apresentação - feminismo e cibercultura

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Ciência, tec- nologia e feminismo- socialista ao final do sécu- lo XX,de Donna Haraway, propôe um avanço ao ideal feminista baseado na concepção inicial de Ci- borgue, que é de um corpo potencializado para além dos limites humanos, atra- vés da tecnologia, intrise- camente ligado a cultura ciberpunk. Baseado nos estudos de Donna Haraway, surge o Manifesto Ciberfeminista em 1991, a origem do termo é do grupo VNS Matrix, da cidade de Ade- laide, Austrália. Haraway entendia que o feminismo deveria fazer uso dos mei- os tecnológicos tanto para propagar sua ideologia e assim realizar ativismos organizados em redes, como para dar visibilidade às suas pautas políticas de mobilização social, sendo também um novo patamar do pensamento crítico de Haraway ás vertentes feministas que negavam a tecnologia em afirma- ção a naturalidade da mulher. 6 anos depois acontece na Alemanha a primeira internacional ciberfemi- nista em Kassel, Alema- nha, e ficou compreendi- do que a representação da mulher nos meios tecnológicos necessitava de mudanças. Assim como depois se entendeu que mudanças na própria atuação da ideologia feminista devia ser revis- ta frente, além das novas tecnologias de comunica- ção e seu acesso em rede, à corrente de estudos do pós-humano. O pós-humano, é o surgi- mento da ideia da união entre o corpo e a máqui- na, físico e virtual que permeou a literatura dos anos 80, em especial os subgêneros que surgiram a partir da ficção ciêntifi- ca clássica, ciberpunk, termo surgido do conto homônimo de Bruce Bethke sobre um grupo de jovens hacker, ga- nhou verdadeira assimi- lação cultural com o livro Neuromancer de Willian Gibson, de onde surgiu além da expres- são “ciberespaço” uma amplitude do sentido original de ciberpunk, a ciborgficação, simula- ção digital pela matrix e os maleficios e benefí- cios da tecnologia cada vez mais convertida no ser humano como liber- tação ou submissão. Volume 1, edição 1 O manifesto ciborgue Com a popularização do ciberpunk... conceitos ciêntificos foram sendo desenvolvidos nas áreas da biologia, informática e a cibernética, convergidos uns com os outros, a partir de uma sociedade líquida na qual nada é sólido e fixo assim como afirma Santaella e Bauman, perderam sua naturalidade. Nesse sentido de transgração dos locais oficiais socialmente criados em colapso, a ideia feminista se empossa desse ideal no sentido do próprio corpo, fortalescendo o ativismo nas redes, na cultura usando de alicerce o ideal ciberpunk de luta contra um sistema opressor monopólio empresarial/ patriarcado nas artes em geral, especialmente mani- festações artísticas corporáis. Para Haraway existe uma crise no ideal de naturalidade do corpo, o conceito de ciborgue reforçou o discurso feminista para além de sua própria natureza física en- quanto sujeito transformador. Nas palavras de Haraway “prefiro ser uma ciborgue a uma deusa” 26/01/16 Por: Bruna Lima, Daniele Ribeiro, Francisco Santos, Leonardo Saraiva e Ramon Teles. Feminismo e Cibercultura O manifesto ciborgue 1 O ciborgue de Haraway 2 Os CiberfeminismoVNS Matrix 2 Os CiberfeminismoThe Old Boys 3 NESTA EDIÇÃO:

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Page 1: Apresentação - Feminismo e Cibercultura

Ciência, tec-

nologia e feminismo-

socialista ao final do sécu-

lo XX,de Donna Haraway,

propôe um avanço ao

ideal feminista baseado na

concepção inicial de Ci-

borgue, que é de um corpo

potencializado para além

dos limites humanos, atra-

vés da tecnologia, intrise-

camente ligado a cultura

ciberpunk.

Baseado nos estudos de

Donna Haraway, surge o

Manifesto Ciberfeminista

em 1991, a origem do

termo é do grupo VNS

Matrix, da cidade de Ade-

laide, Austrália. Haraway

entendia que o feminismo

deveria fazer uso dos mei-

os tecnológicos tanto para

propagar sua ideologia e

assim realizar ativismos

organizados em redes,

como para dar visibilidade

às suas pautas políticas de

mobilização social, sendo

também um novo patamar

do pensamento crítico de

Haraway ás vertentes

feministas que negavam

a tecnologia em afirma-

ção a naturalidade da

mulher.

6 anos depois acontece

na Alemanha a primeira

internacional ciberfemi-

nista em Kassel, Alema-

nha, e ficou compreendi-

do que a representação

da mulher nos meios

tecnológicos necessitava

de mudanças. Assim

como depois se entendeu

que mudanças na própria

atuação da ideologia

feminista devia ser revis-

ta frente, além das novas

tecnologias de comunica-

ção e seu acesso em rede,

à corrente de estudos do

pós-humano.

O pós-humano, é o surgi-

mento da ideia da união

entre o corpo e a máqui-

na, físico e virtual que

permeou a literatura dos

anos 80, em especial os

subgêneros que surgiram

a partir da ficção ciêntifi-

ca clássica, ciberpunk,

termo surgido do conto

homônimo de Bruce

Bethke sobre um grupo

de jovens hacker, ga-

nhou verdadeira assimi-

lação cultural com o

livro Neuromancer de

Willian Gibson, de onde

surgiu além da expres-

são “ciberespaço” uma

amplitude do sentido

original de ciberpunk, a

ciborgficação, simula-

ção digital pela matrix e

os maleficios e benefí-

cios da tecnologia cada

vez mais convertida no

ser humano como liber-

tação ou submissão.

Volume 1, edição 1

O manifesto ciborgue

Com a popularização do ciberpunk...

conceitos ciêntificos foram

sendo desenvolvidos nas áreas

da biologia, informática e a

cibernética, convergidos uns

com os outros, a partir de uma

sociedade líquida na qual nada

é sólido e fixo assim como

afirma Santaella e Bauman,

perderam sua naturalidade.

Nesse sentido de transgração

dos locais oficiais socialmente

criados em colapso, a ideia

feminista se empossa desse

ideal no sentido do próprio

corpo, fortalescendo o

ativismo nas redes, na

cultura usando de alicerce

o ideal ciberpunk de luta

contra um sistema opressor

monopólio empresarial/

patriarcado nas artes em

geral, especialmente mani-

festações artísticas corporáis.

Para Haraway existe uma

crise no ideal de naturalidade

do corpo, o conceito de

ciborgue reforçou o discurso

feminista para além de sua

própria natureza física en-

quanto sujeito transformador.

Nas palavras de Haraway

“prefiro ser uma ciborgue a

uma deusa”

26/01/16

P o r : B r u n a L i m a , D a n i e l e R i b e i r o , F r a n c i s c o S a n t o s ,

L e o n a r d o S a r a i v a e R a m o n T e l e s .

Feminismo e Cibercultura

O manifesto ciborgue 1

O ciborgue de Haraway 2

Os Ciberfeminismo—VNS Matrix 2

Os Ciberfeminismo—The Old Boys 3

NESTA EDIÇÃO:

Page 2: Apresentação - Feminismo e Cibercultura

Donna Haraway

convida os movimentos

feministas a repensar

suas estratégias políti-

cas para criação de uma

nova narrativa do femi-

nino como discurso polí-

tico e estético, assim

modificando o conceito

de Ciborgue que, de

início, seria um híbrido

entre criatura orgânica

e máquina, mas que

Haraway logo alterou,

dizendo que o ideal se-

ria caracterizá-lo como

“uma criatura de reali-

dade social e também

uma criatura de ficção”.

O ciborgue é como

um“eu-pessoal” mas

também coletivo. Esse é

o eu que as feministas

devem ao ciborgue. “O

esforço é por uma nova

narrativa, a construção

de “novos mitos”, atra-

vés do estabelecimento

de redes de afinidade

tendo como suporte

para tal o uso de redes

tecnológicas.” É visto

que, no momento em

que as novas tecnologi-

as cibernéticas de poder

começam a tomar posi-

ção e a penetrar nos

corpos das pessoas,

novos tipos de subjetivi-

dades e novos tipos de

organismo foram gera-

dos. Em suma, um ci-

borgue é um organismo

cibernético e uma cria-

tura de realidade

social, que tam-

bém é ficção. Os

movimentos inter-

nacionais das mu-

lheres têm cons-

truído aquilo que

se pode chamar de

“experiência das

mulheres”, essa

experiência é tanto

ficcional quanto

política, o que nos

leva a crer que o

ciborgue trata de

ficção e também

de experiência vivi-

da.

O coletivo VNS Matrix (Venus Matrix), foram as pioneiras do ciberfeminismo, composto

por Josephine Starrs, Julianne Pierce, Francesca da Rimini e Virginia Barratt. Na época do surgi-

mento, elas foram responsáveis por uma série de intervenções feministas voltado para as garo-

tas. Como o Cyberfeminist Manifesto for the 21st century (1991), que foi o primeiro manifesto

ciberfeminista e pelo Bitch Mutant Manifesto (1996), ambos faziam uma forte apologia a fusão

do corpo feminino com as tecnologias. O primeiro declara “o clitóris é uma linha direta para a

matriz”, e o segundo afirma “que a identidade explode em múltiplos morfismos e que infiltra

pela raiz. Dessa maneira, seguindo a questão do corpo, aparece a questão das identidades.

VNS Matrix, usavam estratégias como a ironia e a inversão cultural de estereótipos para

levantar algumas das questões sobre mulher e tecnologia. “All New Gen” (1993) era um desses

trabalhos e que partia do ponto de desestruturação de ideologias machistas sobre a tecnologia.

Esses trabalhos da VNS matrix, são de difícil visualização, existem muitas referencias em

artigos pela rede, mas, com o fim do grupo em 1997, esses registros sobre suas ações se con-

centram mais em artigos acadêmicos. Como por exemplo esses dois trabalhos citados, que já

não se encontram mais na internet.

PÁGIN A 2

O Ciborgue de Haraway

OS CIBERFEMINISMOS - VNS MATRIX

“O esforço é por uma

nova narrativa, a

construção de “novos

mitos”, através do

estabelecimento de

redes de afinidade tendo

como suporte para tal o

uso de redes

tecnológicas.”

Cyberfeminist Manifest for the 21st century—VNS MATRIX (1991)

FEMIN ISMO E C IB ER C UL TUR A

Page 3: Apresentação - Feminismo e Cibercultura

VO L UME 1, ED IÇ ÃO 1

Em 1997, aconteceu em Kassel, Alemanha, a 1ª Internacional Ciberfeminista. Primeira aliança reconhecida. Neste evento surge a Old Boys Network como uma aliança que une, através da Internet,

grupos de ciberativistas, artistas e teóricos, que se definem e atuam como ciberfeministas.

A proposta do grupo era de desarticulação e ironia. Os discursos e a forma de apresentação do

“coletivo temporário” pregavam a permanência pela indefinição do termo Ciberfeminismo. Mesmo que as participantes chamassem a si mesmas de ciberfeministas, esse posicionamento indicava uma ambivalência

profunda na relação das mulheres com a teoria e prática do feminismo, e sua relevância para as condi-ções atuais de imersão das mulheres na tecnologia. O próprio nome do grupo é também um ponto icônico

em sua proposta, Old Boys Network, satiriza de maneira irônica as irmandades masculinas, tradicionais em

universidades europeias e norte-americanas.

A despeito da intenção do grupo de deixar indefinido o termo ciberfeminismo, para assim manter livres as atuações e alinhamentos teóricos do grupo, a Old Boys Network se define como uma coalizão

dedicada ao ciberfeminismo. A preocupação da OBN era a de construir espaços nos quais ciberfeministas

pudessem pesquisar experimentar, comunicar e agir.

Apesar de terem trabalhado sem uma definição para o termo, a OBN escreveu o manifesto 100 Anti-theses (1997), onde o grupo elabora 100 teses definindo o que o ciberfeminismo é pelo que ele não

é. Ao negar uma definição, aqui alguns exemplos:

O ciberfeminismo não é definição;

O ciberfeminismo não é tradição; O ciberfeminismo não é maternalista…

PÁGIN A 3

Os Ciberfeminismoss - The Old Boys Network

“ciborgue é a

criatura em um

mundo de pós-

gênero”

Em suma, o VNS Matrix aparece como uma primeira vertente, aplicando vários conceitos

extraídos do Manifesto Ciborgue de Haraway. A utopia ciberfeminista no trabalho das VNS Matrix

é plantada através de um ideário de descorporificação e pelo fim de dualismos. Tudo poderia ser

codificado, inclusive os corpos e os sexos.