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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE
CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
MARIA EVELINE COSTA SALES
A ÉTICA NA TRANSPARÊNCIA DAS INFORMAÇÕES: UM ESTUDO
DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE FORTALEZA
FORTALEZA
2013
MARIA EVELINE COSTA SALES
A ÉTICA NA TRANSPARÊNCIA DAS INFORMAÇÕES: UM ESTUDO DE CASO
EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE FORTALEZA
Monografia submetida à aprovação da
Coordenação do Curso de Administração de
Empresas do Centro Superior do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Graduação.
Orientador(a): Ms. Mônica Valesca Veras
Machado
FORTALEZA
2013
MARIA EVELINE COSTA SALES
A ÉTICA NA TRANSPARÊNCIA DAS INFORMAÇÕES: UM ESTUDO DE CASO
EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE FORTALEZA
Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia) como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Administração, outorgado pela Faculdade Cearense (FAC), tendo sido aprovado pela banca examinadora composta pelos professores.
Data de aprovação: ___/___/___.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profa. Mônica Valesca Veras Machado, Ms.
Orientador
_________________________________________________
Professor Ms.................................................
_________________________________________________
Professor Ms.................................................
A Deus, meu pais e ao meu esposo, grandes incentivadores do meu desenvolvimento
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela força e coragem durante esta longa
caminhada.
Aos meus pais Juraci e Vianei, ao meu esposo Júlio César e a minha irmã
Evilene, pelo carinho, incentivo e apoio, por não me deixar desistir me ajudando em
todos os momentos.
A minha orientadora Mônica Veras Machado, pela confiança depositada
em mim, pela paciência pela qual conduziu esse trabalho.
A todos os meus professores que participaram dessa caminhada.
Enfim, a todos aqueles que me incentivaram a seguir em frente e lutar
pelos meus ideais.
“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível".
(Charles Chaplin)
RESUMO
A questão da ética e a sua aplicabilidade difundiu-se nos mais diversos campos do estudo científico, bem como nos mais distintos campos da sociedade. Trazer a abordagem deste tema para o contexto das instituições financeiras no que se diz respeito à transparência das informações, ou seja, se o comportamento ético está presente no ato da venda de produtos e serviços bancários, prestando-se para tanto todos os esclarecimentos necessários, é o propósito desta pesquisa. Para avaliar como um dos ramos mais competitivos da economia e as exigências por resultados afetam a conduta dos profissionais do setor financeiro, aplicou-se um questionário para um grupo de funcionários que atuam diretamente com o setor negocial e de vendas de uma agência bancária. As perguntas objetivavam indicar se os entrevistados consideravam importante a transparência com os clientes. Concluiu-se que ser ético e prestar as devidas informações representa uma estratégia de vendas, pois esta conduta acarreta na conquista da confiança e da credibilidade, além de negócios duradouros e sustentáveis.
Palavras-chave: ética, instituições financeiras, transparência na informação,
negócios sustentáveis.
ABSTRACT
The question of ethics and their applicability has spread in various fields of scientific study as well as in widely different fields of society. Bringing to approach this theme to the context of financial institutions in what regards the transparency of information; that is, whether ethical behavior is present during the sale of bank products and services, providing, for this aim all necessary explanations; is the purpose of this research. To evaluate how one of the most competitive branches of economy and the demands for results affect the conduct of financial professionals, a questionnaire has been applied to a group of employees who work directly with the commercial sector of a bank agency. The questions aimed to indicate whether the interviewed considered important transparency with customers. It was concluded that being ethical and providing the necessary information is, actually, a sales strategy, for this attitude results in the acquisition of trust and credibility, as well as lasting and sustainable businesses. Keywords: ethics, financial institutions, information transparency, sustainable
businesses.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Organograma do sistema financeiro nacional………………………………26
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Reclamações pendentes contra os bancos.............................................32
LISTA DE SIGLAS
BACEN – Banco Central do Brasil
BB – Banco do Brasil
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CMN – Conselho Monetário Nacional
CVM – Comissão de Valores Mobiliários
CEF – Caixa Econômica Federal
SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito
SFN – Sistema Financeiro Nacional
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................13 2 ÉTICA .....................................................................................................................16 2.1 Conceito..............................................................................................................16 2.2 Tipos de ética......................................................................................................17 2.2.1 Ética teleológica................................................................................................17 2.2.2 Ética situacional.................................................................................................18 2.2.3 Ética normativa..................................................................................................18 2.2.3.1 Ética empresarial............................................................................................18 2.3 Ética na transparência das informações..........................................................21 3 INSTITUIÇÃO FINANCEIRA..................................................................................23 3.1 Conceito..............................................................................................................23 3.2 As instituições financeiras no Brasil. Histórico, evolução e panorama atual...........................................................................................................................24 3.3 Sistema Financeiro Nacional.............................................................................25 3.4 Tipos de Informações geradas pelas instituições financeiras......................27 4 METODOLOGIA.....................................................................................................28 4.1 Quanto ao tipo....................................................................................................28 4.2 Quanto à natureza..............................................................................................29 4.3 Quanto à estratégia............................................................................................29 5 ESTUDO DE CASO................................................................................................30 CONCLUSÃO............................................................................................................35 REFERÊNCIAS..........................................................................................................37 ANEXOS....................................................................................................................40
13
1 INTRODUÇÃO
Apesar de proceder de milhares de anos, o debate acerca da ética
apresenta-se extremamente atual e, especialmente, necessário. A discussão sobre
os princípios éticos disseminou-se pelos mais diversos campos de estudo científicos
e setores da sociedade, tornando-se requisito fundamental para o êxito de relações
sustentáveis.
Como não poderia ser diferente, a maioria das empresas adotaram a ética
como regra fundamental a ser seguida nos negócios, surgindo, daí, a adoção de
códigos de ética que objetivam valorizar a imagem das organizações empresariais
junto ao mercado, principalmente, aos consumidores.
Nesta conjuntura, encontram-se as instituições financeiras que se
configuram exemplo de empresas que assumiram a ética como pilar. Contudo, o
mercado no qual estão inseridas estas organizações caracteriza-se pelo intenso
acirramento concorrencial e pela forte concentração. A busca por resultados
econômicos, cada vez mais consideráveis, obrigaram as instituições financeiras a
diversificar o campo de atuação, procurando não somente a intermediação bancária,
mas também a venda de produtos/serviços voltados para a área de seguros,
capitalização e previdência.
Na visão de Diniz (acesso em 1° setembro 2013), em 2010 os bancos
lucraram aproximadamente R$ 46 bilhões; em 2009, aproximadamente R$ 41
bilhões; deste montante apresentado, seis bancos abocanharam 95% do lucro e
praticamente dominaram o mercado. São eles: Itaú, Banco do Brasil, Bradesco,
Santander, Caixa Econômica Federal e HSBC (corporação bancária de Hong Kong e
Xangai).
De acordo com o Bacen (2013), com o constante crescimento dessas
grandes instituições, observou-se também o aumento das reclamações e de
denúncias junto aos órgãos de defesa do consumidor e ao Banco Central do Brasil.
Elucidar débitos não autorizados e cobrança de serviços não contratados figuram
como algumas das principais queixas.
14
Considerando o exposto, esse trabalho busca responder à seguinte
problemática: de que forma a ética na transparência das informações está sendo
devidamente respeitada perante os clientes da agência bancária? O objetivo geral
da pesquisa é avaliar como a ética contribui para o desempenho das vendas de
produtos e serviços de uma agência bancária. Para viabilizar esta pesquisa, faz-se
necessário alcançar alguns objetivos específicos, tais como:
verificar a utilização da ética na organização bancária;
identificar as técnicas utilizadas para a disseminação da ética na
organização bancária e
averiguar a aplicação da transparência nas informações acerca dos
produtos/serviços financeiros.
Diante destas indagações, justifica-se a importância do presente trabalho
em discutir a ética como um diferencial para credibilidade e fidelização de clientes
por meio de uma abordagem conceitual, relacionando-a à esfera empresarial, em
especial às instituições financeiras, no que diz respeito à clareza das informações
prestadas.
Portanto, espera-se que ao final deste trabalho as questões abordadas
estimulem uma reflexão sobre a importância do papel da ética na transparência das
informações para que faça parte não somente de códigos, mas, principalmente, das
condutas pessoais e empresariais.
A estrutura deste trabalho está dividida em seis capítulos. Além deste
introdutório, o segundo capítulo enfocará o conceito acerca da ética, os principais
tipos e a importância para transparência das informações. O terceiro capítulo aborda
o assunto sobre as instituições financeiras, apresentando a definição e a evolução
das empresas do ramo financeiro, bem como o campo de atuação e os principais
produtos/serviços que oferecem.
O quarto capítulo apresenta a metodologia utilizada para a elaboração da
pesquisa.
15
O quinto capítulo faz referência à análise da ética na transparência das
informações em uma instituição financeira, com um estudo de caso e apresenta a
análise do resultado da pesquisa.
Ao final deste trabalho, a conclusão, sintetizando os principais elementos
que compuseram a pesquisa a fim de expor os resultados encontrados.
16
2 ÉTICA
A análise, a compreensão e principalmente o exercício de
comportamentos pautados nos princípios éticos revelam-se de fundamental
importância para a coletividade humana. Deste modo, conceituar ética é obviamente
relevante, entretanto, utilizá-la como regra inseparável nas relações sociais é,
sobretudo, primordial.
A ética está incorporada nos mais diversos setores da sociedade. Fala-se
em ética no direito, na política, na economia. Especificamente no âmbito
empresarial, condutas éticas que objetivam a clareza nas relações, em especial na
transparência das informações, é ponto essencial para negócios duradouros. Nesta
perspectiva, revela-se fundamental a compreensão conceitual da ética a fim de que
se possa ter um entendimento claro do tema, bem como da classificação a que se
sujeita.
2.1 Conceito de ética
Conceituar ética não é tão simples. Na verdade, a definição do termo é
muito mais complexa do que se imagina, conforme aborda Valls (2008):
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta. Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme os costumes são considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento (VALLS, 2008, p. 7).
Deste modo, o significado da ética está relacionado aos costumes e aos
comportamentos considerados corretos. Portanto, a importância da adoção dos
princípios éticos reside no fato de propiciar o bom relacionamento humano no qual
se emprega qualidades virtuosas, como honestidade e gentileza, por exemplo. Para
os estudiosos, esta reflexão ocasiona o entendimento que ética e moral são
sinônimos, como assevera Nalini (2008):
17
A palavra “moral” vem da palavra latina que significa “costumes”, e a palavra “ética”, da palavra grega que também eu significa “costumes”. São, pois, sinônimos perfeitos e só diferem pela língua de origem. (...) Na linguagem rotineira é comum o uso indistinto entre moral e ética. Exprimem o cerne idêntico. Etimologicamente, como visto, provêm da mesma origem (NALINI, 2008, p. 28).
No entanto, embora ética e moral apresentem a mesma procedência
etimológica, de tal forma que na linguagem coloquial são empregadas com
significados idênticos, empiricamente os termos apresentam distinção. Para
Vázques (1995, p. 12), “ética é a ciência do comportamento moral dos homens em
sociedade”. Ou seja, ética é um ramo do conhecimento científico que tem como
objeto de estudo a conduta humana e a interação com os demais. Dentro da
filosofia, ética é uma disciplina de estudos denominada axiologia ou teoria dos
valores.
A importância de distinguir ética e moral reside no fato de que esta é
específica, enquanto aquela engloba todos os aspectos do comportamento humano.
Logo, pode-se proferir que a ética na transparência das informações vai muito mais
além de ser certo ou errado, é, pois, um princípio que deve ser necessariamente
adotado por qualquer profissional que detém o conhecimento de algo que oferecerá
para o cliente.
O estudo da ética transcorre pelos mais diversos campos da ciência. Uma
vez que a finalidade é avaliar a questão da ética à luz da transparência das
informações, focando as instituições financeiras, inicialmente abrir-se-á espaço para
o debate acerca dos tipos de ética, inserida nesta discussão a ética empresarial.
2.2 Tipos de ética
Obviamente, por ser um campo científico amplo e bastante abordado, a
ética possui diversas divisões. Contudo, serão utilizadas nesta pesquisa as
categorias apresentadas por Rosas (2002), as quais são: ética teleológica, ética
situacional, ética normativa e ética empresarial.
2.2.1 Ética teleológica
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A teleologia é um estudo filosófico que se preocupa apenas com o
objetivo, com a finalidade. Assim, a ética teleológica é a ética dos fins, ou seja,
cuida-se apenas de alcançar os propósitos, sem que para isso seja considerado os
meios para atingi-lo. Devido a esta característica, também é considerada uma ética
imoral. Para exemplificar, temos a ética econômica, que se importa tão somente com
o lucro.
2.2.2 Ética situacional
Pode-se dizer que a ética situacional é a que está mais presente nas
condutas de boa parte das pessoas neste início de século XXI. Isto porque a ética
situacional, denominada também como ética amoral, baseia-se nas circunstâncias,
no qual tudo é considerado relativo e passageiro. Ou seja, o certo e o errado são
relativos, pois as escolhas dependerão das circunstâncias. Tal tipo de ética está
bastante presente na política, na qual a conveniência influencia as decisões.
2.2.3 Ética normativa
A ética normativa fundamenta-se em preceitos e normas morais fixas.
Baseia-se na investigação racional dos padrões de conduta, delineando não a forma
como as pessoas agem, mas sim apontando como as pessoas devem agir e pensar.
Tem-se como subdivisões da ética normativa a orientação para os padrões
profissionais, tais como a ética médica, inclusive a ética empresarial que será
aprofundada a seguir.
2.2.3.1 Ética empresarial
Considera-se uma organização empresarial a partir do momento em que
um grupo de pessoas dentro de um sistema de relações de cooperação se distribui
em uma estrutura específica para alcançar suas finalidades por meio da divisão de
tarefas entre os diversos membros que a compõem. As organizações que miram o
lucro são as empresas. As que não visam podem ser apontadas de forma genérica
como associações.
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Para Cury (2000), organização é um sistema planejado de esforço
cooperativo no qual cada participante tem um papel definido a desempenhar e
deveres a executar. Vivenciamos neste início do século XXI um momento de
transformações acentuadas e a empresa igualmente perpassa por estas intensas
modificações. Destarte, as organizações empresariais que objetivavam tão somente
o lucro pelo lucro precisaram repensar este paradigma e assentar o princípio ético
como uma das bases fundamentais da empresa, para que não fossem abandonadas
pelos interesses dos consumidores.
Como assevera Nalini (2008):
Um dos motivos do fortalecimento da ideia de empresa é justamente encarar as questões éticas à luz da seriedade. Ética, para a empresa contemporânea, significa tanto quanto lucro. Por aperceber-se disso foi que muito dos conglomerados sofreram as consequências das profundas transformações econômicas, de desregulamentação, de desaparição de profissões e de afazeres, sem eles próprios deixarem de existir (NALINI, 2008, pp. 263 e 264).
Segundo Moreira (1999, p. 28), ética empresarial é “o comportamento da
empresa – entidade lucrativa – quando age de conformidade com os princípios
morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras éticas)”. Não
obstante, os conglomerados empresariais têm dado destaque à aplicação da ética
em suas atuações, fruto muitas vezes não do próprio interesse, mas das
reivindicações advindas das mudanças sociais que ocorreram nos últimos anos; as
empresas brasileiras, por exemplo, lidam também com fortes entraves para a
manutenção de suas atividades comerciais.
Como exemplos destes obstáculos, citam-se a burocracia e a alta carga
tributária brasileira. Segundo a reportagem da revista Exame (19/10/2012), reunir
toda a documentação para se abrir uma empresa no Brasil pode levar até 119 dias.
Outra reportagem, desta vez do Jornal O Povo (22/5/2012), o cidadão brasileiro
precisou trabalhar 150 dias para pagar impostos em 2012.
Diante de tantas requisições, as organizações empresariais precisam
procurar não desviar o foco naquilo que é a sua razão de ser: gerar lucro. Devem
estar atentas a estes pontos, bem como a várias questões que estão presentes em
um ambiente de acirrada concorrência.
20
Perante tamanhos obstáculos e exigências, a ética pode parecer
inicialmente algo que não é tão importante ou que pode de alguma forma ser
maquiado. É aí que muitas empresas se enganam, como assegura Nalini (2008).
A empresa contemporânea ou assume a ética – denominada responsabilidade social – ou talvez venha a colher fracassos que podem levá-la ao desaparecimento. As reputações se constroem, mas também podem ser demolidas. Há exemplos recentes de empresas que não cuidaram de sua credibilidade e foram expelidas do mercado. (...) Aí que entra a ética da empresa. Os consumidores hoje são mais bem informados e serão fiéis a marcas e organizações que lhes deem razões para confiar. A impressão que as pessoas têm da empresa está vinculada ao conceito de responsabilidade social. Ou seja, a empresa não tem apenas de procurar o lucro. Precisa também exercer o seu papel social (NALINI, 2008, pp. 268 e 269)
Dessa forma, a visão da empresa como simples geradora de lucro foi
abdicada. Diante isso, as organizações incutem nos stakeholders, ou seja, em todas
as partes envolvidas nos negócios corporativos (empregados, fornecedores,
clientes, acionistas etc.), a inestimável relevância da ética como alicerce para
conservação de relações comerciais sustentáveis. Nasce aí a importância da
responsabilidade social, designação empresarial para a responsabilidade ética.
Responsabilidades éticas correspondem a atividades, práticas, políticas e comportamentos esperados (no sentido positivo) ou proibidos (no sentido negativo) por membros da sociedade, apesar de não codificados em lei. Elas envolvem uma série de normas, padrões ou expectativas de comportamento para atender àquilo que os diversos públicos (stakeholders) com os quais a empresa se relaciona consideram legítimo, correto, justo ou de acordo com seus direitos morais ou expectativas (ASHLEY, 2005, p. 5).
Diversas empresas e os mais diversos ramos de atuação, notadamente
as instituições financeiras objeto deste estudo, defrontam-se com todas estas
questões. As maiores instituições bancárias que atuam no Brasil adotam um código
de ética como estratégia para expor à sociedade e aos consumidores o
comprometimento com a conduta ética.
Sobre os códigos de ética, Solomon (2000) assevera:
Os valores inerentes à cultura de uma empresa podem ser formalizados e expressos no chamado código de ética empresarial (...). Em alguns exemplares, a publicação e a distribuição de um código é uma forma de assumir explicitamente um conjunto de valores que já vem governando a empresa e seus funcionários há um tempo considerável. Em outros casos, a publicação e a distribuição de um código não passa de uma tentativa desesperada de persuadir ou ameaçar os funcionários a aceitarem um
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conjunto de princípios em seu dia a dia. E, algumas vezes, esse código não passa de uma tentativa hipócrita de estabelecer relações públicas (SOLOMON, 2000, p. 88).
Segundo Solomon (2000), a adoção de um código de ética não reflete
necessariamente que determinada organização ponha os preceitos éticos em
prática. Logo, torna-se indispensável demonstrar a importância do exercício dos
princípios éticos para a constituição de relações sustentáveis no tocante aos mais
diversos aspectos, em particular na transparência das informações, tópico que será
tratado em seguida.
2.3 Ética na transparência das informações
A transparência na informação é um tópico bastante debatido,
especialmente no meio político. É um assunto tão relevante que recentemente foi
instituída a Lei 12.527/11, conhecida também como a Lei de Acesso à Informação,
que garante o direito de acesso às informações constitucionalmente pelos cidadãos
e visa promover uma administração pública mais transparente.
Informação pode ser definida, segundo Serra (2007, p. 203), “como o
resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que
represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do
sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe”.
Nesta perspectiva, informação diz respeito à análise de dados que são
transformados em conhecimento. Logo, se houver carência ou distorção de
elementos neste processo, a transmissão da informação não será satisfatória.
Elucidando, se um funcionário oferece determinado serviço, porém, não informa
todos os dados necessários ao cliente, como multa no caso de desistência, por
exemplo, esta situação poderá trazer prejuízos não somente àquele que a adquiriu,
mas também ao colaborador que a vendeu, bem como a empresa prestadora do
serviço.
Há de se aceitar que eventuais falhas no processo de transmissão da
informação podem ter causas tais como o desconhecimento de quem as repassa.
22
Todavia, quando há um ato deliberado de não se prestar todas as informações
necessárias acerca dos produtos/serviços que a empresa oferece, trata-se de
prática antiética e, por assim ser, rejeitável.
Neste contexto, insurge a necessidade da ética na transparência das
informações como elemento imprescindível para relações negociais duradouras e
sustentáveis. Assim, ética nos negócios remete da mesma forma à transparência
empresarial. Esta perspectiva encheu-se de tamanha relevância, que se tornou um
diferencial competitivo. Como assinala Alledi e Quelhas (2002):
As organizações que souberem ser transparentes em relação a produtos e processos tecnológicos, cujos componentes ou forma de funcionamento são mantidos em sigilo, estarão em melhores posições frente ao público, mesmo em momentos onde terá que reiterar, por motivos comerciais, o segredo de suas atividades. Os bancos são um ótimo exemplo para este caso: devem ser transparentes em seus balanços e atividades, sem contudo abrir mão do sigilo bancário. (Alledi e Quelhas, 2002 p. 14)
Neste entendimento, a ética e a transparência das informações revelam-
se pontos cruciais de fidelização do cliente e de negócios permanentes e estáveis,
pois geram entre os envolvidos um clima de confiança e credibilidade. No próximo
capítulo, abordar-se-ão as instituições financeiras, partindo-se do processo histórico
de crescimento, bem como da situação recente destas empresas, a fim de que em
outro momento seja confrontada a atuação das organizações bancárias no que se
diz respeito à ética na transparência das informações.
23
3 INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
Este capítulo irá abordar as instituições financeiras, assim como o seu
conceito e a evolução do sistema financeiro nacional, enfatizando os principais
acontecimentos históricos e a transparência das informações geradas pelas
instituições.
3.1 Conceito de instituição financeira
Para Oliveira (2006), as instituições financeiras atuam na intermediação
entre aqueles que têm déficit de recursos e aqueles que têm excesso de recursos.
Segundo a Lei nº 7.492/86, que define os crimes contra o sistema financeiro
nacional:
Art 1º: Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou custódia, emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores mobiliários.
Constata-se, portanto, que a principal característica que define as
instituições financeiras é a intermediação de recursos. As instituições financeiras
bancárias singularizam-se pela possibilidade de abrirem contas correntes para seus
clientes. Ao efetuarem a abertura de contracorrente, os clientes podem movimentá-
la e manter saldo positivo, denominado também de depósito a vista. Segundo
Oliveira (2006, p. 90), estas instituições são divididas em três tipos:
bancos comerciais: realizam operações de crédito de curto prazo, bem
como o fornecimento de diversos serviços com desconto de cheques e
transferências, por exemplo;
bancos múltiplos: além de executarem as operações acima
mencionadas, podem atuar também no financiamento a longo prazo,
no crédito imobiliário, bem como atuar na área de investimento e
desenvolvimento econômico e
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caixas econômicas: prestam os mesmos serviços dos bancos
comerciais, entretanto, atuam principalmente em projetos que
contribuem para o desenvolvimento da sociedade, como, por exemplo,
na habitação popular.
3.2 As instituições financeiras no Brasil: histórico, evolução e panorama atual
Em 12 de outubro de 1808, no período colonial, foi fundado o primeiro
banco em território brasileiro, com a denominação de Banco do Brasil. Após passar
por várias transformações, somente em 1905 tornou-se banco oficial, acumulando
até meados do século XX atividades financeiras, bem como de coleta de impostos e
depositário do tesouro nacional (Abrão, 2008, p. 54).
Em 1945, foi criada a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC)
a fim de controlar o mercado monetário no Brasil. A criação da SUMOC, na verdade,
tinha a finalidade de preparar e organizar a concepção de um banco central. A Lei
4.595/64, instituída para disciplinar o sistema financeiro nacional, foi responsável
também pela criação do Banco Central do Brasil. Tais modificações na conjuntura
financeira ficaram conhecidas como reforma bancária.
Com o chamado “reordenamento institucional” entre os anos de 1964/67 houve reformas em diversas áreas, inclusive na bancária e no mercado de capitais, buscando estabelecer o controle das instituições financeiras, a criação de novas formas de financiamento público e privado, além de propiciar maior especialização e flexibilização do sistema financeiro. Para tal, o conselho da SUMOC foi transformado em conselho Monetário Nacional e assim a própria SUMOC foi transformada em BCB (Banco Central do Brasil) (SILVA, 2010, p. 2).
A partir de então, observou-se um forte processo de concentração
bancária, processo este que se intensificou a partir de 1995, com a privatização de
bancos regionais. Segundo dados do Ministério do Planejamento, entre os anos de
2000 e 2005 cinco bancos estaduais (São Paulo, Goiás, Amazonas, Maranhão e
Ceará) e 11 subsidiárias foram vendidas a bancos privados.
Como se pode observar, há uma grande concentração de recursos em algumas poucas instituições estatais (como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal), alguns bancos privados (Bradesco, Itaú-Unibanco e Safra) e alguns estrangeiros (como o Citibank, o BankBoston, o Santander e o HSBC) (MINELLA, 2001, p. 54).
25
Em 2012, o governo federal por meio dos bancos públicos adotou
medidas econômicas com a finalidade de reduzir as taxas de juros para pessoas
físicas e jurídicas. Seguindo esta orientação, os bancos privados também decidiram
baixar as taxas de juros nas mais diversas operações de crédito. Além disso, o
sistema financeiro brasileiro está em um processo de popularização dos serviços
bancários, ou seja, uma disseminação dos produtos/serviços bancários para todos
os níveis de renda, em especial, para as mais baixas.
Estas transformações mais recentes nas instituições financeiras
deflagraram o acirramento concorrencial no setor bancário, acentuado pela
expectativa de redução nos lucros diante da queda nas taxas de juros nas
operações de crédito, o que impacta diretamente na cobrança pelo atingimento das
metas pré-estabelecidas.
3.3 Sistema financeiro nacional
Segundo Hoji (2007, p. 45), “o Sistema Financeiro Nacional é formado por
instituições que têm como finalidade intermediar o fluxo de recursos entre os
poupadores e investidores e os tomadores de recursos”. Assim, o SFN representa o
conjunto de entidades que intermedeiam a transferência de dinheiro entre os
agentes superavitários e deficitários.
O SFN é dividido em dois subsistemas, a saber: o subsistema normativo
(com a função de fiscalização e regulação) e o subsistema operativo (com a
atribuição de intermediação). Compõem o primeiro subsistema o Conselho
Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil (BCB), a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES).
O CMN é órgão máximo do SFN e tem como principal atribuição deliberar
e expedir normas para o seu pleno funcionamento. O Bacen executa as diretrizes
enviadas pelo CMN, fiscalizando a atuação das instituições que pertencem ao SFN,
bem como implementa as políticas monetárias do governo. O CVM é uma entidade
26
que visa o desenvolvimento do mercado de títulos e valores mobiliários. Por fim, o
BNDES atua no fomento aos setores relevantes para o desenvolvimento (Banco
Central do Brasil, 2013).
O subsistema operativo é formado pelas instituições financeiras
bancárias, classificadas como bancos comerciais, bancos múltiplos e caixas
econômicas, além das instituições financeiras não bancárias, como os bancos de
investimento.
Figura 1 Organograma do sistema financeiro nacional
Fonte: adaptado do Bacen (2013).
27
3.4 Tipos de informações geradas pelas instituições financeiras
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, no Art. 6º, III, versa sobre
os direitos básicos do consumidor, dentre os quais garante a informação adequada e
clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem
como sobre os riscos que apresentem.
Assim sendo, o consumidor, pelo menos em tese, está protegido de
serviços bancários no tocante à transparência das informações. Assim, ao adquirir
qualquer produto/serviço, o cliente tem o direito de conhecer todas as
particularidades do que está comprando, não somente os benefícios, mas também
os riscos envolvidos.
Para exemplificar, um produto bancário bastante oferecido pelas
instituições financeiras são os títulos de capitalização, caracterizados por ser um
título de crédito com a finalidade de formação de reserva econômica por meio de
pagamento mensal ou único, que no final de determinado período será acrescido de
juros. O diferencial é que durante o prazo acertado, o cliente participará do sorteios
de prêmios.
Apesar do estilo de loteria, os títulos de capitalização são caracterizados
também pela baixa rentabilidade e pela probabilidade de perda de parte do capital,
caso haja resgate antes do final da vigência do plano. Segundo Oliveira (2006, p.
99), “bancos são, antes de qualquer coisa, grandes processadores de informações
e, ao cumprirem este papel social, contribuem para a maior eficiência do sistema
econômico como um todo”.
Diante da importância da transmissão de dados claros por parte dos
bancos para os seus clientes, o próximo capítulo abordará a metodologia utilizada
para a coleta e análise dos dados para a realização da pesquisa em questão.
28
4 METODOLOGIA
Este capítulo trata especificamente da metodologia científica empregada
para a elaboração desta pesquisa, de acordo com as subdivisões apresentadas
pelos estudiosos do assunto. Para Marconi e Lakatos (2003):
Método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. (MARCONIS e LAKATO, 2003, P. 83)
Dessa forma, a aplicação do método para construção de uma pesquisa
cientifica é imprescindível para fornecer um direcionamento correto e empírico, a fim
de atingir as finalidades iniciais do trabalho. Para Ruiz (2008):
Pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência. É o método de abordagem de um problema em estudo que caracteriza o aspecto cientifico de uma pesquisa (RUIZ, 2008, p. 48).
Portanto, chega-se à conclusão que o método é o meio e a pesquisa
científica é o fim.
4.1 Quanto ao tipo
No tocante aos procedimentos técnicos utilizados, o presente trabalho
científico caracteriza-se por ser preparado a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. É a chamada pesquisa
bibliográfica (GIL, 2002). Assim, todo este trabalho tem como base cientifica livros
de autores que tratam dos assuntos aqui abordados. Este atributo garante
confiabilidade e cientificidade aos resultados alcançados.
Quanto aos objetivos, este estudo é classificado como uma pesquisa
exploratória. Para Gil (2002):
Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições (GIL, 2002, p. 41).
29
Todavia, como um dos intuitos deste trabalho é analisar a relação entre
ética e transparência nas informações, tendo como foco uma instituição financeira,
conclui-se que o trabalho aqui debatido caracteriza-se também por ser uma
pesquisa descritiva. “As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2002, p. 42).
4.2 Quanto à natureza
Quanto à natureza, este pesquisa científica é classificada como
qualitativa. Este tipo de estudo singulariza-se por ser uma análise mais ampla, pois a
interpretação das informações baseia-se em aspectos não mensuráveis. Segundo
Gil (2002):
A análise qualitativa depende de muitos fatores, tais como a natureza dos dados coletados, a extensão da amostra, os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a investigação. Pode-se, no entanto, definir esse processo como uma sequência de atividades, que envolve a redução dos dados, a categorização desses dados, sua interpretação e a redação do relatório (GIL, 2002, p. 133).
Com base nesses princípios, afirma-se que a pesquisa qualitativa tem um
caráter exploratório, que estimula o entrevistado a pensar sobre o assunto sem a
interferência do pesquisador.
4.3 Quanto à estratégia
A presente pesquisa, além das classificações mencionadas no capítulo
anterior, apresenta também um estudo de caso. Esta técnica científica mostra-se
vantajosa, uma vez que por meio da observação no mundo real constata-se o que é
abordado teoricamente. Segundo Bertucci (2008, p. 53), “O estudo de caso
possibilita uma análise mais sistêmica das situações encontradas e estimula a
identificação de novas situações”.
Neste trabalho, o estudo de caso concentrou-se em instituição financeira,
a fim de se observar a ética na transparência das informações no tocante à
comercialização dos produtos bancários.
30
5. ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ÉTICO NA
TRANSPARÊNCIA DAS INFORMAÇÕES EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
O presente trabalho objetiva avaliar o comportamento ético no tocante à
transparência das informações em uma instituição financeira, no caso uma agência
bancária que conta hoje com 22 funcionários no total. Para alcançar esta meta,
aplicou-se um questionário (anexo 1) contendo dez perguntas a 15 funcionários que
trabalham especificamente na área comercial diretamente com os clientes.
As perguntas foram direcionadas aos funcionários que atuam diretamente
com a venda de produtos e serviços bancários. A primeira pergunta trata de saber
se o entrevistado fornece todas as informações sobre o produto que está vendendo.
A maioria, cerca de 60% dos funcionários, respondeu “sim”, que fornece aos clientes
todas as informações sobre o produto que está vendendo. 30% responderam “às
vezes” e 10% “não”.
Constata-se que a maioria preocupa-se no fornecimento de dados acerca
dos produtos e serviços bancários que comercializa. Esta característica é importante
e serve de base para um relacionamento sustentável que possibilitará novos
negócios.
Quanto maior a necessidade por informação, conhecimento, e experiência em tomada de decisões, maior será a propensão do cliente a engajar-se em um comportamento relacional. Quanto maior a satisfação com compras no passado e experiências de consumo, menor a probabilidade de consumidores pesquisarem por informações externas em futuras circunstâncias similares (OLIVEIRA, 2008, p. 22).
No entanto, ainda há uma parte de colaboradores que não prestam a
devida atenção a esse assunto. Tal comportamento pode acarretar prejuízos tanto
para o funcionário, quanto para a instituição. Na questão seguinte, procura-se saber
se o funcionário presta todas as informações ao cliente que está adquirindo
determinado produto quando este o solicita. Neste questionamento, observou-se que
87% informam mais dados sobre o produto quando é solicitado e 13% responderam
que “às vezes”.
31
Apesar da quase totalidade dos entrevistados estarem imbuídos com o
comportamento ético, ainda há uma parcela que se preocupa muito mais com o
fechamento da venda e no atingimento de metas. Acredita-se que treinamentos e
palestras que explorem a importância da ética e dos riscos de um comportamento
antiético por parte do funcionário, que podem chegar até mesmo em caso de
demissão, poderão despertar atitudes centradas na ética.
Uma das vantagens do ensino da ética de trabalho para todos os funcionários que se tornam uma parte de seu negócio é que ele deixa claro que o comportamento profissional é uma obrigação. Se os seus funcionários compreenderem a importância de não se envolverem no discurso de mau gosto ou práticas, eles vão se esforçar para manter um ambiente agradável e amigável que os clientes e outros empregados podem desfrutar. A iniciativa de formação de qualidade sobre ética ajuda a concentrar a sua atenção funcionários sobre a responsabilidade pessoal. O trabalhador é ensinado que ele é esperado para lidar de forma justa com todos e para trabalhar com o melhor de sua capacidade. A empresa torna-se mais segura, porque os funcionários são lembrados de suas responsabilidades para tratá-lo, de outros trabalhadores, clientes e empresa de equipamentos e materiais com respeito. Quando você e todos os seus trabalhadores definirem expectativas para a responsabilidade pessoal, diminui a procrastinação e a produtividade aumenta (CAMARGO, 2009).
Depois, questionaram-se se as taxas, carências e tarifas específicas dos
produtos bancários, que dificultam o processo de venda. Constatou-se que 100%
dos entrevistados acredita que realmente essas características peculiares são
empecilhos para o fechamento de negócios. Aqui a abordagem volta-se para as
instituições financeiras. Apesar de o ramo bancário ser altamente lucrativo, não se
observa uma preocupação pelos grandes bancos brasileiros em reduzir tarifas e
taxas. Este procedimento é prejudicial para o cliente que hesita em ampliar o
relacionamento com uma instituição bancária, como também para o funcionário que
não consegue fechar vendas.
Na quarta pergunta, indagou-se se algum cliente procurou a agência para
reclamar sobre produto/serviço bancário alegando que não foram repassadas as
informações necessárias. Antes de expormos o resultado, observa-se pela tabela 1
– reclamações procedentes contra os bancos, em outubro de 2013, que dentre as
maiores reclamações, ocupando a 4ª posição estão “esclarecimentos
incompletos/incorretos”.
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Tabela 1 - Reclamações procedentes contra os bancos. (outubro/2013)
Posição Motivo da reclamação Reclamações
procedentes
1º CONTADÉBITOS - NÃO AUTORIZADOS 472
2º CONTASALÁRIO - PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE
FORMA IRREGULAR
271
3º TARIFA – COBR. IRREGULAR – SERV. NÃO
CONTRATADO
249
4º CIRCULAR 3289 - ESCLARECIMENTOS
INCOMPLETOS/INCORRETOS
201
5º LIQ ANTECIPADA - RESTRIÇÃO À
PORTABILIDADE - CRÉD CONSIG
155
Fonte: Banco Central do Brasil (Acesso em 23/11/2013. Disponível em
https://www3.bcb.gov.br/ranking/idxrc.do).
Voltando para o questionário, 87% dos entrevistados informaram ter
presenciado situações em que o cliente afirma ter sido totalmente esclarecido sobre
determinado produto ou serviço. Para uma análise mais aprofundada, seria
necessário mensurar a quantidade de clientes que aderiram a produtos bancários
em relação à quantidade dos que efetuaram reclamações, a fim de se concluir se o
percentual dos que reclamam comparativamente aos demais é alto ou baixo.
Todavia, ressalta-se que embora o comportamento ético esteja intrínseco
à atuação profissional de boa parte dos funcionários, novamente salienta-se a
importância de difundir excessivamente as vantagens da conduta ética.
A pergunta seguinte trata de verificar se o entrevistado acredita que a
melhor estratégia de vender produtos bancários é fornecer todas as informações
relevantes, a fim de conquistar a confiança da cliente. Diante do alto grau de
concorrência, especialmente no ramo financeiro, exige-se que o funcionário
conquiste a lealdade do cliente, sob pena de perdê-lo para outra instituição.
O compromisso com os relacionamentos baseados na confiança não é facilmente imitável, por ser raro e agregar valor ao cliente. Assim, esse comprometimento resulta em uma alternativa aos bancos para obter uma vantagem competitiva sustentável num mercado de concorrência acirrada (OLIVEIRA, 2008).
Assim, ainda que no primeiro momento o cliente mostre-se relutante em
adquirir determinado produto, a construção de um relacionamento sustentável fará
33
com que em pouco tempo aceite e compre aquilo que foi ofertado. Mais uma vez, a
imensa maioria (93%) acredita que prestar informações relevantes é fundamental
para se conquistar a clientela. No entanto, uma vez que o questionário garantia o
sigilo, revela-se preocupante o fato de ainda que seja apenas um funcionário supor
que fornecer informações não seja importante.
Na próxima questão examina-se a necessidade do atingimento de metas
induzir a omissão de informações importantes sobre determinado produto. Antes de
analisar o resultado, deve-se lembrar de que o cumprimento dos objetivos pré-
estabelecidos é uma exigência na configuração mercadológica em que vivemos.
Alcançar os objetivos prepostos da empresa é uma questão acima de tudo de
sobrevivência.
A questão, no entanto, procura observar se diante desta cobrança por
metas os funcionários desviam sua conduta. Dos 15 entrevistados, obteve-se 13
respostas negativas e duas respostas positivas. Ou seja, 87% não se rendem às
exigências por metas e pautam o comportamento com base nos princípios éticos.
Apesar de o presente trabalho focalizar a atuação das instituições
financeiras e de seus funcionários no tocante à ética na transparência das
informações, é necessário comentar acerca das atitudes dos clientes, que muitas
vezes só querem levar vantagem. Ainda que haja clientes deste tipo, considera-se
importante que todas as vendas sejam pautadas dentro das normas da instituição,
com a absoluta transparência.
Ao indagarmos se algum cliente desistiu de adquirir determinado
produto/serviço bancário após conhecer todas as informações necessárias, 53%
respondeu que já ocorreu de o cliente abdicar de comprar algum produto após tomar
conhecimento de todas as informações. Embora a venda não tenha sido efetivada, a
conduta ética e o estabelecimento de uma relação de confiança poderão
futuramente vencer as objeções iniciais e se concretizar em bons negócios.
A pergunta seguinte trata do oposto ao item anterior, ou seja, questionou-
se se algum cliente comprou um produto exatamente por ter conhecido todas as
34
informações importantes. Aqui, observaram-se 13 respostas positivas. Logo, a
prática de prestar esclarecimentos pode ser tida como um diferencial competitivo,
uma vez que se um vendedor clarifica a respeito de todas as especificações de
determinado produto, a probabilidade de conseguir clientes fiéis aumenta e assim
desponta-se uma excelente estratégia de vendas.
O relacionamento que for estabelecido entre a agência e o seu cliente, bem como as informações sobre seus gostos e preferências será único e difícil de ser copiado pela concorrência, resultando em fonte de vantagem competitiva sustentável para este negócio (CASTRO & SÁ, 2013, p. 11).
Em seguida, perguntou-se para o entrevistado se ele acredita sobre a
transparência das informações no ramo das instituições financeiras. Esta questão,
apesar de ser objetiva, procura uma opinião pessoal acerca da atuação geral dos
profissionais do ramo financeiro de acordo com a experiência que possuem. O
resultado obtido foi que 80% dos entrevistados acredita que há uma preocupação a
respeito da transparência das informações no ramo das instituições financeiras.
Este dado surpreende, pois devido ao alto nível concorrencial do setor,
não somente entre as instituições como também entre os funcionários, imagine-se
em princípio que de forma geral não exista uma preocupação no tocante à
transparência das informações.
Portanto, há ainda apenas uma minoria que supõe não ser relevante o
comportamento ético. Segundo Tascheck (2007), para alguns, omitir não é ser
antiético e sim buscar atingir objetivos e metas da agência. Outros relatam que deve
haver transparência para que haja continuidade dos negócios, zelando pela
qualidade e viabilidade econômica dos serviços prestados à sociedade.
A última pergunta é subjetiva e objetiva analisar a opinião dos
funcionários no que se diz respeito ao que falta para a fidelização do cliente. As
respostas relacionam-se com o excesso de trabalho e de cobrança por metas, bem
como á extensa carga tarifária cobrada pelos clientes, pontos que segundo os
entrevistados dificultam a implementação de um relacionamento ainda mais baseado
na confiança e na credibilidade.
35
CONCLUSÃO
Discorrer a respeito dos princípios éticos revelou-se de extrema
importância. Embora o estudo da ética tenha origem no campo da filosofia, a
amplitude dos assuntos que aborda disseminou pelos mais variados campos da
ciência. Resgatar os valores e as práticas que conduzem para constituição de
relações sustentáveis representa, antes de mais nada, a necessidade de harmonizar
a sociedade.
Dentro deste contexto, encontram-se as instituições financeiras. Inseridas
em um sistema complexo, no qual a atuação no mercado está regulamentada e são
fiscalizadas por vários órgãos. Ademais, a evolução do ramo bancário, quer seja
pelo crescimento na base de clientes, quer seja pela diversificação de produtos e
serviços que são ofertados, desdobrou-se em um ambiente altamente competitivo.
Nesta conjuntura, põe-se frente a frente a ética e as instituições
financeiras no tocante à transparência das informações. A fim de avaliar-se a
exigência pelo atingimento de metas, obriga-se pôr o comportamento ético em
segundo plano. Dessa forma, buscou-se a opinião daqueles que estão diariamente
lidando com situações nas quais necessitam vender produtos bancários sem que
para isso haja omissão e falta de transparência nas informações prestadas.
Concluiu-se que muito embora haja fatores que dificultem a
comercialização dos produtos que os bancos oferecem, como tarifas e a cobrança
por resultados, a maioria dos funcionários põe em prática condutas éticas e acredita
ser de fundamental importância prestar os devidos esclarecimentos no fechamento
da venda, pois esta maneira revela-se a melhor estratégia de fidelização do cliente.
Vender algo omitindo ou não repassando todas as considerações
importantes provavelmente resultará em prejuízos para os clientes, uma vez que o
mesmo pode ter adquirido certo produto que não atenda as suas necessidades, bem
como para o funcionário que poderá sofrer sanções disciplinares, como também
36
para a instituição que terá a imagem depreciada. Enfim, em uma situação que há a
ausência de ética e de transparência nas informações, todos saem perdendo.
Portanto, embutir a ética na atuação profissional, conquistando a
credibilidade e a confiança do cliente, representa instrumento que conduzirá a
relacionamentos negociais sustentáveis e que trarão benefícios, tanto para os
clientes como para as instituições financeiras, acarretando em uma melhoria para
toda a sociedade.
37
REFERÊNCIAS
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ANEXO
ANEXO 1 QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS FUNCIONÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
01) Você fornece ao cliente todas as informações sobre o produto que está
vendendo?
( ) Sim ( ) Não ( ) Ás vezes
02) Quando o cliente solicita mais informações acerca do produto que está
comprando, você as informa por completo?
( ) Sim ( ) Não ( ) Ás vezes
03) Você acredita que as especificações dos produtos bancários como taxas,
carências e tarifas dificultem o processo de venda?
( ) Sim ( ) Não ( ) Ás vezes
04) Algum cliente já procurou a agência para reclamar sobre algum produto/serviço
bancário alegando que não foi repassada todas as informações?
( ) Sim ( ) Não
05) Você acredita que a melhor estratégia de vender produtos bancários ao clientes
é fornecer todas as informações relevantes a fim de conquistar a confiança da
clientela?
( ) Sim ( ) Não
06) Você acredita que a necessidade do atingimento de metas induz a omitir
informações importantes sobre determinado produto?
( ) Sim ( ) Não
07) Algum cliente desistiu de adquirir determinado produto/serviço bancário após
conhecer todas as informações necessárias?
( ) Sim ( ) Não
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08) Algum cliente adquiriu determinado produto/serviço bancário exatamente por ter
passado todas as informações necessárias?
( ) Sim ( ) Não
09) Você acredita que há uma preocupação a respeito da transparência das
informações no ramo das instituições financeiras?
( ) Sim ( ) Não
10) Na sua opinião, o que faltaria para fidelizar ainda mais o cliente?
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