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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC CURSO DE PSICOLOGIA BRUNO FREIRE TAVARES DAS NEVES JACQUELINE DOS SANTOS ORIENTADOR: Mº CLAUDIO JORGE GOMES MORAIS UMA INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL DA EXPERIÊNCIA: UM OLHAR DA PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA NO CONTEXTO SOCIAL ESCOLAR O SER-NO-MUNDO MACEIÓ 2018

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  • CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

    CURSO DE PSICOLOGIA

    BRUNO FREIRE TAVARES DAS NEVES

    JACQUELINE DOS SANTOS

    ORIENTADOR: Mº CLAUDIO JORGE GOMES MORAIS

    UMA INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL DA EXPERIÊNCIA: UM OLHAR DA

    PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA NO CONTEXTO SOCIAL ESCOLAR

    O SER-NO-MUNDO

    MACEIÓ

    2018

  • BRUNO FREIRE TAVARES DAS NEVES

    JACQUELINE DOS SANTOS

    UMA INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL DA EXPERIÊNCIA: UM OLHAR DA

    PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA NO CONTEXTO SOCIAL ESCOLAR

    O SER-NO-MUNDO

    Artigo para Conclusão de Curso,

    apresentado ao Curso de Graduação em

    Psicologia, do Centro Universitário

    CESMAC.

    Orientador: Prof. Mº Claudio Jorge Gomes

    Morais

    MACEIÓ

    2018

  • Sumário

    RESUMO ................................................................................................................................. 4

    INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5

    R E F E R E NC I AL T E ÓR IC O ............................................................................................ 7

    M E T ODOL OG I A ............................................................................................................. 11

    DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA VIVIDA .......................................................... 16

    CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 20

    REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 22

  • 4

    UMA INTERPRETAÇÃO EXISTENCIAL DA EXPERIÊNCIA: UM OLHAR

    DAPSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA NO CONTEXTO SOCIAL ESCOLAR

    O SER-NO-MUNDO

    BRUNO FREIRE TAVARES DAS NEVES1

    JACQUELINE DOS SANTOS2

    Mº CLAUDIO JORGE GOMES MORAIS3

    RESUMO

    O presente artigo relata o trabalho realizado a partir do Campo de estágio da Psicologia

    Escolar e processos educativos, desenvolvido com adolescentes do Colégio Professor

    Edmilson Pontes em Maceió Alagoas. Refletimos sobre o papel da Psicologia Social

    Escolar, buscando construir ações norteadas pelo Ensino de Habilidades de vida

    proposto pela Organização Mundial da Saúde, com o objetivo de ressignificar os

    relacionamentos interpessoais e a dinâmica da instituição escolar, sempre com o

    enfoque no desenvolvimento crítico frente às adversidades dialógicas possibilitando

    uma melhoria para além da escola, assumindo uma postura ativa no compromisso

    social. O trabalho dos estagiários abarcou os 7ºs anos A e B, adolescentes de 12 á 14

    anos e o 3º ano, adolescentes de 16 á 18 anos. A experiência evidenciou a importância

    da Psicologia Social, dentro do contexto escolar, o olhar da Psicologia Fenomenológica

    Existencial possibilitou o contato que os estagiários estabeleceram com os alunos. Este

    olhar foi à chave para uma atuação transcendente dentro do contexto no qual estavam

    inseridos. Assim foi possível contribuir para o desenvolvimento de ações no Campo da

    Psicologia Social Escolar.

    Palavras-chave: Psicologia Social Escolar, Habilidades de Vida, Relacionamentos

    Interpessoais, Atuação transcendente

    1Graduando do Curso de Psicologia do Centro Universitário Cesmac, Maceió-Alagoas,email:

    [email protected]

    2Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário Cesmac, Maceió-Alagoas, email:

    [email protected]

    3Professor Mestre Orientador, Centro Universitário Cesmac, Maceió-Alagoas, email:

    [email protected] , junho de 2018.

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • 5

    ABSTRACT: This article reports the work accomplished from the field of educational

    psychology and educational processes, developed with adolescents of Professor

    Edmilson Pontes College in Maceió-Alagoas. We reflected on the role of Social

    Psychology School, aiming to build actions guided by Teaching of Life Skills, proposed

    by the World Health Organization, aiming to re-significate interpersonal relationships.

    Dynamics of school institution, always focusing on the critical development towards the

    adversities, allowing an improvement beyond the school, taking an active stance on

    social commitment. The work of the trainees covered 7th years A and B, adolescents

    from 12 to 14 years old and the third year, adolescents from 16 to 18 years old. The

    experience evidenced the importance of Social Psychology, within the school context at

    sight of Existential Phenomenological Psychology. It became possible the contact that

    the trainees established with the students. This vision was the key to a transcendent

    action within the context which they were inserted. Thus, it was possible to contribute

    to development of actions in the field of Social Psychology School.

    Keywords: Social Psychology School, Life Skills, Interpersonal Relationships,

    Transcendent Performance.

    INTRODUÇÃO

    O presente artigo tem como objetivo relatar uma experiência de estágio em

    Psicologia Escolar e processos educativos no curso de graduação em Psicologia no

    Centro Universitário CESMAC. Para esta análise, recorremos à própria experiência

    ontológica como estagiários, no Colégio Professor Edmilson Pontes, localizado em

    Maceió – Alagoas.

    O estágio supervisionado de Psicologia Escolar organizado através de 240 horas

    de atuação dentro das escolas e cinco horas semanais de supervisão em grupo,

    possibilitou aos futuros profissionais identificar necessidades e possibilidades de

    aperfeiçoamento das relações interpessoais e multiprofissionais. Por outro lado, o

    estágio supervisionado de Psicologia Escolar destacou-se por oportunizar as escolas o

    recebimento de serviços psicológicos, em caráter de clínica ampliada, contribuindo para

    que as mesmas possam alcançar, de forma sadia, seus objetivos pedagógicos, ao tempo

  • 6

    em que desenvolva capacidade instrumental (técnica e interpessoal) para participar de

    interações construtivas com todos os agentes.

    A intervenção no contexto escolar foi norteada pelo Ensino de Habilidades de

    vida proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1997), As Habilidades de

    Vida propostas pela OMS são: tomada de decisão, resolução de problemas, pensamento

    criativo, pensamento crítico, comunicação eficaz, relacionamento interpessoal,

    autoconhecimento, empatia, capacidade de lidar com as emoções e com o stress. Cada

    habilidade foi trabalhada e discutida de forma dinâmica, através da técnica de grupo e

    rodas de conversa.

    Nossa atuação foi direcionada sobre o enfoque da Psicologia Fenomenológica

    Existencial. O olhar fenomenológico compreende o indivíduo enquanto ser no mundo.

    A presente abordagem possibilita-nos compreender o ser em sua subjetividade,

    buscando o cuidar autêntico do ser humano, visto que, nós, como profissionais de

    psicologia, muitas vezes valorizamos apenas a técnica, desvalorizando assim a relação

    verdadeira com a existência do ser.

    A fenomenologia busca entender como o ser humano percebe o fenômeno e

    como este se percebe. Geralmente, nosso olhar comum não permite evidenciar o

    fenômeno em si mesmo. Através desta abordagem, é possível obter um olhar sensível e

    amplo do ser no mundo, buscamos acessar e compreender as relações dos alunos com o

    mundo e sua realidade. Nossa intenção não foi intervir apenas no seu ambiente externo

    escolar, mas fazer diferença no seu interno, sua vida social.

    Fundamentada nas características do existir, a fenomenologia se preocupa em

    valorizar o ser. Nós, como estagiários de psicologia, não devemos tratar o ser humano

    em sua superficialidade. Assim, suspendemos nossos pré-juízos e pré-conceitos para

    conhecer apenas o fenômeno, aquilo que se mostra, se revela. A proposta da intervenção

    sobre o ensino de habilidades de vida foi para a vida, para além do cenário escolar. Em

    nossos encontros, os alunos relacionavam os temas com sua vida cotidiana, acolhemos

    suas experiências e nos permitirmos interagir com cada ser, rompemos as barreiras da

    nossa relação com os alunos e valorizamos a experiência em sua singularidade.

    Escolhemos a ênfase escolar devido à urgência da atuação de psicólogos

    escolares nas instituições de ensino, tendo em vista as demandas observadas no dia a dia

  • 7

    das intervenções. A escola é um ambiente rico, quando se trata de existência humana, há

    sempre uma possibilidade de estabelecer uma ação, relação para obter certo contato

    genuíno com os entes que estão ali. Lançados às possibilidades do que vem a ser, a

    experiência proporcionou aos estagiários a abertura de um novo olhar para a

    compreensão do que está sendo humano e do que vem a ser humano; é importante

    ressaltar o papel da Psicologia Social no ambiente escolar, uma vez que o olhar social

    fez com que nosso trabalho lograsse bons resultados, foi a chave da nossa atuação. O

    trabalho alcançou alunos dos 7ºs anos A e B com a faixa etária de 12 á 14 anos e uma

    turma do 3º ano com a faixa etária de 16 á 18 anos.

    Buscamos repensar a prática da atuação do Psicólogo Escolar em um contexto

    real, social, estabelecer a dialética entre Psicologia Social e Escolar, uma articulação

    possível para o desenvolvimento de intervenções, visando estratégias psicossociais na

    instituição escolar, contribuindo assim para a formação de um sujeito pensante, crítico e

    autônomo dentro da própria vida.

    RE FE RE NC IA L T EÓR ICO

    A atuação em um viés social atua na emancipação do homem, no contexto

    histórico-social-existencial-ontológico da produção e reprodução da incapacidade de

    lidar com o mundo de uma forma linear com as próprias emoções, a prática social vem

    pensar como está sendo essa reprodução, esse laboratório do próprio monstro. Assim

    comenta Salanskis (2011, p.19):

    Os existenciais de Heidegger são nomes gerais de atitude, nos quais

    somos convidados a reconhecer os padrões das atitudes mais singulares

    que, em escalas temporais variadas, de fato assumimos: por exemplo, o

    ser-no-mundo, o compreender, a angústia, só para nomear três deles. É

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    igualmente compreensível que as diversas atitudes genéricas se

    organizem umas em relação às outras.

    “A criança é, assim, o reflexo do que o adulto e a sociedade querem que ela seja

    e temem que ela se torne” (Silvia, Lane, 2001, p. 109).

    A criança é na verdade um reprodutor social, o mundo moderno é uma escola

    para as crianças, a alienação do sujeito não permite que o mesmo tenha conhecimento

    de si frente ao mundo, tome consciência e consiga reproduzir adequadamente suas

    representações, transformando as crianças em meros reprodutores da alienação

    introjetada, não como um ser extraterrestre, mas ali-é-nada, quando se trata de se

    reconhecer frente o que se produz e se reproduz.

    Afastada a idéia de socialização enquanto integração podemos recuperar a idéia

    de socialização evolutiva, proposta por Charlot. Para ele, a socialização deve ser tratada

    como um processo evolutivo da condição social da criança. Assim, o problema não é

    investigar como a criança se socializa, mas “como a sociedade socializa a criança.”

    (Silvia Lane, 2001.p 131)

    O ponto culminante da prática social não é só entender o indivíduo e a

    sociedade, mas a dialética que existe entre ambos, o significado que conecta ambos; não

    há prática social para entender a fatalidade, sem entender os fatos que constituíram tal

    demanda. A criança, o jovem, o ser humano está inserido em um universo de multi-

    possibilidades rumo a transcendência, seja ela qual for, em outras palavras, a super-

    ação,

    Socializar-ação não consiste em aglomeração de sujeitos, mas sim do

    pertencimento mútuo nas ações, ou seja, nas ações do outro, o sujeito se identifique,

    dialogue, dia-logos, a possibilidade do clamor no discurso, dis-curso, como dizia

    Heidegger “O clamor justamente não é e nunca pode ser algo planejado, preparado ou

    voluntariamente cumprido por nós, O clamor “se faz “contra toda espera e mesmo

    contra toda vontade.”

    Dentro do contexto escolar a prática social é relevante para conhecer o homem

    para além do local que o mesmo está inserido, entender o processo do mundo ulterior, a

    escola influencia as relações dos jovens na atualidade, entender a formação dos jovens e

  • 9

    interagir com os mesmos, não para tornarem algo que seja utópico, mas que os mesmos

    sejam gestores dos próprios pensamentos.

    É o que Nietzsche tem em mente ao escrever: “Quando alguém tem caráter, há

    sempre alguma sua vivência que se torna recorrente” (Walter, Benjamin, 2016). E isso

    reverbera na educação atual, essas vivências-não-vividas pelos jovens e sim pelos seus

    pais, como uma transposição de valores dotados em sua história de vida.

    A atuação social nesse contexto é mais que urgente, é existencial, pois a

    humanidade está em um processo decadente, vive em valores que não lhe cabem, só

    para se assemelharem a outros que possuem a mesma linha de pensamento. Com o viés

    da psicologia social, além de o sujeito compreender o mundo à sua volta, o mesmo

    passa a entender sobre o processo bio-psico-social-cultural,capacitando-se a encontrar

    um sentido para a própria vida.

    Segundo (Silvia Lane, 2001), “a função do grupo é definir papéis e,

    consequentemente, a identidade social dos indivíduos; é garantir sua produtividade

    social.” Nossa atuação dentro do contexto escolar foi entrar em contato com identidade

    social de cada aluno, cada indivíduo que estava disposto a se conectar conosco. Nossa

    proposta foi tornar o grupo mais coeso, unido, em harmonia, o processo de interação

    dos adolescentes é um desafio, encontramos grupos que divergiam entre si, a partir da

    técnica grupal, dinâmicas, rodas de conversa, abrimos a possibilidade da resolução dos

    conflitos, saímos do papel do psicólogo que comanda as dinâmicas, para pessoas que se

    sentavam junto com os alunos. Permitir que o aluno fosse sujeito do processo e não um

    objeto fez total diferença.

    “É através da análise da transversalidade que se torna possível o conhecimento

    da segmentaridade do grupo e da sua autonomia, bem como de seus limites, condição

    para um grupo se tornar grupo-sujeito, isto é, aquele que percebe a mediação

    institucional.” (Silvia Lane, 2001.p.79)

    Desta forma, buscamos destacar a importância da prática social na instituição

    escolar, para a constituição de um sujeito autônomo; a escola deve promover o diálogo

    entre aluno e sociedade, pois é importante o conhecimento biopsicossocial ser

    trabalhado, para que o aluno obtenha a possibilidade de lidar com a sua realidade social.

    O objetivo de trabalhar o ensino de habilidades de vida: tomada de decisão, resolução

  • 10

    de problemas, pensamento criativo, pensamento crítico, comunicação eficaz,

    relacionamento interpessoal, autoconhecimento, empatia, capacidade de lidar com as

    emoções e com o stress. Foi exatamente para que fosse possível aplicar cada habilidade

    no cotidiano do aluno, através dos temas, que tivemos a possibilidade de ir além, de nos

    permitirmos conhecer e nos envolver com cada aluno, cada história de vida. Isso tornou

    nosso trabalho gratificante.

    “Podemos então verificar que toda análise que se fizer do indivíduo terá de se

    remeter ao grupo a que ele pertence, á classe social, enfocando a relação dialética

    homem-sociedade, atentando para os diversos momentos dessa relação.” (Silvia Lane,

    2001.p.84). Cabe ao profissional de psicologia, se apropriar do olhar da Psicologia

    Social Escolar e desenvolver espaços para que os grupos de alunos façam reflexões,

    discutam problemas sociais, respeitando sempre a subjetividade individual e grupal. É

    necessário ao psicólogo repensar suas atuações profissionais, através do olhar da prática

    da Psicologia Social Escolar, procurar auxiliar o ser humano, o adolescente, para uma

    consciência transformadora diante da sua realidade existencial.

    “A sociedade atual vive dificuldades imensas com relação à violência, conflitos

    interpessoais, gangues juvenis, fracasso dos planos educacionais, entre outros. Daí a

    importância de estudos no campo das relações interpessoais, e das habilidades sociais.”

    (Almir Del Prette e Zilda A.P.DelPrette, 2014).

    Dentro da práxi na escola, não há a menor possibilidade de delimitar o encontro

    com-os-outros. Por mais planejada que seja a intervenção é necessário também o acaso,

    não que seja algo aleatório a práxi, mas também pelo que está por vir dentro do

    fenômeno que se estabelece no diálogo. Permitir que o outro se expresse em sua

    totalidade,possibilitar que o mesmo se manifeste de forma congruente com suas crenças,

    com suas individualidades, com sua própria existência, isso é intrínseco do ser. Por mais

    diversa que sejam as relações dialógicas o homem estabelece o Eu-Tu, ou seja, a

    afirmação da existência do outro e a sua própria existência.

    A palavra princípio EU-TU só pode ser proferida pelo ser na sua totalidade. A

    união e a fusão em um ser total não pode ser realizada por mim e nem pode ser

    efetivada sem mim. O EU se realiza na relação com o TU, é tornando-me EU que digo

    TU. Toda vida atual é encontro. (Buber,Martin. 1974)

  • 11

    A partir dessa citação, constata-se que só aconteceu um verdadeiro encontro. A

    dialética entre estagiários e alunos, a partir dessa relação EU-TU, o EU se realiza nessa

    relação com o TU, o ser humano só é alguém com o outro, sozinho não é nada. A

    riqueza da experiência vivenciada neste estágio, não seria válida, se este diálogo não

    tivesse acontecido por isso Buber afirma: Toda vida atual é encontro.

    M ETODO LOG IA

    A primeira supervisão do estágio obrigatório, na clínica escola do curso de

    psicologia, sob a supervisão da professora Silvana Paula, aconteceu no dia 4 de

    setembro de 2017. Neste primeiro encontro, conhecemos a metodologia adotada para

    esse semestre. A professora nos deu as boas vindas, apresentou-nos cada texto que iria

    ser trabalhado em nossos encontros e nos esclareceu os métodos de avaliação. Através

    de uma dinâmica para que nos apresentássemos ao grupo falando sobre nossos defeitos

    e qualidades, fomos orientados para também escrevermos no papel os nomes de três

    pessoas com quem gostaríamos de trabalhar do grupo e o porquê e três pessoas com

    quem não gostaríamos de trabalhar em grupo e o porquê. Em seguida entregamos o

    papel à professora para sua avaliação. Esta dinâmica possibilitou um novo olhar da

    nossa supervisora para que houvesse a formação dos grupos de intervenção.

    O mapeamento institucional foi feito através da entrevista com a diretora e com

    os coordenadores pedagógicos. A diretora da escola nos relatou os problemas mais

    recorrentes que eram percebidos por ela: “problemas familiares”. Indagamos se ela

    percebia alguma turma específica que necessitasse da nossa intervenção, ao que nos

    respondeu as turmas do 7º e 8º anos, composta de alunos entre 12 e 14 anos. O motivo

    seria a “dificuldade em lidar com figuras de autoridade, irreverência e desrespeito com

    os mais velhos”. Ressaltou que esta idade é uma idade crucial de transição da infância

    para a adolescência, e que por isso precisam de uma atenção especial.

    Após o mapeamento institucional acerca das necessidades e pontos emergenciais

    da escola, focamos nossa atuação no treino de habilidades de vida proposto pela

    Organização Mundial da Saúde, o qual se configura como um processo de

  • 12

    desenvolvimento de competências psicossociais consideradas essenciais para o

    desenvolvimento humano, visando trabalhar o relacionamento interpessoal através do

    ensino de habilidades de vida, considerado uma estratégia na redução de

    comportamentos de risco para o aumento dos cuidados da saúde mental e física do

    adolescente.

    Nossa intervenção tinha um foco nos alunos dos 7ºs anos A e B, porém, fomos

    surpreendidos com o pedido da coordenadora do Ensino Médio, bastante preocupada

    com a situação do 3º ano. Relatou a desmotivação dos alunos, o baixo rendimento e nos

    propôs a trabalhar com eles sobre motivação e orientação vocacional pelo fato das

    avaliações a que eles teriam que ser submetidos no decorrer do ano. Abraçamos o

    desafio e nos prontificamos a desenvolver um trabalho específico com estes alunos

    adequando o nosso projeto de intervenção as particularidades desta faixa etária, para

    isso, modificamos apenas a forma de abordá-los e a linguagem apropriada aos mesmos.

    O projeto foi realizado em quinze encontros, em três meses, iniciando a primeira

    intervenção no dia 5 de outubro e finalizando no dia 15 de dezembro de 2017. Cada

    encontro, em cada uma das turmas tinha uma hora de duração. Serão relatadas as

    intervenções realizadas até o dia 30 de novembro. Tendo em vista a entrega do relatório

    final de estágio, no dia 1 de dezembro de 2017, as intervenções foram realizadas no mês

    de dezembro como conclusão do projeto de intervenção. Por conta do comprometimento

    desta equipe com a escola, foram realizadas de acordo com a proposta estabelecida no

    projeto inicial.

    Na abertura do projeto no dia 5 de outubro, com os alunos dos 7ºs anos A e B, a

    proposta foi conhecer as duas turmas. Solicitamos a chave do auditório da escola e

    organizamos a sala em um grande círculo que integrasse bem as duas turmas. Logo após

    o intervalo, as turmas dos 7ºs anos A e B foram trazidas por suas respectivas

    professoras. No início nos apresentamos e aplicamos a dinâmica de aquecimento

    chamada “a caixa de bombons”. Como material utilizamos uma caixa de sapatos que

    continha uma instrução: “abra a caixa” e uma caixa de bombons. O procedimento da

    dinâmica foi este: colocamos uma música animada, o aluno decidiria se abriria a caixa

    ou se passaria a vez, colocando a caixa para continuar passando de mão em mão. Um

    dos estagiários estava cuidando do som de costas para não ver quem estaria com a caixa

  • 13

    ao parar a música. Um pequeno suspense foi feito, com perguntas do tipo: Estão

    preparados? Quem ficar com a caixa vai ter que executar a instrução, seja lá qual for a

    ordem, vai ter que obedecer. Os alunos ficaram receosos e desconfiados, passando a

    caixa rapidamente, relataram que estavam com medo, pois achavam que era um “mico”.

    Iniciamos por três vezes a música e, na última vez, avisamos que seria para valer que

    quem ficasse com a caixa ao parar o som, teria que a abrir. Uma aluna finalmente abriu

    a caixa e viu que, dentro havia uma caixa de bombons. Todos ficaram surpresos: dentro

    estava uma caixa de bombons! O objetivo da dinâmica foi refletir sobre os nossos

    comportamentos em relação aos novos desafios, estimular os alunos a aceitarem o

    desafio de estarem conosco em nossas reuniões. Abrimos a plenária para que os alunos

    pudessem falar o que acharam da dinâmica, como se sentiram, alguns relataram que

    estavam curiosos para saber o que havia dentro da caixa, mas infelizmente a música não

    parou neles e a grande maioria relatou que não desejava abrir a caixa, pois não queriam

    executar a instrução. E assim finalizamos a primeira dinâmica e iniciamos a segunda.

    Na segunda dinâmica de apresentação, o procedimento foi este: pedimos que os alunos

    formassem duplas, o 7º ano A com 7º ano B, de início ficaram resistentes, mas, fomos

    estimulando-os e assim formaram-se as duplas. Solicitamos que cada um se

    apresentasse para o outro falando: nome, idade, onde mora e o que gosta de fazer. Na

    segunda etapa da dinâmica, pedimos que cada um apresentasse o colega em voz alta

    para que todos se conhecessem. A dinâmica fluiu bem e atingimos o resultado de

    conhecer a todos.

    Na segunda intervenção nos encontramos com os alunos do 7º B, abrimos a

    discussão sobre o que é a psicologia, falamos sobre sonhos e metas, elaboramos uma

    atividade para conhecer melhor os alunos, onde cada aluno respondeu, em uma folha de

    papel, às seguintes perguntas expostas no quadro: quem sou eu? O que acho da escola?

    O que acho dos professores? Os alunos escreveram livremente e ao término da atividade

    recolhemos as cartas para lermos em casa.

    No terceiro encontro nossa intervenção foi com os alunos do 7º A, repetimos a

    mesma atividade passada no 7º B, abrimos a discussão sobre o que é a psicologia,

    falamos sobre sonhos e metas, elaboramos a mesma atividade para conhecer melhor os

    alunos. Neste dia também ficamos observando os alunos do 7º A na aula do professor C.

    de religião.

  • 14

    Na nossa quarta intervenção, planejamos apresentar o novo estagiário B, às

    turmas dos 7ºs anos. Ao chegarmos à escola fomos abordados pela coordenadora

    pedagógica do ensino médio S., que solicitou nossa intervenção no 3 º ano. Logo após o

    intervalo nos apresentamos à turma em sala de aula, cada estagiário falou um pouco de

    si e de sua vida, em seguida, solicitamos que os alunos se apresentassem para nós e nos

    falassem um pouco sobre eles e o que gostariam de fazer depois da conclusão do 3 º

    ano. Todos falaram exceto três que não se sentiram à vontade. O encontro fluiu bem e

    saímos de lá encantados.

    No nosso quinto encontro planejamos apresentar nosso projeto. Nas primeiras

    aulas fomos para os 7ºs anos primeiro para o A, depois para o B. O novo estagiário teve

    seu primeiro contato com os alunos, nos apresentamos novamente e falamos sobre

    nosso projeto de habilidades de vida, esclarecendo o conceito de habilidades e

    competências. Os alunos estavam atentos e bastante receptivos, logo após apresentamos

    uma foto de Bem Carson e perguntamos se algum deles o conhecia, todos responderam

    que não, em seguida um dos estagiários apresentou a história de Bem Carson, uma

    história de superação e fizemos o link com os conceitos de habilidade e competência.

    Logo após, fomos para o 7° B e depois do intervalo para o 3° ano; repetimos a mesma

    intervenção em cada turma.

    No nosso sexto encontro apresentamos a primeira habilidade proposta em nosso

    cronograma: autoconhecimento. No primeiro momento fomos para o 7° B, um dos

    estagiários abordou sobre o conceito, explanando a auto-observação para as suas

    habilidades, limites e respeito ao outro, em seguida aplicamos uma dinâmica chamada

    “A caixa de sucatas”, com os alunos em círculo, apresentamos uma caixa com objetos

    diversos. Em seguida, os alunos foram orientados a escolher um objeto com o qual se

    identificassem. A maioria se apresentou e explicou por que escolheram o objeto. Alguns

    que não se sentiram à vontade. Posteriormente, foi realizada uma discussão a respeito da

    importância de reconhecer atitudes e características pessoais e de refletir sobre o

    processo de autoconhecimento. Durante a dinâmica houve a discussão sobre bullyng e,

    finalizamos falando sobre a importância de se colocar no lugar do outro. Em seguida,

    fomos para o 7° A, nosso encontro foi em baixo de uma árvore próxima à quadra da

    escola. Repetimos a mesma intervenção, a maioria participou, exceto alguns alunos que

    apenas observaram. Também nos encontramos com o 3° ano que estava em aula vaga,

  • 15

    nosso encontro foi em sala, em círculo, repetimos a mesma intervenção, a maioria

    participou, alguns ficaram observando.

    No nosso sétimo encontro, planejamos trabalhar o relacionamento interpessoal.

    No primeiro momento fomos para o 7º B, apresentamos a habilidade de relacionamento

    interpessoal, em seguida aplicamos a dinâmica chamada “o problema”: orientamos os

    alunos para que cada um respondesse no papel entregue por uma das estagiárias, à

    seguinte pergunta: “Qual a sua dificuldade em relação a esta turma?”, no segundo

    momento pedimos para que cada aluno colocasse seu papel no centro do círculo,

    misturamos os papéis e orientamos para que os alunos escolhessem um papel e

    falassem, na 1º pessoa, sobre o problema exposto e dissesse qual solução daria,

    colocando-se no lugar do outro. O objetivo desta dinâmica foi desenvolver a

    compreensão do outro. No momento em que os alunos falaram a solução do problema

    do colega, houve a possibilidade de se colocar no lugar do outro. Logo após o intervalo,

    aplicamos a mesma intervenção no 7º A, a maioria dos alunos participou. Não foi

    possível ir ao 3º ano devido à carga horária dos alunos.

    No nosso oitavo encontro, planejamos apresentar a habilidade de empatia, a

    dinâmica utilizada foi “compreendendo o outro”. Como material, utilizamos bolas de

    sopro e orientamos para que os alunos projetassem a si mesmos na bola, seus sonhos,

    suas características, falamos para que cada um protegesse sua bola e posteriormente

    pedimos para que cada um ajudasse ao outro a equilibrar a bola. A dinâmica possibilitou

    a reflexão dos alunos em relação a ser empático, respeitar o outro e compreender as

    dificuldades de ser empático na sociedade em que vivemos hoje.

    No nosso nono encontro apresentamos a habilidade de “lidar com os

    sentimentos”. No primeiro momento, um dos estagiários expôs à temática apresentando

    as emoções básicas: alegria, medo, tristeza, raiva e afeto. Em seguida, aplicamos a

    dinâmica “atividade para lidar com os sentimentos”, os alunos responderam a um

    questionário sobre emoções, todos responderam e discutimos cada resposta, destacamos

    a importância de reconhecer as próprias emoções e as emoções do outro, de tomar

    consciência do quanto elas influenciam o comportamento e como manejá-las

    adequadamente. Aplicamos esta intervenção nos dois sétimos A e B todos participaram,

    não foi possível ir ao 3º ano.

  • 16

    No nosso décimo encontro apresentamos à habilidade de lidar com o estresse

    para os 7ºs anos A e B. A dinâmica utilizada foi a “técnica de inter-relacionamento”,

    indicada pela nossa supervisora. Nesta técnica apresentamos imagens com temas como:

    esporte dança, música, artes marciais, comidas e cada aluno escolheu um tema com o

    qual se identificou. Logo após, formamos grupos com cada tema, estimulamos que os

    alunos discutissem o porquê de sua identificação com aquele tema e imagem,

    possibilitando a interação de alunos que não costumavam conversar. Em seguida,

    lançamos o desafio de que no próximo encontro, os alunos iriam confeccionar cartazes e

    estariam livres para criar a forma de apresentação; orientamos que a melhor equipe iria

    ser premiada.

    Neste mesmo encontro, fomos para o 3º ano, onde aplicamos a dinâmica “o

    problema” para que o grupo pudesse escrever as suas dificuldades pessoais, de

    relacionamento na escola como um todo e depois esses problemas seriam trocados. Um

    teria a oportunidade de se colocar no lugar do outro e dar sugestões para os seus

    problemas, proporcionando assim um desabafo, uma exposição de problemas junto às

    possibilidades de soluções, num debate e na comunicação grupal.

    Nosso projeto de intervenção foi realizado no total de treze encontros, foi

    possível trabalhar e lidar com inúmeros temas e questões diagnosticadas como carentes

    de ajustes na instituição. No entanto, o tema focal do trabalho pôde ser explorado em

    todos os encontros: o relacionamento interpessoal, as oficinas e dinâmicas sempre

    culminavam no debate de como lidar com o outro, compreender o outro, conhecer-se e

    assim conhecer o outro. A nossa intenção foi justamente a abertura e maior disposição

    do grupo para a integração e compreensão do outro, através do ensino de habilidades de

    vida.

    DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA VIVIDA

    Em todos os encontros propusemos atividades diferentes, mas sempre com uma

    reflexão que tinha como subsídio a técnica usada e o que era analisado no decorrer do

    processo que se constituía. Toda a equipe participava de forma ativa analítica.

  • 17

    Nós recebemos muitos elogios do corpo docente, principalmente com os

    resultados que obtivemos no estágio, pois adentramos ao universo dos jovens para

    entender o fenômeno que emergia dentro da relação. “Quer dizer apenas que não

    devemos interrogar a consciência de fora, como se interrogam vestígios do fogo e do

    acampamento, mas de dentro; deve-se buscar nela a significação. A consciência, se o

    cogito deve ser possível é ela mesma o fato, a significação e o significado.” (Sartre,

    2006, p51) entramos no universo dos meninos para melhor habilitá-los a uma

    ressignifica-ação de suas relações.

    Recebemos falas dos profissionais como, por exemplo, “Vocês estão de

    parabéns, não é uma tarefa fácil deixar os alunos participativos, eles estão acostumados

    com os estagiários do CESMAC, e vocês foram um dos grupos que mais conseguiram

    desenvolver alguma atividade com eles”. Essa fala da professora demonstra uma clara

    satisfação com o trabalho desenvolvido, pensando em uma práxi social; um

    desenvolvimento dessas habilidades que pode potencializar algo mais promissor para

    eles no futuro, uma quebra de resistência ao outro para potencializar o convívio

    saudável. Em cada intervenção um aluno diferente que não participava se manifestava,

    expressava-se e dialogava conosco, nos procurava nas extensões da escola.

    Perguntavam sempre quando nós voltaríamos.

    Em termos motivacionais que a coordenadora pedagógica nos pediu ajuda, os

    alunos do 3º ano fizeram a prova Brasil super motivados, não houve evasão no dia da

    prova e tudo correu bem. Sendo assim, de acordo com o nosso olhar na práxi social,

    fomos potencializadores de potencialidades. A capacidade de se tornar algo para além

    da própria realidade é inerente a eles, todos possuíam capacidade para isso, porém não

    sabiam que possuíam, então fomos mais que incentivadores e técnicos quando se tratava

    da mente, fomos humanos que acreditaram no outro, no poder de afirmação do outro,

    mas, é claro, com técnicas científicas.

    Também ouvimos o relato da aluna “mesmo que alguns colegas não queiram

    participar, quero dizer para vocês que estes encontros estão me ajudando muito,

    Obrigada.” Tendo como ponto de vista a práxi social entende-se que a reflexão da aluna

    foi para além do próprio corpo, ou seja, ela se percebeu dentro das atividades e percebeu

    os colegas e os facilitadores, o processo empático, a nossa luta para promoção de algo

  • 18

    diferente e uma reflexão acerca do que estava acontecendo com ela e com o grupo no

    qual ela está inserida.

    Mangrulkar, Whitman e Posner (2001) afirmam que os métodos interativos são

    mais efetivos, já que o desenvolvimento das habilidades está relacionado a uma

    pedagogia ativa. Procuramos expor as habilidades de vida de forma didática, sempre

    desenvolvendo dinâmicas e rodas de conversa.

    Assim como foi supracitado, os conteúdos que foram passados foram bem

    assimilados, infelizmente não pudemos atingir a todos, pois pode-se ter no curso uma

    certa resistência dos membros envolvidos, não adianta termos a técnica se o outro não

    deseja vivenciar a possibilidade.

    Tendo como ponto de partida uma experiência no âmbito escolar sem retirar o

    conteúdo magnum que é a práxi social dentro da escola, na elaboração de possibilidades

    e de conteúdos que os alunos do 7º ano A e B e os alunos do 3º ano do ensino médio

    necessitam elaborar. A práxi social no viés escolar tem um cunho transcendente, pois a

    escola é uma das instituições sociais que os jovens passam mais tempo, acreditamos no

    papel de agente trans-formar-dor que executamos no curso ontológico da vida dos

    jovens, mas essa atuação não poderia ser efetuada com a precisão que obteve sem o

    auxílio da equipe, estagiários de psicologia, alunos, corpo docente, funcionários da

    escola, todos atuaram de forma direta ou indireta no processo de trans-forma-ação

    dentro do processo de habilidades de vida como melhoria do relacionamento

    interpessoal.

    Dentro da atuação social no viés escolar foi necessário um contato direto com o

    universo dos jovens, uma viagem ao universo e ao contexto de vida de cada um, em

    outras palavras, foi necessária certa “Analítica Existencial” do processo no qual

    adentramos, que só foi possível com o trabalho conjunto da equipe de três estagiários

    altamente qualificados para a atuação, mas na práxi social, nos permitimos conhecer o

    universo deles e percebemos que não foi só a técnica que deu resultado, mas sim o olhar

    humano dentro da relação dialética, dialógica.

    Em um dia de atuação, cuja atividade tinha como principal tópico, como lidar

    com o estresse, um garoto relatou “Eu gosto de aliviar meu estresse dando pau nos

    comédias.” Para ele dar “Pau” consiste em agredir torcedores de uma torcida

  • 19

    organizada, sendo assim o estagiário saiu da posição que ocupava e foi de encontro a

    ele, relatando que, o que o fazia relaxar frente às dificuldades que emergiam na vida era

    a luta, então todos ficaram se perguntando: “lutar”? Perguntaram: “Bruno, se alguém

    mexer com você o que você faz? Senta a porrada?” O estagiário disse que não, pois não

    precisava agredir ninguém pois tem certeza da sua capacidade, o outro tenta agredir por

    que duvidadas próprias capacidades; através da luta é possível se expressar e lidar

    melhor com as pessoas, com as coisas e com as adversidades da vida.

    Dentro da práxi da Psicologia Escolar-Social da qual não podemos nos

    desprender nunca, dentro do viés da atuação dos estagiários, tivemos várias outras

    conquistas como da Jovem B., uma menina que não sabia como lidar com o estresse e

    era alvo de Bullying. Começou a reagir às ofensas de uma forma diferente, como por

    exemplo, no dia em que uma colega de classe fala de religião com um dos estagiários:

    as meninas são pertencentes do protestantismo e a B não, é de outra religião Cristã e as

    meninas estranharam como ela tomou a atitude de revelar a crença. Ela ficou toda sem

    graça por não ter aceitação das colegas de turma e o estagiário tomou rápida a situação e

    verbalizou “Conheço, mas conheço pouco.” Por essa fala que foi para além da técnica,

    não está no roteiro positivista da ciência na qual estamos inseridos, a aluna sorriu e saiu,

    em outra oportunidade, a mesma menina sofreu uma agressão de bullying e foi pedir

    ajuda na coordenação, no último dia de estágio, a aluna entrega uma Carta e uma Bíblia

    da religião dela, e para a outra estagiária também entrega uma carta e um chaveiro como

    forma de-monstrar-ação de gratidão e afeto aos estagiários.

    Dentro de toda a teoria estudada e vista, encontramos uma gama de teorias

    estudadas dentro do contexto, Karl Marx, Sartre, Heidegger, Carl Rogers, Nietzsche,

    Reich, encontramos bastante teoria na escola, mas principalmente respostas para a vida,

    uma multi-necessidade de transcendência da própria relação humana com o mundo.

    Encontramos fragmentos teóricos diversos, mas toda a teoria com uma dinamicidade

    abissal, cíclica e a conclusão é que o psicólogo deve atuar cada vez mais com o viés de

    trans-formar-ação social dentro de qualquer contexto de atuação.

    Para nós estagiários foi um aprendizado imenso, pois não há teoria sem prática e

    não há prática sem teoria, foi uma experiência incrível e um aprendizado sem igual, pois

    atuamos com pessoas que nunca tínhamos atuado, de uma forma que nunca

  • 20

    imaginamos, tivemos o privilégio de conhecer pessoas maravilhosas e de sermos gratos

    eternamente.

    Dentro do estágio, tivemos uma aluna que já tinha recorrido aos estagiários

    várias vezes com queixa de Bullying. Em uma intervenção, a menina sofreu bullyng

    mais uma vez e, nesse dia, na frente dos estagiários. Então, um dos estagiários percebeu

    que a menina queria chorar e perguntou se a mesma gostaria de sair da sala. O estagiário

    acompanhou a mesma e conseguiu estabelecer um diálogo com ela, que saiu do

    contexto técnico da práxi Ele foi tão humano que se tornou terapêutico, quando fez uma

    demonstração e disse: “Vamos supor que em minhas mãos eu tenha um presente. Se eu

    te der esse presente e você não quiser, ele vai ser seu ou vai continuar a ser meu?”, a

    menina responde, “Seu”; o estagiário fala: “é isso que acontece, quando alguém a

    ofende, você não é obrigada a aceitar “esse presente”, o outro lhe dá isso, porque isso

    pertence a ele, é isso que ele tem a lhe dar”. A menina nesse momento foi acolhida e

    conseguiu voltar para a sala. Na outra semana, a menina sofreu o mesmo bullyng, mas

    pela primeira vez, reagiu às ofensas, procurou a coordenadora da escola e, no final do

    estágio, a jovem falou para o estagiário, “Obrigada por tudo, agora eu sei que as pessoas

    podem gostar de mim do jeito que eu sou.”

    Eu não experiencio o homem a quem digo TU. Eu entro em relação com ele no

    santuário da palavra-princípio. Somente quando saio daí posso experienciá-lo

    novamente. A experiência é distanciamento do Tu. (Buber, Martin 1974)

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Percebe-se que o embasamento teórico e a relação estabelecida junto às técnicas

    utilizadas foram cruciais para o sucesso do processo, a instituição que nos abriu as

    portas é um modelo de escola para o mundo, pois a gestão funciona, o corpo docente é

    comprometido e há um envolvimento profissional com os entes que ali estão como

    alunos Nós percebemos que a atuação do psicólogo na escola Brasileira não pode ser

    desvencilhada do cunho social, pois ali, a existência clama por uma intervenção urgente.

  • 21

    O trabalho feito por nós, estagiários, só obteve êxito, porque conseguimos

    potencializar-potencialidades, dentro de cada um dos envolvidos com o movimento,

    podendo assim sermos agentes transformar-dores na trajetória da existência de cada um

    dos indivíduos que estavam inseridos.

    Por mais difícil que tenha sido o estágio, a dor de perceber a realidade dos

    estudantes da rede pública brasileira, conhecer a realidade da escola e saber que as

    principais problemáticas que os alunos possuem são extra-escolares, pois não há

    possibilidade concreta de perceber o ente, se não compreender o meio social, a

    totalidade do social que o envolve, as influências externas à realidade escolar. Sendo

    assim, a prática foi eficiente, pois possibilitou um processo de des-alienação do próprio

    percurso de vida, assim possibilitando autenticidade nas relações fenomenológicas

    existenciais que foram que estão sendo, e que vêm a ser.

    A equipe foi movida a ampliar seus conhecimentos sobre o ser humano, a

    suspender seus pré-conceitos e conhecer o fenômeno ali desvelado. Empenhamo-nos a

    ir a fundo, para reduzir o fenômeno à sua essência; percebemos a importância crucial da

    Psicologia Social no contexto escolar, através do olhar fenomenológico existencial das

    relações; provocamos reflexões; buscamos criar condições para novas formas de ver o

    mundo circundante dar sentido à existência que se manifesta.

  • 22

    REFERÊNCIAS

    BEIJAMIN, W. O Anjo da História. Belo Horizonte: Autêntica.(2016)

    BUBER, Martin. Eu e Tu. 8º Ed. 1974.

    DEL PRETTE, Z.ªP. & DEL PRETTE; Habilidades envolvidas na atuação do Psicólogo

    Escolar/Educacional in: Weschler, S.M. (org.) Psicologia Escolar: Pesquisa,

    FormaçãoePrática; Campinas, Ed. Alínea; 1996

    GORAYEB, Ricardo. ENSINO DE HABILIDADES DE VIDA: UMA EXPERIENCIA

    COM ADOLESCENTES. Disponível em:

    http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a11acesso em: 18 out. 2017.

    GORAYEB, Ricardo. O ENSINO DE HABILIDADES DE VIDA NO BRASIL.

    Disponível em:http://www.scielo.mec.pt/pdf/psd/v3n2/v3n2a09.pdf acesso em : 18

    out.2017

    HEIDEGGER.Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes.(1989)

    LYOTARD JF. A fenomenologia. Rio de Janeiro (RJ): Edições 70; 1999.

    MANGRULKAR, L. Whitman, C. V. & Posner, M. (2001). Enfoque de habilidades

    para la vida para um desarrollo saludable de ninõs y adolescentes. Washington:

    OPS

    OMS – Organização Mundial de Saúde (1997). Life skills education for children and

    adolescents in schools. Geneve: OMS.

    SARTRE, J.-P. Esboço para uma Teoria da Emoções. porto Alegre: L&PM

    Poket.(2013)

    SALANKIS,J. M. Heidegger. São Paulo.2011

    T.M.LANE, S. Psicologia Social, O homem em movimento. São Paulo: Brasiliense

    s.a.(1994)

    http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a11http://www.scielo.mec.pt/pdf/psd/v3n2/v3n2a09.pdf

    RESUMOINTRODUÇÃOREFERENCIAL TEÓRICOMETODOLOGIADESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA VIVIDACONSIDERAÇÕES FINAISREFERÊNCIAS