compêndio de ensaios jurídicos: temas de direito do patrimônio cultural - n. 01, v. 07

148
TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL COMPÊNDIO DE ENSAIOS JURÍDICOS: TEMAS DE DIREITO DO PATRIMÔNIO CULTURAL V. 01 N. 07

Upload: taua-lima-verdan

Post on 12-Jan-2016

6 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Tradicionalmente, o Direito é reproduzido por meio de “doutrinas”, que constituem o pensamento de pessoas reconhecidas pela comunidade jurídica em trabalhar, academicamente, determinados assuntos. Assim, o saber jurídico sempre foi concebido como algo dogmático. É possível, à luz da tradicional visão empregada, afirmar que o Direito é um campo no qual não se incluem somente as instituições legais, as ordens legais, as decisões legais; mas, ainda, são computados tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das mencionadas instituições, ordens e decisões, materializando, comumente, uma “meta direito”. No Direito, a construção do conhecimento advém da interpretação de leis e as pessoas autorizadas a interpretar as leis são os juristas.Contudo, o alvorecer acadêmico que é presenciado pelos Operadores do Direito, que se debruçam no desenvolvimento de pesquisas, passa a conceber o conhecimento de maneira prática, utilizando as experiências empíricas e o contorno regional como elementos indissociáveis para a compreensão do Direito. Ultrapassa-se a tradicional visão do conhecimento jurídico como algo dogmático, buscando conferir molduras acadêmicas, por meio do emprego de métodos científicos. Neste aspecto, o Compêndio de Ensaios Jurídico objetiva disponibilizar para a comunidade interessada uma coletânea de trabalhos, reflexões e inquietações produzida durante a formação acadêmica do autor. Debruçando-se especificamente sobre a temática de Direito do Patrimônio Cultural, o presente busca trazer para o debate uma série de assuntos contemporâneos e que reclamam maiores reflexões.

TRANSCRIPT

TAUÃ LIMA VERDAN

RANGEL

COMPÊNDIO DE ENSAIOS

JURÍDICOS: TEMAS DE DIREITO

DO PATRIMÔNIO CULTURAL

V.

01

N.

07

COMPÊNDIO DE ENSAIOS JURÍDICOS:

TEMAS DE DIREITO DO PATRIMÔNIO

CULTURAL

(V. 01, N. 07)

Capa: Cândido Portinari, Cacau (1938).

ISBN: 978-1517057794

Editoração, padronização e formatação de texto

Tauã Lima Verdan Rangel

Projeto Gráfico e capa

Tauã Lima Verdan Rangel

Conteúdo, citações e referências bibliográficas

O autor

É de inteira responsabilidade do autor os conceitos aqui

apresentados. Reprodução dos textos autorizada

mediante citação da fonte.

A P R E S E N T A Ç Ã O

Tradicionalmente, o Direito é reproduzido por

meio de “doutrinas”, que constituem o pensamento de

pessoas reconhecidas pela comunidade jurídica em

trabalhar, academicamente, determinados assuntos.

Assim, o saber jurídico sempre foi concebido como algo

dogmático. É possível, à luz da tradicional visão

empregada, afirmar que o Direito é um campo no qual

não se incluem somente as instituições legais, as ordens

legais, as decisões legais; mas, ainda, são computados

tudo aquilo que os especialistas em leis dizem acerca das

mencionadas instituições, ordens e decisões,

materializando, comumente, uma “meta direito”. No

Direito, a construção do conhecimento advém da

interpretação de leis e as pessoas autorizadas a

interpretar as leis são os juristas.

Contudo, o alvorecer acadêmico que é

presenciado pelos Operadores do Direito, que se

debruçam no desenvolvimento de pesquisas, passa a

conceber o conhecimento de maneira prática, utilizando

as experiências empíricas e o contorno regional como

elementos indissociáveis para a compreensão do Direito.

Ultrapassa-se a tradicional visão do conhecimento

jurídico como algo dogmático, buscando conferir

molduras acadêmicas, por meio do emprego de métodos

científicos. Neste aspecto, o Compêndio de Ensaios

Jurídico objetiva disponibilizar para a comunidade

interessada uma coletânea de trabalhos, reflexões e

inquietações produzida durante a formação acadêmica do

autor. Debruçando-se especificamente sobre a temática

de Direito do Patrimônio Cultural, o presente busca

trazer para o debate uma série de assuntos

contemporâneos e que reclamam maiores reflexões.

Boa leitura!

Tauã Lima Verdan Rangel

5

S U M Á R I O

Da utilização do instituto do itinerário como instrumento

para a promoção e salvaguarda do patrimônio

cultural................................................................................. 06

Da edificação do conceito de paisagem cultural:

apontamentos à Portaria nº 127/2009 do IPHAN .............. 36

Da edificação da universalização do acesso ao patrimônio

cultural: ponderações à Lei nº 12.343/2010 ........................ 69

Tessituras à proteção internacional dos bens culturais: a

universalidade do meio ambiente cultural ......................... 115

6

DA UTILIZAÇÃO DO INSTITUTO DO ITINERÁRIO

COMO INSTRUMENTO PARA A PROMOÇÃO E

SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Resumo: O objetivo do presente está assentado na

análise itinerário como instrumento apto à promoção

e salvaguarda do patrimônio cultural. Cuida salientar

que o meio ambiente cultural é constituído por bens

culturais, cuja acepção compreende aqueles que

possuem valor histórico, artístico, paisagístico,

arqueológico, espeleológico, fossilífero, turístico,

científico, refletindo as características de uma

determinada sociedade. Ao lado disso, quadra anotar

que a cultura identifica as sociedades humanas, sendo

formada pela história e maciçamente influenciada

pela natureza, como localização geográfica e clima.

Com efeito, o meio ambiente cultural decorre de uma

intensa interação entre homem e natureza, porquanto

aquele constrói o seu meio, e toda sua atividade e

percepção são conformadas pela sua cultural. A

cultura brasileira é o resultado daquilo que era

7

próprio das populações tradicionais indígenas e das

transformações trazidas pelos diversos grupos

colonizadores e escravos africanos. Nesta toada, ao se

analisar o meio ambiente cultural, enquanto complexo

macrossistema, é perceptível que é algo incorpóreo,

abstrato, fluído, constituído por bens culturais

materiais e imateriais portadores de referência à

memória, à ação e à identidade dos distintos grupos

formadores da sociedade brasileira. O conceito de

patrimônio histórico e artístico nacional abrange

todos os bens moveis e imóveis, existentes no País,

cuja conservação seja de interesse público, por sua

vinculação a fatos memoráveis da História pátria ou

por seu excepcional valor artístico, arqueológico,

etnográfico, bibliográfico e ambiental.

Palavras-chaves: Patrimônio Cultural. Itinerário.

Instrumento de Preservação. Tutela Jurídica.

Sumário: 1 Ponderações Introdutórias: Breves notas

à construção teórica da Ramificação Ambiental do

Direito; 2 Comentários à concepção de Meio Ambiente;

3 Meio Ambiente e Patrimônio Cultural: Aspectos

Introdutórios; 4 Da Utilização do Instituto do

Itinerário como Instrumento para a Promoção e

Salvaguarda do Patrimônio Cultural

8

1 PONDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS: BREVES

NOTAS À CONSTRUÇÃO TEÓRICA DA

RAMIFICAÇÃO AMBIENTAL DO DIREITO

Inicialmente, ao se dispensar um exame acerca

do tema colocado em tela, patente se faz arrazoar que a

Ciência Jurídica, enquanto um conjunto multifacetado de

arcabouço doutrinário e técnico, assim como as robustas

ramificações que a integram, reclama uma interpretação

alicerçada nos plurais aspectos modificadores que

passaram a influir em sua estruturação. Neste alamiré,

lançando à tona os aspectos característicos de

mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-

se imperioso salientar, com ênfase, que não mais subsiste

uma visão arrimada em preceitos estagnados e

estanques, alheios às necessidades e às diversidades

sociais que passaram a contornar os Ordenamentos

Jurídicos. Ora, infere-se que não mais prospera o

arcabouço imutável que outrora sedimentava a aplicação

das leis, sendo, em decorrência dos anseios da população,

suplantados em uma nova sistemática.

Com espeque em tais premissas, cuida

hastear, com bastante pertinência, como flâmula de

interpretação o “prisma de avaliação o brocardo jurídico

9

'Ubi societas, ibi jus', ou seja, 'Onde está a sociedade, está

o Direito', tornando explícita e cristalina a relação de

interdependência que esse binômio mantém”1. Destarte,

com clareza solar, denota-se que há uma interação

consolidada na mútua dependência, já que o primeiro

tem suas balizas fincadas no constante processo de

evolução da sociedade, com o fito de que seus Diplomas

Legislativos e institutos não fiquem inquinados de

inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a

realidade vigente. A segunda, por sua vez, apresenta

estrutural dependência das regras consolidadas pelo

Ordenamento Pátrio, cujo escopo primevo é assegurar

que não haja uma vingança privada, afastando, por

extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras em

que o homem valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho,

dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça

um cenário caótico no seio da coletividade.

Ademais, com a promulgação da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988,

imprescindível se fez adotá-la como maciço axioma de

sustentação do Ordenamento Brasileiro, precipuamente

1 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do

Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun.

2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 01

mar. 2015, s.p.

10

quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico

e abstrato, aos complexos anseios e múltiplas

necessidades que influenciam a realidade

contemporânea. Ao lado disso, há que se citar o voto

magistral voto proferido pelo Ministro Eros Grau, ao

apreciar a Ação de Descumprimento de Preceito

Fundamental Nº. 46/DF, “o direito é um organismo vivo,

peculiar porém porque não envelhece, nem permanece

jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um

dinamismo. Essa, a sua força, o seu fascínio, a sua

beleza”2. Como bem pontuado, o fascínio da Ciência

Jurídica jaz, justamente, na constante e imprescindível

mutabilidade que apresenta, decorrente do dinamismo

que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos

2 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental Nº. 46/DF. Empresa

Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de Entrega de

Correspondências. Serviço Postal. Controvérsia referente à Lei

Federal 6.538, de 22 de Junho de 1978. Ato Normativo que regula

direitos e obrigações concernentes ao Serviço Postal. Previsão de

Sanções nas Hipóteses de Violação do Privilégio Postal.

Compatibilidade com o Sistema Constitucional Vigente. Alegação de

afronta ao disposto nos artigos 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170,

caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil.

Violação dos Princípios da Livre Concorrência e Livre Iniciativa. Não

Caracterização. Arguição Julgada Improcedente. Interpretação

conforme à Constituição conferida ao artigo 42 da Lei N. 6.538, que

estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da

União. Aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º, da lei.

Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Marcos Aurélio.

Julgado em 05 ag. 2009. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em

01 mar. 2015.

11

Diplomas Legais e os institutos jurídicos neles

consagrados.

Ainda neste substrato de exposição, pode-se

evidenciar que a concepção pós-positivista que passou a

permear o Direito, ofertou, por via de consequência, uma

rotunda independência dos estudiosos e profissionais da

Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento

de Verdan, “esta doutrina é o ponto culminante de uma

progressiva evolução acerca do valor atribuído aos

princípios em face da legislação”3. Destarte, a partir de

uma análise profunda dos mencionados sustentáculos,

infere-se que o ponto central da corrente pós-positivista

cinge-se à valoração da robusta tábua principiológica que

Direito e, por conseguinte, o arcabouço normativo

passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho

vinculante, flâmulas hasteadas a serem adotadas na

aplicação e interpretação do conteúdo das leis, diante das

situações concretas.

Nas últimas décadas, o aspecto de

mutabilidade tornou-se ainda mais evidente, em especial,

quando se analisa a construção de novos que derivam da

Ciência Jurídica. Entre estes, cuida destacar a

ramificação ambiental, considerando como um ponto de

3 VERDAN, 2009, s.p.

12

congruência da formação de novos ideários e cânones,

motivados, sobretudo, pela premissa de um manancial de

novos valores adotados. Nesta trilha de argumentação,

de boa técnica se apresenta os ensinamentos de

Fernando de Azevedo Alves Brito que, em seu artigo,

aduz: “Com a intensificação, entretanto, do interesse dos

estudiosos do Direito pelo assunto, passou-se a desvendar

as peculiaridades ambientais, que, por estarem muito

mais ligadas às ciências biológicas, até então era

marginalizadas”4. Assim, em decorrência da

proeminência que os temas ambientais vêm, de maneira

paulatina, alcançando, notadamente a partir das últimas

discussões internacionais envolvendo a necessidade de

um desenvolvimento econômico pautado em

sustentabilidade, não é raro que prospere, mormente em

razão de novos fatores, um verdadeiro remodelamento ou

mesmo uma releitura dos conceitos que abalizam a

ramificação ambiental do Direito, com o fito de permitir

que ocorra a conservação e recuperação das áreas

degradadas, primacialmente as culturais.

4 BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do

meio-ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a

existência ou a inexistência das classes do meio-ambiente do

trabalho e do meio-ambiente misto. Boletim Jurídico, Uberaba,

ano 5, n. 968. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 01 mar. 2015.

13

Ademais, há de ressaltar ainda que o direito

ambiental passou a figurar, especialmente, depois das

décadas de 1950 e 1960, como um elemento integrante da

farta e sólida tábua de direitos fundamentais. Calha

realçar que mais contemporâneos, os direitos que

constituem a terceira dimensão recebem a alcunha de

direitos de fraternidade ou, ainda, de solidariedade,

contemplando, em sua estrutura, uma patente

preocupação com o destino da humanidade5·. Ora, daí se

verifica a inclusão de meio ambiente como um direito

fundamental, logo, está umbilicalmente atrelado com

humanismo e, por extensão, a um ideal de sociedade

mais justa e solidária. Nesse sentido, ainda, é plausível

citar o artigo 3°., inciso I, da Carta Política de 1988 que

abriga em sua redação tais pressupostos como os

princípios fundamentais do Estado Democrático de

Direitos: “Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil: I - construir uma

sociedade livre, justa e solidária”6.

Ainda nesta esteira, é possível verificar que a

5 MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional –

Teoria, Jurisprudência e 1.000 Questões 15 ed., rev., ampl. e

atual. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2004, p. 69. 6 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

14

construção dos direitos encampados sob a rubrica de

terceira dimensão tende a identificar a existência de

valores concernentes a uma determinada categoria de

pessoas, consideradas enquanto unidade, não mais

prosperando a típica fragmentação individual de seus

componentes de maneira isolada, tal como ocorria em

momento pretérito. Com o escopo de ilustrar, de maneira

pertinente as ponderações vertidas, insta trazer à colação

o entendimento do Ministro Celso de Mello, ao apreciar a

Ação Direta de Inconstitucionalidade N°. 1.856/RJ, em

especial quando destaca:

Cabe assinalar, Senhor Presidente, que os

direitos de terceira geração (ou de

novíssima dimensão), que materializam

poderes de titularidade coletiva atribuídos,

genericamente, e de modo difuso, a todos os

integrantes dos agrupamentos sociais,

consagram o princípio da solidariedade e

constituem, por isso mesmo, ao lado dos

denominados direitos de quarta geração

(como o direito ao desenvolvimento e o

direito à paz), um momento importante no

processo de expansão e reconhecimento dos

direitos humanos, qualificados estes,

enquanto valores fundamentais

indisponíveis, como prerrogativas

impregnadas de uma natureza

essencialmente inexaurível7.

7 Idem. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

15

Quadra anotar que os direitos alocados sob a

rubrica de direito de terceira dimensão encontram como

assento primordial a visão da espécie humana na

condição de coletividade, superando, via de consequência,

a tradicional visão que está pautada no ser humano em

sua individualidade. Assim, a preocupação identificada

está alicerçada em direitos que são coletivos, cujas

influências afetam a todos, de maneira indiscriminada.

Ao lado do exposto, cuida mencionar, segundo Bonavides,

que tais direitos “têm primeiro por destinatários o gênero

humano mesmo, num momento expressivo de sua

afirmação como valor supremo em termos de

existencialidade concreta”8. Com efeito, os direitos de

terceira dimensão, dentre os quais se inclui ao meio

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 01 mar. 2015. 8 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21 ed.

atual. São Paulo: Editora Malheiros Ltda., 2007, p. 569.

16

ambiente ecologicamente equilibrado, positivado na

Constituição de 1988, emerge com um claro e tangível

aspecto de familiaridade, como ápice da evolução e

concretização dos direitos fundamentais.

2 COMENTÁRIOS À CONCEPÇÃO DE MEIO

AMBIENTE

Em uma primeira plana, ao lançar mão do

sedimentado jurídico-doutrinário apresentado pelo inciso

I do artigo 3º da Lei Nº. 6.938, de 31 de agosto de 19819,

que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá

outras providências, salienta que o meio ambiente

consiste no conjunto e conjunto de condições, leis e

influências de ordem química, física e biológica que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Pois bem, com o escopo de promover uma facilitação do

aspecto conceitual apresentado, é possível verificar que o

meio ambiente se assenta em um complexo diálogo de

fatores abióticos, provenientes de ordem química e física,

9 BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

17

e bióticos, consistentes nas plurais e diversificadas

formas de seres viventes. Consoante os ensinamentos

apresentados por José Afonso da Silva, considera-se

meio-ambiente como “a interação do conjunto de

elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o

desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas

formas”10.

Nesta senda, ainda, Fiorillo11, ao tecer

comentários acerca da acepção conceitual de meio

ambiente, coloca em destaque que tal tema se assenta em

um ideário jurídico indeterminado, incumbindo, ao

intérprete das leis, promover o seu preenchimento. Dada

à fluidez do tema, é possível colocar em evidência que o

meio ambiente encontra íntima e umbilical relação com

os componentes que cercam o ser humano, os quais são

de imprescindível relevância para a sua existência. O

Ministro Luiz Fux, ao apreciar a Ação Direta de

Inconstitucionalidade N°. 4.029/AM, salientou, com

bastante pertinência, que:

(...) o meio ambiente é um conceito hoje

geminado com o de saúde pública, saúde de

10 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São

Paulo: Malheiros Editores, 2009, p.20. 11 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São Paulo:

Editora Saraiva, 2012, p. 77.

18

cada indivíduo, sadia qualidade de vida, diz

a Constituição, é por isso que estou falando

de saúde, e hoje todos nós sabemos que ele é

imbricado, é conceitualmente geminado com

o próprio desenvolvimento. Se antes nós

dizíamos que o meio ambiente é compatível

com o desenvolvimento, hoje nós dizemos, a

partir da Constituição, tecnicamente, que

não pode haver desenvolvimento senão com

o meio ambiente ecologicamente

equilibrado. A geminação do conceito me

parece de rigor técnico, porque salta da

própria Constituição Federal12.

É denotável, desta sorte, que a

constitucionalização do meio ambiente no Brasil

viabilizou um verdadeiro salto qualitativo, no que

concerne, especificamente, às normas de proteção

ambiental. Tal fato decorre da premissa que os robustos

corolários e princípios norteadores foram alçados ao

patamar constitucional, assumindo colocação eminente,

ao lado das liberdades públicas e dos direitos

12 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 4.029/AM. Ação Direta de

Inconstitucionalidade. Lei Federal Nº 11.516/07. Criação do Instituto

Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da

Associação Nacional dos Servidores do IBAMA. Entidade de Classe

de Âmbito Nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da

Constituição. Não emissão de parecer pela Comissão Mista

Parlamentar. Inconstitucionalidade dos artigos 5º, caput, e 6º, caput

e parágrafos 1º e 2º, da Resolução Nº 1 de 2002 do Congresso

Nacional. Modulação dos Efeitos Temporais da Nulidade (Art. 27 da

Lei 9.868/99). Ação Direta Parcialmente Procedente. Órgão

Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 08

mar. 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 01 mar.

2015.

19

fundamentais. Superadas tais premissas, aprouve ao

Constituinte, ao entalhar a Carta Política Brasileira,

ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira

dimensão, insculpir na redação do artigo 225, conceder

amplo e robusto respaldo ao meio ambiente como pilar

integrante dos direitos fundamentais. “Com o advento da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

as normas de proteção ambiental são alçadas à categoria

de normas constitucionais, com elaboração de capítulo

especialmente dedicado à proteção do meio ambiente”13.

Nesta toada, ainda, é observável que o caput do artigo

225 da Constituição Federal de 198814 está abalizado em

quatro pilares distintos, robustos e singulares que, em

conjunto, dão corpo a toda tábua ideológica e teórica que

assegura o substrato de edificação da ramificação

ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento

dispensado pelo artífice da Constituição Federal, o meio

13 THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental: Conforme o

Novo Código Florestal e a Lei Complementar 140/2011. 2 ed.

Salvador: Editora JusPodivm, 2012, p. 116. 14 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015: “Art.

225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

20

ambiente foi içado à condição de direito de todos,

presentes e futuras gerações. É encarado como algo

pertencente a toda coletividade, assim, por esse prisma,

não se admite o emprego de qualquer distinção entre

brasileiro nato, naturalizado ou estrangeiro, destacando-

se, sim, a necessidade de preservação, conservação e não-

poluição. O artigo 225, devido ao cunho de direito difuso

que possui, extrapola os limites territoriais do Estado

Brasileiro, não ficando centrado, apenas, na extensão

nacional, compreendendo toda a humanidade. Neste

sentido, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ, destacou

que:

A preocupação com o meio ambiente - que

hoje transcende o plano das presentes

gerações, para também atuar em favor das

gerações futuras (...) tem constituído, por

isso mesmo, objeto de regulações

normativas e de proclamações jurídicas,

que, ultrapassando a província meramente

doméstica do direito nacional de cada

Estado soberano, projetam-se no plano das

declarações internacionais, que refletem, em

sua expressão concreta, o compromisso das

Nações com o indeclinável respeito a esse

direito fundamental que assiste a toda a

Humanidade15.

15 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

21

O termo “todos”, aludido na redação do caput

do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, faz

menção aos já nascidos (presente geração) e ainda

aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo

àqueles zelar para que esses tenham à sua disposição, no

mínimo, os recursos naturais que hoje existem. Tal fato

encontra como arrimo a premissa que foi reconhecido ao

gênero humano o direito fundamental à liberdade, à

igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em

ambiente que permita desenvolver todas as suas

potencialidades em clima de dignidade e bem-estar.

Pode-se considerar como um direito transgeracional, ou

seja, ultrapassa as gerações, logo, é viável afirmar que o

meio-ambiente é um direito público subjetivo. Desta

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

22

feita, o ideário de que o meio ambiente substancializa

patrimônio público a ser imperiosamente assegurado e

protegido pelos organismos sociais e pelas instituições

estatais, qualificando verdadeiro encargo irrenunciável

que se impõe, objetivando sempre o benefício das

presentes e das futuras gerações, incumbindo tanto ao

Poder Público quanto à coletividade considerada em si

mesma.

Assim, decorrente de tal fato, produz efeito

erga omnes, sendo, portanto, oponível contra a todos,

incluindo pessoa física/natural ou jurídica, de direito

público interno ou externo, ou mesmo de direito privado,

como também ente estatal, autarquia, fundação ou

sociedade de economia mista. Impera, também,

evidenciar que, como um direito difuso, não subiste a

possibilidade de quantificar quantas são as pessoas

atingidas, pois a poluição não afeta tão só a população

local, mas sim toda a humanidade, pois a coletividade é

indeterminada. Nesta senda, o direito à integridade do

meio ambiente substancializa verdadeira prerrogativa

jurídica de titularidade coletiva, ressoando a expressão

robusta de um poder deferido, não ao indivíduo

identificado em sua singularidade, mas num sentido

mais amplo, atribuído à própria coletividade social.

23

Com a nova sistemática entabulada pela

redação do artigo 225 da Carta Maior, o meio-ambiente

passou a ter autonomia, tal seja não está vinculada a

lesões perpetradas contra o ser humano para se

agasalhar das reprimendas a serem utilizadas em

relação ao ato perpetrado. Figura-se, ergo, como bem de

uso comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos

sustentáculos do tema em tela. O axioma a ser

esmiuçado, está atrelado o meio-ambiente como vetor da

sadia qualidade de vida, ou seja, manifesta-se na

salubridade, precipuamente, ao vincular a espécie

humana está se tratando do bem-estar e condições

mínimas de existência. Igualmente, o sustentáculo em

análise se corporifica também na higidez, ao cumprir os

preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando

a vida em todas as suas formas (diversidade de espécies).

Por derradeiro, o quarto pilar é a

corresponsabilidade, que impõe ao Poder Público o dever

geral de se responsabilizar por todos os elementos que

integram o meio ambiente, assim como a condição

positiva de atuar em prol de resguardar. Igualmente,

tem a obrigação de atuar no sentido de zelar, defender e

preservar, asseverando que o meio-ambiente permaneça

intacto. Aliás, este último se diferencia de conservar que

24

permite a ação antrópica, viabilizando melhorias no meio

ambiente, trabalhando com as premissas de

desenvolvimento sustentável, aliando progresso e

conservação. Por seu turno, o cidadão tem o dever

negativo, que se apresenta ao não poluir nem agredir o

meio-ambiente com sua ação. Além disso, em razão da

referida corresponsabilidade, são titulares do meio

ambiente os cidadãos da presente e da futura geração.

3 MEIO AMBIENTE E PATRIMÔNIO CULTURAL:

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Quadra salientar que o meio ambiente cultural

é constituído por bens culturais, cuja acepção

compreende aqueles que possuem valor histórico,

artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico,

fossilífero, turístico, científico, refletindo as

características de uma determinada sociedade. Ao lado

disso, quadra anotar que a cultura identifica as

sociedades humanas, sendo formada pela história e

maciçamente influenciada pela natureza, como

localização geográfica e clima. Com efeito, o meio

ambiente cultural decorre de uma intensa interação

entre homem e natureza, porquanto aquele constrói o seu

25

meio, e toda sua atividade e percepção são conformadas

pela sua cultural. “A cultura brasileira é o resultado

daquilo que era próprio das populações tradicionais

indígenas e das transformações trazidas pelos diversos

grupos colonizadores e escravos africanos”16. Desta

maneira, a proteção do patrimônio cultural se revela

como instrumento robusto da sobrevivência da própria

sociedade.

Nesta toada, ao se analisar o meio ambiente

cultural, enquanto complexo macrossistema, é

perceptível que é algo incorpóreo, abstrato, fluído,

constituído por bens culturais materiais e imateriais

portadores de referência à memória, à ação e à

identidade dos distintos grupos formadores da sociedade

brasileira. Meirelles anota que “o conceito de patrimônio

histórico e artístico nacional abrange todos os bens

moveis e imóveis, existentes no País, cuja conservação seja

de interesse público, por sua vinculação a fatos

memoráveis da História pátria ou por seu excepcional

16 BROLLO, Sílvia Regina Salau. Tutela Jurídica do meio

ambiente cultural: Proteção contra a exportação ilícita dos

bens culturais. 106f. Dissertação (Mestrado em Direito) –

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.

Disponível em:

<http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_arquivos/1/TDE-2006-10-

05T061948Z-421/Publico/SilviaDto.pdf>. Acesso em 01 mar. 2015, p.

15-16.

26

valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico e

ambiental”17. Quadra anotar que os bens compreendidos

pelo patrimônio cultural compreendem tanto realizações

antrópicas como obras da Natureza; preciosidades do

passado e obras contemporâneas.

Nesta esteira, é possível subclassificar o meio

ambiente cultural em duas espécies distintas, quais

sejam: uma concreta e outra abstrata. Neste passo, o

meio-ambiente cultural concreto, também denominado

material, se revela materializado quando está

transfigurado em um objeto classificado como elemento

integrante do meio-ambiente humano. Assim, é possível

citar os prédios, as construções, os monumentos

arquitetônicos, as estações, os museus e os parques, que

albergam em si a qualidade de ponto turístico, artístico,

paisagístico, arquitetônico ou histórico. Os exemplos

citados alhures, em razão de todos os predicados que

ostentam, são denominados de meio-ambiente cultural

concreto. Acerca do tema em comento, é possível citar o

robusto entendimento jurisprudencial firmado pelo

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, ao apreciar o Recurso

Especial N° 115.599/RS:

17 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro,

38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 634.

27

Ementa: Meio Ambiente. Patrimônio

cultural. Destruição de dunas em sítios

arqueológicos. Responsabilidade civil.

Indenização. O autor da destruição de dunas

que encobriam sítios arqueológicos deve

indenizar pelos prejuízos causados ao meio

ambiente, especificamente ao meio

ambiente natural (dunas) e ao meio

ambiente cultural (jazidas arqueológicas

com cerâmica indígena da Fase Vieira).

Recurso conhecido em parte e provido.

(Superior Tribunal de Justiça – Quarta

Turma/ REsp 115.599/RS/ Relator: Ministro

Ruy Rosado de Aguiar/ Julgado em

27.06.2002/ Publicado no Diário da Justiça

em 02.09.2002, p. 192).

Diz-se, de outro modo, o meio-ambiente

cultural abstrato, chamado, ainda, de imaterial, quando

este não se apresenta materializado no meio-ambiente

humano, sendo, deste modo, considerado como a cultura

de um povo ou mesmo de uma determinada comunidade.

Da mesma maneira, são alcançados por tal acepção a

língua e suas variações regionais, os costumes, os modos

e como as pessoas relacionam-se, as produções

acadêmicas, literárias e científicas, as manifestações

decorrentes de cada identidade nacional e/ou regional.

Neste sentido, é possível colacionar o entendimento

firmado pelo Tribunal Regional Federal da Segunda

Região, quando, ao apreciar a Apelação Cível N°

28

2005251015239518, firmou entendimento que “expressões

tradicionais e termos de uso corrente, trivial e

disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo”18. Esses aspectos

constituem, sem distinção, abstratamente o meio-

ambiente cultural. Consoante aponta Brollo, “o

patrimônio cultural imaterial transmite-se de geração a

18 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Segunda Região.

Acórdão proferido em Apelação Cível N° 2005251015239518. Direito

da propriedade industrial. Marca fraca e marca de alto renome.

Anulação de marca. Uso compartilhado de signo mercadológico

(ÔMEGA). I – Expressões tradicionais e termos de uso corrente,

trivial e disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo. Palavras dotadas dessas

características podem inspirar o registro de marcas, pelas

peculiaridades de suas expressões eufônicas ou pela sua inegável

repercussão associativa no imaginário do consumidor. II – É fraca a

marca que reproduz a última letra do alfabeto grego (Omega),

utilizado pelo povo helênico desde o século VIII a.C., e inserida pelos

povos eslavos no alfabeto cirílico, utilizado no Império Bizantino

desde o século X d.C. O propósito de sua adoção é, inegavelmente, o

de fazer uso da familiaridade do consumidor com o vocábulo de uso

corrente desde a Antiguidade. III – Se uma marca fraca alcançou

alto renome, a ela só se pode assegurar proteção limitada, despida do

jus excludendi de terceiros, que também fazem uso do mesmo signo

merceológico de boa-fé e em atividade distinta. Nessas

circunstâncias, não há a possibilidade de o consumidor incidir erro

ou, ainda, de se configurar concorrência desleal. IV – Apelação

parcialmente provida tão-somente para ajustar o pólo passivo da

relação processual, fazendo constar o Instituto Nacional de

Propriedade Industrial – INPI como réu, mantida a improcedência

do pedido de invalidação do registro da marca mista OMEGA (nº

818.522.216), classe 20 (móveis e acessórios de cozinha), formulado

por Ômega S.A. Órgão Julgador: Segunda Turma Especializada.

Relator: Desembargador Federal André Fontes. Julgado em

25.08.2007. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 01 mar.

2015.

29

geração e é constantemente recriado pelas comunidades e

grupos em função de seu ambiente”19, decorrendo, com

destaque, da interação com a natureza e dos

acontecimentos históricos que permeiam a população.

O Decreto Nº. 3.551, de 04 de Agosto de 200020,

que institui o registro de bens culturais de natureza

imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências, consiste em instrumento efetivo

para a preservação dos bens imateriais que integram o

meio-ambiente cultural. Como bem aponta Brollo21, em

seu magistério, o aludido decreto não instituiu apenas o

registro de bens culturais de natureza imaterial que

integram o patrimônio cultural brasileiro, mas também

estruturou uma política de inventariança,

referenciamento e valorização desse patrimônio. Ejeta-se,

segundo o entendimento firmado por Celso Fiorillo22, que

os bens que constituem o denominado patrimônio

cultural consistem na materialização da história de um

19 BROLLO, 2006, p. 33. 20 BRASIL. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de 2000. Institui o

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem

patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do

Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015. 21 BROLLO, 2006, p. 33. 22 FIORILLO, 2012, p. 80.

30

povo, de todo o caminho de sua formação e reafirmação

de seus valores culturais, os quais têm o condão de

substancializar a identidade e a cidadania dos indivíduos

insertos em uma determinada comunidade. Necessário se

faz salientar que o meio-ambiente cultural, conquanto

seja artificial, difere-se do meio-ambiente humano em

razão do aspecto cultural que o caracteriza, sendo dotado

de valor especial, notadamente em decorrência de

produzir um sentimento de identidade no grupo em que

se encontra inserido, bem como é propiciada a constante

evolução fomentada pela atenção à diversidade e à

criatividade humana.

4 DA UTILIZAÇÃO DO INSTITUTO DO

ITINERÁRIO COMO INSTRUMENTO PARA A

PROMOÇÃO E SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO

CULTURAL

Ao se conceber a diversidade cultural como o

conjunto dos elementos materiais e imateriais, afetivos e

intelectuais, responsáveis por estabelecer os aspectos

caracterizadores de uma sociedade ou um grupo social e

que compreende, além das artes e das letras, os modos de

vida, as maneiras de viver, os sistemas de valores, as

31

tradições e as crenças. Desta feita, por meio da valoração

da diversidade cultural, sustenta-se o ideário de que

possa haver uma maior consciência da unidade do gênero

humano e no desenvolvimento de intercâmbios culturais.

Ao lado disso, salta aos olhos a importância sobre o

reconhecimento do patrimônio imaterial como fonte

maior de promoção da diversidade cultural e garantia do

desenvolvimento sustentável. Igualmente, há que se

sublinhar que há uma robusta interdependência entre o

patrimônio cultural imaterial e o material, no sentido de

promoção de significância e reconhecimento da

existência. Ademais, quadra anotar que a subjetividade

inerente do patrimônio cultural imaterial reclama

formas diferenciadas, tanto em sua percepção, quando

em sua promoção e salvaguarda.

Tecidos estes comentários, ao analisar o

instituto do itinerário, há que se expor, oportunamente,

que aquele constitui em si um bem patrimonial e pode

ser palco para diversas expressões e manifestações

cultural, porquanto promove, ainda que indiretamente, a

valorização dos direitos humanos. Ao lado do esposado, o

instituto deverá manter um sentido de unicidade,

concomitantemente em que expõe a polivalência de

valores que emolduram o patrimônio cultural. Observa-

32

se, portanto, que o itinerário passa a ser inserido em um

novel contexto de promoção e salvaguarda do patrimônio,

abarcando tanto as expressões naturais como culturais.

Logo, a caracterização do instituto do itinerário

desdobra-se tanto pela presença de elementos físicos

quanto substantivos, havendo uma interação entre

aqueles, os quais se completam pela significação. É

possível, assim, estabelecer uma leitura dinâmica do

processo interativo que é explicitado por meio do liame

entre o ser humano e o meio ambiente, revelando,

maiormente, quais os valores são atribuídos aos bens

patrimoniais existentes ao longo de um determinado

trajeto.

Cumpre reconhecer que o itinerário, na

condição de instrumento de promoção e salvaguarda do

patrimônio cultural, é responsável por estabelecer, a

partir de uma relação entre os elementos culturais e

naturais, uma zona em que tal diálogo se revela ainda

mais robusto. Essa contribuição robustece o sentido de

conservar o patrimônio cultural nas cidades e nas

paisagens em processo de mudança, na qual se faz

imprescindível a delimitação de zonas de respeito. Tais

regiões passam a se associar ao bem patrimonial de

forma em que o entorno passa a garantir sua

33

autenticidade. Considera-se, portanto, uma tentativa de

se conter ou amenizar os impactos negativos e a

descaracterização da integridade, dos significados e dos

valores que emolduram o patrimônio cultural. Busca-se,

dessa maneira, valorizar a diversidade de expressões

culturais presentes.

REFERÊNCIA:

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito

Constitucional. 21 ed. atual. São Paulo: Editora

Malheiros Ltda., 2007.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da)

República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

__________. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de

2000. Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

__________. Decreto-Lei N° 25, de 30 de novembro de

1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e

artístico nacional. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

__________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981.

34

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

__________. Lei Nº. 10.257, de 10 de Julho de 2001.

Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição

Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e

dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 01 mar. 2015.

__________. Supremo Tribunal Federal. Disponível

em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

__________. Tribunal Regional Federal da Segunda

Região. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 01

mar. 2015.

BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna

classificação do meio-ambiente, o seu remodelamento e a

problemática sobre a existência ou a inexistência das

classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-ambiente

misto. Boletim Jurídico, Uberaba, a. 5, n. 968.

Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 01 mar. 2015.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de

Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio

de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São

Paulo: Editora Saraiva, 2012.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo

Brasileiro. 38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012.

35

MINAS GERAIS (ESTADO). Tribunal de Justiça do

Estado de Minas Gerais. Disponível em:

<www.tjmg.jus.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito

Constitucional – Teoria, Jurisprudência e 1.000

Questões. 15 ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro:

Editora Impetus, 2004.

RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível

em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago.

Direito Constitucional Ambiental: Constituição,

Direitos Fundamentais e Proteção do Ambiente. 2

ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental

Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 2009.

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental:

Conforme o Novo Código Florestal e a Lei

Complementar 140/2011. 2 ed. Salvador: Editora

JusPodivm, 2012.

VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário

do Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas,

Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em:

<http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 01 mar. 2015.

36

DA EDIFICAÇÃO DO CONCEITO DE PAISAGEM

CULTURAL: APONTAMENTOS À PORTARIA Nº

127/2009 DO IPHAN

Resumo: O objetivo do presente está assentado na

análise da concepção de paisagem cultural,

estabelecido pela Portaria nº 127/2009 do IPHAN.

Cuida salientar que o meio ambiente cultural é

constituído por bens culturais, cuja acepção

compreende aqueles que possuem valor histórico,

artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico,

fossilífero, turístico, científico, refletindo as

características de uma determinada sociedade. Ao

lado disso, quadra anotar que a cultura identifica as

sociedades humanas, sendo formada pela história e

maciçamente influenciada pela natureza, como

localização geográfica e clima. Com efeito, o meio

ambiente cultural decorre de uma intensa interação

entre homem e natureza, porquanto aquele constrói o

seu meio, e toda sua atividade e percepção são

conformadas pela sua cultural. A cultura brasileira é

37

o resultado daquilo que era próprio das populações

tradicionais indígenas e das transformações trazidas

pelos diversos grupos colonizadores e escravos

africanos. Nesta toada, ao se analisar o meio

ambiente cultural, enquanto complexo macrossistema,

é perceptível que é algo incorpóreo, abstrato, fluído,

constituído por bens culturais materiais e imateriais

portadores de referência à memória, à ação e à

identidade dos distintos grupos formadores da

sociedade brasileira. O conceito de patrimônio

histórico e artístico nacional abrange todos os bens

moveis e imóveis, existentes no País, cuja conservação

seja de interesse público, por sua vinculação a fatos

memoráveis da História pátria ou por seu excepcional

valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico

e ambiental.

Palavras-chaves: Patrimônio Cultural. Paisagem

Cultural. Instrumento de Tutela.

Sumário: 1 Ponderações Introdutórias: Breves notas

à construção teórica da Ramificação Ambiental do

Direito; 2 Comentários à concepção de Meio Ambiente;

3 Meio Ambiente e Patrimônio Cultural: Aspectos

Introdutórios; 4 Da Edificação do Conceito de

Paisagem Cultural: Apontamentos à Portaria nº

127/2009 do IPHAN

38

1 PONDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS: BREVES

NOTAS À CONSTRUÇÃO TEÓRICA DA

RAMIFICAÇÃO AMBIENTAL DO DIREITO

Inicialmente, ao se dispensar um exame acerca

do tema colocado em tela, patente se faz arrazoar que a

Ciência Jurídica, enquanto um conjunto multifacetado de

arcabouço doutrinário e técnico, assim como as robustas

ramificações que a integram, reclama uma interpretação

alicerçada nos plurais aspectos modificadores que

passaram a influir em sua estruturação. Neste alamiré,

lançando à tona os aspectos característicos de

mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-

se imperioso salientar, com ênfase, que não mais subsiste

uma visão arrimada em preceitos estagnados e

estanques, alheios às necessidades e às diversidades

sociais que passaram a contornar os Ordenamentos

Jurídicos. Ora, infere-se que não mais prospera o

arcabouço imutável que outrora sedimentava a aplicação

das leis, sendo, em decorrência dos anseios da população,

suplantados em uma nova sistemática.

Com espeque em tais premissas, cuida

hastear, com bastante pertinência, como flâmula de

interpretação o “prisma de avaliação o brocardo jurídico

39

'Ubi societas, ibi jus', ou seja, 'Onde está a sociedade, está

o Direito', tornando explícita e cristalina a relação de

interdependência que esse binômio mantém”23. Destarte,

com clareza solar, denota-se que há uma interação

consolidada na mútua dependência, já que o primeiro

tem suas balizas fincadas no constante processo de

evolução da sociedade, com o fito de que seus Diplomas

Legislativos e institutos não fiquem inquinados de

inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a

realidade vigente. A segunda, por sua vez, apresenta

estrutural dependência das regras consolidadas pelo

Ordenamento Pátrio, cujo escopo primevo é assegurar

que não haja uma vingança privada, afastando, por

extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras em

que o homem valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho,

dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça

um cenário caótico no seio da coletividade.

Ademais, com a promulgação da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988,

imprescindível se fez adotá-la como maciço axioma de

sustentação do Ordenamento Brasileiro, precipuamente

23 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do

Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun.

2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 26 jul.

2015, s.p.

40

quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico

e abstrato, aos complexos anseios e múltiplas

necessidades que influenciam a realidade

contemporânea. Ao lado disso, há que se citar o voto

magistral voto proferido pelo Ministro Eros Grau, ao

apreciar a Ação de Descumprimento de Preceito

Fundamental Nº. 46/DF, “o direito é um organismo vivo,

peculiar porém porque não envelhece, nem permanece

jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um

dinamismo. Essa, a sua força, o seu fascínio, a sua

beleza”24. Como bem pontuado, o fascínio da Ciência

Jurídica jaz, justamente, na constante e imprescindível

mutabilidade que apresenta, decorrente do dinamismo

que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos

24 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental Nº. 46/DF. Empresa

Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de Entrega de

Correspondências. Serviço Postal. Controvérsia referente à Lei

Federal 6.538, de 22 de Junho de 1978. Ato Normativo que regula

direitos e obrigações concernentes ao Serviço Postal. Previsão de

Sanções nas Hipóteses de Violação do Privilégio Postal.

Compatibilidade com o Sistema Constitucional Vigente. Alegação de

afronta ao disposto nos artigos 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170,

caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil.

Violação dos Princípios da Livre Concorrência e Livre Iniciativa. Não

Caracterização. Arguição Julgada Improcedente. Interpretação

conforme à Constituição conferida ao artigo 42 da Lei N. 6.538, que

estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da

União. Aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º, da lei.

Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Marcos Aurélio.

Julgado em 05 ag. 2009. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em

26 jul. 2015.

41

Diplomas Legais e os institutos jurídicos neles

consagrados.

Ainda neste substrato de exposição, pode-se

evidenciar que a concepção pós-positivista que passou a

permear o Direito, ofertou, por via de consequência, uma

rotunda independência dos estudiosos e profissionais da

Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento

de Verdan, “esta doutrina é o ponto culminante de uma

progressiva evolução acerca do valor atribuído aos

princípios em face da legislação”25. Destarte, a partir de

uma análise profunda dos mencionados sustentáculos,

infere-se que o ponto central da corrente pós-positivista

cinge-se à valoração da robusta tábua principiológica que

Direito e, por conseguinte, o arcabouço normativo

passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho

vinculante, flâmulas hasteadas a serem adotadas na

aplicação e interpretação do conteúdo das leis, diante das

situações concretas.

Nas últimas décadas, o aspecto de

mutabilidade tornou-se ainda mais evidente, em especial,

quando se analisa a construção de novos que derivam da

Ciência Jurídica. Entre estes, cuida destacar a

ramificação ambiental, considerando como um ponto de

25 VERDAN, 2009, s.p.

42

congruência da formação de novos ideários e cânones,

motivados, sobretudo, pela premissa de um manancial de

novos valores adotados. Nesta trilha de argumentação,

de boa técnica se apresenta os ensinamentos de

Fernando de Azevedo Alves Brito que, em seu artigo,

aduz: “Com a intensificação, entretanto, do interesse dos

estudiosos do Direito pelo assunto, passou-se a desvendar

as peculiaridades ambientais, que, por estarem muito

mais ligadas às ciências biológicas, até então era

marginalizadas”26. Assim, em decorrência da

proeminência que os temas ambientais vêm, de maneira

paulatina, alcançando, notadamente a partir das últimas

discussões internacionais envolvendo a necessidade de

um desenvolvimento econômico pautado em

sustentabilidade, não é raro que prospere, mormente em

razão de novos fatores, um verdadeiro remodelamento ou

mesmo uma releitura dos conceitos que abalizam a

ramificação ambiental do Direito, com o fito de permitir

que ocorra a conservação e recuperação das áreas

degradadas, primacialmente as culturais.

26 BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do

meio-ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a

existência ou a inexistência das classes do meio-ambiente do

trabalho e do meio-ambiente misto. Boletim Jurídico, Uberaba,

ano 5, n. 968. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 26 jul. 2015.

43

Ademais, há de ressaltar ainda que o direito

ambiental passou a figurar, especialmente, depois das

décadas de 1950 e 1960, como um elemento integrante da

farta e sólida tábua de direitos fundamentais. Calha

realçar que mais contemporâneos, os direitos que

constituem a terceira dimensão recebem a alcunha de

direitos de fraternidade ou, ainda, de solidariedade,

contemplando, em sua estrutura, uma patente

preocupação com o destino da humanidade27·. Ora, daí se

verifica a inclusão de meio ambiente como um direito

fundamental, logo, está umbilicalmente atrelado com

humanismo e, por extensão, a um ideal de sociedade

mais justa e solidária. Nesse sentido, ainda, é plausível

citar o artigo 3°., inciso I, da Carta Política de 1988 que

abriga em sua redação tais pressupostos como os

princípios fundamentais do Estado Democrático de

Direitos: “Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil: I - construir uma

sociedade livre, justa e solidária”28.

Ainda nesta esteira, é possível verificar que a

27 MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional –

Teoria, Jurisprudência e 1.000 Questões 15 ed., rev., ampl. e

atual. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2004, p. 69. 28 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

44

construção dos direitos encampados sob a rubrica de

terceira dimensão tende a identificar a existência de

valores concernentes a uma determinada categoria de

pessoas, consideradas enquanto unidade, não mais

prosperando a típica fragmentação individual de seus

componentes de maneira isolada, tal como ocorria em

momento pretérito. Com o escopo de ilustrar, de maneira

pertinente as ponderações vertidas, insta trazer à colação

o entendimento do Ministro Celso de Mello, ao apreciar a

Ação Direta de Inconstitucionalidade N°. 1.856/RJ, em

especial quando destaca:

Cabe assinalar, Senhor Presidente, que os

direitos de terceira geração (ou de

novíssima dimensão), que materializam

poderes de titularidade coletiva atribuídos,

genericamente, e de modo difuso, a todos os

integrantes dos agrupamentos sociais,

consagram o princípio da solidariedade e

constituem, por isso mesmo, ao lado dos

denominados direitos de quarta geração

(como o direito ao desenvolvimento e o

direito à paz), um momento importante no

processo de expansão e reconhecimento dos

direitos humanos, qualificados estes,

enquanto valores fundamentais

indisponíveis, como prerrogativas

impregnadas de uma natureza

essencialmente inexaurível29.

29 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

45

Quadra anotar que os direitos alocados sob a

rubrica de direito de terceira dimensão encontram como

assento primordial a visão da espécie humana na

condição de coletividade, superando, via de consequência,

a tradicional visão que está pautada no ser humano em

sua individualidade. Assim, a preocupação identificada

está alicerçada em direitos que são coletivos, cujas

influências afetam a todos, de maneira indiscriminada.

Ao lado do exposto, cuida mencionar, segundo Bonavides,

que tais direitos “têm primeiro por destinatários o gênero

humano mesmo, num momento expressivo de sua

afirmação como valor supremo em termos de

existencialidade concreta”30. Com efeito, os direitos de

terceira dimensão, dentre os quais se inclui ao meio

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 26 jul. 2015. 30 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21 ed.

atual. São Paulo: Editora Malheiros Ltda., 2007, p. 569.

46

ambiente ecologicamente equilibrado, positivado na

Constituição de 1988, emerge com um claro e tangível

aspecto de familiaridade, como ápice da evolução e

concretização dos direitos fundamentais.

2 COMENTÁRIOS À CONCEPÇÃO DE MEIO

AMBIENTE

Em uma primeira plana, ao lançar mão do

sedimentado jurídico-doutrinário apresentado pelo inciso

I do artigo 3º da Lei Nº. 6.938, de 31 de agosto de 198131,

que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá

outras providências, salienta que o meio ambiente

consiste no conjunto e conjunto de condições, leis e

influências de ordem química, física e biológica que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Pois bem, com o escopo de promover uma facilitação do

aspecto conceitual apresentado, é possível verificar que o

meio ambiente se assenta em um complexo diálogo de

fatores abióticos, provenientes de ordem química e física,

31 BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

47

e bióticos, consistentes nas plurais e diversificadas

formas de seres viventes. Consoante os ensinamentos

apresentados por José Afonso da Silva, considera-se

meio-ambiente como “a interação do conjunto de

elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o

desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas

formas”32.

Nesta senda, ainda, Fiorillo33, ao tecer

comentários acerca da acepção conceitual de meio

ambiente, coloca em destaque que tal tema se assenta em

um ideário jurídico indeterminado, incumbindo, ao

intérprete das leis, promover o seu preenchimento. Dada

à fluidez do tema, é possível colocar em evidência que o

meio ambiente encontra íntima e umbilical relação com

os componentes que cercam o ser humano, os quais são

de imprescindível relevância para a sua existência. O

Ministro Luiz Fux, ao apreciar a Ação Direta de

Inconstitucionalidade N°. 4.029/AM, salientou, com

bastante pertinência, que:

(...) o meio ambiente é um conceito hoje

geminado com o de saúde pública, saúde de

32 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São

Paulo: Malheiros Editores, 2009, p.20. 33 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São Paulo:

Editora Saraiva, 2012, p. 77.

48

cada indivíduo, sadia qualidade de vida, diz

a Constituição, é por isso que estou falando

de saúde, e hoje todos nós sabemos que ele é

imbricado, é conceitualmente geminado com

o próprio desenvolvimento. Se antes nós

dizíamos que o meio ambiente é compatível

com o desenvolvimento, hoje nós dizemos, a

partir da Constituição, tecnicamente, que

não pode haver desenvolvimento senão com

o meio ambiente ecologicamente

equilibrado. A geminação do conceito me

parece de rigor técnico, porque salta da

própria Constituição Federal34.

É denotável, desta sorte, que a

constitucionalização do meio ambiente no Brasil

viabilizou um verdadeiro salto qualitativo, no que

concerne, especificamente, às normas de proteção

ambiental. Tal fato decorre da premissa que os robustos

corolários e princípios norteadores foram alçados ao

patamar constitucional, assumindo colocação eminente,

ao lado das liberdades públicas e dos direitos

34 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 4.029/AM. Ação Direta de

Inconstitucionalidade. Lei Federal Nº 11.516/07. Criação do Instituto

Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da

Associação Nacional dos Servidores do IBAMA. Entidade de Classe

de Âmbito Nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da

Constituição. Não emissão de parecer pela Comissão Mista

Parlamentar. Inconstitucionalidade dos artigos 5º, caput, e 6º, caput

e parágrafos 1º e 2º, da Resolução Nº 1 de 2002 do Congresso

Nacional. Modulação dos Efeitos Temporais da Nulidade (Art. 27 da

Lei 9.868/99). Ação Direta Parcialmente Procedente. Órgão

Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 08

mar. 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

49

fundamentais. Superadas tais premissas, aprouve ao

Constituinte, ao entalhar a Carta Política Brasileira,

ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira

dimensão, insculpir na redação do artigo 225, conceder

amplo e robusto respaldo ao meio ambiente como pilar

integrante dos direitos fundamentais. “Com o advento da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

as normas de proteção ambiental são alçadas à categoria

de normas constitucionais, com elaboração de capítulo

especialmente dedicado à proteção do meio ambiente”35.

Nesta toada, ainda, é observável que o caput do artigo

225 da Constituição Federal de 198836 está abalizado em

quatro pilares distintos, robustos e singulares que, em

conjunto, dão corpo a toda tábua ideológica e teórica que

assegura o substrato de edificação da ramificação

ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento

dispensado pelo artífice da Constituição Federal, o meio

35 THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental: Conforme o

Novo Código Florestal e a Lei Complementar 140/2011. 2 ed.

Salvador: Editora JusPodivm, 2012, p. 116. 36 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015: “Art. 225.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

50

ambiente foi içado à condição de direito de todos,

presentes e futuras gerações. É encarado como algo

pertencente a toda coletividade, assim, por esse prisma,

não se admite o emprego de qualquer distinção entre

brasileiro nato, naturalizado ou estrangeiro, destacando-

se, sim, a necessidade de preservação, conservação e não-

poluição. O artigo 225, devido ao cunho de direito difuso

que possui, extrapola os limites territoriais do Estado

Brasileiro, não ficando centrado, apenas, na extensão

nacional, compreendendo toda a humanidade. Neste

sentido, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ, destacou

que:

A preocupação com o meio ambiente - que

hoje transcende o plano das presentes

gerações, para também atuar em favor das

gerações futuras (...) tem constituído, por

isso mesmo, objeto de regulações

normativas e de proclamações jurídicas,

que, ultrapassando a província meramente

doméstica do direito nacional de cada

Estado soberano, projetam-se no plano das

declarações internacionais, que refletem, em

sua expressão concreta, o compromisso das

Nações com o indeclinável respeito a esse

direito fundamental que assiste a toda a

Humanidade37.

37 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

51

O termo “todos”, aludido na redação do caput

do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, faz

menção aos já nascidos (presente geração) e ainda

aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo

àqueles zelar para que esses tenham à sua disposição, no

mínimo, os recursos naturais que hoje existem. Tal fato

encontra como arrimo a premissa que foi reconhecido ao

gênero humano o direito fundamental à liberdade, à

igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em

ambiente que permita desenvolver todas as suas

potencialidades em clima de dignidade e bem-estar.

Pode-se considerar como um direito transgeracional, ou

seja, ultrapassa as gerações, logo, é viável afirmar que o

meio-ambiente é um direito público subjetivo. Desta

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

52

feita, o ideário de que o meio ambiente substancializa

patrimônio público a ser imperiosamente assegurado e

protegido pelos organismos sociais e pelas instituições

estatais, qualificando verdadeiro encargo irrenunciável

que se impõe, objetivando sempre o benefício das

presentes e das futuras gerações, incumbindo tanto ao

Poder Público quanto à coletividade considerada em si

mesma.

Assim, decorrente de tal fato, produz efeito

erga omnes, sendo, portanto, oponível contra a todos,

incluindo pessoa física/natural ou jurídica, de direito

público interno ou externo, ou mesmo de direito privado,

como também ente estatal, autarquia, fundação ou

sociedade de economia mista. Impera, também,

evidenciar que, como um direito difuso, não subiste a

possibilidade de quantificar quantas são as pessoas

atingidas, pois a poluição não afeta tão só a população

local, mas sim toda a humanidade, pois a coletividade é

indeterminada. Nesta senda, o direito à integridade do

meio ambiente substancializa verdadeira prerrogativa

jurídica de titularidade coletiva, ressoando a expressão

robusta de um poder deferido, não ao indivíduo

identificado em sua singularidade, mas num sentido

mais amplo, atribuído à própria coletividade social.

53

Com a nova sistemática entabulada pela

redação do artigo 225 da Carta Maior, o meio-ambiente

passou a ter autonomia, tal seja não está vinculada a

lesões perpetradas contra o ser humano para se

agasalhar das reprimendas a serem utilizadas em

relação ao ato perpetrado. Figura-se, ergo, como bem de

uso comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos

sustentáculos do tema em tela. O axioma a ser

esmiuçado, está atrelado o meio-ambiente como vetor da

sadia qualidade de vida, ou seja, manifesta-se na

salubridade, precipuamente, ao vincular a espécie

humana está se tratando do bem-estar e condições

mínimas de existência. Igualmente, o sustentáculo em

análise se corporifica também na higidez, ao cumprir os

preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando

a vida em todas as suas formas (diversidade de espécies).

Por derradeiro, o quarto pilar é a

corresponsabilidade, que impõe ao Poder Público o dever

geral de se responsabilizar por todos os elementos que

integram o meio ambiente, assim como a condição

positiva de atuar em prol de resguardar. Igualmente,

tem a obrigação de atuar no sentido de zelar, defender e

preservar, asseverando que o meio-ambiente permaneça

intacto. Aliás, este último se diferencia de conservar que

54

permite a ação antrópica, viabilizando melhorias no meio

ambiente, trabalhando com as premissas de

desenvolvimento sustentável, aliando progresso e

conservação. Por seu turno, o cidadão tem o dever

negativo, que se apresenta ao não poluir nem agredir o

meio-ambiente com sua ação. Além disso, em razão da

referida corresponsabilidade, são titulares do meio

ambiente os cidadãos da presente e da futura geração.

3 MEIO AMBIENTE E PATRIMÔNIO CULTURAL:

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Quadra salientar que o meio ambiente cultural

é constituído por bens culturais, cuja acepção

compreende aqueles que possuem valor histórico,

artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico,

fossilífero, turístico, científico, refletindo as

características de uma determinada sociedade. Ao lado

disso, quadra anotar que a cultura identifica as

sociedades humanas, sendo formada pela história e

maciçamente influenciada pela natureza, como

localização geográfica e clima. Com efeito, o meio

ambiente cultural decorre de uma intensa interação

entre homem e natureza, porquanto aquele constrói o seu

55

meio, e toda sua atividade e percepção são conformadas

pela sua cultural. “A cultura brasileira é o resultado

daquilo que era próprio das populações tradicionais

indígenas e das transformações trazidas pelos diversos

grupos colonizadores e escravos africanos”38. Desta

maneira, a proteção do patrimônio cultural se revela

como instrumento robusto da sobrevivência da própria

sociedade.

Nesta toada, ao se analisar o meio ambiente

cultural, enquanto complexo macrossistema, é

perceptível que é algo incorpóreo, abstrato, fluído,

constituído por bens culturais materiais e imateriais

portadores de referência à memória, à ação e à

identidade dos distintos grupos formadores da sociedade

brasileira. Meirelles anota que “o conceito de patrimônio

histórico e artístico nacional abrange todos os bens

moveis e imóveis, existentes no País, cuja conservação seja

de interesse público, por sua vinculação a fatos

memoráveis da História pátria ou por seu excepcional

38 BROLLO, Sílvia Regina Salau. Tutela Jurídica do meio

ambiente cultural: Proteção contra a exportação ilícita dos

bens culturais. 106f. Dissertação (Mestrado em Direito) –

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.

Disponível em:

<http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_arquivos/1/TDE-2006-10-

05T061948Z-421/Publico/SilviaDto.pdf>. Acesso em 26 jul. 2015, p.

15-16.

56

valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico e

ambiental”39. Quadra anotar que os bens compreendidos

pelo patrimônio cultural compreendem tanto realizações

antrópicas como obras da Natureza; preciosidades do

passado e obras contemporâneas.

Nesta esteira, é possível subclassificar o meio

ambiente cultural em duas espécies distintas, quais

sejam: uma concreta e outra abstrata. Neste passo, o

meio-ambiente cultural concreto, também denominado

material, se revela materializado quando está

transfigurado em um objeto classificado como elemento

integrante do meio-ambiente humano. Assim, é possível

citar os prédios, as construções, os monumentos

arquitetônicos, as estações, os museus e os parques, que

albergam em si a qualidade de ponto turístico, artístico,

paisagístico, arquitetônico ou histórico. Os exemplos

citados alhures, em razão de todos os predicados que

ostentam, são denominados de meio-ambiente cultural

concreto. Acerca do tema em comento, é possível citar o

robusto entendimento jurisprudencial firmado pelo

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, ao apreciar o Recurso

Especial N° 115.599/RS:

39 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro,

38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 634.

57

Ementa: Meio Ambiente. Patrimônio

cultural. Destruição de dunas em sítios

arqueológicos. Responsabilidade civil.

Indenização. O autor da destruição de dunas

que encobriam sítios arqueológicos deve

indenizar pelos prejuízos causados ao meio

ambiente, especificamente ao meio

ambiente natural (dunas) e ao meio

ambiente cultural (jazidas arqueológicas

com cerâmica indígena da Fase Vieira).

Recurso conhecido em parte e provido.

(Superior Tribunal de Justiça – Quarta

Turma/ REsp 115.599/RS/ Relator: Ministro

Ruy Rosado de Aguiar/ Julgado em

27.06.2002/ Publicado no Diário da Justiça

em 02.09.2002, p. 192).

Diz-se, de outro modo, o meio-ambiente

cultural abstrato, chamado, ainda, de imaterial, quando

este não se apresenta materializado no meio-ambiente

humano, sendo, deste modo, considerado como a cultura

de um povo ou mesmo de uma determinada comunidade.

Da mesma maneira, são alcançados por tal acepção a

língua e suas variações regionais, os costumes, os modos

e como as pessoas relacionam-se, as produções

acadêmicas, literárias e científicas, as manifestações

decorrentes de cada identidade nacional e/ou regional.

Neste sentido, é possível colacionar o entendimento

firmado pelo Tribunal Regional Federal da Segunda

Região, quando, ao apreciar a Apelação Cível N°

58

2005251015239518, firmou entendimento que “expressões

tradicionais e termos de uso corrente, trivial e

disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo”40. Esses aspectos

constituem, sem distinção, abstratamente o meio-

ambiente cultural. Consoante aponta Brollo, “o

patrimônio cultural imaterial transmite-se de geração a

40 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Segunda Região.

Acórdão proferido em Apelação Cível N° 2005251015239518. Direito

da propriedade industrial. Marca fraca e marca de alto renome.

Anulação de marca. Uso compartilhado de signo mercadológico

(ÔMEGA). I – Expressões tradicionais e termos de uso corrente,

trivial e disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo. Palavras dotadas dessas

características podem inspirar o registro de marcas, pelas

peculiaridades de suas expressões eufônicas ou pela sua inegável

repercussão associativa no imaginário do consumidor. II – É fraca a

marca que reproduz a última letra do alfabeto grego (Omega),

utilizado pelo povo helênico desde o século VIII a.C., e inserida pelos

povos eslavos no alfabeto cirílico, utilizado no Império Bizantino

desde o século X d.C. O propósito de sua adoção é, inegavelmente, o

de fazer uso da familiaridade do consumidor com o vocábulo de uso

corrente desde a Antiguidade. III – Se uma marca fraca alcançou

alto renome, a ela só se pode assegurar proteção limitada, despida do

jus excludendi de terceiros, que também fazem uso do mesmo signo

merceológico de boa-fé e em atividade distinta. Nessas

circunstâncias, não há a possibilidade de o consumidor incidir erro

ou, ainda, de se configurar concorrência desleal. IV – Apelação

parcialmente provida tão-somente para ajustar o pólo passivo da

relação processual, fazendo constar o Instituto Nacional de

Propriedade Industrial – INPI como réu, mantida a improcedência

do pedido de invalidação do registro da marca mista OMEGA (nº

818.522.216), classe 20 (móveis e acessórios de cozinha), formulado

por Ômega S.A. Órgão Julgador: Segunda Turma Especializada.

Relator: Desembargador Federal André Fontes. Julgado em

25.08.2007. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 26 jul.

2015.

59

geração e é constantemente recriado pelas comunidades e

grupos em função de seu ambiente”41, decorrendo, com

destaque, da interação com a natureza e dos

acontecimentos históricos que permeiam a população.

O Decreto Nº. 3.551, de 04 de Agosto de 200042,

que institui o registro de bens culturais de natureza

imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências, consiste em instrumento efetivo

para a preservação dos bens imateriais que integram o

meio-ambiente cultural. Como bem aponta Brollo43, em

seu magistério, o aludido decreto não instituiu apenas o

registro de bens culturais de natureza imaterial que

integram o patrimônio cultural brasileiro, mas também

estruturou uma política de inventariança,

referenciamento e valorização desse patrimônio. Ejeta-se,

segundo o entendimento firmado por Celso Fiorillo44, que

os bens que constituem o denominado patrimônio

cultural consistem na materialização da história de um

41 BROLLO, 2006, p. 33. 42 BRASIL. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de 2000. Institui o

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem

patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do

Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015. 43 BROLLO, 2006, p. 33. 44 FIORILLO, 2012, p. 80.

60

povo, de todo o caminho de sua formação e reafirmação

de seus valores culturais, os quais têm o condão de

substancializar a identidade e a cidadania dos indivíduos

insertos em uma determinada comunidade. Necessário se

faz salientar que o meio-ambiente cultural, conquanto

seja artificial, difere-se do meio-ambiente humano em

razão do aspecto cultural que o caracteriza, sendo dotado

de valor especial, notadamente em decorrência de

produzir um sentimento de identidade no grupo em que

se encontra inserido, bem como é propiciada a constante

evolução fomentada pela atenção à diversidade e à

criatividade humana.

4 DA EDIFICAÇÃO DO CONCEITO DE PAISAGEM

CULTURAL: APONTAMENTOS À PORTARIA Nº

127/2009 DO IPHAN

De plano, quadra apontar que a conceituação

da Paisagem Cultural Brasileira fundamenta-se na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

segundo a qual o patrimônio cultural é formado por bens

de natureza material e imaterial, tomados

individualmente ou em conjunto, portadores de

referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes

61

grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se

incluem as formas de expressão, os modos de criar, fazer

e viver, as criações científicas, artísticas e tecnológicas,

as obras, objetos, documentos, edificações e demais

espaços destinados às manifestações artístico-culturais,

os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,

paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,

ecológico e científico. Igualmente, os fenômenos

contemporâneos de expansão urbana, globalização e

massificação das paisagens urbanas e rurais colocam em

risco contextos de vida e tradições locais em todo o

planeta. Ao lado disso, a necessidade de ações e

iniciativas administrativas e institucionais de

preservação de contextos culturais complexos, que

abranjam porções do território nacional e destaquem-se

pela interação peculiar do homem com o meio natural.

No mais, o reconhecimento das paisagens

culturais é mundialmente praticado com a finalidade de

preservação do patrimônio e que sua adoção insere o

Brasil entre as nações que protegem institucionalmente o

conjunto de fatores que compõem as paisagens. Em igual

linha, a chancela da Paisagem Cultural Brasileira

estimula e valoriza a motivação da ação humana que cria

e que expressa o patrimônio cultural. Em mesmo sentido,

62

a chancela da Paisagem Cultural Brasileira valoriza a

relação harmônica com a natureza, estimulando a

dimensão afetiva com o território e tendo como premissa

a qualidade de vida da população. Nesta dicção, os

instrumentos legais vigentes que tratam do patrimônio

cultural e natural, tomados individualmente, não

contemplam integralmente o conjunto de fatores

implícitos nas paisagens culturais. Em uma concepção

inicial, entende-se por Paisagem Cultural Brasileira uma

porção peculiar do território nacional, representativa do

processo de interação do homem com o meio natural, à

qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou

atribuíram valores. A Paisagem Cultural Brasileira é

declarada por chancela instituída pelo IPHAN, mediante

procedimento específico.

A chancela da Paisagem Cultural Brasileira

tem por finalidade de atender ao interesse público e

contribuir para a preservação do patrimônio cultural,

complementando e integrando os instrumentos de

promoção e proteção existentes, nos termos preconizados

na Constituição Federal. A chancela da Paisagem

Cultural Brasileira considera o caráter dinâmico da

cultura e da ação humana sobre as porções do território a

que se aplica, convive com as transformações inerentes

63

ao desenvolvimento econômico e social sustentáveis e

valoriza a motivação responsável pela preservação do

patrimônio. A chancela da Paisagem Cultural Brasileira

implica no estabelecimento de pacto que pode envolver o

poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada,

visando a gestão compartilhada da porção do território

nacional assim reconhecida. O pacto convencionado para

proteção da Paisagem Cultural Brasileira chancelada

poderá ser integrado de Plano de Gestão a ser acordado

entre as diversas entidades, órgãos e agentes públicos e

privados envolvidos, o qual será acompanhado pelo

IPHAN. Qualquer pessoa natural ou jurídica é parte

legítima para requerer a instauração de processo

administrativo visando a chancela de Paisagem Cultural

Brasileira. O requerimento para a chancela da Paisagem

Cultural Brasileira, acompanhado da documentação

pertinente, poderá ser dirigido: I - às Superintendências

Regionais do IPHAN, em cuja circunscrição o bem se

situar; II - ao Presidente do IPHAN; ou III - ao Ministro

de Estado da Cultura.

Verificada a pertinência do requerimento para

chancela da Paisagem Cultural Brasileira será

instaurado processo administrativo. O Departamento do

Patrimônio Material e Fiscalização - DEPAM/IPHAN é o

64

órgão responsável pela instauração, coordenação,

instrução e análise do processo. A instauração do

processo será comunicada à Presidência do IPHAN e às

Superintendências Regionais em cuja circunscrição o

bem se situar. Para a instrução do processo

administrativo poderão ser consultados os diversos

setores internos do IPHAN que detenham atribuições na

área, as entidades, órgãos e agentes públicos e privados

envolvidos, com vistas à celebração de um pacto para a

gestão da Paisagem Cultural Brasileira a ser chancelada.

Finalizada a instrução, o processo administrativo será

submetido para análise jurídica e expedição de edital de

notificação da chancela, com publicação no Diário Oficial

da União e abertura do prazo de 30 dias para

manifestações ou eventuais contestações ao

reconhecimento pelos interessados. As manifestações

serão analisadas e as contestações julgadas pelo

Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização -

DEPAM/IPHAN, no prazo de 30 (trinta) dias, mediante

prévia oitiva da Procuradoria Federal, remetendo-se o

processo administrativo para deliberação ao Conselho

Consultivo do Patrimônio Cultural. Aprovada a chancela

da Paisagem Cultural Brasileira pelo Conselho

Consultivo do Patrimônio Cultural, a súmula da decisão

65

será publicada no Diário Oficial da União, sendo o

processo administrativo remetido pelo Presidente do

IPHAN para homologação final do Ministro da Cultura.

A aprovação da chancela da Paisagem Cultural

Brasileira pelo Conselho Consultivo do Patrimônio

Cultural será comunicada aos Estados-membros e

Municípios onde a porção territorial estiver localizada,

dando-se ciência ao Ministério Público Federal e

Estadual, com ampla publicidade do ato por meio da

divulgação nos meios de comunicação pertinentes. O

acompanhamento da Paisagem Cultural Brasileira

chancelada compreende a elaboração de relatórios de

monitoramento das ações previstas e de avaliação

periódica das qualidades atribuídas ao bem. A chancela

da Paisagem Cultural Brasileira deve ser revalidada

num prazo máximo de 10 anos. O processo de revalidação

será formalizado e instruído a partir dos relatórios de

monitoramento e de avaliação, juntando-se

manifestações das instâncias regional e local, para

deliberação pelo Conselho Consultivo do Patrimônio

Cultural. A decisão do Conselho Consultivo do

Patrimônio Cultural a propósito da perda ou manutenção

da chancela da Paisagem Cultural Brasileira será

publicada no Diário Oficial da União, dando-se ampla

66

divulgação ao ato nos meios de comunicação pertinentes.

REFERÊNCIA:

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito

Constitucional. 21 ed. atual. São Paulo: Editora

Malheiros Ltda., 2007.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da)

República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

__________. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de

2000. Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

__________. Decreto-Lei N° 25, de 30 de novembro de

1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e

artístico nacional. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

__________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981.

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

__________. Lei nº 11.904, de 14 de Janeiro de 2009.

Institui o Estatuto de Museus e dá outras providências.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em

67

26 jul. 2015.

__________. Lei nº 11.906, de 20 de Janeiro de 2009.

Cria o Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM, cria 425

(quatrocentos e vinte e cinco) cargos efetivos do Plano

Especial de Cargos da Cultura, cria Cargos em Comissão

do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS e

Funções Gratificadas, no âmbito do Poder Executivo

Federal, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br >. Acesso em 26 jul. 2015.

__________. Supremo Tribunal Federal. Disponível

em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

__________. Tribunal Regional Federal da Segunda

Região. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 26

jul. 2015.

BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna

classificação do meio-ambiente, o seu remodelamento e a

problemática sobre a existência ou a inexistência das

classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-ambiente

misto. Boletim Jurídico, Uberaba, a. 5, n. 968.

Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 26 jul. 2015.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de

Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio

de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São

Paulo: Editora Saraiva, 2012.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo

Brasileiro, 38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012.

68

MINAS GERAIS (ESTADO). Tribunal de Justiça do

Estado de Minas Gerais. Disponível em:

<www.tjmg.jus.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito

Constitucional – Teoria, Jurisprudência e 1.000

Questões 15 ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro:

Editora Impetus, 2004.

RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível

em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago.

Direito Constitucional Ambiental: Constituição,

Direitos Fundamentais e Proteção do Ambiente. 2

ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental

Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 2009.

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental:

Conforme o Novo Código Florestal e a Lei

Complementar 140/2011. 2 ed. Salvador: Editora

JusPodivm, 2012.

VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário

do Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas,

Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em:

<http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 26 jul. 2015.

69

DA EDIFICAÇÃO DA UNIVERSALIZAÇÃO DO

ACESSO AO PATRIMÔNIO CULTURAL:

PONDERAÇOES À LEI Nº 12.343/2010

Resumo: O objetivo do presente está assentado

na análise da edificação da universalização do

acesso ao patrimônio cultural à luz Lei nº 12.343,

de 02 de dezembro de 2010. Cuida salientar que o

meio ambiente cultural é constituído por bens

culturais, cuja acepção compreende aqueles que

possuem valor histórico, artístico, paisagístico,

arqueológico, espeleológico, fossilífero, turístico,

científico, refletindo as características de uma

determinada sociedade. Ao lado disso, quadra

anotar que a cultura identifica as sociedades

humanas, sendo formada pela história e

maciçamente influenciada pela natureza, como

localização geográfica e clima. Com efeito, o meio

ambiente cultural decorre de uma intensa

interação entre homem e natureza, porquanto

aquele constrói o seu meio, e toda sua atividade e

percepção são conformadas pela sua cultural. A

cultura brasileira é o resultado daquilo que era

próprio das populações tradicionais indígenas e

70

das transformações trazidas pelos diversos

grupos colonizadores e escravos africanos. Nesta

toada, ao se analisar o meio ambiente cultural,

enquanto complexo macrossistema, é perceptível

que é algo incorpóreo, abstrato, fluído,

constituído por bens culturais materiais e

imateriais portadores de referência à memória, à

ação e à identidade dos distintos grupos

formadores da sociedade brasileira. O conceito de

patrimônio histórico e artístico nacional abrange

todos os bens moveis e imóveis, existentes no

País, cuja conservação seja de interesse público,

por sua vinculação a fatos memoráveis da

História pátria ou por seu excepcional valor

artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico e

ambiental.

Palavras-chaves: Patrimônio Cultural.

Universalização do Acesso à Cultura. Tutela

Jurídica.

Sumário: 1 Ponderações Introdutórias: Breves

notas à construção teórica da Ramificação

Ambiental do Direito; 2 Comentários à concepção

de Meio Ambiente; 3 Meio Ambiente e

Patrimônio Cultural: Aspectos Introdutórios; 4 O

Plano Nacional de Cultura em análise: Primeiros

Comentários à Lei nº 12.343/2010; 5 Da

Edificação da Universalização do Acesso ao

Patrimônio Cultural: Ponderações à Lei nº

12.343/2010

71

1 PONDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS: BREVES

NOTAS À CONSTRUÇÃO TEÓRICA DA

RAMIFICAÇÃO AMBIENTAL DO DIREITO

Inicialmente, ao se dispensar um exame acerca

do tema colocado em tela, patente se faz arrazoar que a

Ciência Jurídica, enquanto um conjunto multifacetado de

arcabouço doutrinário e técnico, assim como as robustas

ramificações que a integram, reclama uma interpretação

alicerçada nos plurais aspectos modificadores que

passaram a influir em sua estruturação. Neste alamiré,

lançando à tona os aspectos característicos de

mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-

se imperioso salientar, com ênfase, que não mais subsiste

uma visão arrimada em preceitos estagnados e

estanques, alheios às necessidades e às diversidades

sociais que passaram a contornar os Ordenamentos

Jurídicos. Ora, infere-se que não mais prospera o

arcabouço imutável que outrora sedimentava a aplicação

das leis, sendo, em decorrência dos anseios da população,

suplantados em uma nova sistemática.

Com espeque em tais premissas, cuida

hastear, com bastante pertinência, como flâmula de

interpretação o “prisma de avaliação o brocardo jurídico

72

'Ubi societas, ibi jus', ou seja, 'Onde está a sociedade, está

o Direito', tornando explícita e cristalina a relação de

interdependência que esse binômio mantém”45. Destarte,

com clareza solar, denota-se que há uma interação

consolidada na mútua dependência, já que o primeiro

tem suas balizas fincadas no constante processo de

evolução da sociedade, com o fito de que seus Diplomas

Legislativos e institutos não fiquem inquinados de

inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a

realidade vigente. A segunda, por sua vez, apresenta

estrutural dependência das regras consolidadas pelo

Ordenamento Pátrio, cujo escopo primevo é assegurar

que não haja uma vingança privada, afastando, por

extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras em

que o homem valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho,

dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça

um cenário caótico no seio da coletividade.

Ademais, com a promulgação da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988,

imprescindível se fez adotá-la como maciço axioma de

sustentação do Ordenamento Brasileiro, precipuamente

45 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do

Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun.

2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 12

mar. 2015, s.p.

73

quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico

e abstrato, aos complexos anseios e múltiplas

necessidades que influenciam a realidade

contemporânea. Ao lado disso, há que se citar o voto

magistral voto proferido pelo Ministro Eros Grau, ao

apreciar a Ação de Descumprimento de Preceito

Fundamental Nº. 46/DF, “o direito é um organismo vivo,

peculiar porém porque não envelhece, nem permanece

jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um

dinamismo. Essa, a sua força, o seu fascínio, a sua

beleza”46. Como bem pontuado, o fascínio da Ciência

Jurídica jaz, justamente, na constante e imprescindível

mutabilidade que apresenta, decorrente do dinamismo

que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos

46 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental Nº. 46/DF. Empresa

Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de Entrega de

Correspondências. Serviço Postal. Controvérsia referente à Lei

Federal 6.538, de 22 de Junho de 1978. Ato Normativo que regula

direitos e obrigações concernentes ao Serviço Postal. Previsão de

Sanções nas Hipóteses de Violação do Privilégio Postal.

Compatibilidade com o Sistema Constitucional Vigente. Alegação de

afronta ao disposto nos artigos 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170,

caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil.

Violação dos Princípios da Livre Concorrência e Livre Iniciativa. Não

Caracterização. Arguição Julgada Improcedente. Interpretação

conforme à Constituição conferida ao artigo 42 da Lei N. 6.538, que

estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da

União. Aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º, da lei.

Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Marcos Aurélio.

Julgado em 05 ag. 2009. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em

12 mar. 2015.

74

Diplomas Legais e os institutos jurídicos neles

consagrados.

Ainda neste substrato de exposição, pode-se

evidenciar que a concepção pós-positivista que passou a

permear o Direito, ofertou, por via de consequência, uma

rotunda independência dos estudiosos e profissionais da

Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento

de Verdan, “esta doutrina é o ponto culminante de uma

progressiva evolução acerca do valor atribuído aos

princípios em face da legislação”47. Destarte, a partir de

uma análise profunda dos mencionados sustentáculos,

infere-se que o ponto central da corrente pós-positivista

cinge-se à valoração da robusta tábua principiológica que

Direito e, por conseguinte, o arcabouço normativo

passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho

vinculante, flâmulas hasteadas a serem adotadas na

aplicação e interpretação do conteúdo das leis, diante das

situações concretas.

Nas últimas décadas, o aspecto de

mutabilidade tornou-se ainda mais evidente, em especial,

quando se analisa a construção de novos que derivam da

Ciência Jurídica. Entre estes, cuida destacar a

ramificação ambiental, considerando como um ponto de

47 VERDAN, 2009, s.p.

75

congruência da formação de novos ideários e cânones,

motivados, sobretudo, pela premissa de um manancial de

novos valores adotados. Nesta trilha de argumentação,

de boa técnica se apresenta os ensinamentos de

Fernando de Azevedo Alves Brito que, em seu artigo,

aduz: “Com a intensificação, entretanto, do interesse dos

estudiosos do Direito pelo assunto, passou-se a desvendar

as peculiaridades ambientais, que, por estarem muito

mais ligadas às ciências biológicas, até então era

marginalizadas”48. Assim, em decorrência da

proeminência que os temas ambientais vêm, de maneira

paulatina, alcançando, notadamente a partir das últimas

discussões internacionais envolvendo a necessidade de

um desenvolvimento econômico pautado em

sustentabilidade, não é raro que prospere, mormente em

razão de novos fatores, um verdadeiro remodelamento ou

mesmo uma releitura dos conceitos que abalizam a

ramificação ambiental do Direito, com o fito de permitir

que ocorra a conservação e recuperação das áreas

degradadas, primacialmente as culturais.

48 BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do

meio-ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a

existência ou a inexistência das classes do meio-ambiente do

trabalho e do meio-ambiente misto. Boletim Jurídico, Uberaba,

ano 5, n. 968. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 12 mar. 2015.

76

Ademais, há de ressaltar ainda que o direito

ambiental passou a figurar, especialmente, depois das

décadas de 1950 e 1960, como um elemento integrante da

farta e sólida tábua de direitos fundamentais. Calha

realçar que mais contemporâneos, os direitos que

constituem a terceira dimensão recebem a alcunha de

direitos de fraternidade ou, ainda, de solidariedade,

contemplando, em sua estrutura, uma patente

preocupação com o destino da humanidade49·. Ora, daí se

verifica a inclusão de meio ambiente como um direito

fundamental, logo, está umbilicalmente atrelado com

humanismo e, por extensão, a um ideal de sociedade

mais justa e solidária. Nesse sentido, ainda, é plausível

citar o artigo 3°., inciso I, da Carta Política de 1988 que

abriga em sua redação tais pressupostos como os

princípios fundamentais do Estado Democrático de

Direitos: “Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil: I - construir uma

sociedade livre, justa e solidária”50.

Ainda nesta esteira, é possível verificar que a

49 MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional –

Teoria, Jurisprudência e 1.000 Questões 15 ed., rev., ampl. e

atual. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2004, p. 69. 50 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

77

construção dos direitos encampados sob a rubrica de

terceira dimensão tende a identificar a existência de

valores concernentes a uma determinada categoria de

pessoas, consideradas enquanto unidade, não mais

prosperando a típica fragmentação individual de seus

componentes de maneira isolada, tal como ocorria em

momento pretérito. Com o escopo de ilustrar, de maneira

pertinente as ponderações vertidas, insta trazer à colação

o entendimento do Ministro Celso de Mello, ao apreciar a

Ação Direta de Inconstitucionalidade N°. 1.856/RJ, em

especial quando destaca:

Cabe assinalar, Senhor Presidente, que os

direitos de terceira geração (ou de

novíssima dimensão), que materializam

poderes de titularidade coletiva atribuídos,

genericamente, e de modo difuso, a todos os

integrantes dos agrupamentos sociais,

consagram o princípio da solidariedade e

constituem, por isso mesmo, ao lado dos

denominados direitos de quarta geração

(como o direito ao desenvolvimento e o

direito à paz), um momento importante no

processo de expansão e reconhecimento dos

direitos humanos, qualificados estes,

enquanto valores fundamentais

indisponíveis, como prerrogativas

impregnadas de uma natureza

essencialmente inexaurível51.

51 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

78

Quadra anotar que os direitos alocados sob a

rubrica de direito de terceira dimensão encontram como

assento primordial a visão da espécie humana na

condição de coletividade, superando, via de consequência,

a tradicional visão que está pautada no ser humano em

sua individualidade. Assim, a preocupação identificada

está alicerçada em direitos que são coletivos, cujas

influências afetam a todos, de maneira indiscriminada.

Ao lado do exposto, cuida mencionar, segundo Bonavides,

que tais direitos “têm primeiro por destinatários o gênero

humano mesmo, num momento expressivo de sua

afirmação como valor supremo em termos de

existencialidade concreta”52. Com efeito, os direitos de

terceira dimensão, dentre os quais se inclui ao meio

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 12 mar. 2015. 52 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21 ed.

atual. São Paulo: Editora Malheiros Ltda., 2007, p. 569.

79

ambiente ecologicamente equilibrado, positivado na

Constituição de 1988, emerge com um claro e tangível

aspecto de familiaridade, como ápice da evolução e

concretização dos direitos fundamentais.

2 COMENTÁRIOS À CONCEPÇÃO DE MEIO

AMBIENTE

Em uma primeira plana, ao lançar mão do

sedimentado jurídico-doutrinário apresentado pelo inciso

I do artigo 3º da Lei Nº. 6.938, de 31 de agosto de 198153,

que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá

outras providências, salienta que o meio ambiente

consiste no conjunto e conjunto de condições, leis e

influências de ordem química, física e biológica que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Pois bem, com o escopo de promover uma facilitação do

aspecto conceitual apresentado, é possível verificar que o

meio ambiente se assenta em um complexo diálogo de

fatores abióticos, provenientes de ordem química e física,

53 BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

80

e bióticos, consistentes nas plurais e diversificadas

formas de seres viventes. Consoante os ensinamentos

apresentados por José Afonso da Silva, considera-se

meio-ambiente como “a interação do conjunto de

elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o

desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas

formas”54.

Nesta senda, ainda, Fiorillo55, ao tecer

comentários acerca da acepção conceitual de meio

ambiente, coloca em destaque que tal tema se assenta em

um ideário jurídico indeterminado, incumbindo, ao

intérprete das leis, promover o seu preenchimento. Dada

à fluidez do tema, é possível colocar em evidência que o

meio ambiente encontra íntima e umbilical relação com

os componentes que cercam o ser humano, os quais são

de imprescindível relevância para a sua existência. O

Ministro Luiz Fux, ao apreciar a Ação Direta de

Inconstitucionalidade N°. 4.029/AM, salientou, com

bastante pertinência, que:

(...) o meio ambiente é um conceito hoje

geminado com o de saúde pública, saúde de

54 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São

Paulo: Malheiros Editores, 2009, p.20. 55 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São Paulo:

Editora Saraiva, 2012, p. 77.

81

cada indivíduo, sadia qualidade de vida, diz

a Constituição, é por isso que estou falando

de saúde, e hoje todos nós sabemos que ele é

imbricado, é conceitualmente geminado com

o próprio desenvolvimento. Se antes nós

dizíamos que o meio ambiente é compatível

com o desenvolvimento, hoje nós dizemos, a

partir da Constituição, tecnicamente, que

não pode haver desenvolvimento senão com

o meio ambiente ecologicamente

equilibrado. A geminação do conceito me

parece de rigor técnico, porque salta da

própria Constituição Federal56.

É denotável, desta sorte, que a

constitucionalização do meio ambiente no Brasil

viabilizou um verdadeiro salto qualitativo, no que

concerne, especificamente, às normas de proteção

ambiental. Tal fato decorre da premissa que os robustos

corolários e princípios norteadores foram alçados ao

patamar constitucional, assumindo colocação eminente,

ao lado das liberdades públicas e dos direitos

56 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 4.029/AM. Ação Direta de

Inconstitucionalidade. Lei Federal Nº 11.516/07. Criação do Instituto

Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da

Associação Nacional dos Servidores do IBAMA. Entidade de Classe

de Âmbito Nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da

Constituição. Não emissão de parecer pela Comissão Mista

Parlamentar. Inconstitucionalidade dos artigos 5º, caput, e 6º, caput

e parágrafos 1º e 2º, da Resolução Nº 1 de 2002 do Congresso

Nacional. Modulação dos Efeitos Temporais da Nulidade (Art. 27 da

Lei 9.868/99). Ação Direta Parcialmente Procedente. Órgão

Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 08

mar. 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 12 mar.

2015.

82

fundamentais. Superadas tais premissas, aprouve ao

Constituinte, ao entalhar a Carta Política Brasileira,

ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira

dimensão, insculpir na redação do artigo 225, conceder

amplo e robusto respaldo ao meio ambiente como pilar

integrante dos direitos fundamentais. “Com o advento da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

as normas de proteção ambiental são alçadas à categoria

de normas constitucionais, com elaboração de capítulo

especialmente dedicado à proteção do meio ambiente”57.

Nesta toada, ainda, é observável que o caput do artigo

225 da Constituição Federal de 198858 está abalizado em

quatro pilares distintos, robustos e singulares que, em

conjunto, dão corpo a toda tábua ideológica e teórica que

assegura o substrato de edificação da ramificação

ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento

dispensado pelo artífice da Constituição Federal, o meio

57 THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental: Conforme o

Novo Código Florestal e a Lei Complementar 140/2011. 2 ed.

Salvador: Editora JusPodivm, 2012, p. 116. 58 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015: “Art.

225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

83

ambiente foi içado à condição de direito de todos,

presentes e futuras gerações. É encarado como algo

pertencente a toda coletividade, assim, por esse prisma,

não se admite o emprego de qualquer distinção entre

brasileiro nato, naturalizado ou estrangeiro, destacando-

se, sim, a necessidade de preservação, conservação e não-

poluição. O artigo 225, devido ao cunho de direito difuso

que possui, extrapola os limites territoriais do Estado

Brasileiro, não ficando centrado, apenas, na extensão

nacional, compreendendo toda a humanidade. Neste

sentido, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ, destacou

que:

A preocupação com o meio ambiente - que

hoje transcende o plano das presentes

gerações, para também atuar em favor das

gerações futuras (...) tem constituído, por

isso mesmo, objeto de regulações

normativas e de proclamações jurídicas,

que, ultrapassando a província meramente

doméstica do direito nacional de cada

Estado soberano, projetam-se no plano das

declarações internacionais, que refletem, em

sua expressão concreta, o compromisso das

Nações com o indeclinável respeito a esse

direito fundamental que assiste a toda a

Humanidade59.

59 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

84

O termo “todos”, aludido na redação do caput

do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, faz

menção aos já nascidos (presente geração) e ainda

aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo

àqueles zelar para que esses tenham à sua disposição, no

mínimo, os recursos naturais que hoje existem. Tal fato

encontra como arrimo a premissa que foi reconhecido ao

gênero humano o direito fundamental à liberdade, à

igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em

ambiente que permita desenvolver todas as suas

potencialidades em clima de dignidade e bem-estar.

Pode-se considerar como um direito transgeracional, ou

seja, ultrapassa as gerações, logo, é viável afirmar que o

meio-ambiente é um direito público subjetivo. Desta

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

85

feita, o ideário de que o meio ambiente substancializa

patrimônio público a ser imperiosamente assegurado e

protegido pelos organismos sociais e pelas instituições

estatais, qualificando verdadeiro encargo irrenunciável

que se impõe, objetivando sempre o benefício das

presentes e das futuras gerações, incumbindo tanto ao

Poder Público quanto à coletividade considerada em si

mesma.

Assim, decorrente de tal fato, produz efeito

erga omnes, sendo, portanto, oponível contra a todos,

incluindo pessoa física/natural ou jurídica, de direito

público interno ou externo, ou mesmo de direito privado,

como também ente estatal, autarquia, fundação ou

sociedade de economia mista. Impera, também,

evidenciar que, como um direito difuso, não subiste a

possibilidade de quantificar quantas são as pessoas

atingidas, pois a poluição não afeta tão só a população

local, mas sim toda a humanidade, pois a coletividade é

indeterminada. Nesta senda, o direito à integridade do

meio ambiente substancializa verdadeira prerrogativa

jurídica de titularidade coletiva, ressoando a expressão

robusta de um poder deferido, não ao indivíduo

identificado em sua singularidade, mas num sentido

mais amplo, atribuído à própria coletividade social.

86

Com a nova sistemática entabulada pela

redação do artigo 225 da Carta Maior, o meio-ambiente

passou a ter autonomia, tal seja não está vinculada a

lesões perpetradas contra o ser humano para se

agasalhar das reprimendas a serem utilizadas em

relação ao ato perpetrado. Figura-se, ergo, como bem de

uso comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos

sustentáculos do tema em tela. O axioma a ser

esmiuçado, está atrelado o meio-ambiente como vetor da

sadia qualidade de vida, ou seja, manifesta-se na

salubridade, precipuamente, ao vincular a espécie

humana está se tratando do bem-estar e condições

mínimas de existência. Igualmente, o sustentáculo em

análise se corporifica também na higidez, ao cumprir os

preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando

a vida em todas as suas formas (diversidade de espécies).

Por derradeiro, o quarto pilar é a

corresponsabilidade, que impõe ao Poder Público o dever

geral de se responsabilizar por todos os elementos que

integram o meio ambiente, assim como a condição

positiva de atuar em prol de resguardar. Igualmente,

tem a obrigação de atuar no sentido de zelar, defender e

preservar, asseverando que o meio-ambiente permaneça

intacto. Aliás, este último se diferencia de conservar que

87

permite a ação antrópica, viabilizando melhorias no meio

ambiente, trabalhando com as premissas de

desenvolvimento sustentável, aliando progresso e

conservação. Por seu turno, o cidadão tem o dever

negativo, que se apresenta ao não poluir nem agredir o

meio-ambiente com sua ação. Além disso, em razão da

referida corresponsabilidade, são titulares do meio

ambiente os cidadãos da presente e da futura geração.

3 MEIO AMBIENTE E PATRIMÔNIO CULTURAL:

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Quadra salientar que o meio ambiente cultural

é constituído por bens culturais, cuja acepção

compreende aqueles que possuem valor histórico,

artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico,

fossilífero, turístico, científico, refletindo as

características de uma determinada sociedade. Ao lado

disso, quadra anotar que a cultura identifica as

sociedades humanas, sendo formada pela história e

maciçamente influenciada pela natureza, como

localização geográfica e clima. Com efeito, o meio

ambiente cultural decorre de uma intensa interação

entre homem e natureza, porquanto aquele constrói o seu

88

meio, e toda sua atividade e percepção são conformadas

pela sua cultural. “A cultura brasileira é o resultado

daquilo que era próprio das populações tradicionais

indígenas e das transformações trazidas pelos diversos

grupos colonizadores e escravos africanos”60. Desta

maneira, a proteção do patrimônio cultural se revela

como instrumento robusto da sobrevivência da própria

sociedade.

Nesta toada, ao se analisar o meio ambiente

cultural, enquanto complexo macrossistema, é

perceptível que é algo incorpóreo, abstrato, fluído,

constituído por bens culturais materiais e imateriais

portadores de referência à memória, à ação e à

identidade dos distintos grupos formadores da sociedade

brasileira. Meirelles anota que “o conceito de patrimônio

histórico e artístico nacional abrange todos os bens

moveis e imóveis, existentes no País, cuja conservação seja

de interesse público, por sua vinculação a fatos

memoráveis da História pátria ou por seu excepcional

60 BROLLO, Sílvia Regina Salau. Tutela Jurídica do meio

ambiente cultural: Proteção contra a exportação ilícita dos

bens culturais. 106f. Dissertação (Mestrado em Direito) –

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.

Disponível em:

<http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_arquivos/1/TDE-2006-10-

05T061948Z-421/Publico/SilviaDto.pdf>. Acesso em 12 mar. 2015, p.

15-16.

89

valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico e

ambiental”61. Quadra anotar que os bens compreendidos

pelo patrimônio cultural compreendem tanto realizações

antrópicas como obras da Natureza; preciosidades do

passado e obras contemporâneas.

Nesta esteira, é possível subclassificar o meio

ambiente cultural em duas espécies distintas, quais

sejam: uma concreta e outra abstrata. Neste passo, o

meio-ambiente cultural concreto, também denominado

material, se revela materializado quando está

transfigurado em um objeto classificado como elemento

integrante do meio-ambiente humano. Assim, é possível

citar os prédios, as construções, os monumentos

arquitetônicos, as estações, os museus e os parques, que

albergam em si a qualidade de ponto turístico, artístico,

paisagístico, arquitetônico ou histórico. Os exemplos

citados alhures, em razão de todos os predicados que

ostentam, são denominados de meio-ambiente cultural

concreto. Acerca do tema em comento, é possível citar o

robusto entendimento jurisprudencial firmado pelo

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, ao apreciar o Recurso

Especial N° 115.599/RS:

61 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro,

38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 634.

90

Ementa: Meio Ambiente. Patrimônio

cultural. Destruição de dunas em sítios

arqueológicos. Responsabilidade civil.

Indenização. O autor da destruição de dunas

que encobriam sítios arqueológicos deve

indenizar pelos prejuízos causados ao meio

ambiente, especificamente ao meio

ambiente natural (dunas) e ao meio

ambiente cultural (jazidas arqueológicas

com cerâmica indígena da Fase Vieira).

Recurso conhecido em parte e provido.

(Superior Tribunal de Justiça – Quarta

Turma/ REsp 115.599/RS/ Relator: Ministro

Ruy Rosado de Aguiar/ Julgado em

27.06.2002/ Publicado no Diário da Justiça

em 02.09.2002, p. 192).

Diz-se, de outro modo, o meio-ambiente

cultural abstrato, chamado, ainda, de imaterial, quando

este não se apresenta materializado no meio-ambiente

humano, sendo, deste modo, considerado como a cultura

de um povo ou mesmo de uma determinada comunidade.

Da mesma maneira, são alcançados por tal acepção a

língua e suas variações regionais, os costumes, os modos

e como as pessoas relacionam-se, as produções

acadêmicas, literárias e científicas, as manifestações

decorrentes de cada identidade nacional e/ou regional.

Neste sentido, é possível colacionar o entendimento

firmado pelo Tribunal Regional Federal da Segunda

Região, quando, ao apreciar a Apelação Cível N°

91

2005251015239518, firmou entendimento que “expressões

tradicionais e termos de uso corrente, trivial e

disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo”62. Esses aspectos

constituem, sem distinção, abstratamente o meio-

ambiente cultural. Consoante aponta Brollo, “o

patrimônio cultural imaterial transmite-se de geração a

62 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Segunda Região.

Acórdão proferido em Apelação Cível N° 2005251015239518. Direito

da propriedade industrial. Marca fraca e marca de alto renome.

Anulação de marca. Uso compartilhado de signo mercadológico

(ÔMEGA). I – Expressões tradicionais e termos de uso corrente,

trivial e disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo. Palavras dotadas dessas

características podem inspirar o registro de marcas, pelas

peculiaridades de suas expressões eufônicas ou pela sua inegável

repercussão associativa no imaginário do consumidor. II – É fraca a

marca que reproduz a última letra do alfabeto grego (Omega),

utilizado pelo povo helênico desde o século VIII a.C., e inserida pelos

povos eslavos no alfabeto cirílico, utilizado no Império Bizantino

desde o século X d.C. O propósito de sua adoção é, inegavelmente, o

de fazer uso da familiaridade do consumidor com o vocábulo de uso

corrente desde a Antiguidade. III – Se uma marca fraca alcançou

alto renome, a ela só se pode assegurar proteção limitada, despida do

jus excludendi de terceiros, que também fazem uso do mesmo signo

merceológico de boa-fé e em atividade distinta. Nessas

circunstâncias, não há a possibilidade de o consumidor incidir erro

ou, ainda, de se configurar concorrência desleal. IV – Apelação

parcialmente provida tão-somente para ajustar o pólo passivo da

relação processual, fazendo constar o Instituto Nacional de

Propriedade Industrial – INPI como réu, mantida a improcedência

do pedido de invalidação do registro da marca mista OMEGA (nº

818.522.216), classe 20 (móveis e acessórios de cozinha), formulado

por Ômega S.A. Órgão Julgador: Segunda Turma Especializada.

Relator: Desembargador Federal André Fontes. Julgado em

25.08.2007. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 12 mar.

2015.

92

geração e é constantemente recriado pelas comunidades e

grupos em função de seu ambiente”63, decorrendo, com

destaque, da interação com a natureza e dos

acontecimentos históricos que permeiam a população.

O Decreto Nº. 3.551, de 04 de Agosto de 200064,

que institui o registro de bens culturais de natureza

imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências, consiste em instrumento efetivo

para a preservação dos bens imateriais que integram o

meio-ambiente cultural. Como bem aponta Brollo65, em

seu magistério, o aludido decreto não instituiu apenas o

registro de bens culturais de natureza imaterial que

integram o patrimônio cultural brasileiro, mas também

estruturou uma política de inventariança,

referenciamento e valorização desse patrimônio. Ejeta-se,

segundo o entendimento firmado por Celso Fiorillo66, que

os bens que constituem o denominado patrimônio

cultural consistem na materialização da história de um

63 BROLLO, 2006, p. 33. 64 BRASIL. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de 2000. Institui o

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem

patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do

Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015. 65 BROLLO, 2006, p. 33. 66 FIORILLO, 2012, p. 80.

93

povo, de todo o caminho de sua formação e reafirmação

de seus valores culturais, os quais têm o condão de

substancializar a identidade e a cidadania dos indivíduos

insertos em uma determinada comunidade. Necessário se

faz salientar que o meio-ambiente cultural, conquanto

seja artificial, difere-se do meio-ambiente humano em

razão do aspecto cultural que o caracteriza, sendo dotado

de valor especial, notadamente em decorrência de

produzir um sentimento de identidade no grupo em que

se encontra inserido, bem como é propiciada a constante

evolução fomentada pela atenção à diversidade e à

criatividade humana.

4 O PLANO NACIONAL DE CULTURA EM

ANÁLISE: PRIMEIROS COMENTÁRIOS À LEI Nº

12.343/2010

Em um primeiro momento, cuida assinalar que

o Plano Nacional de Cultura reflete os ideários

axiológicos encerrados no artigo 215, §3º, da Constituição

da República Federativa do Brasil de 198867, sendo

norteado pelos seguintes preceitos: (i) liberdade de

67 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

94

expressão, criação e fruição; (ii) diversidade cultural; (iii)

respeito aos direitos humanos; (iv) direito de todos à arte

e à cultura; (v) direito à informação, à comunicação e à

crítica cultural; (vi) direito à memória e às tradições; (vii)

responsabilidade socioambiental; (viii) valorização da

cultura como vetor do desenvolvimento sustentável; (ix)

democratização das instâncias de formulação das

políticas culturais; (x) responsabilidade dos agentes

públicos pela implementação das políticas culturais; (xi)

colaboração entre agentes públicos e privados para o

desenvolvimento da economia da cultura; (xii)

participação e controle social na formulação e

acompanhamento das políticas culturais. Igualmente, a

Lei nº 12.343, de 02 de Dezembro de 201068, que institui

o Plano Nacional de Cultura – PNC, cria o Sistema

Nacional de Informações e Indicadores Culturais –

SNIIC e dá outras providências, em seu artigo 2º,

estabelece que são objetivos: (i) reconhecer e valorizar a

diversidade cultural, étnica e regional brasileira; (ii)

proteger e promover o patrimônio histórico e artístico,

material e imaterial; (iii) valorizar e difundir as criações

68 BRASIL. Lei nº 12.343, de 02 de Dezembro de 2010. Institui o

Plano Nacional de Cultura – PNC, cria o Sistema Nacional de

Informações e Indicadores Culturais – SNIIC e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em 12 mar. 2015.

95

artísticas e os bens culturais; (iv) promover o direito à

memória por meio dos museus, arquivos e coleções; (v)

universalizar o acesso à arte e à cultura; (vi) estimular a

presença da arte e da cultura no ambiente

educacional; (vii) estimular o pensamento crítico e

reflexivo em torno dos valores simbólicos; (viii) estimular

a sustentabilidade socioambiental; (ix) desenvolver a

economia da cultura, o mercado interno, o consumo

cultural e a exportação de bens, serviços e conteúdos

culturais; (x) reconhecer os saberes, conhecimentos e

expressões tradicionais e os direitos de seus

detentores; (xi) qualificar a gestão na área cultural nos

setores público e privado; (xii) profissionalizar e

especializar os agentes e gestores culturais; (xiii)

descentralizar a implementação das políticas públicas de

cultura; (xiv) consolidar processos de consulta e

participação da sociedade na formulação das políticas

culturais; (xv) ampliar a presença e o intercâmbio da

cultura brasileira no mundo contemporâneo; (xvi)

articular e integrar sistemas de gestão cultural.

O Plano Nacional de Cultura, ainda, estabelece

uma série de atribuições do Poder Público no que

concerne à tutela da cultura, assentando, em seu artigo

3º, com clareza ofuscante, que compete àquele: (i)

96

formular políticas públicas e programas que conduzam à

efetivação dos objetivos, diretrizes e metas do Plano; (ii)

garantir a avaliação e a mensuração do desempenho do

Plano Nacional de Cultura e assegurar sua efetivação

pelos órgãos responsáveis; (iii) fomentar a cultura de

forma ampla, por meio da promoção e difusão, da

realização de editais e seleções públicas para o estímulo a

projetos e processos culturais, da concessão de apoio

financeiro e fiscal aos agentes culturais, da adoção de

subsídios econômicos, da implantação regulada de fundos

públicos e privados, entre outros incentivos, nos termos

da lei; (iv) proteger e promover a diversidade cultural, a

criação artística e suas manifestações e as expressões

culturais, individuais ou coletivas, de todos os grupos

étnicos e suas derivações sociais, reconhecendo a

abrangência da noção de cultura em todo o território

nacional e garantindo a multiplicidade de seus valores e

formações; (v) promover e estimular o acesso à produção

e ao empreendimento cultural; a circulação e o

intercâmbio de bens, serviços e conteúdos culturais; e o

contato e a fruição do público com a arte e a cultura de

forma universal; (vi) garantir a preservação do

patrimônio cultural brasileiro, resguardando os bens de

natureza material e imaterial, os documentos históricos,

97

acervos e coleções, as formações urbanas e rurais, as

línguas e cosmologias indígenas, os sítios arqueológicos

pré-históricos e as obras de arte, tomados

individualmente ou em conjunto, portadores de

referência aos valores, identidades, ações e memórias dos

diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.

Igualmente, incumbe, ainda, ao Poder Público:

(i) articular as políticas públicas de cultura e promover a

organização de redes e consórcios para a sua

implantação, de forma integrada com as políticas

públicas de educação, comunicação, ciência e tecnologia,

direitos humanos, meio ambiente, turismo, planejamento

urbano e cidades, desenvolvimento econômico e social,

indústria e comércio, relações exteriores, dentre outras;

(ii) dinamizar as políticas de intercâmbio e a difusão da

cultura brasileira no exterior, promovendo bens culturais

e criações artísticas brasileiras no ambiente

internacional; dar suporte à presença desses produtos

nos mercados de interesse econômico e geopolítico do

País; (iii) organizar instâncias consultivas e de

participação da sociedade para contribuir na formulação

e debater estratégias de execução das políticas públicas

de cultura; (x) regular o mercado interno, estimulando os

produtos culturais brasileiros com o objetivo de reduzir

98

desigualdades sociais e regionais, profissionalizando os

agentes culturais, formalizando o mercado e qualificando

as relações de trabalho na cultura, consolidando e

ampliando os níveis de emprego e renda, fortalecendo

redes de colaboração, valorizando empreendimentos de

economia solidária e controlando abusos de poder

econômico; (xi) coordenar o processo de elaboração de

planos setoriais para as diferentes áreas artísticas,

respeitando seus desdobramentos e segmentações, e

também para os demais campos de manifestação

simbólica identificados entre as diversas expressões

culturais e que reivindiquem a sua estruturação

nacional; (xii) incentivar a adesão de organizações e

instituições do setor privado e entidades da sociedade

civil às diretrizes e metas do Plano Nacional de Cultura

por meio de ações próprias, parcerias, participação em

programas e integração ao Sistema Nacional de

Informações e Indicadores Culturais - SNIIC.

Ao lado disso, o artigo 3º69 comina que o

Sistema Nacional de Cultura - SNC, criado por lei

específica, será o principal articulador federativo do

69 BRASIL. Lei nº 12.343, de 02 de Dezembro de 2010. Institui o

Plano Nacional de Cultura – PNC, cria o Sistema Nacional de

Informações e Indicadores Culturais – SNIIC e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em 12 mar. 2015.

99

PNC, estabelecendo mecanismos de gestão

compartilhada entre os entes federados e a sociedade

civil. A vinculação dos Estados, Distrito Federal e

Municípios às diretrizes e metas do Plano Nacional de

Cultura far-se-á por meio de termo de adesão voluntária,

na forma do regulamento. Ademais, os entes da

Federação que aderirem ao Plano Nacional de Cultura

deverão elaborar os seus planos decenais até 1 (um) ano

após a assinatura do termo de adesão voluntária. O

Poder Executivo federal, observados os limites

orçamentários e operacionais, poderá oferecer assistência

técnica e financeira aos entes da federação que aderirem

ao Plano, nos termos de regulamento. Segundo o texto

legal, poderão colaborar com o Plano Nacional de

Cultura, em caráter voluntário, outros entes, públicos e

privados, tais como empresas, organizações corporativas

e sindicais, organizações da sociedade civil, fundações,

pessoas físicas e jurídicas que se mobilizem para a

garantia dos princípios, objetivos, diretrizes e metas do

PNC, estabelecendo termos de adesão específicos. Por

derradeiro, o artigo supramencionado estabelece que o

Ministério da Cultura exercerá a função de coordenação

executiva do Plano Nacional de Cultura - PNC, conforme

esta Lei, ficando responsável pela organização de suas

100

instâncias, pelos termos de adesão, pela implantação do

Sistema Nacional de Informações e Indicadores

Culturais - SNIIC, pelo estabelecimento de metas, pelos

regimentos e demais especificações necessárias à sua

implantação.

O Plano Nacional de Cultura estabelece, ao

versar acerca do Sistema de Monitoramento e Avaliação,

que compete ao Ministério da Cultura monitorar e

avaliar periodicamente o alcance das diretrizes e eficácia

das metas do Plano Nacional de Cultura com base em

indicadores nacionais, regionais e locais que

quantifiquem a oferta e a demanda por bens, serviços e

conteúdos, os níveis de trabalho, renda e acesso da

cultura, de institucionalização e gestão cultural, de

desenvolvimento econômico-cultural e de implantação

sustentável de equipamentos culturais. Neste aspecto,

ainda, o processo de monitoramento e avaliação do PNC

contará com a participação do Conselho Nacional de

Política Cultural, tendo o apoio de especialistas, técnicos

e agentes culturais, de institutos de pesquisa, de

universidades, de instituições culturais, de organizações

e redes socioculturais, além do apoio de outros órgãos

colegiados de caráter consultivo, na forma do

regulamento. Por sua vez, o Sistema Nacional de

101

Informações e Indicadores Culturais - SNIIC, instituído

pelo artigo 9º70, é dotado dos seguintes objetivos: (i)

coletar, sistematizar e interpretar dados, fornecer

metodologias e estabelecer parâmetros à mensuração da

atividade do campo cultural e das necessidades sociais

por cultura, que permitam a formulação, monitoramento,

gestão e avaliação das políticas públicas de cultura e das

políticas culturais em geral, verificando e racionalizando

a implementação do PNC e sua revisão nos prazos

previstos; (ii) disponibilizar estatísticas, indicadores e

outras informações relevantes para a caracterização da

demanda e oferta de bens culturais, para a construção de

modelos de economia e sustentabilidade da cultura, para

a adoção de mecanismos de indução e regulação da

atividade econômica no campo cultural, dando apoio aos

gestores culturais públicos e privados; (iii) exercer e

facilitar o monitoramento e avaliação das políticas

públicas de cultura e das políticas culturais em geral,

assegurando ao poder público e à sociedade civil o

acompanhamento do desempenho do PNC.

Por fim, o Sistema Nacional de Informações e

70 BRASIL. Lei nº 12.343, de 02 de Dezembro de 2010. Institui o

Plano Nacional de Cultura – PNC, cria o Sistema Nacional de

Informações e Indicadores Culturais – SNIIC e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso

em 12 mar. 2015.

102

Indicadores Culturais - SNIIC terá as seguintes

características: (i) obrigatoriedade da inserção e

atualização permanente de dados pela União e pelos

Estados, Distrito Federal e Municípios que vierem a

aderir ao Plano; (ii) caráter declaratório; (iii) processos

informatizados de declaração, armazenamento e extração

de dados; (iv) ampla publicidade e transparência para as

informações declaradas e sistematizadas,

preferencialmente em meios digitais, atualizados

tecnologicamente e disponíveis na rede mundial de

computadores. O declarante será responsável pela

inserção de dados no programa de declaração e pela

veracidade das informações inseridas na base de

dados. As informações coletadas serão processadas de

forma sistêmica e objetiva e deverão integrar o processo

de monitoramento e avaliação do PNC. O Ministério da

Cultura poderá promover parcerias e convênios com

instituições especializadas na área de economia da

cultura, de pesquisas socioeconômicas e demográficas

para a constituição do Sistema Nacional de Informações

e Indicadores Culturais - SNIIC.

5 DA EDIFICAÇÃO DA UNIVERSALIZAÇÃO DO

ACESSO AO PATRIMÔNIO CULTURAL:

103

PONDERAÇÕES À LEI Nº 12.343/2010

O acesso à arte e à cultura, à memória e ao

conhecimento é um direito constitucional e condição

fundamental para o exercício pleno da cidadania e para a

formação da subjetividade e dos valores sociais. É

necessário, para tanto, ultrapassar o estado de carência e

falta de contato com os bens simbólicos e conteúdos

culturais que as acentuadas desigualdades

socioeconômicas produziram nas cidades brasileiras, nos

meios rurais e nos demais territórios em que vivem as

populações. Igualmente, é carecido ampliar o horizonte

de contato de nossa população com os bens simbólicos e

os valores culturais do passado e do presente,

diversificando as fontes de informação. Isso requer a

qualificação dos ambientes e equipamentos culturais em

patamares contemporâneos, aumento e diversificação da

oferta de programações e exposições, atualização das

fontes e canais de conexão com os produtos culturais e a

ampliação das opções de consumo cultural

doméstico. Faz-se premente, assim, diversificar a ação do

Estado, gerando suporte aos produtores das diversas

manifestações criativas e expressões simbólicas,

alargando as possibilidades de experimentação e criação

104

estética, inovação e resultado. Isso pressupõe novas

conexões, formas de cooperação e relação institucional

entre artistas, criadores, mestres, produtores, gestores

culturais, organizações sociais e instituições locais. Por

derradeiro, na busca da universalização do acesso ao

patrimônio cultural, Estado e sociedade devem pactuar

esforços para garantir as condições necessárias à

realização dos ciclos que constituem os fenômenos

culturais, fazendo com que sejam disponibilizados para

quem os demanda e necessita.

Entre as estratégias e ações para a

universalização do acesso ao patrimônio cultural, pode-se

estabelecer, como objetivo geral, ampliar e diversificar as

ações de formação e fidelização de público, a fim de

qualificar o contato com e a fruição das artes e das

culturas, brasileiras e internacionais e aproximar as

esferas de recepção pública e social das criações

artísticas e expressões culturais. A título de objetivos

específicos: (i) promover o financiamento de políticas de

formação de público, para permitir a disponibilização de

repertórios, de acervos, de documentos e de obras de

referência, incentivando projetos e ações; (ii) criar

programas e subsídios para a ampliação de oferta e

redução de preços estimulando acesso aos produtos, bens

105

e serviços culturais, incorporando novas tecnologias da

informação e da comunicação nessas estratégias; (iii)

estimular as associações de amigos, clubes, associações,

sociedades e outras formas comunitárias que

potencializem o acesso a bens e serviços em

equipamentos culturais (iv) identificar e divulgar, por

meio de seleções, prêmios e outras formas de incentivo,

iniciativas de formação, desenvolvimento de arte

educação e qualificação da fruição cultural; (v) ampliar o

acesso à fruição cultural, por meio de programas voltados

a crianças, jovens, idosos e pessoas com deficiência,

articulando iniciativas como a oferta de transporte,

descontos e ingressos gratuitos, ações educativas e

visitas a equipamentos culturais; (vi) implantar, em

parceria com as empresas empregadoras, programas de

acesso à cultura para o trabalhador brasileiro, que

permitam a expansão do consumo e o estímulo à

formalização do mercado de bens, serviços e conteúdos

culturais.

São, ainda, objetivos específicos: (vii) promover

a integração entre espaços educacionais, esportivos,

praças e parques de lazer e culturais, com o objetivo de

aprimorar as políticas de formação de público,

especialmente na infância e juventude; (viii) estimular e

106

fomentar a instalação, a manutenção e a atualização de

equipamentos culturais em espaços de livre acesso,

dotando-os de ambientes atrativos e de dispositivos

técnicos e tecnológicos adequados à produção, difusão,

preservação e intercâmbio artístico e cultural,

especialmente em áreas ainda desatendidas e com

problemas de sustentação econômica; (ix) garantir que os

equipamentos culturais ofereçam infraestrutura,

arquitetura, design, equipamentos, programação, acervos

e atividades culturais qualificados e adequados às

expectativas de acesso, de contato e de fruição do público,

garantindo a especificidade de pessoas com necessidades

especiais; (x) estabelecer e fomentar programas de

amparo e apoio à manutenção e gestão em rede de

equipamentos culturais, potencializando investimento e

garantindo padrões de qualidade; (xi) instalar espaços de

exibição audiovisual nos centros culturais, educativos e

comunitários de todo o País, especialmente aqueles

localizados em áreas de vulnerabilidade social ou de

baixos índices de acesso à cultura, disponibilizando

aparelhos multimídia e digitais e promovendo a

expansão dos circuitos de exibição; (xii) reabilitar os

teatros, praças, centros comunitários, bibliotecas,

cineclubes e cinemas de bairro, criando programas

107

estaduais e municipais de circulação de produtos,

circuitos de exibição cinematográfica, eventos culturais e

demais programações; (xiii) mapear espaços ociosos,

patrimônio público e imóveis da União, criando

programas para apoiar e estimular o seu uso para a

realização de manifestações artísticas e culturais,

espaços de ateliês, plataformas criativas e núcleos de

produção independente.

Por derradeiro, são, ainda, objetivos

específicos: (xiv) fomentar unidades móveis com

infraestrutura adequada à criação e à apresentação

artística, oferta de bens e produtos culturais, atendendo

às comunidades de todas as regiões brasileiras,

especialmente de regiões rurais ou remotas dos centros

urbanos; (xv) estabelecer critérios técnicos para a

construção e reforma de equipamentos culturais,

bibliotecas, praças, assim como outros espaços públicos

culturais, dando ênfase à criação arquitetônica e

ao design, estimulando a criação de profissionais

brasileiros e estrangeiros de valor internacional; (xvi)

implantar, ampliar e atualizar espaços multimídia em

instituições e equipamentos culturais, conectando-os em

rede para ampliar a experimentação, criação, fruição e

difusão da cultura por meio da tecnologia digital,

108

democratizando as capacidades técnicas de produção, os

dispositivos de consumo e a recepção das obras e

trabalhos, principalmente aqueles desenvolvidos em

suportes digitais; (xvii) implementar uma política

nacional de digitalização e atualização tecnológica de

laboratórios de produção, conservação, restauro e

reprodução de obras artísticas, documentos e acervos

culturais mantidos em museus, bibliotecas e arquivos,

integrando seus bancos de conteúdos e recursos

tecnológicos; (xviii) garantir a implantação e manutenção

de bibliotecas em todos os Municípios brasileiros como

espaço fundamental de informação, de memória literária,

da língua e do design gráfico, de formação e educação, de

lazer e fruição cultural, expandindo, atualizando e

diversificando a rede de bibliotecas públicas e

comunitárias e abastecendo-as com os acervos mínimos

recomendados pela Unesco, acrescidos de integração

digital e disponibilização de sites de referência; (xix)

estimular a criação de centros de referência e

comunitários voltados às culturas populares, ao

artesanato, às técnicas e aos saberes tradicionais com a

finalidade de registro e transmissão da memória,

desenvolvimento de pesquisas e valorização das tradições

locais; (xx) estabelecer parcerias entre o poder público,

109

escritórios de arquitetura e design, técnicos e

especialistas, artistas, críticos e curadores, produtores e

empresários para a manutenção de equipamentos

culturais que abriguem a produção contemporânea e

reflitam sobre ela, motivando a pesquisa contínua de

linguagens e interações destas com outros campos das

expressões culturais brasileiras; e (xxi) fomentar a

implantação, manutenção e qualificação dos museus nos

Municípios brasileiros, com o intuito de preservar e

difundir o patrimônio cultural, promover a fruição

artística e democratizar o acesso, dando destaque à

memória das comunidades e localidades.

Figura, ainda, como estratégia, o

estabelecimento de redes de equipamentos culturais

geridos pelo poder público, pela iniciativa privada, pelas

comunidades ou por artistas e grupos culturais, de forma

a propiciar maior acesso e o compartilhamento de

programações, experiências, informações e acervos. Para

tanto, é necessário: (i) estimular a formação de redes de

equipamentos públicos e privados conforme os perfis

culturais e vocações institucionais, promovendo

programações diferenciadas para gerações distintas,

principalmente as dedicadas às crianças e aos jovens; e

(ii) atualizar e ampliar a rede de centros técnicos de

110

produção e finalização de produtos culturais,

aumentando suas capacidades de operação e

atendimento, promovendo a articulação com redes de

distribuição de obras, sejam as desenvolvidas em

suportes tradicionais, sejam as multimídias,

audiovisuais, digitais e desenvolvidas por meio de novas

tecnologias. É computado, também, como estratégia para

a universalização do acesso à cultura a organização, em

rede, da infraestrutura de arquivos, bibliotecas, museus

e outros centros de documentação, atualizando os

conceitos e os modelos de promoção cultural, gestão

técnica profissional e atendimento ao público, reciclando

a formação e a estrutura institucional, ampliando o

emprego de recursos humanos inovadores, de tecnologias

e de modelos de sustentabilidade econômica, efetivando a

constituição de uma rede nacional que dinamize esses

equipamentos públicos e privados.

Ademais, para que haja a concreção do

sobredito escopo, é imprescindível: (i) instituir programas

em parceria com a iniciativa privada e organizações civis

para a ampliação da circulação de bens culturais

brasileiros e abertura de canais de prospecção e

visibilidade para a produção jovem e independente,

disponibilizando-a publicamente por meio da captação e

111

transmissão de conteúdos em rede, dando acesso público

digital aos usuários e consumidores; (ii) garantir a

criação, manutenção e expansão da rede de

universidades públicas, desenvolvendo políticas públicas

e a articulação com as pró-reitorias de cultura e

extensão, para os equipamentos culturais universitários,

os laboratórios de criação artística e experimentação

tecnológica, os cursos e carreiras que formam criadores e

interagem com o campo cultural e artístico,

principalmente nas universidades públicas e centros de

formação técnica e profissionalizante; (iii) desenvolver

redes e financiar programas de incorporação de design,

tecnologias construtivas e de materiais, inovação e

sustentabilidade para a qualificação dos equipamentos

culturais brasileiros, permitindo construir espaços de

referência que disponibilizem objetos projetados por

criadores brasileiros históricos. Qualificar em rede as

livrarias e os cafés presentes nesses equipamentos,

ampliando a relação do público com as soluções

ergonômicas e técnicas desenvolvidas no País

pelo design.

112

REFERÊNCIA:

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito

Constitucional. 21 ed. atual. São Paulo: Editora

Malheiros Ltda., 2007.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da)

República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

__________. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de

2000. Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

__________. Decreto-Lei N° 25, de 30 de novembro de

1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e

artístico nacional. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

__________. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981.

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

__________. Lei nº 12.343, de 02 de Dezembro de

2010. Institui o Plano Nacional de Cultura – PNC, cria o

Sistema Nacional de Informações e Indicadores

Culturais – SNIIC e dá outras providências. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mar.

2015.

113

__________. Supremo Tribunal Federal. Disponível

em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

__________. Tribunal Regional Federal da Segunda

Região. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 12

mar. 2015.

BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna

classificação do meio-ambiente, o seu remodelamento e a

problemática sobre a existência ou a inexistência das

classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-ambiente

misto. Boletim Jurídico, Uberaba, a. 5, n. 968.

Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 12 mar. 2015.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de

Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio

de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São

Paulo: Editora Saraiva, 2012.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo

Brasileiro, 38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012.

MINAS GERAIS (ESTADO). Tribunal de Justiça do

Estado de Minas Gerais. Disponível em:

<www.tjmg.jus.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito

Constitucional – Teoria, Jurisprudência e 1.000

Questões 15 ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro:

Editora Impetus, 2004.

114

RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível

em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago.

Direito Constitucional Ambiental: Constituição,

Direitos Fundamentais e Proteção do Ambiente. 2

ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental

Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 2009.

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental:

Conforme o Novo Código Florestal e a Lei

Complementar 140/2011. 2 ed. Salvador: Editora

JusPodivm, 2012.

VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário

do Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas,

Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em:

<http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 12 mar. 2015.

115

TESSITURAS À PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS

BENS CULTURAIS: A UNIVERSALIDADE DO MEIO

AMBIENTE CULTURAL

Resumo: Em sede de comentários introdutórios,

cuida salientar que o meio ambiente cultural é

constituído por bens culturais, cuja acepção

compreende aqueles que possuem valor histórico,

artístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico,

fossilífero, turístico, científico, refletindo as

características de uma determinada sociedade. A

cultura brasileira é o resultado daquilo que era

próprio das populações tradicionais indígenas e das

transformações trazidas pelos diversos grupos

colonizadores e escravos africanos. Nesta toada, ao se

analisar o meio ambiente cultural, enquanto complexo

macrossistema, é perceptível que é algo incorpóreo,

abstrato, fluído, constituído por bens culturais

materiais e imateriais portadores de referência à

memória, à ação e à identidade dos distintos grupos

formadores da sociedade brasileira. O conceito de

116

patrimônio histórico e artístico nacional abrange

todos os bens moveis e imóveis, existentes no País,

cuja conservação seja de interesse público, por sua

vinculação a fatos memoráveis da História pátria ou

por seu excepcional valor artístico, arqueológico,

etnográfico, bibliográfico e ambiental. Imerso nas

ponderações aventadas até o momento, cuida elucidar

que a proteção de um patrimônio mundial, cultural e

natural, pode ser insuficiente em escala nacional,

porquanto, corriqueiramente, é necessária a utilização

de recursos econômicos de grande vulto. No mais, não

é possível suprimir a premissa que o desaparecimento

e a degradação de um bem do patrimônio cultural e

natural afigura um empobrecimento nefasto do

patrimônio de todos os povos do mundo.

Palavras-chaves: Meio Ambiente Cultural. Proteção

Internacional. Bens Culturais

Sumário: 1 Ponderações Introdutórias: Breves notas

à construção teórica do Direito Ambiental; 2

Comentários à concepção de Meio Ambiente; 3 Meio

Ambiente e Patrimônio Cultural: Aspectos

Introdutórios; 4 Proteção Internacional dos Bens

Culturais

117

1 PONDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS: BREVES

NOTAS À CONSTRUÇÃO TEÓRICA DO DIREITO

AMBIENTAL

Inicialmente, ao se dispensar um exame acerca

do tema colocado em tela, patente se faz arrazoar que a

Ciência Jurídica, enquanto um conjunto multifacetado de

arcabouço doutrinário e técnico, assim como as robustas

ramificações que a integram, reclama uma interpretação

alicerçada nos plurais aspectos modificadores que

passaram a influir em sua estruturação. Neste alamiré,

lançando à tona os aspectos característicos de

mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-

se imperioso salientar, com ênfase, que não mais subsiste

uma visão arrimada em preceitos estagnados e

estanques, alheios às necessidades e às diversidades

sociais que passaram a contornar os Ordenamentos

Jurídicos. Ora infere-se que não mais prospera o

arcabouço imutável que outrora sedimentava a aplicação

das leis, sendo, em decorrência dos anseios da população,

suplantados em uma nova sistemática.

Com espeque em tais premissas, cuida

hastear, com bastante pertinência, como flâmula de

interpretação o “prisma de avaliação o brocardo jurídico

118

'Ubi societas, ibi jus', ou seja, 'Onde está a sociedade, está

o Direito', tornando explícita e cristalina a relação de

interdependência que esse binômio mantém”71. Destarte,

com clareza solar, denota-se que há uma interação

consolidada na mútua dependência, já que o primeiro

tem suas balizas fincadas no constante processo de

evolução da sociedade, com o fito de que seus Diplomas

Legislativos e institutos não fiquem inquinados de

inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a

realidade vigente. A segunda, por sua vez, apresenta

estrutural dependência das regras consolidadas pelo

Ordenamento Pátrio, cujo escopo primevo é assegurar

que não haja uma vingança privada, afastando, por

extensão, qualquer ranço que rememore priscas eras em

que o homem valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho,

dente por dente”), bem como para evitar que se robusteça

um cenário caótico no seio da coletividade.

Ademais, com a promulgação da Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988,

imprescindível se fez adotá-la como maciço axioma de

sustentação do Ordenamento Brasileiro, precipuamente

71 VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário do

Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas, Bauru, 22 jun.

2009. Disponível em: <http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 04 ago.

2013.

119

quando se objetiva a amoldagem do texto legal, genérico

e abstrato, aos complexos anseios e múltiplas

necessidades que influenciam a realidade

contemporânea. Ao lado disso, há que se citar o voto

magistral voto proferido pelo Ministro Eros Grau, ao

apreciar a Ação de Descumprimento de Preceito

Fundamental Nº. 46/DF, “o direito é um organismo vivo,

peculiar porém porque não envelhece, nem permanece

jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um

dinamismo. Essa, a sua força, o seu fascínio, a sua

beleza”72. Como bem pontuado, o fascínio da Ciência

Jurídica jaz, justamente, na constante e imprescindível

mutabilidade que apresenta, decorrente do dinamismo

que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos

72 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Arguição de

Descumprimento de Preceito Fundamental Nº. 46/DF. Empresa

Pública de Correios e Telégrafos. Privilégio de Entrega de

Correspondências. Serviço Postal. Controvérsia referente à Lei

Federal 6.538, de 22 de Junho de 1978. Ato Normativo que regula

direitos e obrigações concernentes ao Serviço Postal. Previsão de

Sanções nas Hipóteses de Violação do Privilégio Postal.

Compatibilidade com o Sistema Constitucional Vigente. Alegação de

afronta ao disposto nos artigos 1º, inciso IV; 5º, inciso XIII, 170,

caput, inciso IV e parágrafo único, e 173 da Constituição do Brasil.

Violação dos Princípios da Livre Concorrência e Livre Iniciativa. Não

Caracterização. Arguição Julgada Improcedente. Interpretação

conforme à Constituição conferida ao artigo 42 da Lei N. 6.538, que

estabelece sanção, se configurada a violação do privilégio postal da

União. Aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º, da lei.

Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Marcos Aurélio.

Julgado em 05 ag. 2009. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em

04 ago. 2013.

120

Diplomas Legais e os institutos jurídicos neles

consagrados.

Ainda neste substrato de exposição, pode-se

evidenciar que a concepção pós-positivista que passou a

permear o Direito, ofertou, por via de consequência, uma

rotunda independência dos estudiosos e profissionais da

Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento

de Verdan, “esta doutrina é o ponto culminante de uma

progressiva evolução acerca do valor atribuído aos

princípios em face da legislação”73. Destarte, a partir de

uma análise profunda dos mencionados sustentáculos,

infere-se que o ponto central da corrente pós-positivista

cinge-se à valoração da robusta tábua principiológica que

Direito e, por conseguinte, o arcabouço normativo

passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho

vinculante, flâmulas hasteadas a serem adotadas na

aplicação e interpretação do conteúdo das leis, diante das

situações concretas.

Nas últimas décadas, o aspecto de

mutabilidade tornou-se ainda mais evidente, em especial,

quando se analisa a construção de novos que derivam da

Ciência Jurídica. Entre estes, cuida destacar a

ramificação ambiental, considerando como um ponto de

73 VERDAN, 2009, s.p.

121

congruência da formação de novos ideários e cânones,

motivados, sobretudo, pela premissa de um manancial de

novos valores adotados. Nesta trilha de argumentação,

de boa técnica se apresenta os ensinamentos de

Fernando de Azevedo Alves Brito que, em seu artigo,

aduz: “Com a intensificação, entretanto, do interesse dos

estudiosos do Direito pelo assunto, passou-se a desvendar

as peculiaridades ambientais, que, por estarem muito

mais ligadas às ciências biológicas, até então era

marginalizadas”74. Assim, em decorrência da

proeminência que os temas ambientais vêm, de maneira

paulatina, alcançando, notadamente a partir das últimas

discussões internacionais envolvendo a necessidade de

um desenvolvimento econômico pautado em

sustentabilidade, não é raro que prospere, mormente em

razão de novos fatores, um verdadeiro remodelamento ou

mesmo uma releitura dos conceitos que abalizam a

ramificação ambiental do Direito, com o fito de permitir

que ocorra a conservação e recuperação das áreas

degradadas, primacialmente as culturais.

74 BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna classificação do

meio-ambiente, o seu remodelamento e a problemática sobre a

existência ou a inexistência das classes do meio-ambiente do

trabalho e do meio-ambiente misto. Boletim Jurídico, Uberaba,

ano 5, n. 968. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 04 ago. 2013.

122

Ademais, há de ressaltar ainda que o direito

ambiental passou a figurar, especialmente, depois das

décadas de 1950 e 1960, como um elemento integrante da

farta e sólida tábua de direitos fundamentais. Calha

realçar, com cores quentes, que mais contemporâneos, os

direitos que constituem a terceira dimensão recebem a

alcunha de direitos de fraternidade ou, ainda, de

solidariedade, contemplando, em sua estrutura, uma

patente preocupação com o destino da humanidade75.

Ora, daí se verifica a inclusão de meio ambiente como um

direito fundamental, logo, está umbilicalmente atrelado

com humanismo e, por extensão, a um ideal de sociedade

mais justa e solidária. Nesse sentido, ainda, é plausível

citar o artigo 3°., inciso I, da Carta de 1988 que abriga

em sua redação tais pressupostos como os princípios

fundamentais do Estado Democrático de Direitos: “Art.

3º - Constituem objetivos fundamentais da República

Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre,

justa e solidária”76.

Ainda nesta esteira, é possível verificar que a

75 MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito Constitucional –

Teoria, Jurisprudência e 1.000 Questões 15 ed., rev., ampl. e

atual. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2004, p. 69. 76 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

123

construção dos direitos encampados sob a rubrica de

terceira dimensão tende a identificar a existência de

valores concernentes a uma determinada categoria de

pessoas, consideradas enquanto unidade, não mais

prosperando a típica fragmentação individual de seus

componentes de maneira isolada, tal como ocorria em

momento pretérito. Com o escopo de ilustrar, de maneira

pertinente as ponderações vertidas, insta trazer à colação

o entendimento do Ministro Celso de Mello, ao apreciar a

Ação Direta de Inconstitucionalidade N°. 1.856/RJ, em

especial quando destaca:

Cabe assinalar, Senhor Presidente, que os

direitos de terceira geração (ou de

novíssima dimensão), que materializam

poderes de titularidade coletiva atribuídos,

genericamente, e de modo difuso, a todos os

integrantes dos agrupamentos sociais,

consagram o princípio da solidariedade e

constituem, por isso mesmo, ao lado dos

denominados direitos de quarta geração

(como o direito ao desenvolvimento e o

direito à paz), um momento importante no

processo de expansão e reconhecimento dos

direitos humanos, qualificados estes,

enquanto valores fundamentais

indisponíveis, como prerrogativas

impregnadas de uma natureza

essencialmente inexaurível77.

77 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

124

“Têm primeiro por destinatários o gênero

humano mesmo, num momento expressivo de sua

afirmação como valor supremo em termos de

existencialidade concreta”78. Com efeito, os direitos de

terceira dimensão, dentre os quais se inclui ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, positivado na

Constituição Federal de 1988, emerge com um claro e

tangível aspecto de familiaridade, como ápice da evolução

e concretização dos direitos fundamentais. Verifica-se,

neste cenário, a concreção dos ideários de solidariedade,

ultrapassando a individualidade egoística que tendia a

qualificar os direitos humanos construídos,

sensibilizando-se para uma realidade coletiva,

ultrapassando a premissa da sociedade como constituída

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 04 ago. 2013. 78 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 21 ed.

atual. São Paulo: Editora Malheiros Ltda., 2007, p. 569.

125

por um grupamento de indivíduos, imprimindo a

fraternidade como traço caracterizador.

2 COMENTÁRIOS À CONCEPÇÃO DE MEIO

AMBIENTE

Em uma primeira plana, ao lançar mão do

sedimentado jurídico-doutrinário apresentado pelo inciso

I do artigo 3º da Lei Nº. 6.938, de 31 de agosto de 198179,

que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,

seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá

outras providências, salienta que o meio ambiente

consiste no conjunto e conjunto de condições, leis e

influências de ordem química, física e biológica que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Pois bem, com o escopo de promover uma facilitação do

aspecto conceitual apresentado, é possível verificar que o

meio ambiente se assenta em um complexo diálogo de

fatores abióticos, provenientes de ordem química e física,

e bióticos, consistentes nas plurais e diversificadas

formas de seres viventes. Consoante os ensinamentos de

79 BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

126

Silva, considera-se meio-ambiente como “a interação do

conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que

propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em

todas as suas formas”80.

Nesta senda, ainda, Fiorillo81, ao tecer

comentários acerca da acepção conceitual de meio

ambiente, coloca em destaque que tal tema se assenta em

um ideário jurídico indeterminado, incumbindo, ao

intérprete das leis, promover o seu preenchimento. Dada

à fluidez do tema, é possível colocar em evidência que o

meio ambiente encontra íntima e umbilical relação com

os componentes que cercam o ser humano, os quais são

de imprescindível relevância para a sua existência. O

Ministro Luiz Fux, ao apreciar a Ação Direta de

Inconstitucionalidade N°. 4.029/AM, salientou, com

bastante pertinência, que:

[...] o meio ambiente é um conceito hoje

geminado com o de saúde pública, saúde de

cada indivíduo, sadia qualidade de vida, diz

a Constituição, é por isso que estou falando

de saúde, e hoje todos nós sabemos que ele é

imbricado, é conceitualmente geminado com

o próprio desenvolvimento. Se antes nós

80 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São

Paulo: Malheiros Editores, 2009, p.20. 81 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São Paulo:

Editora Saraiva, 2012, p. 77.

127

dizíamos que o meio ambiente é compatível

com o desenvolvimento, hoje nós dizemos, a

partir da Constituição, tecnicamente, que

não pode haver desenvolvimento senão com

o meio ambiente ecologicamente

equilibrado. A geminação do conceito me

parece de rigor técnico, porque salta da

própria Constituição Federal82.

É denotável, desta sorte, que a

constitucionalização do meio ambiente no Brasil

viabilizou um verdadeiro salto qualitativo, no que

concerne, especificamente, às normas de proteção

ambiental. Tal fato decorre da premissa que os robustos

corolários e princípios norteadores foram alçados ao

patamar constitucional, assumindo colocação eminente,

ao lado das liberdades públicas e dos direitos

fundamentais. Superadas tais premissas, aprouve ao

Constituinte, ao entalhar a Carta Política Brasileira,

82 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 4.029/AM. Ação Direta de

Inconstitucionalidade. Lei Federal Nº 11.516/07. Criação do Instituto

Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Legitimidade da

Associação Nacional dos Servidores do IBAMA. Entidade de Classe

de Âmbito Nacional. Violação do art. 62, caput e § 9º, da

Constituição. Não emissão de parecer pela Comissão Mista

Parlamentar. Inconstitucionalidade dos artigos 5º, caput, e 6º, caput

e parágrafos 1º e 2º, da Resolução Nº 1 de 2002 do Congresso

Nacional. Modulação dos Efeitos Temporais da Nulidade (Art. 27 da

Lei 9.868/99). Ação Direta Parcialmente Procedente. Órgão

Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Ministro Luiz Fux. Julgado em 08

mar. 2012. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em 04 ago.

2013.

128

ressoando os valores provenientes dos direitos de terceira

dimensão, insculpir na redação do artigo 225, conceder

amplo e robusto respaldo ao meio ambiente como pilar

integrante dos direitos fundamentais. “Com o advento da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,

as normas de proteção ambiental são alçadas à categoria

de normas constitucionais, com elaboração de capítulo

especialmente dedicado à proteção do meio ambiente”83.

Nesta toada, ainda, é observável que o caput do artigo

225 da Constituição Federal de 198884 está abalizado em

quatro pilares distintos, robustos e singulares que, em

conjunto, dão corpo a toda tábua ideológica e teórica que

assegura o substrato de edificação da ramificação

ambiental.

Primeiramente, em decorrência do tratamento

dispensado pelo artífice da Constituição Federal, o meio

ambiente foi içado à condição de direito de todos,

presentes e futuras gerações. É encarado como algo

83 THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental: Conforme o

Novo Código Florestal e a Lei Complementar 140/2011. 2 ed.

Salvador: Editora JusPodivm, 2012, p. 116. 84 BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República

Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013: “Art. 225.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

129

pertencente a toda coletividade, assim, por esse prisma,

não se admite o emprego de qualquer distinção entre

brasileiro nato, naturalizado ou estrangeiro, destacando-

se, sim, a necessidade de preservação, conservação e não-

poluição. O artigo 225, devido ao cunho de direito difuso

que possui, extrapola os limites territoriais do Estado

Brasileiro, não ficando centrado, apenas, na extensão

nacional, compreendendo toda a humanidade. Neste

sentido, o Ministro Celso de Mello, ao apreciar a Ação

Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ, destacou

que:

A preocupação com o meio ambiente - que

hoje transcende o plano das presentes

gerações, para também atuar em favor das

gerações futuras (...) tem constituído, por

isso mesmo, objeto de regulações

normativas e de proclamações jurídicas,

que, ultrapassando a província meramente

doméstica do direito nacional de cada

Estado soberano, projetam-se no plano das

declarações internacionais, que refletem, em

sua expressão concreta, o compromisso das

Nações com o indeclinável respeito a esse

direito fundamental que assiste a toda a

Humanidade85.

85 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão proferido em

Ação Direta de Inconstitucionalidade N° 1.856/RJ. Ação Direta De

Inconstitucionalidade - Briga de galos (Lei Fluminense Nº 2.895/98) -

Legislação Estadual que, pertinente a exposições e a competições

entre aves das raças combatentes, favorece essa prática criminosa -

Diploma Legislativo que estimula o cometimento de atos de

crueldade contra galos de briga - Crime Ambiental (Lei Nº 9.605/98,

130

O termo “todos”, aludido na redação do

caput do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, faz

menção aos já nascidos (presente geração) e ainda

aqueles que estão por nascer (futura geração), cabendo

àqueles zelar para que esses tenham à sua disposição, no

mínimo, os recursos naturais que hoje existem. Tal fato

encontra como arrimo a premissa que foi reconhecido ao

gênero humano o direito fundamental à liberdade, à

igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em

ambiente que permita desenvolver todas as suas

potencialidades em clima de dignidade e bem-estar.

Pode-se considerar como um direito transgeracional, ou

seja, ultrapassa as gerações, logo, é viável afirmar que o

meio-ambiente é um direito público subjetivo. Desta

feita, o ideário de que o meio ambiente substancializa

patrimônio público a ser imperiosamente assegurado e

ART. 32) - Meio Ambiente - Direito à preservação de sua integridade

(CF, Art. 225) - Prerrogativa qualificada por seu caráter de

metaindividualidade - Direito de terceira geração (ou de novíssima

dimensão) que consagra o postulado da solidariedade - Proteção

constitucional da fauna (CF, Art. 225, § 1º, VII) - Descaracterização

da briga de galo como manifestação cultural - Reconhecimento da

inconstitucionalidade da Lei Estadual impugnada - Ação Direta

procedente. Legislação Estadual que autoriza a realização de

exposições e competições entre aves das raças combatentes - Norma

que institucionaliza a prática de crueldade contra a fauna –

Inconstitucionalidade. . Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator:

Ministro Celso de Mello. Julgado em 26 mai. 2011. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

131

protegido pelos organismos sociais e pelas instituições

estatais, qualificando verdadeiro encargo irrenunciável

que se impõe, objetivando sempre o benefício das

presentes e das futuras gerações, incumbindo tanto ao

Poder Público quanto à coletividade considerada em si

mesma.

Assim, decorrente de tal fato, produz efeito

erga omnes, sendo, portanto, oponível contra a todos,

incluindo pessoa física/natural ou jurídica, de direito

público interno ou externo, ou mesmo de direito privado,

como também ente estatal, autarquia, fundação ou

sociedade de economia mista. Impera, também,

evidenciar que, como um direito difuso, não subiste a

possibilidade de quantificar quantas são as pessoas

atingidas, pois a poluição não afeta tão só a população

local, mas sim toda a humanidade, pois a coletividade é

indeterminada. Nesta senda, o direito à integridade do

meio ambiente substancializa verdadeira prerrogativa

jurídica de titularidade coletiva, ressoando a expressão

robusta de um poder deferido, não ao indivíduo

identificado em sua singularidade, mas num sentido

mais amplo, atribuído à própria coletividade social.

Com a nova sistemática entabulada pela

redação do artigo 225 da Carta Maior, o meio-ambiente

132

passou a ter autonomia, tal seja não está vinculada a

lesões perpetradas contra o ser humano para se

agasalhar das reprimendas a serem utilizadas em

relação ao ato perpetrado. Figura-se, ergo, como bem de

uso comum do povo o segundo pilar que dá corpo aos

sustentáculos do tema em tela. O axioma a ser

esmiuçado, está atrelado o meio-ambiente como vetor da

sadia qualidade de vida, ou seja, manifesta-se na

salubridade, precipuamente, ao vincular a espécie

humana está se tratando do bem-estar e condições

mínimas de existência. Igualmente, o sustentáculo em

análise se corporifica também na higidez, ao cumprir os

preceitos de ecologicamente equilibrado, salvaguardando

a vida em todas as suas formas (diversidade de espécies).

Por derradeiro, o quarto pilar é a

corresponsabilidade, que impõe ao Poder Público o dever

geral de se responsabilizar por todos os elementos que

integram o meio ambiente, assim como a condição

positiva de atuar em prol de resguardar. Igualmente,

tem a obrigação de atuar no sentido de zelar, defender e

preservar, asseverando que o meio-ambiente permaneça

intacto. Aliás, este último se diferencia de conservar que

permite a ação antrópica, viabilizando melhorias no meio

ambiente, trabalhando com as premissas de

133

desenvolvimento sustentável, aliando progresso e

conservação. Por seu turno, o cidadão tem o dever

negativo, que se apresenta ao não poluir nem agredir o

meio-ambiente com sua ação. Além disso, em razão da

referida corresponsabilidade, são titulares do meio

ambiente os cidadãos da presente e da futura geração.

3 MEIO AMBIENTE E PATRIMÔNIO CULTURAL:

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Em sede de comentários introdutórios, cuida

salientar que o meio ambiente cultural é constituído por

bens culturais, cuja acepção compreende aqueles que

possuem valor histórico, artístico, paisagístico,

arqueológico, espeleológico, fossilífero, turístico,

científico, refletindo as características de uma

determinada sociedade. Ao lado disso, quadra anotar que

a cultura identifica as sociedades humanas, sendo

formada pela história e maciçamente influenciada pela

natureza, como localização geográfica e clima. Com

efeito, o meio ambiente cultural decorre de uma intensa

interação entre homem e natureza, porquanto aquele

constrói o seu meio, e toda sua atividade e percepção são

conformadas pela sua cultural. “A cultura brasileira é o

134

resultado daquilo que era próprio das populações

tradicionais indígenas e das transformações trazidas

pelos diversos grupos colonizadores e escravos

africanos”86. Desta maneira, cuida reconhecer que a

proteção do patrimônio cultural se revela como

instrumento robusto da sobrevivência da própria

sociedade.

Nesta toada, ao se analisar o meio ambiente

cultural, enquanto complexo macrossistema, é

perceptível que é algo incorpóreo, abstrato, fluído,

constituído por bens culturais materiais e imateriais

portadores de referência à memória, à ação e à

identidade dos distintos grupos formadores da sociedade

brasileira. Meirelles anota que “o conceito de patrimônio

histórico e artístico nacional abrange todos os bens

moveis e imóveis, existentes no País, cuja conservação seja

de interesse público, por sua vinculação a fatos

memoráveis da História pátria ou por seu excepcional

valor artístico, arqueológico, etnográfico, bibliográfico e

86 BROLLO, Sílvia Regina Salau. Tutela Jurídica do meio

ambiente cultural: Proteção contra a exportação ilícita dos

bens culturais. 106f. Dissertação (Mestrado em Direito) –

Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.

Disponível em:

<http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_arquivos/1/TDE-2006-10-

05T061948Z-421/Publico/SilviaDto.pdf>. Acesso em 04 ago. 2013, p.

15-16.

135

ambiental”87. Quadra anotar que os bens compreendidos

pelo patrimônio cultural compreendem tanto realizações

antrópicas como obras da Natureza; preciosidades do

passado e obras contemporâneas.

Nesta esteira, é possível subclassificar o meio

ambiente cultural em duas espécies distintas, quais

sejam: uma concreta e outra abstrata. Neste passo, o

meio-ambiente cultural concreto, também denominado

material, se revela materializado quando está

transfigurado em um objeto classificado como elemento

integrante do meio-ambiente humano. Assim, é possível

citar os prédios, as construções, os monumentos

arquitetônicos, as estações, os museus e os parques, que

albergam em si a qualidade de ponto turístico, artístico,

paisagístico, arquitetônico ou histórico. Os exemplos

citados alhures, em razão de todos os predicados que

ostentam, são denominados de meio-ambiente cultural

concreto. Acerca do tema em comento, é possível citar o

robusto entendimento jurisprudencial firmado pelo

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, ao apreciar o Recurso

Especial N° 115.599/RS:

Ementa: Meio Ambiente. Patrimônio

87 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro,

38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012, p. 634.

136

cultural. Destruição de dunas em sítios

arqueológicos. Responsabilidade civil.

Indenização. O autor da destruição de

dunas que encobriam sítios arqueológicos

deve indenizar pelos prejuízos causados ao

meio ambiente, especificamente ao meio

ambiente natural (dunas) e ao meio

ambiente cultural (jazidas arqueológicas

com cerâmica indígena da Fase Vieira).

Recurso conhecido em parte e provido.

(Superior Tribunal de Justiça – Quarta

Turma/ REsp 115.599/RS/ Relator: Ministro

Ruy Rosado de Aguiar/ Julgado em

27.06.2002/ Publicado no Diário da Justiça

em 02.09.2002, p. 192).

Diz-se, de outro modo, o meio-ambiente

cultural abstrato, chamado, ainda, de imaterial, quando

este não se apresenta materializado no meio-ambiente

humano, sendo, deste modo, considerado como a cultura

de um povo ou mesmo de uma determinada comunidade.

Da mesma maneira, são alcançados por tal acepção a

língua e suas variações regionais, os costumes, os modos

e como as pessoas relacionam-se, as produções

acadêmicas, literárias e científicas, as manifestações

decorrentes de cada identidade nacional e/ou regional.

Neste sentido, é possível colacionar o entendimento

firmado pelo Tribunal Regional Federal da Segunda

Região, quando, ao apreciar a Apelação Cível N°

2005251015239518, firmou entendimento que “expressões

tradicionais e termos de uso corrente, trivial e

137

disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo”88. Esses aspectos

constituem, sem distinção, abstratamente o meio-

ambiente cultural. No mais, insta salientar que “o

patrimônio cultural imaterial transmite-se de geração a

geração e é constantemente recriado pelas comunidades e

88 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Segunda Região.

Acórdão proferido em Apelação Cível N° 2005251015239518. Direito

da propriedade industrial. Marca fraca e marca de alto renome.

Anulação de marca. Uso compartilhado de signo mercadológico

(ÔMEGA). I – Expressões tradicionais e termos de uso corrente,

trivial e disseminado, reproduzidos em dicionários, integram o

patrimônio cultural de um povo. Palavras dotadas dessas

características podem inspirar o registro de marcas, pelas

peculiaridades de suas expressões eufônicas ou pela sua inegável

repercussão associativa no imaginário do consumidor. II – É fraca a

marca que reproduz a última letra do alfabeto grego (Omega),

utilizado pelo povo helênico desde o século VIII a.C., e inserida pelos

povos eslavos no alfabeto cirílico, utilizado no Império Bizantino

desde o século X d.C. O propósito de sua adoção é, inegavelmente, o

de fazer uso da familiaridade do consumidor com o vocábulo de uso

corrente desde a Antiguidade. III – Se uma marca fraca alcançou

alto renome, a ela só se pode assegurar proteção limitada, despida do

jus excludendi de terceiros, que também fazem uso do mesmo signo

merceológico de boa-fé e em atividade distinta. Nessas

circunstâncias, não há a possibilidade de o consumidor incidir erro

ou, ainda, de se configurar concorrência desleal. IV – Apelação

parcialmente provida tão-somente para ajustar o pólo passivo da

relação processual, fazendo constar o Instituto Nacional de

Propriedade Industrial – INPI como réu, mantida a improcedência

do pedido de invalidação do registro da marca mista OMEGA (nº

818.522.216), classe 20 (móveis e acessórios de cozinha), formulado

por Ômega S.A. Órgão Julgador: Segunda Turma Especializada.

Relator: Desembargador Federal André Fontes. Julgado em

25.08.2007. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 04 ago.

2013.

138

grupos em função de seu ambiente”89, decorrendo, com

destaque, da interação com a natureza e dos

acontecimentos históricos que permeiam a população.

Ao lado do explicitado, pontuar faz-se mister

que o Decreto Nº. 3.551, de 04 de Agosto de 200090, que

institui o registro de bens culturais de natureza

imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências, consiste em instrumento efetivo

para a preservação dos bens imateriais que integram o

meio-ambiente cultural. Como bem aponta Brollo91, em

seu magistério, o aludido decreto não instituiu apenas o

registro de bens culturais de natureza imaterial que

integram o patrimônio cultural brasileiro, mas também

estruturou uma política de inventariança,

referenciamento e valorização desse patrimônio.

Ejeta-se, segundo o entendimento firmado por

Fiorillo92, que os bens que constituem o denominado

89 BROLLO, 2006, p. 33. 90 BRASIL. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de 2000. Institui o

Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem

patrimônio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do

Patrimônio Imaterial e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013. 91 BROLLO, 2006, p. 33. 92 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São Paulo:

Editora Saraiva, 2012, p. 80.

139

patrimônio cultural consistem na materialização da

história de um povo, de todo o caminho de sua formação e

reafirmação de seus valores culturais, os quais têm o

condão de substancializar a identidade e a cidadania dos

indivíduos insertos em uma determinada comunidade.

No mais, necessário faz-se salientar que o meio-ambiente

cultural, conquanto seja artificial, difere-se do meio-

ambiente humano em razão do aspecto cultural que o

caracteriza, sendo dotado de valor especial, notadamente

em decorrência de produzir um sentimento de identidade

no grupo em que se encontra inserido, bem como é

propiciada a constante evolução fomentada pela atenção

à diversidade e à criatividade humana.

4 PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS BENS

CULTURAIS

Imerso nas ponderações aventadas até o

momento, cuida elucidar que a proteção de um

patrimônio mundial, cultural e natural, pode ser

insuficiente em escala nacional, porquanto,

corriqueiramente, é necessária a utilização de recursos

econômicos de grande vulto. Desta feita, objetivando

minorar as ameaças de degradação e evitar, via de

140

consequência, o desaparecimento daquilo que reflete uma

determinada identidade cultural, fez-se imprescindível

instituir a proteção internacional dos bens culturais. No

mais, não é possível suprimir a premissa que o

desaparecimento e a degradação de um bem do

patrimônio cultural e natural afigura um

empobrecimento nefasto do patrimônio de todos os povos

do mundo. Neste sentido, é possível trazer à colação o

preâmbulo da Convenção relativa à Proteção do

Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 06 de

Novembro de 1972, que, com clareza solar, explicita que:

Constatando que o patrimônio cultural e o

patrimônio natural encontram-se cada vez

mais ameaçados de destruição não somente

devido a causas naturais de degradação,

mas também pelo desenvolvimento social e

econômico agravado por fenômenos de

alteração ou de destruição ainda mais

preocupantes; Considerando que a

degradação ou o desaparecimento de um

bem cultural e natural acarreta um

empobrecimento irreversível do patrimônio

de todos os povos do mundo; Considerando

que a proteção desse patrimônio em âmbito

nacional é muitas vezes insatisfatório

devido à magnitude dos meios necessários e

à insuficiência dos recursos financeiros,

científicos e técnicos do país em cujo

território se localiza o bem a ser

salvaguardado, [...] Considerando que as

convenções, recomendações e resoluções

internacionais dedicadas à proteção dos

bens culturais e naturais mostram a

141

importância que constitui, para os povos do

mundo, a salvaguarda desses bens únicos e

insubstituíveis independentemente do povo

ao qual pertençam; Considerando que

determinados bens do patrimônio cultural e

natural são detentores de excepcional

interesse, que exige sua preservação

enquanto elemento do patrimônio de toda

humanidade; Considerando que frente à

amplitude e à gravidade dos novos perigos

que os ameaçam, incumbe à coletividade

internacional participar da proteção do

patrimônio cultural e natural de valor

universal excepcional, prestando assistência

coletiva que, sem substituir a ação do

Estado interessado, a completará

eficazmente; Considerando que para isto é

indispensável adotar novas disposições

convencionais, que estabeleçam um sistema

eficaz de proteção coletiva do patrimônio

cultural e natural de valor universal

excepcional organizadas de modo

permanente, e segundo métodos científicos e

modernos93.

Cuida salientar que a proteção internacional

dos bens culturais é promovida por meio da Convenção

Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e

Natural, sendo introduzida no ordenamento jurídico.

Neste passo, o procedimento para inscrição do bem na

lista do patrimônio cultural e natural mundial observa

quatro fases. A primeira fase consiste na identificação do

93 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. Disponível em: <http://sigep.cprm.gov.br/Convencao_1972.htm>. Acesso em 04 ago. 2013.

142

bem, incumbindo ao Estado integrante da convenção e

interessado em promover a inscrição de um bem alocado

em seu território confecciona um inventário dos bens. Ao

depois, será feita a proposta de inscrição, devendo

especificar o bem, assim como descrever sua situação,

fornecendo informações e indicando os critérios nos quais

ele se enquadra para ser efetivamente inscrito. Por sua

vez, a terceira etapa reside na avaliação, incumbindo ao

centro do patrimônio mundial verificar se as

formalidades foram preenchidas, encaminhando, em

seguida, a documentação para o órgão técnico

especializado, o qual deverá opinar sobre o valor

universal excepcional do bem.

A última etapa consiste na decisão, a qual, em

consonância com o parecer das agências especializadas, o

bem é recomendado para o comitê, a quem cabe a decisão

final, aceitando ou rejeitando o bem proposto. “A

apresentação de novas propostas de inscrição encerra-se

em 1º de julho de cada ano, e o comitê irá deferir ou

indeferir a proposta de inscrição em dezembro do ano

seguinte”94, de maneira que o procedimento tem a

duração de um ano e meio. Convém apontar que a Lista

do Patrimônio Mundial contém mais de quinhentos bens,

94 FIORILLO, 2012, p. 433.

143

encontrando-se em permanente expansão, eis que a cada

ano por volta de trinta novos sítios são inscritos.

Entretanto, apesar desses números, mencionada relação

não reflete a diversidade cultural e natural do mundo, eis

que monumentos religiosos cristãos, as cidades históricas

e a arquitetura elitista recebem maior representação, ao

passo que outras culturas tradicionais vivas e outras

estruturas monumentais não recebem a mesma

relevância e tratamento.

De igual modo, a convenção estipula, ainda,

que deve ser atualizada e divulgada uma Lista do

Patrimônio Mundial em Perigo. Ao lado disso, os bens

elencados na lista são aqueles que correm perigo, estando

de qualquer forma ameaçados e recebem atenção

especial, de modo que sua conservação exige trabalhos

muito específicos. Cuida salientar que na lista em

comento são feitas claras distinções entre catástrofes

causadas pelos homens como as decorrentes de

fenômenos naturais. No mais, os Estados-partes da

convenção empregam-na para mobilizar assistência

internacional para os projetos de restauração ou chamar

a atenção sobre as consequências de conflitos civis que os

afetam. Neste passo, cristalino é o artigo 5º da

Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial,

144

Cultural e Natural, o qual dicciona no sentido que:

Artigo 5º. A fim de assegurar proteção e

conservação eficazes e valorizar de forma

ativa o patrimônio cultural e natural

situado em seu território e em condições

adequadas a cada país, cada Estado-parte

da presente Convenção se empenhará em:

a) adotar uma política geral com vistas a

atribuir uma função ao patrimônio cultural

e natural na vida coletiva e integrar sua

proteção nos programas de planejamento; b)

instituir no seu território, caso não existam,

um ou vários órgãos de proteção,

conservação ou valorização do patrimônio

cultural e natural, dotados de pessoal

capacitado e que disponha de meios que lhes

permitam desempenhar suas atribuições; c)

desenvolver estudos, pesquisas científicas e

técnicas e aperfeiçoar os métodos de

intervenção que permitam ao Estado

enfrentar os perigos que ameaçam seu

patrimônio cultural ou natural; d) tomar as

medidas jurídicas, científicas, técnicas,

administrativas e financeiras cabíveis para

identificar, proteger, conservar, valorizar e

reabilitar o patrimônio; e e) fomentar a

criação ou o desenvolvimento de centros

nacionais ou regionais de formação em

matéria de proteção, conservação ou

valorização do patrimônio cultural e natural

e estimular a pesquisa científica nesse

campo95.

Outra questão a ser destacada refere-se ao

95 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Convenção

relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e

Natural. Disponível em:

<http://sigep.cprm.gov.br/Convencao_1972.htm>. Acesso em 04 ago.

2013

145

Fundo para o Patrimônio Cultural e Natural Mundial em

conjunto com a lista dos bens forma um dos meios para

alcançar os fitos de minimizar as ameaças de destruição

de degradação do patrimônio cultural e natural mundial

da convenção. “Esse fundo é formado pelas contribuições

obrigatórias e voluntárias dos Estados integrantes ou de

qualquer instituição que queira contribuir”96. Entretanto,

a sua existência não tem o condão de retirar a

responsabilidade do Estado de proteger, conservar e

valorizar os bens que integram a lista, utilizando, para

tanto, seus próprios recursos. Tal fato deriva da premissa

que a UNESCO fornecerá aos Estados que precisam

assistência internacional no plano técnico, científico e

financeiro, sendo este último materializado por meio do

Fundo em comento.

REFERÊNCIA:

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito

Constitucional. 21 ed. atual. São Paulo: Editora

Malheiros Ltda., 2007.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da)

República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

96 FIORILLO, 2012, p. 434.

146

BRASIL. Decreto N° 3.551, de 04 de Agosto de 2000.

Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro,

cria o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá

outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

BRASIL. Decreto-Lei N° 25, de 30 de novembro de

1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e

artístico nacional. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

BRASIL. Lei Nº. 6.938, de 31 de Agosto de 1981.

Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras

providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Disponível em:

<www.stf.jus.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

BRASIL. Tribunal Regional Federal da Segunda

Região. Disponível em: <www.trf2.jus.br>. Acesso em 04

ago. 2013.

BRITO, Fernando de Azevedo Alves. A hodierna

classificação do meio-ambiente, o seu remodelamento e a

problemática sobre a existência ou a inexistência das

classes do meio-ambiente do trabalho e do meio-ambiente

misto. Boletim Jurídico, Uberaba, a. 5, n. 968.

Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br>.

Acesso em 04 ago. 2013.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de

Direito Administrativo. 24 ed, rev., atual. e ampl. Rio

147

de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito

Ambiental Brasileiro. 13 ed., rev., atual e ampl. São

Paulo: Editora Saraiva, 2012.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo

Brasileiro, 38 ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2012.

MINAS GERAIS (ESTADO). Tribunal de Justiça do

Estado de Minas Gerais. Disponível em:

<www.tjmg.jus.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, Willian. Direito

Constitucional – Teoria, Jurisprudência e 1.000

Questões 15 ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro:

Editora Impetus, 2004.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).

Convenção relativa à Proteção do Patrimônio

Mundial, Cultural e Natural. Disponível em:

<http://sigep.cprm.gov.br/Convencao_1972.htm>. Acesso

em 04 ago. 2013.

RIO GRANDE DO SUL (ESTADO). Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível

em: <www.tjrs.jus.br>. Acesso em 04 ago. 2013.

SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental

Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores, 2009.

THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental:

Conforme o Novo Código Florestal e a Lei

Complementar 140/2011. 2 ed. Salvador: Editora

JusPodivm, 2012.

148

VERDAN, Tauã Lima. Princípio da Legalidade: Corolário

do Direito Penal. Jurid Publicações Eletrônicas,

Bauru, 22 jun. 2009. Disponível em:

<http://jornal.jurid.com.br>. Acesso em 04 ago. 2013.