cobaia | #117 | 2012

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Fonoaudiologia contra a gagueira 03 Especial Fotografia Moda 16 JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, outubro e novembro de 2012 Edição 117 Distribuição Gratuita Artigo Cobaia Jornal 04 Futuro do jornal impresso em pauta Encontro de jornais-laboratório de SC incentiva debate sobre a produção acadêmica Monike Furtado Coletivo Dois por Quatro Alunos de fotojornalismo clicaram a festa sob a supervisão do professor Eduardo Gomes 07 Rostos e traços da 26º Marejada A tendência é a postura consciente Colagens, pneus e madeiras reutilizadas ditam a moda que pensa no desenvolvimento sustentável Cássia Guerra Um novo caminho A Rua XV de novembro precisa se reinventar para conservar o posto de principal via do comércio em Blumenau 08 Marcelo Martins

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Jornal Cobaia - jornal laboratório do Curso de Jornalismo da Univali, edição nº 117, mês de outubro/novembro.

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Page 1: Cobaia | #117 | 2012

Fonoaudiologia contra a gagueira 03

EspecialFotografia Moda

16

JORNAL LABORATÓRIO DOCURSO DE JORNALISMODA UNIVALIItajaí, outubro e novembro de 2012Edição 117Distribuição Gratuita

Artigo

CobaiaJorn

al

04

Futuro do jornal impresso em pautaEncontro de jornais-laboratório de SC incentiva debate sobre a produção acadêmica

Monike FurtadoColetivo Dois por Quatro

Alunos de fotojornalismo clicaram a festa sob a supervisão do professor Eduardo Gomes

07

Rostos e traços da 26º Marejada A tendência é a postura conscienteColagens, pneus e madeiras reutilizadas ditam a moda que pensa no desenvolvimento sustentável

Cássia Guerra

Um novo caminho

A Rua XV de novembro precisa se reinventar para conservar o posto de principal via do comércio em Blumenau

08

Marcelo Martins

Page 2: Cobaia | #117 | 2012

motivadora: nas páginas cen-trais, o blumenauense Felipe Adam percorre a XV de No-vembro, em Blumenau, para contar um pouco da história local a partir daquela via tão reveladora do perfil da cida-de; na página 03, Marcia Peixe olha o cotidiano de sua terra--natal, Nova Trento, a partir das quatro linhas de um cam-po de futebol; nas páginas 04 e 05, reservamos um espaço para o que nos apaixona a to-dos – o Jornalismo e suas ex-perimentações discutido no 6º Encontro de Jornais-Labo-ratório de Santa Catarina, em que o Cobaia teve a satisfação de compartilhar espaço com o Primeira. Pauta, seu primo--irmão do norte do estado.

Outros temas instigan-tes selecionados por nossos repórteres envolvem saúde, comportamento, memórias, enfim, um mosaico que refle-te os múltiplos interesses das nossas turmas de futuros jor-nalistas, esses curiosos obser-vadores do tempo presente.

Boa leitura!

Jane Cardozo da Silveira*

Ai, ai, ai! Erramos na edi-ção anterior e, o que é pior, duas vezes, ambas

relacionadas ao crédito de foto-grafias: na contracapa, o ensaio sobre o Opa 2012 deveria ter sido assinado pela dupla Camila Laís e Sheila Gastardi – e não exclu-sivamente por Camila, como pu-blicado. Já nas páginas internas 12 e 13, onde se lê Márcia Regina Ferreira – em letras miudinhas, junto das imagens – leia-se Már-cia Cristina Ferreira, tal como se imprimiu no alto da página, em corpo maior e a título de assina-tura da matéria. Feito o registro, pedimos desculpas aos leitores, a nossas repórteres fotográficas e... seguimos em frente, porque não dá para a gente se imobilizar em função dos erros. Ao con-trário, quando os assumimos, servem para apurar nosso olhar, reforçar nossa humildade, incen-tivar nosso aprendizado. Afinal, só comete erros quem age, quem se arrisca e tem coragem de se expor.

Claro que nossa intenção é sempre a de evitá-los e, em fun-ção disso, os textos do Cobaia passam por várias revisões: é um ir e vir interminável de ver-

Jornalismo é apreensão da realidade

Carlos Golembiewski*

IN - Agência Integrada de ComunicaçãoItajaí, outubro e novembro de 2012. Distribuição gratuita

EDIÇÃOJane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP

FOTO PRINCIPAL DE CAPA Marcelo MartinsPROJETO GRÁFICO Raquel CruzDIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio GRÁFICA GrafinorteTIRAGEM 2 mil exemplaresDISTRIBUIÇÃO Nacional

02 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

sões. Que o diga nossa expert em moda, Suelen Figueiredo. Ela se responsabilizou pela reporta-gem sobre tendências de verão, na contracapa, e teve de pesqui-sar bastante para chegar àquele resultado. Com certeza foi um exercício marcante na trajetória dessa futura jornalista que já se converteu em descolada bloguei-ra do mundo fashion.

É assim que o Cobaia funcio-na: deixando que cada acadêmi-co se dedique àquilo que mais o inspira. Esta edição tem muitos exemplos de como a estratégia é

Alertei na coluna anterior o quanto é difícil fazer uma crítica ao material publicado numa edição de um jornal. Tenho absoluta certeza de que cada pessoa que fosse fazer um jornal, o faria da sua maneira. Isso porque um jornal impresso é como um desenho, cada editor faz o seu. Não existe uma edição de jornal igual a outra. Mu-dam as notícias e os critérios de apresentá-las ao leitor. Com isso, quero dizer que as críticas serão sempre no sentido de que cada edição do Cobaia saia melhor.

Na edição de número 116 do jornal Cobaia – que tem como Manchete “OPA 2012 SEM DÚVIDAS” vou me fixar na capa da publicação. A capa, como nos adverte Marques de Melo, é a porta de entrada de um periódico. É ela que convida o leitor para curtir o que foi notícia no jornal. Acredito que nessa edição, ela vendeu pouco o que tinha dentro da publicação. A Manchete principal não foi muito feliz. O que é o OPA? Nem todo mundo sabe, nem todo mundo é aluno da Univali. Achei também que “sem dúvidas” – ficou muito pretensioso. Justamente, o OPA pretende tirar as dúvidas dos futuros alunos, mas dizer que ninguém tem dúvida ficou forte demais. Também podemos dizer que a palavra “dúvida” como foi colocada pode ter gerado um duplo sentido. Ou seja, a idéia de algo “bacana”, “legal”.

A foto que deu sentido à manchete principal também deixou a desejar porque reduziu mais de 50 cursos de graduação da Uni-vali a apenas uma área: a Comunicação ou a Fotografia. Jornalis-mo, como lembram as normas editoriais das Organizações Globo, é “apreensão da realidade”. Nesse caso, apreendemos pouco do que de fato aconteceu. Na capa, poderíamos ter uma foto de estudan-tes pedido informação numa área aberta, enfim, com mais repre-sentatividade do que foi o OPA na universidade. Isto é, os estudan-tes da região, as verdadeiras “estrelas” do evento não estavam na foto. Portanto, não foi uma escolha feliz!

Ainda em relação à representatividade, creio que a escolha das sub-manchetes poderia contemplar mais aquilo que o jornal Cobaia trouxe nessa edição. Das três sub-manchetes, duas são so-bre Jornalismo, além da capa que já traz uma atitude da Comuni-cação: a fotografia. Ou seja, ficou um pouco “over”. E não por falta de notícia. Uma das sub poderia ser sobre as Terapias Alternativas ou os benefícios de se ter uma vida sexual ativa. Já em relação às fotos que dão sentido às sub-manchetes, penso que elas podem abrir de maneira “menos quadrada”. Estão muito óbvias. Pode-ria haver mais variações. Mais criatividade. Isso também pode ser aplicado aos títulos. Por que não variar o tamanho das letras?

Enfim, acho que peguei pesado dessa vez. Por isso, não posso deixar de falar das reportagens. Acredito que todas cumpriram o seu papel. Fizeram o leitor “viajar” no conhecimento de diversas situações. A competição de natação em Bombinhas, a Semana de Jornalismo em Florianópolis, a circulação das carroças em Itajaí e a importância do sono na vida das pessoas. Jornalismo é isso. Fazer uma grande fotografia da realidade. Este objetivo, a edição 116 atingiu.

*Carlos Golembiewski, jornalista formado há 24 anos pela Unisinos, Doutor em Comunicação Social pela PUC do Rio Grande do Sul.

*Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP

Ombudsman

ExpedienteJORNAL LABORATÓRIO DO CURSODE JORNALISMO DA UNIVALI

Fica esperto!

Cartão Universitário

Ler mais

Reta final Falar bem

Para facilitar a vida no campus e simplicar rotinas como: pagar o estacionamento, fazer em-préstimos na biblioteca e, futuramente, automati-zar o diário de classe, a Univali segue distribuindo o Cartão Universitário. A entrega acontece no Hall da Biblioteca Central Comunitária, no campus de Itajaí, das 7h30 às 22h - sem intervalo.

As férias de fim de ano estão chegando e que tal aproveitar o tempo livre para ler um livro? Além do empréstimo na Biblioteca da Univali, onde a retirada é feita neste ano e a devolução só no ano que vem, a Livraria Universitária tam-bém contribui para propagar o mundo mágico da leitura.

Há títulos dos mais variados gêneros e áre-as, com até 50% de desconto. A promoção vai de 19 de novembro a 19 de dezembro.

Estão disponíveis obras para todas as ida-des: livros infantis que estimulam a criatividade; textos voltados para adolescentes e uma série de opções para os adultos que passam por vários gêneros - contos, romances, livros científicos e acadêmicos.

Fundamental para a formação de qualquer profissional, um bom discurso é capaz de ala-vancar uma carreira.

A Consultoria e Gestão Empresarial da Uni-vali, a UNIJUNIOR, oferece um curso de Ora-tória a partir de 1º de dezembro. O objetivo é capacitar os participantes de todas as áreas a desenvolver habilidades comunicativas e estra-tégias de oratória para a obtenção de resultados positivos na hora de se expressar.

Por se tratar de uma área de grande inte-resse, podem participar alunos de graduação, pós-graduação e profissionais que necessitem atualizar-se e competir no mercado de trabalho. Mais informações, entre no www.univali.br/even-tos, no link gestão.

O semestre final da graduação é sempre uma época difícil. É tempo de se preparar para a for-matura e para o mercado de trabalho. Mas, an-tes, é preciso realizar o Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. Os formandos estão chegando à etapa final: na maioria dos cursos, a primeira quinzena de dezembro é reservada para a defesa dos TCCs diante de bancas avaliadores.

As bancas são compostas pelo orientador do aluno, outros professores da Univali e profissio-nais convidados. A apresentação do trabalho é um momento de nervosismo para o acadêmico, mas muito recompensador já que um TCC pode abrir portas no mercado.

Para se sair bem diante da banca, valem algu-mas recomendações:

- para conferir equipamentos, chegue no mí-nimo 30 minutos antes do horário marcado;

- procure dormir mais cedo no dia anterior para estar descansado na hora da apresentação;

- evite fazer leitura corrente dos materiais de apoio durante a sessão de defesa. Afinal, es-ses materiais devem servir apenas como guias e lembretes. Cabe ao aluno mostrar que sabe do que está falando mesmo sem nenhum texto pré--elaborado.

Editorial

Não dá para a

gente se imobilizar

em função dos erros,

só os comete quem

se arrisca

Erros, coragem e paixões

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03JORNAL COBAIAItajaí, outubro e novembro de 2012

Opinião

Elisa Farenzena e Vanessa Rafaeli*

“O tema gagueira é muito comentado nos dias de hoje, seja em escolas, mídia e na sociedade. Po-rém, o termo Disfluência do Desenvolvimento é

pouco conhecido e merece destaque. Neste artigo estamos dispostas a mostrar a você, leitor, a importância de saber diferenciar estes dois quadros.

A criança pode passar por uma fase do seu desenvolvi-mento, apresentando episódios de disfluência, o que causa estranhamento e preocupação aos pais, muitas vezes achan-do que tem um filho gago. Porém, esta fase de disfluência que acontece entre 2 e 5 anos tende a ser superada rapida-mente, desde que a criança não seja pontuada com frases do tipo: “Fale devagar” , “ respire” , “ fique calmo”, “pare de gaguejar”. É importante ressaltar que a criança não tem consciência sobre este seu modo de falar e quando pontuada de forma excessiva, acaba criando certa preocupação com a própria fala. Isso gera insegurança, medo de falar, tensão para se comunicar, podendo tornar essa disfluência, até en-tão passageira, uma gagueira crônica.

A gagueira, diferentemente da disfluência, apresenta como características físicas: tiques, piscar de olhos, movi-mentos de mãos e cabeça, tensão na região do pescoço, tre-mor nos lábios e aspectos emocionais não presentes na dis-fluência do desenvolvimento.

A quem quer ajudar uma criança nessa fase, sugerimos que fale com tranquilidade, deixe a criança falar no seu tem-po, demonstre interesse para ouvi-la sem pressioná-la, pro-cure não utilizar as frases que citamos anteriormente e fique atento caso esse quadro se estenda por mais de 10 semanas, no máximo, 6 meses. Caso isso aconteça procure um profis-sional Fonoaudiólogo para receber esclarecimentos ou reali-zar uma avaliação, pois quanto mais precoce for o tratamen-to, melhores serão os resultados.

A expressão “Gagueira não tem Graça, tem Tratamento”, reflete uma idéia de compreensão sobre um aspecto que não pode ser curado, pois realmente o gago nunca deixará de ser gago, mas pode alcançar um bom nível de fluência que torna a gagueira quase imperceptível.

A criança que apresenta dificuldades para se expressar acaba sentindo-se tensa, apreensiva, envergonhada, o que a prejudica na escola, no convívio social e nas relações inter-pessoais.

Você que é familiar ou professor deve estar atento à di-ferenciação destes quadros, para melhor compreender os sintomas que a criança pode vir a apresentar durante seu desenvolvimento.

*Acadêmicas de Fonoaudiologia

Artigo

“Quanto mais precoce for o tratamento, melhores serão

os resultados. Nem toda disfluência torna-se gagueira

crônica

Gagueira e disfluência do desenvolvimento

Você escreve e quer participar deste espaço?Entre em contato com a gente!E-mail: [email protected]

*Jornalismo, 6º período

Uma pequena cidade pulsa nas entrelinhas do futebol

Crônica - É só sentar no ban-quinho do lado do campo e ob-servar o que rola nas entrelinhas do futebol. Uma verdadeira inte-ração social em diversos níveis de informação e aprendizado. Eu sei bem o que é isso, quem viveu numa cidade do interior sabe que as opções culturais são escassas, assim o jeito é aprovei-tar o que cada bairro tem, e na maioria se resume a três lugares: a igreja, um bar e o campo de fu-tebol.

O jogo é só um pretexto para promover encontros e trocar vivências

Marcia Peixe*

Parece brincadeira, mas não é. Por esse motivo a paixão mun-dial pela bola faz famílias inteiras saírem do conforto de suas casas para o campinho de futebol mais próximo. Os jogos quase sempre acontecem aos sábados à tarde e aos domingos de manhã e fazem parte de um campeonato com du-ração de três meses, pelo menos duas vezes ao ano.

Os carros vão chegando e lo-tam o estacionamento. São os jo-gadores e suas famílias, que tem como hobby o esporte. Trata--se das famosas peladas de fins de semana. Mas a competição é tida como coisa séria, já que é um campeonato, vale premiação em dinheiro, respeito dos adversá-rios, foto no jornal de veiculação semanal e quem sabe, se der sor-te, uma entrevista na rádio da ci-dade vizinha e quinze minutos de fama.

A torcida chega em peso, a co-munidade, esposas dos jogadores, os filhos, a sogra e quando dá até

o cãozinho de estimação da famí-lia vira espectador do jogo. Nada de vestiário organizado, os joga-dores se vestem dentro dos carros mesmo, outros ao lado do campo e tem aqueles que nem se preocu-pam com isso, vão logo trocando de roupa pelo caminho.

As mulheres ficam na expecta-tiva de ver seu marido ou filho en-trar em campo. E isso representa para eles a obrigação de fazer gols para a torcida. E quando as tor-cidas adversárias sentam lado a

lado, é aquela provocação, o clima esquenta e o resultado é confusão na certa. Cada torcedor defende seu time e velhas rivalidades apa-recem. De vez em quando os po-liciais dão uma passadinha para conferir e manter a paz.

Enquanto isso, os filhos dos jogadores, geralmente meninos de 5 a 10 anos, se reúnem, numa travessinha improvisada. Ali, di-videm o sonho de ser jogador de futebol. Ah! Sem contar as velhas histórias mal resolvidas que en-volvem famílias locais e são leva-das para dentro do campo - uma verdadeira “batalha de canela-das”. E coitado do juiz, é sempre o culpado de tudo. Ele também é um ser humano, e está suscetível ao erro. Mas, ninguém compreen-de isso, o xingamento é generali-zado.

Entre a torcida está o pesso-al jovem, que vai a campo torcer por alguém da família, mas tam-bém tem outras intenções. Bem vestidos e perfumados, abrem as

portas dos carros e aumentam o som. Os vizinhos ficam loucos, imagine que absurdo morar num local tranquilo e ter que aguentar a arruaça da gurizada nos fins de semana – reclamam os mais ido-sos. Para os mais novos, jogo de futebol tem lá seus benefícios. En-contrar os amigos, pôr a conversa em dia e ainda ter a chance de ro-lar uns namoricos.

O barulho também vem do bar, que fica pertinho, sempre com uma cervejinha bem gela-

da, o salgadinho e as balas para as crianças e para matar a fome da torcida que assiste aos jogos. A mesa de sinuca é disputada e quem não curte futebol ainda tem dominó e baralho para se distrair.

Fim de partida o juiz apita, mas a conversa não para por aí. Agora é discutir os pontos posi-tivos e negativos. Quem perdeu quer acertar, e quem saiu vitorio-so quer continuar ganhando, para isso só um churrasco. Os times se juntam e fazem uma vaquinha, a ordem é comemorar. Carvão, car-ne na grelha, a festa começa e não tem hora de parar. Esse é o retra-to de um fim de semana em torno de um campo de futebol. Confes-so que nunca parei para analisar a diversidade de momentos que uma simples partida pode pro-porcionar. Para uns, brega, fora de moda, ridículo, pra mim faz parte da minha história. É o jeito simples de viver a vida, num lugar pequeno e acolhedor.

Nas cidades pequenas, o futebol une: os amantes do esporte aos que ficam nos bastidores aproveitando o clima

Banco de Imagens

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04 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

A experiência de produzir um jornal-laboratório, da pauta à distribuição,

foi discutida no 6º Encontro dos Jornais-Laboratório de Santa Catarina promovido em outu-bro pelo Curso de Jornalismo da Univali. O programa do encon-tro, com seminário e palestra, fa-voreceu o intercâmbio de ideias para solucionar impasses e aper-feiçoar tanto esse tipo de veículo quanto o processo de ensino e aprendizagem do jornalismo.

Durante o seminário, na pri-meira parte do programa, a anfi-triã Univali e a Associação Edu-cacional Luterana Bom Jesus – Ielusc, de Joinville, contaram o dia a dia de seus jornais-labo-ratório, compartilhando dúvidas e soluções. Pelo Cobaia, falaram a bolsista Gabriela Florêncio, a voluntária Monike Furtado e a ex-estagiária Raquel da Cruz, com apoio de professores e do coordenador do Curso de Jor-nalismo da Univali, Carlos Pra-xedes. O jornal Primeira Pauta, do Ielusc, foi apresentado pela professora Amanda Miranda e pelos acadêmicos Luis Gustavo Varela, Ana Paula Padilha e Pa-tricia Stahl Gaglioti. Seleção de pautas, técnicas de apuração,

O que é um jornal-laboratório

Dayane Bueno Canha e Redação

Cobaia e Primeira Pauta são analisados durante seminário que indicou novos caminhos para esses espaço de formação

Jornalismo

Do Ielusc, a professora Amanda Miranda e as alunas Patricia Gaglioti e Ana Paula PadilhaDa Univali, as estagiárias Gabriela Florêncio e Raquel da Cruz

Rodrigo RamosRodrigo Ramos

Univali faz 6º Encontro de Jornais-laboratório

relacionamento com as fon-tes, planejamento gráfico e maneiras de narrar uma his-tória estiveram entre as inquie-tações do grupo, formado ainda por acadêmicos de todos os pe-ríodos do curso interessados em fazer evoluir as práticas jornalís-ticas.

Outra preocupação dos par-ticipantes refere-se à distribui-ção dos impressos. O Cobaia com uma tiragem de 2 mil exem-plares e o Primeira Pauta com 3 mil trocaram fórmulas para fazer a publicação circular e evitar encalhe. “Temos pontos de distribuição pelo campus da Uni-vali, em colégios privados de Itajaí, para

As diretrizes cur-riculares nacionais para o ensino su-

outras Universidades e na frente da Agência Integrada

IN no Bloco C3”, diz Gabriela. Já o jornal do Ielusc é distribu-ído pelos próprios alunos que o produzem. Cada acadêmico leva um lote para seu bairro e deixa -o em pontos estratégicos como escolas, faculdades, mercados, etc. Tudo é feito para evitar o encalhe.

Relativamente recentes em Santa Catarina, encontros de jornais-laboratório já se reali-

zam há mais tempo em ou-tros estados brasileiros.

Em Itajaí, a promoção do Curso de Jornalis-

mo contou com a colaboração de

outros setores da Univali: a

Central de Gestão de Eventos, a coordenação do Curso de Músi-ca, o laboratório de produção de áudio dos cursos de Comunica-ção e a TV Univali. Um grupo de acadêmicos atuou nas diversas etapas da organização, a maioria como voluntário.

Ao fim do encontro, os par-ticipantes consideraram a ex-periência produtiva e esclare-cedora. A nota destoante ficou por conta da ausência de outras instituições de ensino superior de Jornalismo, que apesar de terem confirmado presença, não compareceram. Assim mesmo a discussão avançou, encerrando--se com a palestra do jornalista Francisco (Pancho) Fresard, em que acadêmicos, professores e palestrante debateram sobre os novos caminhos do jornalismo na era da internet e da conver-gência de mídias. Pancho afir-mou que a internet instiga o jornalista a buscar novos olha-res sobre a notícia: “É procurar o algo a mais através do conte-údo extra, como fotos e vídeos”. Com o auditório cheio, os futu-ros profissionais aproveitaram a experiência de Pancho para tirar dúvidas e conhecer melhor o processo jornalístico.

perior do Jornalis-mo recomendam que

os cursos mantenham uma publicação impressa pro-

duzida por alunos e professores. É um espaço de experimentação - um

laboratório – para se testar novas fórmulas, ousar e ter coragem de usar linguagens diferen-

tes daquelas que o mercado consagrou. Em alguns cursos, o jornal-laboratório é uma disciplina, como no

Primeira Pauta; em outros, é uma atividade extraclasse re-alizada por acadêmicos voluntários com supervisão de um

professor e apoio de um bolsista – caso do Cobaia. Essas peculiaridades se estendem a formato, tamanho, periodici-

dade, linhas editorial e gráfica. Daí a importância de se trocar informações. Para a professora Vera Sommer, que até setembro era a responsável pela edição

do Cobaia, “o relato de vivências diferenciadas, o testemunho de alunos e professo-res direta ou indiretamente envolvidos na produção destes jornais-laboratório permite a

reflexão sobre as práticas adotadas e a possibilidade de adoção ou adaptação de outras que contribuam para promover avanços.”

A professora Jane Cardozo, atual editora do Cobaia, afirma que a existência dos laborató-rios de ensino é essencial: “Eles constituem valiosos espaços de experimentação que precisam ser cada vez mais incentivados e reconhecidos. Afinal, esses laboratórios forjam quem ajuda a sociedade a se manifestar e a se construir – os jornalistas profissionais.”

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05JORNAL COBAIAItajaí, outubro e novembro de 2012

Patrícia Cristina da Silva e Redação*

O futuro do jornalismo impresso foi o tema da palestra de en-

cerramento do 6º Encontro de Jornais-Laboratório de San-ta Catarina. Conduzida pelo jornalista egresso da Univali, Francisco Fresard (ou Pancho, como ele é mais conhecido), a conversa despertou muitas per-guntas e levou a uma conclusão: vivemos um tempo de transição que exige uma nova linguagem jornalística e criatividade é a palavra-chave. Contudo, preci-são e ética continuam a formar a essência do jornalismo seja qual for o meio adotado.

O impresso esteve, é claro, no centro das discussões. E como o convidado é colunis-ta do Jornal de Santa Catari-na (Blumenau), características desse jornal e de outros im-pressos do grupo RBS foram abordadas. Ao ser questiona-do pelo professor do Curso de Jornalismo da Univali, Carlos Golembiewski, sobre o projeto gráfico do “Santa”, classificado como “conservador”, Fresard lembrou as inovações

Monike Furtado

Monike Furtado

Jornalismo

Acadêmicos Jonas Rosa e Bianca Escrich ,da Univali, com o Primeira Pauta

Alunos lotaram o auditório para trocar ideias com Pancho

Pancho discute futuro do impresso em palestra que aponta tendências

recém-implantadas na capa e que já mereceram prêmio, destacando peças nas quais elementos gráficos tomaram o lugar das fotos para chamar a atenção do leitor. São propos-tas diferentes e ousadas, que envolvem poucos elementos e revelam grande capacidade de síntese, casos em que “o menos é mais”, resume o palestrante.

Para inserir essas mudan-ças, diz Fresard, o “Santa” conta com uma equipe bem entrosada na qual profissionais de vários setores trocam in-formações entre si e levam em conta as sugestões dos cole-gas – dos mais experientes aos novatos, todos podem propor ideias e isso colabora para oxi-genar a publicação. O pessoal da redação também se vale de programas de atualização: “A RBS oferece formação sobre as novas linguagens, as plata-formas virtuais, a convergência de mídias. Opinamos, partilha-mos conhecimento entre re-pórteres, editores, fotógrafos, diagramadores... Isso é muito bom!”

Quanto à sobrevivência dos jornais impressos em tempos de internet, Fresard arrisca uma previsão - para ele, o impresso tende a desaparecer: “Acredito no fim do impresso, sem saber quando, como, mas sei que vai acabar. Hoje ele ainda é nosso carro chefe, porém, não se man-terá para sempre assim”.

Por conta das plataformas virtuais, Fresard também apos-ta em textos cada vez mais en-xutos e mais bem elaborados: “Diminui a quantidade de tex-to, porém, valoriza-se a quali-dade”.

Como o objetivo da noite era estimular a troca de ex-periências para aprimorar os jornais-laboratório, estes ocu-param parte da conversa. Na opinião do palestrante, os cur-sos de Jornalismo têm de pro-mover a inovação e a adaptação desses veículos à era da inter-net, criando versões online com atualização adequada ao meio digital. Ficar só no jornal de pa-pel – afirma Pancho – é estar na contramão da história.

Francisco Javier Fresard Alvarez, ou Pancho Fresard, é formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Univali. Sua carreira de jornalista come-çou na TV Galega em Blumenau como repórter, produtor, editor, apresentador e coordenador de Jornalismo. Mas, como acontece com frequência na categoria, migrou por vários outros meios de comunicação: já foi assessor de im-prensa do Teatro Carlos Gomes e da Associação Empre-sarial e Industrial. Hoje, Pancho assina a coluna Mercado Aberto, no Jornal de Santa Catarina, empresa do grupo RBS, porém faz questão de lembrar os primeiros tempos de aprendizado.

O colunista considera importante trabalhar em veícu-los de comunicação de qualquer porte: dos menores até os com mais abrangência em determinada região. Ele defen-de que toda experiência traz amadurecimento profissio-nal: “Se aprende muito, se aprende na marra”.

A internet contribui e dinamiza o cotidiano do jornalista. Pancho exemplifica que através dela o repórter passa a ser mais instigado, porque tem que buscar algo mais que supra a necessi-

dade desse meio. É uma busca incessável por ou-tras formas de inovar as matérias. A internet incita

o jornalista a apurar mais e melhor e a utilizar muitos recursos diferentes, como vídeos, áudios e fotos, que não entrariam normalmente em mídia impressa. Os jornais impressos precisam dessa reinvencão e devem manter versões específicas para a internet, tornando o jornalismo mais interessante e atrativo para o leitor.

Aprender sempre

*Jornalismo, 7º período

Page 6: Cobaia | #117 | 2012

06 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

Aos 78 anos, o vovô Memo lembra peripécias da juventudade em narrativas que contam a trajetória de uma cidade

Stéphanie da Rocha*

Stéphanie da Rocha Stéphanie da Rocha Stéphanie da Rocha

Do réis ao real, memórias de quem faz história

Memo distante em seus pensamentos, se emociona ao relembrar e narrar sua história Igreja de Ascurra que fica em frente a casa de Memo

Casa de Memo na enchente de 84 Quando era jovem e galanteador

Retrato

Em 1974, as coisas eram duras pelo Médio Vale. A lida no campo, como

sempre, exigia esforços. Memo vivia com os pais e com a famí-lia. Era uma educação rígida e de muito trabalho. Precisava ajudar a colher batata e plantar outros alimentos. A região tem forte co-lonização alemã e italiana. Memo nasceu em Indaial, mas logo se mudou para Ascurra na casa onde vive até hoje que é de frente para a igreja e fonte de nostalgia. Para quem senta na varanda, histórias se passam e costuram um emara-nhado de memórias dando identi-dade aos moradores.

Ele tinha apenas 5 anos quando conheceu seu primeiro amor. De todos os irmãos era o

*Jornalismo, 6º período

mais galanteador. Certa vez ele e a menina se encontraram em-baixo do pé de carambola, mas não para saborear a fruta ou su-bir na árvore: “Tu sabes o que é, nem preciso entrar em detalhes, isso é coisa de criança, nós não ‘tinha’ malícia.” Acontece que o pai, muito bravo, pegou as crian-ças no flagra. Memo fugiu cor-rendo, mas ao chegar em casa o papo foi outro, tomou uma sova.

Sempre fora assim, primeiro apanhava na escola pelos mo-dos, depois vinha se queixar em casa porque o tinham surrado e apanhava dobrado. A cicatriz daquela fuga ele carrega até hoje: 73 anos depois, exibe os pés tirando-os das sandálias de cou-ro. Em meio aos calos da roça e às unhas grandes sujas de terra, ela está ali, na sola, deixando re-

gistro do que hoje é apenas lem-brança.

Três anos depois, quando ele já tinha 8, Memo acompanhou de perto a inauguração da igreja. Do outro lado da rua a fachada da construção tem, além dos traços italianos, uma história com a co-munidade. Na época nem facha-da tinha, era apenas o edifício. Quando surgiu a notícia de que iriam construir, a Itália disse que bancaria tudo, mas com a condi-ção que fizessem igual à que fica na Europa. E, assim, eles manda-ram a planta de lá para que fosse construída.

Era hora da inauguração. Quem desse a maior oferta cor-tava a fita. Aí o padre da igreja, Aleixo Costa, mandou um envelo-

pe a cada família para que todos pudessem dar o seu lance. E o pa-dre gritou abanando aquela nota grande, larga e verde: “Manoel deu uma periquita de 500!” Todos ti-nham dado muito menos. Manoel Felipe era o pai de Memo e foi ele quem pagou os 500 contos de réis e cortou a fita.

Acontece que a igreja não ti-nha muitos recursos e um amigo de Memo deu a ideia de levantar fundos pra igreja. Mas como con-seguir isso?

- Com o São Cristóvão, claro. O santo dos caminhoneiros.

- Mas eu nem conheço esse tal de santo. -Memo não conhecia mesmo aquele bendito, mas ele fi-cou intrigado. Eles sabiam que o santo ficava escondido num porão e decidiram ir até lá.

O porão era úmido e não ti-

nha luz. Entraram naquele espaço escuro e foram tateando. O ami-go sentiu alguma coisa, quando puxou veio um corpo, mas sem a cabeça. Eles levaram o santo ao padre, que o engessou.

Aí eles marcaram o dia da procissão. O caminhão do corte-jo se chamava Bartolomeu e era muito grande, tinha uma chapa em cima pra fazer o desfile. Memo sempre morou ali de frente para a igreja e via as pessoas passarem e o padre dar as bênçãos aos ca-minhões. Foi ele quem levou uma caixa de papelão para colocar o dinheiro dos fiéis. Todo mundo dava 5, 10, 20 contos. Logo a caixa encheu e foi preciso ir correndo em casa buscar outra, na falta de uma foi uma cesta mesmo. E assim

encheu as duas: a caixa e a cesta. Enquanto o padre benzia, havia acabado a água benta. Memo foi correndo em casa e buscou um balde de água. O padre benzeu ali mesmo e seguiu abençoando as pessoas. A festa é a maior de Ascurra e já tem estátua para o santo. Em julho tem movimento e o pessoal traz dinheiro pra cidade.

Apesar do aspecto alto, de na-riz grande, olhos miúdos e sempre úmidos, um legítimo italianão, Memo era mirradinho aos 15 anos, pesava 50 Kg. Toda essa leveza era levada pra montaria. Era ele quem treinava os cavalos dos corredores. E, por um tempo, foram a ocupa-ção e a felicidade desse jovem. Felicidade que na hora da corrida a platéia convertia em dinheiro. Eram altos os valores das apostas. Uma vez, era o cavalo de Memo o

preferido da turma, mas os dois patrões combinaram de segurá-lo. A famosa linguiça, como chama-vam, porque é coisa torta mesmo.

Memo vivia de bicicleta por aí. Pedalava atrás das raparigas da ci-dade. Sempre fora muito namora-dor e já tinha fama de galanteador. De noite acendia os faróis da bici-cleta e saía pelas praças a flertar. Diziam que as moças podiam sair com qualquer um, menos com o tal do Memo. Foi quando conheceu Laura. Eles já se cruzavam pelas ruas e trocavam olhares, mas foi numa festa que os dois realmente puderam conversar. Ela morava em Rodeio, cidade vizinha de As-curra. Laura e Memo casaram em fevereiro quando a noiva tinha 16 e ele 23 anos.

Tiveram sete filhos: Sandra, Solange, Sávia, Silvio, Sávio, César Manoel e Soraia Ariene. Quase to-dos saíram cedo de casa para tra-balhar, ficaram só as caçulas. Para sustentar a criançada era preciso pegar na enxada. Uma vida sofri-da, mas nunca faltou nada. Esto-cava banana, vendia leite, planta-va mandioca. Só não dava era para esbanjar, ficar agradando muito a filharada. Com eles Memo era sé-rio, durão e de poucas palavras.

Hoje se emociona ao contar essa história. “A gurizada e os vi-zinhos ganhavam presentes e os meus não. Nós não podíamos dar nem chocolate pras crianças.”

Se a vida no campo já não era fácil, ficava ainda mais pesada frente às despesas com o trata-mento da mãe dele, que era muito doente. Uma vez Memo havia aca-

bado de receber uns trocos, tinha 600 contos com tudo porque ele ganhava muita gorjeta. Se um con-to de réis já valia muito, ele pode-ria ir pagar as dívidas do hospital. Assim achou, mas quando chegou lá ainda lhe faltavam 10 contos. O médico disse: - Me dá 600 e não me deve mais.

Os calos estão nas mãos e nos pés, mas as cicatrizes são mais fundas. O peito se enche da fuma-ça do cigarro que traga sem pesta-nejar, e também de benevolência. Dá as crianças da comunidade tudo que não pôde dar aos seus filhos. Faz isso com orgulho, desde a comida que planta até os brin-quedos. Da última vez deu uma bicicleta a uma criança, mas tudo volta e não tem preço. Conversan-

do descobriu que ela não conhecia o pai. “A criançada muda, eu nem lembro quem elas são, mas ela não esquece. Sempre passa um e cum-primenta. “E aí, vô, como tá?”

Tira a boina e esfrega a cabe-ça, parece que aquilo o faz retomar o assunto com mais facilidade. Memo já não tem mais os 50Kg de menino, nem o pulmão jovem daquela época, uma tosse rouca parece atrapalhar a conversa. Em menos de meia hora, três cigarros, um cinzeiro cheio e uma pinga. Mas os sentimentos, esses sim são como fumaça: inundam qualquer ambiente onde esse “nono” esteja. Ele, que é um trovador, e gosta de cantar seus versos para qualquer um que lhe dê atenção, merece ser apresentado: José Felipe.

Stép

hani

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Roc

ha

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07JORNAL COBAIAItajaí, outubro e novembro de 2012

Fotojornalismo

Olhares atentos dos alunos de

fotojornalismo do 4º período registraram

rostos, traços e situações na 26ª

Marejada

O reinado dos lisos: rainha e princesas aderem à onda do “fora, cachos”

Miriam Dalcóquio: a portuguesa estilizada não economiza nos acessórios e adereços

Experiência de vida e bom humor: alegria do cozinheiro dá tempero à festa.

Coletivo Materializando Momentos

O reinado dos lisos: rainha e princesas aderem à onda do “fora, cachos”

Miriam Dalcóquio: a portuguesa estilizada não economiza nos acessórios e adereços

Experiência de vida e bom humor: alegria do

Coletivo Materializando Momentos

Coletivo Dois por Quatro

Coletivo Ângulos Múltiplos

Background: Coletivo Dois por Quatro

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08 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

A origem data do século XIX, após a via ter se tornado um pro-longamento da atual Rua das Palmeiras, conhecida na época como Stadtplatz (Praça da Ci-dade, em alemão). Um colono abriu caminho pelo matagal à procura de uma vaca que teria fugido do pasto. A picada foi tão usada que o trajeto se tornou ir-regular, lembrando a aparência de um defumado. Assim, veio o primeiro nome: Würststrassen (Rua da Linguiça, em alemão). A posição era estratégica: se lo-calizava próximo ao porto. Em 1883, foram retiradas as cercas e portões que protegiam a via. Sete anos depois, em função da Proclamação da República, a antiga Rua do Comércio é deno-minada como XV de Novembro. Preocupado com o aspecto das principais ruas da cidade, o po-der público promoveu uma in-tensa urbanização em 1902. As-

Felipe Adam*

Rastros do progresso no caminho da HistóriaA importância e a memória da Rua XV na economia de Blumenau ainda são reconhecidas, mas podem estar ameaçadas

Economia

“Importante no

comércio local, a

Rua XV precisa se

reinventar para

ganhar outros

atrativos

sim, a rua se tornou mais regular ao longo de toda a sua extensão “Até 1910, Blumenau já usufruía de energia elétrica, possuía uma ferrovia e tinha preocupação com a infraestrutura. A cidade estava à frente do seu tempo”, ensina a historiadora do Arqui-vo Público de Blumenau, Sueli Petry.

Hoje, inúmeros cidadãos ca-minham diariamente pelos 1590 metros da via e sequer imaginam a validade histórica do trajeto que percorrem. “É onde se en-contravam as casas de comér-cio. Era ponto obrigatório para o lazer e para o namoro”, lembra Petry. Além disso, era considera-da o palco da cidade: “A Rua XV representava a cidade nova”.

Muito tempo atrásA Blumenau do século XIX

trazia na bagagem uma econo-mia baseada na variedade de

Marcelo Martins

Cada cidade possui uma rua importante, uma praça famosa ou uma avenida conhe-cida pelo belo jardim. Ela representa o va-

lor histórico que o local possui na região. Seja num desfile comemorativo ou numa passeata, numa gre-ve ou num encontro, é como se o tal lugar reunisse a população e a norteasse para um tempo que já se foi. Blumenau possui inúmeros locais com relevân-cia; porém, é no percurso da rua XV de Novembro que a história da cidade é contada.

produtos extrativos e agrope-cuários. Mais tarde, a partir de 1880, a cidade se voltou à indus-trialização. Para a época, o sonho

de consumo era simplesmente adquirir uma bicicleta. Passados 162 anos, Blumenau cresceu, se manteve firme mesmo diante de problemas climáticos e hoje seu perfil comercial está mudando.

O setor de serviços é o que mais cresceu, e isso se perce-be no crescimento dos bairros. Soma-se a isso a entrada de dois novos shoppings, o que fornece à população mais uma opção de lazer e de compras, além do Neumarkt, que já imperava há 20 anos na região.

Rua que esbanja diversidadeReferência para o comércio,

a Rua XV de Novembro é im-portante por inúmeras coisas. Paulo Cesar Lopes, presidente da CDL – Blumenau, se encan-ta com a beleza e o glamour da via: “Segundo turistas, é uma das ruas mais bonitas do Bra-sil”. Lopes tenta explicar qual

a fórmula para ela se manter tão atual: “Acho que é por pos-suir um misto do passado com moderno”. Porém, confirma que precisa se reinventar: “Faltam atrativos, lugares interessantes, como uma grande lanchonete, um restaurante”.

O primeiro passo foi dado em 2011. O Sebrae escolheu cin-co cidades de Santa Catarina para implantar o projeto “Sho-pping a Céu Aberto”, uma ini-ciativa que pretende aumentar a atratividade e a competitivi-dade do comércio varejista de bens e serviços de rua. “Estudos apontam que nossa tendência é de crescer para a região Norte da cidade. E um projeto como esse nos ajudaria a não deixar que a XV caísse no esquecimen-to. É um trabalho a longo prazo, mas que faria com que ela conti-nuasse bonita e elegante”, pon-dera Paulo Lopes.

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09JORNAL COBAIAItajaí, outubro e novembro de 2012

Pessoas andam para um lado e para o outro. Ca-minham a passos rápi-

dos. São quase 13h30min e no fi-nal da rua, próximo à Prefeitura, pessoas ainda almoçam nas pa-darias e lanchonetes próximas. Mulheres carregam bolsas à pro-cura de algo. É um dia normal da semana. Aquela quinta-feira de outono marca 19ºC e reforça a aparência de cidade europeia em dia de verão: tempo aberto, sol forte e um frio ameno.

Sob a observação atenta de São Paulo Apóstolo, padroeiro da Catedral, Zenilda aguarda clientes. A aparência cansada, curvada, de braços cruzados, demonstra certa fragilidade. O horário não ajuda. É logo depois do almoço e é difícil que alguém pare para degustar uns churros, talvez uma cocada, quem sabe um pé-de-moleque ou apenas al-godão doce. Todos os dias, ela es-pera sentada ou encostada nessa esquina, uma das 15 transversais que a XV possui. Ganha 30 reais por dia, independente da quanti-dade de vendas “É pouco. Mas lá em casa não falta leite, nem fral-da”, fazendo alusão ao rebento de um ano. Aos domingos, segundo Zenilda, se vende mais devido à missa e também à quantidade de turistas que circulam pela rua. Porém, faz uma revelação: “Nas manifestações organizadas por políticos não se vende nada”.

Sentado na calçada, encosta-do na parede, ele manuseia mi-nuciosamente um cachimbo. As pessoas caminham bem perto, encaram, o acham estranho, mas não se atrevem a parar. O corte de cabelo exótico faz com que a população conservadora resista à novidade. “É difícil vender na região, mas aqui é muito bom”. A frase em castelhano não esconde a nacionalidade de Israel, 30 anos e há sete em Blumenau. Enquan-to apresenta os colares, brincos e pulseiras, o argentino de Men-doza disfarça o nervosismo es-fregando argila, matéria-prima para seus trabalhos. A paciência foi adquirida na preparação dos badulaques desde quando tinha dez anos: “A venda é relativa. Tem dias que se vende bastante, outros não. Mesmo assim, é um trabalho simples e barato, por isso que vende”. Já em relação à cidade, diz ser muita tranqüi-la “Gosto muito, só o povo que é meio fechado”.

Atender os clientes há 21 anos já faz mais que parte da rotina da ex-secretária Loreni, que nasceu em Leoberto Leal, se criou em Ituporanga e adotou Blumenau pra viver. Em desfiles de Oktoberfest, garante que che-ga a lucrar de 500 a 600 reais com a venda na calçada, onde nego-cia meias, toucas e casacos de lã, além dos arquinhos bordados. Mas confessa que prefere não acompanhar esses desfiles: “Me emociono quando vejo. Tudo isso lembra minha infância”.

Vendedores ilustres e esquecidos povoam as esquinas

*Jornalismo, 6º período

Marcelo Martins Marcelo Martins

Marcelo Martins Marcelo Martins

O antes e o depois da Rua XV: a modernidade trouxe novas perspectivas de comércio, mas também aumentou os desafios para o centro da cidade

A avenida beira-rio disputa as atenções com a Rua XV O Teatro Carlos Gomes é um dos atrativos da famosa via

José Ferreira da Silva - Arquivo Histórico de Blumenau

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Mar

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10 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

SaúdeCiência e prevenção ajudam a combater o HIV

A pluralidade humana, de sexo, cor, religião e tantas classificações, se

amplia e por vezes produz confli-tos. Mas, em alguns casos, revela pessoas que encaram as diferen-ças com respeito e se inspiram na diversidade para trabalhar em benefício da vida.

A boa notícia dada pela Unai-ds – braço da ONU responsável pelo combate à Aids – é a prova. Cada vez menos pessoas morrem da doença, tendo acesso a medi-camentos quase metade dos 34 milhões de infectados no mundo. Contudo, está mantido o alerta pela prevenção e a cobrança aos países ricos por ajuda aos países pobres.

David Ho, o homem do coquetelA capa da revista Time, que

trouxe o Personagem do Ano de 1996 fez a publicação norte-ame-ricana dar a seguinte explicação: “Ho não é certamente um nome de todos os dias. Mas algumas pessoas fazem manchetes e ou-tras fazem história”.

Versão da Time reproduzida no Brasil pela revista Manchete conta que, em 1981, Michael Got-tlieb, imunologista de Los Ange-

O vírus da Aids mobiliza cientistas enquanto mudança de comportamento e novas drogas mudam histórico dos casos

Wagner Heinzen*

les, EUA, divulgou as primeiras ocorrências de uma nova síndro-me – conjunto de sinais ou sinto-mas – que parecia atingir homos-sexuais masculinos. Os casos se diferenciavam, mas todos tinham em comum as células T, escolhi-das pelo invasor, para serem des-truídas. As defesas do corpo não conseguiam expulsar o mais inó-cuo micróbio intruso, o que vinha a causar morte pelo que os médi-cos chamam de infecções oportu-nistas, como a pneumonia Pneu-mocystis – que ataca os pulmões.

David Ho era o chefe da resi-dência médica do Hospital Cedars Sinai, e também observou que, cada vez mais pacientes estavam nas unidades de tratamento in-tensivo com as características no-tadas por Gottlieb. As suspeitas dos médicos sobre o que aconte-cia com estas pessoas iam desde pílulas – como o Ecstasy – e outras drogas recreativas, disparando o colapso imunológico, até reação alérgica ao excesso de parceiros sexuais. Ho, no entanto, suspei-tou tratar-se de um vírus e foi se especializar em pesquisa de Aids – abreviação em inglês de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.

Em 1982, Ho mudou-se para Boston. Fazia agora companhia ao virologista Martin Hirsch. Dentre suas pesquisas, mostrou que não existem tantos vírus ativos na sali-va, a ponto de permitir que a infec-ção fosse transmitida pelo beijo.

Quando foi trabalhar à noite

em clínicas ambulatoriais para pagar seu doutorado, em meados dos anos 1980, Ho fez nova cons-tatação: “É nestas clínicas que se vêem resfriados, gripes, doenças comuns”. O médico observou o aumento de homossexuais mas-culinos com o que parecia ser uma rara gripe forte. Mas eles não adoeciam com sintomas da Aids. Exames de sangue corresponde-ram ao aparecimento do HIV – do inglês vírus de imunodeficiência humana – e a ausência do vírus da gripe. Semanas depois, os an-ticorpos do sistema imunológico davam um salto agudo, enquanto o HIV desaparecia de circulação. Era a primeira evidência de que o HIV provocava uma infecção ati-va. Mas Ho só reconheceria essa importância anos depois.

Em 1987, o AZT ou Zidovudi-na, foi aprovado pelo FDA - órgão responsável pela liberação de dro-gas nos EUA. A essa altura, David Ho estava na Califórnia e se junta-va a Robbert Schooley, da Univer-sidade do Colorado, onde fizeram descobertas negativas com o CD4 solúvel, tido como esperança para a não infecção das células T pelo HIV em testes preliminares feitos com amostras virais desenvolvi-das em laboratório. O fracasso com o CD4 trouxe outra revela-ção: havia dezenas de milhares de partículas infecciosas nos corpos de seus pacientes, muito mais do que supunham. Com isso, os tes-tes de novos tratamentos teriam de ser realizados em vírus que in-fectaram pacientes reais.

A compreensão científica do ciclo de vida do HIV tinha falhas. Revisitando suas pesquisas de Boston, trabalhando em salas de emergência, conversando com co-legas e sua equipe da UCLA - Uni-versidade Califórnia Los Angeles, Ho viu que era preciso retornar aos sintomas de gripe. Com o

O laço vermelho é o simbolo da solidariedade e da luta contra a AIDS

Campanhas de combate à doença nos pontos de ônibus de Itajaí

trouxe o Personagem do Ano de 1996 fez a publicação norte-ame-

A capa da revista Time, que trouxe o Personagem do Ano de 1996 fez a publicação norte-ame-trouxe o Personagem do Ano de 1996 fez a publicação norte-ame-

A capa da revista Time, que A capa da revista Time, que

teste PCR - Reação em Cadeia de Polimerase - foi verificado que pessoas nos últimos estágios da Aids tinham grande quantidade de HIV no sangue. Nas primeiras semanas de infecção esse volume também era grande. Outra equi-pe, comandada por George Shaw, obteve o mesmo resultado e am-bos publicaram juntos as desco-bertas em 1991.

Em novo trabalho, dessa vez em Nova York, David Ho se dedi-cou ao tempo intermediário entre a contaminação e o estágio final. Era 1994 e novas drogas faziam algum efeito no tubo de ensaio. A busca era por uma fórmula de inibidor de protease eficaz contra o HIV. Ho e Shaw publicam em 1995, juntos, seus resultados. Isso mudaria todo o quadro da Aids. Os médicos agora sabiam que o vírus também é ativo nos anos in-termediários da infecção.

De doença fatal à crônicaDos primeiros casos em 1981,

ao isolamento do vírus em 1983, passando pela invenção do tes-te anti-HIV em 1985 - quando a Aids era tida como doença fatal - ao uso do AZT em 1987, chega o ano de 1996, e aí surge o chamado ‘coquetel’ – combinação de medi-camentos anti-HIV - termo subs-tituído pela denominação antir-retrovirais – que vem recebendo aperfeiçoamento a cada ano. A evolução dos remédios permitiu que, com os cuidados necessários, a Aids possa ser mantida sob con-trole como uma doença crônica, explica a revista Veja, que, em 10 de julho de 1996, na ocasião da 11ª Conferência Internacional da Aids, em Vancouver, Canadá, des-creveu David Ho como “o pai teó-rico do coquetel de drogas”.

Wagner HeinzenWagner Heinzen

Divulgação

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11JORNAL COBAIAItajaí, outubro e novembro de 2012

Saúde

*Jornalismo, 4º período

*Nomes fictícios para preservar fontes

Wagner Heinzen

Wagner Heinzen

Marcos*, 37 anos, mo-reno de 1,89m de altura, dono de um

físico que lhe permitiu fazer tra-balhos de modelo no intervalo entre o ensino médio e a uni-versidade, amadureceu cedo, por conta da saída de casa para estudar. Quando uma dor de ou-vido o levou ao médico, em 2005, entre os exames realizados, es-tava o de HIV: “Eu sempre fiz, então aproveitei a oportunida-de.” A tranquila relação entre Marcos e seu corpo foi impor-tante para o processo que viria: o resultado positivo. A medica-ção foi necessária depois de um ano do diagnóstico, quando a carga viral aumentou e as defe-sas caíram. “Tomo meus remé-dios à noite, antes de dormir”, diz, adaptado aos três compri-midos diferentes.

Evely Koller, doutora em Fi-losofia de Enfermagem, ressalta que “os antirretrovirais são de fundamental importância para que portadores do vírus HIV possam diminuir a carga viral existente no organismo e com isso aumentem a imunidade, fi-cando menos propensos a terem as doenças oportunistas.”

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil começou a distribuir os antirretrovirais em 1996, através do Sistema Único de Saúde - SUS. Aproximada-mente 200 mil pacientes fazem tratamento, com 19 medica-mentos. O país fabrica remédios antiaids desde 1993, de início com a zidovudina - AZT. Hoje, tem condições de produzir nove deles.

Pedro*, 35 anos, faz careta, quando pensa na busca mensal da medicação no posto de dis-tribuição: “É uma rotina chata, mas que se faz necessária para que eu possa levar uma vida normal.” Professor, ele toma dois comprimidos diferentes a cada 12 horas: “Teve um dia que engoli no seco – sem água – porque estava no ônibus e era hora”. A disciplina com os antir-retrovirais é fundamental para o tratamento. Pedro soube do diagnóstico em 2008, quando foi pegar um exame de rotina: “Fui chamado a uma sala com a psi-cóloga do laboratório e ela me falou do resultado, procurando me tranquilizar quanto à vida daquele dia em diante.” O início da medicação aconteceu depois que apareceram herpes zoster – erupções na pele – indicativo de que sua imunidade não estava sendo eficiente para combater a infecção. Nas primeiras sema-nas, Pedro sentiu enjoos, dores abdominais, inchaço e outros mal-estares.

“O uso dos antirretrovirais é receitado pelo médico, median-te critérios estabelecidos pelo Programa Nacional de DST/

Acesso facilitado a preservativos promove a redução do contágio, mas deve ser aliado a outras ações educativas

O teste de HIV, grátis, pode ser realizado no Laboratório Municipal de Itajaí, Centro de Testagem e Aconselhamento

Políticas do SUS são decisivas para controle

Aids”, informa Evely Koller. O uso da medicação também não exime o portador de ter todas as precauções de biossegurança consigo próprio e com a parce-ria sexual. “Uma vez soroposi-tivo toda relação sexual deverá ser com o uso do preservativo, porque embora existam estu-dos que apontem que o risco de transmissão possa cair de 94% a 96%, ainda existe a possibilida-de de contaminação/ transmis-são”, conclui.

A diferença entre ter Aids e HIVO Ministério da Saúde infor-

ma que o vírus HIV está presen-te no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. A do-ença pode ser transmitida em relações sexuais desprotegidas, em compartilhamento de serin-gas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação.

A pessoa que tem Aids é aquela que apresenta algum problema de saúde, que surgiu por causa da falta da defesa do organismo. A pessoa que tem o vírus HIV é soropositiva e se não está doente, não tem Aids.

Prevenção

Para a farmacêutica Ana Ve-ber, especialista em Saúde da Família, o trabalho de preven-ção realizado com a população tende a diminuir o preconceito e eliminar a ideia de grupo de risco, já que todos somos susce-tíveis a contrair o vírus.

Um exemplo prático é a re-tirada de preservativos, que deixou de ser feita no balcão das Unidades de Saúde de Ita-jaí, para estar nas paredes, em caixas transparentes, de livre acesso. As campanhas de distri-buição em escolas ou locais fre-quentados por jovens também seguem essa tendência. “Isto não deve ser entendido como estímulo à prática sexual, e sim como incentivo à proteção, em caso de relação sexual”, destaca Ana.

Os casos em SC e no BrasilSanta Catarina registrou

25.950 pessoas infectadas pelo HIV no período de 1984 até 2010, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. Florianópolis registra atualmente 4.174 casos, seguida por Joinville, com 2.836 e Itajaí, com 2.230, informa o programa DST/Aids do Estado.

No Brasil, estima-se que existam 630 mil infectados. Cer-ca de 260 mil não sabe ou nun-ca fez o teste do HIV. Em 2009, foram descobertos 38.538 novos casos, segundo dados do Minis-tério da Saúde.

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12 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

Saúde

Desânimo, tristeza e medo. A depressão pode chegar a pontos extremos se não for tratada adequadamente

Leticia Dias da Costa e Pricilla Vargas*

Banco de Imagens

Banco de Imagens

Vida sem sentido tem causas e exige curas

Pedri diz que é importante que pessoas com depressão não vivam em função dos medica-mentos – é preciso trabalhar os problemas, não buscar apenas amenizar os sintomas, sem sa-ber a causa. - Ketlin comenta que a medicação não serve para “dopar” a pessoa, a ideia é que ela sirva de apoio no tratamen-to.

Além dos medicamentos, Tatiane recorreu à ajuda de li-vros e terapias para se livrar da depressão. Ela recomenda que pessoas que passam pela mes-ma situação busquem o apoio da família e dos amigos. Outro meio importante de apoio é o Centro de Valorização à Vida (CVV). Segundo Adriana Rizzo, voluntária e coordenadora de Divulgação do CVV, o Centro atua na prevenção do suicídio, disponibilizando, através de chat, telefone e canais de voz pela internet, pessoas prepa-radas para atender a quem o procura. Os atendentes do CVV são voluntários e atendem mais de 1 milhão de pessoas por ano - Sabemos que quando não con-seguimos nos comunicar uns com os outros podemos ficar deprimidos e pensar que nossa vida não vale a pena - aponta Adriana.

Os atendimentos realizados pelo CVV ajudam a diminuir o número de suicídios, que so-mente em Santa Catarina, che-

Isolamento, fuga do convívio social e sensação de culpa frequentes devem acionar um sinal de alerta

Terapias psicológicas e medicamentos apontam várias saídas

gam a 1.453 entre tentativas e suicídios consumados de 2010 a 2012, dado divulgado pela Gerência de Integração Polícia Comunidade (GIPC). Em Nave-gantes, no litoral norte de Santa Catarina, foram 9 suicídios em três anos, e 2 tentativas.

Quem faz parte desta lista de suicídios consumados é Car-los, na época com 23 anos. Sua mãe Léia, 49 anos, acredita que o rapaz fez isso em função do uso de drogas - Eu acho que foi uma fuga dos problemas e das drogas. Uma fuga da vida - diz a mãe. Carlos cometeu suicídio em julho de 2010. No laudo do IML consta “asfixia por enforca-mento”.

De acordo com a psicóloga Ketlin Raquel Pedri, o uso de drogas pode desencadear de-pressão - Algumas drogas quan-do atuam no organismo, aca-bam desestabilizando os nossos neurotransmissores, que são substâncias que agem na trans-missão de sinais entre os neu-rônios, entre as quais podemos destacar a serotonina - afirma. Muitos estudiosos defendem a ideia de que o baixo nível de se-rotonina seja um dos principais fatores que influencia a pessoa a desenvolver a depressão.

Os familiares de Carlos rela-tam que o rapaz não aparentava estar depressivo, mas acreditam que a atitude dele possa ter al-guma relação com os problemas

vividos por sua mãe. Léia sofre de depressão há 35 anos, e ten-tou suicídio inúmeras vezes. A primeira tentativa foi aos 14 anos, quando tomou um “co-quetel de remédios”. Léia ainda hoje faz tratamentos para ame-nizar os sintomas da doença, que no último ano deram uma trégua.

A psicóloga Ketlin esclarece que vários fatores podem desen-cadear a depressão, e a genética é um fator que pode influenciar no desenvolvimento da doença, mas isso depende do ambiente em que se vive e das relações sociais. - Não é uma regra, tem gente que é mais propensa a desenvolver a depressão pelo fa-tor genético, e não desencadeia a doença. E tem gente que não tem o fator genético e tem de-pressão – ressalta a psicóloga.

Epigenética: a culpa é dos pais?De acordo com um estudo

realizado em 2009 pelo psiquia-tra Gustavo Turecki, um dos maiores especialista em gené-tica do suicídio, coordenador do Centro de Estudos de Suicí-dio da Universidade McGill em Montreal no Canadá, não há genes que fazem as pessoas se suicidarem, o que existe é uma carga genética que aumenta ou diminui certos comportamentos de risco associados ao suicídio.

Os fatores mais estudados até agora são a impulsividade e a agressividade.

As pesquisas têm aponta-do para a “epigenética”, que compreende as interações en-tre DNA e fatores externos que agem sobre o organismo durante a infância, alterando a expressão de alguns genes por toda a vida. Turecki descobriu também que pelo menos 30% dos suicidas foi vítima de abu-so físico ou sexual ou de algum tipo de negligência por parte da família.

Depressão é coisa séria“A partir do momento que

você perceber que sua rotina está sendo modificada por al-gum problema, é preciso buscar ajuda. E quanto mais cedo você procurar apoio médico, maiores são as chances de se livrar da doença”, alerta Ketlin.

Em casos de depressão e se-guidas tentativas de suicídio, é comum que os familiares do do-ente não o levem a sério, e que encarem sua atitude como uma forma de chamar atenção. Mas, é preciso ficar atento. A depres-são precisa de tratamento e isso vai além da medicação, é preci-so descobrir a causa do proble-ma para trabalhar a situação, e evitar que o pior aconteça. “A fase inicial é a pior,

porque você se sen-te um fracasso, se

culpa por ter deixado a situa-ção sair de seu controle, quando na verdade não existe controle, não tem como falar: eu não vou ficar com depressão” - este é o desabafo de Tatiane, 29 anos, que passou por uma forte crise depressiva há três anos, e ainda hoje sofre com os sintomas da doença.

Considerada por muitos pesquisadores como o “mal do século”, a depressão é uma do-ença que compromete o indiví-duo física e mentalmente; são dores pelo corpo, sensação de cansaço e alterações no humor. Além disso, afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, muitas vezes distorcendo seus sentimentos e modificando sua visão de mundo.

De acordo com a Organiza-ção Mundial de Saúde (OMS), a depressão atinge 121 milhões de pessoas ao redor do mundo e está entre as principais causas que contribuem para incapaci-tar um indivíduo. No Brasil es-tima-se que cerca de 17 milhões de pessoas tenham a doença. Um dos principais problemas apontados pela OMS é que me-nos de 25% dos afetados têm acesso a tratamentos eficazes, como terapias e uso de medica-ção.

A psicóloga Ketlin Raquel

*Jornalismo, 4º período

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13JORNAL COBAIAItajaí, outubro e novembro de 2012

Esporte

Carolina Pamplona*

Itapema, Brusque, Gaspar e Balneário Camboriú já têm equipes formadas e começam a vencer preconceitos

P raticado tradicional-mente nos Estados Unidos, o futebol ame-

ricano surgiu no ano de 1867, inspirado nas regras do Rugby, e e está encontran-do adeptos e es-paço na região do Vale. Um espor-te em equipe, de força e estratégia , onde o objetivo é fazer avançar uma bola oval em território inimigo durante uma hora de tempo de jogo, que se transforma em três ou quatro de tempo real.

Para a prática do esporte é necessário cumprir algumas exi-gências, como os equi-pamentos. A ombreira (shoulder) e o capacete (helmet) são artigos es-senciais, pois é um espor-te de contato. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, o porte físico não é o quesito principal, pessoas de qualquer estatura e medida podem praticar o futebol ame-ricano.

André Gustavo Soberanski, 21 anos, começou a praticar o esporte há dois anos no time de Brusque, o Brusque Admirals. “Nunca fui do esporte, não pra-ticava nada, mas fui assistir a um jogo dos meus amigos e me interessei.” No entanto, ficou no time por pouco tempo, pois se lesionou e parou de jogar. Al-guns meses depois, André me-lhorou de sua lesão e foi con-vidado por dois amigos para montar o Devils Football, em Gaspar, sua cidade atual. Ele explica que não foi fácil montar

Carolina Pamplona

Futebol americano desperta interesse em SC

Unidos, o futebol ame-ricano surgiu no ano de 1867, inspirado nas

em três ou quatro de

Para a prática do esporte é necessário cumprir algumas exi-gências, como os equi-pamentos. A ombreira (shoulder) e o capacete (helmet) são artigos es-senciais, pois é um espor-te de contato. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, o porte físico não é o quesito principal, pessoas de qualquer estatura e medida podem praticar o futebol ame-

André Gustavo Soberanski, 21 anos, começou a praticar o esporte há dois anos no time de Brusque, o Brusque Admirals. “Nunca fui do esporte, não pra-ticava nada, mas fui assistir a um jogo dos meus amigos e me interessei.” No entanto, ficou no time por pouco tempo, pois se lesionou e parou de jogar. Al-guns meses depois, André me-lhorou de sua lesão e foi con-vidado por dois amigos para montar o Devils Football, em Gaspar, sua cidade atual. Ele explica que não foi fácil montar

o time: “Não apareceram mui-tos atletas, e depois tivemos

pro-b l e -mas pra achar um campo para jogar”. Hoje, de-pois de um ano e meio da fundação do Devils, a diretoria é com-posta por sete pessoas, e con-ta com 35 atletas inscritos. An-dré é o quarterback (lançador) e faz parte do conselho fiscal do time.

Depois de um amistoso em setembro, em Gaspar, entre

Devils e Lobos do Mar (de Balneário

C a m b o -r i ú ) ,

mais atletas entraram para o time, confirmando o interesse pelo esporte no Vale do Itajaí.

Em Itapema, o futebol ame-ricano é representado pelo time Itapema White Sharks que já existe oficialmente há um ano e seis meses. O time que surgiu

de uma brincadeira entre amigos, hoje conta com

a participação de 52 atletas, o apoio do

comércio local e da prefeitura

que oferece um campo

para os t r e i -nos. O

p r e -s i -

dente do White Sharks, Ranieri D’Avila Leski, de 37 anos, está com o time desde o início e destaca que o mais importan-te para a prática do esporte é o comprometimento total. “Di-zemos que é um jogo de xadrez com peças vivas, tudo é ensaia-do e pensado antes, a equipe tem que estar entrosada, não dá para jogar futebol ameri-cano sem treinar.” Como é um esporte que está crescendo na região, tudo é muito difícil. O presidente do time ressalta esse problema: “Os equipa-mentos são caros, o campo é diferente e tem tanta regra que o curso pra árbitro dura uma semana. Mas o mais difícil é o preconceito, as pessoas acham que jogar Futebol Americano mata, o que é um erro, é um es-porte de estratégia e esforço.” Ranieri completa dizendo que esse é um esporte apaixonan-te e que em breve vai estar no coração dos brasileiros. A dire-

toria do White Sharks ainda conta com os trabalhos do

Vice Presidente Joniel Las-ta, do Secretário Euclides Moises Francisco, do Te-soureiro Fernando Re-belo Zambonini. E como Coachs, Renan Kroth e Carlos Constantinov.

Junto com as ou-tras equipes do Vale, eles se unem e orga-nizam campeonatos e amistosos para

eliminar o preconcei-to contra a prática e atrair mais público e atletas para esse es-porte, que ajuda a promover interação

social e traz benefí-cios à saúde.

Banco de Imagens

Carolina Pamplona

*Jornalismo, 2º período

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14 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

A homepage do site é uma espécie de vitrine virtual. Quem acessa

a página pode ver as fotos dos produtos. As informações de ta-manho, composição e formas de pagamento também estão dis-poníveis. O contraponto à loja virtual se apresenta em forma de um vestido jeans, que foi a gran-de tendência dos anos 80, ou em coletes de veludo e crochê, peças obrigatórias para os seguido-res da moda na segunda meta-de do século XX. Todas peças únicas,

q u e ajudam a com-por o brechó online Speaklow.

A empresária Mariana Pellegrini Cordoni, fundadora do Speaklow, comen-ta que usa roupas de brechó desde a adolescên-cia e chegou a trabalhar no p r i m e i r o b r e c h ó concei-tual da

ConsumoRevisitar o passado está na crista da ondaInvestimentos em produtos e serviços com temática vintage e retrô tem sido a aposta de muitos empreendedores

Alan Vignoli e Bruna Osmari*

Cidade de São Paulo, durante a década de 90, onde teve a ideia de abrir o próprio negócio. “O meu brechó, como muitos, sur-giu da ideia de passar para fren-te as roupas que eu não usava mais. Assim, meio sem querer, fui conquistando clientes que continuam fiéis até hoje. Fiquei viciada em garimpar”.

Investir em peças e acessó-rios vintage e retrô foi uma apos-ta que deu certo também para a chilena Carolina Mattus, criado-

ra da loja virtual Pinches Vinta-ge, onde disponibiliza diversos produtos, muitos deles confec-cionados por ela, inspirados nas décadas passadas. “Quando eu morava no Chile, gostava muito de criar acessórios com peças antigas, logo vim morar em São Paulo e tive a ideia de criar uma loja, onde as mulheres pudes-sem conhecer o que produzo, o que acabou se tornando o meu trabalho. Passei então a levar a sério.”

Ambas as empresárias apontam que a

busca por um produto ex-

clusivo é um dos

p r i n -cipais f a t o -r e s q u e l e -v a m s e u s clien-tes a

adqui-r i r e m

as peças. “ T o d a s

as minhas clientes são

muito bem infor-madas com

relação às tendên-

c i a s d e

moda e são superexigentes. Sa-bem exatamente o que querem. Muitas vezes elas procuram algo específico e eu vou atrás”, expli-ca Mariana.

Para o economista Jairo Ro-meu Ferracioli, além do vestuá-rio, diversas outras áreas inves-tem em produtos e ambientes com temática retrô, desde ele-trodomésticos até decoração de ambientes. O especialista aconselha que é necessário to-mar cuidado ao investir nessa área pois, em alguns casos, pode ter prazo de validade. “É neces-sário estar atento às mudanças de comportamento dos clientes, sempre inovando, agregando valor ao produto ou serviço. O mercado é dinâmico, está sem-pre em movimento”.

Hoje o brechó se tornou uma opção de compra de roupas, cal-çados e acessórios para muitas pessoas. Mariana ressalta que o segmento se popularizou na Europa e nos Estados Unidos e está conquistando mercado no Brasil. “Em Londres, por exem-plo, há muito tempo os jovens frequentam brechós, com o in-tuito de gastar menos e ter ex-clusividade nas peças. Hoje em dia existem lojas imensas com peças restauradas, catalogadas, esterilizadas. Já não existe mais aquele preconceito com roupa usada”.

Nostalgia que dá lucroPara Jairo, muitas coisas do

passado agregam valor senti-mental aos olhos dos compra-dores, além da ideia, segundo ele verdadeira, de que as coisas antigas duravam mais. “O lan-çamento de algo que represen-ta durabilidade, sentimentos e muitas vezes paixão, tem pú-blico certo. Não só os mais sau-dosos, mas em famílias onde se preservam valores éticos e de re-

Todas peças únicas,

q u e ajudam a com-por o brechó online Speaklow.

A empresária Mariana Pellegrini Cordoni, fundadora do Speaklow, comen-ta que usa roupas de brechó desde a adolescên-cia e chegou a trabalhar no p r i m e i r o b r e c h ó concei-tual da

apontam que a busca por um

produto ex-clusivo é

um dos p r i n -cipais f a t o -r e s q u e l e -v a m s e u s clien-tes a

adqui-r i r e m

as peças. “ T o d a s

as minhas clientes são

muito bem infor-madas com

relação às tendên-

c i a s d e

lacionamentos, é de pai para fi-lho e de avô para neto e bisneto”.

A designer de moda Taiza Kaliowski concorda com a opi-nião do economista. “As pessoas gostam de reviver experiências, esse tipo de estilo faz com que as lembranças sejam reativa-das, é uma forma de resgatar diferenciais”. Taiza afirma que os mercados retrô e vintage têm crescido expressivamente nos últimos anos e com frequência algumas empresas apostam em relançamentos.

De olho neste novo merca-do, marcas conceituadas re-solveram reciclar alguns de seus antigos produtos. A Bras-temp, inspirada na tendência vintage, lançou neste ano uma nova linha de refrigeradores e fogões com design retrô. Já a Coca-Cola relançou na Europa a “Hutchinson”, uma versão da primeira garrafa de vidro da be-bida, criada em 1899, em come-moração aos seus 125 anos. De acordo com a designer, esta é uma forma de unir a identidade das marcas com o seu valor his-tórico, influenciada pelo aumen-to do interesse dos consumido-res pelo design retrô.

Outro fator que tem sido le-vado em conta é o custo-bene-fício dos produtos e a consciên-cia ecológica. Mariana defende que o segmento vintage é uma forma de contribuir com o meio ambiente, diminuindo a super-produção dos produtos e, conse-quentemente, gerar menos lixo e poluição. “Reutilizando uma roupa já existente, ela não vai para o lixo e também diminui o consumismo. Acredito que algu-mas atrizes e it girls, como Dita Von Teese e Alexa Chung, que usam roupas vintage ou com estilo retrô, influenciam muito também.”

Ambos ficaram populares há alguns anos, e muitas vezes são usados como sinônimos. Segundo a designer Taiza, vintage e retrô representam conceitos diferentes, são dois estilos dis-tintos que se inspiram no passado. Vintage é tudo aquilo que já foi usado há pelo menos duas décadas, e que ainda está em um bom estado, o suficiente para continuar sendo útil no dia a dia. Para que uma peça de roupa ou artigo de decoração seja considerado vintage, este não pode ter sofrido nenhum tipo de alteração, ou transformação.

Já o retrô é o passado fazendo uma visita ao presente, desta vez com um novo olhar. “Algo que remete a determinada épo-ca, como uma roupa inspirada nos anos 60, ou uma releitura de um estilo marcante”, explica Mariana. O retrô possui ins-piração vintage, mas é um elemento repaginado, muitas vezes utilizando tecnologia e acabamentos atuais, unindo nostalgia e modernidade.

*Jornalismo, 6º períodoBanc

o de

Imag

ens

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15JORNAL COBAIAItajaí, outubro e novembro de 2012

Cinema

Rodrigo Ramos

Resenha - Brasil, mostra a tua cara”, já dizia o poeta Cazuza. Filmes como O Palhaço, Tropa de Elite, Cidade de Deus e Narrado-res de Javé são exemplos de pro-duções que mostram do que é feito o país, exibindo a nossa identida-de. Nem tudo ali é literal e condiz com a realidade, mas certamente mostra características do nosso povo. A partir da frase do ex-voca-lista do Barão Vermelho, Até Que a Sorte Nos Separe pode ser ana-lisado através de duas vertentes: a primeira seria considerar que este filme traduz o brasileiro, ou a segunda, onde questionamos por que fazemos este tipo de cinema.

Partindo da primeira análise, o filme simplesmente supre as ne-cessidades da população. Em me-nos de um mês em cartaz, o longa já ultrapassou a marca de dois milhões de espectadores nos cine-mas. Logo, o brasileiro deve mes-mo gostar deste tipo de humor. O que não me surpreende já que

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Zorra Total ainda está no ar, em-pobrecendo cada dia mais a comé-dia no país. É aí mesmo que entra o dedo da Rede Globo. Até Que a Sorte Nos Separe parece um epi-sódio prolongado de Zorra Total, só que com menos personagens e tentativas ainda mais frustrantes de atuação.

O enredo traz Tino (Lean-dro Hassum) e Jane (Danielle Winits), um casal que ganhou na Mega Sena e, desde então, vive da ostentação. Só que depois de tanto gastar, a conta está no ver-melho. Tino, então, precisa dar um jeito de colocar as contas em dia, mas revela apenas o que está acontecendo para os filhos, já que a esposa está grávida e não pode se incomodar com nada para não correr o risco de ter complicações na gravidez.

O plot em si não é tão ruim. O problema é o que fazem com ele. O humor sem graça e de piadas forçadas, além de exageros em

suspiros, falas, bocas, olhares e gestos é o que permeia Até Que a Sorte Nos Separe. São gags fáceis, manjadas, além de apostar em al-guns momentos de mau gosto. O roteiro é risível, mas de maneira oposta do que se espera. São situ-ações tão previsíveis, atuações tão overacting, que dá vontade de le-vantar da cadeira e sair do cinema logo nos primeiros minutos. Mas teve gente que se divertiu e que realmente gosta disso. É a zona de conforto. Você já vai ao cinema sabendo o que esperar. Não impor-ta se a piada tem 300 anos, se as performances são iguais às do já citado programa humorístico glo-bal, se a fórmula é a mais usada no planeta (o protagonista faz uma mancada, tenta consertar, seu par então descobre e se separa dele, fazendo com que ele tenha que fazer algo incrível – ou nem tanto – para se redimir e eles viverem fe-lizes para sempre).

Preocupa-me a noção de que Até Que a Sorte Nos Separe seja reflexo da nossa população. Por isso, vou contra esta ideia. A situ-ação me lembrou de uma discus-são que tive na faculdade em uma das aulas de Jornalismo, o que nos leva para a segunda parte da análise. Um colega meu disse que o jornalismo esportivo no Brasil cobre majoritariamente futebol porque o povo quer e a imprensa é o reflexo da sociedade. A ideia é de que se repete a mesma coisa, sem buscar inovar, porque o públi-co quer que seja assim. Discordo da opinião. Será que o brasileiro quer mesmo só futebol? Será que se forem oferecidas outras opções aos brasileiros, eles não irão gostar tanto quanto do jogo mais popular do país? Prova disto é que durante as Olimpíadas e Paraolimpíadas,

diversas pessoas estavam comen-tando nas redes sociais, interessa-das nos atletas tupiniquins e nas diversas modalidades, sendo mui-tas delas totalmente desconheci-das da massa.

Por exemplo, o MMA, esporte que atualmente é muito popular por aqui, nem sempre caiu nas gra-ças do público. Foi uma coisa nova que, através da internet, cobertura esportiva brasileira e dos próprios canais abertos (primeiro na Rede-TV e depois na Rede Globo), ga-nhou popularidade e hoje é um dos principais assuntos nas páginas esportivas.

Não é necessário lotar o cine-ma com porcarias. Não é preciso só fazer esse tipo de filme porque se presume que as pessoas só gostam disso. O público também aprecia boas películas. O que falta é pro-porcionar oportunidades ao povo para que ele assista a mais produ-ções como O Palhaço, e menos pro-

duções como Até Que a Sorte Nos Separe.

O longa-metragem dirigido por Roberto Santucci (De Pernas Pro Ar) é classificado em sua pá-gina no site da Globo Filmes como “uma comédia de erros”. Ela é uma comédia de erros no roteiro, nas atuações, na direção… Resumin-do: em tudo. Leandro Hassum e Danielle Winits estão cada vez mais irritantes a cada cena e é impossí-vel rir ao longo dos 90 minutos de projeção. São inúmeros exageros, estereótipos sociais recorrentes em comédias de Eddie Murphy, Adam Sandler e do próprio Zorra Total, como se não tivéssemos ultrapas-sado essa escala evolutiva ainda. Somos melhores do que esse hu-mor infantilizado (da pior maneira possível), repetitivo, sem graça, que cada vez mais faz o espectador pensar menos e ficar conformado com isso. Afinal de contas, é o que tem pra ver no cinema.

Até que a morte - do humor - nos separe

Daniele Winits: gags manjadas e mau gosto

Zorra Total com menos personagens e mais frustração

Page 16: Cobaia | #117 | 2012

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Background: colagem de Cássia Guerra

16 JORNAL COBAIA Itajaí, outubro e novembro de 2012

Moda

A primavera já nos deu boas-vindas, o horá-rio de verão também e

agora esperamos ansiosamente pela nova estação. As semanas de moda nacionais e internacio-nais, que ainda têm muita influ-ência, já ditaram o que podemos esperar: tendências muito di-versificadas. Os Anos Dourados têm como inspiração a beleza da mulher dos anos 50 e apre-sentam peças em tons pastéis, cintura alta e marcada, fendas, delineador gatinho, sapatilhas, scarpins envernizados e tudo mais que resgate o charme da-quela década; o Art Déco traz todo o glamour e luxo dos anos 20 em peças metalizadas, nude, estampas geométricas, pérolas, cabelos curtos e vestidos tu-bulares; o esporte chic mistura roupas despojadas com detalhes sofisticados e estampas digitais desde tropicais até as de paisa-gens.

A Diretora Executiva e fun-dadora do site We Fashion You, Cássia Just Guerra, aposta que os geométricos vão apa-recer com força nesse verão e que o dark floral parece fi-nalmente cair no gosto das brasileiras,“mas não aposto na mistura de padronagens como vimos em estações anteriores. As texturas ficam por conta de franjas e tecidos glossy. Acredi-to que os anos 20 estão influen-ciando fortemente essa próxima estação”. A analista de Mídias Sociais da FIP – Feira da Moda e Publicitária formada pela Uni-versidade do Vale do Itajaí, Ca-mila Dias, acredita que cores cí-tricas, detalhes em neon, calças estampadas, silhueta em forma de A e o resgate de peças espor-tivas para looks modernos tam-bém vêm fortes.

O fundo do mar é outro hit para o verão: estamparia inspi-rada nos elementos marítimos; cores iridescentes, branco, pra-ta, todos os tons de azul, ver-de-água, candy colors; cortes soltos que geram movimento e lembram um espelho d’água; modelos peplum, calça flare, vestidos de prega, tops, lante-joulas e corais. A ideia é mistu-rar tendências ou combiná-las com looks básicos como calça jeans e camiseta. Nas mãos não seria diferente – a promessa é ver muita cor neutra misturada com tons neon, metálicos e bri-lhosos; inglesinhas feitas com renda e a pontinha em cores quentes e ombré nails (degradê de tons).

O Movimento Slow-FashionNão é só de tendências efême-

ras que se cria moda. A busca pela

Ética e consumo consciente: tendências em 2013As passarelas e os estilistas ensinam que a nova ordem no mundo fashion é criar mais, descartar menos e ousar muito

Suelen de Figueiredo

sustentabilidade e preservação da natureza, o comportamento cons-ciente, o reaproveitamento e a valorização da qualidade ganham cada vez mais força, desde que o Movimento Slow-Fashion teve início em 2007, na Europa, como um estilo de vida, um apelo con-tra o Movimento Fast-Fashion, o consumismo exagerado e a mão de obra escrava das grandes em-presas para baratear os custos. O intuito é evitar o descarte pre-maturo das roupas e valorizar o artesanato, as produções manufa-turadas, a reciclagem.

“O Slow-Fashion é mais que necessário tanto por causa da nos-sa vida frenética de hoje, quanto pela produção excessiva de des-cartes. Incentivar a produção na-cional de artesanato voltada para a moda ou para as outras áreas é uma ótima maneira de valorizar-mos o nosso país, nossa cultura e de fazermos algo olhando para dentro, para as nossas raízes, as quais são muito ricas e inexplora-das, para assim pararmos de olhar para fora, buscando uma identi-dade na moda brasileira. E olhar para dentro também serve para cada indivíduo buscar o seu esti-lo pessoal, para que não precise renovar o guarda-roupas a cada temporada de moda que surge. Ter um estilo genuíno e pessoal

é fundamental.”, destaca Cristina Streciwik, produtora de conteúdo audiovisual, sócia da empresa Ser Sustentável Com Estilo e adepta ao movimento.

Cássia Guerra acredita no comportamento em si. E é adep-ta ao movimento até certo ponto, à medida que prefere consumir peças atemporais e de qualidade, que durarão muito mais tempo do que o modismo de uma rede de fast fashion. Mas, como em tudo na vida – ecologia, sustentabilida-de, direitos dos animais – é preciso procurar um equilíbrio. “Não dá pra se tornar a louca vegetariana que quer converter todo mundo ao seu tipo de alimentação, nem mesmo uma bitolada do consumo artesanal porque é Slow Fashion. Deu pra entender? Claro que de-vemos diminuir bastante esse tipo de consumo exacerbado, mas não sei quanto radicalizar ao pon-to de extinguir. Algumas pessoas vestem a camisa e ficam agressi-vas, entende? Eu quero poder ter meus delírios de consumo de vez em quando. Assim como fugir do regime e comer bacon” (risos).

Produtos do movimentoSão eco bags de todos os ti-

pos; joias produzidas com pe-daços de pedras brasileiras e a técnica do crochê; sapatos con-feccionados com pneu e madeira reutilizada; decoração para casas feitas com tapeçaria artística e

O dark floral caiu no gosto das brasileiras e está em alta no verão

Até os sapatos seguem a onda da moda ambientalmente correta

nalmente cair no gosto das brasileiras,“mas não aposto na

O dark floral caiu no gosto das brasileiras e está em alta no verão

reutilizada; decoração para casas feitas com tapeçaria artística e

tecelagem manual; e acessórios desenvolvidos com restos de cou-ro misturados com a técnica do tricô, macramê e bordado. Tons terrosos e materiais como palha, lona, papel, produtos confeccio-nados à mão e sapatos de salto baixo são destaques do movimen-to. Camila apoia todo o conceito e encontrou uma forma de evitar despesas desnecessárias: “Acho que depois daquela fase de estu-dante, com a grana curta, passei a aproveitar melhor minhas roupas. Para uma só peça eu consigo criar vários looks diferentes e todos dentro do meu estilo. Acredito que comprar coisas concisas com o seu estilo de vida e com o que você quer transferir como ima-gem pessoal é a melhor escolha.” No seu guarda-roupa, peças em corte evasê são essenciais e em tom de ironia, completa: “É até brega essa loucura que algumas meninas possuem por comprar tudo que é novo e tendência.”.

A moda vai além da confecção de roupas, é uma das expressões culturais mais importantes de uma época e através dela podem--se difundir novas tendências e disseminar informações. Estar “na moda” é se preocupar com o consumo consciente, com o meio ambiente, com o artesanato, com o comércio, a reciclagem e todas as questões do desenvolvimento sustentável.

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Até os sapatos seguem a onda da moda ambientalmente correta

Para ajudar o planeta- Pensar sobre o real papel que a moda desempenha em nossas vi-das, visitar brechós, reaproveitar peças e ver a roupa como um ob-jeto atemporal e duradouro;- Preferir tecidos orgânicos e du-ráveis, roupas com longevidade e produção em pequena escala ;- Ter ética, pensar ecologicamen-te, se preocupar com o meio--ambiente e com o seu próprio futuro.- Buscar equilíbrio entre seu es-tilo próprio, sua essência, sem esquecer a ecologia, o meio am-biente, a sustentabilidade.

Ecológica e criativaCássia Guerra tem paixão

pelo que faz – rasgação de seda à parte -, faz muito bem, entende de moda, faz mágica em suas re-dações, que sempre tem um tom poético, é organizada e está sem-pre em busca de inovação, prin-cipalmente seus próprios conhe-cimentos. Começou como hobbie juntar imagens aleatórias em um painel. Mas o resultado foi incrí-vel, suas ideias foram compradas pelas marcas Aesthetic e Dice e agora suas colagens vão estam-par t-shirts.