cibercultura e educacao

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Cibercultura e Educação. Nossa proposta parte da sugestão de imersão na cibercultura em ambiente de aula; fazemos esse recorte deliberadamente, uma vez que o tema cibercultura e Educação é por demais vasto, e no momento vimos apresentar sucintamente algumas possibilidades que a cibercultura/o ciberespaço permite antever na escola, o que não significa que olvidamos o imenso poderio da Rede no que toca à Educação – e não se fala, naturalmente, apenas da escola, já a sociedade educa, o cinema educa, a literatura educa... e quando falamos cibercultura usamos a definição de Pierre Lévy: “Conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” Definição da qual destacamos a noção de atitudes, modos de pensamento e valores, no intuito de um diálogo com a “ética hacker”, que é descrita por Steven Levy no prefácio de seu livro Hackers: Heroes of the Computer Revolution, como sendo: Compartilhamento Abertura Descentralização Livre acesso aos computadores

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Cibercultura

Cibercultura e Educao.

Nossa proposta parte da sugesto de imerso na cibercultura em ambiente de aula; fazemos esse recorte deliberadamente, uma vez que o tema cibercultura e Educao por demais vasto, e no momento vimos apresentar sucintamente algumas possibilidades que a cibercultura/o ciberespao permite antever na escola, o que no significa que olvidamos o imenso poderio da Rede no que toca Educao e no se fala, naturalmente, apenas da escola, j a sociedade educa, o cinema educa, a literatura educa... e quando falamos cibercultura usamos a definio de Pierre Lvy:

Conjunto de tcnicas (materiais e intelectuais), de prticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespao

Definio da qual destacamos a noo de atitudes, modos de pensamento e valores, no intuito de um dilogo com a tica hacker, que descrita por Steven Levy no prefcio de seu livro Hackers: Heroes of the Computer Revolution, como sendo:CompartilhamentoAberturaDescentralizaoLivre acesso aos computadoresMelhoria do mundo

Criado por hackers, o ciberespao que abriga (e se irmana) com a cibercultura , inclusive [footnoteRef:1], disseminador de informao e produtor de conhecimento, sendo possvel que faa isso afirmativamente, imbudo de atitudes, valores e modos de pensar que tragam em seu bojo a tica hacker, no apenas em referncia aos compartilhamentos que ocorrem na Rede (compartilha-se livremente fotos, msicas, informaes...), mas respeitando o esprito dos criadores da Internet, que apontava (aponta) para a busca de um mundo melhor e mais humano, solidrio e informado. [1: J que no se poderia esquecer os maus usos da Rede, muitos deles, criminosos.]

( de se lamentar que esses princpios tenham sido esquecidos, ou ao menos postos de lado para dar lugar ao sentido negativo de hacker; vale lembrar que muitas outras pessoas na Histria, como o anarquista russo Piotr Kropotkin, j disseram que a ajuda mtua e a solidariedade so, na verdade, a nica possibilidade de uma humanidade digna desse nome).Assim, sugerimos que esses princpios hacker tenham no ciberespao um local para nossas experincias, quer dizer, sugestes de uso da rede nas escolas que promovam o compartilhamento livre, o prazer de trocar, de produzir solidariedades; e podemos tanto falar de iniciativas de pequena envergadura, como numa classe, numa escola, como de iniciativas advindas do poder pblico ou privado. No primeiro caso mostraremos sucintamente um projeto de autoria do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, cujo texto norteador contemplava o mundo digital e oferecia propostas interessantes para sua consecuo mas como se ver, passou por mudanas com a sada de Gil do Ministrio...

O projeto Cultura Viva, no qual foi um dos autores Gilberto Gil, tem como um dos eixos a criao de Pontos de Cultura, locais que, uma vez reconhecidos pelo Poder Pblico com esse direito, podem, nas palavras do autor:

A partir do Ponto, desencadeia-se um processo orgnico agregando novos agentes e parceiros e identificando novos pontos de apoio: a escola mais prxima que mantm suas instalaes e recursos fechados comunidade do entorno, o salo da igreja, a sede da sociedade amigos do bairro (...)(pgina 20)

Trata-se de um processo de agregao de aconteceres, desejos, possibilidades...um ponto de cultura (exemplo: Maloca, Vila Unio de Campinas, ponto de cultura que possui grfica prpria, e realiza cursos de arte, saraus, encontros para discusses de assuntos diversos, promove educao EJA, etc.) tem a potncia de reavivar espaos que talvez permaneam sem uso ou fechados aos fins-de-semana, qui trazendo, ao correr do tempo, maior poder poltico, de mobilizao, de disseminao de informao e conhecimento, de tomada de espaos pelo povo... No caso de nosso interesse maior, a ligao desses pontos de cultura com o ciberespao, o projeto prev que cada ponto de cultura receba :

Um estdio multimdia. Um equipamento nada sofisticado, quase caseiro (mesa em dois canais de udio, filmadora, gravador digital e dois computadores que funcionam como ilha de edio), permite gravar um CD, produzir um vdeo, colocar uma rdio no ar e uma pgina na internet, tudo com programas em software livre. (pgina 24)

Podemos imaginar que tal iniciativa contribua poderosamente, se bem conduzida, para que o universo que a cibercultura possa se tornar agente educativo, no somente disseminador de informaes, mas produtor de conhecimentos. Que se sugere? Que as escolas prximas a um ponto de cultura construam projetos que permitam o uso do espao escolar e do ponto de cultura (e outros locais), fazendo da Rede local de encontro de alunos e de ideias. Mas importante que todo e qualquer projeto contemple vivamente a noo da tica hacker, do prazer do compartilhamento, da ao afirmativa que disseminar conhecimentos sem se basear em uma "recompensa". Prev-se algum dilogo com professores, gestores, participantes dos projetos no sentido de aprender sobre essa tica hacker, compreender seu poder e trabalh-la, ento, com os alunos.Iniciativas de muito menor envergadura podem, sem dvida, tambm oferecer possibilidades de uso da Rede com o intuito de buscar uma tica hacker atravs de atividades que se utilizem do ciberespao/cibercultura nas escolas ou em comunho com a escola e outros agentes, instituies, etc.. Iniciativas de professores, gestores, alunos que ocorrem amide se utilizando, e esse apenas um exemplo, de redes sociais para compartilhar ideias, tarefas, se mostrando aes afirmativas das quais havemos caminhos alvissareiros.Trata-se ento de polticas que supem prticas, e de prticas de natureza poltica que supem uma nova tica, uma nova maneira de encarar as relaes humanas, baseadas na ajuda mtua, na troca desapegada, aes afirmativas que se inserem num mundo capitalista, ferozmente individualista e perverso, onde a competitividade, a meritocracia e a nsia de lucro so as linhas mestras. Aes afirmativas como as que narramos talvez possam oferecer outras vises de mundo s crianas e jovens, que vivem e vivero cada vez mais aceleradamente em um mundo onde as digitalidades possibilidades cada vez mais rapidamente, e tamanho poderio melhor estaria em mos de geraes que fizessem da solidariedade seu principal norte...