cesário verde 1

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  • 7/25/2019 Cesrio Verde 1

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    Escola Secundria Martins sarmento

    Cesrio Verde

    Temticas e caractersticas

    11. Ano

    O real na poesia

    Lisboa , no tempo de Cesrio, uma cidade de contrastes. E ele retrata-a, realando a arquitetura antia

    e os bairros modernos, onde se instala a no!a buruesia.

    " na capta#o do real que sure a outra $ace da realidade lisboeta% a dos trabal&adores que denunciam a

    sua oriem campesina.

    Ao !auear 'o clebre deambular(, o )eu) denuncia o lado oposto ao da rande*a, $ocando os luares

    pobres e nauseabundos, os &umildes que sustentam a cidade. +ronicamente, $oca as $iuras intermdias,

    como o )criado) de )m airro oderno), ou os )cai/eiros) de )0 entimento dum 0cidental).

    Trans$iurando o que !2, capta ainda aquelas personaens d3bias, como a )actri*ita) de )Cristali*a4es),

    que, tal como a cidade, tentam esconder a sua condi#o.

    5ara Cesrio, !er perceber o que se esconde e, por isso, perceciona a cidade minuciosamente atra!s

    dos sentidos. E o )eu) resulta daquilo que !2.

    Em Cesrio 6erde, raramente os interiores s#o retratados, porque o 7eu) est em mo!imento, numa

    cidade c&eia de &omens aut2nticos, e a sua consci2ncia acompan&a essa e!olu#o do espao.

    O impressionismo captado do real

    A poesia, do quotidiano despoeti*a o ato potico, re$letindo a impress#o que o e/terior dei/a no interior do

    poeta. 8a que se estabeleam cone/4es entre esta poesia e a pintura impressionista% o artista pretende

    captar as impress4es que as coisas l&e dei/am, tal como Cesrio $a*.

    9uma atitude anti literria, o poeta pro:eta no e/terior o seu interior, nascendo, assim, a poesia do real,

    que l&e permite re!er-se nas coisas, de modo a atinir o equilbrio. " esta atitude que le!a Cesrio a

    situar-se pr;/imo do +mpressionismo.

    A dicotomia cidade/campo

    Esta suposta supremacia da cidade em rela#o ao campo le!a Cesrio a tratar estes dois espaos em

    termos dicot;micos.

    E se a poesia do autor re$lete o bin;mio cidadencia no campo e esse contacto determina a !is#o que

    dele nas d.

    0 curioso poder constatar-se que o campo apresentado n#o tem o aspeto idlico, paradisaco que te!epara os poetas anteriores. 9ote-se que este espao n#o aparece associado ao bucolismo ou ao de!aneio

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    potico, mas um espao real, aquele onde se podem obser!ar os camponeses na sua lide diria, onde

    as alerias se mani$estam $ace aos pra*eres da !ida, e onde as triste*as acorrem quando os

    acontecimentos n#o seuem um curso normal. " o dia-a-dia concreto, aut2ntico e real, aquele com que

    Cesrio contacta e do qual d conta de uma $orma realista, mas onde tambm se presencia a sua

    sub:eti!idade, percet!el na pre$er2ncia que mani$esta por este local.

    Cesrio associa o campo = !ida, = $ertilidade, = !italidade, ao re:u!enescimento, porque nele n#o & a

    misria constranedora, o so$rimento, a polui#o aterradora, os c&eiros nauseabundos, os seres

    &umanos d3bios, os e/ploradores, os ricos pretensiosos que despre*am os &umildes. Estes seres,

    estran&os aocampo, pode o )eu) encontr-los na cidade.

    Ao contrrio da liberta#o que o campo l&e con$ere, o espao citadino empareda-o, incomoda-o, do

    mesmo modo que incomoda os pobres trabal&adores que o procuram para a encontrar mel&ores condi-

    4es de !ida. Estes deparam-se com as mais acentuadas in:ustias, com a subser!i2ncia a que s#o

    !otados, mas n#o t2m medo do trabal&o, en$rentando as lutas quotidianas com determina#o e $ora,

    numa atitude cora:osa. 5or isso, os pobres s#o ricos aos ol&os de Cesrio, um dos poucos que sabia que,

    sem eles, os cosmopolitas teriam poucas &ip;teses de sobre!i!2ncia.

    Ao ler-se o poema )8e Tarde), pertencente a Em 5eti*, !is!el o tom ir;nico em rela#o aos citadinos,

    que calmamente esperam o )leiteiro), cu:o )pre#o) os tira do sono, mas onde o tom eu$;rico tambm

    sobressai ao relembrar momentos !i!idos, ao lado da sua )compan&eira), ao percorrer os luares

    campestres e ao deparar com os aspetos s; a ele inerentes.

    e o eloio ao campo pode ser identi$icado em poemas como o atrs indicado, tambm o poema )9;s)

    n#o dei/a de o $ocali*ar, articulando-se com a recorda#o da $amlia. Contudo, sendo este o poema mais

    lono do poeta, a tambm percet!el uma crtica cerrada = cidade, = capital maldita, de!oradora de

    !idas, inclusi!e a dos irm#os, local onde os sinos tocam a rebate, anunciando a morte de mais um dos

    seus &abitantes? a cidade deserti$icada, onde os transeuntes se restrinem aos padres e aos mdicos

    que socorrem as !timas da peste. Toda!ia, a composi#o potica que mel&or tradu* o ambiente citadino

    )0 entimento dum 0cidental). Aqui a cidade descrita em !rias $ases do dia, com incio no $inal da

    tarde ')A!e-arias)( e a terminar em 7@oras ortas), e onde o $orte !isualismo de Cesrio n#o dei/a de

    captar os seres que aqui circulam.A arte de Cesrio 3nica, aut2ntica, re!eladora de uma preocupa#o social sentida, que c&ea a

    como!er o leitor pela sua !eracidade e pormenor descriti!o, transportando-o para o mundo que $oi o dele,

    com as suas imper$ei4es e as suas !irtudes. 9ote-se que a $ora inspiradora de Cesrio a terra-m#e,

    sendo nela que Cesrio encontra os seus temas e o estmulo para escre!er. " tal!e* por isto que,

    &abitualmente, se associa o poeta ao mito de Anteu, porque tambm este ia buscar a sua $ora = terra,

    sua m#e, para derrotar os que da costa Lbia se apro/imassem.

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    A mulher em Cesrio Verde

    8eambulando pelos dois espaos que o acol&eram, o poeta depara com dois tipos de mul&er, que

    curiosamente est#o articulados com os locais em que se mo!imentam.

    Assim, tal como a cidade se associa = $atalidade, = morte, = destrui#o, = $alsidade, tambm a mul&er

    citadina apresentada como $rida, $r!ola, calculista, madura, destruti!a, dominadora, sem sentimentos.

    0 erotismo da mul&er citadina e/presso em imaens antitticas que permitem op-la = mul&er

    campesina, capa* de $a*er despoletar um amor puro e descon$iado. 0 erotismo da mul&er $atal

    &umil&ante, conseuindo redu*ir o amante = condi#o de presa $cil, oriinando uma rea#o

    sadomasoquista entre a mul&er, que personi$ica o arti$icialismo da cidade, e a sua !tima.

    Em contraste com esta mul&er predadora, sure um tipo $eminino, por e/emplo em )A 8bil), que o

    oposto complementar das espl2ndidas, $ridas, aristocrticas, presentes em poemas como

    )8eslumbramentos) e )6aidosa). Essa mul&er $ril, terna, innua, despretensiosa, mesmo que

    enquadrada na cidade, como o caso da que retratada em )A 8bil), desperta no poeta o dese:o de

    prote2-la e de estim-la, mas n#o o de se prostrar a seus ps, porque esta n#o se compra* em de!orar

    a sua presa? os seus atos s#o innuos e o seu despretensiosssimo s; poder relacionar-se com a

    mul&er do campo, capa* de o$ertar o amor e a !ida inerentes aos espaos rurais.

    5elo que $oi dito, parece que mais duas dicotomias s#o percet!eis em Cesrio% a mul&er $atal

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    e o rior da $orma apro/ima Cesrio dos parnasianos, : a sub:eti!idade de que aparecem imprenados

    muitos dos seus poemas o a$asta desta e do lirismo tradicional.

    " o seu estilo pr;prio que torna problemtica a classi$ica#o dos seus !ersos. Como classi$ic-los, ent#o

    Lirismo ou versos prosaicose o lirismo se associa = e/press#o que o )eu) $a* do seu mundo ntimo, a prosa sure !oltada para o

    mundo e/terior, usando um !ocabulrio mais concreto, mais ob:eti!o.

    #o !rios os poemas de Cesrio onde o !ocabulrio ob:eti!o utili*ado, onde a realidade e/terior

    descrita, mas tambm, e $requentemente no mesmo poema, essa realidade ob:eti!a re!estida de

    $ormas poticas. e isto acontece, estamos perante aquilo que se desina por !ersos prosaicos. Contudo,

    a e/press#o da realidade ob:eti!a, tal como aparece em Cesrio, pro$undamente conotati!a e mesmo

    que o discurso n#o $osse entrecortado por $rases e/clamati!as, ricas de sub:eti!ismo, n#o seria di$cil

    descobrir-se uma outra linuaem a relatar as impress4es ntimas das realidades ob:eti!as e obser!adas.Em Cesrio assiste-se constantemente = passaem do ob:eti!o para o sub:eti!o. Loo, pode a$irmar-se

    que, se a poesia de Cesrio a e/press#o do mundo real, e/terior, tambm o de um mundo psquico,

    interior, e da poder a$irmar-se que na poesia de Cesrio, tal como na de outros parnasianos, n#o &

    lirismo puro. @ pre$erencialmente !ersos prosaicos, isto , prosa em $orma de !erso, ou !erso em $orma

    de prosa.

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