compêndio de ensaios jurídicos: temas de direito das famílias - v. 1, n. 1

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TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL COMPÊNDIO DE ENSAIOS JURÍDICOS: TEMAS DE DIREITO DAS FAMÍLIAS V. 01 N 1

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Tradicionalmente, o Direito é reproduzido por meio de “doutrinas”, que constituem o pensamento de pessoas reconhecidas pela comunidade jurídica em trabalhar, academicamente, determinados assuntos. Assim, o saber jurídico sempre foi concebido como algo dogmático. É possível, à luz da tradicional visão empregada, afirmar que o Direito é um campo no qual não se incluem somente as instituições legais, as ordens legais, as decisões legais; mas, ainda, são computados tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das mencionadas instituições, ordens e decisões, materializando, comumente, uma “meta direito”. No Direito, a construção do conhecimento advém da interpretação de leis e as pessoas autorizadas a interpretar as leis são os juristas.Contudo, o alvorecer acadêmico que é presenciado pelos Operadores do Direito, que se debruçam no desenvolvimento de pesquisas, passa a conceber o conhecimento de maneira prática, utilizando as experiências empíricas e o contorno regional como elementos indissociáveis para a compreensão do Direito. Ultrapassa-se a tradicional visão do conhecimento jurídico como algo dogmático, buscando conferir molduras acadêmicas, por meio do emprego de métodos científicos. Neste aspecto, o Compêndio de Ensaios Jurídico objetiva disponibilizar para a comunidade interessada uma coletânea de trabalhos, reflexões e inquietações produzida durante a formação acadêmica do autor. Debruçando-se especificamente sobre a temática de Direito das Famílias, o presente busca trazer para o debate uma série de assuntos contemporâneos e que reclamam maiores reflexões.

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TAU LIMA VERDAN RANGEL COMPNDIO DE ENSAIOS JURDICOS: TEMAS DE DIREITO DAS FAMLIAS V.01 N1 COMPNDIO DE ENSAIOS JURDICOS: TEMAS DE DIREITO DAS FAMLIAS (V. 01, N. 01) Capa: Tarsila do Amaral, A Famlia (1925). ISBN: 978-1516827862 Editorao, padronizao e formatao de texto Tau Lima Verdan Rangel Projeto Grfico e capa Tau Lima Verdan Rangel Contedo, citaes e referncias bibliogrficas O autor deinteiraresponsabilidadedoautorosconceitosaqui apresentados.Reproduodostextosautorizada mediante citao da fonte. A P R E S E N T A O Tradicionalmente,oDireitoreproduzidopor meiodedoutrinas,queconstituemopensamentode pessoasreconhecidaspelacomunidadejurdicaem trabalhar,academicamente,determinadosassuntos. Assim,osaberjurdicosemprefoiconcebidocomoalgo dogmtico.possvel,luzdatradicionalviso empregada,afirmarqueoDireitoumcamponoqual noseincluemsomenteasinstituieslegais,asordens legais,asdeciseslegais;mas,ainda,socomputados tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das mencionadasinstituies,ordensedecises, materializando,comumente,umametadireito.No Direito,aconstruodoconhecimentoadvmda interpretaodeleiseaspessoasautorizadasa interpretar as leis so os juristas. Contudo,oalvoreceracadmicoque presenciadopelosOperadoresdoDireito,quese debruamnodesenvolvimentodepesquisas,passaa conceberoconhecimentodemaneiraprtica,utilizando asexperinciasempricaseocontornoregionalcomo elementosindissociveisparaacompreensodoDireito. Ultrapassa-seatradicionalvisodoconhecimento jurdicocomoalgodogmtico,buscandoconferir moldurasacadmicas,pormeiodoempregodemtodos cientficos.Nesteaspecto,oCompndiodeEnsaios Jurdicoobjetivadisponibilizarparaacomunidade interessadaumacoletneadetrabalhos,reflexese inquietaes produzida durante a formao acadmica do autor.Debruando-seespecificamentesobreatemtica deDireitodasFamlias,opresentebuscatrazerparao debateumasriedeassuntoscontemporneoseque reclamam maiores reflexes. Boa leitura! Tau Lima Verdan Rangel 5 S U M R I O Oinstitutodacuratela:ponderaessingelasacercado direito assistencial em matria de famlia ......................... 06 O instituto da tutela: comentrios ao direito assistencial em matria de famlia ......................................................... 47 Oinstitutodobemdefamlia:asubstancializaodo patrimnio mnimo da pessoa humana .............................. 100 O instituto do poder familiar: uma breve anlise .............. 136 OsalimentosnoCdigoCivil:interpretaoluzda Constituio Federal de 1988 ............................................. 178 Singelosapontamentospresunodepaternidadepela recusa:explicitaesaoVerbeteSumularn301do Superior Tribunal de Justia .............................................. 224 6 OINSTITUTODACURATELA:PONDERAES SINGELASACERCADODIREITOASSISTENCIAL EM MATRIA DE FAMLIA Resumo: Em uma primeira plana, ao se estruturar umaanliseacercadoinstitutoemcomento, impendesalientarqueacuratela,emtermos conceituais,seapresentacomoummnuspblico, contidonoOrdenamentoPtrio,atribudoa algum,paraqueestepossaregeredefendera pessoadocuratelado,assimcomoadministraro acervopatrimonialdoincapaz,que,porsis,no detm,aindaquetransitoriamente,condiesde taisprticas,emdecorrnciadeenfermidadeou deficinciamental.Denota-se,destasorte,quea curatelaconsideradacomoumencargopblico conferido a algum com fito a dirigir a pessoas e os bensdemaioresconsideradoscomoincapazes. Entrementes,oinstitutoemtelanoseencontra adstritotoapenasaaludidasituao,massim 7 alcanatambm,emrazodesuanaturezaede seusefeitosespecficos,outroscasos.Imperiosose faz reconhecer que a curatela, tambm chamada de curadoria, detm um duplo alcance, porquanto pode ser deferida: para reger a pessoa e os bens de quem, conquantomaior,encontra-seimpossibilitado,por especficacausaouincapacidade,defaz-loporsi mesmo;paraaregnciadeinteressesqueno podemsercuidadospelaprpriapessoa,embora estejanogozodesuacapacidade.Naprimeira situao,verifica-sequeacuratelatemcarter permanente, ao passo que, na segunda, o aspecto temporrio. Palavras-chaves:Curatela.DireitoAssistencial. Direito Civil. Sumrio:1OInstitutodaCuratela:Conceitoe Pressupostos;2EspciesdeCuratela:2.1Curatela dosAdultosIncapazes;2.2CurateladoNascituro; 2.3 Curatela do Ausente; 2.4 Curadorias Especiais; 3 Interdio; 4 Exerccio da Curatela; 5 Cessao da Curatela 8 1OINSTITUTODACURATELA:CONCEITOE PRESSUPOSTOS Emumaprimeiraplana,aoseestruturaruma anliseacercadoinstitutoemcomento,impende salientarqueacuratela,emtermosconceituais,se apresentacomoummnuspblico,contidono OrdenamentoPtrio,atribudoaalgum,paraqueeste possaregeredefenderapessoadocuratelado,assim comoadministraroacervopatrimonialdoincapaz,que, porsis,nodetm,aindaquetransitoriamente, condiesdetaisprticas,emdecorrnciade enfermidadeoudeficinciamental.Nestediapaso, Gama,comobjetividade,assinalaqueacuratelao encargoatribudoacertaspessoasparacuidaremde interesses de alguns outros:declarados incapazes1.Denota-se,destasorte,queacuratela considerada como um encargo pblico conferido a algum comfitoadirigirapessoaseosbensdemaiores consideradoscomoincapazes.Entrementes,oinstituto emtelanoseencontraadstritotoapenasaaludida situao,massimalcanatambm,emrazodesua naturezaedeseusefeitosespecficos,outroscasos. 1GAMA,RicardoRodrigues.DicionrioBsicoJurdico.1ed. Campinas: Editora Russel, 2006, p. 123. 9 Portanto,trata-sedeuminstitutoautnomo,dedifcil delimitao,porsercomplexo,envolvendovrias situaes,atingindoatmenoresounasciturosepessoas que estejam no gozo de sua capacidade2.Imperiososefazreconhecerqueacuratela, tambm chamada de curadoria, detm um duplo alcance, porquantopodeserdeferida:pararegerapessoaeos bensdequem,conquantomaior,encontra-se impossibilitado, por especfica causa ou incapacidade, de faz-loporsimesmo;paraaregnciadeinteressesque nopodemsercuidadospelaprpriapessoa,embora estejanogozodesuacapacidade.Naprimeirasituao, verifica-sequeacuratelatemcarterpermanente,ao passo que, na segunda, o aspecto temporrio. Corriqueiramente,apresenta-secomopressuposto fticodacuratelaaincapacidade,demaneiratalque estosujeitosaelaosadultos,que,emdecorrnciade causaspatolgicas,adquiridasoucongnitas,nodetm capacidade de reger sua prpria pessoa e de administrar opatrimnioquepossui.Encontra-sealcanadospelo institutoemdestaque,guisadeexemplificao,osque porenfermidadeouretardomentalnodetiveremo 2DINIZ,MariaHelena.CursodeDireitoCivilBrasileiro: DireitodeFamlia.27ed.SoPaulo:EditoraSaraiva,2012,p. 702. 10 imprescindveldiscernimentoparaosatosdavidacivil; osque,porcausaduradoura,nopuderemmanifestar suavontade;osbrioshabituaiseaquelesqueforem viciadosemtxicosousubstnciasentorpecentes,que causamdependnciafsicaoupsquica;osprdigos;os excepcionais sem completo desenvolvimento mental. Ao lado do expendido, impe assinalar que noh outrascausaspassveisdeinterdio,almdas enumeradas na Lei Substantiva Civil, estando, portanto, excludosdainterdioacegueira,oanalfabetismo,a idade provecta, desde que, conjugado com tais exemplos, ashiptesesautorizadoras.Fatoqueavelhicetraz consigodiversosmales,masapenasquandoestes assumemaspectopsicoptico,comestadodeinvoluo senilemdesenvolvimento,tendendoaseagravar,pode sujeitaroindivduoaoinstitutoemcomento.Destarte, conquantoaidadeavanadaeoestadodedecadncia orgnica no se apresentarem como motivos legais, por si s,deacarretaremadecretaodainterdio,estano podedeixardeserdecretada,quandoseverificarqueo pacientenoconsegue,pelapalavraescritaoufalada, manifestarsuavontade,cuidardeseusnegcios,reger sua pessoa e administrar seu acervo patrimonial.Ademais,hquesesalientarqueacuratela destinadaaprotegerpessoascujaincapacidadeno 11 resultedaidade,logo,emsetratandodepessoacuja idade seja inferior a 18 (dezoito) anos, no ter assento a aplicao do instituto em destaque. Com alinho, Tartuce eSimoobtemperamqueacuratelatambmnose confundecomatutela,poisaltimavisaproteode interessesdemenores,enquantoprimeiraaproteo dosmaiores3.Verifica-se,destemodo,queacuratela institutodestinadotosomenteaosmaioresacometidos poralgumaincapacidade,queobstaagestodesua pessoa e de seu acervo patrimonial. Ainterdioserveparasupriranecessidadede representaodepessoasmaioresque,porenfermidade oudeficinciamental,notemcondiesdeexercer pessoalmente os atos da vida civil, conforme estabelece o artigo1.767doCdigoCivil4.Emboraesseartigono coloque como requisito para a interdio que o requerido sejacivilmentecapaz,essacondionaturalelgica, decorrendodeinterpretaoconjuntacomoartigo3do mesmo diploma legal, que considera o menor de dezesseis absolutamenteincapaz.Nestediapaso,afimde 3 TARTUCE, Flvio; SIMO, Jos Fernando. Direito Civil: Direito de Famlia. v. 05. So Paulo: Editora Mtodo, 2012, p. 513. 4BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 24 jun. 2012: 12 fortalecer as ponderaes estruturadas, impende trazer baila os seguintes precedentes jurisprudenciais: Ementa:Curatela-Interdiopossvel apenasemrelaoaosmaioresenoem relao aos menores que j so considerados capazes-Recursoimprovido.(Tribunalde JustiadoEstadodeSoPauloNona CmaradeDireitoPrivado/ApelaoCvel n.547.012-4/9-00/RelatorDesembargador JosLuizGaviodeAlmeida/Julgadoem 20.01.2009) Ementa:Interdio-Incapaz-Menor absolutamenteincapazquepadecede molstia mental - Incapacidade absoluta em razodeidadeincompatvelcoma interdio - Vantagens do poder familiar em relaocuratela-Eventuaisbenefcios previdenciriosemrazodamolstiaque independem da interdio - Processo extinto porfaltadeinteresseepossibilidade jurdicadopedido-Sentenamantida Recursoimprovido.(TribunaldeJustiado EstadodeSoPauloQuartaCmarade DireitoPrivado/ApelaoCveln.395.310-4/7-00/RelatorDesembargadorFrancisco Loureiro/ Julgado em 13.10.2005) Ementa:Interdio-Requerimentode interdio de menor formulado pelo legtimo pai,parafinsdeinclusodamenorem programasdebenefciodeSeguridade Social - Inadmissibilidade Os pais, vivos e sadios,exercendoregularmenteoptrio-poder,representamdeformaplenaa menor,nolhesassistindointeresse processualnadeclaraodeinterdio Benefciosecuritrioque,emprincpio, independededeclaraojudicialde interdio-Recursonoprovido.(Tribunal deJustiadoEstadodeSoPaulo 13 SegundaCmaradeDireitoPrivado/ ApelaoCveln.78.872-4/Relator DesembargadorLinneuCarvalho/Julgado em 23.06.1998) Em conjunto com a curatela dos adultos incapazes, oOrdenamentoJurdicoPtrioadotou,ainda,outras espciesdecuratelas,asaber:acurateladonascituroe dosausentes,distintasnadisciplinadoinstitutoem comento,emdecorrnciadesuasnuanceseaspectos caractersticos. Outrossim, h tambm outras espcies de curadoriaque,emrazodesuanatureza,so denominadasdecuratelasespeciais.Opressuposto jurdicoparaacuratelaumadecisojudicial, porquanto no pode haver curatela sem que o magistrado defira-a, mediante o competente processo de interdio. 2 ESPCIES DE CURATELA Noqueconcerneaoinstitutoemcomento,hque se arrazoar que, em razo da pessoa que colocada sob a curatela,asnormasqueregeroasespciesse amoldaramacadasituaosingular,observando,por extremanecessidade,asparticularidadesenuances apresentadasnoscasosconcretospostosemanlise. Nestepasso,emrazodosaspectoscaractersticosque 14 cadaumadasespciesapresentam,comumentea doutrinamaisabalizadaasclassificacomo:curatelados adultosincapazes,quecompreendeumsucedneode hiptesesdistintas;curateladonascituro;curatelado ausente e curadorias especiais. 2.1 Curatela dos Adultos Incapazes 2.1.1 Curatela dos Psicopatas A espcie em apreo alberga em sua estrutura um sucedneodehipteses,dentreasquaisestacuratela dospsicopatas,quesoosdenominadosalienados mentaissemonecessriodiscernimentoparaosatosda vida civil e excepcionais sem o completo desenvolvimento mental.Talpremissadecorredeseremelesportadores deenfermidademental(p.ex.,sndromedeDown)ou sofrerem um processo patolgico da mente, so incapazes dedirigirsuaspessoasebens5.Nestepasso,os portadoresdeanomaliapsquicaestolegalmente sujeitadoscuradoria,compreendendo-seosdementes, osoligofrnicos,osfracosdeesprito(imbecis),os dipsmanos(impulsoirresistvelabeber),assimcomo os diagnosticados com demncia afsica, fraqueza mental 5 DINIZ, 2012, p. 705. 15 senil,degenerao,psicastenia,psicosetxica (alcoolismo, cocainismo, morfinismo) psicose autotxica.Outrossim,asanomaliaspsquicasabrangem, ainda,apsicoseinfectuosaqueconsisteemdelriosps-infecciosos,assimtambmaparanoia,ademncia arteriosclertica,demnciasifiltica.Combem obtemperamTartuceeSimo,nessecomandose enquadramosloucosquenosodotadosdequalquer capacidadedediscerniromundoenvolto,casodos psicopatas,psicticos,alienadosmentais,neurticos graves,entreoutros6.Emtodosashipteseslanadas alhures,verifica-sequeamolstiatemocondode acarretarousovulgardasfaculdadesdoindivduo, tornando-o incapaz de exercer os atos tidos como normais aos atos da vida civil.H que se assinalar, por oportuno, que oEstatuto Civilde1916diccionavaqueoloucodetodogneroera absolutamenteincapaz,spodendoatuarjuridicamente quandorepresentadopelocurador,seinterditado. Entrementes,comoadventodoDecreton.24.559/1934, verifica-sequesetraouumadistinonoqueconcerne aopsicopata,oqualpassouaserclassificadoem absoluta e relativamente incapaz, permitindo, assim, que 6 TARTUCE; SIMO, 2012, p. 514. 16 o juiz fixasse na sentena, tendo em vista a gravidade da molstia,sesuaincapacidadeeraabsolutaourelativa7. Logo,emsefixandoaincapacidadecomorelativa,o curateladoseriaassistidopelocurador,aopassoque sendoaincapacidadeestabelecidanasentenacomo absoluta, o interditado seria representado pelo curador. Doutra banda, o Cdex Civilista de 20028 trouxe baila,demaneiraexpressa,queosindivduosque apresentamenfermidademental,consistenteemum estgiopatolgicodamente,oudeficinciamental, provenientedeumdficitdeintelignciacongnitoou adquirido,soabsolutamenteincapazesparaosatosda vidacivil.Ademais,cuidarealarqueodoentemental recolhidoemqualquerestabelecimentonopoder praticaratojurdicodealienaoouadministraode bens,nos90diasseguintes,anoseratravsdeseu cnjuge, pai, me oudescendente maior uns na faltados outros9.Destemodo,constata-sequehpermissoaos parentes,antesqueocorraainterdiodopsicopata,do 7 DINIZ, 2012, p. 705. 8BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em:24jun.2012:Art.3Soabsolutamenteincapazesdeexercer pessoalmenteosatosdavidacivil:[omissis]IIosque,por enfermidadeoudeficinciamental,notiveremonecessrio discernimento para a prtica desses atos. 9 DINIZ, 2012, p. 705. 17 exerccio de atos de administrao, estando, com efeito, a possibilidade de disp-los. Defludoolapsotemporalassinaladoalhures,um administradorprovisriodosbensdoalienadomental ser nomeado, exceto se comprovar a convenincia de sua imediata interdio. Anote-se, ainda, que, em decorrido o prazo de dois anos e no tendo o psicopata readquirido a aptidoparadirigirsuapessoaeseupatrimnio,ser interditado.Talfatodefluidoiderioqueodecretode interdio carece que o estado de insanidade mental seja duradouro,conquantobicenohqueointerditado apresenteintervalosdelucidez.Nestasenda,tambm, hquesegizarque inexisteaexignciadaenfermidade serperptuaouincurvel,mesmoquepassageira, haver a nomeao de curador ao psicopata, caso este se apresenteimpossibilitadoderegersuapessoaeseu acervo patrimonial. Quadrasalientarque,aosedecretarainterdio, ojuizdeverdeterminarainternaodocurateladoem estabelecimentoadequadoouapropriado,particularou pblico,atentando-se,imperiosamente,paraacondio socialeeconmicaapresentadapelointerditado. Assinale,comdestaque,quetalmedidasseradotada pelomagistradoseentenderserinconvenienteou perigoso a mantena do incapaz em sua casa ou ainda se 18 aspeculiaridadesdotratamentoassimexigirem,como bem assinalam os artigos 1.776 e 1.777, ambos do Cdigo Civilvigente10.Contudo,nemsempreserevelar convenientequeoenfermoouodeficientementalsem discernimento,oexcepcionalsemcompleto desenvolvimentomental,obriohabitualouo toxicmanopermaneamnolar,usufruindoda convivnciadoncleofamiliar,emrazoda agressividadeoumesmopericulosidadequeapresenta. Igualmente,noseconsiderarconvenientequantoa espcienosolgicaqueoindivduoportadorobstaa adaptao ao convvio domstico. Ademais,emsendopossvelministrarum tratamentoadequadoouatmesmorecuperarasade mental do interditado, incumbe ao curador diligenciar no sentidodepromoverainternaodaqueleem estabelecimentoquesereveleapropriado,particular, inclusive, se o interditado possuir recurso financeiro para tanto,oupblico,seocurateladonopossuirrenda 10Nestesentido:BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode 2002.InstituioCdigoCivil.Disponvelem: .Acessoem:24jun.2012:Art.1.776. Havendomeioderecuperarointerdito,ocuradorpromover-lhe-o tratamento em estabelecimento apropriado.Art. 1.777. Os interditos referidosnosincisosI,IIIeIVdoart.1.767serorecolhidosem estabelecimentosadequados,quandonoseadaptaremaoconvvio domstico. 19 alguma.Comoacuratelatemporescopoprotegero incapaz,cessar,seelerecobrarsuaintegridademental, segundooqueseapuraremprocessojudicialde levantamento de interdio11. 2.1.2 Curatela dos Toxicmanos Outra situao alcanada pela curatela dos adultos incapazesaludeaostoxicmanosque,outrora,pelaLei N.4.294/1921,foramequiparadosaospsicopatas.H quesesalientarqueotoxicmano,emumaacepo essencialmenteconceitual,oindivduoqueapresenta dependnciaqumica,ouseja,ovcioconsistentenouso reiteradodetxicosouentorpecentes.ODecreto-LeiN. 891/1938, por seu turno, inaugurou duas modalidades de interdio,orientado-sepelograudeintoxicao apresentadapeloindivduo,asaber:alimitada,quese assemelhavaainterdioempregadaemrelaoaos relativamenteincapazes,eaplena,equipolentedos tidoscomoabsolutamenteincapazes.Destarte, caracterizando-seaincapacidadedemaioroumenor extenso,oOrdenamentoPtriodispensavaao toxicmano uma curatela cujos poderes seriam variveis, 11 DINIZ, 2012, p. 707. 20 observando-se,comefeito,paraaextensodovcio apresentado pelo curatelado. Aindanoqueconcerneaotemaemdebate,cuida trazer baila que a Lei N. 11.343/2006, denominada de LeiAntidrogas,trouxeemseumagoumsucedneode medidas a serem observadas, em relao ao uso indevido, prescrevendoonorteaservaloradonoquetange preveno,atenoereinserosocialdosusuriose dependentesdedrogas.Nestepasso,afixou-se,tambm, normaseregramentosparaarepressoproduono autorizadaeotrficoilcitodedrogas,inaugurando, inclusive, o Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas (SISNAD). Quadraassinalarqueodiplomalegal supramencionadotevesuagnesefomentadaemrazo danecessidadedeconjugarosdoisinstrumentos normativosque,atento,vigoravam,quaissejam:as LeisN.6.368/1976e10.409/2002.ApartirdaLei Antidrogas, foram revogados, expressamente, os aludidos diplomas,comoreconhecimentodasdiferenasentrea figuradotraficanteeadousurio/dependente,osquais passaramasertratadosdemododiferenciado. Oportunamente, h que se destacar, com grossos traos e coresfortes,queoBrasil,concatenadocomatendncia mundial,estruturousuasbasesideolgicasnapremissa 21 queosusuriosedependentedesubstncias entorpecentes, os toxicmanos, nodevemser objetosde penalizaopelaJustia,pormeiodaprivaode liberdade. ComobemexpeAndrade12,aabordagem estruturadaemrelaoaoportededrogas/substncias entorpecentesparausopessoaltemsidorespaldadapor especialistasqueapontamresultadosconsistentesde estudos, nos quais, em referncia ao usurio/dependente, aatenodeveestarjungidaaooferecimentode oportunidadedereflexosobreoprprioconsumo,ao invsdopuroencarceramento.Houve,destasorte,a valoraoejustiarestaurativa,cujoescopomaiora ressocializaodotoxicmano,pormeiodepenas alternativas,asaber:advertnciasobreosefeitosdas drogas;prestaodeservioscomunidadeem locais/programasqueseocupemda preveno/recuperaodeusuriosedependentesde drogas;e,medidaeducativadecomparecimentoa programaoucursoeducativo.Destemodo,houveo detrimentodavisodejustiapunitivaquedantes 12ANDRADE,ArthurGuerrade(coordenador-geral).Integrao decompetncianodesempenhodaatividadejudiciriacom usuriosedependentesdedrogas.Braslia:Ministrioda Justia Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas, 2011, p. 17. 22 vigoravaemrelaoaotema,impondoaodependente qumico o encarceramento. 2.1.3 Curatela dos brios Habituais EmconsonnciacomoCdigoCivilvigente,os brioshabituaissoconsideradoscomorelativamente incapazesparaaprticadedeterminadosatosdavida civil, reclamando um curador que os assista, uma vez que podemteralucinaes,emdecorrnciadadeteriorao mentalalcolica,ouaindaembrutecimentodamente. Outrossim,osbrioshabituaispodemapresentar deliriumtremens,isto,psicoseaguda,decorrentedo alcoolismo.Emtomdearremate,obriooindivduo quetemocontroledesuasfaculdadesminoradasem razo da habitual ingesto de bebidas alcolicas. 2.1.4 Curatela dos Prdigos Abinitio,hqueseassinalarqueoprdigoo indivduoquedissipa,demaneiradesordenada,os haveresdoqualdetentor,logo,comoescopode salvaguardarosinteressesdeseuncleofamiliar,aLei Substantiva Civil d-lhe curador para assisti-lo, eis que consideradorelativamenteincapazparaaprticade especficosatosdavidacivil.Nestatrilhaderaciocnio, cuidacolacionarqueoprdigoumrelativamente 23 incapaz (CC, art. 4, IV), podendo apenas praticar atos de meraadministrao,necessitandodecuradorparaa efetivaodosatosquecomprometemseupatrimnio13, como,porexemplo,emprestar,darquitao,transigir, alienar,hipotecar,demandarouserdemandado. Ademais,instaanotarqueoprdigospoderconduzir sua vida civil nos limites dos rendimentos que lhe forem arbitrados.Nestasenda,colhe-seoentendimento jurisprudencial que ventila no sentido que: Ementa:ProcessualCivil.Pedidode Interdio.ProcednciaParcialdoPedido lastreadoemlaudomdico-pericial. Conversoemdilignciadaqualresultoua conclusonosentidodeconvivncia harmnicaentremeeafilha (interditanda). Provimento aos recursos com amparonoart.557,1-A,doCdigode ProcessoCivil,paradeclararainterdio parcial com as restries limitadas do artigo 1782 do Cdigo Civil [...] III - O art. 1782 da lei civil estatuique "a interdio do prdigo soprivarde,semcurador,emprestar, transigir,darquitao,alienar,hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral,osatosquenosejamdemera administrao",daseacolherosrecursos nosentidodesedeclararainterdio parcialdasegundaapelante,aplicando-se asrestriesdoart.1782doCdigoCivil [](TribunaldeJustiadoEstadodoRio de Janeiro Dcima Terceira Cmara Cvel/ ApelaoCvelN.0008821-91.2002.19.0042/RelatorDesembargador 13 DINIZ, 2012, p. 708. 24 AdemirPimentel/Julgadoem24.11.2009/ Publicado no DJe em 30.11.2009) Ora,trata-sedeinstrumentoempregadopela Legislao em vigor com o fito primevo de evitar que haja umadilapidaopatrimonial,umavezqueoprdigo pessoa que, de maneira esbanjadora, gasta seus bens. No quesereferesuapessoa,denota-sequenosubsiste qualquerrestrio,podendoexercersuaprofisso, excetuando-seassituaesquesetratardeum empresriooucomerciante.Assimsendo,oprdigo pode,semaintervenodocurador,casar-se(sema imposiodequalquerregime),fazertestamento, reconhecer filhos, ser empregado, entre outros14.Empraticandoqualqueratoproibido,esteser anulvelporiniciativadeleprprio,deseu cnjuge/companheiro,ascendenteoudescendente. Incumbe,destafeita,aocuradorassisti-lonosatose negciosalusivosaseuacervopatrimonial.Almdisso, se a prodigalidade estiver conjugada com um processo de anomaliamental,ocasionandoperturbaespsquicas, ocorrer a modificao da causa de interdio, passando, ento, a ser regidas pelos mesmos regramentos atinentes curatela dos psicopatas. 14 TARTUCE; SIMO, 2012, p. 514. 25 2.1.5 Curatela dos que, por outra causa duradoura, no podem exprimir a sua vontade Altimahiptesequeseencontraalbergadapela curateladosadultosincapazesestadstritaasituaes, distintasdasjestampadas,emcarterduradouro, impedemqueoindivduopossaexprimirsuavontade. Computa-se,nestahiptese,aquelesque,emrazode acidentes,temsuafunescerebraiscomprometidas. Outrossim,osurdo-mudo,desdequenotenharecebido educaoapropriadaqueopossibilitemanifestarsua vontade,seroconsideradoscomoabsolutamente incapazes,clamandoporproteo.Hqueseevidenciar quenemtodosurdo-mudopodeserinterditado,nose justificando,destamaneira,ainterdiodaqueleno absolutamentesurdo,oqualdetmacapacidadede entabularconversao.Colhe-se,pornecessrio,o abalizado entendimento jurisprudencial no sentido que: Ementa:ApelaoCvel.Interdio. PreliminardeCerceamentodeDefesa Afastada.DesnecessidadedeProva Pericial.Documentosnosautossuficientes aodeslindedacausa.InterditandoSurda-MudaeAnalfabeta.Circunstnciaque,por si s, no a sujeita curatela. Constatada a capacidadedecomunicaocompessoas estranhasaoncleodeconvivnciaatravs degestoseleituralabial,bemcomode manifestarsuavontade.Inexistnciade deficinciamental.Sentenade 26 ImprocednciaMantida.Recurso Desprovido. (Tribunal deJustia do Estado deSantaCatarinaSegundaCmarade DireitoCivil/ApelaoCvelN. 2010.072117-4/RelatorDesembargador Srgio Izidoro Heil/ Julgado em 08.12.2011) Emhavendoinstrumentosaptosaeducaroude submeterosurdo-mudoouointerdito(prdigo,brio habitual,toxicmano)cinciaeletrnicaoumdica,o curadordeverenvidarosesforosimprescindveisao ingressonoestabelecimentoapropriadoouemclnicas especializadas,empregando,paratanto,osrecursosou rendimentosprpriosdoincapaz.Seestenotiver condiesfinanceirasparatanto,suainternaofar-se- emestabelecimentopblicoqueforneaatendimento gratuito15.Nestahiptese,emimplementadacomxito aeducao,podendoointerditoexprimir,compreciso suavontade,restarcessada,porconsequncia,a curatela.Impendeassinalar,combastantepertinncia,que omagistradodeverdelimitar,demaneiraclara,os pontos limtrofes da curatela, atentando-se para o estado eodesenvolvimentomentaldointerdito,averiguando, imperiosamente,ograudedeficinciaorgnicae examinando se h atos passveis de serem praticados. De 15 DINIZ, 2012, p. 708. 27 igualsorte,deverojuizobservarseocuratelado detentor de algum grau de discernimento que viabilize a manifestaodesuavontadeou,ainda,sehsituao intermediriaentreaincapacidadeabsolutae capacidade plena, enumerando, por consequncia, os atos quepodemserpraticados.Avultapontuarquea incapacidadedobriohabitual,dodeficientemental,do toxicmano e do excepcional mental completo varivel, comportando gradaes.Aoladodisso,cuidaobservarquenemtodo alcolatraserpassveldeinterdio,porquanto, conquantosubsistaovciohabitualdoconsumoda bebidaalcolica,estenotemocondodeafetarsua capacidadedeconversoepossibilidadedeexprimirsua vontade.Logo,emverificadaahiptesedainocorrncia dequalquerafetaodobrio,novingara possibilidadedeinterdit-lo.Nestatrilhadeexposio, instatrazercolaooarestoqueexplicitao entendimento consolidado pelos Tribunais de Justia: Ementa:Seaprovadosautosnose mostraclaraeforteosuficientedequeo interditandoseja,defato,umbrio habitual,talcomopreconizadonoart.4, II,CC/2002,nosedecretaainterdio, medidarduaqueretiradapessoaa qualidadedecivilmentecapaz.(Tribunal deJustiadoEstadodeMinasGerais 28 StimaCmaraCvel/ApelaoCvelN. 1.0056.07.154700-6/001/Relator DesembargadorEdivaldoGeorgedos Santos/ Julgado em 02.06.2009/ Publicado no DJe em 10.07.2009) 2.2 Curatela do Nascituro Emumaprimeiraplana,cuidapontuarqueo nasciturooserjconcebido,cujonascimentodado comoumeventocerto16,aindaquenotenha personalidadecivil,jqueaLeiSubstantivaCivil17 perfilha-seaoentendimentodequeapersonalidadedo homem tem sua gnese com o nascimento, fato que a lei o pe a salvo desde a concepo. Trata-se, desta sorte, da adoodateoriaconcepcionista,queapregoaqueo nascituropessoa.Assim,pararesguardaresses direitos,aleideterminaqueselhenomeiecurador,sea mulhergrvidaenviuvar,semcondiesdeexercero poderfamiliar18, desde que o nascituro tenha direito ao recebimentodeherana,doaooulegado.Emtais hipteses,verifica-sequeonasciturosertitularde direito,aindaqueestejasubordinadocondio 16 GAMA, 2006, p. 262.17BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 24 jun. 2012: Art. 1.779. Dar-se- curador ao nascituro, se o pai falecer estando grvida a mulher, e no tendo o poder familiar. 18 DINIZ, 2012, p. 710. 29 suspensiva,qualseja:onascimentocomvidado nascituro. Aoladodoexpendido,cuidaanotarque,aose admitiracurateladonascituro,oCdigoCivildispensa queleomesmotratamentocomoabsolutamente incapaz, enquadrando-o, por extenso, a hiptese contida noincisoIdoartigo3domencionadodiploma,asaber: menordedezesseisanos.Onasciturotratadocomo menor,aserrepresentadopeloseucurador,queir administrar,attulodeexemplo,eventuaisinteresses patrimoniais futuros do mesmo19. Em estando a genitora donasciturointerdita,ocuradordonasciturosero mesmodela,tratando-se,destemodo,deumadas hiptesesemqueadmissvelaextensodaautoridade do curador pessoa e bens dos filhos do curatelado, como bem espanca o artigo 1.778 do Cdigo Civil20. Seagenitoradonascituropuderexerceropoder familiar, dever vindicar exame mdico para atestar sua gravidez, para que o magistrado possa investi-la na posse dos direitos sucessrios que caibam ao nascituro. Quadra anotarqueoCdigodeProcessoCivil,apartirdeseu 19 TARTUCE; SIMO, 2012, p. 520. 20BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em:24 jun. 2012: Art. 1.778.A autoridade do curadorestende-se pessoa e aos bens dos filhos do curatelado, observado o art. 5o. 30 artigo887,consagraoprocedimentoaseradotadoem relao aos bens do nascituro. 2.3 Curatela do Ausente Aespcieemcomentotemcomofitoprimordial resguardarosbensdapessoaquedesaparecedeseu domiclio, sem deixar notcias acerca de seu paradeiro ou mesmorepresentanteouadministradorparacuidarde seuacervopatrimonial.Emumaacepotcnica, segundo Gama21, o ausente aquele que no se encontra emseudomiclioduranteumdeterminadoperodo, estandoemlugarincertoenosabido,vindo, posteriormente,aserdeclaradocomotalporum magistrado.Acuratelaexercidaincidesobreosbensdo ausente (cura rei) e no sobre a pessoa (cura persona). O CdigoCivil,art.23,prescrevequetambmquetambm se declarar a ausncia, e se nomear curador, quando o ausentedeixarmandatrioquenoqueira22ou,ainda, nopossa exercer ou mesmo continuar o mandato,ou se os poderes a ele conferidos forem insuficientes. Emverificadaasituaodeausncia,a requerimentodequalquerdosinteressados,como cnjugeouparentesucessvel,oudorepresentantedo 21 GAMA, 2006, p. 51.22 DINIZ, 2012, p. 710-711. 31 MinistrioPblico,ojuiznomearcuradorque,sob compromisso,promoverainventarianadosbens, dedicandoaelesadministrao,percebimentodas rendas,para,posteriormente,entreg-lasaoausente, quando este retornar, ou ainda ao seus herdeiros. Prima assinalarqueacurateladoausenteseextinguiraps umanodaausncia,umavezqueocorreraconverso daquelaemsucessoprovisria,aservindicadapelos interessados. 2.4 Curadorias Especiais Asdenominadascuradoriasespeciais,ouainda oficiais,distinguem-sedasespcieapresentadasato momentoemrazodesuafinalidadeespecfica,quea administrao dos bens e a defesa dos interesses e no a regnciadaspessoas.Emocorrendooseuexaurimento, automaticamente,esgotadaafunodocurador. Dentreascuradoriasespeciais,pode-seenumerar:a instituda pelo testador para os bens deixados a herdeiro oulegatriomenor,encontrandorespaldono2do artigo1.733doCdigoCivil23;aquedadaaherana 23BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em:24jun.2012:Art.1.733.Aosirmosrfosdar-se-ums tutor.[omissis]2oQueminstituiummenorherdeiro,oulegatrio seu,podernomear-lhecuradorespecialparaosbensdeixados, ainda que o beneficirio se encontre sob o poder familiar, ou tutela. 32 jacente,comsupedneonoartigo1.819daLei SubstantivaCivil24;adadaaofilho,semprequeno exerccio do poder familiar, os interesses do pai e daquele colidirem,comobemespancamoartigo1.692doCdex Civilistaeosartigos142,pargrafonico,e148, pargrafonico,alneaf,ambosdoEstatutoda Criana e do Adolescente.Almdashiptesessupramencionadas,computa-se,tambm,adadaaoincapazquenopossuir representantelegalou,sepossuir,osinteressesdesse conflitaremcomodaquele;aconferidaaorupreso;a curadoriaquedadaaorevelcitadoporeditaloucom horacerta,quesefizerrevel.Talmodalidade denominadadecuradoriainlitem,encontrandosua previso no artigo 9, incisos I e II, do Cdigo de Processo Civil25.Porderradeiro,pode-secitartambma institudaarequerimentodoenfermoouportadorde 24BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em:24jun.2012:Art.1.819.Falecendoalgumsemdeixar testamento nem herdeiro legtimo notoriamente conhecido, os bens da herana,depoisdearrecadados,ficarosobaguardae administraodeumcurador,atasuaentregaaosucessor devidamente habilitado ou declarao de sua vacncia. 25 Idem. Lei N 5.869, de 11 de Janeiro de 1973. Institui o Cdigo deProcessoCivil.Disponvelem:. Acesso em: 24 jun. 2012: Art. 9o O juiz dar curador especial: I - ao incapaz,senotiverrepresentantelegal,ouseosinteressesdeste colidirem com os daquele; II - ao ru preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa. 33 deficinciafsica,ou,senopuderfaz-lo,porcausa transitria,deseuspais,tutor,cnjuge,parenteou, excepcionalmente,rgodoMinistrioPblico26,para cuidar de todos ou ainda de parte de seus negcios, como obtempera o artigo 1.780 do Cdigo de 200227.Com efeito, a ltima hiptese no se amolda a uma interdio,massimaumatransfernciadepoderes, semelhanteaummandato,noqualocurador administrar,totalouparcialmente,oacervo patrimonialdeumdoenteoudeficientefsico,cujomal lhe discute a devida gesto. Trata-se de um instituto sui generis,sendodenominadodecuratela-mandato,no seguidadeprocessodeinterdio,emqueo'curador' apenastemagernciadosbensenodapessoado 'curatelado',sendo,portanto,umcuradoradnegotia28. Verifica-se, deste modo, que a curatela no direcionada pessoadoincapaz,massimquelaquenodetm condies fsicas para cuidar de seus negcios, conquanto seencontreemplenogozodesuasfaculdadesmentais. 26 DINIZ, 2012, p. 711. 27BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em:24jun.2012:Art.1.780.Arequerimentodoenfermoou portadordedeficinciafsica,ou,naimpossibilidadedefaz-lo,de qualquerdaspessoasaqueserefereoart.1.768,dar-se-lhe- curador para cuidar de todos ou alguns de seus negcios ou bens. 28 DINIZ, 2012, p. 712. 34 Trata-sedeumacuratelaadministrativaespecial,cujo contedorestritoepatrimonial,recebendo,ainda,a denominaodecuratelaseminterdio.Obviamente,o magistradodeversopesarseacuratelaemcomentose apresentacomoconvenienteparaoenfermoouat mesmo a idoso que apresente dificuldade de locomoo. O deferimentodamodalidadeemcomentocareceda anunciadocuratelado,oqual,inclusive,poder impugnar o pedido feito por seu cnjuge/companheiro ou parente seu. 3 INTERDIO Acuratela,excetuandocasosexcepcionais, sempre deferida pelo magistrado, por meio de processo de interdio,oqualobjetivaaquilatarosfatosque justificamanomeaodecurador,atentando-se, maiormente,paraofitoaquesedestinaoinstitutoem comento,bemcomoseessaseamoldaahiptesede incapacidade.Indaga-se,destaforma,seoindivduo possuicapacidade,ouno,deregersuapessoaeseu acervopatrimonial.Spossveldarcuradoraoutrem, medianteocarecidoprocessojudicial,oqual,em presentesosrequisitosautorizadores,culminarcoma prolaodeumasentenadeclaratriaeconstitutiva 35 acercadoestadodeincapacidadedointerditando. Duranteonterimquetramitaroprocessoemquese discuteainterdiodoindivduo,podersernomeado um administrador provisrio. Ainterdio,assinale-se,amedidaprotetiva paraoincapaz, a qualbuscaevitar quehajadano sua pessoaeaoseu acervopatrimonial,devendoseraforada pelopai,meoututor;pelocnjuge,excetoseestiver separadoextrajudicialmente,judicialmenteoudefato, faltando,portanto,legitimidadeaoconvivente,comose inferedaredaodoartigo1.768doEstatutode200229. Hquesedestacar,conformebempontuaDiniz30,que tramitanoCongressoNacionalProjetodeLein. 6.960/2002, que ambiciona expurgar tal rano, incluindo, dentre o rol legitimados, o companheiro para a promoo dainterdio.Alocuoporqualquerparente, constantedoincisoIIdoartigo1.768doCdexCivilista compreende to somente aos parentes sucessveis, j que esteteriaminteressenainterdio,comoescopode salvaguardar o patrimnio do interditando, com o fitode evitar sua dilapidao. 29BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em:24jun.2012:Art.1.768.Ainterdiodeveserpromovida:I- pelos pais ou tutores; II - pelo cnjuge, ou por qualquer parente; III - pelo Ministrio Pblico. 30 DINIZ, 2012, p. 713. 36 OMinistrioPblico,pontue-se,poderingressar com ao de interdio, desde que reste configurada uma dasseguintessituaes:quandooincapazapresentar doenamentalgrave;quandonoexistiremouno promoverem a interdio do incapaz o pai, a me, o tutor, ocnjugeouqualqueroutroparente;quando,se existiremaludidasfiguras,estarforemincapazes.Em seu artigo 1.770, o Cdigo Civil dicciona que o Ministrio Pblico poder ajuizar ao de interdio, ocasio em que omagistradodevernomeardefensorparaosuposto incapaz.Nasdemaissituaes,oParquetatuarcomo defensordoincapaz,impugnando,ouno,porsua interdio,assimcomofiscalizandoaregularidade processual. Noqueconcerneaoprdigo,cuidaobservarqueo OrdenamentoPtriosujeita-ocuratelacomonico escopo de resguardar o patrimnio familiar, no podendo, destemodo,orgoMinisterialpromoverqualquer interveno.bicenosubsisteparaqueointerditando constitua advogado para promover sua defesa, conquanto oParquetsejaseudefensornato,excetuando,porbvio, ashiptesesemqueeletomaainiciativadoprocesso, quando,ento,ojuiznomearcurador,comobem 37 acinzela,comprofundossulcos,oartigo1.179doCdigo de Processo Civil31. Oritoprocessualaseradotadooscilaem conformidade com a causa ensejadora da curatela, sendo oforocompetenteodomicliodointerditando,sendotal entendimentoconsolidadonosTribunaisdeJustiae doutrinariamente; o foro do requerente, por seu turno, s sercompetentequandooincapazestiveremlugar incertoenosabidoou,ainda,seudomiclionoforno Brasil.Aoladodisso,cuidasalientarqueparaa nomeao de curador, necessrio que o suposto incapaz sejasubmetidoaexameacercadesuasanidademental, pormeiodeespecialista.Oprocessodeinterdiodos prdigos e toxicmanos inicia-se com a simples citao de interditando, o que no ocorre com os psicopatas32.Em havendo exame acerca da sanidade do suposto incapaz, o juiz ser obrigado a promover o interrogatrio pessoaldaquele,assistidoporespecialistas,antesdese pronunciar sobre a questo contida no bojo do apostilado colocadosobseuapreo.Opedidodeinterdiono prosperseocorrercontradioentreasinformaes 31BRASIL.LeiN5.869,de11deJaneirode1973.Instituio CdigodeProcessoCivil.Disponvelem: .Acessoem:24jun.2012:Art.1.179. Quando a interdio forrequerida pelo rgo do Ministrio Pblico, o juiz nomear ao interditando curador lide (art. 9o). 32DINIZ, 2012, p. 714. 38 contidasnolaudomdicoeasimpressescolhidaspelo magistrado,quandodarealizaodointerrogatriodo supostoincapaz.Talfatosearrimanapremissaqueo feitoqueversaarespeitodeinterdiotrazconsigoum fortecontedodeinteressepblico,nosendocogente queomagistradoacate,demaneirapassiva,ocontedo do exame pericial do profissional nomeado. OCdigodeProcessoCivildispe,emseuartigo 1.180, a respeito da petio inicial, devendo o interessado provarsualegitimidade,especificando,ainda,osfatos quetrazemtonaaincapacidadedointerditandopara regersuapessoaeseupatrimnio.Porseuturno,o artigo 1.181, do aludido diploma, verbaliza que o suposto incapazsercitadoparaque,emdiadesignado, compareaperanteomagistrado,afimdeser interrogado,oportunidadeemqueserexaminadopelo juiz e ser procedida a colheita de informaes acerca do desenvolvimentomentaldointerditando.Osuposto incapazcontarcomoprazodecinco(05)dias,acontar daaudinciaemquefoirealizadoointerrogatrio,para impugnaropedidocontidonobojodapreambular. Defludo o lapso temporal ora mencionado, o magistrado nomearperitoparaexamin-lo,comobempontuao artigo1.183doCdigodeProcessoCivil,devendo,ao depoisdeapresentadoolaudo,omagistradodesignar 39 datapararealizaodaaudinciadeinstruoe julgamento. Caso o contedo do laudo confeccionado pelo perito judicial apresentar informaes que sedimentem o pedido contidonapeadeingresso,oproferirsentena decretandoainterdiodoincapaz,nomeando,na oportunidade,curadorparaointerdito.Omagistrado deverobservaraordementalhadanoartigo1.775do CdigoCivil,asaber:companheirooucnjuge,no separadoextrajudicialmente,judicialmenteoudefato, casoemqueacuratelaserobrigatria,sendovedada, por consequncia, a escusa, na sua falta, o pai ou a me, enohavendoestes,odescendentequesedemonstrar maisapto,sendoqueomaisprximoprecedeomais remoto,substancializandoacuratelalegtima.Em inexistindotaispessoas,ojuiznomearcuradordativo, devendoseatentarparasuaidoneidadeecapacidade para o exerccio do encargo.No mais, a sentena proferida coloca a pessoa e os bensdointerditadosobadireodocurador,pessoa idneaquevelarporele,exercendoseumnus, pessoalmente.Asentenapoderconcluirpela incapacidadeabsolutaourelativa,sendo,noprimeiro caso, deferida a curatela plena, ao passo que, no segundo, a curatela limitada. Emhavendo qualquer conflito entre 40 osinteressesdocuradoredocuratelado,restar afastadaanomeao.Aoladodisso,oatodecisrio produzefeitosdesdelogo,conquantosujeitaarecurso, quegozadeefeitoapenasdevolutivo.Ainterdioser passveldelevantamentodesdequeseproveacessao da causa que lhe deu gnese e a sentena que a levanta, assimcomoaquedecreta,devemserlevadasaregistro nocompetentecartrioepublicadasparaconhecimento de terceiros. 4 EXERCCIO DA CURATELA Aoseesmiuaroinstitutodacuratela,verifica-se queomesmodistingue-sedatutelaemrazodesta incidirsobremenos,enquantoaquela,viaderegra, dada aos maiores ou nascituros. Outrossim, a tutela pode decorrerdeprovimentovoluntrio,aopassoquea curatelanecessitadodeferimentoaserdadopelo magistrado.Aoladodisso,hqueseassinalarqueos poderes do tutor so mais amplo do que os do curador, o qualinstitudoemconformidadecomasnecessidades de proteo apresentadas pelo curatelado, podendo, como ditoalgures,consistiremsimplesadministraodo acervo patrimonial do incapaz. 41 Ademais,soaplicadasacuratelaasdisposies aludentestutela,desdequeestarnocontrariemou estejam em desacordo com o instituto em comento. Desta sorte,ocuradorterosmesmosdireitos,garantias, obrigaeseproibiesexistentesemrelaoaotutor, podendo,inclusive,escusar-sedoencargoaeleconfiado ou dele ser removido, em configurada uma das hipteses legais autorizadoras. Em situaes de dvidas, o Cdigo Civilde2002continuadeterminandoaaplicao residualcurateladasregrasprevistasparaatutela (art.1.774doCC)33,notadamentenoquetangeao exerccio, com as devidas restries. Nessasendadeexposio,instaanotarque subsiste,ainda,paraoscuradoresoroldecausas voluntrias e proibitrias, entalhadas nos artigos 1.735 e 1.736,ambosdoEstatutoCivilistade2002,inclusiveno queconcernecauo,apresentaodobalanoanual eaprestaodecontasdesuagesto.Ocuradorter aoregressivacontraocurateladoparahaveroque despendeu,desdequetenhabenssuficientesparatal34. Entrementes,emsendoocuradorcnjugedointerdito, emconformidadecomasdisposiesemanadaspelo 33 TARTUCE; SIMO, 2012, p. 519. 34 DINIZ, 2012, p. 717. 42 artigo1.783doCdigoCivil35,noserobrigadoa apresentar contas, desde que o regime de casamento seja odacomunhouniversal,excetuando,comefeito, determinaojudicial.Talfatodecorreemrazodo regime supramencionado estatuir que ambos os cnjuges pertenceoacervofamiliar,logo,ocnjuge-curadortem interessenapreservaodosbens.Nestesentido, Gagliano e Pamplona Filho arrazoam que o curador tem deprestarcontasperiodicamenteoutodavezquefor instadoatalmister,talqualotutor,estandoliberado, tosomente,quandoforcasadoemcomunho universal36 comocuratelado.Emsetratandodeoutros regimes de casamento, hque se realar que o consorte-curador dever fazer balano anual e prestar contas. Ocuradordetentordedireitosedeveres concernentes pessoa e bens do curatelado, estendendo-sesuaautoridadepessoaeaoacervopatrimonialdos filhos do interdito, mesmo quando se tratar de nascituro. Hquesepontuarqueocuradornomeadotambm 35BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em:24jun.2012:Art.1.783.Quandoocuradorforocnjugeeo regimedebensdocasamentofordecomunhouniversal,noser obrigado prestao de contas, salvo determinao judicial. 36GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Direito deFamlia:AFamliaemPerspectivaConstitucional.2ed.So Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 735. 43 exerceromnusdatutoriaemrelaoaosfilhos menoresdoincapazcondicionadocuratela.Aolado disso,cuidarealarqueosbensdocurateladossero alienadosouarrendadosemhastapblicasehouver manifestavantagemnaoperaoparaointerdito, carecendodacompetenteautorizaojudicial.Ser dispensvelosubastamento,seocuradorfoioprprio cnjugeouopai;aalienaooperar-se-,ento,por autorizaojudicial37,sendoquemetadedaquantia obtidacomavendadoprodutoserdepositada,como escopo de assegurar a subsistncia do incapaz. 5 CESSAO DA CURATELA Aocontrriodoqueocorrecomoinstitutoda tutela, o qual essencialmente temporrio, a curatela se revestededefinitividade.Talfatoderivadoideriode quemnemsempreoindivduo,queseencontra compreendidodentreashiptesesfticasqueo reconheceucomosendoabsolutaourelativamente incapaz,conseguirserecuperarevoltaraexercer,de maneira autnoma, os atos da vida civil. 37 DINIZ, 2012, p. 718. 44 Entrementes,emocorrendoarecuperaoplena dointerdito,comefeito,acuratelanomaister necessidade,culminandoemsuacessao.Outrossim,a curatelatambmpodercessar,quandoconfigurara impossibilidadematerialdecontinuidadepelocurador, como,porexemplo,adquirirumadoenagrave,situao emquedeversersubstitudomedianteordemjudicial. Talcomoocorrecomoinstitutodatutela,podero curadorserafastado,serestardevidamente demonstradaahiptesedenegligncia,prevaricaoou deincapacidadesuperveniente,aplicando,deforma analgica,asdisposiescontidasnoartigo1.766do Estatuto Civil de 2002. REFERNCIAS: ANDRADE, Arthur Guerra de (coordenador-geral). Integrao de competncia no desempenho da atividade judiciria com usurios e dependentes de drogas. Braslia: Ministrio da Justia Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas, 2011. BRASIL. Lei N 5.869, de 11 de Janeiro de 1973. Institui o Cdigo de Processo Civil. Disponvel em: . Acesso em: 24 jun. 20121 __________. Lei N 8.069, de 13 de Julho de 1990. Dispe sobre o Estatuto da Criana e do Adolescente e d 45 outras providncias. Disponvel em: . Acesso em: 07 jun. 2012. __________. Lei N. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Cdigo Civil. Disponvel em: . Acesso em: 24 jun. 2012 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Famlia. 27 ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2012. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Direito de Famlia: A Famlia em Perspectiva Constitucional. 2 ed. So Paulo: Editora Saraiva, 2012 GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionrio Bsico Jurdico. 1 ed. Campinas: Editora Russel, 2006. TARTUCE, Flvio; SIMO, Jos Fernando. Direito Civil: Direito de Famlia. v. 05. So Paulo: Editora Mtodo, 2012. 46 47 OINSTITUTODATUTELA:COMENTRIOSAO DIREITOASSISTENCIALEMMATRIADE FAMLIA ResumoEmsededeapontamentosintrodutrios,vale ponderarque,emsituaonormal,osfilhosso cuidados,criadoseeducadosporseusrespectivos genitores,sepossvelamboseumsnashiptesesque substancializam a relao monoparental, que decorre de distintos fatores, como o divrcio, ausncia, morte de um dos pais ou mesmo quando ocorrer a dissoluo da unio estvel.Todavia,enquantohouveraomenosumdos genitores, o poder familiar ser, por aquele, exercido em suaplenitude.Verifica-sequeatutelaserevestede carterassistencial,tendoporfitopromovera substituiodopoderfamiliar,visandoaproteoda crianaedoadolescentenoemancipadoeseusbens, nassituaesemquesobrevierofalecimentodeseus genitores,foremessesdeclaradosausentesousobrevier a suspenso ou destituio do poder familiar. O instituto emcomentoobjetivadarassistnciacrianaeao adolescente,bemcomorepresentaonarbitajurdica, 48 investindo,paratanto,pessoaidneacomospoderes necessrios.Depreende-se,aindaemumcontato primitivocomotemadopresente,queatutelaest alicerada na proteo de crianas e adolescentes, sendo outorgadoaotutorogovernoeassistnciadosmenores deidadequecarecemdegenitoresoumesmoqueesses sejam incapazes para o exerccio do poder familiar, como ocorrenashiptesesdeperdaesuspensodopoder familiar. Palavras-chaves:Tutela.DireitoAssistencial.Direito Civil. Sumrio:1OInstitutodaTutela:LiesInaugurais;2 Tutela:Espcies:2.1TutelaTestamentria;2.2Tutela Legtima;2.3TutelaDativa;2.4TutelaIrregularou Ftica;2.5TutelaFuncional;3Impedimentosparao ExercciodaTutela;4EscusaouDispensadosTutores: 4.1MulherCasada;4.2MaioresdeSessentaAnos;4.3 Aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de trs filhos;4.4Enfermidade;4.5HabitaoDistante;4.6Os quejexerceremtutelaoucuratela;4.7Militaresem Servio;4.8Aosquenoforemparentesdomenor;4.9 Prazo para Arguio da Escusa; 5 Garantia da Tutela; 6 ExercciodaTutela:6.1OExercciodatutelaquanto pessoadotutelado;6.2OExercciodatutelaquantoao patrimniodotutelado;6.3AFiguradoProtutor;6.4 RemuneraoeResponsabilidadedoTutor;6.5 Prestao de Contas; 7 Cessao da Tutela; 8 Funes do Tutor 49 1OINSTITUTODATUTELA:LIES INAUGURAIS Emsededeapontamentosintrodutrios,vale ponderar que, em situao normal, os filhos so cuidados, criadoseeducadosporseusrespectivosgenitores,se possvelamboseumsnashiptesesque substancializamarelaomonoparental,quedecorrede distintos fatores, como, por exemplo, o divrcio, ausncia, mortedeumdospaisoumesmoquandoocorrera dissoluo da unio estvel. Todavia, enquanto houver ao menosumdosgenitores,opoderfamiliarser,por aquele,exercidoemsuaplenitude.Nestaesteirade exposio,verifica-sequeatutelauminstitutode carter assistencial, que tem por escopo substituir o poder familiar38,visandoaproteodacrianaedo adolescentenoemancipadoeseusbens,nassituaes emquesobrevierofalecimentodeseusgenitores,forem essesdeclaradosausentesousobrevierasuspensoou destituiodopoderfamiliar.Oinstitutoemcomento objetivadarassistnciacrianaeaoadolescente,bem comoassegurararepresentaodaquelesnarbita 38DINIZ,MariaHelena.CursodeDireitoCivilBrasileiro: DireitodeFamlia.27ed.SoPaulo:EditoraSaraiva,2012,p. 681. 50 jurdica,investindo,paratanto,pessoaidneacomos poderesnecessrios,aqualpassaaserdenominadade tutor. Depreende-se, ainda em um contato primitivo com otema,queatutelaestaliceradanaproteode crianaseadolescentes,sendooutorgadoaotutoro governo e assistncia dos menores de idade que carecem de genitores ou mesmo que esses sejam incapazes para o exerccio do poder familiar, como ocorre nas hipteses de perdaesuspensodopoderfamiliar.Nestasenda,Rolf Madalenoarrazoaqueatutelaopoderconferidopela lei, pessoa capaz, para proteger a pessoa e reger os bens de menores que esto fora do poder parental39. Anote-se, poroportuno,quetalfatodefluidapremissaqueos filhos,enquantomenores,estosujeitosaopoder familiar,queexercidodemaneiraigualitriaentreos genitores,mesmoqueocorraodivrcio,emcasode matrimnio,ouaindadissoluodaunioestvel.Por bvio, em se tratando de situao em quea criana ou o adolescentesoreconhecidostosomentepelagenitora, apenas esta exercer o poder familiar. Aoladodisso,extrai-sequeatutelaambiciona oferecerproteopessoadacrianaedoadolescente, 39MADALENO,Rolf.CursodeDireitodeFamlia.Riode Janeiro: Editora Forense, 2008, p. 823. 51 bemcomoadministrarosseusbens,atuandocomoum desdobramentodopoderfamiliaraoincapaz,que,em decorrnciadaidade,nogozadeintegralcapacidade civil, necessitando, por isso, de proteo tutelar. Gagliano ePamplonaFilho,aoespancaremotema,acrescentam queatutelaestumbilicalmenteligadaaoDireitode Famlia,umavezquetemporfinalidadesuprirafalta dos pais40. Deste modo, a tutela atua como instrumento de substituio do poder parental dos filhos menores, em decorrncia do bito dos genitores ou, ainda, em razo da impossibilidadedoexercciodopoderfamiliarpor suspenso ou destituio. Nessesedimento,constata-sequeoexerccioda tutela incompatvel com o poder familiar, uma vez que, estandoospaisvivosenotendoassentonenhumadas condiesquedoazosuspensooudestituio daquele,oencargoparentalserexercidodeforma plena,mesmoqueoumdosgenitoresvenhacontrair matrimnioouunioestvelcomoutrem.Noque concerneaotutor,verifica-sequeoindivduoexerceum mnus pblico, que delegado pelo Ente Estatal, o qual transfereaumaterceirapessoaoencargodezelarpela 40 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo.Direito deFamlia:AFamliaemPerspectivaConstitucional.2ed.So Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 713. 52 criao,educaoepelosbensdacrianaoudo adolescentepostossobatutela.Obtempera,com bastantepropriedade,afestejadadoutrinadoraMaria Helena Diniz quando leciona que o tutor passar a ter o encargodedirigirapessoaedeadministrarosbensdo menor que no se encontra sob o poder familiar do pai ou da me, zelando pela sua criao, educao e haveres41. Porderradeiro,infere-sequeoinstitutodatutela assentasuasbalizasnapremissadeamparoe assistncia,sendooutorgadoaumterceiroomnus pblicodeocuparumvaziodeixadopelafaltaou ausnciadosgenitores.Destemodo,competiraotutor velar pela sade, pela moral, pela educao e por todos os demaisitensintegrantesdaextensarubricaque salvaguardaadignidadedotutelado,bemassim administrar seus bens, objetivando suprir a incapacidade transitriadaquele.Destarte,destaca-se,dadaasua proeminncia,queofitodatutelajunge-se, essencialmente,aatenderosintegraisinteressesdos menorestutelados,afimdequeosmesmospossamse desenvolver sem percalos. 2 TUTELA: ESPCIES 41 DINIZ, 2012, p. 681. 53 2.1 Tutela Testamentria Inprimoloco,aespcieemcomentoinstituda emvirtudedenomeaopelosgenitoresdotutor crianaouaoadolescente,poratodeltimavontade. Nestasenda,RolfMadaleno,aoabordaraespcieem comento,lecionaqueodireitodenomeartutorcompete aospais,emconjunto,razopelaqualtutela testamentriavememprimeiroplano,porpermitiraos genitores,mediantetestamentooudocumento autntico42,noqualindicamtutorparaseusfilhos. Alis,aespcieemcomentoencontra-seexpressamente dispostanaredaodoartigo1.729doCdigoCivil43, sendotrazidobailaqueodireitodenomearcompete aosgenitores,emconjunto,devendotalnomeao constaremcdulatestamentriaouqualqueroutro documento dito como autntico.Cuidaarrazoarqueanomeaodotutorpodese dtantoporambososgenitores,emconjunto,comopor toapenasumdeles,emseparado,pormeiode documentoditocomoautntico,ouseja,documento particularcomfirmareconhecidaouaindaescritura pblica,sendo,nestahiptese,denominadaporalguns 42 MADALENO, 2008, p. 827. 43BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 07 jun. 2012. 54 doutrinadorescomotuteladocumental.Aoladodisso, insta evidenciar que a escritura pblica deve atender aos requisitosordenadosnoartigo215doCdigoCivil, enquantooinstrumentoparticularestregulamentado pelo artigo 221 do mesmo Cdigo Civil44. Com efeito, em setratandodenomeaoestabelecidaemcdula testamentria ou em codicilo, cada genitor ter que fazer demaneiraindividual,porquantooEstatutoCivil vigente veda o denominado testamento conjuntivo45.Almdisso,nomaissubsisteadistino estabelecidapeloCdigoCivilde1916,emseuartigo 41946,quetraavaodireitodeescolhadetutorprimeiro ao pai e, to apenas em sua ausncia, me, aspecto que refletiaumasociedadetipicamentepautadaemvalores patriarcais.Oranoemtelafoiextirpado,demodo expresso,doOrdenamentoJurdicopormeioda 44 MADALENO, 2008, p. 827. 45Nestesentido:VERDAN,TauLima.OInstitutodoTestamento. JuridPublicaesEletrnicas,Bauru,12mar.2012.Disponvel em:.Acessoem:07jun.2012:Dessarte,dadoaocunho personalssimoexistentenaelaboraodotestamento,plenamente vivelcompreenderqueo OrdenamentoJurdicoprobearealizao detestamentodemocomumouconjuntivo,estruturadocoma participao de mais de uma pessoa. 46BRASIL.Lei N. 3.071, de 1 de Janeirode 1916. Cdigo Civil dosEstadosUnidosdoBrasil.Disponvelem: . Acesso em: 07 jun. 2012: Art. 407. O direitodenomeartutorcompeteaopae,me,aoavpaternoeao materno.Cadaumadestaspessoasoexercernocasodefaltaou incapacidade das que lhes antecederem na ordem aqui estabelecida. 55 ConstituioFederalde1988queconsagrouaisonomia entreosgenitores,refletindotaldogmanaestruturao doartigo1.729doEstatutode2002,que,demaneira rotunda,trazapossibilidadedanomeaodetutor,em favordosfilhosmenores,porambososgenitoresde maneiraconjunta.Defato,naatualconjuntura,a distinoentreosgenitoresnomaistemcampopara atuao. Porbvio,talespciespodeserestatudapelos genitores da criana ou do adolescente que ser colocado sobatutela,noseestendendoaoutrosparentes,como ocorrianoDiplomarevogado,oqualconcebiaahiptese denomeaodetutorpelosavspaternose,emcasode falecimentodaqueles,pelosmaternos,nestaordem. Como bem leciona Maria Helena Diniz, os avs no mais poderonomearemtestamentotutordonetoporque,em nossodireito,opoderfamiliarcompete,exclusivamente, aospais47.Opoderfamiliar,destemodo,encontra-se restritosfigurasdosgenitores,noseestendendoaos demaisparentesdacrianaoudoadolescente,comose verifica quando da vigncia do Cdigo Civil de 1916. Cuidaanotarqueaindicaodatutelaster validadejurdicase,quandootutorfoiinstitudo,o 47 DINIZ, 2012, p. 684. 56 genitor estava no exerccio do poder familiar, bem como o tutorsexerceromnusseooutrogenitortambmj estiverfalecidoou,ainda,nopuderexerceropoder familiar,emrazodesuspensooudestituio.Neste sentido,inclusive,oartigo1.730doCdigoCivil,que, comclarezasolar,dispesque:Art.1.730.nulaa nomeao de tutor pelo pai ou pela me que, ao tempo de suamorte,notinhaopoderfamiliar48.MariaHelena Diniz hasteia, como flmula norteadora, que nula ser a tutela testamentaria se feita por pai, ou me, que no seja detentordopoderfamiliaraotempodalavraturado testamentooudaescritura49.Taisponderaes,apartir das lies lanadas, no subsistiro quando da nomeao dotutor,ogenitorqueoinstituiutiverrecuperadoo poder familiar antes de seu bito. Ao lado disso, a instituio do tutor testamentrio consideradacomonegciojurdicounilateral,oqual independedemanifestaodaquelequefoinomeado comotutor,podendoesteaceitarourecusaroencargo, alegando,paratanto,umadashiptesesdeescusa consagradasnoartigo1.736doEstatutode2002.Nesta trilha,aescusademaiorrelevnciaaexigirtodosos 48BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 07 jun. 2012. 49 DINIZ, 2012, p. 683. 57 cuidadosdojuiz,realmentedecorradafaltadevontade, daausnciadeafinidadeedeafetividadedotutor indicado50, logo, em ocorrendo tal situao, a autoridade judiciriadeixardeobservaradisposiodogenitor, pois o que dever gozar de destaque o melhor interesse do menor. 2.2 Tutela Legtima Aespcieemtestilhatemassentonaausnciada tutelatestamentria,isto,serdeferidapelalei,aps, sepossvel,aoitivadacrianaoudoadolescente,aos parentesconsanguneos,quandorestardemonstradaa inexistnciadetutordesignadoematodeltima vontade.Nessecontexto,certoque,nafaltadospais (artigo1.728doCdigoCivil)einexistentetutor testamentrio(artigo1.729doEstatutoCivilista),a regraadequeatutelaincumbeaosparentes consanguneos(artigo1.731doDiplomade2002), principalmentediantedoliamenaturalexistenteentre eles e o menor.Em consonncia com o estatudo no artigo 1.731 do CdigoCivil,serochamadosaoexercciodatutela legtima:a)osascendentes,avsebisavs,preferindoo 50 MADALENO, 2008, p. 828. 58 de grau mais prximo ao mais remoto, sem que seja feita qualquerdistinoentrealinhapaternaeamaterna, porquantoaescolhadeversepautarnaqueleque melhorcondiesdetenhaparaoexercciodomnus, conformeentalhaoincisoIdoartigooraaludido;b)os irmosouostios,colateraisde2e3graus, respectivamente,preferindoosmaisprximosaosmais remotose,nomesmograu,osmaisvelhosaosmais moos,nostermospreconizadosnoincisoIIdo dispositivo referido algures.Aindanessatrilha,verifica-sequenomais subsisteadistinoconsagradanoCdigode1916que privilegiavaalinhapaternaemdetrimentodos integrantesdalinhamaterna.Nestesedimento,hque seregistrarqueomagistradopoder,ambicionando asseguraromelhorinteressedotutelado,alterara ordemestabelecidanodispositivolegalmencionado acima.Almdisso,poroportuno,colaciona-seo entendimento jurisprudencial que, de forma expressa, se coadunacomasponderaesvertidasatomomento, atuando como verdadeiro norte a ser observado: Ementa:Aodetutela.Corretaar. sentenaqueconcedeuatutelaamadrinha domenor.Hhiptesesexcepcionaisem que,apesardepresentearelaode 59 parentesco,omelhorinteressedacriana recomendaqueatutelarecaiasobre terceirosestranhosordemlegal.Noh razoparaseconcederamedidaaotioda criana, que confessadamentepretendeentreg-laa outro casal. Recurso improvido. (Tribunal de JustiadoEstadodeSoPauloQuarta CmaradeDireitoPrivado/ApelaoCvel N.527.065.4/3/RelatoraDesembargadora MariadaCunha/Julgadoem06.03.2008) (grifei) Aosedeferiratutelalegtima,ojuizvalorar aquelequedetmcondiesmaisrotundasparao exercciodatutoria,atentando-se,sempre,paraa idoneidadedonomeado.Ojuizpoderescolheromais apto,moraleeconomicamente,aexerceratutelaem benefciodomenor51,noestando,gize-se,adstrito escolha de um parente consanguneo do tutelado. Deve-se teremvista,especialmente,arelaodeafinidadeede afetividade do tutelado em relao ao tutor, com o fim ao menos de minorar as consequncias dessa medida que se revela assaz traumtica. Primaevidenciarqueomagistradotemcomo pavilhohasteado,aonomearoindivduoparao exercciodatutoria,considerarseapessoa,defato, idneaecapacitadaaoexercciodeseumister,podendo, inclusive,escolherpessoaestranha,casonoencontre 51 DINIZ, 2012, p. 685. 60 pessoasaptasnoseiofamiliardotutelado.Esseo propsitonicodaescolhadotutorpelaautoridade judicial,porquenenhumaescolhaserplenae satisfatriasenotiveremmiraomelhoresuperior interesse do menor52 colocado sob tutela e tampouco se o tutor for carecedor de idoneidade ou ainda se a nomeao se revelar inconveniente para a criana ou o adolescente. 2.3 Tutela Dativa Abinitio,nassituaesemqueinexistirtutor nomeadopelosgenitoresenoseapresentarpossvela nomeaodeumdosparentesconsanguneosdotutelado,emrazodeseremconsideradosinidneosou aindaporteremsidoexcludos,removidosdatutelaou delaseescusarem,omagistradodolugaremquea crianaouoadolescenteresidaouemqueosbens deixadospelosgenitoresdevernomeartutor.Aespcie emexposiotemassento,tambm,quandoospaisdo pupiloforemvivos,todavia,tiveremdecadodopoder familiar,ouaindaseapenabilidadefoiimpostaao genitor e subsistir impossibilidade da genitora de exerc-lo.Anomeaojudicialrecairsobrepessoaestranha, idnea, com aptido para o desempenho do cargo pelo seu 52 MADALENO, 2008, p. 829. 61 carter,moralilibada,probidadeetc53,bemcomoque resida no domiclio do menor, conditio que no se estende ao tutor testamentrio ou legtimo. Insta sublinhar que a nomeao de tutor dativo se desvelacomorecursojudicialderradeiro,sendolanada motosomenteapsoesgotamentodetodasas possibilidades de manuteno do tutelado em seu crculo familiar. Quadra realar que impende ao magistrado, em observnciaaodispostonoartigo1.732doCdigoCivil, nomearpessoaquesejadetentoradeidoneidade.Aidentidadededomicliosnorequisitoessencialna tutelalegtimadanomeaodeparenteconsanguneo, porqueamanutenodotutelandonoseucrculo familiarcompensaaeventualmudanadeseu domiclio54,aopassoque,emsetratandodetutela dativa,busca-seminoraradordotutelado, manutenindo-o em seu domiclio de origem. Destarte,aopodotutordativodeveser utilizadatosomenteesgotadostodososmeiosaptosa manter a criana ou o adolescente dentro dos seus liames familiares,mesmoqueomagistradotenhaquenomear pessoanoencampadapelaspossibilidadescontidasno artigo1.731doDiplomaCivilde2002.Aoladodisso, 53 DINIZ, 2012, p. 686. 54 MADALENO, 2008, p. 829. 62 entalhaodispositivo1.737doEstatutooramencionado quedeversernomeadoumnicotutoraosirmos rfos,comefeito,anormaobjetivafacilitara administraodosbensdosirmos,quenodevemser separados,evitando,porextenso,umanovaperda decorrente da traumtica separao.Ofitoprecpuododogmacontidonoartigo supramencionadoseassentanaimperiosidadede salvaguardaroslaosfamiliaresentreosirmosrfos. Ademais,emconsonnciacomo1doartigo1.737,em havendo a nomeao de mais de um tutor e inexistindo a ordemdepreferncia,considera-sequeatutelatenha sido deferido ao primeiro e os demais indicados recebero atutoriapornomeao,casosobrevenhaamorte daquele,incapacidade,impedimentoouqualqueruma dashiptesesdeescusadotutorprecedente.Aolado disso, em harmonia com o expendido no 2 do dispositivo oraaludido,aquelequeinstituirummenorcomoseu herdeirooulegatriopossuirafaculdadedenomear curadorespecialparaosbenstestados,mesmoqueo beneficiado se encontre sob o poder familiar ou tutela. 2.4 Tutela Irregular ou Ftica Em uma primeira plana, na espcie em comento, a partirdeumainterpretaoconcedidapeloEstatutoda 63 CrianaedoAdolescente,observa-sequenoh, propriamente,umanomeao,naacepolegalqueo institutoemestudoreclama,demaneiraqueosuposto tutorzelapelacrianaoupeloadolescenteeporseus bens,comoseestivesse,demaneiralegtima,investido domnus.Todavia,essatutelanogeraefeitos jurdicos,nopassandodemeragestodenegcios,e comotaldeveserregida55.SegundoRolfMadaleno56,a espcieemcomentonoserevestede qualquervalidade jurdica,nopassandodeumcircunstancial administradordosinteresseseconmico-financeirosdo menor. 2.5 Tutela Funcional A modalidade em estudo encontra-se positivada na redaodoartigo1.734doCdigoCivil57,sendo considerada, por grande parte da doutrina, como a tutela dativa58.Aoladodisso,infere-sequeaespcieem 55 DINIZ, 2012, p. 686. 56 MADALENO, 2008, p. 826. 57BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 07 jun. 2012: Art. 1.734. Os menores abandonados tero tutores nomeadospelojuiz,ouserorecolhidosaestabelecimentopblico para este fim destinado e, na falta desse estabelecimento, ficam sob a tuteladaspessoasque,voluntriaegratuitamente,seencarregarem de sua criao. 58 DINIZ, 2012, p. 686. 64 comentoteraplicabilidadenashipteseemqueos tutelados forem menores abandonados ou desamparados, aindaquenosejamrfos,sendo-lhesnomeadoum tutorpeloJuzodaInfnciaeJuventudeouainda recolhidosemestabelecimentospblicosdestinadosa estefito.Nestasenda,ainda,eminexistindotais estabelecimento,atuteladosmenoresabandonadosou desamparados ser confiada a pessoas voluntrias e que, demaneiragratuita,seencarregarodesuacriaoe educao em lar substituto. Nesse alamir, cuida salientar que as crianas em estadodeabandonoouexpostas,cujanicaalternativa judicialaserempregada,emrazodasituao dramtica em que se encontram, de serem recolhidas a estabelecimentospblicos.Destemodo,nohquese confundir esse recolhimento com o instituto em comento, porquanto,emressonnciacomoEstatutodaCrianae doAdolescente,emrelaoaosmenoresabandonados,a primeiraopoaservalorada,peloJuzodaInfnciae daJuventude,apossibilidadedaadoo.Trata-sede umatutelafuncional,porenvolveratividade desempenhada pela direo de estabelecimento pblico59. Destasorte,conformeseinfere,atutelatidacomo 59 MADALENO, 2008, p. 831. 65 funcionalemrazodomnusserdesempenhadopor estabelecimento pblico. 3IMPEDIMENTOSPARAOEXERCCIODA TUTELA Aodeapreciaroinstitutoemcomento,abinitio, verifica-sequeaLegislaoCivilistaestabeleceu restries ao exerccio da tutela, uma vez que as pessoas nomeadasnorenemcondiesexigidasparao exerccio da tutela. Ao lado disso, insta arrazoar que, em havendo a inadvertida nomeao daquelas para o mnus, imposta ser a destituio. Neste passo, o artigo 1.735 do CdigoCivil60,emaltosalaridos,apresentaumrolde pessoasconsideradasinidneasparaoencargoda tutoria,emdecorrnciadesueprocedimentoouainda porquenutrerelaodeinimizadeoudbitoparacom qualquerumdosgenitores.Outrossim,odispositivoora mencionado alberga aindaaqueles que no so pessoas havidascomoprobasehonestas,sobreasquaisdeita umainafastvelsuspeioparaoexercciodorelevante 60BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 07 jun. 2012. 66 encargopblicodatutela61,cujoescopogarantir crianaouaoadolescenteprivadodopoderfamiliar,o conjuntodecondiesefatoresimprescindveispara superaroumesmodiminuirasconsequnciasoriundas de sua indesejada exposio. Valeanotarqueocritriodeidoneidadenopode seafigurarcomobicecapazdeimpediraomagistrado queconsidereasomadoselementosquetenhamo condodeidentificaresubsidiarapromoodomelhor interessedotutelado.Nessediapaso,denota-sequea idoneidadecotejadapormeiodemltiplasqualidades, atitudesepossibilidades,atentando-se,notadamente, paraasrestrieserigidasnoartigo1.735doCdigo Civil.Aoladodopontuado,oquegozaderelevncia a solvnciaereputaodocandidatoaoencargopblico, queserevestetantodecartermoralcomomaterial. Almdisso,houveimpropriedadedotermoincapaz, porquantoafaltadeidoneidadeeasincompatibilidades pessoais no so incapacidades, mas sim impedimentos assuno do mnus tutelar. EmconsonnciacomoincisoIdodispositivo supramencionado,nopoderosertutoresaquelesque notiveremalivreadministraodeseusbens.Ora,o 61 MADALENO, 2008, p. 831. 67 texto legal se reveste de obviedade, porquanto no detm aadministraodeseuprpriopatrimnio,comose constatanocasodofalidoouaindadoinsolventeno reabilitado.Nestemesmocontexto,encontram-se insertos os menores de 18 anos (Lei n. 8.069/90, art. 36), interditos,osquenopuderemexprimirsuavontade,os prdigosefalidos62.Ademais,oexercciodomnus tutelarreclamaresponsabilidadeemaduracapacidade deinteleco,compreendendotantoasearado desenvolvimentomental,comaaquisiode discernimento,comoumarelativaexperinciadevida, cuja existncia presumida com a maioridade civil, como emrelaoprticadosatosdavidacivil,coma realizaodenegcios63.Logo,noconvmconferir quelequejdemonstrouinaptidoparacuidardesi mesmo e dos seus bens pessoais tutoria do menor. O inciso II dispe que aqueles que, no momento de lhesserdeferidaatutela,seacharemconstitudosem obrigaoparacomomenor,outiveremquefazervaler direitoscontraeste,eaquelescujospais,filhosou cnjugestiveremdemandacontraomenor,nopodero exerceratutoria.Deigualmodo,emrazodas disposiescontidasnaConstituioFederalde1988,a 62 DINIZ, 2012, p. 687. 63 MADALENO, 2008, p. 832. 68 vedaoestatudanodispositivooraaludidoalcana, tambm,afiguradocompanheiroquepossuiralguma demandaemfacedomenortutelado.Omotivodo impedimentodescansanacolisodosinteressesdo tutelandoedotutor,sendo,porimperioso,estendidos pessoasvinculadasaotutorporrelaesdeparentesco, afinidade ou afetividade. Deste modo, busca-se extirpar a existncia de qualquer suspeita no que tange ao exerccio do encargo tutelar conferido. Porseuturno,oincisoIIIestabelecequeos inimigosdomenor,oudeseuspais,ouquetiveremsido porestesexpressamenteexcludosdatutela64.Com efeito,obomsensonoaconselhaquesejanomeado, comotutor,oinimigodacrianaoudoadolescente,ou aindadeseusgenitores,aindaqueseacreditequeo tutelado,emrazodesuapoucaidade,notenha inimigos,podersofrerosreflexosdainimizadenutrida emrelaoaosseuspais.Trata-sedeumaproibio jungidaexclusivamenteemumaacepodeordem moral.Essainimizadeemrelaoaospaisnochegaa afetara nomeao eventual do padrasto ou da madrasta como tutores, porque a inimizade pode perfeitamente no 64BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 07 jun. 2012. 69 serdemoldeaatingirapessoadotutelando65.O artigo 1.737 do Cdigo Civil estabelece, inclusive, que o parente por afinidade, no caso de padrasto ou madrasta, podero ser nomeados como tutores. OincisoIVdoartigoemcomentoobtemperaque nopoderoexerceratutoriaoscondenadosporcrime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a famlia ou os costumes, tenhamou nocumpridopena66. Infere-se, desta sorte, que o motivo consagrado se alicera na falta deidoneidadedaspessoascomantecedentescriminais praticadoscontraopatrimnio,tenhamounosido condenados,umavezquetalpechanoasrecomendam paracuidaremdapessoadotuteladoedeseusbens.De igual modo, os condenados por crime contra a famlia ou oscostumes,emdecorrnciadaclarezaemfalhanasua personalidade,oquetornaincompatvelaoexercciodo mnus da tutoria. JoincisoVafixaqueaspessoasdemau procedimento,oufalhasemprobidade,easculpadasde abusoemtutoriasanterioresnopoderiaexercero encargopblico.Aspessoasdemauprocedimentoso aquelasqueatentamcontraosbonscostumes,acusadas 65 MADALENO, 2008, p. 832. 66BRASIL.LeiN.10.406,de10deJaneirode2002.Instituio CdigoCivil.Disponvelem:.Acesso em: 07 jun. 2012. 70 decorrupodemenores,conquistadoresdemulheres casadas,brios,jogadoresprofissionais67,bemcomo aquelesqueexercemprofissesilcitas.Valeanotarque taisinformaesnonecessitamseroriundasde investigaocriminaldeflagrada,podendoserutilizadas asinformaescoligidasnomeiosocial.Ascondutas elencadasnoincisoemapreodemonstramfalhasde probidade moral e social. Porderradeiro,oincisoVIconsagraaltima hiptesedehipteseparaoexercciodomnustutelar, consistentenaquelesqueexerceramfunopblica incompatvel com a boa administrao da tutela. Quadra realarquenoqualquerfunopblicaquetida comoincompatvel,sendoaincapacidade deexerccioda tutela apenas casustica. Deste modo, incidir a situao estatudanoincisosupraserestarevidenciadaa dificuldadeeaincompatibilidadedeumtutela efetivamente direcionada aos interesses da criana ou do adolescente, bem como sua proteo e a administrao de seusbens.ComobemsublinhaMariaHelenaDiniz,tal proibio no absoluta , pois poder ser levantada pelo 67 MADALENO, 2008, p. 833. 71 juzoincumbidodocaso,seeleentenderconvenientea nomeao dessas pessoas aos interesses do menor68. 4 ESCUSA OU DISPENSA DOS TUTORES Tendocomosedimentodeanliseasponderaes vertidas at o presente momento, verifica-se que o Cdigo Civil,emseuartigo 1.735,cuidoudaspessoasincapazes deexercerematutela,emdecorrnciadainaptidoou ilegitimidade.Oartigo1.736doEstatutode2002,por seuturno,tratoudeenumeraraspessoashabilitadas que podero se escusar do exerccio do encargo. Registrar sefaznecessrioqueaincapacidadeparaoexerccioda tutoria tem o condo de retirar de determinadas pessoas aaptidoealegitimidadeparaoencargotutelar, enquantoaescusacuidato-somentedafaculdadede algumas pessoas quer seriam obrigadasa servirem como tutoras, as quais podero, no entanto, ficar desobrigadas dessemister69,paratanto,poderlanarmodeuma das hipteses cunhadas no artigo 1.736. Impendedestacarqueorolcontidonodispositivo mencionadoacimameramenteexemplificativo, podendoonomeadoparaoexercciodoencargoutilizar 68 DINIZ, 2012, p. 688. 69 MADALENO, 2008, p. 834. 72 de outras justificativas que alicercem a escusa, que sero apreciadaslivrementepelomagistrado.Comefeito,o Juzodeverconsiderar,aoestabeleceroencargo,a presenadeempatia,afetividadeedisposioparaa assunodomnus,porquantonocrvelquea autoridade judicial ordene uma tutoria contra a vontade dapessoaqueaexercer.Destemodo,aescusapoder afastar,pormeiodedecisojudicial,oexerccioda tutoria. 4.1 Mulher Casada O Cdigo Civil, no inciso I do artigo 1.736, comea dispensandodatutelaamulhercasada,emrazo daquelapossuirinmerosafazeresdomsticose profissionais, escusas estas que refletem viso arcaica e anacrnica que vigorava durante o Cdigo de 1916. Com efeito,talmatrianoencontraassentoemumarbita emqueaisonomiadosgnerosrestouconsagradapela ConstituioFederalde1988.Segundolecionaa doutrinadoraMariaHelenaDiniz,aescusaconsagrada noincisosupradecorredareduodeseutempo disponvelanteseusinmerosafazeresprofissionaise 73 domsticos; porm, como hoje vivem em concorrncia com os homens, no deveriam ter esse privilgio70.Alm disso, hque se assinalar que a mulher no estimpedidadeaceitaratutoria,masapenaspossuia faculdadedenoaceit-la,semquetenhaque apresentarjustificativa,sendoconsideradocomo suficienteaapresentaodaprovadecasamento.De igualmodo,aescusatambmestendidaamulherque vive em unio estvel, sendo premente a comprovao da existncia do relacionamento, o qual, em razo da Carta deOutubro,passouaafigurarcomotpicaentidade familiar. Nessaesteira,cumprecelebrizarqueaescusa entalhadanoincisoemapreotinhaassentoemuma rbitaemqueamulhermantinhadependnciasociale financeiradoesposo,nogozandodeautonomiade deciso,estando,porconseguinte,sujeitamercde prviaaprovaodocnjuge,oqualseafiguravacomo chefedasociedadepatriarcal.Contudo,aevasivadas mulherescasadasestdesconectadadapolticasociale jurdica da integraligualdade de direitose deveres entre o homem e a mulher71. 70 DINIZ, 2012, p. 688. 71 MADALENO, 2008, p. 835. 74 4.2 Maiores de Sessenta Anos Outrossim,aquelequeatingesessentaanosde idadepoderescusar-sedoexercciodoencargotutelar, independentementedosexo.Talescusatecomo fundamentooideriodeque,nesseperododavida,o indivduosededicariatoapenasaosseusinteresses pessoais,nosendoexigveldepessoasemavanada idadeumesforoadicionaldecorrentedacriao, educaoeadministraodavidaedapessoadeuma crianaouadolescente.MariaHelenaDinizobtempera que aps essa idade [sessenta anos] no de bom alvitre impor-seonusdatutoria72.Aidadeavanada,na hipteseemcomento,serevelacomoumbice concessodoexercciodatutela,quereclamadedicao para a criao e educao do menor tutelado, assim como o patrimnio do qual detentor. Osubstratoedificadordoincisoemcomentoest erigidonapremissaqueacimadesessentaanos,o indivduobuscaomerecidorepousoporsuatrajetria pessoal, familiar e profissional e, em razo de sua idade, jsemostradespidodehabilidadeecontraindicadasao mnustutelar.Comoditoalgures,aescusao facultativaenoseriarecomendvelseosexagenrio 72 DINIZ, 2012, p. 688. 75 demonstrassenomaisguardarqualquerdisposio para o exerccio da tutela, no sendo inclusive apropriado paraomenor73colocadosobatutela.Almdisso,a autoridadejudiciriadevervaloraraabsoluta prioridadedossuperioresinteressesdotutelado.Nesta seara,paraoexercciodoencargoimprescindvelque sejamindicadaspessoascommenosidadeemaior disposio fsica, psicolgica e emocional. 4.3Aquelesquetiveremsobsuaautoridademais de trs filhosOEstatutode1916,aoconsagrarahipteseem apreo,assinalaquesomenteasclulasfamiliarescom mais cinco filhos, situao que hoje no mais se coaduna com a atual famlia brasileira, que vem se reduzindo com aevoluodasociedade.ODiplomaCivilistade2002 afixou que a hiptese de escusa daquele que tiver mais detrsfilhossobsuaautoridade,nosendonecessrio demonstrarquesofilhosprpriosetampouco necessrioprovarqueestejamessestrsfilhossobsua guardafticaejurdica.Aindanestesedimento, apresenta-secomocarecidoapenasqueosfilhosse encontrem sob a suaautoridade direta e que sejam seus 73 MADALENO, 2008, p. 835. 76 dependentesfinanceiramente.ObtemperaDiniz74quea dispensadefluidoscompromissosassumidos,emrazo de terem mais de trs filhos. Deigualmodo,aredaodoincisoIIIdoartigo 1.736doCdigoCivilnoreclamaqueosfilhossejam maioresoumenores,jquenosubsistequalquer restrioatinenteaosfilhosmenores.Aoladodisso, premente se faz pontuar que imprescindvel que sejam filhos, no podendo o indivduo lanar mo da escusa sob ofundamentodetersobsuaguardaoumesmo dependncianetos,aindaquepossasercompreensvela mesmasituaodedificuldade.Emverdade,sempre deverojuizlevaremcontaqualquercausacapazde agravar o exerccio do encargo, no havendo como onerar quem tenha netos sob a sua autoridade e dependncia75. 4.4 Enfermidade Afigura-secomoescusaaserutilizada,quandoo indivduonomeadoparaoexercciodomnustutelar algumaenfermidade,estincapacitadaparaoencargo, no sendo possvel a imposio de um encargo, quando o tutorcarecedordecuidadosespeciais,sendo despiciendaaavaliaodascondiesdessa 74 DINIZ, 2012, p. 689. 75 MADALENO, 2008, p. 836. 77 enfermidade.Instaanotarqueaescusaseassentana comprovaodaimpossibilidadedoexercciodoencargo emdecorrnciadoestadodesade,sendorequeridaa ateno para o doente. 4.5 Habitao Distante Como exposto algures, to-somente na hiptese do tutor ser dativo que se exige que este resida no mesmo domicliodopupilo,conformedeterminaoemanadano caputdoartigo1.732doCdigoCivil,poisnohaveria como exigir daquele que exerce a tutoria de forma dativa osacrifciodecumprirseuencargoemdomicliodiverso dasuaresidnciaedosseusinteresses.Valesalientar quetalconditionosubsistenoqueserefereaotutor legtimo e testamentrio, maiormente em razo do pupilo ficarsobsuacustdiatutelardepessoadaconfianado ascendente. No mais, a distncia fsica poder acarretar faltadeatenooudeapoio,trazendoprejuzono relacionamento e insegurana ao menor76. 4.6 Os que j exercerem tutela ou curatelaAhipteseemcomentoseerigenapremissaque nohcomoexigirumasobrecargadomnusreferente 76 DINIZ, 2012, p. 689. 78 aoexercciodatutelaoudacurateladaquelequej exerceasfunesdetutorecurador.Aescusa plenamente justificada para no sobrecarregar quem j tutoroucuradoreestprestandoasuacolaborao77, aindaqueopreexistenteexercciodesseencargono impea nova nomeao, estando condicionado ao arbtrio exclusivodapessoaindicadaapontarounoasua desculpa.ArrazoaMariaHelenaDiniz78quepodeser inconveniente a assuno de vrios mnus, uma vez que estesreclamambomdesempenhofuncional,afimde assegurarqueostuteladosecurateladostenhamum pleno desenvolvimento fsico, emocional e psquico, assim como uma satisfatria administrao de seus bens. 4.7 Militares em ServioImpendeanotarqueomilitarestsempre condicionadostransfernciadedomiclio,em decorrnciadoservioqueprestasForasArmadas,o que,porbvio,trazdificuldadesaobomexerccioda funodetutor,umavezquetraz incertezasparaatuar emoutrasregies.Ademais,asconstantesmudanas podemacarretarprejuzoaotutela,assimcomoparaa administraodeseusbens,vezqueomnusdeveser 77 MADALENO, 2008, p. 837. 78 DINIZ, 2012, p. 689. 79 exercido no local em que os bens do pupilo se encontram, oqueficariarotundamentedificultadoseotutortiver domiclio em local diverso. Comefeito,emnopossuindootuteladobens, infere-sequeadificuldadeemcomentodesaparece, ficandoapenasanotadestoanteparaopossvel afastamentodomenorparacomoseusvnculosde parentescoedeamizadeesuasrefernciaspessoais79, quando estabelece domiclio em local distinto daquele em que se encontra. Nesta mira ainda a legislao restringe a tutoria aos militares que se encontram na ativa, no se estendendoaescusaaosquesoinativos,vezqueno maisestosujeitosaosdeslocamentosoriundosdesua atividade. 4.8 Aos que no forem parentes do menor Emaltosalaridos,oartigo1.737doEstatutode 2002assinalaquenoexigvelaassunodoencargo dotutordativosobrepessoacomquenomantenha relaodeparentesco,tantosanguneocomopor afinidade,quandohouver,nolugar,parenteidneo daquelequepossaexerceroencargotutelar.Buscaa legislaovaloraroslaosfamiliaresexistentes,sendo 79 MADALENO, 2008, p. 837. 80 preferencialqueotuteladosejacolocadosobacustdia de familiar do que de pessoa estranha, manutenindo, por extenso,osliamesexistentes.Recairoencargosobre terceiro,comqueotuteladonomantenharelaode parentesco, caso inexista parente idneo para o exerccio do mnus. 4.9 Prazo para Arguio da Escusa Em harmonia com o que traz a lume a redao do artigo1.738doCdigode2002,deveronomeado apresentar o pedido de dispensa no prazo decadencial de 10(dez)dias,apssuadesignao,sobpenaderestar aperfeioadaacaducidadedefaz-lo.Obomsenso requeraconcessodeprazodedezdiasparaquepreste apssuaintimao,compromissoefaa,seoquiser,o pedido de dispensa do ofcio tutelar80.Destasorte,seporventuraomotivoensejadorda escusasobrevierapsaaceitaodatutela,odecndio ser contado a partir da data em que houve o surgimento dacausadadispensa.Enquantoojuiznoadmitira justificaootutoroucuradordevemexerceroencargo, dele s sendo dispensados quando o magistrado admitir a 80 DINIZ, 2012, p. 690. 81 recusa81.Emnosendoadmitida,comobemdestacao artigo 1.739 da Lei Substantiva Civil, o nomeado dever exerceromnustutelar,enquantonotiverprovimento orecursointerposto,respondendoele,inclusive,por perdas e danos que o menor venha a sofrer, pressupondo tal responsabilidade a desdia do tutor nomeado. 5 GARANTIA DA TUTELA O Ordenamento Ptrio, com o escopo de assegurar aboaadministraodosbensdotutelado,bemcomoa devoluodarendaedessesbensaotrminodomnus, requerequeosbens domenorsejamentreguesaotutor, pormeiodetermoespecificadodarelaodosbensede seus respectivos valores, ainda que os genitores o tenham dispensado,apsocompromissoprestado,eantesda assuno da tutela, com o escopo de acautelar os haveres queseroconfiadossuaadministrao.Seo patrimniodomenorfordevalorconsidervel,podero juizcondicionaroexercciodatutelaprestaode cauo, seja ela real ou fidejussria82. Com efeito, em razo da revogao do Cdigo Civil de 1916, no mais subsiste a obrigatoriedade de hipoteca 81 MADALENO, 2008, p. 838. 82 DINIZ, 2012, p. 690. 82 legaldosbensdotutor,logo,ainscritaemconsonncia comoincisoIVdoartigo827doEstatutorevogado podersercancelada.Destasorte,oexercciodatutela nomaisestcondicionadoprestaodacauoreal, que,comoadventodoCdigode2002,nomaistida como obrigatria. Salta aos olhos, portanto, que a cauo sconsideradacomoessencialseotuteladopossuir bens ou rendimentos sujeitos gesto do tutor; assim, se nopossuirpatrimnioalgum,agarantiaconsiderada comodispensvel.Comobemacinzelaapartefinaldo pargrafonicodoartigo1.945doCdigoCivil,otutor sserdispensadodetaldeveseforpessoade reconhecida idoneidade moral e econmica Nessediapaso,quadragizarqueadispensada garantiaconsideradacomoexcepcional,sendo imperiosoqueomagistradohajacomcautelaerobusta prudncia, a fim de no colocar em risco o patrimnio do tutelado.Emocorrendoprejuzoaomenorsobtutela,o tutorserconsideradocomooresponsveldiretopela indenizaodasperdasedanose,seporventurano detiverdemeiosparacobrirtodoodesfalque,o magistradorespondersubsidiariamente.Alis,oartigo 1.744doCdigoCivilinsculpiqueomagistradoser responsabilizadopessoalediretamente,quandono nomeoututorouquandoanomeaonofoioportuna, 83 devendo,destemodo,repararodanocausadoao patrimnio do tutelado. 6 EXERCCIO DA TUTELA Comoespancadoatomomento,atutela consideradacomoummnuspblico,consistentena proteodacrianaedoadolescentequeseencontram foradaincidnciadopoderfamiliar.Assim,sobcertos aspectos,otutorsubstituiosgenitores,exercendo,por conseguinte, os direitos e deveres relacionados pessoa e aosbensdotutelado,comasressalvaserestries acinzeladasnoOrdenamentoJurdicoPtrio.ojuiz verdadeiroresponsvelpeloefetivoexercciodatutela, porquedeleotutornecessitadeautorizaoparaa prticadevriosatosconsolidadosnoartigo1.748do Cdigo Civil83, bem como deve o encarregado da tutoria vindicaraomagistradoasprovidnciascarecidasparaa correodotutelado.Destarte,oJuzoexerceconstante funodeinspeosobreaatuaodotutor,noque tangeadministraodosbensdotutelado,como tambmpelaeducao,criaoecuidadosdirecionados para o desenvolvimento da criana ou do adolescente. 83 MADALENO, 2008, p. 839. 84 6.1OExercciodatutelaquantopessoado tutelado Entalhaaredaodoartigo1.740doCdigoCivil que compete ao tutor, em relao pessoa da criana ou doadolescentecolocadossobatutela,dirigir-lhea educao,defend-loeprestaralimentos,sendoque existindobensemnomedopupilo,osrecursossero obtidos daqueles. Na hiptese de no ter o tutelado bens ou rendas, os alimentos sero buscados entre os parentes do menor, como bem entalha a redao do artigo 1.694 do Estatutode2002.Porderradeiro,emverificadoqueo tutelado no possui parentes nem bens ou rendas, o tutor arcardiretamentecomaprestaodosalimentos. Diniz,comgrossostraos,semanifestanosentidoque apenas se o pupilo nada tiver, e na ausncia de parentes seusemcondiesdepagaralimentos,queotutor dever fornec-los (CC, art. 1.740, I)84. Ao lado disso, o tutor est encarregado de educar a crianaouoadolescente,podendolheimpor,inclusive, algunscastigoseproibies,comumenteempregados pelospais,afimdecorrigirtravessurasetraquinagens dos filhos, como proibies de assistir televiso ou mesmo deeventuaisbrincadeiras,estandovetada,entretanto,a 84 DINIZ, 2012, p. 693. 85 utilizaodocastigofsicoparacastig-lo.Em ressonnciaaessnciaemanadapeloincisoIIdoartigo 1.741,RolfMadaleno,emseumagistrio,trazbaila, combastantepropriedade,queotutor[pode]reclamar dojuizqueprovidencie,comohouverporbem,queo menorhajacorreo,podendoserlevadopresenado juiz para ouvir os conselhos e admoestaes verbais85.Poder,outrossim,omagistradoordenarqueo tuteladosejaacompanhadoporprofissionais competentes,comopsiclogos,assistentessociaise pedagogos,afimdealcanaramelhorsoluopara implementar as correes necessrias no comportamento dacrianaoudoadolescente.Igualmente,incumbirao tutorcumprirtodososdeveresque,hodiernamente, competemaospais,ouvindo-se,previamente,aopinio dotutelado,seeste,porventura,contarcom12(doze) anos de idade, como bem desfralda a redao do inciso III doartigo1.741,mormentequandoosassuntosesto umbilicalmenteatreladostomadadedecisesque alcancemosinteressesdoadolescentecolocadosoba tutela. 85 MADALENO, 2008, p. 840. 86 6.2OExerccioda tutelaquantoaopatrimniodo tutelado Oartigo1.741daLeiSubstantivaCivilimpeao tutorqueadministreosbensdotuteladosempreem proveitodacrianaoudoadolescente,atuandocomoo desveloeaboa-fnecessrios,sempresobainspeodo juiz.Diniz,aolecionaracercadasatribuiesdotutor, contabilizaquedentreaquelasestregerapessoado menor,velarporeleeadministrarseusbens,tendoem vistaoproveitodeseupupilo,cumprindoseusdeveres comzeloeboa-f,agindocomhonestidadeelealdade86, concedendosempremaciavaloraoaosuperior interessedotutelado.Aalienaodebens,emcasode tutela,reclamaquehajaprviademonstraode vantagememrelaoaotutelado,bemcomoavaliaoe aprovaojudicial,apsexpressamanifestaode concordnciadorepresentantedoMinistrioPblico, comoescopodeevitarquehajaqualquersimulao, obtendo-se, por conseguinte, o real preo. Registrar se faz mister que a atuao do nomeado, enquantoadministradordosbens,sesujeitas limitaesestabelecidasnoOrdenamentoPtrio, devendo,imperiosamente,atuarcomoumbomchefede 86 DINIZ, 2012, p. 692. 87 famlia,comescrpulo,correoedilignciaemrelao aosbenseinteresseseconmicosdacrianaoudo adolescentesobtutela,respondendocivilmentepelos prejuzos que, em decorrncia de culpa ou dolo, causou ao tutelado.Nestepasso,omagistradoresponderdiretae pessoalmentequandonotivernomeadootutorparao exercciodoencargoounoofezoportunamenteeter responsabilidadesubsidiriaquandonotiverexigido garantia legal do tutor nem o removeu quando se tornou suspeito87. 6.3 A Figura do Protutor Nodireitobrasileiro,otutornoonicorgo ativodatutela,porquantoreconhecidaaexistnciada figuradoprotutor,queseapresentacomoumrgo complementar, nomeado pelo Juzo para fiscalizar os atos praticados pelo tutor, mediante gratificao mdica a ser arbitrada pelo magistrado. O protutor dever exercer sua funodefiscalizaosatosdotutor,comzeloeboa-f, informando o magistrado no s sobre o bom andamento no exerccio da tutela88, assim como dando conta dos atos decorrentesdamadministrao,descuidoouaindada dilapidao dos bens do tutelado, sob pena de, como bem 87 Neste sentido: MADALENO, 2008, p. 841. 88 DINIZ, 2012, p. 691. 88 preceituao2doartigo1.752,responder,demaneira solidria,pelosdanoscausados.ConsoanteRolf Madaleno89destaca,oprotutorolongamanusdo magistrado,comopessoaquegozadesuaconfianae encarregadadeacompanharospassosdotutorna conduo da boa administrao dos bens do tutelado. Instasalientarqueoprotutordeverprestar contas,judicialmente,desuafiscalizao,dando-se,por bvio,direitoaonomeadoparaatuarnatutoriaampla defesa,podendoconcordarounocomoquefoi apresentadopeloprotutor,competindoaoJuzoapreciar e julgar a prestao de contas apresentada. A nomeao doprotutor(subrogtuteur)deverrecairsobrepessoa idneaecompetenteparaexerceronusdefiscalizao dosatospraticadospelotutor90.ConformepontuaRolf Madaleno91,anomeaodoprotutordativaeatende aos mesmos pressupostos de amisso, obrigatoriedade do encargo,causasdeescusaeincapacidade, comotambm as garantias para sua nomeao. 89 MADALENO, 2008, p. 846. 90 DINIZ, 2012, p. 691. 91 MADALENO, 2008, p. 847. 89 6.4 Remunerao e Responsabilidade do Tutor Afunodatutoriaremunerada,sendoovalor pagoproporcionalmenteimportnciadosbens administrados,semqueaLeiSubstantivaCivil estabelea o percentual a ser empregado. O Cdigo Civil de 1916, em seu artigo 461, estabelecia a dc