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Cobaia #104 | Agosto | 2010 | Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - Univali Mulheres ganham espaço na política global e conquistam eleitorado Voto facultativo para menores de 18 anos gera discussão Voz e vez para elas Redes sociais ampliam disputa pelo voto Canditatos precisam aprender a lidar com boatos durante a campanha eleitoral | 6 Jovens eleitores Eleições 2010

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Encontrar um bom jornalista que cubra a editoria de política, não é tarefa das mais fáceis. Trata-se de função bastante delicada dentro do jornalismo, uma vez que há a necessidade de um conhecimento maior sobre o tema em si, sobre o funcionamento da vida pública e também sobre os meandros da cena política brasileira. Talvez por isso, a intenção dos próprios alunos de primeiro período do curso de Jornalismo da Univali soa menos pedante: como este é um processo de constante aprendizado – e todos encontram-se num momento inicial – a elaboração de um jornal temático tendo como assunto principal a política serviria ao tema, emergente, e ao processo de ensino-aprendizagem. Boa leitura! (Sandro Lauri Galarça)

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Cobaia#104 | Agosto | 2010 | Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo - Univali

Mulheres ganham espaço na política global e conquistam eleitorado

Voto facultativo para menores de 18 anos gera discussão

Voz e vez para elas

Redes sociais ampliam disputa

pelo voto

Canditatos precisam aprender a lidar com boatos durante a campanha eleitoral | 6

Jovens eleitores

Eleições 2010

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Wellington Nardes [email protected]

Encontrar um bom jornalista que cubra a editoria de política, não é tarefa das mais fáceis. Trata-se de função bastante delica-da dentro do jornalismo, uma vez que há a necessidade de um conhecimento maior sobre o tema em si, sobre o funcionamento da vida pública e também sobre os mean-dros da cena política brasileira.

Talvez por isso, a intenção dos próprios alunos de primeiro período do curso de Jornalismo da Univali soa menos pedan-te: como este é um processo de constante aprend iza -do – e todos encontram-se num momen-to inicial – a elaboração de um jornal te-mático tendo como assun-to principal a política ser-viria ao tema, emergente, e ao processo de ensino-aprendizagem.

Definida a pauta, coube aos três pro-fessores e às três disciplinas envolvidas – Técnicas de Reportagem, Jornalismo Informativo e Introdução ao Jornalismo – viabilizar as pautas, os textos e a edição do material produzido pelos alunos.

Assunto obrigatório depois que a Copa do Mundo acabou para os brasileiros, as eleições mexem com a vida de todos, com a pauta nos jornais, com os programas de TV e com o cotidiano da população em geral. E justamente esse foi o motor que

direcionou as principais reportagens des-ta edição, cujo maior desafio foi equilibrar e não chocar fontes, dados, abordagem.

Assim, nasceram as primeiras expe-riências jornalísticas de uma turma que saiu às ruas ao final do primeiro semes-tre de 2010 com o espírito da aventura e da descoberta. A professora Vera Sommer auxiliou na concepção e elaboração das pautas, assim como foi um apoio funda-mental no período de apuração das infor-mações. Com os primeiros levantamentos em mãos, coube às duplas de repórteres complementarem as notas iniciais e trans-formar tudo em notícia.

O próximo passo foi a elaboração da primeira versão do texto, nas aulas de

J o r n a l i s m o In fo r mat ivo , nas noites de quarta-feira. A versão inicial deu a primeira forma ao texto jornalístico, que depois de algu-mas correções e alterações vol-tou aos alunos para o acaba-mento. No final desta etapa, as matérias esta-

vam prontas para serem editadas. Come-çavam a nascer as primeiras experiências jornalísticas da turma.

Por fim, na aula da professora Jane Cardozo da Silveira, o processo de edição deu a forma acabada aos textos jornalís-ticos. Títulos, linhas de apoio, correção e edição finalizam o Cobaia Especial Elei-ções. Para ter a cara da turma, entretanto, o jornal preservou estilos, respeitou esco-lhas e mexeu o mínimo possível na criação dos acadêmicos.

Boa leitura.

EEditorialditorial

Sandro Lauri Galarç[email protected]

EditorSandro Lauri GalarçaReg. Prof. 8357 MTb/RSProjeto Gráfico/CapaSandro Lauri GalarçaEstagiáriosAriana Russi DeschampsRafael Huppes PiassiniParticiparam desta EdiçãoAlan Vignoli, Ana Carolina Maykot, Ana Maria, Antoninho Junior Frit-zen Cota, Bárbara Caroline Ber-nardo, Bruna Haut, Bruna Osmari, Cynthia Badlhuk, Dayane Bueno Canha, Felipe Adam, Fernanda Sil-veira Pinto,

Gabriela Florêncio, Gabriela de Go-doy, Guilherme Altvater da Luz, Gui-lherme F. F. Soares, Ingrid Caroline Coelho, Jéssica Aparecida Gamba, Jéssica Eufrazio de Oliveira, Karine Rosane Mendonça, Leonardo José Costa, Manuella Perrone Marques, Márcia Peixe, Mariana Dutra, Mar-li Ap. Alves, Mauricio Hennemann, Monike Furtado, Nicholas Lyra, Pa-trícia Fernandes dos Santos, Pau-lo Alves, Raphaely Lopes Gouvêa Ribeiro, Rodrigo Ramos, Stéphanie Wrubleski da Rocha, Suelen Aline de Figueiredo, Tamiris Sibele Schlegel, Tatiana Sandri, Thaylan Werner.

Cobaia Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UNIVALI

O desafio da política

A turma saiu às ruas ao final do primeiro semestre de 2010 com o espírito da aventura e da

descoberta

Charge sobre a aprovação do Projeto Ficha Limpa

FICÇÃO Narrativas em profundidade LITERATURA DE NÃO FICÇÃO Jornalismo Literário CONTO Crônica N LONGA Jornalismo de Profundidade NOVO JORNALISMO Jornalismo Gonzo NAMOROS COM A LITERATCRÔNICA Narrativas em Profundidade Jornalismo Literário CONTO Crônica NARRATIVA LONGA Novo J

Domingo à noite. Pais iso-lados no quarto, discutindo. Fi-lhos em seus quartos, isolados. Cômodos vazios e o áudio da TV ecoando pelos corredores da casa. A voz de Milton Neves é quase um pesadelo ao pai que ouve a notícia da derrota do Fla-mengo e causa um ambiente de-sagradável na família porque o time perdeu mais uma. O humor do patriarca está diretamente li-

gado ao desempenho do time no jogo da tarde.

Cenário perfeito para justifi-car porque pessoas teoricamente comuns e inseridas num círculo social defendam tão arduamente a camisa de um time de futebol ao ponto de brigar intensamente quebrando um bocado de dentes cada vez que encontra um tor-cedor adversário. Claro, é obvio, por um lar agradável faz-se tudo, então que o time vença até por-que os dentes nem são tão im-portantes assim.

A selvageria nos estádios

de futebol causada por torcidas rivais que se degladiam numa guerra quase que incessante existe porque no Brasil a lei é branda e a sensação de impuni-dade é imensa. Quando criança era comum que o clima estives-se de acordo com o rendimento do time e isso se transfere para a vida. É uma questão de identi-dade. É uma questão dos traços culturais que permeiam a sua infância.

Há violência desenfreada nos estádios de futebol no Brasil, en-quanto em outros, mais desen-

volvidos, há um pouco mais de controle e isso quase não ocorre. “Cheguei a uma conclusão: a violência, pelo menos aqui, não tem data para acabar, tampou-co diminuir” diz Paulo Castilho, promotor do Ministério Público, que investiga casos de violência nos estádios. É como se nada que houvesse no Brasil pudesse causar satisfação aos brasileiros, apenas o futebol. É como se as injustiças sociais fossem supri-das pela felicidade de uma go-leada. É como se as brigas entre o casal fossem deixadas de lado

por uma simples vitória do time. Portanto, a criança cresce

num ambiente de “patriotismo flamenguista” demasiado e ai de alguém se puser em cheque cer-tezas da torcida como a de que em 87 o campeão foi o Flamengo e não o Sport. Prefere brigar, ou mesmo assassinar, a ter a condi-ção de um ambiente agradável em casa posta em dúvida. E no outro domingo quando o sol se põe, todos riem sentados à mesa jantando numa fraternal comu-nhão. O Flamengo vence por três a zero.

FICÇÃO Narrativas em profundidade LITERATURA DE NÃO FICÇÃO Jornalismo Literário CONTO Crônica NARRATIVA LONGA Jornalismo de Profundidade NOVO JORNALISMO Jornalismo Gonzo NAMOROS COM A LITERATURA ContoCRÔNICA Narrativas em Profundidade Jornalismo Literário CONTO Crônica NARRATIVA LONGA Novo JornalismoDomingo à noite

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Ingrid Caroline Coelho [email protected]

Fernanda Silveira Pinto [email protected]

Donos do poder e da mídiaCandidatos que possuem veículos de comunicação levam vantagem sobre os concorrentes

Segundo o Fórum Nacional de De-mocratização da Informação, Santa Ca-tarina aparece em 13° lugar na lista de estados que mais tem políticos como sócios de veículos de comunicação. O site Monitor de Mídia publicou em 6/10/2008 a lista desses políticos: o vice-govWernador Leonel Pavan (PSDB), o senador Neuto de Conto (PMDB), o se-nador João Raimundo Colombo (DEM), o deputado estadual César Souza Jú-nior (DEM) e mais cinco ex-prefeitos.

Segundo o site Os Donos da Mídia, as concessões de televisão tem que ser renovadas a cada dez anos e as de rá-dio a cada quinze anos. Oito das nove concessões acima estão vencidas. Esses números tendem a estar subestimados, pois é conhecido o método do uso de laranjas para esconder os verdadeiros proprietários.

“O dono do poder é o dono da co-municação”, diz Pedro Luis Schilin-dwein, que se aposentou como Chefe do

Setor de Patrimônio da Fundação Cultu-ral de Curitiba. “O único interesse dos políticos nos meios de comunicação é fazer com que o próprio político seja co-nhecido. É campanha eleitoral 365 dias por ano.” Segundo Pedro, o povo tem a tendência a votar no candidato do vizi-nho ou naquele que está na frente para não ‘desperdiçar’ o voto. “Agora com o Ficha Limpa, acredito que mudará um pouco, veja o exemplo do Sarney, fez do Senado seu ninho e dali não sai.”

Concessões devem ser renovadas a cada 10 anos

Com a aproximação das elei-ções, candidatos começam a cor-reria para aparecer. Alguns con-

tam com uma vantagem: ter seu próprio veículo de comunicação. Segundo Ademir Brito, assessor de Comunicação do Ministério das Comunicações, conforme a LGT – Lei 9472, políticos não são proibidos de ter sociedade em emissoras de rádio e televi-são, mas sim de serem dirigentes desses veículos. De acordo com o artigo 45 da lei 9504, a partir do resultado da convenção é ve-dado, ainda, às emissoras trans-mitir programa apresentado ou

comentado por candidato esco-lhido em convenção.

De acordo com reportagem de Elvira Lobato, publicada em 17 de dezembro de 2009 pela Fo-lha online, a primeira Conferên-cia Nacional de Comunicação aprovou, por consenso, proposta que proíbe políticos (governa-dores, senadores, deputados) e seus familiares em até segundo grau de possuir emissoras de rá-dio e televisão. Mas a Conferên-cia não tem o poder de impor a

mudança, apenas recomendá-la.“A luta é desigual”, relata Val-

mir Coelho Ludvig, vereador da cidade de Brusque, pré-candi-dato do PT a Deputado Federal, professor, músico e poeta. “Es-ses políticos ficam em evidência não só no período eleitoral, mas o tempo todo”. Valmir diz que a legislação é dúbia. Nos meios de comunicação, sempre se dá um jeito de driblar as regras, por exemplo, colocando na rádio uma música que lembra a cam-

panha do candidato. “Conversei com um técnico, é possível colo-car mais de 100 rádios FM em Brusque, sem que uma interfira na outra. Isso não acontece por-que desmonta o poder. A radio-difusão é mais lucrativa do que a política, porém a autoridade de fazer a lei é o que interessa, as-segura o domínio sobre os meios de comunicação”. Para Valmir, a liberdade de imprensa é uma mentira, “ninguém é totalmente neutro”.

Concessões devem ser renovadas a cada 10 anos

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Antoninho Jr. Fritzen [email protected]

Márcia Peixe [email protected]

O caminho da democracia no Brasil é marcado por golpes, luta e resistência

De Cabral a Lula

78 anos de obrigatoriedadeMesmo com toda a informação disponível, eleitores não acreditam que sua participação vai mudar a política do país

As eleições estão chegando e a preocupação de enfrentar fi-las e decidir o futuro de um país pesa na mente de jovens e adul-tos. Ao votar em um indivíduo, o cidadão fará muito mais do que exercer sua cidadania: mudará completamente o cenário político do Brasil.

Conforme o tempo passa, percebe-se que o povo tem uma grande dificuldade em escolher

políticos honestos e competentes para que defendam seus interes-ses. Uma das teorias do por que isto ocorre é o fato de que a maio-ria da população vota obrigato-riamente, e sem consciência.

Como exemplo, vários parla-mentares já discutiram a ideia do voto facultativo. Nos relatórios expostos pelo Senado, aparece o posicionamento de que vivemos uma ficção, pensando que o voto tem que ser obrigatório. Até hoje ninguém foi punido por não vo-tar.

Sobre o assunto, jovens e adultos têm opiniões divergen-tes. Caroline Maurina, 18 anos e eleitora de primeira viagem, afir-ma que votaria mesmo que não fosse obrigada. “Acredito que a política de nosso país é feita por nós, e quem não vota não pode dizer que o governo está ruim”, opinou.

Já sua mãe, Gema Maurina, pensa diferente. “Não digo que o voto não é importante, afinal não vivemos mais na época da ditadura, mas acredito que o voto obrigatório faz com que muitas pessoas que não tenham noção do que é melhor para o país ele-jam um candidato desonesto. Lembro-me que o presidente Collor só foi eleito porque muitas mulheres o achavam bonito”, cri-ticou.

Tarciso Polo Pires, 25 anos e corretor de imóveis, chama a atenção para o fato de que inde-pendente do voto ser facultativo ou não, a situação do país acaba-rá sendo a mesma. Cabe ao polí-tico ouvir seus eleitores e exercer a profissão corretamente.

Eleitores faltantes começa-ram a ser punidos em 1824. Esta lei caiu em 1891, mas foi resti-tuída em 1932, pelo presidente

Getúlio Vargas. Desde então, são 78 anos de obrigatoriedade. Mui-tos especialistas concordam que a situação é prejudicial para o país, estimulando a impunidade e omissão dos três poderes (Exe-cutivo, Legislativo e Judiciário).

Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, em 2010, 55% da população brasileira, entre 18 e 70 anos, votariam mesmo que não fossem obrigados. A taxa tende a crescer conforme o grau de escolaridade aumenta. A re-gião Sul é líder quando se trata de indivíduos que gostariam de exercer sua cidadania, com 59%. Tudo indica que, apesar da alta taxa de corrupção na política, as pessoas ainda acreditam que podem fazer a diferença, visan-do um país melhor, no qual par-ticipar das eleições é muito mais que uma dívida com o estado, é uma obrigação moral.

Tamiris Sibele Schlegel [email protected]

Guilherme Altvater da Luz [email protected]

Arte: Rafael Huppes

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O país vive mais uma vez um momento importante para a consolidação da democracia. É a hora de escolher novos repre-sentantes nas esferas estadual e nacional para os próximos qua-tro anos. A população vai eleger deputados, governadores, sena-dores e o presidente da Repúbli-ca.

Para entender melhor o pro-cesso eleitoral, é preciso conhe-cer a história do Brasil. De 1500 a 1822 fomos colônia. Nessa condição, o país viveu 322 anos e apenas188 anos como nação in-dependente. A partir daí, o modo de governo passou por muitas transições. O regime ditatorial de Vargas, de 1930 a 1937, impul-sionou a organização, o fortale-cimento da indústria de base e o surgimento das leis trabalhistas.

Em 1944, era reinstituída a de-mocracia. Getúlio Vargas voltou ao governo em 1951, quando foi eleito pelo voto direto e perma-neceu até a sua morte em agosto de 1954. Entre os anos de 1964 e 1984, o país voltou a viver um período de ditadura, agora sob o regime militar. Muitas lutas, tor-turas e lágrimas se acumularam até que milhões de brasileiros foram às ruas e participaram do movimento das Diretas Já, em 1984. Contudo, seriam necessá-rios mais cinco anos para que Fernando Collor de Melo fosse o primeiro presidente eleito pelo voto popular, em 1989.

Relações perigosas

A relação entre a democracia e os cidadãos é vivida no dia-a-dia e não só nos períodos eleito-rais. Aprende-se a ser democrá-tico em casa, com os amigos, nos diversos grupos sociais, e não apenas no ato das eleições.

Nesta época, os canditados utilizam a campanha eleitoral para se aproximar da população e pedir votos. ”Entram nas ca-sas dos eleitores, sabendo que eles não vão exigir nada duran-te todo o seu mandato, porque agem como se lhes pertencesse

realmente. Por isso as pessoas aproveitam esta rara visita para trocar interesses, valendo isso apenas no período eleitoral,” co-menta Sérgio Saturnino Januá-rio, mestre em Ciências Políticas e professor da Univali.

Atitudes assim são pratica-das com frequência em todo o território brasileiro. As trocas de favores vão desde cestas básicas até negociatas por privilégios no espaço público. Para Adriana Marques Rossetto, coordenadora do Mestrado em Políticas Públi-cas da Univali, o povo brasilei-ro tem uma cultura de se eximir do direito de cobrar. As pessoas não acompanham regularmente as ações dos representantes, há pouca reflexão sobre a importân-cia do voto.

A democracia no Brasil hoje é a do patrimonialismo, já que o mandato é utilizado como posse, ao invés de representar os inte-resses públicos. “Eles defendem seus interesses particulares, e pouco se preocupam com a so-ciedade”, comenta Robson Hen-rique Parno, 23 anos, seguran-ça.

Segundo pesquisa divulgada pela Folha on-line em 2006,sete em cada dez brasileiros não lem-bram em quem votaram para

deputado, tanto federal como es-tadual.Na mesma reportagem, o cientista político Alberto Carlos Almeida observa que quem não se lembra em quem votou não pode fiscalizar seu representan-te. Almeida revela que 71% dos eleitores esqueceram em quem votaram para deputado federal quatro anos antes, e outros 3%

citam nomes inexistentes. Essa amnésia começa cedo: dois me-ses após a eleição, 28% já não se recordam de seu candidato a deputado federal, e 30%, em quem votaram para deputado estadual. Os dados constam no Estudo Eleitoral Brasileiro con-duzido pela UFF e pelo Cesop/Unicamp.

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78 anos de obrigatoriedadeEleições no twitter

Follow meFollow meCada vez com mais seguidores, os candidatos às eleições 2010 se tornaram populares no twitter e

buscam votos pela rede

Leonardo José Costa [email protected]

Internet aproxima eleitor e candidato

Monike [email protected]

Gabriela Florêncio [email protected]

O twitter se tornou este ano uma poderosa ferramenta de campanha para os políticos.Um levantamento feito no último dia 3 pela E-Life, uma empresa es-pecializada em redes sociais, re-velou que o número de usuários que emitiram mensagens sobre candidatos a presidência foi de 5 milhões.

Como uma forma de dissemi-nação rápida de informações, o twitter se tornou uma ferramenta poderosa na obtenção de votos para os candidatos a cargos do

governo nas eleições 2010. Atra-vés da rede social, muitos deles estão conseguindo convencer quem ainda estava indeciso e mudar a opinião de quem já ha-via se decidido. Esse é o caso de Marco Antônio Bernieri, 21, que decidiu seu voto baseado nas campanhas eleitorais transmiti-das pelos canais de TV aberta e foi motivado a mudar.

– É diferente quando você pode acompanhar os candidatos de perto e ficar sempre atualiza-do. No twitter é assim, tudo está à disposição, aponta Marcos.

O bom resultado das cam-panhas americanas de Barack Obama no twitter incentivou os candidatos brasileiros a recor-rer a este recurso, já que Obama

conseguiu a maioria dos votos dos eleitores indecisos em 2008.

Recentemente, uma pesqui-sa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação (Ce-tic), revelou que 67% dos brasi-leiros utilizam redes sociais; e o número só tende a aumentar, fator que faz com que recorrer ao twitter para conseguir votos seja algo inevitável em um futuro bem próximo. Pensando nisso, um grupo de profissio- nais com experiência em política e marketing digital preparou um curso para políticos e assessores apren-derem a montar suas estratégias em redes

sociais. O curso foi intitulado “Campanha política na Web-O que considerar na hora de mon-tar sua plataforma digital”.

As eleições 2010 podem ser acompanhadas pelo twitter do site Terra que montou uma co-bertura especial sobre a escolha dos próximos governantes. Basta seguir @terra_eleicoes.

Apesar de recente, o uso da internet já resulta em 19% da preferência do eleitor ao colher dados sobre as campanhas polí-ticas. Isso se deve à ampla possi-bilidade de troca de informações. É na rede que acontece a livre interação entre eleitor-eleitor e eleitor-candidato. Uma pesquisa da DataSenado de 2009 mostra que apesar da supremacia da te-levisão, é na internet que os bra-

sileiros vão discutir a próxima eleição.

Grande parte dos internautas tem entre 16 a 19 anos. Protago-nista da geração on-line, o estu-dante Jonas Augusto da Rosa, 18 anos, utiliza várias redes so-ciais. Seu primeiro voto será nas eleições deste ano. “A campa-nha política através da internet é mais direcionada. Não se fala para uma sala vazia, como num horário político na TV”, confessa Jonas. São jovens como ele que procuram a internet como ferra-menta de orientação.

Surge, então, o interesse dos candidatos em utilizar as redes sociais como disseminadoras de suas ideias, fermentando as campanhas. O assessor de im-prensa Bonifácio Thiesen, 59 anos, comenta que já nas elei-ções de 2000 usou a internet. De lá para cá, a i n t e r a ç ã o com os eleitores foi cada vez

mais ins- t a n t â n e a . “Facilita o trabalho do candidato e do eleitor. Deixa mais transparen-te o pro-c e s s o ” , diz Boni-

fácio, assessor da deputada An-gela Amin.

De acordo com a pesquisa da Internet World Stats de 2009, 67,5 milhões de brasileiros têm acesso à rede. O trabalho de conclusão de curso, da acadê-mica Fabiana Pitt, “Marketing político digital made in Brazil”, sugere que as estratégias de propaganda mostram um dife-rencial. A rede é capaz de trans-formar o espaço cibernético em uma das maiores bases de apoio às campanhas eleitorais. Utili-zada como um instrumento fa-cilitador e menos burocrático, a internet serve de isca para pos-síveis votos.

Os candidatos têm seus pró-prios sites e páginas em rede so-ciais. O processo funciona como uma forma de “prestação de con-tas”, onde se disponibilizam a atender e responder os eleitores e também divulgar seu trabalho. Em seus quatro anos de política, o deputado estadual Sargento Soares, 43 anos, concorda que a rede sociabiliza o processo polí-tico, pois a interação com os elei-tores é permanente. A senadora Ideli Salvatti, 58 anos, também acredita que no modo on-line

Novas tecnologias propiciam o contato direto pela rede mundial de computadores

tudo acontece de forma rápida, estabelecendo a democracia.

Usar a internet tornou-se tão comum na política, que até os protestos eleitorais do Irã em 2009 tiveram a ajuda da web

através de redes sociais. Em ve-ículos da mídia tradicional, esse tipo de informação sofreria cen-sura, mas o fluxo de informações na internet possibilita eleições mais democráticas.

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http://sacolaecologica.wordpress.com

Arte : Rafael Huppes

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cípio. A informação pode ter aju-dado a mudar o quadro eleitoral da cidade. Eram três candidatos: Dalírio Beber (candidato da si-tuação, apoiado pelo prefeito Renato Vianna), Wilson WanDall (PFL, atual DEM e deputado es-tadual) e Décio Lima (PT e ve-reador). Na véspera da eleição um panfleto inautêntico circulou pela cidade comentando que o Dalírio estaria desis-tindo da eleição, e apoiando Décio Lima que apare-cia em terceiro lugar. Uma for-ma de impedir o WanDall, primeiro nas pesquisas, de vencer a elei-ção. O fato é que a desis-tência nunca

o adversário de forma covarde. Maurício acredita que existem dois tipos de boatos: um com maldade que surge para dene-grir a imagem do candidato e o que ajuda na criação de uma figura positiva. Segundo ele, o ruim é quando o boato surge de um adversário para agredir o ou-tro, porque a população conhece a trajetória política dos candida-tos.

O boato incomoda porque pode se revelar verdadeiro, con-forme afirma Jean-Noël Kapfe-rer, renome em estudos sobre branding - construção e geren-ciamento de uma marca junto ao mercado – em seu livro Boatos: o mais antigo mídia do mundo. Pela possibilidade de se revelar verdadeiro, a estratégia de man-ter o político na mídia através de rumores que o deixem sobre um holofote é questionável. O boato é parte do mesmo principio que autentica o sonho ou a realida-de de ação dos autores, como explica o artigo “O boato como estratégia folkcomunicacional” de Sergio Luiz Gadini.

O jornalista Jefferson Dou-glas, 37 anos, da RBS TV de Blu-menau, analisou um boato que circulou durante a campanha de 1996 para prefeito do muni-

Mauricio Hennemann [email protected]

Stéphanie W. da Rocha [email protected]

Informação suspeita, ble-fe, maldade ou fofoca são alguns sinônimos para o fa-moso boato. A definição do dicionário Aurélio: notícia novidade que circula na boca do povo, sem origem conhe-cida que a autentique. Notí-cia falsa. Em um cenário de pré-campanha política, no qual a empreitada propria-mente dita só inicia no dia 6 de julho, os rumores surgem mesmo ofuscados pela Copa do Mundo, tímidos e pouco agressivos.

Para o pré candidato a de-putado estadual e ex-delega-do da Policia Geral de Santa Catarina e conselheiro da instituição a nível nacional, Maurício José Eskudlark, 52 anos, muitas vezes informa-ções verdadeiras são distor-cidas por candidatos rivais que procuram sempre atacar

De acordo com o livro escri-to por Jean-Noël Kapferer, o bo-ato sempre existiu em todos os aspectos de nossa vida. O autor diz que este tipo de comunica-ção não é controlada pela admi-nistração, é fonte mais credível do que os comunicados oficiais, são utilizados para atender in-teresses pessoais dos que o pra-ticam.

ocorreu. O impacto que isso teve na eleição é difícil de definir. No entanto Décio Lima, último nas pesquisas, acabou eleito.

Um terço das intenções de voto nas eleições presidenciais de outubro deste ano será deci-dido após a realização da Copa do Mundo, como afirma o presidente do Ibo-

pe Carlos Au-gusto

Montenegro para a agência O Globo. Portanto, apesar das campanhas não terem come-çado oficialmente, na prática o que se vê são boatos e dis-cursos para a promoção da visibilidade pública. Como ocorreu com as denúncias de

campanha eleitoral an-tecipada da candi-

data a presidência Dilma Roussef,

do Partido dos Trabalhado -res, pela 5º vez, quando discursou na come-moração no Dia do

Tr a b a -lhador.

Informação falsa pode abalar imagem de uma candidatura

Entre fatos e boatos

Sobre o livro

Fonte:comunicacaoorg.blogspot.comhttp

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Fotos: Maria Eduarda Müller

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Tatiana Sandri [email protected]

Paulo Alves [email protected]

O sexo frágil

encara a luta

O sexo frágil

encara a luta

Por que as mulheres serão o foco das eleições em 2010

Confira algumas das mulheres que compõem o atual cenário político do Brasil, de Santa Catarina e de Itajaí.

Elas na política

Dilma RousseffCandidata à presidência da república

Marina SilvaCandidata à presidência da república

Ideli SalvattiSenadora

Angela AminCandidata ao governo de Santa Catarina

Susi BelliniVereadora em Itajaí

As mulheres serão protago-nistas das eleições 2010 por dois motivos: são maioria do eleitora-do e duas candidatas importan-tes concorrerão ao maior cargo político do país. Desde 2000, o número de mulheres votantes ul-trapassou o de homens, e no dia 3 de outubro elas poderão deci-dir por uma mudança histórica no Brasil: reduzir a desigualda-de dos sexos na política.

Não é novidade que as mu-lheres estão se destacando no mercado e merecendo admiração em todos os cargos que ocupam, mas o país nunca foi comanda-do por uma delas. Segundo a pesquisa Mulher na Política, do Ibope e do Instituto Patrícia Gal-vão, realizada em 2009, cerca de 80% das pessoas pensam que a presença feminina vai melhorar a democracia e a política. Elas acreditam que honestidade e competência são características que seriam reforçadas se mais mulheres fossem eleitas.

O que pouca gente sabe é

que nas eleições também existe uma Lei de Cotas. Aprovada des-de o fim de 2009, ela começa a valer para a votação deste ano. A lei assegura que nenhum dos sexos pode ocupar mais do que 70% das candidaturas, ou seja, pelo menos 30% dos candidatos a todos os cargos devem ser mu-lheres.

Na disputa presidencial deste ano, há duas candidatas: Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV). O Brasil já teve duas mulheres concorrendo em 2006, com Heloisa Helena (PSOL) e Ana Maria Rangel (PRP), mas 2010 é o primeiro ano em que pelo menos uma delas têm for-ça eleitoral, favoritismo e reais chances de chegar à presidên-cia.

Dilma defende a força econô-mica do Estado e deve dar con-tinuidade às ações de governo do seu companheiro de partido e atual presidente, Luís Inácio, enquanto Marina se mostra mais esquerdista e disposta a aprimo-rar as atuais políticas sociais do país. Seja qual for a intenção, terá que ser muito bem apresen-tada: “Não é só porque é mulher que nós (mulheres) vamos votar nelas. Quem vai nos representar tem que prezar por um governo cada vez melhor”, adverte Ja-queline da Silva, 45 anos, elei-tora há 24.

Espaço Feminino

Não é preciso olhar para Brasília para enxergar o poder feminino na política. Em nível estadual é esperada a candida-tura de centenas de mulheres a deputadas e de pelo menos uma ao governo de Santa Catarina: Ângela Amin. Ângela foi eleita deputada federal com o maior número de votos em 2006 e é pré-candidata ao governo do estado pelo PP. Mas tem outro exemplo mais próximo: Susi Bellini, única vereadora em atividade em Itajaí e pré-candidata pelo PP a depu-tada estadual. “Sinceramente, eu torço muito pelas mulheres, para que tenham credibilidade e sejam eleitas, mas acima de tudo que tenham competência. Porque não basta se eleger. Nós, como qualquer outro candidato eleito, temos que mostrar porque viemos e buscar engajar cada vez mais todos e todas na polí-tica, para que reconheçam nosso trabalho. E mais ainda, colabo-rem e cobrem o que devemos re-alizar”, assegura Susi.

Portanto, 2010 será o ano eleitoral das mulheres. O Brasil tem três governadoras, dez se-nadoras, 45 deputadas federais, 106 deputadas estaduais, 505 prefeitas e 6.512 vereadoras em atividade. O país ocupa o 142º lugar em representação femi-

nina no mundo e a nova lei de cotas garantirá a participação de

mais mulheres nas disputas elei-torais.

Divulgação

Fotos de divulgação

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Especial

Alan Vignoli [email protected]

Maioridade penal e voto a partir dos dezesseis são temas que sempre geram discussão e confrontam opiniões. Auto-ridades afirmam que reduzir a idade penal não é a solução para diminuir o número de infrações cometidas por me-nores, e ainda poderá acar-retar outros problemas. A po-lêmica em cima de menores terem direito ao voto põe em julgamento a capacidade de cada indivíduo na hora de es-colher seu candidato.

Para o delegado Fábio Osório, da delegacia de Camboriú, reduzir a imputabili-dade penal g e r a r i a o u t r o p r o -b l e -m a ,

a superpopulação das cadeias. Ele afirma que o sistema carce-rário brasileiro é punitivo, não reeducativo e grande parte das pessoas saem muito pior do que entraram. Osório diz que a es-truturação familiar é uma das soluções para a diminuição de infrações cometidas por meno-res. “Atacar a consequência não é o foco, e sim a causa,” conclui.

Na opinião da advogada cri-minal Micheli Simas, o direito ao voto e a idade em que o indiví-duo pode responder perante a lei por infrações ou atos criminosos deveriam ser medidos pela capa-cidade intelectual de cada um e não pela idade biológica. A psi-cóloga Hortência Bardales Pezo explica que aos dezesseis anos a

pessoa já tem maturidade para responder

legalmente por seus

a t o s , m a s

essa não seria a solução para o problema. Para Hortência, o voto aos dezesseis é precoce, pois os jovens não tratam do assunto com a devida seriedade. O con-selheiro tutelar Adriano Gervá-sio declara que a questão é rela-tiva, depende da maturidade de cada um.

Gervásio aponta a falta de informação como uma das cau-sas de os jovens cometerem atos ilícitos. Afirma que muitos ado-lescentes entram para o mundo do crime por acharem que não serão punidos, ou pelo alicia-mento de adultos. Hortência complementa dizendo que o fato de o jovem saber que não irá res-ponder como um maior de idade pode influenciá-lo a cometer cri-mes, pela ideia de que ele terá o amparo da lei. Já Micheli Simas acredita que o menor não leva em conta a maioridade penal na hora de cometer crimes.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de fe-vereiro deste ano, pouco mais de 2,2 milhões de jovens entre 16 e 17 anos estão aptos a votar nessas eleições. Esse número equivale a 32,33% da população dessa idade. Na opinião do cien-tista político Gustavo Venturi, em entrevista ao site Instituto de Juventude Contemporânea, esse índice não pode ser con-siderado baixo, levando-se em conta que um estudo recente re-alizado com a população acima de dezoito anos concluiu que se o voto fosse facultativo metade desses adultos não votariam.

No Brasil, critérios

diferentes para definir idade

eleitoral e idade penal geram controvérsia

Voto aos 16 divide opiniões Voto aos 16 divide opiniões

Foto: Alan Vignoli

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http://geocities.ws/alysonhannigan

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Especial

Campanha incentiva jovem Quem ainda não fez 18 precisa de um empurrãozinho para exercer o direito de participar dos destinos do país

Com vez e sem voto Embora ocupem espaço cada vez maior na sociedade, é baixa a participação dos

menores de 18 nas urnas

Jéssica A. Gamba [email protected]

Segundo dados do Car-tório Eleitoral de Brusque, até 8 de junho os eleitores menores de dezoito anos ap-tos a votar nas eleições de 2010 no município somavam 1.224 pessoas, de um total de 72.964 eleitores. Assim como acontece em Brusque, em outros municípios de Santa Catarina o número de eleitores entre os jovens que não são obrigados a votar é baixo, apesar de ter aumen-tado em relação às últimas eleições presidenciais, con-forme dados publicados pelo Tribunal Regional Eleitoral – TRE/SC.

O chefe do cartório da 86ª Zona Eleitoral, Guilher-me Capistrano Benedet, aponta como motivos para esse baixo índice a falta de

consciência dos jovens e a des-preocupação com a política e com os destinos do país.

O estudante Helton Wisbeck, 17, não vai votar. Ele se justifi-ca dizendo que, além de não ser obrigado, sente-se despreparado. Não quer se decepcionar caso o candidato em que votar seja eleito e não cumprir suas pro-messas, ou não usar o dinheiro dos impostos para tomar as deci-sões corretas em favor do povo. Por isso, prefere esperar e tomar uma decisão mais madura.

O prazo para inscrições, transferência e alteração do tí-tulo de eleitor terminou no dia 5 de maio. Em 8 de junho, en-cerrou-se o prazo para os mu-nicípios mandarem seus dados ao Tribunal Superior Eleitoral. Após computar os dados, o TSE, vai divulgar o total de eleitores que irão às urnas em 2010. Os que não votam neste ano, mas quiserem providenciar o título, só poderão fazer o documento a partir do mês de novembro.

“Desde cedo aprendi o valor de um voto, o apoio dos meus pais foi de grande importância. É motivador saber que meu pri-meiro voto será para presidente”. A declaração entusiasmada é de Renata Sacuno das Neves Nor-te, estudante do ensino médio. Renata tirou seu título logo após completar 16 anos. Mas, esse

entusiasmo não é regra entre os eleitores menores de 18 anos. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 43% desse elei-torado tirou o titulo em 2008 e quase três milhões de menores de 18 anos votaram em todo o Brasil. Porém, o número de elei-tores com 16 e 17 anos diminuiu cerca de 25 %, segundo dados do TSE. Em março de 2010, o nú-mero de menores que estão ap-tos a votar caiu para pouco mais de 1 milhão e 792 mil eleitores.

Por causa disso, uma campa-nha do TSE no rádio e na tele-visão divulgou a importância do alistamento eleitoral para os jo-vens que completaram 16 anos. E conseguiu a adesão de outras instituições, como a Escola Pro-fessor Honório Miranda, de Gas-par, que cedeu dois dias letivos

para que seus alunos tiras-sem o título dentro da própria escola. A procura foi grande. “Esta campanha foi funda-mental para oportunizar o jovem a fazer o documento e para que ele crie desde já um maior senso crítico”, destaca Maria de Lurdes Becker, as-sistente técnica pedagógica.

O direito de voto aos 16 anos, instituído pela Consti-tuição de 1988, foi resultado da mobilização de estudan-tes e jovens que demonstra-ram interesse na vida política nacional e desejo de se ma-nifestar. Chamada de Cons-tituição “Cidadã”, por Ulys-ses Guimarães, foi ela que assegurou garantias sociais e representou um avanço em direção à democracia.

Bárbara C. Bernardo [email protected]

Manuella P. [email protected]

Eleitores com menos de 18 anos

Local

Bal. Camboriú

Blumenau

Brusque

Itajaí

Santa Catarina

Menores de 18 anos

2010 - 2006

1.207 1.069

3.060 2.100

1.224 641

2.087 1.559

98.511 103.924

Total de eleitores

2010 - 2006

80.376 71.442

222.490 202.657

72.994 63.577

125.461 113.062

4.541.200 4.169.422

Fonte: TRE/SC

Jéssica A. Gamba

A ida às urnas pouco atrai os menores de 18 anos, que preferem adiar o primeiro voto.

Ana Maba

http://sabetudo.net

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A cada eleição, cresce a participação de votantes com mais de 70 anos, que não são obrigados a comparecer às urnas

Gabriela de Godoy [email protected]

Ana Maria Cordeiro [email protected]

que muitos candidatos apresen-tam em sua campanha eleitoral programas específicos para esta faixa etária, geralmente relacio-nada à saúde, aposentadoria e lazer.

Um idoso na hora de emitir seu voto procura saber mais so-bre o candidato. Aos 70 anos, o eleitor já vivenciou guerras e conflitos, sobreviveu à ditadura , e sabe que o voto errado, pode por em crise, todo um país.

Izaul Neves Guerreiro, que aos 85 anos nunca deixou de comparecer as zonas eleitorais, nos dá sua opinião sobre o voto dos que já não tem obrigação de eleger: “Não é por que ficamos velhos, que não vamos participar das decisões do nosso país” afir-ma. Ele alega que quanto mais velha a pessoa fica, mais expe-riência de vida ela obtém, o que é de grande utilidade na hora de escolher o candidato que irá go-vernar o país.

Eles não querem ficar de foraEles não querem ficar de fora

Neuza Carolina, 72, assumiu ir contra a maioria, ela não vota há muito tempo e completa: “Não lembro qual foi à última vez que votei, e não c o s t u m a v a just i f icar ”. Ela avalia os candidatos como cor-ruptos em sua maioria, o que não a motiva em elegê-los.

A decisão de votar ou não, vale-se daquelas pessoas em que acreditam no comprometimen-to com a eleição, da contribuição que ela pode oferecer para a sociedade.

A cada eleição o número de idosos com 70 anos que saem de suas casas com destino as urnas está crescendo: 6,4% dos eleito-res brasileiros desta faixa etária ainda comparecem no dia de ele-ger seu candidato. Um número alto se comparado com o 1,34% que representa os eleitores entre 16 e 18 anos que também podem escolher entre votar ou não.

Segundo a Constituição Fe-deral em seu artigo 14, eleitores maiores de 70 anos têm voto fa-cultativo, ou seja, podem ou não exercer este direito. Prova disto é

Segundo a ConstituiçãoCapítulo IV - Dos Direitos Políticos

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrá-gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular.

§ 1 O alistamento eleitoral e o voto são:

I - Obrigatório para maiores de 18 anos

II - Facultativo para

a) os analfabetos;

b) os maiores de 70 anos;

c) os maiores de 16 e menores de 18 anos.

sxc.hu

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Uma pedra no caminho

Pessoas com necessidades especiais enfrentam dificuldades, mas têm direito de votar em local adaptado

Suelen A. de [email protected]

Cynthia Badlhuk [email protected]

Jossoel Nascimento, 56, en-tra no carro com a ajuda de seu irmão para chegar ao local de votação. Ao sair, abre sua ben-gala de locomoção e descobre os obstáculos que se apresentam em seu caminho até a seção elei-toral. Logo na entrada, se depara com as escadarias: ele posicio-na sua bengala a 20 centíme-tros do chão tocando o degrau a sua frente. Em aproximada-mente cinco minutos sobe dois lances de escada e lá está a fila de eleitores. Um mesário vai ao seu encontro e o conduz à sala de votação. Por um momento, to-das as pessoas se impressionam ao observar um deficiente visu-al assinando o nome. Jossoel se aproxima da urna eletrônica, ta-teia os botões e lê as escritas em Braille. Ao terminar, recebe um equipamento de áudio – fones de ouvido que permitem que o leitor confira por voz sintetizada o conteúdo do voto sem receio de erro. São 451 urnas com sof-

tware e fone de ouvido, para uso de deficientes visuais.

Ivonete de Fátima Antunes de Moraes, 38, professora de de-ficientes visuais há mais de oito anos, diz que todos os deficien-tes que conseguem ler e escre-ver estão aptos a votar. E os que não puderem assinar, podem ca-rimbar o polegar. Os deficientes intelectuais severos não votam, acrescenta. Ela evidencia que a maioria dos deficientes desco-nhece que têm o direito de po-der exigir uma urna com aces-sibilidade e revela também que muitos políticos aproveitam de seus recursos para persuadir os deficientes, obtendo assim, mais votos.

De acordo com os dados do último censo do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE), há hoje, no Brasil, 24,6 milhões de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, incluindo física e mental, o que representava 4,5% da população em 2000. Destas, mais de nove milhões são portadoras de al-gum tipo de deficiência física. A maior dificuldade encontrada por eles são as escadarias, os obstáculos, a falta de apoio e de rampas.

Conforme Clodoaldo Vitório Zimmerman, 65, que vota na cidade de Balneário Camboriú, o Tribunal Regional Eleitoral

(TRE) fornece uma adequada estrutura de acessibilidade para deficientes físicos e visuais, que além de facilitar a votação e o acesso aos locais das urnas, prio-riza, inclusive, pessoas que tem problemas de saúde.

Clodoaldo afirma também haver cédulas em Braille que permitem que o deficiente pos-sa fazer uma escolha individu-alizada. A estudante Grazielli Zimmer, do quinto período de direito da Universidade do Vale do Itajaí, 19 anos, ajuda seu avô, Gari Zimmer, a votar em épo-

cas eleitorais. Ele tem sequelas de um derrame e dificuldades para se locomover. Grazi alega que há muito para melhorar na infra-estrutura da região. Em Itapema, onde ela e seu avô vo-tam, a infra-estrutura é precária: não há rampas nem corrimões, dificultando o deslocamento das pessoas com deficiência.

As instruções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições deste ano prevêem a criação de seções especiais para portadores de deficiência, em lo-cal de fácil acesso, com estacio-

namento próximo e instalações, inclusive sanitárias, que aten-dam às normas da ABNT NBR 9050. Para exercer o voto nessas instalações, os eleitores porta-dores de deficiência deverão ter solicitado sua transferência até a data de fechamento do cadastro eleitoral. Os eleitores que vo-tam em seções especiais podem comunicar ao juiz eleitoral, por escrito, suas restrições e neces-sidades, de forma a permitir à Justiça Eleitoral providenciar os meios e recursos destinados a facilitar-lhes o exercício do voto.

sxc.hu

http://www.diariodepetropolis.com.br

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Voto nulo ou branco ?

Karine Rosane Mendonça [email protected]

Jéssica E. de Oliveira [email protected]

Patrícia F. dos Santos [email protected]

Mesários atuam pela democracia

Bruna [email protected]

Bruna Osmari [email protected]

Na hora de eleger um can-didato, muitos eleitores optam entre o voto nulo ou branco, mas não sabem a real finalidade de cada um. A falta de esclareci-mento de boa parte da popula-ção acaba por dificultar a com-preensão do processo eleitoral.

No Brasil, existem três tipos de voto. Os válidos são aqueles em que os eleitores têm um can-didato e registram sua decisão. O nulo acontece quando o elei-tor expressa sua vontade em não escolher nenhum dos represen-tantes. Por fim, o voto em bran-co se dá quando o eleitor quer participar do processo, mas não escolheu qualquer das opções disponíveis.

Paulo Márcio Cruz, pós-doutorado em Teoria do Estado pela Universidade de Alicante, na Espanha e professor da Uni-

vali, diferencia as modalidades de eleição. As proporcionais são aquelas que têm ligação direta com partidos políticos e elegem os deputados federais, estaduais e vereadores. Aqui, os eleitores podem escolher coligações parti-dárias sem definir um candidato específico. Já as eleições majori-

tárias definem o presidente da Repúbli-ca, senadores, governadores e prefeitos. É eleito o can-didato mais votado, inde-pendente de partidos.

O voto branco é con-t a b i l i z a d o somente nas eleições proporcionais, com a função de estabelecer o coefi-ciente eleitoral, ou seja, o número de votos válidos em determinada eleição. Com este resultado, fica definida a quantidade mínima de votos para os partidos elegerem um candidato de sua coligação. Os nulos, por sua vez, não têm aplicabilidade em nenhuma das

eleições, o eleitor apenas cumpre seu papel, sem influenciar can-didatos ou par-tidos. Portanto, caso um eleitor vote em branco para presiden-te, por exemplo, sua escolha terá o mesmo efeito que o nulo, pois sendo uma elei-ção majoritária,

não depende da quantidade de votos válidos para o candidato ganhar.

Paulo Cruz explica que quan-do a pessoa vota em branco, sig-nifica que ela, manifestou a sua vontade de participar da eleição, mas não escolheu um candidato. Em contrapartida, o nulo “é uma não-participação, o sujeito que

"Os brasileiros ainda são

como crianças na hora de

escolher um candidato"

Os mesários atuam na rea-lização dos trabalhos na mesa receptora de votos do início ao fim da votação. Recebem o elei-tor, colhem e conferem os seus documentos, e então liberam a urna para que o eleitor possa votar. Como autoridade máxima dentro da Seção Eleitoral, é ele que garante o sigilo do voto e que zela pela segurança de todo o processo da votação.

Não há remuneração pelo serviço prestado. O mesário re-cebe, pelos dias de atuação e de treinamento, o dobro em folga no trabalho, além de auxílio-ali-mentação no dia da eleição. Os

Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) possuem parcerias com universidades, oferecendo van-tagens como incluir as horas de trabalho na carga horária extra-curricular. A convocação é obri-gatória e, caso o convocado falte, poderá responder por crime de desobediência e fica sujeito ain-da, a processo criminal e multa a ser arbitrada pelo juiz eleitoral.

Os convocados têm um prazo máximo de cinco dias para alegar as razões de seu impedimento, e caso isso ocorra, deverão enviar um pedido ao juiz, alegando os motivos da ausência, não ficando isentos da convocação. Para Leo-nardo Marcelino de Godoy, téc-nico judiciário do TRE de Balne-ário Camboriú, os mesários são importantes colaboradores para que o processo eleitoral ocorra de maneira justa e democrática, atuando como representantes do povo e legitimando a atuação da Justiça.

De acordo com o TRE, as eleições precisarão de 300 mil pessoas para trabalhar. Aces-

sando o site ou comparecendo ao cartório eleitoral de sua cida-de, aqueles que não receberam a convocação também têm a possibilidade de participar, por meio do programa Mesário Vo-luntário. O comparecimento tem seus benefícios, porém “o exercí-cio da cidadania com certeza é o mais importante, pois atuando como colaboradores, garantimos eleições democráticas”, ressalta Fernanda Sell, 23 anos, mesária pela terceira vez em eleições.

Edson José Schneider, mesá-rio em duas eleições, conta com orgulho que a experiência como foi proveitosa, pelo fato de par-ticipar diretamente de um mo-mento importante na vida dos brasileiros. “Além disso, o fato de ter cumprido com minha obriga-ção de brasileiro me fez sentir importante neste processo”, ava-lia. O incentivo à participação cresce em nosso país e o TRE acredita que atuar como mesário é dar uma pequena colaboração à festa da democracia que é a re-alização de uma eleição.

Sem o trabalho destes profissionais, eleições se transformariam num problema para o TSE

Ver espaço.

anula está revoltado com algu-ma coisa, ele faz questão de não participar do processo, que é um direito dele”, afirma.

Esclarecidas as dúvidas so-bre o processo eleitoral, agora o eleitor pode ter mais consciência na hora de decidir. Se acredita que todo político é corrupto e que o sistema não funciona, uma boa opção neste caso, é anular como forma de protesto. No en-tanto, se a vontade é participar e se o eleitor acredita no processo, mas não tem um candidato es-colhido, vota em branco. Apesar disso tudo, os brasileiros ainda são como crianças na hora de escolher um candidato. Preci-sam ser estimulados à prática e amadurecer, para quem sabe um dia atingir a fase adulta e votar não mais por obrigação, mas por espontâneo interesse na vida po-lítica do país.

http:\\agencia.tse.gov.br

http://www.tre-ro.gov.br

Entenda o que pensam os eleitores que já declararam seu voto, sem

escolher qualquer candidato

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Voto nulo ou branco ?

Mesários atuam pela democracia

Votar para um bem que está

próximo

Votar para um bem que está

próximoteriais de construção para diver-sos candidatos na eleição de 2008. Com as doações, conseguiu cons-truir uma casa no bairro Limeira, na cidade de Brusque. Mas, ele não votou em ninguém, pois seu colégio eleitoral ficava em outra ci-dade. Portanto, usou os políticos.

Na cidade de Itajaí, porém, esta não parece ser uma práti-ca tão recorrente. Todos os en-trevistados pela reportagem do “Cobaia”disseram que nunca fo-ram procurados por políticos com intenção de comprar votos. O sol-dado Edson Carvalho, Policial Mi-litar do 1° Batalhão do município, relatou que nunca recebeu um chamado por causa deste tipo de delito. Porém, o acadêmico de Ci-ências da Computação da Univali, Hiago Flores, afirma ter recebido uma proposta ainda no tempo do colégio. Durante a eleição para o grêmio estudantil da escola, ofere-ceram-lhe entradas para uma festa em troca do seu voto. Ele recusou e ainda disse que numa eleição de cargos públicos também não o venderia.

O professor Claiton Vargas de-fende a tese de que o maior proble-ma no Brasil não é o político, e sim o eleitor. Ele acredita que o proble-ma é cultural, já que desde o início da história brasileira a corrupção acontecia deliberadamente e, de lá pra cá, modificou-se, mas nunca deixou de existir e ser praticada. “A legislação eleitoral é rígida, porém não adianta ela ser consistente, se nenhuma das outras duas pontas – eleitor e político – colaborarem”.

Entre os 17 entrevistados pelo “Cobaia”, 13 defenderam com orgulho o valor do voto e dis-seram que escolhem o me-lhor candidato e não quem paga mais. A exceção foi a estudante de Publicidade e Propaganda Bruna Pias: ela

afirmou que, dependendo da proposta, aceitaria vender seu voto. Como, por exemplo, se pagassem sua faculdade intei-

ra, que custa cerca de trinta e cinco mil reais.

Quanto vale o voto?

Combatida por quem reconhece a importância da democracia, a

corrupção eleitoral ainda preocupa

Rodrigo Ramos [email protected]

Nicholas Lyra [email protected]

Nos primeiros anos da Repú-blica, o voto de cabresto era um dos principais mecanismos de con-trole político no Brasil. Nas últimas décadas, desde que as eleições diretas foram reinstituídas, em 1989, a prática da compra de votos tornou-se um problema constante em períodos eleitorais. Promessas de cargos, botijões de gás, cesta básica, sacos de cimento, dinhei-ro vivo, tudo vale como objeto de troca dos políticos para conseguir votações mais expressivas. A ten-tação pode ser grande.

Apesar de ser um recurso co-nhecido da população e também praticado atualmente em regiões humildes, as pessoas acreditam que seja um hábito mais rotineiro em cidades do interior. A comer-ciante Maria Elizabeth de Oliveira é uma das que defende essa teoria, e acrescenta que nunca foi aborda-da, pois acredita que “os políticos sabem em quem chegar”. Para o taxista Ademir Poleza, o voto deve ser depositado em quem vai demonstrar resultado, e não em quem se utiliza de qualquer meio ilícito para ser bem suce-dido nas urnas.

No entanto, al-guns eleitores acei-tam a malandra-gem. O advogado e professor de Di-reito, Claiton Var-gas, conta que um cidadão p e d i u m a -

A importância de votar para um deputado estadual e federal da cidade ou região

Thaylan Werner [email protected]

Mariana Dutra

Você vai votar nessas elei-ções? “Eu queria, porque sei que é importante, mas não es-tou com cabeça e disposição pra pensa nisso agora”, decla-ra Amanda D’ávila da Silva, 16, natural de Itajaí. Se nessas eleições é esperada maior par-ticipação dos jovens em fun-ção do fluxo de informações nas redes sociais, nem todos seguem a tendência. A estu-dante tem perfil no Twitter, no Facebook, Orkut, Formspring, We heart it e no Tumblr. Segue 626 pessoas no twitter e , en-tre elas, nenhum candidato a cargo político. Desconhece qualquer candidato na cida-de, exceto por nomes como o do ex-prefeito e do atual.

Amanda tem contato dire-to com diversas redes sociais, provedoras constantes de in-formação. Questionada sobre o meio ideal para conhecer mais e decidir em quem votar, responde: a televisão. Ela não se informaria sobre os can-didatos através da internet. Prefere assistir à televisão e conversar com a mãe. “Acho que seguiria o meu candidato favorito no twitter, e só isso. Porque ali ele falaria o que vai fazer, como estão as coisas”.

Amanda confessa não co-nhecer nenhum candidato a governador, senador ou de-putado. Caso tivesse de votar, não saberia escolher alguém da cidade ou não, nunca pen-sou nisso. Não raro, o jovem não entende a importância de uma eleição, Falta, para ele, acreditar que precisa se in-formar e participar. Falta en-tender que as melhorias em sua cidade dependem direta

e indiretamente do desempenho dos políticos eleitos.

É o voto que define o grupo de pessoas que fará a gestão dos recursos públicos. É deste gru-po que partem as iniciativas de projetos e emendas que definem a distribuição da verba pública a ser investida, Suas ações in-fluenciam no projeto e execu-ção de obras de infraestrutura, na geração de empregos e em todo o desenvolvimento e assis-tência social. Em seu artigo “ A importância de ter um deputado estadual e federal da cidade ou região”, o economista e psico-pedagogo Welinton dos Santos afirma: “quanto maior a repre-sentatividade política de uma ci-dade ou região, maiores as opor-tunidades de recursos estaduais e federais destinados àquela lo-calidade.

Gabriela Guimarães Kuss, 24, é aluna de Medicina na Furb. Votou pela primeira vez aos dezesseis anos, em Ijuí, Rio Grande do Sul. Oito anos de-pois, a princípio, não lembra de seu primeiro voto para deputado federal. Após pensar, declara: “Eu acho que votei para (Paulo) Paim. Porque um amigo do meu pai era suplente dele e meu pai pediu. Tenho essa impressão. Se bem que ele é senador”. Quanto ao voto para deputado estadual, a estudante diz ter escolhido o candidato de acordo com as pro-postas que “pareciam mais rea-listas”. Apesar disso, conta que ele não era de sua cidade, mas de Porto Alegre, capital que fica há cerca de seis horas de Ijuí. Segundo Gabriela, à época não foram concebidos ou executados muitos projetos de lei em favor de sua cidade.

Questões muito sérias estão sob a responsabilidade de de-putados estaduais e federais, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, por exemplo. Em seu artigo, We-linton define as Câmaras como “órgãos de consulta superior que atendem na instância es-tadual aos Governadores e Se-cretários, na instância federal

ao Presidente da República, Vice-Presidente e seus Minis-tros, bem como são estes os representantes da população que podem estabelecer ins-tauração de inquérito contra qualquer tipo de irregularida-de do Executivo”. Dentro da Câmara dos deputados fede-rais há também as Comissões Permanentes, que discutem temas de relevância nacional, com alicerce nas opiniões de suas bases estaduais, formada pelos deputados estaduais.

“Eu gosto daquele verea-dor, acho que ele é duro o bas-tante para ‘arrumar’ aquela bagunça lá na Câmara dos de-putados”, afirma R., 22 anos, natural de Itajaí e estudante universitário (que não quer ser identificado), referindo-se ao vereador petista Niko-las Reis. Entrementes, basta observar suas roupas e bolsa para saber que é militante do partido. Nesses casos, quando a militância política está aci-ma do bem e do mal, a tendên-cia da escolha dos candidatos não recai no trabalho, na ética e no cumprimento do cargo, mas na opção partidária.

É essencial que se escolha de forma crítica e consciente os candidatos a deputado fe-deral e estadual. A influência do poder Legislativo na vida de cada um é muito grande, apesar de ser menos aparente que a do Executivo. A quali-dade de vida de um socieda-de depende do conjunto dos poderes agindo em favor da sua cidade ou região. Nessas eleições, Itajaí deve ter vários candidatos dispostos a repre-sentar a região na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. Os nomes ainda não estão confirmados. Após a confirmação dos nomes, avalie. Conheça as propostas, pesquise a trajetória política dos candidatos, veja de onde eles são e o pretendem. Sua cidade depende de sua parti-cipação ativa e inteligente.

Rafa

el H

uppe

s

Rodrigo Ramos

Page 14: Cobaia | #104 | 2010

Em uma sala ampla, com um imenso quadro da cidade-jardim, João Paulo Kleinubing despacha atrás de uma longa mesa retan-gular. Os quadros e homenagens organizados em uma estante com-binam com a mobília antiga do gabinete e revelam um pouco da

trajetória de quem está no segundo manda-

to como prefeito de Blumenau

e, dife-rentemente de outros políti-

cos, é contra o voto facultativo.

Para Kleinu-bing, o voto op-

cional não vai aproximar o eleitor do político e ainda pode diminuir a aprovação do candidato, aumen-tando a possibilidade do voto de cabresto – aquele imposto ao elei-tor por força de pressões de todo tipo.

A questão é polêmica: o profes-sor Odair José Groh, que leciona geografia no colégio Energia, ana-lisa o assunto recorrendo à história do país: ele lembra que a década de 80 foi dedicada à educação e acha que está por vir a década da politi-zação. Para o professor, a família e o educandário são instituições que

fazem com que o indivíduo apren-da a formar opi-niões. “A escola

é um reflexo da socieda-de”, ensina. Outro pro-

fessor de geogra-fia, Sil-vio Ma-cagnan,

servidor do Senai,

vê a ques-tão de outra

forma. Para ele, a democra-

cia no Brasil não é real. A população vota

em um dos candidatos esco-lhidos pelos partidos mais pode-rosos, porque falta organização e participação por parte do povo. E o vereador blumenauense Marco Antônio Wanrowsky lembra que “A democracia só sobrevive com a

participação das pessoas”.Segundo uma pesquisa enco-

mendada pelo instituto Datafolha, 48% dos entrevistados são favorá-veis ao voto obrigatório e 48% ao facultativo. É o que informa o jor-nalista Ricardo Noblat em seu blog no dia 29 de maio de 2010. A pes-quisa representa uma grande divi-são de opiniões entre o eleitorado brasileiro, já que a pesquisa ante-rior, encomendada em dezembro de 2008, apontava 53% dos cida-dãos favoráveis ao sufrágio obriga-tório.

Para saber mais sobre isso, a re-portagem do “Cobaia” ouviu elei-tores e registrou muita reclamação em torno do atual cenário da po-lítica nacional. Edna da Rosa, de 42 anos, há dez trabalhando como bibliotecária, afirma que “muitas pessoas não fazem nada em Brasí-lia”. E ainda enfatiza que se fosse opcional, não iria votar: “Eles não passam confiança”. Contrastando com essa ideia, a assistente admi-nistrativa Bianca Barros, 35 anos, garante que, apesar de não supor-tar as propagandas eleitorais, iria comparecer às urnas se a escolha fosse opcional: “Todo mundo tem o direito ao voto. Dou a minha opi-nião e isso é importante”. O con-tador Edgard Macedo, 50, enfatiza a importância do voto facultativo, pois “com a obrigação não há de-mocracia.” Segundo ele, adoles-centes de 16 anos não deveriam votar, porque se não tem respon-sabilidade para dirigir e responder por seus próprios atos, também não tem maturidade para escolher os comandantes do Brasil.

Direito ou Dever

Direito ou Dever

Obrigatoriedade do voto divide opiniões em Blumenau

Guilherme F. F. Soares [email protected]

Felipe Adam [email protected]

Fotos: Felipe Adam

Page 15: Cobaia | #104 | 2010

O dia 3 de outubro de 2010 vai ser uma data diferente para muitos brasileiros, afinal, é dia de eleição. Evilane Vieira Cota, 33 anos, é uma exceção. Para ela, esse será um domingo como qualquer outro, pois fará seus afazeres domésticos antes de aproveitar para brincar com os cinco filhos. Afinal, uma dura ro-tina diária não permite que reali-ze essas atividades. Ela trabalha todos os dias como empregada doméstica – pela manhã, deixa dois de seus filhos na creche, enquanto os outros três ficam na casa de Dona Vilce, uma senhora de 55 anos que cuida das crian-ças da vizinhança enquanto os

pais trabalham.Há exatamente 19 anos, a do-

méstica não enfrenta as filas de votação durante as eleições. Os motivos pelos quais ela não vota são os mais diversos: falta de tempo, indisponibilidade de ir ao local onde é feita a votação, situ-ação financeira difícil para quitar a dívida de R$54,00 que contraiu com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, principalmente, o fato de que Evilane não acredita que mais um voto vá fazer diferença em meio a tantos, e que possa mudar o modo como vive.

Com salário de R$580,00 e um auxílio de R$190,00 de seu ex-marido, a mãe de família, domés-tica e dona de casa sustenta as crianças, paga as contas de água e luz e ainda o financiamento de R$ 300,00 da casa de apenas dois cômodos, localizada em um bair-ro simples de Itajaí, que sempre alaga quando chove muito.

Eugênia de Souza, chefe em exercício do cartório eleitoral de Itajaí, explica que os eleitores que não votarem, não justifica-rem a ausência dentro do prazo

legal e não pagarem a multa, perdem vários direitos: tirar pas-saporte e carteira de identidade, inscrever-se em concurso públi-co, tomar posse ou assumir cargo público, obter empréstimos em bancos estatais, renovar matrícu-la em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo gover-no e praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda.

Essa é a teoria. Na prática, Evilane e os cinco filhos tem carteira de identidade, feita me-diante a apresentação daquele título de eleitor que ela fez há de-zenove anos e só usou uma vez. Agora, nem esse ela tem, pois já o rasgou. Evilane faz parte de um grupo que, segundo o ana-lista político Hélio Floriano dos Santos, o Estado não atinge e só vai começar a atingir quando a fiscalização dos órgãos públicos for mais intensa. Ele ainda afir-ma que a necessidade é a mãe de todas as coisas. Ou seja, as pes-soas vão procurar resolver suas pendências quando o problema estiver batendo à porta.

Excluídos da cidadania Por desconhecer o valor do voto, uma parcela da população descumpre dever e perde direitos

Dayane Bueno Canha [email protected]

Ana Carolina Maykot [email protected]

Evilane, a filha caçula e alguns documentos feitos mesmo sem o título eleitoral em dia.

O poder do seu voto

Apesar de a cada dois anos termos eleições no país, boa par-te da população não acredita no

poder do seu voto, acha que se votar não fará a mínima diferen-ça, não irá proporcionar qual-quer mudança.

É através do voto temos o importante direito de pôr no poder quem realmente poderá mudar a nação. É com ele que o cidadão manifesta sua vontade ou opinião. Salienta sua raiva, seus dissabores ou suas desilu-sões. E derivado dele, pode no futuro alcançar alegria e objeti-vos, melhorando o nosso país. O voto trata-se, pois, de uma ver-dadeira arma que deve ser utili-

zada pelo cidadão, não apenas para cumprir um dever cívico, mas, sobretudo bradar toda sua indignação com o estado das coisas.

Para Pedro Cardoso Silveira, 28 anos, formado e pós-gradua-do em direito, o voto realmente é importante, senão ele não seria obrigatório. Ele diz também que se todos acreditassem nessa im-portância, talvez pudessem ter pessoas melhores governando o local onde vivemos. Já Lucia-na Maria de Melo, de 34 anos, formada e pós-graduada em me-

dicina, diz que o voto não é im-portante e não acredita que seu voto tenha poder, pois afinal na política sempre houve corrupção e isso nunca vai mudar ou ter al-guma solução. Então, acha que o seu voto é inútil. Por isso, sem-pre opta pelo voto nulo.

O vereador Marcos Paulo da Silva Marquinhos do Bairro São Paulo, em Navegantes, acredi-ta que seu “objetivo de vida” é mudar a realidade da política na medida do possível. Então ele diz: “Não venda seu voto, pois quando você for cobrar do candi-

dato ele irá dizer que seu voto já foi pago!” Essa é uma frase que era usada na sua campanha de conscientização.

Segundo estatísticas do Tri-bunal Regional Eleitoral de San-ta Catarina o número de pessoas aptas ao voto na cidade de Itajaí é de 125.561. Em 2008, na últi-ma eleição, este número era de 120.324 pessoas. Já na cidade de Navegantes, este ano o eleitora-do chega a 36.921. O TRE ainda aponta que o número de títulos cancelados chega a 8.541 na ci-dade de Itajaí e Navegantes.

Raphaely L. Gouvêa Ribeiro

Marli Aparecida Alves [email protected]

Ana Carolina Maykot

Exercer a cidadania e colaborar com a democracia são as principais armas dos eleitores

Edils

on

[email protected]

Page 16: Cobaia | #104 | 2010

Ensaio FotográFico

Por Rafael Huppes Piassini

Olhar na multidão