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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PROGRAMA DE MESTRADO EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA DANIELA CAMPOS DE ANDRADE LOURENÇÃO COMPETÊNCIAS GERENCIAIS NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO Itajaí (SC) 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PROGRAMA DE MESTRADO EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SAÚDE DA FAMÍLIA

DANIELA CAMPOS DE ANDRADE LOURENÇÃO

COMPETÊNCIAS GERENCIAIS NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO

Itajaí (SC)

2008

DANIELA CAMPOS DE ANDRADE LOURENÇÃO

COMPETÊNCIAS GERENCIAIS NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO

.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí como requisito para obtenção do título de Mestre - área de concentração em Saúde da Família.

Orientadora: Dra. Gladys Amélia Vélez Benito.

Itajaí (SC) 2008

_____________________________________________________________________ Lourenção, Daniela Campos de Andrade L892c Competências gerenciais na formação do enfermeiro / Daniela Campos de Andrade Lourenção. - 2008. 123 f.: il. Orientadora: Gladys Amélia Vélez Benito. Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí, Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho. Bibliografia: f. 105-111. 1. Enfermagem. 2. Enfermagem - Orientação profissional.

3. Serviços de enfermagem – Administração. 4. Promoção da saúde. I. Benito, Gladys Amélia Vélez. II. Universidade do Vale do Itajaí, Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho. III. Título.

CDD 610.73

_____________________________________________________________________

DANIELA CAMPOS DE ANDRADE LOURENÇÃO

COMPETÊNCIAS GERENCIAIS NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO

Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre e

aprovada pelo Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho

da Universidade do Vale do Itajaí.

Área de Concentração: Saúde da Família

Itajaí, 21 de maio de 2008.

Profª. Dra. Gladys Amélia Vélez Benito

UNIVALI – Presidente

Orientadora

Profª. Dra. Aida Maris Peres

UFPR – Membro externo

Profª. Dra. Rosita Saupe

UNIVALI – Membro Interno

Ad suma quisque contendat, sic enim futurum médium ut teneat.

Cada um lute pelo máximo para que, assim, venha a ter o justo.

Na família, a estrutura da vida.

Nos filhos, a essência da vida.

No marido, o compartilhar da vida.

A eles, todos.

AGRADECIMENTOS À professora doutora Gladys Amélia Vélez Benito, pelo apoio em minha vida

profissional, com suas ponderações e orientações, no transcorrer deste fecundo

processo de aprendizado desenvolvido no mestrado e nesta pesquisa.

À professora doutora Rosita Saupe, pela sua infinita paciência e delicadeza

como educadora na condução de suas explicações sobre esta dissertação.

À professora doutora Aída Maris Peres, pela sua disposição em participar

desta banca de defesa de dissertação e valorosa contribuição da sua tese de

doutorado na construção deste relatório de estudo.

À essência da minha vida, meus filhos, Gabriela, Filipe e Luísa, que todas as

palavras ainda seriam insuficientes para representar os seus significados.

Aos meus pais, Aloísio e Cecília, por sua dedicação integral, manifestos de

confiança e orgulho.

Ao meu marido, Reinaldo, por exercitar sua paciência ao esperar minhas

longas ausências e assumir minhas responsabilidades maternas, possibilitando-me,

assim, tempo para me dedicar à construção deste estudo.

A minha irmã, Flávia, e seus filhos, por compartilhar os passos e pela torcida

em todos os momentos.

À Universidade Regional de Blumenau – FURB, e à coordenação do curso de

Enfermagem, pela oportunidade de realizar este estudo e disponibilizar os

documentos pedagógicos.

Aos colegas, docentes do Departamento de Enfermagem, pelo apoio e

consideração durante este longo percurso.

Aos amigos das idas e vindas, das discussões filosóficas, das risadas

compartilhadas, do apoio mútuo e dos almoços regados a vinho, Jerry, Rodrigo,

Rosana e Wanda. Vocês se tornaram amigos especiais ao dividirmos este

crescimento profissional e intelectual.

Aos alunos e orientandos que me acompanharam nestes momentos, por suas

palavras de incentivo e encorajamento.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - O Processo de Trabalho de Enfermagem .....................................................31

Quadro 2 – Percurso da Construção do Referencial .......................................................34

Quadro 3 – Mudança de Paradigma de Eficiência para Competência .........................36

Quadro 4 – Atribuições e Competências do Governo ..............................................................40

Quadro 5 – Elementos do Processo de Gestão ...............................................................41

Quadro 6 - Percurso Metodológico .....................................................................................46

Quadro 7 – Estrutura Curricular do Curso de Enfermagem ...........................................48

Quadro 8 – Operacionalização da Análise Documental..................................................51

Quadro 9 - Representação da Análise da Categorização...............................................52

Quadro 10 – Fases do Curso de Graduação em Enfermagem da

Universidade Regional de Blumenau – SC. ......................................................................58

Quadro 11– Representação dos quadros de análise. .....................................................61

Quadro 12 – Categoria empírica planejamento das ações.............................................62

Quadro 13 – Categoria empírica Saúde: Promoção e Vigilância ..................................73

Quadro 14 – Categoria empírica: Trabalho interdisciplinar em saúde..........................81

Quadro 15 – Categoria empírica: Abordagem integral do ser humano/família/grupo

social ........................................................................................................................................86

Quadro 16 – Categoria empírica: Abordagem da gestão do trabalho em saúde........90

LISTA DE SIGLAS

AACC Atividades Acadêmicas Científico-Culturais

CNE Conselho Nacional de Educação

CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

DCN/ENF Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem

DEGES Departamento de Gestão da Educação na Saúde

EP Educação permanente

FAPESC Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do

Estado de Santa Catarina

FURB Universidade Regional de Blumenau

IES Instituição de Ensino Superior

Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministério de Educação

MS Ministério da Saúde

NOB-RH/SUS Norma Operacional Básica sobre Recursos Humanos do

Sistema Única de Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

Opas Organização Pan-americana de Saúde

PES Planejamento Estratégico Situacional

PNPS Política Nacional de Promoção de Saúde

PNSST Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador

PPPG Projeto Político Pedagógico dos Cursos de Graduação

PPC Projeto Pedagógico de Curso

Pró-Saúde Programa de Reorientação Profissional em Saúde

SESu Secretaria de Ensino Superior

SGTES Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

LOURENÇÃO, D. C. de A. Competências gerenciais na formação do enfermeiro. 2008. 123 f. Dissertação (Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho) - Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí. 2008. Orientadora: Dra. Gladys Amélia Vélez Benito

RESUMO

A complexidade do campo de atuação dos profissionais da saúde exige o desenvolvimento de competências, traduzidas em conhecimentos, habilidades e atitudes, que possibilite a atuação multiprofissional na promoção da saúde, pressupondo que as competências gerenciais devem permear a formação profissional do Enfermeiro e fundamentar o processo de trabalho, com base na concepção do gerenciamento como eixo norteador para o cuidado de Enfermagem. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi identificar a inserção dessas competências gerenciais na formação do Enfermeiro, por meio do estudo dos documentos pedagógicos, planos de ensino e do Projeto Pedagógico do Curso de Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau, SC. Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa, que utilizou a análise de conteúdo dos registros a partir dos documentos pedagógicos do curso estudado. O estudo foi desenvolvido com base no referencial teórico das competências gerenciais e educação profissional. Foi utilizado um instrumento de categorização das competências gerenciais, onde os atributos de gestão foram elencados nas categorias e subcategorias pré-definidas. Isto produziu um total de oitenta subcategorias, que propiciou um estudo em profundidade, e de onde emergiram as lacunas elencadas como contribuição do estudo. O conteúdo dos documentos pedagógicos aponta que os conhecimentos, habilidades e atitudes são contemplados na formação do enfermeiro, mas cabe ressaltar as lacunas evidenciadas: as relações de poder no processo de trabalho em saúde e sua interferência na gestão de saúde; a participação e controle social no planejamento e execução das ações de saúde; a inserção dos determinantes da qualidade de vida descritos na PNPS, relativos ao tabagismo, uso abusivo de álcool e drogas, morbi-mortalidade dos acidentes de trânsito, prevenção de violência e desenvolvimento sustentável, devido à sua relevância para o desenvolvimento regional; as teorias de trabalho em grupo; a legislação trabalhista; e as necessidades da equipe de profissionais da Saúde. O estudo aponta temas para a discussão em grupo com os docentes do curso estudado, visando à construção coletiva dos ajustes das lacunas evidenciadas. O desenvolvimento deste estudo proporcionou uma imersão na complexidade da formação profissional do Enfermeiro e da gestão, refletindo num crescimento do conhecimento gerencial e do Sistema de Saúde, imprescindíveis para a atuação profissional. Palavras-Chave: Competência Profissional, Formação de Recursos Humanos, Gerência, Pesquisa em Educação de Enfermagem1.

1 Descritores registrados no site: http://decs.bvs.br/

LOURENÇÃO, D. C. de A. Management Competencies in nursing training. Dissertation Master’s Degree in Health and Management of Work – Master’s Degree Program in Health and Management of Work, University of Vale do Itajaí, Itajaí. 2008. 123 f. Supervisor: Dr. Gladys Amélia Vélez Benito

ABSTRACT

The complexity of the area of practice of Health professionals requires the development of competences, translated into knowledge, abilities and attitudes, which enable multiprofessional performance in the promotion of health, taking the premise that management competences should permeate nurses’ professional training and form the basis of the work process, based on the concept of management as a guiding axis for nursing care. Thus, the objective of this research was to identify the insertion of these management competences in nurse training, through the study of the teaching documents, teaching plans and Teaching Curricula of the Nursing Course of the Universidade Regional de Blumenau, Santa Catarina. It is a descriptive and exploratory research, with a qualitative approach, which uses content analysis of the records based on the teaching documents of the course analyzed. The study was developed using the theoretical framework of management competences and professional education. A tool was used to categorize the management competences, in which management attributes were listed in pre-defined categories and subcategories. This produced a total of eighty subcategories, enabling a more in-depth study, and revealing the gaps listed as a contribution of this study. The content of the teaching documents indicates that knowledge, skills and attitudes are included in the nurses’ training, but the gaps found also need to be mentioned: the power relationships in the work process in health and its influence on health management; participation and social control in the planning and execution of health actions and; the inclusion of the determining factors of quality of life described in the PNPS (National Policy for Health Promotion) in relation to smoking, the abusive use of alcohol and drugs, morbid-mortality of traffic accidents, prevention of violence, and sustainable development, due to their importance for regional development; theories of group work; the labor legislation; and the needs of the team of health professionals. The study proposes themes for group discussion among teachers of the course studied, aiming at the collective construction of adjustments to fill the gaps identified. The development of this study provided an immersion in the complexity of professional nurse training, and management, revealing a growth in management knowledge and knowledge of the Health System which are indispensable for professional performance. Key words: Professional Competence, Training of Human Resources, Management, Research in Nursing Education2.

2 Key words registered on the website: http://decs.bvs.br/

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13

1.1 Aspectos iniciais ...............................................................................................13

1.2 Organização do estudo.....................................................................................16

CAPÍTULO 2

2 CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA .....................................................................18

2.1 Breve recorte do modelo de atenção à saúde do SUS...................................18

2.2 Processo de trabalho em saúde e na Enfermagem........................................21

2.3 Formação de recursos humanos na Saúde ....................................................24

2.4 LDB e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem..................27

2.5 Gerenciamento em Enfermagem .....................................................................31

CAPÍTULO 3

3 MARCO TEÓRICO ................................................................................................34

3.1 Competências .....................................................................................................35

3.2 Competências Gerenciais ...................................................................................38

3.3 Competências gerenciais e a educação profissional do Enfermeiro ...................42

CAPITULO 4

4 PERCURSO METODOLÓGICO ...........................................................................44

4.1 Primeiro momento ...............................................................................................46

4.2 Segundo momento ..............................................................................................48

4.3 Terceiro momento ...............................................................................................52

4.4 Contextualização do cenário do curso de graduação em Enfermagem ..............53

CAPÍTULO 5

5 ANÁLISE DO ESTUDO .........................................................................................60

5.1 Planejamento das ações .....................................................................................62

5.2 Saúde: promoção e vigilância .............................................................................73

5.3 Trabalho interdisciplinar em saúde......................................................................81

5.4 Abordagem integral do ser humano/família/grupo social ....................................86

5.5 Abordagem da gestão do trabalho em saúde......................................................90

CAPÍTULO 6

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONTRIBUIÇÕES.................................................99

6.1 Considerações finais: em busca de uma síntese ................................................99

6.2 Contribuições do estudo....................................................................................102

13

CAPÍTULO 1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Aspectos iniciais

No Brasil, a construção de um novo modelo de atenção à saúde, com a

implantação do Sistema Único de Saúde – SUS, institucionalizou o direito à saúde a

todos os cidadãos brasileiros, e teve origem em movimentos políticos e sanitários

iniciados na década de 1970 (BRASIL, 2007). As estratégias de mudança do

sistema de saúde formaram-se no processo de democratização, visando à formação

de um sistema de saúde público e universal.

A promoção dos direitos básicos de cidadania é fundamentada nas políticas

públicas brasileiras, entre elas a Saúde, a Seguridade Social, a Previdência e a

Assistência Social. O Ministério da Saúde (2007, p. 33) descreve o sistema de saúde

nacional como “o conjunto das ações e de serviços de saúde sob gestão pública.

Está organizado em redes regionalizadas e hierarquizadas e atua em todo o

território nacional, com direção única em cada esfera de governo”. O Sistema Único

de Saúde faz parte de uma política pública recente, e enfrenta desafios na sua

implementação, um dos quais é a formação de recursos humanos para a Saúde.

O conhecimento requerido para o exercício de uma profissão regulamentada

está vinculado a um processo ensino-aprendizagem direcionado à educação

superior ou técnica (BRASIL-MS, 2007), que tem por objetivo o desenvolvimento de

competências éticas, humanísticas e técnicas, visando qualificar os profissionais da

Saúde para as necessidades dos usuários do sistema de saúde. Para tanto, a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) instituiu a flexibilização dos

currículos de graduação, introduzindo o conceito de Projeto Pedagógico de Curso

(PPC) como eixo norteador dos processos de ensino/aprendizagem nas instituições

de ensino superior, visando à formação de indivíduos aptos para a inserção em

setores profissionais e para o desenvolvimento da sociedade brasileira (BRASIL-

LDB, 1996).

Entretanto, os processos originais de formação de recursos humanos em

saúde foram fundamentados no modelo biologicista e fragmentado de atenção à

saúde. Esse modelo, predominante na formação dos profissionais da área, tornou-se

14

hegemônico e centrado no processo curativo como atenção de saúde (BUSS;

LABRA, 1995). Resta o desafio de que o modelo de atenção acompanhe as

propostas das políticas atuais de saúde que referendam sua inversão.

Nesse sentido, entendendo a necessidade da formação de recursos humanos

na área da saúde compactuar com a política de saúde do país, a Secretaria de

Ensino Superior (SESu) do Ministério da Educação (MEC) discutiu, em conjunto

com o Ministério da Saúde, desde a metade da década de 80, as diretrizes gerais

curriculares para a educação dos profissionais dessa área (BRASIL-ME/CNE-DCN,

2003).

A complexidade do campo de atuação dos profissionais da saúde exige o

desenvolvimento de competências, traduzidas em conhecimentos, habilidades e

atitudes, que possibilitem a atuação multiprofissional na promoção da saúde. Essas

competências foram definidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos

da área da Saúde, de forma democrática e com participação social e podem ser

identificadas como: atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança,

administração e gerenciamento e educação permanente. Os cursos da área da

saúde devem desenvolver essas competências em consonância com seus projetos

político-pedagógicos.

Conforme Buss e Labra (1995), a necessidade de capacitação e atualização

dos recursos humanos nessa área provém do aumento da demanda dos usuários do

SUS, cabendo, portanto, às escolas, a missão de formar profissionais

comprometidos com a promoção da saúde.

Nesse contexto, as diretrizes curriculares buscam aproximar a formação dos

profissionais à realidade do serviço público de saúde, procurando dar respostas às

necessidades concretas da população brasileira, tanto no que diz respeito à

formação de recursos humanos, quanto à produção do conhecimento e prestação de

serviços, visando o fortalecimento do SUS, com base nas competências

mencionadas nas diretrizes curriculares, explicitadas nos planos de ensino e

projetos político-pedagógicos dos cursos da área da Saúde.

Saupe (1998), em sua reflexão sobre a história da Enfermagem brasileira,

destaca o significado do termo Enfermagem como contribuição para o entendimento

do processo de trabalho da Enfermagem que aborda: assistência, cuidado,

administração, educação e pesquisa.

15

Assim, ao terminar a graduação em Enfermagem, a pesquisadora iniciou a

sua vida profissional como gerente de um Centro de Reprodução Humana Assistida.

Ao longo do seu percurso profissional, percebeu a necessidade da atuação gerencial

do Enfermeiro, ao vivenciar situações que exigiam competências como: liderança,

comunicação, treinamento e supervisão da equipe de enfermagem e,

principalmente, articulação com outros profissionais da área da Saúde.

O uso de tecnologias duras e leves (MERHY, 2003), em uma especialidade

de alta complexidade como a que envolve as atividades realizadas num Centro de

Reprodução Humana Assistida, exige o desenvolvimento de competências,

conhecimento, habilidades e atitudes para um cuidado seguro, ético e de qualidade.

Diante dessas necessidades de atuação, a pesquisadora percebeu a importância de

uma especialização que possibilitasse o desempenho gerencial que culminou em

sua especialização em Gestão de Serviços de Enfermagem.

Atuando como docente num curso de graduação de ensino superior, nas

disciplinas Gestão e Planejamento de Enfermagem e Adulto Idoso Hospitalizado,

implantado dentro do processo de elaboração das novas diretrizes curriculares, e

reconhecido, no segundo semestre de 2006, pela comissão de regularização dos

cursos de graduação em Enfermagem do Estado de Santa Catarina, teve a

oportunidade de participar de discussões que despertaram seu interesse para a

formação do profissional da área da Saúde.

Ao receber a indicação do colegiado para exercer a função de professora

enfermeira integralizadora da sexta fase do curso de graduação em Enfermagem, a

partir do primeiro semestre de 2007, percebeu a relevância desta pesquisa em sua

vida profissional como educadora e formadora de recursos humanos em saúde.

Conseqüentemente, aprofundou seus conhecimentos sobre a formação do

profissional Enfermeiro durante as reuniões para a organização dos conteúdos

curriculares que visava o reconhecimento do curso de Enfermagem. Na vivência

profissional e com uma proposta alinhada às novas diretrizes curriculares do

Ministério da Educação, surgiu o tema da pesquisa apresentada nesta dissertação.

As competências gerenciais descritas para a formação dos profissionais da

saúde foram apontadas como fonte de pesquisa quando se considerou que estas

competências deveriam fazer parte da formação do profissional Enfermeiro, tendo

como base as novas diretrizes curriculares propostas para o curso de Enfermagem

da instituição onde foi realizada a pesquisa.

16

Tais ponderações, apresentadas pela pesquisadora, discorrem sobre as

diretrizes de como estão sendo aplicadas pela prática docente as competências

gerenciais na formação do Enfermeiro na Universidade Regional de Blumenau.

Neste sentido, esta pesquisa teve como objetivo geral identificar a inserção

das competências gerenciais na formação do Enfermeiro, por meio do estudo dos

documentos oficiais da referida instituição, e se tais competências estavam sendo

trabalhadas no contexto do referido curso. Os resultados desta pesquisa serão

socializados com os docentes do Centro de Ciências da Saúde, por solicitação do

Departamento de Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau.

Esta dissertação está vinculada à linha de pesquisa Formação de Recursos

Humanos, do grupo de pesquisa Educação na Saúde e Gestão do Trabalho – CNPq

- do Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da

Universidade do Vale do Itajaí.

1.2 Organização do estudo

Para orientar o leitor na estrutura deste estudo, seus tópicos foram

organizados com a finalidade de facilitar a compreensão do papel das competências

gerenciais na formação do enfermeiro. O conteúdo foi divido nos seguintes

capítulos:

• Capítulo 1: Neste capítulo introdutório foram pontuados: o modelo de atenção

à saúde do Brasil, a formação de recursos humanos em saúde, as competências

gerenciais e a experiência profissional da pesquisadora, com o objetivo de

esclarecer o seu interesse no estudo.

• Capítulo 2: Com base na contribuição da literatura, foram desenvolvidos os

temas que colaboraram no estudo. Referem-se a uma breve descrição do modelo de

atenção à saúde brasileira e o processo de trabalho em saúde e na Enfermagem.

Aponta-se a importância da formação gerencial do Enfermeiro como articulador do

cuidado e a descrição do histórico da formação do Enfermeiro. Foram explicitadas

as diretrizes curriculares nacionais para a Enfermagem.

17

• Capítulo 3: Neste capítulo é apresentado o marco teórico que orienta a

pesquisa, onde se fundamentam os conceitos de competências gerenciais e

educação profissional.

• Capítulo 4: O percurso metodológico explicita o caminho percorrido pela

pesquisadora durante o desenvolvimento deste estudo. Neste capítulo, como forma

de organização, e devido à relevância para a pesquisa, descreve-se o contexto do

curso de Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau e sua inserção nas

diretrizes curriculares nacionais para a Enfermagem. Foi realizada uma análise

documental do Projeto Pedagógico e dos planos de ensino do referido curso.

• Capítulo 5: Na apresentação e discussão dos resultados, são descritas as

categorias utilizadas na análise dos documentos pedagógicos, através do

instrumento empregado, para buscar as competências gerenciais no PPC e nos

planos de ensino pesquisados.

• Capítulo 6: Neste capítulo foram apontadas as considerações finais buscando

uma síntese do estudo e uma conclusão da dissertação. Dos apontamentos surgidos

destas considerações emergiram as contribuições do estudo, com a construção de

temas, a serem debatidos com os atores do processo de ensino-aprendizagem do

curso estudado.

18

CAPÍTULO 2

2 CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA

A pesquisa bibliográfica sobre temas relacionados a esta dissertação

complementa e integra os conhecimentos necessários para orientar a composição

do relatório do estudo.

Os tópicos que compõem este capítulo visam contextualizar o modelo de

atenção à saúde nacional, o processo de trabalho em saúde, focando as mudanças

organizacionais vivenciadas com a evolução tecnológica e a globalização, e

apresentam um breve histórico da formação profissional e gerencial do Enfermeiro,

bem como um recorte da educação profissional a partir da LDB e fundamentada nas

novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem.

2.1 Breve recorte do modelo de atenção à saúde do SUS

A promoção dos direitos básicos de cidadania é assegurada pelas políticas

públicas de seguridade social, que abarcam Saúde, Previdência e Assistência

Social, e, entre elas, o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2007). Este

sistema realiza ações e serviços de saúde, organizados em redes regionalizadas e

hierarquizadas com atuação em todo o território brasileiro.

O longo processo social para a implantação do Sistema Único de Saúde se

fortaleceu na VIII Conferência Nacional de Saúde, em março de 1986, onde foram

lançadas as bases doutrinárias deste novo modelo de atenção à saúde. Esta

conferência produziu, em forma de relatório, três eixos norteadores do movimento

sanitário brasileiro: o conceito ampliado de saúde; a saúde como direito do cidadão

e dever do Estado; e a organização dos princípios doutrinários (BRASIL-CONASS,

2006).

Neste contexto, o movimento da Reforma Sanitária brasileira, engajado no

processo de redemocratização que o país viveu na década de 80, conseguiu, por

meio de uma articulação com os congressistas progressistas, a implantação de seus

pressupostos na carta constitucional de 1988, que criou o Sistema Único de Saúde -

SUS (BRASIL-CONASS, 2006).

19

Para a construção deste processo, os atores da Reforma Sanitária brasileira

importaram, principalmente da Europa, os princípios que nortearam a implantação

do SUS: eqüidade, integralidade, regionalidade, universalidade e descentralização.

As discussões que surgiram em diversas conferências internacionais como a de

Alma-Ata, seguida pela de Otawa, em 1986, Adelaide em 1988, Sundsvall em 1991,

e Jacarta em 1997, fundamentaram o conceito de promoção à saúde com uma visão

ampliada dessa, incluindo os debates sobre justiça social e eqüidade como fatores

essenciais para a promoção da saúde (HENRIQUE, 2006).

Com a implantação do SUS, ocorreu o fortalecimento dos governos locais

pela massificação e ampliação da oferta de serviços de saúde, as quais, por sua

vez, geraram um aumento significativo do número de estabelecimentos de saúde.

Esse fato trouxe repercussões positivas sobre o acesso da população aos serviços e

reduziu as diferenças inter-regionais desta oferta. Conforme Henrique, 2006, a

principal conquista do SUS foi levar o acesso à saúde aos indivíduos na condição de

cidadãos, não de “pobres”.

Neste sistema, a Atenção Básica constitui o primeiro nível de atenção à

saúde, sendo definida pela Organização Mundial de Saúde, em 2004, como a

acessibilidade de todos os indivíduos e famílias de uma comunidade a serviços

essenciais de saúde, com participação integral e a custos com os quais a

comunidade e o país possam arcar (HENRIQUE, 2006).

Em sua reflexão sobre os conceitos de atenção primária à saúde, Santos

(2007) resgata que as terminologias atenção básica e atenção primária são

utilizadas na nomenclatura oficial e acadêmica com o mesmo entendimento, embora

de forma confusa e, eventualmente, diversa. Porém, ambas como sinônimas de

primeiro nível de atenção e porta de entrada do sistema de saúde. Neste contexto,

compreende, também, um “conjunto de ações de caráter individual e coletivo, que

engloba a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento, a reabilitação

e manutenção da saúde”. Estas ações são desenvolvidas através de práticas

gerenciais e sanitárias (SANTOS, 2007, p.27).

O Programa de Saúde da Família consolida-se como estratégia priorizada

pelo Ministério da Saúde para a atenção básica, que possibilita a integração e

organização das atividades sanitárias em determinado território, tendo como

principais desafios a promoção e a reorientação das práticas e ações de saúde de

forma integral e contínua e, com isso, pode atuar na promoção de saúde para

20

melhorar a qualidade de vida dos brasileiros, incorporando e reafirmando os

princípios básicos do SUS - universalização, descentralização, eqüidade,

integralidade e participação da comunidade (BRASIL, 2001).

Ao ser estabelecido na Constituição brasileira que a saúde é dever do Estado

(poder público), que abrange a União, os estados e municípios, incluindo o Distrito

Federal, fica determinada de forma genérica que todas as esferas de governo são

responsáveis pela promoção da saúde. Entretanto, a especificação das

competências e atribuições da direção do SUS é regulamentada pela Lei nº.

8.080/90, pela legislação do SUS e pelas Normas Operacionais que definem as

competências e condições necessárias em cada esfera do governo (BRASIL-

CONASS, 2007).

Para esclarecer a organização estrutural do SUS, é importante identificar que

os gestores do Sistema Único de Saúde são os representantes de cada escalão do

governo: o Ministro da Saúde atua em âmbito nacional, os Secretários Estaduais e

os Secretários Municipais em seus estados e municípios, respectivamente. Estes

cargos exercem funções gerenciais na Atenção à Saúde, em coerência com os

princípios e objetivos estratégicos das políticas públicas nacionais (BRASIL-

CONASS, 2007).

Souza (2002), em sua dissertação de mestrado, expõe a definição das

funções gestoras do SUS como “um conjunto articulado de saberes e práticas de

gestão, necessários para a implementação de políticas na área de Saúde”, e

identifica quatro grandes grupos que denomina de “macrofunções”, em que, cada

uma, compreende subfunções e atribuições dos gestores. Estas macrofunções são:

formulação de políticas/planejamento; financiamento; coordenação, regulação,

controle e avaliação (do sistema/redes e dos prestadores públicos ou privados); e

prestação direta de serviços de saúde.

O desenvolvimento de novas tecnologias e práticas de trabalho dentro dos

processos sociais indica que a gestão deve acompanhar as transformações

políticas, econômicas e sociais, rompendo com a administração tradicional para

atender a lógica que orienta a ação do modelo tecno-assistencial de intervenção à

saúde (SANTOS, 2007).

A complexidade das funções gerenciais, neste modelo de atenção à saúde,

embasa alguns pressupostos da pesquisa e suscitam questões preponderantes

como alicerces para as discussões e fundamentação do marco teórico deste estudo.

21

Nesta discussão, levanta-se a questão fundamental: Como estão sendo formados

os recursos humanos para atuar nas funções gerenciais deste sistema de

saúde?

2.2 Processo de trabalho em saúde e na enfermagem

O pressuposto inicial levado em conta para abordar este tema,

contextualizando o presente estudo, é que o produto final do processo de trabalho

na saúde é o serviço prestado e consumido no mesmo momento pela necessidade

de saúde individual ou coletiva de uma comunidade.

Para Benito (2001), o produto gerado pelo processo de trabalho na saúde e,

especificamente, na Enfermagem é complexo quando comparado à produção de

bens materiais ou objetos concretos. A assistência à saúde como produto final do

trabalho da enfermagem é o resultado do empenho da equipe de Enfermagem e a

interação entre os profissionais da área.

Nesse mesmo contexto, Leopardi (1999) ressalta que o fruto do trabalho

desenvolvido nessa área não é um objeto a ser comercializado, mas o próprio ato de

assistência constituiu o produto oferecido. Sendo o produto indissociável do

processo que o produz, o trabalho dos profissionais de saúde tem como finalidade a

ação terapêutica sobre um indivíduo ou grupo de indivíduos doentes, sadios ou

expostos a risco, necessitando de medidas curativas, preventivas ou de preservação

da saúde.

Ao diferenciar o trabalho em saúde de outros processos de trabalho de

prestação de serviços, Felli e Peduzzi (2005) ressaltam que as demandas da

prestação do serviço de saúde são relacionadas ao processo saúde/doença. As

autoras definem três elementos do processo de trabalho: o objeto, os meios e

instrumentos e a atividade específica, enfatizando que o objeto de trabalho em

saúde e na Enfermagem pode ser entendido na perspectiva da promoção,

prevenção e recuperação da saúde.

Neste sentido, o trabalhador de Enfermagem aplica sua força de trabalho de

equipe para transformação do objeto. Para tanto, o Enfermeiro assume a concepção

do trabalho e seu gerenciamento, e os trabalhadores de nível médio (técnicos e

auxiliares de enfermagem) assumem a execução e assistência direta (FELLI;

PEDUZZI, 2005).

22

Merhy (2002), em sua reflexão sobre a produção em saúde na nossa

sociedade, expõe que, mesmo protagonizando mudanças no que se refere a

processos e tecnologias de produção de saúde, em muitos recortes e sentidos,

reproduzimos e conservamos situações vigentes. O autor encara como desafio

básico para o movimento sanitário brasileiro a necessidade de aprofundar os novos

conceitos de reestruturação produtiva e de transição tecnológica em saúde,

reconhecendo a necessidade de uma construção teórica para dar conta da

singularidade dos processos produtivos na área. Procura ainda construir ferramentas

para os gestores de organizações voltadas a esta mesma área, as quais possam dar

conta dos atuais modelos de atenção à saúde e fazer frente ao modelo hegemônico.

Para superar o modelo médico hegemônico neoliberal, predominante no

cenário brasileiro, vários militantes do movimento da Reforma Sanitária vêm

procurando equacionar a construção de modelos de atenção à saúde nos

estabelecimentos e nas redes de serviços, na gestão organizacional e de trabalho,

mostrando que, para superar o modelo hegemônico biologicista centrado, devem se

constituir organizações de saúde gerenciadas de forma mais coletiva e participativa,

buscando uma coerência com a lógica centrada no usuário para construir

cotidianamente vínculos e compromissos entre os trabalhadores da saúde e

usuários, conforme as necessidades individuais e coletivas (MERHY, 2002). Para

tanto, as estratégias gerenciais para a construção do cuidado nesta nova lógica

devem permear a permanente reforma do campo das práticas, e constituem desafios

constantes para qualquer paradigma adotado.

A reestruturação produtiva no modelo de organização do processo de

trabalho em saúde brasileiro induziu a mudança no perfil dos trabalhadores de

saúde. A complexidade do mercado de trabalho em saúde, seja público ou privado,

está relacionada às novas competências requeridas deste trabalhador para a

inserção e atuação no mercado de trabalho. Garay e Sheffer (BRASIL, 2006, p.16)

destacam essas novas competências:

...aumento de escolaridade exigida, exigência de conhecimentos gerais, capacidade de planejar, capacidade de comunicação, trabalho em equipe, flexibilidade, acesso a mais informações, capacidade de decisão frente a problemas complexos, valorização de traços de personalidade (como responsabilidade, criatividade, iniciativa e espírito crítico).

23

Na Enfermagem, o processo de trabalho, segundo Leopardi et al. (2001), é

complexo e delimita três ações associadas: o cuidado, a educação em saúde, e a

gerência dos sistemas de Enfermagem. A inserção num processo coletivo de

trabalho, agregado aos demais profissionais de saúde e a liderança de uma equipe

da mesma categoria profissional (Enfermagem), torna este processo complexo, uma

vez que o produto final do trabalho da Enfermagem é resultado do empenho da

equipe, que compreende: o enfermeiro, o técnico e o auxiliar de enfermagem. Nesse

sentido, o processo de trabalho de gerenciar o cuidado caracteriza-se por organizar

o espaço terapêutico, distribuir e controlar o trabalho em equipe de Enfermagem,

atuando em diversas frentes concomitantes: na assistência multiprofissional, na

realização do cuidado terapêutico e na educação permanente.

Traldi (2006) parte do pressuposto de que o processo de trabalho do

Enfermeiro é resultado da construção social da prática do Enfermeiro no seu

cotidiano de trabalho, encetado nas práticas gerenciais em todos os níveis de

atenção à saúde.

Ao considerar o processo de trabalho da Enfermagem e, especificamente, os

processos gerenciais do Enfermeiro, pode-se reconhecer um universo de ações do

Enfermeiro na interface da produção do cuidado, e a busca de condições que

sustentem a continuidade e concretização das ações propostas para esse cuidado.

Portanto, neste panorama de reestruturação organizacional do processo de

trabalho em saúde e na Enfermagem, é preponderante para a reflexão produzida

neste estudo ressaltar que o Sistema Único de Saúde constitui um novo mercado de

trabalho para os profissionais de saúde, seja nos serviços públicos, seja nos

contratados e representa um novo padrão de prática profissional. Esta nova

conformação do mundo do trabalho em saúde demanda reorientação na formação

profissional.

Os atores do Observatório de Recursos Humanos em Saúde, com o apoio da

Organização Pan-americana de Saúde - Opas, em Toronto (2006), produziram um

“Chamado à Ação”, expressando três eixos principais referentes aos sistemas de

saúde (BRASIL-MS, 2006, p.4):

• Os recursos humanos são a base dos sistemas de saúde. A contribuição do trabalhador é fator essencial para a melhoria da qualidade de vida e de saúde. • O trabalho em saúde é um serviço público de responsabilidade social. É necessário o equilíbrio entre os direitos sociais e as responsabilidades dos

24

trabalhadores da saúde e as responsabilidades dos cidadãos que merecem atenção e direito à saúde. • Os trabalhadores são protagonistas do desenvolvimento e melhoria do sistema de saúde. O desenvolvimento dos recursos humanos em saúde é um processo social, não exclusivamente técnico, orientado para a melhoria da situação de saúde da população e da eqüidade social, por meio de uma força de trabalho bem distribuída, saudável, capacitada e motivada. Esse processo social tem o conjunto dos trabalhadores de saúde como um dos seus principais protagonistas.

2.3 Formação de recursos humanos na Saúde

A união dos Ministérios da Educação e da Saúde na articulação de

estratégias para a transformação da formação de recursos humanos na Saúde vem

buscando metodologias para impactar nas práticas profissionais (BRASIL, 2006).

Assim, ao criar a Secretaria da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde -

SGTES, o Ministério da Saúde assumiu seu papel de gestor federal do SUS na

formação de políticas orientadoras da formação, distribuição e gestão dos

trabalhadores de Saúde no Brasil (BRASIL, 2003). A formação e educação

permanente dos trabalhadores de saúde, em todos os níveis de escolaridade, e a

capacitação de outros profissionais e da própria população, ficam sob a

responsabilidade do Departamento de Gestão da Educação na Saúde - DEGES.

Esse departamento se articula com três eixos fundamentais: a educação

permanente e a instituição de relações orgânicas entre a formação de graduação e

de pós-graduação e a atenção e gestão do SUS; a profissionalização dos

trabalhadores do ensino fundamental e médio; e a gestão social das políticas

públicas de saúde. Para alcançar estes objetivos, foram traçadas estratégias

fundamentais para a recomposição das práticas de ensino, de atenção, de gestão e

de controle social em saúde (BRASIL, 2003).

Uma das estratégias articuladas foi o Programa de Reorientação Profissional

em Saúde – Pró-Saúde, que tem como objetivo fomentar transformações no

processo de formação profissional para integrar às necessidades da atenção à

saúde, fundamentadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN, abrangendo

inicialmente os cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia (BRASIL, 2006). Em

2007, este programa lançou o edital de seleção de projetos, englobando os demais

cursos na área da saúde.

25

A aproximação entre as instituições formadoras de recursos humanos e as

ações e serviços do SUS enfrentam o desafio de se constituírem em eixo

transformador, em estratégias mobilizadoras de recursos e poderes, para a

estruturação do SUS e para alimentar os processos de mudança ainda muito

limitada, uma vez que essa aproximação ainda se apresenta desarticulada ou

fragmentada.

Tendo em vista as políticas de formação e desenvolvimento (BRASIL, 2003),

a implementação das diretrizes constitucionais do SUS passa a ser objetivo central e

a educação em serviço torna-se política pública governamental, implicando trabalho

articulado entre o sistema de saúde (em todas as suas esferas de gestão) e as

instituições formadoras, evidenciando a formação e o desenvolvimento para o SUS

como construção da educação em serviço / educação permanente em saúde.

Ao deliberar sobre a educação dos profissionais de saúde como um processo

permanente, que começa na graduação e se mantém ao longo da vida profissional,

através da integração entre as IES, os serviços de saúde, a comunidade e outros

setores da sociedade, o Ministério da Educação e da Saúde identificaram o eixo

estrutural para a construção da política de formação de recursos humanos (BRASIL,

2006).

A implementação operacional se constituiu através da Norma Operacional

Básica sobre Recursos Humanos do Sistema Única de Saúde (NOB-RH/SUS), como

resultado da ação direta do Conselho Nacional de Saúde na formulação de uma

proposta política para a área. Nesse documento, fica estabelecida a exigência de

novos perfis profissionais, tornando-se obrigatório o comprometimento das

instituições de ensino, em todos os níveis, desde o ensino fundamental, com o

Sistema Único de Saúde e o projeto de atenção à saúde definido nas Leis nº

8.080/90 e nº 8.142/90.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), na descrição de sua política no campo

da formação profissional, estabelece uma agenda extensa e profundamente

articulada com as estratégias da organização do modelo de atenção à saúde e à

descentralização do sistema de saúde. Propõe três compromissos fundamentais a

trabalhar com as universidades na formação profissional:

- a educação permanente dos profissionais – no campo da atenção e no

campo da gestão;

- as mudanças na formação de graduação;

26

- a formação de docentes (BRASIL, 2003).

Para promover essas mudanças, o Ministério oferece cooperação técnica,

operacional e financeira para as instituições que se dispuserem a participar desse

amplo processo de mudança do modelo de atenção à saúde e de sua condução

estratégica.

Entender o desafio proposto de formação de recursos humanos na área da

saúde, no contexto de reestruturação produtiva do modelo de atenção à saúde no

Brasil, pressupõe uma discussão reflexiva e crítica do paradigma da formação

profissional na saúde.

A análise e discussão foram feitas a partir das mudanças ocorridas com a

publicação das novas diretrizes curriculares para os cursos da área da saúde. Essas

mudanças foram decorrências de um longo processo democrático para elaboração

das diretrizes que norteiam a formação profissional no País. Cabe ressaltar que o

Estado de direito democrático torna legítimo aquilo que está apoiado em base legal,

sendo fruto de um processo histórico de manifestação e expressão da vontade e dos

anseios da maioria da sociedade. Para identificar a dimensão desse processo

podemos agrupar os sujeitos que participaram das discussões, a partir do que

esperam da formação universitária: acadêmicos e familiares, docentes,

usuários/clientes, associações de classe, o Sistema de Saúde Nacional (SUS),

organizações não-governamentais e o próprio Estado, a partir da Lei de Diretrizes e

Bases (SILVEIRA, 2004).

Assim, entendendo que o processo de ensino e aprendizagem impele a uma

formação docente permanente, que possibilita a percepção de novas abordagens,

paradigmas e conceitos, e que transcenda ao modelo tecnicista e biologicista, para

entender o professor como educador e não apenas como técnico da formação

profissional. Essa abordagem do docente como um educador de adultos em toda a

dimensão ética, política, social e pedagógica, sem prescindir do conhecimento

técnico científico necessário para a formação profissional, indica um desafio

instigante que necessita de discussões e análises em profundidade.

Os ritmos acelerados da evolução do conhecimento e da tecnologia, a

mudança do processo de trabalho em saúde, as transformações demográficas e

epidemiológicas da população brasileira demandam atenção das instituições de

27

ensino superior para a formação de um profissional adequado às concretas

necessidades sociais (BRASIL-PRÓ-SAÚDE, 2005).

2.4 LDB e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem

Ao estabelecer as Diretrizes e Bases da Educação com a promulgação da Lei

nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, o governo federal determinou inovações e

mudanças na Educação nacional. Esta lei prevê a reestruturação dos cursos de

graduação, extinguindo os currículos mínimos e inserindo diretrizes curriculares,

apontando para a formação de profissionais críticos, reflexivos, ativos, diante das

demandas do mercado de trabalho, e aptos a assumir a própria cidadania. Para

tanto, a atual LDB proporciona a orientação dos projetos pedagógicos, encetando

novas responsabilidades para as instituições de ensino superior, docentes, discentes

e sociedade, ao permitir a formação de perfis profissionais diferentes, conformados

pela possibilidade de construção de parte de seus currículos plenos pelas IES (ITO

et al, 2006).

Neste contexto histórico, para atender às exigências da LDB, surgiram as

Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em Saúde. Estas diretrizes foram

elaboradas para a superação de paradigmas e a constituição de docentes

universitários e de profissionais de serviços capazes de avançar ativamente nessas

práticas inovadoras.

A Secretaria de Ensino Superior (SESu) do Ministério de Educação (MEC)

discutiu, em conjunto com o Ministério da Saúde, desde a metade da década de 80,

as diretrizes gerais curriculares para a educação dos profissionais de Saúde

(BRASIL, 2001).

Nesse aspecto, cabe ressaltar que as diretrizes curriculares gerais

determinadas pelo Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Educação,

pelo Parecer Nº: CNE/CES 1.133/2001, aprovado em 07 de agosto de 2001,

constituem orientações para a elaboração dos currículos que devem,

necessariamente, ser adotados pelas instituições de ensino superior. Estas diretrizes

estimulam o abandono das concepções antigas das grades curriculares para garantir

uma sólida formação básica, preparando o futuro profissional para enfrentar os

desafios das transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições

de exercício profissional (BRASIL, 2001). O objetivo das Diretrizes Curriculares é:

28

Levar os alunos dos cursos de graduação em Saúde a aprender a aprender que engloba aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a conhecer, garantindo a capacitação de profissionais com autonomia e discernimento para assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos, famílias e comunidades (BRASIL, 2001, p. 4).

As Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Enfermagem

estabelecem competências conceituadas como conhecimentos, habilidades e

atitudes que possibilitem a interação e atuação multiprofissional, em benefício dos

indivíduos e comunidades, promovendo a saúde para todos. As competências gerais

estabelecidas no Parecer do MEC são descritas a seguir, devido à sua relevância

para o estudo (BRASIL, 2001, p. 5).

· Atenção à saúde: os profissionais de Saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo; · Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas; · Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação; · Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz; · Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativa, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a ser empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde; · Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os

29

profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais.

As descrições dessas competências focam os aspectos fundamentais do

processo de competências gerenciais que serão contextualizados no marco teórico

que fundamenta o estudo. É essencial que essas competências acima citadas

estejam contempladas nos projetos político-pedagógicos dos cursos de graduação

em Enfermagem, fundamentados nos princípios estabelecidos pelo Parecer que

determina as novas diretrizes curriculares do MEC.

A discussão e a implementação das novas diretrizes curriculares promovem

uma excelente oportunidade para romper os paradigmas e construir o fortalecimento

do SUS e de um novo modelo de atenção à saúde.

O perfil profissional definido nas DCN é de um profissional com formação

generalista, técnica, científica e humanística, com capacidade crítica e reflexiva,

para atuar com ética no processo saúde/doença em seus diferentes níveis de

atenção. É enfatizada a perspectiva da integralidade da assistência, com

responsabilidade social e compromisso com a cidadania.

As ações articuladas entre o Ministério da Saúde e o da Educação, com

cooperação técnica entre eles, levaram ao desenvolvimento de uma linha de

pesquisa, formalizada na Portaria Interministerial nº. 2.118 de 03 de novembro de

2005, para produzir, aplicar e disseminar conhecimentos sobre a formação de

recursos humanos na Saúde. Com base num dos objetivos da referida portaria, foi

realizado um estudo que investigou a contribuição das avaliações do Ministério da

Educação na aderência dos cursos de graduação em Enfermagem, Medicina e

Odontologia às Diretrizes Curriculares Nacionais. Este estudo teve como objetivo

geral analisar, com base nos relatórios dos processos avaliativos dos Projetos

Pedagógicos dos Cursos (PPC), conduzidos pelo Inep/MEC, no período de 2002 a

2006, a adoção das Diretrizes Curriculares Nacionais, no contexto do PPC de

graduação em Enfermagem, Medicina e Odontologia, desenvolvidas pelas

instituições de ensino superior, públicas e privadas que integram o Sistema Federal

de Ensino (BRASIL, 2006).

Neste estudo, a criação e avaliação dos índices de aderência foram feitas

com base nos aspectos contidos no instrumento de avaliação dos cursos de

graduação em Enfermagem, Medicina e Odontologia. Foram utilizadas as

30

abordagens quantitativa e qualitativa, produzindo uma triangulação metodológica

que resultou em verificação e interação de informações e conhecimentos. Para a

definição da amostra quantitativa, foram considerados os relatórios para fins de

reconhecimento de 110 cursos de graduação em Enfermagem do país. Os índices

de aderência foram calculados com base nos aspectos contidos no instrumento de

avaliação daqueles cursos. O estudo revelou que o índice de aderência dos cursos

de Enfermagem às DCN/ENF foi de 72%, considerado um índice abaixo das

expectativas esperadas, uma vez que faz cinco anos a vigência das Diretrizes

Curriculares, e que foi observado um aumento acentuado de novos cursos de

graduação em Enfermagem que deveriam se identificar com os postulados

preconizados pelas DCN/ENF (BRASIL, 2006).

Na conclusão deste estudo, em referência aos elementos facilitadores e as

fragilidades que dificultam a aderência às DCN, é apontada a “necessidade de

estratégias que promovam a integração curricular, temas integradores ao longo do

curso, sistema de acompanhamento/avaliação do curso e dos professores, bem

como a diversificação de cenários de ensino/aprendizagem” (BRASIL, 2006, p.157).

Considerando o estudo bibliográfico realizado, e ressaltando o resultado deste

estudo, é possível inferir que um dos principais desafios para desencadear as

transformações necessárias na formação dos Enfermeiros diz respeito aos

docentes. Em vista disso, é imprescindível a integração docente-assistencial em

todos os níveis de atenção à saúde, em harmonia com a rede de serviços,

complementada pela utilização dos hospitais universitários e unidades vinculadas às

IES, para estabelecer um sistema de referência e contra referência, essencial para o

processo de ensino/aprendizagem e para a qualidade e resolubilidade do sistema de

saúde (BRASIL, 2006).

Ito et al (2006) ressaltam, em seu artigo sobre o ensino da enfermagem e as

Diretrizes Curriculares Nacionais, os principais fatores que impedem a superação da

prática docente como: resistência a mudanças, o distanciamento dos serviços de

saúde, a pouca reflexão sobre a docência, o autoritarismo, a fragmentação e o

tecnicismo. Estes fatores, aliados ao pouco domínio sobre os princípios, legislação e

operacionalização do SUS, constituem algumas das contradições que necessitam

superação.

31

2.5 Gerenciamento em Enfermagem

O processo de trabalho de Enfermagem e os modelos de assistência que

norteiam o cuidado são permeados pelo gerenciamento das ações de saúde. No

processo de trabalho gerencial do Enfermeiro, Felli e Peduzzi (2005) sustentam que

para sua execução é necessário um conjunto de saberes administrativos que

incluem a utilização de instrumentos técnicos característicos da gerência,

identificados pelas autoras como: planejamento, dimensionamento de pessoal de

enfermagem, gestão de pessoas (recrutamento, seleção, treinamento, supervisão,

educação permanente/continuada, avaliação de desempenho), além de

gerenciamento de materiais, equipamentos e instalações e controle dos processos

de trabalho da Enfermagem. Assim colocado, a gerência torna-se uma ferramenta

do processo de “cuidar”. Graficamente este processo pode ser representado na

seguinte configuração exposta no quadro 01:

Quadro 1 - O Processo de Trabalho de Enfermagem

Fonte: Adaptado de Felli e Peduzzi (2005, p. 10)

Historicamente, a prática organizada de Enfermagem foi iniciada com

Florence Nightingale, durante a guerra da Criméia, com a ordenação do espaço

destinado ao cuidado dos soldados feridos em combate e o planejamento das

ASSISTENCIAL

GERENCIAL

PROCESSO DE

TRABALHO

ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE

OBJETO DE

TRABALHO

RECURSOS HUMANOS

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

PRODUTO: Condições

adequadas de assistência e de

trabalho

NECESSIDADES DE SAÚDE

32

atividades necessárias para atender as demandas relativas a esses cuidados. Estes

fatos demarcam a dimensão administrativa do cuidado (ERZINGER, 2002).

Conforme as referências históricas que a autora pesquisou, Florence foi convidada

para organizar os serviços de enfermaria dos hospitais militares, que apresentavam

uma taxa de mortalidade de 40%, e estavam carentes de recursos humanos e

materiais. Levando reforço de roupas, remédios e comida, chegou a Scutari com 38

voluntárias, treinadas por ela.

Em sua tese de mestrado, Erzinger (2002) observa que Florence se destacou,

com sua capacidade de organização e coordenação do trabalho, das demais

voluntárias, e ressalta a importância dada por Florence ao ambiente, aos pacientes e

às pessoas que os atendiam.

Percebendo a importância de cuidar do indivíduo como um todo, Florence

Nightingale articulou e organizou o cuidado, incluindo o ambiente físico, o aspecto

emocional e espiritual para a recuperação dos soldados. Como precursora na

dimensão gerencial do cuidado de Enfermagem, Florence organizou o seu grupo de

trabalho, os dois hospitais pelos quais foi responsável durante a guerra da Criméia,

planejou suas ações, realizou tomadas de decisão e utilizou a comunicação e

liderança para estabelecer a assistência de Enfermagem aos feridos de guerra

(ERZINGER, 2002). A mesma autora ressalta que, com o treinamento das

voluntárias, Florence Nightingale deu origem à divisão do trabalho de Enfermagem,

quando diferenciou as ladies-nurses, provenientes das famílias mais abastadas e

treinadas para o trabalho intelectual, e as nurses, que vinham de famílias que não

tinham condições de custear os estudos, e realizavam os serviços usuais de

conforto e higiene dos pacientes. Instituiu, assim, a diferença entre o trabalho

assistencial e o administrativo da Enfermagem.

Para Oliveira (2006), a Enfermagem é uma prática historicamente estruturada,

determinada pelas relações sociais de cada momento histórico. Atualmente, o

trabalho de Enfermagem é parte integrante do trabalho coletivo em saúde. É

especializado, dividido e hierarquizado entre auxiliares, técnicos e enfermeiros, de

acordo com a complexidade da área de atuação.

Essa dicotomia permanece presente até os dias atuais, gerando conflitos

vivenciados pelos profissionais de Enfermagem. A formação profissional do

enfermeiro é voltada, principalmente nos primeiros semestres, para a área

assistencial. Entretanto, o Enfermeiro sofre cobranças no sentido de mais atuação

33

na área gerencial das organizações de saúde e no processo de trabalho da

Enfermagem.

Diante desta breve reconstrução histórica do processo de trabalho do

Enfermeiro como articulador e gerenciador do cuidado, a pergunta que emerge

destas considerações é: qual o papel que o Enfermeiro exerce na organização e

estruturação dos processos de trabalho em saúde para a produção do cuidado? Ao

articular esta questão, é preponderante inferir que, para exercer a gerência do

cuidado, é imprescindível uma formação profissional que mobilize competências

gerenciais, base do pressuposto deste estudo.

34

CAPÍTULO 3

3 MARCO TEÓRICO

A perspectiva conceitual que estrutura os fenômenos inter-relacionados

discutidos neste capítulo pretende direcionar e descrever o foco do estudo,

fornecendo fundamentos para a análise e discussão dos dados coletados. Portanto,

o marco teórico que norteia o desenvolvimento deste estudo visa recuperar a noção

de competência no contexto da administração geral e da educação como eixo para

desencadear a discussão sobre a inserção das competências gerenciais na

formação de recursos humanos para a saúde, inseridos no sistema de Saúde

nacional, e mais especificamente na Enfermagem.

Para realçar o caminho percorrido na construção deste referencial, foi

elaborada a representação gráfica do percurso, como tentativa de clarificar a

compreensão do estudo. O quadro 02 visualiza esta representação:

Quadro 2 – Percurso da Construção do Referencial

Fonte: A pesquisadora

35

3.1 COMPETÊNCIAS

A mudança de paradigmas desafia o homem a transformar a realidade ou a

mudança da realidade desfia o homem a transformar paradigmas, reestruturando

conceitos e refletindo sobre as ações individuais e coletivas nos discursos sociais e

científicos.

Ao pensar sobre o termo competências, inúmeras representações emergem

das associações mentais e cognitivas acerca do tema. Essas noções englobam

diferentes esferas de atividade como trabalho, economia, educação e formação,

porém, são utilizadas com diversos sentidos.

A contextualização desse tema exigiu uma reflexão profunda pela leitura de

diversos autores e análise das mudanças ocorridas nos últimos anos na

reengenharia dos processos de trabalho da sociedade contemporânea. Esse

processo de reflexão foi transverso durante todo o estudo, fundamentando a

pesquisa e possibilitando a elaboração de respostas para a ação docente na

formação do Enfermeiro.

Resende (2004) considera que estamos vivenciando a “era da competência”,

que começou há trinta anos, aproximadamente, e ainda tem um longo caminho a ser

percorrido. Ropé e Tanguy (1997) suportam a hipótese de que a noção de

competência é um testemunho de nossa época, sendo uma noção geral, com um

uso extensivo aplicado a lugares diferentes da sociedade, utilizada por diversos

atores sociais, e também pelos que observam e analisam fenômenos sociais. Estes

autores acentuam que este conceito é utilizado indiferentemente por

administradores, dirigentes, formadores, empresas, pesquisadores em Ciências

Humanas, de onde se esperaria um esclarecimento do conteúdo desta noção,

porém, ainda permanece vago, constatando um consenso implícito que autoriza o

uso que se faz desta noção de competência.

Ao defender a mudança de paradigma de eficiência para competência,

Resende (2004) demonstra a utilização do conceito de eficiência pelas empresas

como uma definição ligada às ferramentas e aos programas, com usos operacionais

e concretos e, portanto, mais facilmente controláveis. Ao inserir fatores não tão

concretos e não tão controláveis como vontade, criatividade, emoção, competência,

o autor expõe a resistência das organizações a essa mudança, evidenciando que,

36

com o aumento da competitividade, as mudanças ocorridas foram organizacionais e

não gerenciais. O quadro 03 sintetiza o caminho a ser percorrido.

Quadro 3 – Mudança de Paradigma de Eficiência para Competência

Fonte: Resende (2004).

A aceitação do uso do conceito de competências encontra sustentação nas

organizações empresariais, devido à necessidade de melhorar seus resultados e

desempenhos impostos pelo mercado competitivo. Nesse panorama, a eficácia,

como conceito norteador da atuação profissional, evolui para o conceito de

competência.

Para a maioria das empresas e prestadores de serviços, incluindo todo o

sistema de saúde, a globalização e a competição acirrada estão obrigando as

instituições a mudarem seus padrões organizacionais e gerenciais (RESENDE,

2004).

Streit (2001), em sua dissertação de mestrado sobre o desenvolvimento de

competências gerenciais associado à inovação na gestão, resgata, em diversos

autores, as utilizações da noção de competência e enfatiza:

Competência é uma palavra utilizada, comumentemente, para designar pessoa qualificada para realizar algo. A qualificação é usualmente definida pelos requisitos associados à posição, ao cargo, ao estoque de conhecimentos da pessoa, certificados pelo sistema educacional (STREIT, 2001 p.57).

Rezende (2004, p.15) enfatiza que para ser competente tanto no âmbito

pessoal como organizacional é necessário aplicar os conhecimentos e obter

resultados. Para o autor, “a efetivação das competências requer ter e saber aplicar

conhecimentos e habilidades”. Então, o ter e saber aplicar envolve ato ou atitude de

efetuar a ação para obter resultados.

A proposta de Resende (2004) para a classificação das competências é a

seguinte:

1. Competências pessoais:

Eficiência Eficácia Qualidade Processo Competência

37

• Conhecimento: categoria mais ampla e aceita, normalmente chamada de

competência, na qual o número de conhecimento é ilimitado, tendendo a crescer

e/ou se renovar.

• Habilidade: são aptidões próprias desenvolvidas e que diferenciam as

pessoas em alguns aspectos.

• Comportamento: é uma atitude consciente que depende da vontade, sendo

independente da escolaridade ou de status social.

2. Competências essenciais e estratégicas:

• Categoria de competências que engloba aspectos pessoais, organizacionais,

gerenciais e relacionais. Nestas Resende (2004) por objetivos didáticos define como

essenciais as competências relacionadas com as atividades-fim da organização e

estratégicas as competências de atuação, de implementação, porém na prática são

aplicadas conjuntamente.

3. Competências de gestão:

• Trata-se de diferenciar as funções de gestão da competência de gerenciar,

por sua relevância no estudo esta categoria será aprofundada no próximo tópico

deste referencial teórico.

4. Competências organizacionais

• Rezende (2004) enfatiza a grande importância destas competências, pois a

partir delas é que planos e estratégias são aplicados.

Ao se questionar as noções de competências, seus usos e significados,

propõem-se iniciar uma reflexão sobre o modo de pensar e sua utilização na

formação de recursos humanos na Saúde.

Ramos (2002), ao analisar diversos sistemas de competência profissional,

associa a competência à capacidade de desempenho do sujeito, satisfatoriamente,

em reais situações de trabalho, mobilizando recursos cognitivos e sócio-afetivos,

além de conhecimentos específicos, definindo que a competência é indissociável da

ação.

38

A mesma autora defende a idéia de que a educação profissional continuada e

as experiências profissionais são estratégias para a aquisição e a renovação de

competências.

Apropriando-se destas noções até aqui discutidas, consideram-se, neste

estudo, as dimensões envolvidas no conceito de competências como

conhecimento, habilidade e atitude. Para explicitar estas dimensões, adotou-se os

conceitos referenciados por Saupe et al (2004), descritos a seguir:

Conhecimentos: entendidos como o conjunto de conteúdos,

predominantemente adquiridos através de exposição, leitura e reelaboração

crítica, que conferem ao profissional o domínio cognitivo de um saber e a

capacidade de tomar decisões e resolver problemas em sua área de

atuação.

Habilidades: entendidas como o conjunto de práticas, predominantemente

adquiridas através de demonstração, repetição e reelaboração crítica, que

conferem ao profissional o domínio psicomotor, a perícia de um saber-fazer

e a capacidade de tomar decisões e resolver problemas em sua área de

atuação.

Atitudes: entendidas como o conjunto de comportamentos,

predominantemente adquiridos através de observação, introjeção,

reelaboração crítica, que conferem ao profissional o domínio ético e afetivo

de um saber-ser, saber conviver, e a capacidade de tomar decisões e

resolver problemas em sua área de atuação.

3.2 COMPETÊNCIAS GERENCIAIS

As funções gerenciais, tão bem conhecidas e divulgadas, como planejar,

organizar, executar e avaliar são aplicadas na noção de competência gerencial com

forte orientação para o desenvolvimento de resultados. Resende (2004) evidencia

que, para atingir estes objetivos, é necessário desenvolver as competências de

planejamento, organização, controle, orientação, delegação, tomada de decisão,

liderança, treinamento e educação, comunicação e avaliação.

A primazia da competência gerencial sobre as outras competências, como as

pessoais, organizacionais e estratégicas, é defendida por Resende (2004) pela

característica especial de impactar positivamente a aplicação das outras três

39

categorias de competências, pois, na visão deste autor, é capaz atuar sobre as

outras e melhorar muito os resultados. Torna-se, portanto, evidente a utilização da

noção de competência gerencial como força potencial para melhorar desempenhos

e aperfeiçoar resultados com a aplicação da gestão de competências.

Peres (2006), em sua tese de doutorado sobre as competências gerenciais do

enfermeiro, onde pesquisou a relação entre as expectativas da instituição formadora

e do mercado de trabalho, destaca o administrador Schon, por sua abordagem da

noção de competências como capacidade de atuação pela integração dos conceitos

de conhecimento, habilidade e atitude. A autora define sua noção de competência

como “adaptação dos indivíduos à instabilidade da vida”. Porém, reconhece que,

para formar profissionais competentes, exige atuação definida e construída na

prática social conjunta entre as instituições de ensino e de serviço, alunos, docentes

e profissionais.

Entende-se a competência gerencial como uma noção complexa, que requer

o envolvimento de todas as categorias de competências descritas e o exercício das

dimensões da competência (conhecimento, habilidade e atitude) para que possa ser

empreendida em todas as suas possibilidades.

O surgimento de novas formas de gestão menos estruturadas, onde a

atuação pessoal é moldada conforme as necessidades que emergem no cotidiano

profissional, e implicam na revisão sistemática das práticas de gestão, encaminham

para que compreenda-se que estas noções de competências abordadas não estão

concluídas, mas em processo de construção na “era da competência”.

E como isto acontece no contexto de saúde brasileiro?

No sistema de saúde nacional, a função do gerenciamento abarca a

prestação e o controle dos serviços e ações de saúde aos usuários. O exercício

dessa atividade requer compromisso, ética e respeito (BRASIL, 2007).

Para discorrer, neste estudo, sobre o gerenciamento no contexto do Sistema

de Saúde Nacional do SUS, a definição adotada diferencia em:

“Gerência: como a administração de uma unidade ou órgão de saúde (ambulatório, hospital, instituto, fundação etc.) que se caracteriza como prestador de serviços do SUS”. “Gestão: como a atividade e a responsabilidade de comandar um sistema de saúde (municipal, estadual ou nacional), exercendo as funções de coordenação, articulação, negociação, planejamento, acompanhamento, controle, avaliação e auditoria.” (BRASIL, 2007, p. 41).

40

Na publicação do CONASS sobre a gestão administrativa e financeira do

SUS, é evidenciada a necessidade de modernização gerencial para a contribuição

da melhoria de desempenho das Secretarias Estaduais de Saúde e, portanto,

“melhorar seu desempenho na garantia do acesso da população às políticas

públicas de saúde, cumprindo todas as exigências da legislação vigente” (BRASIL-

CONASS, 2007, p. 24).

O princípio da descentralização, constituído na Lei Orgânica de Saúde,

estabelece que a direção única em cada esfera de governo, com a municipalização

da prestação dos serviços de saúde, combinada com a regionalização e a

hierarquização da rede de serviços, pressupõe a integração da execução das ações

de saúde, meio ambiente e saneamento básico, fatores essenciais na promoção da

saúde. Neste sentido, a organização dos serviços públicos deve ser mobilizada para

evitar a duplicidade de meios para fins idênticos. Para evidenciar as atribuições e

competências de cada esfera do governo, como expõe o quadro 04 (BRASIL-

CONASS 2007, p. 25).

Quadro 4 – Atribuições e Competências do Governo

UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS

Papel de caráter normativo. Estabelecimento de políticas públicas nacionais de saúde pública. Controle e fiscalização. Promoção da descentralização para Estados e municípios dos serviços e ações de saúde de abrangência estadual e municipal.

Descentralização para os municípios dos serviços e ações de saúde. Prestar apoio técnico e financeiro aos municípios. Controlar, acompanhar, avaliar e executar ações do meio ambiente, saneamento básico, ambiente de trabalho, insumos e equipamentos, laboratórios e hemocentros, controle de qualidade para produtos e substâncias de consumo humano, vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteira sem colaboração com a União.

Planejar, organizar, executar, controlar e avaliar ações e serviços de saúde.

Fonte: Lei n. 8.080: Definição de atribuições e competências apud CONASS 2007.

41

Os elementos do processo de gestão são identificados nas funções de

planejamento, execução, direção e controle, que podem ser representados no

quadro 05 (BRASIL-CONASS, 2007, p. 26).

Quadro 5 – Elementos do Processo de Gestão

PLANEJAMENTO ORGANIZAÇÃO DIREÇÃO CONTROLE

Decisão sobre os objetivos. Definição de planos para alcançá-los. Programação de atividades.

Recursos e atividades para atingir os objetivos; órgãos e cargos. Atribuição de autoridade e responsabilidade.

Preenchimento dos cargos. Comunicação, liderança e motivação do pessoal. Direção para os objetivos.

Definição de padrões para medir desempenho, corrigir desvios ou discrepâncias e garantir que o planejamento seja realizado.

Fonte: CONASS, 2007

Ao trazer esta discussão para o campo da saúde, os desafios que se impõem

são inerentes às peculiaridades do processo de trabalho em saúde. Os aspectos a

serem evidenciados se referem ao amplo espectro de produção e prestação de

serviços, que compreendem desde a prestação de serviços de Saúde em atenção

hospitalar, ambulatorial ou de unidades de saúde, até as atividades da indústria de

equipamentos e medicamentos, e incluem a produção de conhecimento e

informação, pautados no contato humano e na relação interpessoal (BRASIL-

CONASS, 2006, p. 131).

A função gerencial do Enfermeiro, nesse cenário de atenção à Saúde, é

voltada para a atuação desse profissional como gerador de conhecimento,

desenvolvendo competências, incorporando as inovações tecnológicas, e definindo

suas responsabilidades na promoção da saúde (LAZAROTTO, 2001). Para este

autor, a gerência, quando baseada em competências, aumenta a capacidade da

equipe de alcançar as metas planejadas com responsabilidade, integrando

conhecimentos, habilidades e atitudes para a promoção de mudanças no processo

de trabalho. O saber, o saber fazer e o saber ser envolvem as competências

requeridas pelo Enfermeiro na atuação profissional no sistema de saúde.

Entendendo-se que as dimensões das competências gerenciais descritas

como conhecimento, habilidades e atitudes se referem ao saber, saber fazer e saber

ser no gerenciamento de Enfermagem, o desenvolvimento destas competências se

42

refere à “capacidade de conhecer e atuar sobre determinadas situações, envolve

habilidades para desenvolver ações/atividades de planejamento, implementação e

avaliação” (AGUIAR, 2005 p. 321). Estas funções descritas no referencial teórico

são as dimensões das competências gerenciais aplicadas no cenário da saúde

brasileiro.

3.3 COMPETÊNCIAS GERENCIAIS E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO

ENFERMEIRO

Desenvolver competências gerenciais para a práxis dos profissionais no

contexto do cenário da saúde brasileiro pressupõe a mudança de paradigmas na

formação dos recursos humanos na saúde, transitando do modelo tecnicista e

fragmentado da formação para a abrangência da formação multidimensional, que

incorpora a perspectiva técnico-operacional às dimensões subjetivas, psicossocial e

cultural (ALMEIDA, 2004).

Aguiar (2005) identifica que as competências específicas ao gerenciamento,

desenvolvidas na formação do Enfermeiro, devem contemplar o cuidado em todos

os níveis de atenção de saúde, de forma a permitir que o futuro profissional possa

atuar planejando, organizando, gerenciando e avaliando o processo de trabalho em

Enfermagem.

Ao explicitar sua noção de competência na formação do adulto, Perrenoud

(1999), afirma que competência é um conjunto de recursos que são mobilizados

para agir, ou seja, a própria mobilização dos recursos identifica a competência.

No processo de formação profissional, a mobilização destes recursos implica

na utilização dos conhecimentos, habilidades e atitudes. Para a mobilização das

competências, são necessários docentes capazes de superar as lógicas das

concepções de educação tradicional, e de desenvolver práticas inovadoras e ativas

neste processo.

Com esse entendimento das competências gerenciais desenvolvidas na

formação do profissional Enfermeiro, é necessária uma concepção de ensino que

questione o processo de ensino/aprendizado como recurso para garantir a

autonomia intelectual de discentes e docentes. Uma concepção baseada na

realidade como fonte problematizadora e articuladora da mobilização dos saberes

43

entre o sujeito do processo e a construção das representações no contexto da

realidade.

Ao analisar etimologicamente o termo construtivismo, Castañon (2005)

acentua que a origem latina do verbo construir (struere) significa organizar, dar

estrutura, sendo necessária uma inteligência que organize e de estrutura a algo.

Essa discussão, aqui pretendida, se refere à concepção do termo

construtivismo, introduzida na Psicologia por Jean Piaget. Embora não se pretenda

remeter ao debate das apropriações utilizadas na Psicologia, o debate abarca o

construtivismo, que Piaget postula como a construção do conhecimento, que exige

uma colaboração do sujeito que conhece e o objeto conhecido, onde o sujeito é ativo

e, a partir da ação, constrói suas representações do mundo e interage com o objeto

do conhecimento.

Em seu estudo sobre a Epistemologia Genética, Piaget (1972) reafirma a

idéia de que o conhecimento não está predeterminado nem nas estruturas internas

do sujeito, porque resultam de uma construção efetiva e contínua, nem nas

estruturas preexistentes do objeto, uma vez que o conhecimento surge das

mediações entre estas.

Na proposta inicial deste marco teórico de discutir a concepção pedagógica

na inserção das competências gerenciais na formação do Enfermeiro, compactua-se

com a proposição de Piaget, em que o sujeito constrói suas representações do

mundo, e Castañon (2005, p. 36), que descreve: “O sujeito, para o construtivismo, é

pro ativo, é foco de atividade do universo, e não um aglomerado de células que

recebe passivamente estímulos do ambiente, sendo movidas por estes”.

Ramos (2001), em seu artigo sobre a Pedagogia das Competências,

incorpora a idéia do construtivismo piagetiano, e ressalta as competências como

estruturas ou esquemas mentais responsáveis pela interação entre os saberes

prévios do sujeito e os saberes formalizados, e defende que a Pedagogia das

Competências pode possibilitar converter em ensino integral, mesclando-se aos

problemas os conhecimentos gerais e profissionais, as experiências de vida e de

trabalho. Neste artigo, a autora critica a compartimentação disciplinar, e defende um

currículo que ressalte a experiência concreta dos sujeitos como situações

significativas de aprendizagem, baseada em valores como integração, globalização

e interdisciplinaridade.

44

Assim, ao pressupor que o sujeito/discente na educação profissional possua

suas estruturas mentais e habilidades que já foram incorporadas, o construtivismo

piagetiano e a Pedagogia das Competências são caminhos para a

mobilização/construção das competências profissionais na educação profissional do

Enfermeiro.

CAPITULO 4

4 PERCURSO METODOLÓGICO

Ao escolher o caminho metodológico para responder a questão proposta

neste estudo sobre a inserção das competências gerenciais na formação do

Enfermeiro, a compatibilidade da pesquisadora com o tipo de pesquisa selecionado

foi preponderante para a construção do percurso metodológico. Para esta

constituição, com o objetivo de descrever as características do delineamento do

estudo, buscou-se, durante todo o trajeto, o embasamento do modelo conceitual das

competências gerenciais na educação profissional do Enfermeiro.

Neste sentido, trata-se de um estudo descritivo e exploratório, com

abordagem qualitativa e análise de conteúdo temática dos documentos político-

pedagógicos do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Regional de

Blumenau – SC. A identificação e contextualização do referido curso são

apresentadas a seguir como formato da organização desta pesquisa.

A abordagem qualitativa é discutida por várias vertentes de disciplinas como a

Sociologia, Antropologia, Psicologia, História, entre outras, possibilitando diversas

interpretações e um vasto campo de opções para a análise qualitativa

(RICHARDSON, 1999). Estes múltiplos acervos da abordagem qualitativa auxiliam a

investigação no contexto da saúde, considerando a complexidade que envolve a

construção do conhecimento nesta perspectiva.

Minayo (2000), ao trazer o debate das metodologias qualitativas para a

Saúde, expõe que a construção do conhecimento nesta área está inserida em outras

instâncias da realidade social, inferindo a saúde como uma questão compartilhada

por todos os segmentos sociais, e visa, principalmente, os significados e

intencionalidades dos atos, relações e estruturas sociais.

45

Os pressupostos de competências gerenciais foram pesquisados na análise

documental para serem extraídas evidências que os fundamentassem. Os

documentos representam uma fonte “natural” de informações contextualizadas.

Inseridos em determinados contextos, fornecem informações sobre eles (LÜDKE e

ANDRÉ, 1986). Os autores mencionam também que a análise documental identifica

informações sobre fatos nos documentos, a partir de questões ou hipóteses de

interesse do estudo.

O desenvolvimento de técnicas de análise documental visa ultrapassar o

senso comum e a subjetividade na interpretação dos significados da comunicação

nos documentos (MINAYO, 2000). No presente estudo, a percepção dos docentes

que elaboraram os documentos pedagógicos pesquisados é inferida pela análise

documental temática, considerando-se a dialética dos documentos e o contexto

histórico em que foram construídos. O Projeto Político-Pedagógico do curso de

graduação em Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau foi elaborado

pelos docentes, em reuniões didático-pedagógicas, ao longo da implantação do

referido curso, e finalizado na ocasião do reconhecimento do curso, em dezembro

de 2006.

Para Bardin (1977), a análise documental é uma operação ou um conjunto de

operações que visa representar o conteúdo de um documento, dar forma

conveniente à informação, facilitando o acesso ao leitor, para que ele obtenha o

máximo de informações e com a devida pertinência. Uma diferença importante entre

a análise de conteúdo e a análise documental é que a última trabalha com

documentos, enquanto a primeira trabalha com mensagens.

Na análise documental deste estudo, pretendeu-se fazer uma análise

categorial temática, que constitui uma das técnicas de análise de conteúdo. Durante

esta etapa, foi desenvolvida a organização da análise de conteúdo documental com

base em Minayo (2000). A escolha pela análise temática foi definida após leituras e

pelo entendimento de destacar o “tema” como unidade de significação, que

proporciona a inferência dos núcleos de sentido que compõem uma comunicação e

são caracterizados pelos itens de significado encontrados.

Nesse sentido, este estudo foi delineado em momentos metodológicos que

compuseram o percurso. No primeiro momento, foi realizada a identificação dos

documentos pedagógicos do curso de graduação em Enfermagem da Universidade

Regional de Blumenau – SC; e, em seguida, foi realizada a análise documental com

46

a categorização dos itens de significado das competências gerenciais, utilizando o

instrumento de competências desenvolvidas por profissionais da saúde. Com o

resultado desta categorização, foram construídos os gráficos das competências para

possibilitar a análise, com base no marco conceitual que norteia o estudo.

A síntese da análise do estudo será posteriormente socializada com os

docentes do curso de Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau, em

reunião/oficina didático-pedagógica.

O percurso metodológico seguiu várias etapas, que foram complementadas

no decorrer do delineamento do estudo. Este percurso é representado no quadro

06:

Quadro 6 - Percurso Metodológico

Fonte: A pesquisadora

4.1 PRIMEIRO MOMENTO

Identificação dos documentos oficiais

Análise de conteúdo dos documentos

Síntese

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E 29

PLANOS DE ENSINO

Socialização com os

docentes

POSTERIORMENTE

47

Neste momento, foram identificados os documentos pedagógicos do curso de

Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau – SC: o projeto político-

pedagógico e os planos de ensino correspondentes ao segundo semestre de 2007.

Para a coleta de dados, foi submetido, aprovado e protocolado com o nº

075/07, pelo Comitê de Ética da Universidade Regional de Blumenau (ANEXO A), o

projeto de dissertação deste estudo, e solicitada ao Diretor do Departamento de

Enfermagem a utilização de dados (APÊNDICE B). Após a autorização, foram

elencados os documentos pedagógicos do curso de graduação em Enfermagem da

Universidade Regional de Blumenau, que são:

o Projeto Pedagógico

o Matriz curricular

o Planos de ensino

O Projeto Pedagógico (PPC) estudado foi referenciado na apresentação do

curso, e explicita a metodologia de construção, com base no modelo de atenção à

saúde, fundamentado no SUS. Neste documento, fornecido pela Instituição de

Ensino através da coordenação do curso de Enfermagem, está inserida a matriz

curricular e as ementas das disciplinas que compõem os módulos.

A matriz curricular é composta por oito eixos norteadores dentro da

formação específica, conforme foi citado na contextualização do curso e na

formação complementar, por um eixo denominado flexibilizado. No eixo livre, não

constam planos de ensino e, portanto, não foram contabilizados. Trinta e uma

disciplinas compõem esta matriz curricular. Destas, não foram analisadas as

disciplinas referentes à Educação Física/Prática Desportiva e às Atividades

Acadêmicas Científico-Culturais (AACC) por não constarem publicação de planos de

ensino.

Assim, 29 planos de ensino foram analisados e identificados conforme os

Eixos Norteadores da matriz curricular, aqui apresentados para elucidar a leitura

deste relatório de estudo.

A estrutura curricular, apresentada no quadro 07, evidencia seus aspectos:

48

Quadro 7 – Estrutura Curricular do Curso de Enfermagem

Fonte: Furb, 2006, p.13.

4.2 O SEGUNDO MOMENTO

49

Ao analisar os planos de ensino das disciplinas e módulos que compõem o

currículo do curso de Enfermagem, buscou-se identificar as temáticas cujos

conteúdos apresentavam relação com a abordagem das competências gerenciais na

formação do Enfermeiro.

Para cobrir as lacunas encontradas a partir da leitura flutuante, conforme a

técnica descrita por Minayo (2000), foi feita uma segunda leitura dos mesmos

documentos. Esta segunda leitura foi realizada sob outro olhar, baseado nos

conceitos do instrumento das competências gerenciais desenvolvidas pelo

Enfermeiro no seu processo de trabalho.

Inicialmente, foram feitos fichamentos dos conteúdos abordados nos planos

de ensino, segundo a matriz curricular do curso de graduação em estudo e as

concepções filosóficas e pedagógicas descritas no PPP. Assim, foram identificados,

nos conteúdos dos fichamentos, os atributos listados como competências gerenciais

a serem desenvolvidas nos acadêmicos.

Para operacionalizar a análise, foi utilizada a técnica descrita por Bardin

(1977) e sugerida por Minayo (2000), que consiste de três etapas:

Primeira etapa: Pré-Análise - onde foram escolhidos e definidos os

documentos pedagógicos a serem analisados pelas seguintes tarefas:

a) Leitura flutuante do conjunto dos documentos pedagógicos.

b) Constituição do corpus, durante o qual foram observadas algumas normas

de validade: exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência.

c) Formulação de hipóteses e objetivos. Nesta fase pré-analítica, determinam-

se a unidade de registro (palavra-chave ou frase), a unidade de contexto (a

delimitação do contexto de compreensão da unidade de registro), os recortes, a

forma de categorização, a modalidade de codificação e os conceitos teóricos mais

gerais que orientam a análise. Aqui, foi decidido o instrumento de categorização,

onde constam as dimensões, categorias e subcategorias predefinidas conforme

explicitado no próximo item. Partindo deste instrumento, foram identificadas nos

documentos analisados, como itens de significado, as frases que remetiam aos

atributos gerenciais.

d) Instrumento de categorização: para a exploração do material da etapa a

seguir, foi definida a utilização do instrumento de categorização. Este instrumento foi

elaborado, contemplando os eixos temáticos, suas categorias e subcategorias para

50

o projeto: Modelagem das Competências dos Profissionais para a consolidação do

SUS/PSF, aprovado pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do

Estado de Santa Catarina (FAPESC), que foi validado por profissionais “experts”,

com qualificação na área. Tal instrumento foi utilizado para elaboração dos itens de

significado para categorização da análise de conteúdo e documental. Estes itens

foram listados como competências a serem desenvolvidas pelos docentes do

referido curso (APÊNDICE C). O instrumento estruturado foi também utilizado como

uma ferramenta para obtenção das concepções dos sujeitos sobre o papel das

competências gerenciais na formação do Enfermeiro, permitindo o recolhimento de

dados referentes à concepção destes docentes sobre os elementos principais das

competências gerenciais elencados nos planos de ensino.

Segunda etapa: Exploração do Material – Esta etapa é, essencialmente, a

operação de codificação. Segundo Bardin (1977), realiza-se a transformação dos

dados brutos, visando a alcançar o núcleo de compreensão do texto. Para isso, na

primeira etapa, é feito o recorte do texto em unidades de registro, que podem ser

uma palavra, uma frase, um tema, uma personagem ou um acontecimento. Neste

estudo, foram escolhidas frases com atributos gerenciais conforme definido na pré-

análise.

Escolhidas as regras de contagem, a classificação e a agregação dos dados,

foram utilizadas as categorias teóricas ou empíricas que guiaram a especificação

dos temas, baseados no instrumento de categorização. A utilização de um

instrumento de categorização dos dados documentais do estudo possibilitou a

construção das grandes categorias analíticas, denominadas dimensões,

conhecimentos, habilidades e atitudes, das categorias empíricas descritas no

instrumento e subcategorias.

Para a operacionalização da categorização, foi estabelecido um sistema de

cores para definir as grandes categorias, conforme o instrumento utilizado na

exploração dos documentos pedagógicos. As grandes categorias estudadas,

conceituadas em dimensões expostas, foram identificadas com as seguintes cores:

azul para a dimensão conhecimento, amarelo para habilidade e vermelho para

atitude.

Buscando uma codificação para as categorias e subcategorias, foi definida a

utilização das iniciais de cada categoria com o número da subcategoria, como por

51

exemplo: Dimensão conhecimento: cor azul, categoria planejamento de ações: letra

P e subcategoria Conhecer os fatores determinantes do Processo Saúde-Doença:

número 1. Assim, o código definido foi: CP1. Estes códigos foram utilizados na

discussão dos resultados para exemplificar os registros dos itens de significado

encontrados nos documentos analisados.

Terceira etapa: Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretação - O

processo de inferência do pesquisador foi comparado ao referencial teórico para

elucidação dos pressupostos iniciais ou hipóteses emergentes. Bardin (1977) define

que um sistema de categorias é válido quando pode ser aplicado com precisão ao

conjunto da informação e se for produtivo no plano das inferências.

Minayo (2000) evidencia que a presença de determinados temas denota os

valores de referência e os modelos de comportamento presentes no discurso.

Portanto, os saberes deduzidos dos conteúdos dos planos de ensino podem permitir

inferir os conhecimentos relativos às condições de produção, postos em evidência

pelos procedimentos de análise, procurando estabelecer a relação entre as

estruturas e condutas, atitudes e ideologias reveladas nos enunciados dos

documentos pedagógicos.

Para elucidar a operacionalização da análise documental temática, foi

elaborado o quadro 08, a seguir, que representa a codificação da análise:

Quadro 8 – Operacionalização da Análise Documental

Fonte: Adaptado do Instrumento da Pesquisa: Modelagem dos Processos das Competências dos Profissionais da Saúde para a consolidação do SUS/Programa/Estratégia de Saúde da Família.

52

Projeto aprovado pela FAPESC no Edital 003, sob o número 911623/2004, coordenado pela Profª. Dra. Gladys Amélia Véles Benito.

4.3 O TERCEIRO MOMENTO

Neste momento, foi feita uma síntese da análise documental, cujo resultado

foi confrontado com o referencial teórico para a inferência das competências

gerenciais na formação do Enfermeiro, as quais serão socializadas com os docentes

do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau –

SC pela apresentação do resultado da pesquisa em reunião didático-pedagógica.

A representação investigativa deste percurso metodológico foi evidenciada no

quadro 09, que demonstra a elaboração da análise dos escritos, utilizados como

objeto de estudo. Assim, o Projeto Pedagógico do curso e os planos de ensino foram

analisados em conjunto, tentando se identificar a interseção entre os conteúdos de

ambos os documentos, sendo identificadas as categorias e subcategorias a partir da

categorização do instrumento3 utilizado, referenciado na metodologia do estudo.

Quadro 9 - Representação da Análise da Categorização

Fonte: A pesquisadora

3 Instrumento neste estudo é entendido como uma ferramenta onde os atributos de gestão foram elencados nas categorias e subcategorias pré-definidas.

REPRESENTAÇÃO DA ANÁLISE DA CATEGORIZAÇÃO

ANÁLISE DAS

CATEGORIAS

PPP

PLANOS DE ENSINO

53

4.4 CONTEXTUALIZAÇÃO DO CENÁRIO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM

ENFERMAGEM

O marco referencial que conceitua a concepção de instituição de ensino

superior como organização para formar profissionais por meio da produção e

socialização de conhecimento, gerado pelas atividades de ensino, pesquisa e

extensão, é explicitado pela comunidade acadêmica da Universidade Regional de

Blumenau no Projeto Político-Pedagógico (FURB, 2006). Este instrumento,

elaborado pela comunidade acadêmica em conjunto com a Pró-Reitoria de Ensino

de Graduação em 2003 e 2004, é o documento orientador das ações político-

educacionais daquela instituição.

O curso de graduação em Enfermagem da Universidade Regional de

Blumenau foi implantado em março de 2003, com quarenta vagas, no período

vespertino, e aconteceu concomitantemente com a publicação das novas Diretrizes

Curriculares Nacionais para os cursos de Enfermagem.

Neste contexto, a construção da proposta pedagógica de integralização

curricular propõe uma concepção de educação emancipatória para a construção do

conhecimento e intervenção na realidade regional, pautada na ética e bioética

(FURB, 2006).

O Projeto Pedagógico do Curso – PPC (FURB, 2006) de graduação em

Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau está organizado em uma

estrutura modular composta por eixos norteadores, numa proposta inovadora no

contexto da instituição de ensino superior onde ocorreu a pesquisa. Tal proposta foi

implementada no curso de Enfermagem, visando integrá-lo às diretrizes curriculares

propostas pelo Ministério da Educação e da Saúde, que se uniram para alinhar a

formação de recursos humanos com o modelo de atenção à saúde no Brasil. Assim,

o Projeto Pedagógico do Curso (FURB, 2006, p.1)

...visa um currículo integrado, organizado por módulos, e estruturado por eixos que norteiam o trabalho pedagógico. Propõe uma avaliação formativa que acompanha o processo ensino/aprendizagem em todas as suas dimensões. Isso determina as possibilidades de mudanças nos diversos sujeitos envolvidos no processo em questão, tendo como perspectiva a formação de profissional crítico, reflexivo, comprometido com seu papel social, sendo um sujeito ativo no seu próprio percurso de vida e de trabalho,

54

contribuindo para a construção de um sistema de saúde pautado nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).

O Projeto Pedagógico do curso propõe como objetivo a formação de

profissionais para cuidar/prestar/praticar o cuidado, realizando, para isso, a

investigação do cuidado, a organização, supervisão e liderança do processo de

trabalho sobre o cuidar/confortar.

Os objetivos explicitados no referido texto envolvem as competências

gerenciais descritas nas diretrizes curriculares propostas pelos Ministérios da Saúde

e da Educação. Estão fundamentados no processo de trabalho do Enfermeiro como

gerenciador da assistência de Enfermagem, e investem na modernização gerencial

para possibilitar ao profissional coordenar ações nos serviços de saúde que

contribuam para a transformação das práticas realizadas.

Portanto, o PPC do curso de Enfermagem da FURB evidencia as

competências gerenciais dispostas nas DCN dos profissionais da área da saúde ao

colocar como perfil profissiográfico (FURB, 2006, p.7):

O curso de Graduação em Enfermagem da FURB busca formar o Enfermeiro para: - Atender as necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS) e assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento; - trabalhar em equipe multiprofissional com enfoque interdisciplinar; - prestar assistência de Enfermagem ao indivíduo, em todos os ciclos da vida, à família e à comunidade, nos diferentes níveis de atenção à saúde, utilizando metodologia científica; - ter visão crítica da estrutura social; - pautar suas ações pela ética profissional, respeitar os princípios legais da profissão, valorizando o ser humano em sua totalidade e o exercício da cidadania; - gerenciar a assistência de Enfermagem em todas as áreas de atuação; - buscar sua constante capacitação e atualização; - realizar pesquisas para o aperfeiçoamento do processo de trabalho em saúde; - apropriar-se do conhecimento científico aplicando-o em seu ambiente de trabalho e na comunidade; - ter visão pedagógica e crítica da Educação Básica e da formação técnica do enfermeiro.

Para o reconhecimento do curso de Enfermagem da FURB, o PPC prevê, em

conformidade com o Projeto Político-Pedagógico do Ensino da Graduação – PPP,

Graduação da Universidade Regional de Blumenau, componentes curriculares

obrigatórios que constituem a matriz curricular de cada curso, possibilitando

intercâmbio nos espaços formativos da universidade.

55

No documento que expõe o PPP do Ensino da Graduação da Furb, a

concepção de currículo está fundamentada numa construção de proposta curricular

que contempla as relações de ensinar e aprender, a formação docente, o contexto e

as condições de organização do trabalho pedagógico. Esta proposta visa atender as

ações que de fato acontecem no processo ensino-aprendizagem, formulando

diretrizes para a organização dos currículos da universidade (FURB, 2006).

Assim, este documento propõe que os currículos sejam organizados em três

eixos: geral, de articulação, e específico, que poderão se organizar de forma

presencial e semipresencial. Embora estes eixos não estejam efetivamente

implantados no curso pesquisado, o PPC da Enfermagem prevê sua incorporação,

pois muitas das temáticas apresentadas estão incorporadas no currículo atual,

porém organizadas em outra estrutura.

Estes eixos estão descritos no PPP da Graduação (FURB, 2006, p.8),

conforme se expõe a seguir:

O Eixo Geral será composto por uma carga horária mínima de 252h/a.

Destas, 144h/a serão destinadas às disciplinas obrigatórias: Universidade,

Ciência e Pesquisa e Desafios Sociais Contemporâneos. Além destas

disciplinas, os alunos deverão ainda optar por uma das seguintes disciplinas

de 72 h/a: Linguagem Científica; Dilemas Éticos e Cidadania:

Comunicação e Sociedade:

O Eixo de Articulação constitui-se de espaços comuns e integrados de

estudos em torno de temáticas ou disciplinas apontadas através de

demandas das áreas de conhecimento da Universidade. Ele objetiva

ampliar e aprofundar as discussões dos aspectos destacados no eixo geral,

com foco na área de conhecimento. Além disso, deve promover atividades

interdisciplinares visando à articulação dos cursos em torno de projetos

comuns de ensino, pesquisa e extensão. Esse eixo será obrigatório na

composição da matriz curricular de todos os cursos de graduação da

Universidade. O eixo de articulação será composto de uma carga horária

mínima de 180 horas/aula. No Centro de Ciências da Saúde foram

elencados os seguintes componentes curriculares que serão articuladores:

Saúde Comunitária com carga horária de 04 créditos, sendo 2 teóricos e 2

práticos; Bioética com 3 créditos teóricos e Relações Interpessoais na

Saúde com 3 créditos teóricos.

56

O eixo específico para o curso de Enfermagem pesquisado foi elaborado a

partir dos conceitos específicos para a atividade profissional, e a organização da

estrutura curricular foi composta de forma interdisciplinar, sendo constituída por oito

eixos norteadores e por módulos que são integralizados em projetos de fase,

denominação esta adotada para se referir ao semestre letivo. Esta organização

curricular do eixo específico foi sistematizada de forma horizontal e vertical,

pretendendo superar a lógica fragmentada do conhecimento científico,

fundamentada num processo de transformação para a produção do conhecimento e

intervenção na realidade onde se insere a universidade (FURB, 2006).

Para a superação da lógica disciplinar, torna-se preponderante avançar

qualitativamente na integração dos saberes, e implica dialogar entre as diversas

áreas do conhecimento e na reconstrução de novos saberes. Isto está explicitado no

documento apresentado para a comunidade acadêmica pela IES pesquisada,

através do seu PPP de Graduação. Nesta lógica, é definida a integralização dos

saberes por meio da organização curricular composta em Eixos.

Neste contexto, a forma horizontal proposta tem como princípio a integração

dos saberes dentro de um mesmo semestre, através das áreas de conhecimento do

módulo e o Projeto de Fase. A forma vertical acontece através de temas

transversais, de forma contínua, durante a formação do enfermeiro.

Os discentes são inseridos na realidade da prática profissional, a partir da

segunda fase, até a sexta fase, denominada de aulas práticas, onde são previstos

desempenhos do acadêmico com o aumento gradativo de complexidade a cada

semestre ou fase subseqüente.

Conforme o Projeto Pedagógico do curso em questão (FURB, 2006, p. 7), a

metodologia referenciada pelo curso é a Problematização. Esta metodologia é

entendida no PPC como forma de integração entre os saberes, ensino, serviço e

comunidade, tendo como referencial os determinantes do processo de

saúde/doença e o contexto sociocultural, onde o procedimento de

ensino/aprendizado se desenvolve. Assim, ao final de cada semestre, os seguintes

projetos são apresentados em forma de seminário de pesquisa:

Os projetos desenvolvidos em cada semestre são: Fase I - Situação de saúde da comunidade; Fase II - Família e seu processo de viver e À Beira do “leito” por 12 horas; Fase III - Avaliação do estado de saúde do indivíduo, com Sistematização da Assistência de Enfermagem; Fase IV – Saúde,

57

família e sociedade; Fase V – Assistência ao adulto, idoso hospitalizado e família e sociedade; Fase VI – Planejamento e gestão em enfermagem e assistência na urgência e emergência; Fase VII – Internato em atenção terciária e Fase VIII – Internato em atenção secundária e primária.

Os eixos norteadores têm como objetivos: desenvolver um currículo integrado

que favoreça principalmente a articulação teoria/prática e trabalho/ensino; orientar o

processo ensino/aprendizagem, aulas práticas, planejamento coletivo e outras

dimensões pedagógicas. Para tanto, a proposta curricular do curso está organizada

por grandes áreas de conhecimento, assim dispostas (FURB, 2006, p. 6):

1- Saúde e Sociedade; 2- Saúde e Família; 3- Avaliação do Estado de Saúde do Indivíduo; 4- Saúde da Criança, do Adolescente e da Mulher; 5- Saúde do Adulto; 6- Atenção à Saúde Hospitalar; 7- Internato em Enfermagem Hospitalar; 8- Internato em Enfermagem em Saúde Coletiva

A operacionalização dos módulos e a integralização dos conteúdos são

garantidas através da elaboração dos planos de ensino. A organização e o

acompanhamento dos eixos norteadores ficam sob a responsabilidade de um

professor enfermeiro, denominado integralizador. Este docente integralizador,

conforme identifica o PPC da Enfermagem (FURB, 2006, p.10), acompanha o

processo de ensino e aprendizado, encaminhando propostas de estudo e atividades,

conforme as necessidades evidenciadas nos acadêmicos e cujas funções podem ser

descritas a seguir:

Funções a serem desempenhadas: -de interlocutor com o Colegiado do curso, acompanhando a trajetória do aluno e articulando propostas de encaminhamento. -de articulador de canais de comunicação entre os professores dos Módulos/Matérias/Disciplinas. -de promotor de encontro e confronto dos projetos existenciais dos alunos, a partir conhecimentos, comportamentos, atitudes, sentimentos e valores gerados na sua vida acadêmica. -de mediador das relações do aluno com o mundo, do aluno com o outro, numa descoberta de leituras coletivas da realidade na construção de uma solidariedade social. -de apoio ao aluno na construção coletiva de transformação da realidade. -de ajuda ao aluno a superar a visão compartimentalizada dos fatos, ações, conceitos e idéias comuns nos currículos. -articulador entre os professores das diversas áreas de conhecimento e os alunos, em situações concretas, nos diversos espaços de aprendizagem

58

(laboratório, sala de aula, ambulatórios, hospitais, escolas, comunidade e serviços). -de organização, acompanhamento e controle, em conjunto com o colegiado de curso, do processo de elaboração dos Planos de Ensino - Aprendizagem referente a cada área correlata do Módulo/Matéria/Disciplina, por semestre letivo.

As atividades propostas neste documento, como a mediação com o colegiado

do curso e a articulação do docente integralizador com os docentes das diversas

áreas de conhecimento e nos diversos espaços de aprendizagem, possibilitam o

entendimento da integralização como instrumento para romper a construção

hierárquica da matriz curricular, cuja representação gráfica foi inspirada na forma

circular.

O quadro 10 apresenta a descrição gráfica da estrutura curricular do referido

curso:

Quadro 10 – Fases do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau – SC.

ESTRUTURA CURRICULARESTRUTURA CURRICULAR

FASE ISituação de

saúde dacomunidade

FASE IIFamília e seu

processo de viver e À Beira do “leito”

por 12 horas

FASE IIIAvaliação do estado

de saúde do indivíduo,com SAE

FASE IVSaúde,

família esociedade

FASE VAssistência ao adulto Idoso

hospitalizado, família e sociedade

FASE VIPlanejamento e gestão de Enf. e assistência na

urgência e emergência

FASE VIIInternato em

atenção terciária

FASE VIIIInternato em

atenção primáriae secundária

SAÚDE DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DA MULHER

SAÚDEE

SOCIEDADE

SAÚDE E

FAMÍLIA

AVALIAÇÃODO ESTADO

DE SAÚDE DOINDIVÍDUO

SAÚDE DO ADULTO

ATENÇÃOÀ SAÚDE

HOSPITALAR

INTERNATO EM ENFERMAGEMHOSPITALAR

INTERNATO EMENFERMAGEM EMSAÚDE COLETIVA

CURSO DE ENFERMAGEM

F

Fonte: A pesquisadora

59

Este quadro descreve a formatação do curso de Enfermagem da FURB,

estruturado em oito fases (semestres letivos) que contemplam a formação do

enfermeiro. As grandes áreas de formação são os eixos norteadores descritos no

quadro 10 por meio de setas indicativas das fases em que estão inseridos e os

projetos de fase estão contemplados dentro dos módulos a que estão integrados. Os

temas transversos estão representados pelas linhas tracejadas que compõe a área

temática em saúde e sociedade.

Ao representar graficamente e descrever o curso de Enfermagem da Furb,

pretendeu-se esclarecer sua composição curricular, entendendo ser esta

modalidade de estruturação um processo de construção coletiva dos atores do

processo de ensino/aprendizado.

Pressupondo que as competências gerenciais descritas nas diretrizes

curriculares devem permear a formação profissional do Enfermeiro, fundamentando

o processo de trabalho, e que o gerenciamento deve ser considerado como eixo

norteador para a assistência de Enfermagem, procurou-se, nesta dissertação,

aprofundar o conhecimento da pesquisadora, construído ao longo de sua graduação

e especialização.

60

CAPÍTULO 5

5 ANÁLISE DO ESTUDO

Neste capítulo, o caminho percorrido na metodologia deste estudo fica

demonstrado pelos resultados, pela análise e discussão dos dados confrontados

com o referencial teórico.

O volume de informações produzidas pela análise dos documentos

pedagógicos do curso de graduação em Enfermagem estudado causou impacto e

resultou numa operação de codificação dos itens de significados das competências

gerenciais do enfermeiro de forma trabalhosa e demorada. Esta categorização exigiu

empenho, leituras e releituras do material codificado na busca por uma organização

dos dados em categorias analíticas predeterminadas no instrumento utilizado.

A categorização foi realizada com a utilização do instrumento descrito na

metodologia, adaptado para as competências gerenciais do enfermeiro (APENDICE

C), que produziu os quadros apresentados que serviram de guia para a discussão

das competências especificadas. Estes quadros foram então organizados,

agrupando os domínios analíticos conhecimentos, habilidades e atitudes nas

categorias empíricas fundamentadas no instrumento de categorização. Dentro

destas categorias, estavam expressas as 80 subcategorias que compõem o

instrumento empregado. Para elucidar esta representação o quadro 11 exemplifica a

composição dos domínios e categorias empíricas nos quadros apresentados na

análise.

Portanto, ao procurar uma representação que identificasse a exposição dos

resultados, tornou-se necessário a esquematização em quadros para visualizar as

dimensões das competências gerenciais em conhecimentos, habilidades e atitudes.

Estes quadros foram inseridos nos tópicos, à medida que as categorias analíticas

estavam sendo analisadas.

61

Quadro 11– Representação dos quadros de análise.

DOMÍNIO ANALÍTICO

CATEGORIAS EMPÍRICAS

CONHECIMENTO

HABILIDADE

ATITUDE

PLANEJAMENTO DAS AÇÕES

SAÚDE: PROMOÇÃO E

VIGILÂNCIA

TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM

SAÚDE

ABORDAGEM INTEGRAL DO SER

HUMANO/FAMÍLIA/GRUPO SOCIAL

ABORDAGEM DA GESTÃO DO

TRABALHO EM SAÚDE

Fonte: Adaptado de Modelagem dos Processos das Competências dos Profissionais da Saúde para a Consolidação do SUS/Programa/Estratégia de Saúde da Família. Projeto aprovado pela FAPESC no Edital 003 sob o número 911623/2004, coordenado pela Profª. Dra. Gladys Amélia Véles Benito.

Caminhar na tarefa de interpretar os dados extraídos dos documentos

permitiu explorar e inferir o contexto da produção destes documentos, especialmente

os planos de ensino, ao trabalhar com significados em lugar de apenas inferências

estatísticas, conforme proposto por Minayo (2000), tornando-se uma interpretação

das concepções gerenciais encontradas na categorização, alinhadas com o

momento de produção pelos docentes do curso estudado e o contexto vivenciado.

Ao apresentar e discutir os resultados nas dimensões estudadas, procurou-se

integrar as subcategorias conforme o instrumento utilizado. Entretanto, cabe

ressaltar que os itens de significado necessitaram ser agrupados em mais de uma

subcategoria. Diante desta dificuldade em elencar os itens de significado nas

subcategorias, foi necessário rever várias vezes a discussão e análise de dados.

Contudo, para melhor organizar a discussão dos resultados, foi definido que a

apresentação destes adotaria a ordem do instrumento utilizado, ou seja:

conhecimento, habilidade e atitude, embora as subcategorias estivessem

relacionadas entre si e, em alguns momentos, fossem analisadas e discutidas em

conjunto.

62

Neste entendimento, devido ao número elevado de subcategorias produzidas

pelo instrumento, os conceitos fundamentais de gestão, por vezes, são discutidos

em uma categoria e apenas apontados em outras, visando evitar a repetição

extensa dos aspectos gerenciais discutidos neste capítulo.

5.1 PLANEJAMENTO DAS AÇÕES

Quadro 12 – Categoria empírica planejamento das ações

DOMÍNIO CATEGORIA SUBCATEGORIA Nº DE

ITENS

Dimensão do

CONHECIMENTO

1. Conhecer os fatores determinantes do Processo

Saúde/Doença.

2. Conhecer o Perfil Epidemiológico da População

3. Conhecer a teoria do planejamento (planejamento

estratégico local)

4. Conhecer a política municipal de saúde

5. Conhecer os programas focais do Sistema Único

de Saúde

6. Conhecer os programas focais que são executados no município.

10

15

07

08

36

10

Dimensão da

HABILIDADE

PLANEJAMENTO

DAS AÇÕES

1. Identificar Problemas/ Necessidades/ Nós Críticos

2. Estabelecer prioridades.

3. Traçar estratégias de atuação.

4. Organizar seu Processo de Trabalho.

5. Intervir na organização da estrutura físico-funcional e organizacional da Unidade de Saúde.

12

12

14

07

07

Dimensão da

ATITUDE

1. Respeitar e acolher as necessidades de saúde do

ser humano/família/grupo social.

2. Respeitar e acolher as necessidades de saúde das

equipes.

3. Aplicar a tomada de decisão com base nos

princípios éticos e legais.

4. Respeitar a governabilidade das políticas de saúde

do SUS.

5. Respeitar e acolher a população do município.

34

0

07

07

0

Fonte: Adaptado de Modelagem dos Processos das Competências dos Profissionais da Saúde para a Consolidação do SUS/Programa/Estratégia de Saúde da Família. Projeto aprovado pela FAPESC no Edital 003 sob o número 911623/2004, coordenado pela Profª. Dra. Gladys Amélia Véles Benito.

O planejamento, conforme identificam Ciampone e Melleiro (2005), é um dos

instrumentos técnicos do processo de trabalho gerencial, que fundamenta a tomada

de decisão e consiste na elaboração de estratégias e ações que visam alcançar um

63

objetivo definido. As autoras refletem sobre a falta de discussão da dimensão

ideológica e de poder inerentes ao exercício do planejamento dentro do processo de

trabalho do Enfermeiro, evidenciando a utilização do planejamento apenas como um

instrumento técnico.

Estas dimensões de poder e ideologia são propostas por Testa (1995) para o

planejamento de saúde, como uma potencialidade transformadora, ao desvelar e

explicitar os conteúdos do poder e seus deslocamentos nas ações de saúde. Ao

considerar a problemática do poder e o conflito gerado pelas forças sociais, com

diferentes interesses e concepções sobre a situação-problema, na qual se planeja,

introduz, no processo de planejamento, a análise e construção da viabilidade política

para a compreensão do planejamento. Neste estudo, não foram encontrados nos

registros atributos referentes à discussão do poder e das forças sociais envolvidas

no processo de trabalho em saúde, evidenciando distanciamento destas variáveis,

que são importantes para o planejamento. Assim, ao evitar a inserção das

discussões sobre o poder como força de interferência no planejamento da Atenção à

Saúde, evidencia-se a utilização do planejamento como um instrumento técnico,

conforme colocam Ciampone e Melleiro (2005).

Considerando o instrumento utilizado, buscou-se, nos documentos

pedagógicos na categoria do planejamento, os fatores determinantes do processo

saúde/doença, como uma subcategoria na dimensão do conhecimento, conforme

ilustra o quadro 12, os atributos que identificassem estes fatores. Para entender os

fatores determinantes, cabe ressaltar a definição da OMS que estabelece as

tipologias de doenças como condições agudas e crônicas. Neste sentido, Brasil

(2007) define como os principais fatores determinantes do aumento relativo das

condições crônicas as mudanças demográficas, as mudanças nos padrões de

consumo e nos estilos de vida e a urbanização acelerada, que determinam uma

situação epidemiológica com dupla carga das doenças, com predomínio relativo das

condições crônicas.

Portanto, para a aquisição do conhecimento relativo ao planejamento das

ações em saúde, é prioritário conhecer os fatores determinantes do processo de

saúde/doença das condições crônicas e agudas, uma vez que 2/3 da carga das

doenças no Brasil são por condições crônicas (BRASIL, 2007).

Assim, nos documentos pedagógicos estudados, são identificados os

conhecimentos referentes aos fatores determinantes do processo

64

saúde/doença, estes aparecem nos itens de significado com predomínio dos fatores

relacionados às condições agudas ou fatores causais de agravos à população,

porém, os aspectos relativos às condições crônicas são pontuados nos planos de

ensino, articulados com a habilidade de gerenciar, em apenas um item,

referenciando a hipertensão e diabetes, exemplificados a seguir:

“Gerenciar ações de cuidado e de articulação com setores de referência para tratamento da hipertensão e diabetes Melittus” CP1. “Determinantes do processo saúde/doença” CP1. “Correlacionar os componentes da cadeia de transmissão das doenças e os mecanismos de defesa do corpo humano com as medidas de promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde e prevenção de agravos” CP1. “Reconhecer as determinações biológicas (bases da hereditariedade e genética) e psicológicas na formação, crescimento e desenvolvimento do ser humano” CP1.

Portanto, após analisar as subcategorias que compõem o instrumento

aplicado na categorização dos dados documentais, na dimensão conhecimento e

na categoria do planejamento das ações, os dados relacionados ao estilo de vida e

sua relação com as doenças crônicas não- transmissíveis, aqui discutidos, devido à

sua relevância para o planejamento das ações de saúde, relacionadas à carga desta

tipologia na população brasileira, foram pouco evidenciados nos documentos

analisados, embora tenham sido pontuados itens, inferindo menor relevância das

doenças crônicas não-transmissíveis na formação do Enfermeiro neste curso

estudado.

Entretanto, na subcategoria Conhecer o Perfil Epidemiológico da

População, foram identificados registros com abrangência ampla do perfil

epidemiológico e de agravos específicos, permitindo a inferência de uma

convergência entre o contexto brasileiro e a formação de recursos humanos de

Enfermagem neste curso pesquisado, como pode ser observado nos registros:

“Discutir o quadro nosológico de uma população a partir de indicadores epidemiológicos, relacionando-os com a construção social do processo saúde/doença.” CP2. “Conhecer qual o quadro epidemiológico das situações de gravidez e DTS/AIDS em nível municipal e Brasileiro.” CP2.

65

Nestes escritos pesquisados, foi evidenciada a inserção do cuidado

relacionado ao idoso, e foram encontrados itens que revelam a mobilização de

competências relativas ao perfil epidemiológico das doenças crônicas não

transmissíveis e, como isto, é trabalhado na formação do Enfermeiro, embora não

apareçam nos fatores determinantes. Entendendo ser o envelhecimento da

população brasileira e o conseqüente aumento das doenças crônicas não-

transmissíveis um fator preponderante para a formação de recursos humanos para a

saúde, com o desenvolvimento de competências para planejar as ações de saúde

neste panorama. Estes registros referentes ao cuidado do idoso podem ser

identificados no registro:

“Desenvolver as práticas do cuidar do idoso com necessidades de saúde, considerados a partir do perfil epidemiológico, em nível primário de atenção à saúde.” CP2.

Usualmente, observa-se que, na práxis do Enfermeiro, o planejamento

costuma estar relacionado à assistência ou ao gerenciamento do serviço de

Enfermagem ou das unidades assistenciais, e isto pode ser identificado na

subcategoria Conhecer a teoria do planejamento (planejamento estratégico

local), pelo registro:

“Indicar as etapas do planejamento do cuidado e do serviço de enfermagem.” CP3.

Portanto, para a discussão desta subcategoria analítica, foram revistos os

escritos pedagógicos, buscando a referência ao planejamento e/ou à teoria do

planejamento estratégico local. Foram encontrados itens relacionados ao

planejamento, incluindo a Atenção Básica de Saúde e Atenção Terciária, ressaltados

nos seguintes itens:

“Planejamento, suas variáveis e instrumentos.” CP3. “Planejamento e programação em Atenção Básica de Saúde (Primária e Secundária).”CP3. “Conhecer a administração do serviço de enfermagem em atenção terciária.”CP3.

66

As facetas do poder e ideologia raramente estão inseridas no processo de

planejamento do Enfermeiro (PERES, 2006). Prevalece, principalmente, na gestão

hospitalar, o planejamento normativo como fundamento para a tomada de decisão.

No planejamento normativo, estabelece-se um único plano de ação,

desconsiderando o contexto e sua implementação, tornando-se assim uma proposta

idealista. Isto fica evidenciado pela falta de inserção de itens de significado

relacionados ao poder nos registros estudados.

O planejamento em saúde, na esfera pública ou privada, embora em cada

esfera predomine uma lógica hegemônica, requer a sistematização através de

metodologias para a sua elaboração. Neste sentido, as competências requeridas

envolvem o conhecimento, habilidades e atitudes para ampliar a análise e qualificar

os processos decisórios pelos profissionais na sua prática cotidiana.

Para viabilizar a sistematização do planejamento, surge, na esfera pública, o

Planejamento Estratégico Situacional (PES), buscando a solução de questões

sociais e políticas na complexidade da área da Saúde. O PES é uma metodologia

para resolução de problemas, que envolvem o poder político, econômico,

administrativo e técnico. Esta metodologia trabalha, segundo Ciampone e Melleiro

(2005), com o processamento de problemas atuais, potenciais e os

macroproblemas. Processar problemas implica em conhecer e explicar o problema,

elaborar planos para promover mudanças, analisar a viabilidade política do plano e

executá-lo, que corresponde à “... ter uma visão real dos problemas locais, sem

generalizá-los na descrição e nas propostas de solução” (CIAMPONE E MELLEIRO,

2005, p. 47).

Neste processo, o planejamento de ações pressupõe o conhecimento das

políticas, regulamentações e programas que regem o Sistema de Saúde, para que

as ações planejadas sejam coerentes com sua efetiva execução. Neste

entendimento, foram pesquisados nos documentos pedagógicos estudados, escritos

que identificam a inserção do conhecimento das políticas municipais de Saúde,

que são executadas no município de Blumenau, como pode ser demonstrado nos

seguintes registros:

“A POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE DA CRIANÇA: segundo o Ministério da Saúde; ações desenvolvidas pelo município de Blumenau, atenção básica e secundária” CP4.

67

“Conhecer e aplicar as normas e rotinas definidas pelo Ministério da Saúde e município de Blumenau, no que tange ao cuidado à saúde da criança.” CP4.

Conforme Teixeira (2002), o ato de planejar consiste em desenhar, executar e

acompanhar um conjunto de propostas de ação com vistas à intervenção sobre um

determinado recorte da realidade, orientado por um propósito em uma determinada

situação. Na estruturação legal do SUS, o planejamento é uma ação fundamental

para a formulação de métodos e processos, repasse de recursos e controle do

sistema. O Planejamento Estratégico Situacional aplicado, neste cenário, implica em

estabelecer três vértices, conforme expõem Ciampone e Melleiro (2005): o projeto

de governo, a governabilidade e a capacidade de governo. Estes vértices podem ser

identificados na formação do enfermeiro como o conhecimento das políticas públicas

de saúde como o projeto de governo, a atitude de preservar e respeitar a

governabilidade destas políticas e a habilidade de implementá-las. Estes aspectos

foram pesquisados nos escritos pedagógicos, visando discutir as dimensões de

conhecimento, habilidade e atitude e estão inseridas ao longo desta categoria.

Brasil (2007) define como instrumentos básicos de planejamento nas três

esferas de gestão do SUS: o Plano de Saúde, que norteia a definição da

programação anual das ações e dos serviços a serem prestados; e o Relatório de

Gestão, que apresenta os resultados alcançados e os redirecionamentos porventura

necessários.

Reconhecendo a necessidade de discutir e consolidar a política pública de

Saúde como uma política de Estado, o Ministério da Saúde, o CONASS, e o

CONASEMS elaboraram metas e objetivos sanitários a serem alcançados com a

participação da sociedade na defesa pelo SUS. Tendo como finalidade a

qualificação da gestão pública do SUS, estabeleceram-se, então, três dimensões no

Pacto de Saúde 2006: Pacto em Defesa do SUS; Pacto pela Vida; e Pacto de

Gestão (BRASIL, 2007)

Ao pesquisar, nos documentos pedagógicos estudados, o conhecimento das

políticas públicas foi agregado para facilitar a discussão às subcategorias referentes

ao conhecimento de: Política Municipal de Saúde, programas focais do Sistema

Único de Saúde e programas focais que são executados no município. Foram

elencados os itens de significado que fizeram referência às políticas em todos os

níveis de atenção de saúde, e foi encontrado o maior número de referências no

68

conhecimento de políticas nacionais do SUS. Encontrou-se 26 itens de significados,

mencionando as Políticas de Atenção e Políticas Nacionais definidas pelo Ministério

da Saúde, inclusive o Pacto pela Saúde 2006, o Pacto pela Vida, em Defesa do SUS

e da Gestão de Política da Atenção Básica, conforme o exemplo citado:

“Conhecer os Pactos pela Saúde e Pactos pela Vida, em defesa do SUS e da gestão Política da Atenção Básica - Portaria 648/MS” CP5.

Quanto ao conhecimento dos programas focais que são executados no

Município, entendendo que esta subcategoria esta vinculada ao princípio da

regionalização do SUS, foram relacionados dez itens que mencionam o Município de

Blumenau – SC, evidenciando o princípio da regionalização e hierarquização nos

documentos pedagógicos estudados, que podem ser explicitados a seguir:

“Conhecer A POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE DA CRIANÇA:segundo o Ministério da Saúde; ações desenvolvidas pelo município de Blumenau, atenção básica e secundária”.CP6. “As ações desenvolvidas pelo município de Blumenau em relação a saúde da mulher em nível primário e secundário de atenção” CP6. “Conhecer e aplicar as normas e rotinas definidas pelo Ministério da Saúde e município de Blumenau, no que tange ao cuidado à criança.” CP6.

Neste estudo, o conhecimento produziu um número significativo de itens de

significado, referente às políticas públicas, incluindo as municipais, com ênfase nos

programas focais do município, inferindo que a dimensão conhecimento

representa uma ampla inserção na formação do Enfermeiro, como pode ser

demonstrado no registro:

“As ações desenvolvidas pelo município de Blumenau, em relação à saúde da mulher, em nível primário e secundário de atenção.” CP6

Neste contexto, os escritos pesquisados evidenciam a reflexão das políticas

públicas do Sistema Único de Saúde e sua aplicação no município, em consonância

com as diretrizes e princípios do Sistema de Saúde, e com as Diretrizes Curriculares

para Formação de Recursos Humanos de Saúde, com o pressuposto que os

profissionais formados nos cursos de graduação devem fundamentar a dimensão do

69

conhecimento das políticas que regem o sistema de saúde do país, para alinhá-las

com a dimensão da habilidade em aplicá-las, e a atitude de executá-las.

No planejamento das ações, a habilidade de identificar e priorizar as ações é

colocada como o primeiro passo do processo de trabalho do Enfermeiro. Fica

evidenciado pelo número de itens de significado que estes passos estão inseridos

na formação do enfermeiro do curso estudado. Visto que nas subcategorias

relacionadas foram identificados doze itens de significado, onde a habilidade e a

atitude estão agregadas nos itens referentes à identificação das necessidades e

o estabelecimento das prioridades, exemplificados a seguir:

“Identificar problemas e intervir de forma a transformar a realidade social.” HP1. “Identificar as necessidades e principais agravos que acometem às mulheres e prestar assistência de enfermagem à mulher em nível primário e secundário.” HP1. “Identificar as necessidades e principais agravos que acometem às crianças e prestar assistência de enfermagem à criança em nível primário e secundário.” HP1.

Ao considerar as estratégias de atuação na dimensão habilidade para o

planejamento das ações, foi evidenciada, pela relevância no número de itens

pontuados nos registros pesquisados, a sistematização de assistência de

enfermagem como estratégia de atuação do enfermeiro. Esta metodologia aparece

como um tema transversal, sendo inserida a partir da terceira fase (semestre) até a

oitava e última fase, como nos itens descritos a seguir:

“Sistematização da assistência de enfermagem como instrumento de gerência” HP3. “Desenvolver a SAE, através das consultas de enfermagem e visitas domiciliares”. HP3. “Consulta de Enfermagem à mulher em domicílio (Visita domiciliar) e/ou na Unidade de Saúde.” HP3.

Ainda na dimensão habilidade, quanto aos aspectos organizacionais, foram

pesquisados nos documentos pedagógicos registros referentes às subcategorias

organização do processo de trabalho e intervir na organização da estrutura

70

físico-funcional e organizacional da Unidade de Saúde, onde foram elencados

sete itens de significado, inferindo que são desenvolvidos na formação do

Enfermeiro deste curso, tendo em vista que este é um dos aspectos precursores do

trabalho em Enfermagem, desde Florence Nothingale, que iniciou a organização do

cuidado, exemplificado nos itens a seguir:

“Organização de serviços de saúde.” HP4. “Organizar, supervisionar e liderar o processo de trabalho sobre o cuidar/confortar.” HP4. “O profissional enfermeiro seja capaz de coordenar ações nos serviços de saúde que contribuam para a qualidade das práticas realizadas e a transformação dos perfis epidemiológicos.” HP4. “Resolver os problemas encontrados na sua prática.” HP5

Para identificar como são mobilizadas as atitudes para o planejamento de

ações na formação do Enfermeiro no curso pesquisado, buscou-se, nos documentos

pedagógicos, atributos que remetessem à ação como artifício para identificar atitude.

Ao elencar uma quantidade significativa de 34 itens de significados de atitudes

concernentes às necessidades do ser humano, ficam evidenciados nos registros

pesquisados que respeitar e acolher as necessidades do ser humano, família e

grupo social estão inseridos na formação do Enfermeiro, como pode ser visto nos

registros:

“Atuar com senso de responsabilidade e compromisso com o exercício da cidadania, promovendo a saúde integral do ser humano.” AP1. “Realizar o planejamento, implementação e avaliação dos cuidados ao adulto, sua família, grupos específicos e coletivamente.” AP1. “Prestar assistência de enfermagem ao indivíduo, família e comunidade nos diferentes níveis de atenção à saúde.” AP1.

Entretanto, na subcategoria respeitar e acolher as necessidades de saúde

da equipe, não foram identificados registros nos documentos pedagógicos

analisados que demonstrassem como são trabalhadas as necessidades de saúde da

equipe na formação do Enfermeiro. Neste aspecto, cabe destacar que, não

71

considerar as necessidades de saúde da equipe, compromete o planejamento das

ações de saúde.

Entendendo a tomada de decisão, conforme descrito nas Diretrizes

Curriculares (BRASIL, 2001): “Para este fim, os mesmos (sic) devem possuir

competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais

adequadas, baseadas em evidências científicas”. Para a tomada de decisão, a

inserção da ética como uma atitude a ser mobilizada na formação do Enfermeiro

pode ser inferida e evidenciada pelo número de itens de significados encontrados na

subcategoria aplicar a tomada de decisão com base nos princípios éticos e

legais, exemplificados a seguir:

“Pautar suas ações pela ética profissional, respeitar os princípios legais da profissão.” AP3. “Utilizar-se dos princípios éticos em todas as situações da prática.” AP3. “Intervenção baseada na bioética.” AP3.

Ainda na dimensão atitude, para identificar os atributos que indicassem a

subcategoria respeitar e acolher a governabilidade das políticas de saúde do

SUS, foram definidos os itens de significado que desvelassem a aplicação das

políticas de saúde. Neste sentido, foram pontuados doze itens de significado,

inferindo a mobilização da atitude, para aplicar as políticas de saúde dos programas

focais do SUS, como pode ser visto nos registros:

“Aplicar as normas e rotinas definidas pelo Ministério da Saúde, no que tange à assistência no planejamento familiar.” AP4. “Aplicar as normas e rotinas definidas pelo Ministério da Saúde, no que tange a prevenção do câncer de mama e câncer de colo uterino.” AP4. “Atender as necessidades sociais de saúde, com ênfase no SUS.” AP4.

Entretanto, na subcategoria respeitar e acolher a população do município,

não foram encontrados registros referentes à população do município, evidenciando

um distanciamento da participação da população no planejamento das ações de

saúde.

72

Entendendo o planejamento de ações de saúde como uma das ferramentas

dentro de um conjunto de instrumentos próprios da gestão para fundamentar e

qualificar os processos decisórios no processo de trabalho em saúde, torna-se

preponderante, neste estudo, identificar sua inserção na formação do Enfermeiro. Ao

analisar as subcategorias que compõem o planejamento das ações nas dimensões

do conhecimento, habilidade e atitude, considerando as estatísticas dos itens de

significado, é inferido que o conhecimento é extensamente pontuado, porém para a

inserção da prática que podem evidenciar/mobilizar a habilidade e a atitude é

expresso em número de itens de significados menores.

Neste sentido, ao abordar a dimensão atitude na formação do Enfermeiro na

perspectiva do planejamento de ações de saúde, cabe ressaltar que atitude implica

numa atuação relacionada a um comportamento para uma determinada ação. Benito

e Becker (2007), em seu artigo sobre a atitude gerencial do enfermeiro, evidenciam

que as complexidades das condições humanas interferem nas escolhas para o

enfrentamento pessoal de determinadas situações do processo de trabalho em

saúde. Neste estudo, as autoras dizem que, quando se fala em “competências do

formando em graduação de enfermagem, trabalha-se pouco as questões referentes

às atitudes, talvez porque seja intrínseca do acadêmico.” (BENITO; BECKER, 2007,

p. 312). Este artigo vem corroborar este estudo na perspectiva do desenvolvimento

da atitude na formação do Enfermeiro.

Embora a inserção nos cenários de práticas do curso estudado esteja

encetada a partir da segunda fase nos serviços de saúde ambulatoriais e

hospitalares, foram encontrados, nos registros pedagógicos estudados, a inserção

do planejamento de ações de saúde direcionadas para a prestação da assistência

individual, com a predominância de itens de significado voltados ao planejamento da

assistência individual, com inserções em coletivos específicos como: cuidado à

criança, à mulher, ao idoso, e desvelam uma tendência ao conteúdo fragmentado na

formação do Enfermeiro, e ressaltam a utilização do planejamento como um

instrumento técnico, sem discutir as relações de poder no processo de trabalho do

enfermeiro, que interferem no planejamento das ações de saúde.

73

5.2 SAÚDE: PROMOÇÃO E VIGILÂNCIA

Quadro 13 – Categoria empírica Saúde: Promoção e Vigilância

DOMÍNIO CATEGORIA SUBCATEGORIA Nº DE ITENS

Dimensão do

CONHECIMENTO

1. Conhecer os fatores sociais determinantes da qualidade de

vida.

2. Conhecer as políticas de vigilância em saúde municipal

3. Conhecer a política de educação em saúde no município

4. Conhecer as diretrizes de participação popular do município.

5. Conhecer o modelo de atenção à saúde preconizada pelo

município.

08

12

01

0

08

Dimensão da

HABILIDADE

1. Articular ações integradas com outros setores da sociedade.

2. Articular ações integradas com a Rede Institucional.

3. Identificar os fatores sociais determinantes da qualidade de

vida.

4. Promover a participação e intervenção popular.

5. Implementar o processo de trabalho.

6. Implementar as normas de Biossegurança.

7. Promover a vigilância em saúde.

01

05

01

0

02

01

02

Dimensão da

ATITUDE

SAÚDE:

PROMOÇÃO

E

VIGILÂNCIA

1. Valorizar a Participação Comunitária.

2. Valorizar a participação da Gerência de Saúde.

3. Valorizar mecanismos para o controle social em saúde do

município e grupos sociais.

4. Preservar a aplicação das normas de Biossegurança do

SUS.

5. Preservar a vigilância em saúde.

6. Valorizar os processos educativos junto ao ser

humano/família/grupo social.

01

0

0

02

11

12

Fonte: Adaptado de Modelagem dos Processos das Competências dos Profissionais da Saúde para a Consolidação do SUS/Programa/Estratégia de Saúde da Família. Projeto aprovado pela FAPESC no Edital 003 sob o número 911623/2004, coordenado pela Profª. Dra. Gladys Amélia Véles Benito.

Para discutir os resultados encontrados nesta categoria, sob o enfoque da

promoção e vigilância em saúde, buscou-se, na proposição colocada por Testa

(1995), o embasamento da percepção sobre saúde como “o jeito de andar a vida”,

no qual intervêm os problemas sociais complexos através de suas inúmeras

variáveis. O autor considera a epidemiologia social como o processo de

saúde/doença, entendido como expressão do processo social, onde as

desigualdades, o sofrer e adoecer entre os grupos de pessoas são considerados

como decorrentes das diferenças de classes sociais. Neste sentido, nos documentos

estudados foram identificados registros que expressam o contexto social como

74

determinante de saúde e, portanto, estão inseridos nesta categoria de Saúde:

Promoção e Vigilância.

A relevância da discussão da promoção de saúde teve suas diretrizes

estabelecidas na Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), regulamentada

pela Portaria nº. 687, de 30 de março de 2006, que utiliza o conceito ampliado de

saúde como suporte para promover a qualidade de vida, a eqüidade e reduzir os

riscos à saúde relacionados aos seus determinantes: modos de vida, ambiente,

educação, condições de trabalho, moradia, lazer, cultura e acesso a bens e serviços

essenciais, incorporando a participação e o controle social (BRASIL, 2007). Esta

política busca a inversão do modelo de atenção à saúde, centrado na especialização

e atenção fragmentada para o cuidado integral à saúde, para reduzir as

desigualdades sociais das regiões do Brasil. Tem como eixo estruturante a Atenção

Básica e a Estratégia da Saúde da Família em consonância com os princípios e

ideário do Sistema Único de Saúde. Entendendo a prioridade das ações definidas

para a atuação no biênio 2006-2007, como descreve a PNPS (BRASIL, 2007, p. 22):

“alimentação saudável, prática corporal/atividade física, prevenção e controle do tabagismo, redução da morbi-mortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas, redução da morbi-mortalidade por acidentes de trânsito, prevenção da violência e estímulo à cultura de paz e promoção do desenvolvimento sustentável.”

Neste sentido, buscou-se nos documentos estudados os itens de significado

que desvelassem a inserção da Promoção de Saúde e Vigilância em Saúde na

formação do Enfermeiro do curso de Enfermagem pesquisado, conforme as

subcategorias do instrumento. Neste contexto, na dimensão conhecimento, na

subcategoria fatores sociais determinantes da qualidade de vida, foram

pontuados itens de significado que explicitam os fatores sociais genericamente,

relacionando-os com o processo de saúde/doença, como podem ser identificados

nos registros:

“Fatores que influenciam na qualidade de vida e o pleno desenvolvimento do ser humano” CPV1. “Analisar os diferentes modos de produção da sociedade e os determinantes do processo saúde/doença” CPV1.

75

“Conhecer a construção social do processo saúde/doença.” CPV1. Percebendo a abrangência dos itens de significado, e buscando uma

aproximação com a PNPS e as ações prioritárias estabelecidas, foram realizadas

novas leituras dos planos de ensino para identificar como eram trabalhados os

temas descritos acima. Foram encontrados itens de significado que podem ser

categorizados em conhecer as políticas de vigilância em saúde municipal,

devido à afinidade com a vigilância em saúde, sendo que o enfoque descentralizado

das políticas de vigilância em saúde não foi evidenciado, como é descrito nos

seguintes enunciados:

“Conhecer a importância da alimentação na infância para poder contribuir na qualidade da alimentação infantil” CPV2. “Conhecer as políticas públicas em relação à alimentação” CPV2.

Entretanto, ao buscar nos registros estudados os fatores sociais

determinantes da qualidade de vida nos aspectos referentes ao tabagismo, uso

abusivo de álcool e drogas, morbi-mortalidade dos acidentes de trânsito, prevenção

de violência e desenvolvimento sustentável, não foram encontrados registros destes

itens de significado. A necessidade de abordar os determinantes sociais e políticos

da promoção de saúde na formação do enfermeiro está embasada no imperativo de

que as ações de promoção de saúde são capazes de modificar os indicadores de

desenvolvimento humano de nossa população.

Portanto, a coleta sistemática e contínua de dados de uma população em

relação a eventos de saúde, sua análise, interpretação e disseminação para uso em

ações de saúde pública são elementos essenciais da atividade de vigilância em

saúde. Este conceito está fundamentado em autores como Langmuir (1963) e Raska

(1966) apud Brasil (2007), que enfatizam a observação contínua da distribuição e

tendências da incidência de doenças e avaliação de informes de morbidade e

mortalidade, assim como de outros dados relevantes, e a regular disseminação

dessas informações a todos que necessitam conhecê-la. Neste contexto, a ausência

de itens de significado nos registros estudados sobre os determinantes sociais

definidos na PNPS para a vigilância em saúde evidencia uma lacuna na categoria da

Saúde: Promoção e Vigilância no curso pesquisado.

76

Ao agregar as subcategorias que fazem referência à vigilância em saúde nas

dimensões: conhecimento, habilidade e atitude, buscou-se evidenciar a

interpretação da inserção da competência na formação do enfermeiro na vigilância

em saúde. Portanto, na dimensão conhecimento, definiu-se a subcategoria

conhecer as políticas de vigilância em saúde municipal, na dimensão habilidade,

promover a vigilância em saúde, e na atitude, de preservar a vigilância em

saúde.

Para discutir a vigilância em saúde, impõe conhecer o perfil epidemiológico

complexo que se apresenta na realidade brasileira, e envolve aceitar a alteração de

denominação de vigilância epidemiológica para vigilância de saúde e as ações de

vigilância, prevenção e controle de doenças, nesta mesma estrutura. Entendendo

que as mudanças no perfil epidemiológico das populações, com o declínio das taxas

de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e crescente aumento das

mortes por causas externas e doenças crônico-degenerativas, buscou-se, nos

documentos pedagógicos, como as atividades da vigilância em saúde permeiam os

conteúdos temáticos para a formação do Enfermeiro. Desta forma, foi possível

identificar itens de significado de todas as subcategorias descritas acima, referentes

às políticas e vigilância epidemiológica nos registros analisados, descritos a seguir:

“Conhecer a situação de saúde da comunidade, vigilância epidemiológica, epidemiologia e indicadores de saúde.” CPV2. “indicadores mais utilizados em saúde: coeficiente de mortalidade infantil, de natalidade, de mortalidade materna, de morbidade, de mortalidade.” CPV2. “Vigilância Nutricional (VAN).” CPV2. “Vigilância à saúde.” CPV2.

“Conhecer e atuar de acordo com as normas estabelecidas pela vigilância epidemiológica (notificação compulsória, investigação epidemiológica e medidas de controle).” CPV2. “Compreender e relacionar à sua prática os conhecimentos sobre as doenças prevalentes na infância.” CPV2. “Utilizar os dados e informações para explicar a situação de saúde e propor o controle de agravos.” APV5.

77

“Estabelecer medidas de promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde e de prevenção de agravos.” HPV7.

Entretanto, os dados referentes às doenças crônicas não transmissíveis e o

modo de vida da população não foram evidenciados nos documentos analisados.

Não foram encontrados os aspectos referentes às políticas de vigilância em saúde

do município, apenas as políticas nacionais, evidenciando um distanciamento do

princípio da regionalização do Sistema de Saúde. Nesta interpretação das

dimensões estudadas pode ser inferida a inserção ampla do conhecimento com

maior número de itens de significado do que as dimensões de habilidade e atitude.

Entende-se o conceito de Educação em Saúde como uma experiência de

aprendizado, sistematicamente planejada para facilitar ações voluntárias para a

promoção da saúde (CANDEIAS, 1997). Dentro deste entendimento, ao pesquisar,

na dimensão conhecimento, sobre as Políticas de Educação em Saúde no

Município, não foi evidenciado nenhum item de significado referente ao município,

mas, apenas, itens que se referem à educação permanente, pontuando assim uma

lacuna importante a ser aprofundada na socialização do estudo com os docentes do

curso pesquisado.

Entretanto, é importante ressaltar que, referente às ações educativas para as

necessidades de saúde, na dimensão atitude, dentro da subcategoria valorizar os

processos educativos junto ao ser humano/ família/ grupo social, foi encontrado

um número expressivo de itens de significado para diversos coletivos, como pode

ser evidenciado nos registros:

“Contribuir para a promoção, prevenção e recuperação da saúde integral do indivíduo em todo o ciclo vital e família através da educação em saúde e promover a melhoria do cuidado de enfermagem na atenção terciária através da educação permanente respeitando os princípios éticos da profissão.” APV6. “Planejar e implementar atividades educativas relacionadas às necessidades de cuidado à criança no contexto da Atenção Básica” APV6. “Realizar ações educativas e de promoção da saúde mental na comunidade.” APV6. “Atividades de Educação em Saúde com grupos de mães – puericultura” APV6.

78

“Ações educativas para controle das condições de risco e prevenção de complicações.” APV6.

Deste modo, é evidenciado que as atividades de Educação em Saúde

permeiam a formação do enfermeiro no curso estudado. Porém, a ausência de

registros de significados do conhecimento das Políticas de Educação em Saúde do

município expressa um distanciamento das diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Ao buscar o conhecimento das diretrizes da participação popular no

município, não foram encontrados itens de significado que remetessem à

participação popular no município, entendendo que não estão inseridos na formação

do enfermeiro as políticas de participação popular e controle social do Sistema Único

de Saúde. Ao identificar esta ausência de itens de significado, buscou-se, na

dimensão habilidade, na subcategoria promover a participação e intervenção

popular, e na dimensão atitude, na subcategoria valorizar mecanismos para o

controle social em saúde no município e grupos sociais, a presença de registros

que identificassem a participação popular e o controle social, e não foi encontrado

nenhum registro nas dimensões do conhecimento, habilidade e atitude, inferindo ser

um aspecto que não é abordado na formação do Enfermeiro.

Ainda na dimensão do conhecimento, na subcategoria modelo de atenção

preconizada pelo município, foram elencados oito registros que identificam o

modelo de atenção, embora não tenha sido encontrada a especificidade referente ao

município, que desvela um distanciamento do princípio da regionalização, como

pode ser observado:

“Conhecer os níveis de atenção à saúde, ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde.” CPV5.

“Explicar os modelos/desenhos organizativos de atenção à saúde.” CPV5. “Conhecer e comparar o trabalho de uma UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família) e uma UBST (Unidade Básica de Saúde Tradicional).” CPV5.

Buscando, nos registros pedagógicos analisados, a habilidade de articular

ações integradas com outros setores da sociedade, foi encontrado apenas um

item de significado: “O projeto de prática assistencial e sua articulação com o

contexto social” APV1. Porém, destacando que este item se refere ao projeto de

79

fase que integra o eixo norteador de cada fase do curso estudado, e a expressão de

sua articulação com o contexto social remete à produção do discente articulado com

a sociedade. Cabe ressaltar que foi encontrado apenas um item nesta subcategoria

referente à articulação com a sociedade, inferindo ser pouco explorada a articulação

com o contexto social.

Entretanto, na subcategoria articular ações integradas com a rede

institucional, foram pontuados itens que inserem na formação do enfermeiro a

articulação com a rede institucional, incluindo o processo de referência e contra-

referência, necessário para a hierarquização dos serviços de saúde do Sistema

Único de Saúde, como podem ser identificados nos registros:

“Desenvolver ações gerenciais na Atenção Básica, através dos sistemas de informação em saúde, mecanismos de referência e contra-referência com demais setores.” APV2. “Articulação com serviços de referência (hospitalar e ambulatorial) para encaminhamento de casos necessários.” APV2. “Articulação do serviço de saúde mental na Atenção Básica com a referência para tratamento (hospital e instituições alternativas).” APV2.

A habilidade de identificar os fatores sociais determinantes da qualidade

de vida foi pontuada em apenas um registro, embora tenha sido extensamente

trabalhada no conhecimento dos fatores. Ao buscar a habilidade de identificar, fica

expressa uma lacuna, ao entender que, mobilizar competências na formação,

envolve as três dimensões.

Dentro da dimensão habilidade, e da subcategoria implementar o processo

de trabalho na atenção à saúde, os registros encontrados estão inseridos também

na dimensão atitude, dentro da subcategoria Intervir no ser humano/

família/grupo social de forma Participativa e Construtiva, devido à afinidade

entre as duas subcategorias. Isto pode ser exemplificado no registro:

“Desenvolver as práticas do cuidar do adulto com necessidades de saúde, em situações de crise, na sexualidade e planejamento familiar e em situações de agravo, considerados a partir do perfil epidemiológico, em nível primário de atenção à saúde, e introduzi-lo nos níveis secundários e terciário, através do planejamento, implementação e avaliação dos cuidados ao adulto, sua família, grupos específicos e coletivamente.” HPV5 ou AAI1

80

Estas duas subcategorias resultaram num número extenso de itens de

significado, com mais de setenta registros, embora em relação especificamente à

implementação do processo de trabalho do Enfermeiro foi pouco pontuado. Esta

discussão será alavancada na dimensão atitude, com referência à abordagem

integral do ser humano/família/grupo social, e na abordagem da gestão do trabalho

em saúde.

A habilidade de implementar as normas de Biossegurança e a atitude de

preservar a aplicação das normas de Biossegurança do SUS foram as lacunas

evidentes desta subcategoria, pois foram pontuados poucos itens nos registros

analisados, como pode ser identificado no escrito:

“Nos casos de exposição de materiais biológicos, atuar de acordo

com as normas preconizadas pela Instituição.” APV4.

Na dimensão atitude, os aspectos referentes a valorizar a participação

comunitária e valorizar a participação da gerência de saúde, subcategorias que

não foram encontrados itens de significado na Promoção e Vigilância em Saúde, são

lacunas importantes para a inserção das competências gerenciais na formação do

enfermeiro.

Buscando ultrapassar os limites dos fatores determinantes de saúde daqueles

estritamente comportamentais, para uma rede de interações complexas constituídas

pela cultura, pelas normas e pelo ambiente socioeconômico, inseridos no que se

denominou estilo de vida (CANDEIAS, 1997), nesta categoria da Saúde: Promoção

e Vigilância, pesquisou-se nos registros pedagógicos as inserções que abarcassem

os conceitos de promoção e vigilância em saúde, visando a transformação da

realidade regional com a formação de recursos humanos de saúde com

conhecimentos, habilidades e atitudes mobilizadas para a atuação no modelo de

atenção à saúde brasileiro.

Neste sentido, ao analisar as subcategorias que expressam o modo de vida

da população, no município evidenciado, pela ausência nos documentos

pedagógicos de registros que identifiquem os determinantes descritos na PNPS, as

políticas de educação municipal e a participação, intervenção popular e,

especificadamente, o controle social na saúde, são aspectos que demonstram o

81

distanciamento dos fatores preponderantes do município para a formação de

recursos humanos, mobilizados para a transformação da realidade regional.

5.3 TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

Quadro 14 – Categoria empírica: Trabalho interdisciplinar em saúde

DOMÍNIO CATEGORIA SUBCATEGORIA Nº DE ITENS

Dimensão do

CONHECIMENTO

1. Conhecer o trabalho de todos os componentes da

Equipe.

2. Conhecer os princípios do trabalho interdisciplinar.

3. Conhecer teorias para se trabalhar em grupo.

07

05

0

Dimensão da

HABILIDADE

TRABALHO

INTERDISCIPLINAR

EM SAÚDE

1. Ouvir e negociar.

2. Articular os diferentes pontos de vista.

3. Promover situação de diálogo.

4. Desenvolver ações de liderança frente às diversas

situações.

5. Articular o trabalho em grupo.

0

0

06

05

03

Dimensão da

ATITUDE

1. Compartilhar conhecimentos e informações.

2. Respeitar as atribuições e diferenças de classe

profissionais do SUS.

3. Comprometer-se com a integração da equipe

multidisciplinar de saúde.

4. Ser líder e membro de equipe.

5. Ser comunicativo e interativo com a equipe de

trabalho.

6. Respeitar e estabelecer relações de trabalho de

caráter interdisciplinar e multiprofissional como

estratégia de atenção à saúde, sob o enfoque da

integralidade.

0

0

05

04

02

05

Fonte: Adaptado de Modelagem dos Processos das Competências dos Profissionais da Saúde para a consolidação do SUS/Programa/Estratégia de Saúde da Família. Projeto aprovado pela FAPESC no Edital 003, sob o número 911623/2004, coordenado pela Profª. Dra. Gladys Amelia Véles Benito.

A complexidade da Atenção à Saúde impõe considerar o trabalho em equipe

na perspectiva interdisciplinar na busca de soluções compartilhadas para a

integralidade da assistência em saúde, e com o propósito de superar as fronteiras

disciplinares.

Saupe et al (2005, p.3) definem a interdisciplinaridade como a “relação

articulada das diferentes profissões da Saúde” no estudo sobre as competências dos

profissionais da Saúde para o trabalho interdisciplinar. Neste estudo, desenvolvido

82

pelos autores, coloca a interdisciplinaridade na busca pelas soluções compartilhadas

através do trabalho conjunto dos profissionais da Saúde.

Para entender o trabalho em equipe no modelo de atenção do SUS, recorte

deste estudo, Cutolo (2007) evidencia o pressuposto de um processo de trabalho de

forma integrada entre os diversos profissionais da saúde e seus respectivos

domínios de coletivos profissionais.

Assim, foram pesquisados nos registros pedagógicos escritos dados que

explicitassem a inserção do trabalho interdisciplinar na formação do Enfermeiro. O

conhecimento do trabalho de todos os componentes da Equipe torna-se a base

para o desenvolvimento da articulação do trabalho em equipe. Nesta subcategoria,

foram pontuados sete itens de significado, embora todos se refiram à equipe de

Enfermagem, como exemplificado abaixo:

“Analisar as funções exercidas pelo enfermeiro.” CTI1 “As atividades do Técnico de Enfermagem e do Auxiliar de Enfermagem quando exercidas em instituições de saúde, públicas e/ou privadas, e em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão do Enfermeiro.” CTI1

Estes registros encontrados apontam que o conhecimento do processo de

trabalho em saúde na formação do Enfermeiro é restrito ao processo de trabalho da

equipe de Enfermagem, evidenciando um distanciamento dos outros coletivos

profissionais, que envolvem a atenção à saúde, embora tenham sido pontuados, na

subcategoria Conhecer os princípios do trabalho interdisciplinar, registros que

indicam que os princípios são trabalhados nos documentos pedagógicos, como

podem ser vistos:

“Elaboração do conhecimento pela integração dos conteúdos, através da interdisciplinaridade.” CTI2. “Trabalho em equipe interdisciplinar e multiprofissional.” CTI2.

Entretanto, quando se busca Conhecer teorias para se trabalhar em grupo

não aparecem registros nesta subcategoria, inferindo que, para a perspectiva da

interdisciplinaridade, é imperativo o conhecimento das teorias de grupo para o

desenvolvimento de competências, visando à superação das fronteiras disciplinares.

83

Ao considerar o trabalho em equipe multiprofissional como um trabalho

coletivo, pressupõe-se a mediação da linguagem para a articulação das ações

multiprofissionais e a cooperação entre os agentes como produção coletiva da

atenção à saúde (PEDUZZI, 2007). A interação entre os profissionais da atenção à

saúde requer habilidades de comunicação, traduzidas numa prática pertinente a

cada contexto, no trabalho coletivo em saúde. Desta forma, na dimensão da

habilidade, foram pesquisadas, nos documentos analisados, as habilidades de

ouvir e negociar e articular os diferentes pontos de vista, mostrando como é

trabalhada a comunicação na formação do enfermeiro, e não foi pontuado nenhum

registro referente a estas duas subcategorias, embora tenham sido encontrados

itens referentes à comunicação, como podem ser identificados no registro:

“Reconhecer e aplicar os diversos tipos de comunicação.” HTI1. “O processo comunicativo pessoa/família/comunidade/profissionais da Saúde.” ATI6.

Na subcategoria promover situação de diálogo, emergem registros que

abarcam as discussões com a equipe da saúde e com coletivos específicos do

cuidado, exemplificado nos seguintes escritos:

“Discutir com a equipe da Saúde e a família.” HTI3. “Discutir as repercussões do processo de enfermagem na prática profissional do enfermeiro e no cuidado do adulto e idoso hospitalizado.” HTI3. “Discutir a atuação do enfermeiro como membro da equipe multiprofissional e interdisciplinar no processo de adoecer, viver e morrer no núcleo familiar.” HTI3.

Portanto, ao discutir a mediação da linguagem na formação do Enfermeiro no

curso estudado, pressupõe-se que, embora inserido, não seja mobilizado em todas

as dimensões estudadas, inferindo que a habilidade requer espaços no processo de

ensino/aprendizagem para o seu exercício e sua mobilização no futuro profissional

da saúde.

Dentro da dimensão habilidade, ao analisar a subcategoria desenvolver

ações de liderança frente às diversas situações, tornou-se preponderante trazer

das Diretrizes Curriculares Nacionais a referência descrita para a liderança no

84

processo de trabalho em saúde, onde está apontado que os “profissionais da Saúde

deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem-

estar da comunidade.” Entendendo que, durante a formação do Enfermeiro, devem

ser disponibilizadas situações para a vivência e construção da liderança nos

espaços de ensino/aprendizagem, buscaram-se, nos registros pedagógicos, os

escritos referentes às ações de liderança que foram pontuados, demonstrando a

inserção do exercício da liderança durante a formação do enfermeiro, no curso

estudado, como pode ser verificado no item abaixo:

“Liderar o processo de trabalho sobre o cuidar/confortar.” HTI4

E, ainda, na dimensão habilidade, ao discutir a subcategoria articular o

trabalho em grupo, cabe ressaltar que a enfermagem tem, historicamente

construída, a demarcação da organização e articulação do cuidado, desde Florence

Nightingale, conforme discorrido no marco teórico deste estudo. Portanto, torna-se

primordial a inserção desta habilidade na formação do Enfermeiro. Embora tenham

sido pontuados registros nos documentos analisados, não foram encontrados os

aspectos claros de articulação do cuidado, como pode ser visto:

“Desenvolver habilidades para o processo de trabalho multiprofissional.” HTI5. “Atuação do enfermeiro como membro da equipe multiprofissional e interdisciplinar na promoção da saúde e prevenção da doença no núcleo familiar.” HTI5. “O profissional enfermeiro seja capaz de coordenar ações nos serviços de saúde que contribuam para a qualidade das práticas realizadas e a transformação dos perfis epidemiológicos.” HTI5.

Na dimensão atitude, nas subcategorias compartilhar conhecimentos e

informações, respeitar as atribuições e diferenças das classes profissionais do

SUS, não foram encontrados registros, devido à confluência destas subcategorias

com o conhecimento do processo de trabalho interdisciplinar ser uma lacuna na

formação do enfermeiro. Embora, na subcategoria comprometer-se com a

integração da equipe multidisciplinar de saúde, tenham sido pontuados itens

referentes à equipe multidisciplinar, como pode ser explicitado:

85

“Trabalhar em equipe multiprofissional com enfoque interdisciplinar.” ATI3.

Entretanto, ao relacionar os itens referentes à subcategoria ser líder e

membro da equipe, é evidenciado, pelos registros encontrados, a liderança na

formação do enfermeiro, compactuando o curso de Enfermagem estudado com as

Diretrizes Curriculares Nacionais, identificado no registro:

“Identificar os papéis de liderança na resolução dos conflitos.” ATI4.

Para compreender se a atitude em ser comunicativo e interativo com a

equipe de trabalho está inserida na formação do Enfermeiro, buscou-se nos

registros pedagógicos as referências à comunicação e a interação com a equipe.

Emergiram registros que são explícitos de atitude, como podem ser vistos abaixo:

“Reconhecer e aplicar os diversos tipos de comunicação.” ATI6. “Colaborar com a equipe de enfermagem na prestação de cuidados aos pacientes.”ATI6.

Ainda dentro da dimensão atitude, na subcategoria respeitar e estabelecer

relações de trabalho de caráter interdisciplinar e multiprofissional como

estratégia de atenção à saúde, sob o enfoque da integralidade, foram pontuados

os itens de significado que evidenciam a inserção na formação do Enfermeiro do

curso estudado, demonstrado nos registros:

“Assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento.” ATI6. “Atuação do enfermeiro como membro da equipe multiprofissional e interdisciplinar na promoção da saúde e prevenção da doença no núcleo familiar.” ATI6.

Portanto, na categoria trabalho interdisciplinar em saúde, nas dimensões

conhecimento, habilidade e atitude, foram pesquisados os registros pedagógicos,

visando entender como está inserida na formação do Enfermeiro a lógica da

interdisciplinaridade. Resgatando o princípio da interdisciplinaridade com o trabalho

coletivo dos profissionais da Saúde na busca de soluções das necessidades de

saúde da população, torna-se preponderante desenvolver na formação do

86

Enfermeiro a teoria que embasa o trabalho em grupo e suas variáveis, voltados para

o modelo de atenção de saúde brasileiro.

5.4 ABORDAGEM INTEGRAL DO SER HUMANO/FAMÍLIA/GRUPO SOCIAL

Quadro 15 – Categoria empírica: Abordagem integral do ser humano/família/grupo social

DOMÍNIO CATEGORIA SUBCATEGORIA Nº DE

ITENS

Dimensão do

CONHECIMENTO

1. Conhecer os conceitos de Ser

Humano/Família/Grupo Social de forma integral e

sistêmica.

11

Dimensão da

HABILIDADE

1. Intervir no ser humano/família/grupo social de

forma Participativa e Construtiva.

2. Identificar a relação do ser humano e/ou família

com o Grupo Social.

3. Identificar a cultura Familiar ou do Grupo Social.

4. Conduzir ações junto ao ser

humano/família/grupo social no contexto cultural do

município.

82

05

02

01

Dimensão da

ATITUDE

ABORDAGEM

INTEGRAL DO SER

HUMANO/FAMÍLIA/

GRUPO SOCIAL

1. Respeitar e valorizar as características do ser

humano no Núcleo Familiar e do Grupo Social.

2. Estimular a participação do grupo social na

execução de ações da equipe.

01

0

Fonte: Adaptado de Modelagem dos Processos das Competências dos Profissionais da Saúde para a consolidação do SUS/Programa/Estratégia de Saúde da Família. Projeto aprovado pela FAPESC no Edital 003, sob o número 911623/2004, coordenado pela Profª. Dra. Gladys Amélia Véles Benito.

No modelo de Atenção à Saúde, a Estratégia da Saúde da Família foi

estabelecida como uma tática para a reorganização da prática assistencial, e rompe

com o paradigma da atenção individualista e curativa. Neste contexto, a atenção

centrada na família e no ser humano, inserido e considerado em seu ambiente

social, busca a intervenção nas necessidades de saúde além das práticas curativas

(BRASIL, 2001).

87

Portanto, o conhecimento dos conceitos de Ser Humano/ Família/Grupo

Social de forma integral e sistêmica são imprescindíveis para o desenvolvimento

de ações de promoção, prevenção, proteção e reabilitação da saúde individual ou

coletiva, como foram definidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os

Profissionais da Saúde, com a finalidade geral de Atenção à Saúde.

Nesta subcategoria, foram encontrados itens de significado que buscam

desenvolver a compreensão da família na sociedade ou grupo social e conceitos do

ser humano na sua totalidade. Visando desenvolver o conhecimento do ser humano

e sua história social, contextualizando a vivência do ser humano e família,

exemplificado nos itens a seguir:

“Compreender o ser humano como ser histórico e socialmente construído.” CAI1. “Compreender a constituição do ser Humano.” CAI1. “Compreender a família na sociedade contemporânea, sua organização, seus valores, os papéis de seus membros, aspectos sócio-econômicos, modo de produção, relações de trabalho, de gênero e de poder, sua dinâmica.” CAI1. “Contextualizar a vivência da família e do indivíduo no convívio com a situação crônica de saúde.” CAI1.

Para inferir a construção da dimensão da habilidade nas intervenções no

Ser Humano/Família/Grupo Social, foram elencados a assistência de Enfermagem

ao ser humano/família/grupo social em todos os níveis de atenção e em todo o ciclo

vital, resultando em um número expressivo, com mais de oitenta registros, refletindo

que a intervenção de Enfermagem perpassa todo o curso de Enfermagem estudado,

e fundamenta a formação do Enfermeiro neste curso. Isto pode ser demonstrado nos

registros:

“Prestar o cuidado de enfermagem ao indivíduo em todo o ciclo vital e sua família na Atenção Terciária, preservando os valores éticos, morais e culturais.” HAI1. “Cuidado à mulher no ciclo grávido-puerperal, e/ou com intercorrências comuns, incluindo a família e a comunidade em nível hospitalar.” HAI1. “Medidas de intervenção nas situações de riscos e agravos à saúde do núcleo familiar.” HAI1.

88

“Cuidado de enfermagem à criança, adolescente, adulto, mulher, idoso hospitalizados considerando seu contexto familiar e social.” HAI1. “Práticas do cuidar do ser humano: institucionais e não institucionais.” HAI1. “Desenvolver as práticas do cuidar do adulto com necessidades de saúde, em situações de crise, na sexualidade e planejamento familiar e em situações de agravo, considerados a partir do perfil epidemiológico, em nível primário de atenção à saúde, e introduzi-lo nos níveis secundários e terciário, através do planejamento, implementação e avaliação dos cuidados ao adulto, sua família, grupos específicos e coletivamente.” HAI1. “Cuidados com o idoso com necessidades de saúde, em situações de crise, na sexualidade e em situações de agravo considerado a partir do perfil epidemiológico.” HAI1. “Cuidado de enfermagem integral ao indivíduo hospitalizado, família e outros grupos sociais, nas intercorrências clínicas.” HAI1. “Assistência/cuidado de enfermagem neonatal e ao recém nascido sadio e/ou com intercorrências comuns, incluindo a família e a comunidade.” HAI1. “Cuidado de enfermagem integral ao indivíduo, família e outros grupos sociais, nas intercorrências clínicas, com enfoque epidemiológico e sócio-cultural em Atenção Básica.” HAI1.

Dentro da dimensão habilidade, na subcategoria identificar a relação do

Ser Humano /Família com o Grupo Social, foram pesquisados registros que

identificassem esta relação. Neste contexto, apareceram itens de significado que a

expressam, como pode ser exposto:

“Descrever estruturas e composição familiar na sociedade atual.” HAI2. “Identificar o cuidador na rede social da família.” HAI2. “Identificar relações de trabalho, gênero e poder na dinâmica familiar e social.” HAI2. “Relações de trabalho, poder e gênero na família.” HAI2.

Para discutir a inserção na dimensão da habilidade nas subcategorias:

identificar a cultura familiar e a de conduzir ações junto ao Ser Humano/Família

89

no contexto cultural do município, buscou-se nos documentos pedagógicos

estudados atributos que expressassem a cultura nos itens de significado. O contexto

cultural é abordado em dois itens, inferindo que, apesar da intervenção de

Enfermagem ser extensamente trabalhada, o aspecto cultural da região onde se

insere a prática é pouco desenvolvido, e aparecem nos registros voltados ao

processo saúde/doença, apresentados a seguir:

“Influência dos valores e da dinâmica familiar no processo saúde doença.” HAI3. “Cuidado de enfermagem integral ao indivíduo, família e outros grupos sociais, nas intercorrências clínicas, com enfoque epidemiológico e sociocultural em Atenção Terciária.” HAI4.

Na categoria da Abordagem Integral do Ser humano/Família/Grupo Social, na

dimensão da atitude, com a subcategoria: respeitar e valorizar as características

do ser humano no Núcleo Familiar e no Grupo Social, não foi identificado

nenhum registro que abarcasse a atitude nesta subcategoria. O registro onde é

plausível inferir uma aproximação com esta subcategoria foi: “Prestar o cuidado de

enfermagem ao indivíduo em todo o ciclo vital e sua família na Atenção Terciária,

preservando os valores éticos, morais e culturais.” AAI1. Tornando-se insuficiente

para concluir que a atitude é desenvolvida na formação do enfermeiro deste curso

estudado.

Ainda na dimensão atitude, na subcategoria: estimular a participação do

Grupo Social na execução de ações de saúde, não emergiram registros que

identificassem esta subcategoria. Relacionando com as outras categorias analíticas

até este momento discutidas, referentes à participação e controle social das ações

de saúde em todas as dimensões analisadas, a falta de registros é evidenciada em

todas as subcategorias. Isto pressupõe a lacuna na formação do Enfermeiro deste

curso quanto à participação popular.

Ao buscar identificar nos documentos pedagógicos as atitudes desenvolvidas

nos discentes do curso de graduação em Enfermagem, foi evidenciado que esta

dimensão é pouco trabalhada na formação do Enfermeiro pela ausência de itens de

significado.

90

5.5 ABORDAGEM DA GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

Quadro 16 – Categoria empírica: Abordagem da gestão do trabalho em saúde DOMÍNIO CATEGORIA SUBCATEGORIA Nº DE

ITENS

Dimensão do

CONHECIMENTO

ABORDAGEM

DA GESTÃO

DO

TRABALHO

EM SAÚDE

1. Conhecer a gestão de Recursos Humanos/ Políticas e seus

determinantes, definidos a partir da Reforma Sanitária.

2. Conhecer a política de Plano de carreira, cargos e salários.

3. Conhecer o programa de saúde do trabalhador.

4. Conhecer a política de Educação permanente em saúde do

município.

5. Conhecer os Sistemas de Informação do SUS.

6. Conhecer os elementos constitutivos do processo de trabalho

em saúde e na Enfermagem nos diversos níveis de

complexidade no SUS.

7. Conhecer os sistemas de avaliação de desempenho do

município.

8. Conhecer sistemas de avaliação da Atenção Básica.

06

0

04

03

08

37

0

0

Dimensão da

HABILIDADE

ABORDAGEM

DA GESTÃO

DO

TRABALHO

EM SAÚDE

1. Conduzir a gestão de recursos humanos no SUS.

2. Promover a participação na construção da política de Plano

de Carreira, Cargos e Salários.

3. Intervir na política de saúde do trabalhador no SUS.

4. Implementar a política de Educação Permanente em Saúde

no município e região.

5. Implementar sistemas de avaliação.

6. Conduzir Sistemas de avaliação de desempenho da equipe

envolvida com ações de prevenção e promoção em saúde.

7. Aplicar sistemas de informação do SUS.

8. Conduzir o processo de trabalho em saúde na enfermagem

nos diversos níveis de complexidade no SUS.

0

0

01

05

02

02

06

40

Dimensão da

ATITUDE

ABORDAGEM

DA GESTÃO

DO

TRABALHO

EM SAÚDE

1. Valorizar o trabalho em saúde como eixo norteador de sua

profissão.

2. Respeitar as relações intersetoriais do trabalho em saúde.

3. Sentir-se co-responsável pela saúde do cidadão brasileiro de

seu estado e/ou município.

4. Respeitar as relações de poder municipal, estadual e

nacional.

5. Valorizar e respeitar as relações de poder do grupo social /

família / ser humano.

6. Valorizar e se comprometer com os processos de educação

permanente do município/região/estado.

7. Valorizar e potencializar a estrutura física e funcional da

equipe a que pertence.

8. Valorizar a estrutura organizacional da equipe a que

pertence.

9. Valorizar e promover a união dos profissionais de sua equipe

14

01

0

0

0

05

02

05

0

91

frente a necessidades trabalhistas e de direito dos

trabalhadores da saúde.

Fonte: Adaptado de Modelagem dos Processos das Competências dos Profissionais da Saúde para a Consolidação do SUS/Programa/Estratégia de Saúde da Família. Projeto aprovado pela FAPESC no Edital 003, sob o número 911623/2004, coordenado pela Profª. Dra. Gladys Amélia Véles Benito.

A complexidade do processo de trabalho em saúde, a reestruturação

produtiva do trabalho4 e a (des)regulação do trabalho5 formam eixos estruturantes

do processo de gestão de recursos humanos em saúde. Dentro, deste contexto, o

BRASIL (2007, p.17) expõe as novas competências necessárias dos profissionais,

que implica “redefinir as formas de recrutar, selecionar, treinar e manter os

profissionais em suas respectivas atividades, impondo a criação de instrumentos

gerenciais”, que incidirão na incorporação e remuneração da força de trabalho,

notadamente, pela multiplicidade de vínculos trabalhistas utilizados pelo Sistema

Único de Saúde.

Neste sentido, entendendo o Enfermeiro como gerenciador de uma equipe de

Enfermagem e articulador de outros profissionais da saúde, o processo de gestão do

trabalho em saúde deve ser um eixo primordial na sua formação.

Esta categoria analítica, através do instrumento utilizado, abrange um número

de 25 subcategorias, refletindo numa discussão dos resultados que impõe a

agregação de algumas subcategorias, com o objetivo de evitar a repetição de temas

de gestão, e possibilitar uma análise sucinta e objetiva. Buscou-se, então, nos

documentos pedagógicos estudados, as referências à gestão do trabalho em saúde

pelos itens de significado que expressassem os atributos de gestão.

Na dimensão do conhecimento, na subcategoria conhecer a gestão de

Recursos Humanos/ Políticas e seus determinantes, definidos a partir da

Reforma Sanitária, os registros encontrados identificam e pontuam este aspecto,

conforme pode ser visto:

“Política de pessoal das instituições hospitalares.” CGT1.

4 A reestruturação produtiva é um conceito definido por Garay (1997), que engloba as mudanças ocorridas no modo de produção de trabalho e na sua estruturação, funcionamento e distribuição no espaço. 5 A regulação do trabalho no setor da Saúde tem, em seu escopo, que assegurar o acesso a serviços de Saúde, a qualidade da assistência, a organização da atenção à saúde através da proteção do Estado e da regulação econômica para assegurar as condições mínimas na prestação de serviços de Saúde (BRASIL, 2007).

92

“Descrever as fases do provimento de pessoal de enfermagem com elaboração do perfil de cargo e dimensionamento de pessoal.” CGT1. “Apontar as etapas de recrutamento e seleção de pessoal.” CGT1. “Gestão de Pessoas.” CGT1.

Sendo este um dos aspectos prioritários para a coordenação de uma equipe

de trabalho, a gestão de pessoas é inserida na formação do Enfermeiro. Entretanto,

é possível inferir um distanciamento das políticas de gestão de recursos humanos

para o SUS. Isto é reafirmado pela ausência de registros na subcategoria conhecer

a política de Plano de carreira, cargos e salários voltados para o Sistema Único

de Saúde.

No aspecto do conhecimento do programa de saúde do trabalhador,

tendo em vista a elaboração da Política Nacional de Segurança e Saúde do

Trabalhador – PNSST pelos Ministérios do Trabalho, da Previdência Social e da

Saúde, para instituir que o trabalho, como base da organização social e direto

humano fundamental, seja realizado, garantindo a saúde do trabalhador. Com este

entendimento, buscou-se nos documentos pedagógicos estudados os itens de

significado encontrados referentes à PNSST. Foram encontrados registros que

remetem à saúde do trabalhador, como pode ser observado:

“Saúde do trabalhador.” CGT3. “Fatores de risco à saúde do adulto trabalhador.” CGT3. “Sistema de notificação de acidentes de trabalho.” CGT3.

Não pode ser identificado como é trabalhado o conhecimento do programa de

saúde do trabalhador nestes registros encontrados. Porém, como estão pontuados,

não é possível inferir sua ausência no curso pesquisado.

A educação permanente também se apresenta como uma estratégia de

gestão, que permite a explicação de diferentes problemas da prática da atenção à

saúde, visando transformar o processo de trabalho. Portanto, conhecer a política

de Educação permanente em saúde do município torna-se preponderante na

formação do enfermeiro e sua inserção nessa pode ser apontada, como segue:

“Descrever a educação permanente.” CGT4.

93

“Processo de formação profissional articulado ao mundo do trabalho.” CGT4. “Ter visão crítica da educação básica e da formação técnica do enfermeiro.” CGT4.

O acompanhamento das ações de saúde é monitorado através dos Sistemas

de Informação do SUS. Portanto, o conhecimento destes sistemas permite a

utilização dos indicadores da situação sociossanitária e do perfil epidemiológico da

população para o gerenciamento das ações de saúde. Nesta subcategoria, foram

encontrados registros que evidenciam a inserção do conhecimento dos Sistemas de

Informação do SUS na formação do enfermeiro, identificados nos registros a seguir:

“Conhecer os principais sistemas de informações em saúde.” CGT5. “Sistemas de informações em saúde: sistema de informações de agravos de notificação (SINAN), notificação compulsória, lista nacional, estadual e municipal de agravos de notificação.” CGT5. “Conhecer os sistemas de informação mais utilizados pelo sistema de Saúde.” CGT5

Na subcategoria referente ao conhecimento dos elementos constitutivos

do processo de trabalho em saúde e na Enfermagem, nos diversos níveis de

complexidade, no SUS, foi pontuado um número expressivo de registros, num total

de 37 itens, que agregam os elementos do processo de trabalho da enfermagem,

traduzindo-se na inserção destes elementos na formação do enfermeiro. Isto pode

ser identificado nos escritos:

“Reconhecer os elementos do processo de trabalho em saúde e em Enfermagem.” CGT6. “Processo de trabalho em saúde e de enfermagem.” CGT6. “Tendências atuais a prática das diversas profissões da área da Saúde, em especial da enfermagem no contexto técnico, ético, político e social do Brasil.” CGT6. “Sistematização da assistência de enfermagem como instrumento de gerência.” CGT6. “Refletir sobre a enfermagem e reconhecer as diversas áreas de atuação do enfermeiro no contexto histórico, social e econômico.” CGT6.

94

Entretanto, na dimensão do conhecimento dos Sistemas de avaliação de

desempenho do município e dos sistemas de avaliação da Atenção Básica, não

foram encontrados registros nos documentos pedagógicos estudados. Portanto, não

estão sendo trabalhados os aspectos relativos à avaliação de desempenho das

ações de saúde aplicadas no município, fator fundamental para a análise da

efetividade do planejamento e correção dos desvios porventura apresentados.

Ao buscar a dimensão da habilidade de implementar ações de

desenvolvimento da gestão do trabalho em saúde, procurou-se, nos documentos

estudados, os atributos que evidenciassem a condução de gestão de recursos

humanos no SUS e a promoção da participação na construção da política de

Plano de Carreira, Cargos e Salários, e não foram encontrados registros que

evidenciassem estes aspectos. Cabe ressaltar que também não foram pontuados

registros no conhecimento da política de plano de carreira, cargos e salários da

categoria analisada anteriormente. Portanto, é possível inferir que a gestão de

recursos humanos para o SUS seja uma lacuna na formação do Enfermeiro,

evidenciando o distanciamento da gestão de recursos humanos voltados para o SUS

neste curso estudado.

Entretanto, a habilidade de intervir na política de saúde do trabalhador do

SUS é trabalhada em todos os níveis de atenção, em consonância com o princípio

da regionalização, embora tenha sido apontada em apenas um item de significado,

como pode ser visto:

“Ações de atenção à saúde do trabalhador em nível municipal, estadual e nacional.” HGT3.

A subcategoria implementar a política de Educação Permanente em

Saúde no município e região pode ser identificada nos documentos estudados,

porém, inserida em coletivos específicos de saúde, como exemplificado:

“Implementar atividades educativas relacionadas às necessidades de cuidado à criança no contexto da Atenção Básica.” HGT4.

Inferindo ser abordada como atividades educativas do Enfermeiro em

coletivos específicos de saúde, distancia-se da política de EP do Sistema de Saúde

95

nacional, que visa identificar problemas da prática para transformar a realidade

sanitária.

Para a análise das subcategorias de implementar sistemas de avaliação e

conduzir sistemas de avaliação de desempenho da equipe envolvida com

ações de prevenção e promoção de saúde, foi definida a agregação das duas

subcategorias pela dificuldade de separar os registros identificados neste aspecto.

Isto pode ser demonstrado nos escritos expostos a seguir:

“Avaliação de tecnologias, programas ou serviços.” HGT5. “Realizar avaliação de desempenho.” HGT6.

Ainda na dimensão da habilidade para aplicar sistemas de informação do

SUS foram pontuados seis itens de significado que refletem a dimensão do

conhecimento que trabalhou os saberes dos sistemas de informação do SUS com

abrangência, e fica explicito, nesta dimensão, a habilidade de aplicar, como pode ser

apontado a seguir:

“Alimentação e acompanhamento dos sistemas de informação.” HGT7. “Manejar e utilizar os sistemas de informação em saúde.” HGT7. “Alimentação e análise de sistemas de informação.” HGT7.

A habilidade de conduzir o processo de trabalho da enfermagem nos

diversos níveis de complexidade do SUS permeia toda a formação do Enfermeiro.

Isto pode ser expresso por 40 registros encontrados nos documentos analisados,

evidenciado nos escritos abaixo:

“Desenvolver habilidades para o processo de trabalho.” HGT8. “Desenvolver a capacidade de gerenciamento da assistência de enfermagem e serviços de saúde.” HGT8. “Gerenciar a assistência de enfermagem em todas as áreas de atuação.” HGT8. “Realizar o planejamento e gestão do processo de trabalho em enfermagem no Hospital.” HGT8.

96

“Planejamento e gestão do processo de trabalho em enfermagem em Atenção Terciária de saúde.” HGT8. “Gerenciar o cuidado de Enfermagem na Atenção Terciária a fim de obter Promoção, prevenção e Recuperação da saúde do indivíduo em todo o ciclo vital e família visando à qualidade da assistência prestada.” HGT8. “Desenvolver para a sua clientela os procedimentos exclusivos do enfermeiro.” HGT8.

Para identificar como é explorado, na formação do Enfermeiro, o exercício da

atitude da gestão do trabalho em saúde, foram pesquisados os itens de significado

que anunciassem atitude nos registros. Para tanto, na subcategoria valorizar o

trabalho em saúde como eixo norteador de sua profissão foram apontados

escritos que inferisse a valorização da atitude ética como eixo do processo de

trabalho do Enfermeiro. Nesta ótica, foram encontrados 14 registros, identificando a

ética como um tema transversal na formação do Enfermeiro. Isto pode ser

exemplificado nos itens demonstrados a seguir:

“Apreender e aplicar os valores políticos e éticos da profissão.” AGT1. “Coerência e retidão frente aos valores defendidos.” AGT1. “Compreender os aspectos éticos do cuidado com famílias, pessoas e grupos.” AGT1. “Desenvolver atitude ética.” AGT1. “Promover comportamento ético ao lidar com os clientes hospitalizados.” AGT1.

Embora tenham sido encontrados registros referentes a respeitar as

relações intersetoriais do trabalho em saúde, apenas um item remete

especificamente à atitude, como pode ser demonstrado:

“Atitudes pessoais de respeito, de compartilhamento e participação no coletivo de trabalho.” AGT2.

Assim, o desenvolvimento de atitudes encontra pouco espaço no processo de

ensino/aprendizado do curso estudado, para possibilitar ao discente o exercício

durante a sua formação.

97

Na subcategoria sentir se co-responsável pela saúde do cidadão

brasileiro de seu estado e/ou município não foi encontrado nenhum item que

identificasse o sentimento de responsabilização pela saúde do indivíduo. A ausência

de registros nesta subcategoria remete à dificuldade de elaborar espaços

pedagógicos para o desenvolvimento de atitudes nos discentes que reflitam a

responsabilização pela saúde do ser humano.

Respeitar as relações de poder municipal, estadual e nacional e

Valorizar e respeitar as relações de poder do grupo social / família / ser

humano são subcategorias que também não apresentaram registros, embora isto já

tenha sido discutido no planejamento de ações, ressaltando que o poder, em todas

as suas relações, não é abordado na formação do Enfermeiro deste curso estudado.

Na subcategoria valorizar e se comprometer com os processos de

educação permanente do município/região/estado, foram encontrados registros

referentes ao processo de EP, voltados à pesquisa, demonstrados nos escritos:

“Valorizar e buscar a atualização nos novos conhecimentos da área de enfermagem.” AGT6. “Realizar pesquisas para o aperfeiçoamento do processo de trabalho em saúde.” AGT6.

Embora a EP tenha sido demonstrada na dimensão Conhecimento das

políticas de Educação Permanente, ao confrontar com a habilidade e a atitude, é

evidenciado o distanciamento na aplicação das políticas, e pouco explorada na

formação do enfermeiro.

Para analisar a inserção das atitudes referentes à estrutura física, funcional e

organizacional da equipe de Enfermagem, foram agrupadas as subcategorias:

valorizar e potencializar a estrutura física e funcional da equipe a que pertence

e valorizar a estrutura organizacional da equipe a que pertence. Estas

produziram poucos itens de significado, embora remetam à valorização de estrutura

da equipe de Enfermagem e do trabalho em equipe. Isto pode ser demonstrado nos

registros colocados a seguir:

“Identificar estrutura organizacional.” AGT8. “Valorizar e desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe.” AGT7.

98

“Reflexão sobre a história da Enfermagem, possibilitando reconstruir e/ou transformar a maneira de fazer Enfermagem.” AGT8.

Na subcategoria valorizar e promover a união dos profissionais de sua

equipe frente às necessidades trabalhistas e de direito dos trabalhadores da

saúde, não foram encontrados registros referentes ao aspecto legislativo trabalhista,

refletindo a lacuna apontada anteriormente na categoria do conhecimento da

PNSST.

A categoria da gestão do trabalho em saúde, no instrumento de categorização

utilizado, possui o maior número de subcategorias em cada dimensão estudada, isto

produziu um processo de discussão com muitas subdivisões.

Portanto, ao estudar os registros pedagógicos, foi evidenciada a inserção do

conhecimento da gestão do trabalho. Porém pontuam em menor número de itens de

significado referentes à habilidade de implementar. A dimensão da atitude do

enfermeiro, na gestão do trabalho em saúde, encontra espaços pedagógico limitado

para o seu efetivo desenvolvimento, evidenciado pelo número restrito de registros

encontrados nos documentos pedagógicos estudados.

99

CAPÍTULO 6

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONTRIBUIÇÕES

6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS: EM BUSCA DE UMA SÍNTESE

A reestruturação do processo de trabalho em saúde, na lógica do modelo de

atenção à saúde, instituído no país pela reforma sanitária, remete às transformações

na formação de recursos humanos para a saúde, inseridos neste contexto. O marco

teórico que fundamenta este estudo e o percurso metodológico desenvolvido

identificaram a inserção das competências gerenciais na formação do Enfermeiro no

curso de graduação em Enfermagem da Universidade Regional de Blumenau,

pautados no modelo de atenção à saúde do SUS, explicitado pelo Projeto Político

Pedagógico do referido curso.

Finalizando este relatório, ao pesquisar os documentos pedagógicos

fornecidos pela instituição de ensino superior onde foi realizado o estudo, e elencar

os atributos de gestão nas dimensões conhecimento, habilidade e atitude,

emergiram as considerações pontuadas no discorrer deste capítulo.

Na análise documental temática desenvolvida neste estudo, a evidência dos

itens de significado corroborou a inserção da competência gerencial nas dimensões

estudadas. Embora, revele que, no contexto geral, o conhecimento está sendo

desenvolvido na formação do Enfermeiro, as mobilizações da habilidade e da atitude

foram aquém abordadas nos documentos estudados. Cabe ressaltar que estas

dimensões não podem ser fracionadas/quantificadas para a inferência das

competências gerenciais, porém, para a reflexão deste estudo, e identificação dos

nós críticos, foi preponderante realizar este apontamento.

Assim, ao estudar a presença dos atributos de gestão na formação do

Enfermeiro, foram evidenciadas as concepções gerenciais dos atores do processo

ensino/aprendizagem referentes às competências gerenciais explicitadas nos planos

de ensino e no Projeto Pedagógico, inferindo, pela análise destes documentos

pedagógicos, que são aplicados na prática docente os aspectos gerenciais do

Enfermeiro.

100

Torna-se relevante apontar os aspectos a serem discutidos e os nós críticos,

para fundamentar estudos posteriores, visando um aprofundamento do tema e a

construção das contribuições do estudo para o curso de Enfermagem estudado.

Neste sentido, as competências específicas do gerenciamento, desenvolvidas

na formação do Enfermeiro, devem contemplar e permitir que o futuro profissional

possa atuar planejando, organizando, controlando e avaliando o processo de

trabalho em Enfermagem. Nas competências gerenciais, o planejamento das ações

de saúde torna-se uma das ferramentas primordiais. Portanto, o conhecimento das

políticas públicas e municipais e o perfil sanitário e epidemiológico foram abordados

nos documentos analisados, refletindo a inserção da dimensão conhecimento no

curso pesquisado. Na dimensão habilidade, emergem as estratégias de atuação,

fundamentadas na Sistematização da Assistência de Enfermagem. Na dimensão

atitude, duas vertentes se destacam. Os pontos fortes aludem à atitude ética que

perpassa o curso pesquisado, e respeitar e acolher as necessidades do ser humano,

família e grupo social, que desvelou ser amplamente inserida na formação do

enfermeiro deste curso. Outra vertente se refere às necessidades de saúde da

equipe, e as atitudes referentes à participação popular no planejamento das ações

de saúde, que não foram abordadas nos documentos analisados, desvelando um

ponto fraco nas atitudes a serem desenvolvidas nos discentes em relação à equipe e

a participação popular.

Cabe ressaltar que a participação popular, sua intervenção e mecanismos de

controle social não foram abordados nos documentos pedagógicos estudados,

refletindo que a participação da população em todas as dimensões e categorias não

está inserida no curso pesquisado.

Um aspecto que emergiu deste estudo remete ao poder e suas relações no

processo de trabalho em saúde, e a interferência no gerenciamento em saúde. Ao

evitar discutir o poder nos documentos pedagógicos e, portanto, na prática docente,

leva a pensar na utilização do planejamento apenas como uma ferramenta técnica

para o exercício do gerenciamento.

Em relação à Promoção e Vigilância em Saúde, um aspecto preponderante

do conhecimento se refere aos fatores sociais determinantes da qualidade de vida

descritos na PNPS, e sua ausência nos documentos pedagógicos estudados. O

único aspecto destes determinantes, descritos na política pública, e encontrado nos

escritos analisados, se refere à alimentação. Um ponto forte evidenciado na

101

discussão dos resultados desta categoria foi a inserção na formação do enfermeiro

do conhecimento das políticas, a habilidade de promover e a atitude de preservar a

vigilância em saúde. Em relação à Educação Permanente, o ponto a ser destacado

se refere à atitude de valorizar os processos educativos no ser humano e

coletividade, que insere a educação em saúde no curso estudado.

A interdisciplinaridade no trabalho em saúde, preponderante para o

gerenciamento da equipe dos profissionais da saúde, no modelo de atenção à saúde

nacional, foi abordada no curso estudado, especialmente na dimensão do

conhecimento, embora caiba ressaltar que o conhecimento das teorias de trabalho

em grupo e o conhecimento do processo de trabalho de todos os profissionais que

compõem a equipe de saúde não foram abordados. Na dimensão habilidade,

emerge o desenvolvimento de habilidades de liderança e de articulação do trabalho

em grupo. Entretanto, as habilidades de comunicação e articulação de pontos de

vista não ficam especificadas nos documentos analisados. Os componentes

preponderantes na mobilização da atitude na formação do Enfermeiro estão

inseridos, como nó crítico, o compartilhamento de conhecimento e informações, as

diferenças de classes profissionais que interferem na interdisciplinaridade. Estes

aspectos apontados levam a pensar que, ao trabalhar com os discentes a

interdisciplinaridade, para o gerenciamento de Enfermagem entender, portanto,

conhecer, as teorias de trabalho em grupo poderiam favorecer este fator primordial

no processo de trabalho do Enfermeiro e fundamentar o futuro profissional na sua

inserção no mundo do trabalho.

Na formação do Enfermeiro deste curso estudado, a abordagem integral foi

ressaltada na dimensão do conhecimento integral do ser humano, da família na

sociedade e suas relações, e na habilidade de intervir, refletindo a assistência de

enfermagem como tema transversal que perpassa todo o curso. Entretanto, ao

buscar as atitudes de incentivar a participação do grupo social na execução das

ações de saúde, não foram encontrados registros, reforçando a ausência da

participação popular na formação do Enfermeiro.

A competência gerencial para a futura atuação do Enfermeiro, na gestão do

trabalho em saúde, reflete a inserção do conhecimento. Entretanto, a gestão de

recursos humanos voltados ao SUS encontra lacunas na formação do Enfermeiro,

nas dimensões da habilidade e da atitude, refletindo um distanciamento do modelo

de atenção de saúde explicitado no PPC do curso estudado. A dimensão atitude,

102

nesta categoria, como nas anteriores, foi pontuada com menor freqüência, embora

evidencie a atitude ética como um ponto forte na formação do enfermeiro. Os nós

críticos em relação à mobilização de atitudes na formação do enfermeiro estão

direcionados às necessidades e direitos trabalhistas dos profissionais da equipe, que

não são abordados no curso estudado.

Uma reflexão preponderante para a discussão das competências gerenciais

na formação são os fatores que influenciam as práticas para a mobilização da

atitude no processo de ensino/aprendizagem. Neste sentido, podem ser elencados:

a subjetividade do discente; a própria competência do docente; e os cenários de

práticas. Ao considerar a subjetividade inerente e peculiar da atitude na formação do

enfermeiro, busca-se suscitar reflexões sobre a prática docente na mobilização,

fomentação e avaliação da competência da atitude no futuro profissional Enfermeiro.

Este estudo possibilitou a reflexão sobre a responsabilidade de formar e

inserir no mundo do trabalho, profissionais competentes para desempenhar ações

gerenciais na saúde.

6.2 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO

Os resultados deste estudo, pela análise documental dos documentos

pedagógicos, demonstram a integração das competências gerenciais na formação

do Enfermeiro. Porém, são evidenciadas lacunas nas dimensões estudadas em

diversas subcategorias, conforme foram expostas na discussão dos resultados.

A análise de conteúdo documental expressa a construção coletiva dos atores

do processo de ensino/aprendizagem num determinado momento, dentro de um

contexto social, que denota os atributos de gerência presentes nos conteúdos do

discurso dos docentes neste processo. Neste sentido, cabe ressaltar que este

estudo analisou documentos pedagógicos produzidos semestralmente (planos de

ensino) e re-elaborados a cada semestre letivo. Portanto, refletem as concepções

gerenciais desenvolvidas na formação do Enfermeiro no contexto do semestre

estudado.

A contribuição deste estudo buscou suscitar espaços para o apontamento de

temas para discussão em grupo com os docentes do curso estudado, visando à

construção coletiva dos ajustes dos temas evidenciados, e um espaço para a

103

compreensão da complexidade das competências gerenciais na formação do

Enfermeiro. Para tanto, foram relacionados os temas:

a) As relações de poder no processo de trabalho em saúde e sua interferência

na gestão de saúde;

b) A participação e controle social no planejamento e execução das ações de

saúde;

c) A inserção dos determinantes da qualidade de vida, descritos na PNPS,

relativos ao tabagismo, uso abusivo de álcool e drogas, morbi-mortalidade

dos acidentes de trânsito, prevenção de violência e desenvolvimento

sustentável, devido à sua relevância para o desenvolvimento regional;

d) As teorias de trabalho em grupo;

e) A legislação trabalhista e necessidades da equipe de profissionais da Saúde.

O desenvolvimento deste estudo proporcionou uma imersão na complexidade

da formação profissional do Enfermeiro e da gestão, refletindo num crescimento do

conhecimento gerencial e do sistema de saúde, imprescindíveis para a atuação

profissional.

Assim, no pressuposto do marco conceitual, que embasa este estudo, exercer

a gerência do cuidado de Enfermagem ou dos serviços de saúde/enfermagem com

competência implica integração do conhecimento, habilidade e atitude para um

cuidado ético, seguro e de qualidade ao ser humano e sua coletividade.

104

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111

ANEXOS

112

ANEXO A:

DECLARAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU

113

ANEXO B:

DESCRITORES DA BIREME

114

APÊNDICES

115

APÊNDICE A

TERMO DE COMPROMISSO DO ORIENTADOR

Eu, Gladys Amélia Vélez Benito, professora da Disciplina de Processo

Gerencial em Saúde na Perspectiva Interdisciplinar do Curso de Mestrado

profissionalizante em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade do Vale do

Itajaí, concordo em orientar a Dissertação da acadêmica Daniela Campos de

Andrade Lourenção, intitulado: Competências Gerenciais na Formação do

Enfermeiro.

A orientanda está ciente das normas para elaboração do trabalho, bem como

do calendário de atividades apresentado.

Itajaí SC, 2006.

_______________________________

Prof. Dra. Gladys Amélia Vélez Benito

116

APÊNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO DE UTILIZAÇÃO DE DADOS

Nós, abaixo-assinados, orientador e mestranda responsáveis pelo Projeto de

Dissertação de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho: Competências

Gerenciais na Formação do Enfermeiro, que irá utilizar os dados disponibilizados

nos planos de ensino do curso de graduação em Enfermagem da Universidade

Regional de Blumenau no segundo semestre de 2007, comprometemo-nos a manter

a privacidade e a confiabilidade desses dados, preservando integralmente o

anonimato dos docentes que elaboraram os planos de ensino. Os dados somente

serão usados neste projeto. Qualquer outro uso que venha a ser planejado deverá

ser objeto de novo projeto de pesquisa e ser submetido à apreciação do Comitê de

Ética em Pesquisa.

Itajaí SC, ____de_________________de 2007

______________________________

Mestranda

______________________________

Orientador

117

APÊNDICE C

CATEGORIZAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS GERENCIAIS DO ENFERMEIRO

Dra. BENITO, Gladys Amélia Vélez

1. CONCEITOS A SEREM ABORDADOS (SAUPE et al, 2004):

1.1. COMPETÊNCIA: conjunto de capacidades referidas aos conhecimentos, às

habilidades e às atitudes que conferem ao profissional, condições para desenvolver

seu trabalho.

1.2. CONHECIMENTOS: entendidos como o conjunto de conteúdos,

predominantemente adquiridos através de exposição, leitura e re-elaboração crítica,

que conferem ao profissional o domínio cognitivo de um saber e a capacidade de

tomar decisões e resolver problemas em sua área de atuação.

1.3. HABILIDADES: entendidas como o conjunto de práticas, predominantemente

adquiridas através de demonstração, repetição e re-elaboração crítica, que conferem

ao profissional o domínio psicomotor, a perícia de um saber-fazer e a capacidade de

tomar decisões e resolver problemas em sua área de atuação.

1.4. ATITUDES: entendidas como o conjunto de comportamentos,

predominantemente adquiridos através de observação, introjeção, re-elaboração

crítica, que conferem ao profissional o domínio ético e afetivo de um saber-ser,

saber conviver, e a capacidade de tomar decisões e resolver problemas em sua área

de atuação.

2. COMPETÊNCIAS GERENCIAIS NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO

O profissional enfermeiro tem como atribuições o desenvolvimento de funções

assistenciais, gerenciais, educativas e de pesquisa. A função de gerenciar envolve

competências específicas, que são de interesse deste estudo. Entendemos que o

gerenciar se traduz no desenvolvimento de competências. Assim, a competência é o

conjunto das três dimensões: conhecimentos, habilidades e atitudes, que integradas

se refletem no grau de qualidade da atenção à saúde oferecida à população e na

capacidade de gestão da atenção básica local, municipal, regional, estadual e

nacional.

118

2.1. CONHECIMENTO GERENCIAL DO ENFERMEIRO

CONHECIMENTOS PARA O GERENCIAMENTO A SEREM DESENVOLVIDOS

PELOS ENFERMEIROS:

A. PLANEJAMENTO DAS AÇÕES

1. Conhecer os fatores determinantes do Processo Saúde-Doença.

2. Conhecer o Perfil Epidemiológico da População

3. Conhecer a teoria do planejamento (planejamento estratégico local)

4. Conhecer a política municipal de saúde

5. Conhecer os programas focais do Sistema Único de Saúde

6. Conhecer os programas focais que são executados no município.

B. SAÚDE: PROMOÇÃO E VIGILÂNCIA

1. Conhecer os fatores sociais determinantes da qualidade de vida.

2. Conhecer as políticas de vigilância em saúde municipal

3. Conhecer a política de educação em saúde no município

4. Conhecer as diretrizes de participação popular do município.

5. Conhecer o modelo de atenção à saúde preconizada pelo município.

C. TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

1. Conhecer o trabalho de todos os componentes da Equipe.

2. Conhecer os princípios do trabalho interdisciplinar.

3. Conhecer teorias para se trabalhar em grupo.

D. ABORDAGEM INTEGRAL DO SER HUMANO/FAMÍLIA/GRUPO SOCIAL

1. Conhecer os conceitos de Ser Humano/Família/Grupo Social de forma

integral e sistêmica.

119

E. ABORDAGEM DA GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

1. Conhecer a gestão de Recursos Humanos/ Políticas e seus

determinantes, definidos a partir da Reforma Sanitária.

2. Conhecer a política de Plano de carreira, cargos e salários.

3. Conhecer o programa de saúde do trabalhador.

4. Conhecer a política de Educação permanente em saúde do município.

5. Conhecer os Sistemas de Informação do SUS.

6. Conhecer os elementos constitutivos do processo de trabalho em

saúde e na Enfermagem nos diversos níveis de complexidade no SUS.

7. Conhecer os sistemas de avaliação de desempenho do município.

8. Conhecer sistemas de avaliação da Estratégia Saúde da Família.

2.2 HABILIDADES GERENCIAIS DO ENFERMEIRO

HABILIDADES PARA O GERENCIAMENTO A SEREM DESENVOLVIDOS PELOS

ENFERMEIROS:

A. PLANEJAMENTO DAS AÇÕES

1. Identificar Problemas/ Necessidades/ Nós Críticos

2. Estabelecer prioridades.

3. Traçar estratégias de atuação.

4. Organizar seu Processo de Trabalho.

5. Intervir na organização da estrutura físico-funcional e organizacional da

Unidade de Saúde.

B. SAÚDE: PROMOÇÃO E VIGILÂNCIA

1. Articular ações integradas com outros setores da sociedade.

2. Articular ações integradas com a Rede Institucional.

3. Identificar os fatores sociais determinantes da qualidade de vida.

4. Promover a participação e intervenção popular.

120

5. Implementar o processo de trabalho.

6. Implementar as normas de Biossegurança.

7. Promover a vigilância em saúde.

C. TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

1. Ouvir e negociar.

2. Articular os diferentes pontos de vista.

3. Promover situação de diálogo.

4. Desenvolver ações de liderança frente às diversas situações.

5. Articular o trabalho em grupo.

D. ABORDAGEM INTEGRAL DO SER HUMANO/FAMÍLIA/GRUPO SOCIAL

1. Intervir no ser humano/família/grupo social de forma Participativa e

Construtiva.

2. Identificar a relação do ser humano e/ou família com o Grupo Social.

3. Identificar a cultura Familiar ou do Grupo Social.

4. Conduzir ações junto ao ser humano/família/grupo social no contexto

cultural do município.

E. ABORDAGEM DA GESTÃO DO TRABALHO EM SAUDE

1. Conduzir a gestão de recursos humanos no SUS.

2. Promover a participação na construção da política de Plano de Carreira,

Cargos e Salários.

3. Intervir na política de saúde do trabalhador no SUS.

4. Implementar a política de Educação Permanente em Saúde no município e

região.

5. Implementar sistemas de avaliação.

6. Conduzir Sistemas de avaliação de desempenho da equipe envolvida com

ações de prevenção e promoção em saúde.

7. Aplicar sistemas de informação do SUS.

121

8. Conduzir o processo de trabalho em saúde na enfermagem nos diversos

níveis de complexidade no SUS.

2.3 ATITUDES

ATITUDES PARA O GERENCIAMENTO A SEREM DESENVOLVIDOS PELOS

ENFERMEIROS:

A. PLANEJAMENTO DAS AÇÕES

1. Respeitar e acolher as necessidades de saúde do ser

humano/família/grupo social.

2. Respeitar e acolher as necessidades de saúde das equipes.

3. Aplicar a tomada de decisão com base nos princípios éticos e legais.

4. Respeitar a governabilidade das políticas de saúde do SUS.

5. Respeitar e acolher a população do município.

B. SAÚDE: PROMOÇÃO E VIGILÂNCIA

1. Valorizar a Participação Comunitária.

2. Valorizar a participação da Gerência de Saúde.

3. Valorizar mecanismos para o controle social em saúde do município e

grupos sociais.

4. Preservar a aplicação das normas de Biossegurança do SUS.

5. Preservar a vigilância em saúde.

6. Valorizar os processos educativos junto ao ser humano/família/grupo

social.

C. TRABALHO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE

1. Compartilhar conhecimentos e informações.

2. Respeitar as atribuições e diferenças de classe profissionais do SUS.

3. Comprometer-se com a integração da equipe multidisciplinar de saúde.

4. Ser líder e membro de equipe.

122

5. Ser comunicativo e interativo com a equipe de trabalho.

6. Respeitar e estabelecer relações de trabalho de caráter interdisciplinar e

multiprofissional como estratégia de atenção à saúde, sob o enfoque da

integralidade.

D. ABORDAGEM INTEGRAL DO SER HUMANO/FAMÍLIA/GRUPO SOCIAL

1. Respeitar e valorizar as características do ser humano no Núcleo Familiar e

do Grupo Social.

2. Estimular a participação do grupo social na execução de ações da equipe.

E. ABORDAGEM DA GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

1. Valorizar o trabalho em saúde como eixo norteador de sua profissão.

2. Respeitar as relações intersetoriais do trabalho em saúde.

3. Sentir-se co-responsável pela saúde do cidadão brasileiro de seu estado

e/ou município.

4. Respeitar as relações de poder municipal, estadual e nacional.

5. Valorizar e respeitar as relações de poder do grupo social / família / ser

humano.

6. Valorizar e se comprometer com os processos de educação permanente do

município/região/estado.

7. Valorizar e potencializar a estrutura física e funcional da equipe a que

pertence.

8. Valorizar a estrutura organizacional da equipe a que pertence.

9. Valorizar e promover a união dos profissionais de sua equipe frente a

necessidades trabalhistas e de direito dos trabalhadores da saúde.