    st a

    dos

    a adotar

    gradualmente

    um

    mercado

    regulado

    de

    droga,

    avaliado cientificamente

    .

    Ca

    lculando

    que

    apenas,,%

    dos cons

    umidor

    es sejam

    dependente

    s, pedem distino

    entre os conceitos

    de consumo

    e

    abuso

    .

    grvidas,

    quando uma mulher alta

    e ele

    gante

    os vem

    cumprimentar.

    Anuncia

    ter

    conseguido

    emprego numa

    papelaria

    e Esther Casado grita

    de

    alegria.

    Quando

    ela

    c

    veio pela

    primeir

    a vez,

    es

    tava

    gr

    vida e agarrada cocana. Cheirava mal,

    tinha

    sinais evidentes

    de mau

    s-tratos f -

    sicos, quase

    no

    parecia

    uma

    pessoa. Mas

    fez o

    tratamento

    e

    reconstruiu

    a v

    ida

    .

    Tem

    uma

    filha maravilhosa, nasceu sem

    qualquer

    complicao e consegu

    iu

    dei

    xar

    a metadona.

    um

    caso de superao sem

    par ,

    explica a mdica.

    Do

    outro lado de

    Lisboa , debaixo

    de

    uma ponte,

    um grupo

    de

    hom

    ens e

    mulhere

    s faz fila

    diante de

    duas furgonetas brancas. meio- dia

    e,

    durante

    a prxima hora e me

    ia

    , a equipa

    da

    Associao Ares

    do

    Pinhal di

    st

    ribui

    r

    metadona

    ce

    ntena

    de

    pessoas que se

    aproximam. Qualquer

    um

    pode aceder

    a

    este

    servio , diz Fernando Afonso, que

    trabalha na associao desde

    1987.

    S tem

    de

    fazer

    uma

    anlise

    de

    urina instantnea

    que d

    positivo para herona para iniciar

    a terapia

    de

    substituio.

    Comeada a terapia, a

    equ

    ipa da Ares

    do

    Pinhal faz

    um

    seg

    uimento

    int ensivo e

    prepara

    um

    programa para cada paciente.

    Financiadas pela SICAD e pelo municpio,

    as unidades mveis

    de

    distribuio

    de me

    tadona

    circulam pela cidade ao l

    ongo

    do

    dia. Atendem 1200 pessoas por dia,

    de

    toda

    s as classes sociais imaginveis,

    de

    sem

    - abrigo a

    contro

    ladores

    de

    trfego

    areo ou jornalistas dos grandes meios de

    comunicao lusos.

    roga

    e economi

    A

    des

    crim

    inalizao

    das

    drogas em

    Portugaln

    o

    reso

    lveu

    todos os problemas.

    Esto registados

    v

    rios casos

    de

    consumo

    de

    cr ck

    e, em partes do antigo bairro

    do

    Casal Ventoso - esvaziado,

    destrudo

    e

    reedificado

    h

    anos

    para

    pr

    fim

    ven

    da de

    drogas - voltou a haver trfico

    de

    substncias ilcitas. Ainda assim, dca

    da

    e

    meia aps a adoo do modelo portugus,

    poucos

    podem

    al

    egar que

    no

    tenha

    sido

    um

    xito.

    Em2001, 16,6% da populaoconsumi

    ra drogas nos 12

    me

    ses anteriores. Em 2012,

    esse

    nm

    ero caiu para

    13,1

    %.

    Quin

    ze anos

    aps a aprovao da lei, Goulo considera

    que o modelo portugus digno de estudo

    e aplicvel,

    com

    modificae

    s , noutro

    s

    pases. A questo descrim inalizar com

    exatido. Creioque Portugal deu o primeiro

    passo e foi pioneiro

    neste

    aspeto porque

    era uma

    crise transversal,

    que

    afetava

    to

    das as classes sociais. Enquanto foi

    co

    i

    sa

    de

    pobres,

    os

    toxicodep

    e

    ndentes

    eram

    gente suja, bandidos. Quando comeou

    a haver casos entre os filhos da elite, essa

    persp

    etiva

    mudou.

    O mdico frisa que o trfico de drogas

    est ligado ao

    estado da

    economia. As

    pe

    ssoas

    recorrem

    droga para

    fugir

    de

    outros

    problemas e fazem- no porque as

    drogas so maravilhosas ,afirma Goulo.

    Eu digo

    sempre

    minha filha de

    14

    anos:

    vo-

    te

    di

    zer que

    as drogas so ms. O

    que

    terrvel

    na

    s drogas

    que

    so boas. Do

    sensaes

    muito

    boas. Do prazer. O mau

    que se

    tran

    sformam no nico prazer que

    as pessoas so capazes de se

    ntir

    .

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