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COMPUTADOR: INSTRUMENTO ALTERNATIVO NA APRENDIZAGEM DA

LEITURA E DA ESCRITA DOS ALUNOS DA SALA DE RECURSOS

Autora: Maria de Lourdes Carvalho Heinzen1

Orientadora: Profª Drª Simone Moura 2

Resumo

Partindo do pressuposto de que uma das funções da escola é garantir aos alunos com ou sem necessidades educacionais especiais a apropriação de conhecimentos construídos historicamente, inferimos que a mediação e o uso de instrumentos e de signos (como a linguagem) possibilitam ao ser humano passar de um ser biológico, que utiliza em suas interações apenas processos psicológicos elementares – sensações, percepções imediatas, memória direta, etc. –, para um ser cultural, que utiliza processos psicológicos superiores, como atenção, percepção, memória indireta, imaginação, etc. No caso de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, a importância no modo como a mediação é realizada é de suma relevância, tendo em vista que a sua finalidade é propiciar a este alunado instrumentos alternativos para sua aprendizagem. Nesta direção, o computador é abordado, neste artigo, como um instrumento alternativo de uso significativo, que possibilita inúmeras ações que ajudam no desenvolvimento da leitura e da escrita.

Palavras-chave: Computador; Mediação; Leitura; Escrita.

1 Introdução

Para a sala de recursos, são encaminhados alunos com dificuldades

diversas, dentre os quais, aqueles que apresentam comprometimento em relação

à leitura e a escrita.

1 Professora de Educação Especial da Rede Estadual de Educação do Paraná e envolvida com o

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, 2010. Email: [email protected]; 2 Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina – UEL, Orientadora do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, 2010.

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Com base no pressuposto de que uma das funções da escola é garantir

aos alunos com ou sem necessidades educacionais especiais a apropriação de

conhecimentos construídos historicamente, inferimos que a mediação e o uso de

instrumentos e de signos (como a linguagem) possibilitam ao ser humano passar

de um ser biológico, que utiliza em suas interações apenas processos

psicológicos elementares – sensações, percepções imediatas, memória direta,

etc. –, para um ser cultural, que utiliza processos psicológicos superiores, como

atenção, percepção, memória indireta, imaginação, etc.

No caso de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais,

a importância no modo como a mediação é realizada é de suma relevância, tendo

em vista que a sua finalidade deve ser propiciar a este alunado instrumentos

alternativos para sua aprendizagem. Nesta direção, pesquisas como as de

Smolka e Nogueira (2002), Valente (1993, 1997, 2001), Oliveira (2001), dentre

outras apontam o computador como um dos instrumentos alternativos de uso

significativo e que apresenta inúmeras possibilidades nas ações que envolvem a

leitura e a escrita.

Os alunos de 5ª a 8ª séries da sala de recursos, locus desta pesquisa,

apresentavam, no momento da intervenção, dificuldades acentuadas na leitura e

na escrita, demandando, portanto, novas estratégias pedagógicas. Em 2010, a

escola foi contemplada com o recebimento de dois computadores para serem

utilizados como instrumento tecnológico educacional; no entanto, sem nenhuma

proposta que pudesse minimizar as dificuldades apresentadas pelos alunos com

necessidades educacionais especiais.

Apesar de o computador se apresentar como um recurso alternativo no

processo de aprendizagem, é preciso que o professor saiba como mediar ações

para seu uso junto aos alunos que apresentam algum tipo de deficiência, de modo

que eles possam avançar na apropriação da leitura e da escrita. Nesse sentido, a

luta pela inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais aponta

para um questionamento: Como utilizar o computador enquanto um recurso

alternativo para o ensino e desenvolvimento da leitura e da escrita dos alunos da

sala de recursos?

As dificuldades da leitura e da escrita apresentadas por alunos da sala de

recursos das séries finais do Ensino Fundamental necessitam de intervenção

pedagógica que se apresente como proposta e instrumento de mediação, de

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modo a fazer com que o uso do computador possa servir como meio alternativo

de intervenção, objetivando criar condições a esses alunos tanto para a

apropriação do processo de leitura e de escrita quanto de seu desenvolvimento

psíquico.

Nesta direção, este artigo é fruto de uma intervenção pedagógica em uma

escola pública, pautada por uma revisão bibliográfica.

1.1 Aprendizagem e Desenvolvimento

Como referencial teórico para o desenvolvimento deste trabalho

pedagógico, que resultou no artigo em tela, assumimos a perspectiva histórico-

cultural proposta por Vygotsky, que nos aponta que, ao conceber o sujeito, mais

especificamente neste estudo, alunos que apresentam necessidades

educacionais especiais, para além dos aspectos biológicos, é possível

compreender que a superação das dificuldades apresentadas depende, em

grande parte, do modo como interagimos e dos elementos mediadores que

utilizamos para intervir no processo educacional.

Embora Vygotsky tenha vivido num contexto distinto, ele legou

consistentes teorizações para a área educacional, contribuindo para pensar sobre

o desenvolvimento humano e o aprendizado, evidenciando suas relações

(OLIVEIRA, 2001). Para o autor, vivemos num mundo organizado para interagir

com o desenvolvimento típico e, sendo assim, os objetos da cultura, construídos

pelo homem, ao serem utilizados na efetivação de uma dada atividade educativa,

nem sempre atendem a todos os envolvidos, sobretudo na escola, gerando,

portanto, dificuldades.

O desenvolvimento e o aprendizado, segundo Vygotsky (apud COLE et

al., 2007), são processos distintos, mas interagem mutuamente. Ele considera

que o aprendizado inclui interação social, destacando a relevância dos aspectos

socioculturais. Desenvolveu a tese de que o aprendizado propicia o

desenvolvimento e que “[...] é um aspecto necessário e universal do processo de

desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e

especificamente humanas” (p.103).

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Oliveira (2001) não só concorda com esta ideia, como lembra que “a

escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico adulto dos

indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas” (p. 61). Avançando nesta

perspectiva, Vygotsky ressalta que:

É a sociedade e não a natureza que deve figurar em primeiro lugar como fator determinante do comportamento do homem. Nisso consiste toda a idéia de desenvolvimento cultural. [...] Ao falar do desenvolvimento cultural da criança, nos referimos ao processo que corresponde ao desenvolvimento psíquico que se produz entrelaçado ao desenvolvimento histórico da humanidade (VYGOTSKY, 1995, apud SMOLKA; NOGUEIRA, 2002, p. 80).

Vygotsky (apud OLIVEIRA, 2001) considera a relação do homem com o

mundo fundamentalmente mediada, e diferencia dois tipos de mediadores: o uso

de instrumentos – do plano externo ao homem, colaborando nas ações concretas

– e de signos – orientados para o próprio indivíduo, auxiliando nos processos

psicológicos superiores.

Segundo o autor, o uso de instrumentos e de signos (como a linguagem)

possibilita ao ser humano passar de um ser biológico, com seus processos

psicológicos elementares – sensações, percepções imediatas, memória direta,

etc. –, para um ser cultural que se utiliza dos processos psicológicos superiores,

tais como: atenção, percepção, memória indireta, imaginação (OLIVEIRA, 2001).

Postula Vygotsky que, quando o homem se apropria dos signos, abre-se

a possibilidade de pensar por meio do simbólico, devido ao desenvolvimento dos

processos psicológicos superiores, que formarão o pensamento. Pontua ainda

que, no processo de construção do pensamento, o uso de marcas externas

pressupõe o processo de internalização e a utilização de sistemas simbólicos, que

organizam os signos em estruturas complexas e articuladas. Ao longo do

processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externas

e passa a utilizar signos internos, isto é, representações mentais que substituem

os objetos do mundo real (OLIVEIRA, 2001).

Sob esta perspectiva, vale lembrar que:

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Instrumentos e símbolos constituem os dois meios de produção da cultura. [...] esses dois meios, de natureza tão diferente, têm em comum o fato, já apontado por Vigotski, de serem mediadores da ação humana – sobre a natureza, no caso do instrumento, e sobre as pessoas, no caso do símbolo –; [...] ambos são já produtos dessa mesma ação humana. Ora, o que define o produto da ação humana é que ele é a concretização da idéia que dirige a ação. [...] todas as produções humanas, ou seja, aquelas que reúnem as características que lhes conferem o sentido do humano, são produções culturais e se caracterizam por serem constituídas por dois componentes: um material e outro simbólico, um

dado pela natureza e outro agregado pelo homem (PINO, 2005, p. 90‐91, grifo do autor).

Cabe destacar que, na relação com o outro, “[...] o homem produz

instrumentos auxiliares – técnicos e simbólicos – que constituem sua atividade

prática, mental, possibilitando a ele transformar o mundo enquanto ele próprio se

constrói simbólica, histórica e subjetivamente” (SMOLKA; NOGUEIRA, 2002, p.

82).

Oliveira (2001) lembra que, a partir da teoria de Vygotsky, passou-se a

entender que: “[...] o homem biológico transforma-se em social por meio de um

processo de internalização de atividades, comportamentos e signos culturalmente

desenvolvidos” (p. 102).

Corroborando, Mello (2004) expressa que:

[...] as funções psíquicas humanas, como a linguagem oral, o pensamento, a memória, o controle da própria conduta, a linguagem escrita, o cálculo, antes de se tornarem internas ao indivíduo, precisam ser vivenciadas nas relações entre as pessoas: não se desenvolvem espontaneamente, não existem no indivíduo como uma potencialidade, mas são experimentadas inicialmente sob a forma de atividade interpsíquica (entre pessoas) antes de assumirem a forma de atividade intrapsíquica (dentro da pessoa) (p. 141).

Com base no pressuposto de mediação e de como esta pode ser

efetivada para o desenvolvimento humano, Vygotsky formula o conceito de Zona

de Desenvolvimento Proximal para explicar como ocorre o processo de

aprendizado e desenvolvimento. Teoriza o autor que existem dois níveis de

desenvolvimento: o real e o potencial. O nível real se refere às soluções

independentes, ou seja, às conquistas consolidadas, indicando os processos

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mentais que já se estabeleceram, e o nível potencial corresponde àquilo que se é

capaz de fazer mediante a intervenção de outra pessoa. Entre o desenvolvimento

real e o desenvolvimento potencial, existe a Zona de Desenvolvimento Proximal

(ZDP), que define aquelas funções que estão em processo de maturação, as

quais devem ser estimuladas por meio da mediação (OLIVEIRA, 2001).

Vygotsky caracteriza a Zona de Desenvolvimento Proximal como:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, apud COLE et al., 2007, p. 97).

No campo da defectologia3, Vygotsky (1997) aponta para o fato de que as

leis gerais do desenvolvimento são iguais para todas as crianças, embora não

desconsidere os prejuízos orgânicos de alguns indivíduos ao nascerem. No

entanto, destaca que a maioria dos casos de deficiência necessita de uma

educação adequada, na qual o mais importante para o desenvolvimento dessa

pessoa é a mediação dos fatores sociais e psicológicos, obtendo maior grau de

sucesso quando se interage diretamente na Zona de Desenvolvimento Proximal.

Tomando por base as premissas acima, entendemos que refletir sobre a

mediação relacionada à intervenção promovida no espaço educacional é de

extrema importância, uma vez que a escola é um dos espaços onde o indivíduo

se apropria do conhecimento e se desenvolve (OLIVEIRA, 2001).

No caso de indivíduos com necessidades educacionais especiais, há

maior exigência da participação do outro e de uso de instrumentos culturais, por

serem mecanismos que possibilitam a aprendizagem e a superação da

dificuldade. Góes (2002) reforça tal afirmação ao lembrar que, na condição de

deficiência, as formas culturais precisam ser criadas de modo singular, já que, de

acordo com Vygotsky, elas poderão mobilizar forças compensatórias e, nesta

exploração, caminhos alternativos para o desenvolvimento serão construídos.

3 De acordo com Vygotsky (1997), defectologia consiste em estudos de pessoas com deficiência

ou transtornos de desenvolvimento.

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Vygotsky denomina ações compensatórias aquelas que utilizam

instrumentos alternativos ou especiais para a mediação na aprendizagem do

aluno com deficiência, e estas devem ser efetivas, auxiliando os alunos em seu

desenvolvimento intelectual. Sob esta perspectiva, convém lembrar as palavras

de Góes (2002) quando afirma que “[...] caminhos alternativos e recursos

especiais não são peças conceituais secundárias na compreensão desse

desenvolvimento” (p. 105-106). Dessa forma, a autora destaca a concepção

ampla dos caminhos alternativos, por se apresentarem como recursos especiais e

auxiliares nos procedimentos para promoção da interação social e do

desenvolvimento potencial desses alunos (GÓES, 2002).

1.2 O computador como instrumento alternativo de mediação

O uso do computador vem tomando, na atualidade, um lugar de destaque.

Além de sua funcionalidade e praticidade, o computador é considerado por

Valente (1997) um instrumento cultural que poderá promover mudanças no

desenvolvimento humano. Primeiro, porque aquele que o utiliza é visto como

alguém que se sente participante de um grupo social e, segundo, porque o seu

uso facilita algumas ações, na medida em que pode realizar variações de

atividades para a aprendizagem.

Para Galvão Filho e Damasceno (2006), o computador é um dos recursos

tecnológicos disponíveis em alguns ambientes escolares, considerado como uma

Tecnologia Assistiva4, e que pode ser utilizado no processo de ensino e

aprendizagem por intermédio de programas específicos para alunos com

necessidades educacionais especiais. Os autores assim a caracterizam:

São consideradas Tecnologias Assistivas, portanto, desde artefatos simples, como uma colher adaptada ou um lápis com uma empunhadura mais grossa para facilitar a preensão, até sofisticados programas especiais de computador que visam à acessibilidade (GALVÃO FILHO; DAMASCENO, 2006, p. 26).

4 “[...] uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (ABTECA - Associação Brasileira de Tecnologia Assistiva, 2010, s/p).

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Os autores supracitados esclarecem que a Tecnologia Assistiva vem

facilitar a participação, enriquecer a comunicação e a aprendizagem dos alunos

com necessidades educacionais especiais graças às várias possibilidades que

oferece.

No entanto, Valente (1993) destaca que o uso do computador não deve

ser considerado uma máquina de ensinar, e sim uma “[...] ferramenta educacional,

uma ferramenta de complementação, de aperfeiçoamento e de possível mudança

na qualidade de ensino” (p. 5).

Nesta perspectiva, o computador é um dos instrumentos de acessibilidade

às pessoas com necessidades educacionais especiais nas diversas áreas, por

oferecer recursos físicos e tecnológicos, possibilitando-lhes a participação em

diferentes atividades escolares e sociais (GALVÃO FILHO; DAMASCENO, 2006).

Este instrumento possui inúmeros recursos de comunicação, trabalho e

entretenimento, que propõem amplas possibilidades pedagógicas, as quais

permitem compartilhar, interagir, construir conhecimentos de forma prazerosa,

dinâmica e inovadora, tornando-se excelente meio para aprimorar a prática

escolar e inovar o processo de ensino e aprendizagem. Sancho (2006) destaca

que:

Os cenários de socialização das crianças e jovens de hoje são muito diferentes dos vividos pelos pais e professores. O computador, assim como o cinema, a televisão e os videogames atraem, de forma especial, a atenção dos mais jovens que desenvolvem uma grande habilidade para captar suas mensagens (p. 19).

Nesta direção, o uso do computador vem sendo apontado como um

instrumento facilitador da aprendizagem, que oferece oportunidades inovadoras

de promoção do desenvolvimento pessoal e social. Basso (2000) caracteriza-o

como um instrumento mediador, que contribui para que o professor atue nesta

mediação de forma favorável ao desenvolvimento e aprimoramento das

habilidades que envolvem a observação, o pensamento, a comunicação, a

criatividade. Concomitantemente, promove a possibilidade de o aluno atuar e construir

seu próprio conhecimento, refletindo, analisando, revendo e refazendo, se for o caso, o

que lhe está sendo proposto. Acrescenta a autora que esta dinâmica favorece a

aprendizagem por contemplar a sala de aula, transformando-a em um ambiente

estimulante, criativo, favorável à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos.

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Corroborando, Pinto (2010) ressalta, em sua pesquisa, que alunos que

tiveram acesso ao computador na exploração de determinado conteúdo

demonstraram persistência e qualidade de envolvimento na atividade, revelando

interesse e motivação intrínseca em sua realização, o que contribuiu

positivamente para a aprendizagem.

A utilização apropriada do computador na área educacional favorece a

diversificação de metodologias e estratégias pedagógicas, contribuindo para que

as aulas se tornem mais criativas, motivadoras e, consequentemente, promotoras

de aprendizagem (NASCIMENTO, 2007).

Valente (2001, p. 29) acrescenta que: “[...] o computador pode ser um

recurso flexível, passível de ser adaptado às diferentes necessidades de cada

indivíduo”, enfatizando que “[...] permite o desenvolvimento de produtos que têm

uma assinatura intelectual, porque são feitos com o conhecimento de que o

aprendiz dispõe, com seu estilo e criatividade” (p. 31).

Desta forma, o computador passa a ser mais um recurso alternativo no

processo de ensino e de aprendizagem possibilitando aos alunos com

necessidades educacionais especiais, por intermédio de intervenções específicas

e adequadas, a construção do conhecimento e do desenvolvimento de

habilidades, de modo a estimular a percepção, a atenção, a memória, a reflexão,

a elevação da autoestima, o trabalho colaborativo e o pensamento crítico.

1.3 O professor e o domínio nas práticas com o computador

É interessante dar relevo que o processo de aprendizagem envolve um

compartilhamento entre aquele que aprende e os mediadores, articulado a

aspectos sociais. Estes devem ocorrer de forma participativa e colaborativa, por

meio de atividades significativas, em que os alunos atuem ativamente para

garantir a apropriação do conhecimento (MELLO, 2004). É neste sentido que o

uso do computador pode transformar o ato de ler e escrever em atividades

significativas se observados e explorados temas de interesse do aluno, para que

atuem de forma apropriada a atender às necessidades específicas e à superação

das dificuldades encontradas.

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Para corresponder a esta expectativa, o uso adequado do computador em

sala de aula precisa envolver um processo constante de formação do professor

numa perspectiva crítica e reflexiva, na qual se estabeleçam reflexões na ação e

sobre a ação, para que, em suas aplicações, possam criar novas possibilidades

em torno do que se propõe e espera alcançar (ALMEIDA, apud BRASIL, 2000).

Cabe destacar que o domínio deste recurso tecnológico e pedagógico é

responsável pela “[...] criação de ambientes de aprendizagem que propiciem ao

aluno a representação de elementos do mundo, em contínuo diálogo com a

realidade, e apóiem suas construções e o desenvolvimento de suas estruturas

mentais” (ALMEIDA, apud BRASIL, 2000, p. 40). Neste sentido, o professor bem

preparado é componente fundamental para que a tecnologia computacional possa

promover “[...] a aquisição do conhecimento, o desenvolvimento de diferentes

modos de representação e de compreensão do pensamento” (ALMEIDA, apud

BRASIL, 2000, p. 12).

Complementando, Valente (1993) alerta que a utilização do computador

nas práticas educativas não deve estar relacionada apenas ao modismo ou,

ainda, à substituição do livro didático, mas sim ser vista como uma ferramenta

educacional que possa contemplar a participação ativa dos alunos, suas

necessidades educacionais e os diferentes conteúdos curriculares que beneficiem

a promoção da aprendizagem, o desenvolvimento intelectual e o aprimoramento

de habilidades específicas, contribuindo para o enfrentamento de novos desafios.

Diante disso, cabe destacar, a importância do papel do professor, assim

compreendido:

[...] o educador é aquele orientado prospectivamente, atento à criança, às suas dificuldades e, sobretudo, às suas potencialidades, que se configuram na relação entre a plasticidade humana e as ações do grupo social. É aquele que é capaz de analisar e explorar recursos especiais e de promover caminhos alternativos; que considera o educando como participante de outros espaços do cotidiano, além do escolar; que lhe apresenta desafios na direção de novos objetivos; que o considera integralmente, sem se centrar no não, na deficiência (GÓES, 2002, p. 107, grifo da autora).

Em sua experiência com alunos que apresentam necessidades

educacionais especiais, por meio do uso de ambientes computacionais,

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Santarosa (1996) destaca pontos positivos de desenvolvimento e crescimento

pessoal:

Cognitivamente, observamos saltos qualitativos no que se refere à leitura/escrita, não somente por sujeitos pré-silábicos, mas também por alfabéticos nas dimensões ortográficas e semânticas. Observamos ainda ganhos do ponto de vista psicomotor relacionado à coordenação motora, memória e atenção, bem como do ponto de vista sócio-objetivo por aspectos referentes à auto-estima, valorização pessoal e disposição para o trabalho com o outro, decorrendo disso a cooperação mútua e o pensar coletivo (p. 16, grifo da autora).

2 Desenvolvimento

A esfera digital compreende um conjunto de gêneros textuais que podem

contribuir no processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, como:

softwares educativos, recursos aplicativos (Word e Power Point), blogs, fóruns e

vários outros ambientes da internet, como os que dão acesso a livros digitais e

ambientes animados que interagem com o indivíduo (cartões animados, músicas

e poemas).

A Wikipédia (2009) define software educativo como aquele cujo propósito

é o ensino ou o autoaprendizado. O seu objetivo principal é contribuir para que o

aprendiz obtenha novos conhecimentos, fazendo uso do software, tendo prazer

em lidar com ele, complementando que o uso do computador como ferramenta

educacional tem se mostrado útil e proveitoso no processo de ensino-

aprendizagem. Contudo, é importante frisar, que o software educativo não deve

ser tomado como algo que independe da orientação de mediadores.

Com esta preocupação presente no desenvolvimento da proposta de

implementação pedagógica, subsidiada pela discussão em tela, o computador foi

pensado e apresentado como um instrumento alternativo na aprendizagem da

leitura e da escrita dos alunos da sala de recursos.

Para tanto, inicialmente, fizemos o diagnóstico das dificuldades dos

alunos, detectadas por uma atividade denominada “Chuva de Ideias”, cujo tema

era: computador. Além do diagnóstico, tal atividade serviu para a percepção da

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compreensão de cada um a respeito da tecnologia e suas possibilidades.

Complementou-se essa atividade com a leitura de um texto de um jornal local a

respeito da informática nas escolas públicas, de forma a fornecer subsídios

acerca dos objetivos propostos. Foi oferecido aos alunos, ainda, o acesso a

diversos endereços eletrônicos, lugar de exploração de diferentes gêneros

textuais virtuais, como, por exemplo: textos literários, informativos, HQs, poéticos

e cartões virtuais.

No momento da utilização do instrumento de comunicação virtual e-mail,

foi apresentado o texto “O e-mail”, do livro didático dos alunos (Língua

Portuguesa), também disponível na internet, para compreensão da conceituação

e utilização desta ferramenta, tendo sido vivenciado pelos alunos a prática do

envio de e-mails. Essa atividade oportunizou a eles interagirem com os demais

colegas e a com a professora de forma prazerosa.

A proposta de implementação também buscou dar a conhecer o uso do

software educativo “Luz das Letras” (PARANÁ, 2010) um programa relacionado

ao processo de alfabetização de jovens e adultos que apresenta diferentes

opções de atividades e textos destinados a contribuir com o processo de

aprendizagem.

Ao ser explorado, o interesse dos alunos se fixou em textos poéticos e

paródias, dos quais foi escolhido o texto “Vaca Estrela e Boi Fubá”, com o qual foi

trabalhado: leitura, ritmo, observação e interpretação (inclusive das imagens),

linguagem formal e informal, a biografia do autor, localização das regiões

brasileiras (geografia), caracterização da fauna, entre outros conteúdos

apontados pelos alunos.

Vale destacar que estes meios e demais recursos pedagógicos

computacionais devem ser muito bem estudados, analisados e planejados pelo

professor antes de serem utilizados no contexto da sala de aula, uma vez que,

como mediador, ele deverá conhecer tais caminhos alternativos para conseguir

alcançar os objetivos propostos.

A visita ao software “Atividades Educativas”, especial à área de Língua

Portuguesa, proporcionou a realização de atividades de leitura e escrita por meio

de jogos, envolvendo conhecimento de ortografia, estimulando a atenção,

concentração e memória, enquanto os alunos, de forma lúdica, enriqueciam seu

vocabulário.

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Além destes softwares, alguns recursos aplicativos, como o Word e o

PowerPoint, contribuíram para estimular a produção escrita de forma mais

elaborada, criativa, propiciando um enriquecimento da estrutura textual, inclusive

em seus aspectos ortográficos e gramaticais, atendendo a objetivos específicos.

Com a realização dessas experiências junto aos alunos, pudemos

apreender que estas atividades, com a mediação do professor, podem contribuir

para a retomada de conteúdos significativos para o processo de construção do

conhecimento, levando em consideração as dificuldades educacionais

diagnosticadas previamente.

3 Conclusão

Após ter lido todo referencial bibliográfico levantado, que foi previsto no

Projeto e descrito neste Artigo, e ter realizado o trabalho de intervenção

pedagógica junto aos alunos da sala de recursos, de acordo com as atividades

apresentadas acima, é possível afirmar que os objetivos de nossa Proposta de

Implementação foram alcançados.

Verificados os resultados, é possível afirmar que o computador serve

como Instrumento Alternativo na aprendizagem da leitura e da escrita para alunos

da sala de recursos, tanto quanto pode auxiliar esta proposta de ensino aos

demais grupos de alunos. Esta afirmação se pauta na constatação de que o

computador contribuiu no desenvolvimento das atividades, proporcionando

momentos de significativa aprendizagem.

A formação do professor para o uso desta tecnologia também é

imprescindível, ele deverá contar com capacitação específica para o uso do

computador, além de muita criatividade, para que as práticas desenvolvidas

sejam motivadoras e possibilitem aos alunos utilizarem-se desse instrumento de

acordo com os objetivos estabelecidos.

Os resultados obtidos e que não haviam sido previstos serviram como

fonte de pesquisa e de enriquecimento para planejamentos posteriores, levando

sempre em consideração as necessidades educacionais especiais destes alunos.

Além disso, serviram para que a comunidade escolar tomasse conhecimento

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dessa proposta e de seus objetivos, percebendo e valorizando o computador

como recurso alternativo no processo educacional.

A implementação desta proposta pedagógica também foi socializada e

discutida com o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, que tem como público

professores da rede pública estadual, interessados no mesmo tema e que se

inscreveram para discutir esta produção e as atividades desenvolvidas. O GTR

desenvolveu-se em três etapas: a primeira delas discutiu o Projeto de Intervenção

Pedagógica; a segunda envolveu diretamente a Produção Didático-Pedagógica e

a terceira etapa referiu-se à efetivação do Projeto na Escola.

O trabalho com o GTR foi importante para a discussão e encaminhamento

das estratégias de ação que estavam previamente definidas no Projeto de

Implementação. Os professores tiveram a oportunidade de colaborar com a

autora durante as etapas do processo de execução.

Agora, oportunamente, os resultados são divulgados neste artigo final,

esclarecendo que o sucesso do trabalho dependeu da orientação dos

profissionais da Universidade Estadual de Londrina – UEL, Instituição de Ensino

Superior vinculada à Secretaria de Estado da Educação do Paraná, no Programa

de Desenvolvimento Educacional; da aceitação da Escola para a efetivação da

Produção; da participação dos alunos e do trabalho, da professora PDE,

direcionado ao cumprimento dos objetivos do tema.

De qualquer forma, essa Implementação pedagógica não estancou o

assunto, muito pelo contrário, instigou os alunos e professores da escola a

encontrarem novas perspectivas para o uso do computador enquanto recurso

didático, por terem compreendido que ele é um meio e não um fim em si mesmo.

Referências

ABTECA. Associação Brasileira de Tecnologia Assistiva. Missão. 2010. Disponível< http://www.abteca.org.br/abteca.html>. Acesso em: 23 abr. 2012. BASSO, Cíntia Maria. Algumas reflexões sobre o ensino mediado por computador. Revista Linguagem e Cidadania, ed. 004, dez. 2000. Disponível em: <http://www.ufsm.br/lec/02_00/Cintia-L&C4.htm>. Acesso em: 12 jun. 2011.

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